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UNIVERSIDADE LA SALLE RJ

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS




                 “ISLAMISMO 2.0”

                       SO




                JANAÍNA MACHADO




                  RIO DE JANEIRO

                   JUNHO/2006
JANAÍNA MACHADO




                                 ISLAMISMO 2.0




Este é o trabalho final de Janaína Machado de Oliveira, aluna do curso de Pós-
graduação em Relações Internacionais, da Universidade La Salle de Niterói, Rio de
Janeiro. O professor Carlos Frederico Coelho foi escolhido pela aluna como
orientador e receberá o trabalho de conclusão do curso para avaliação.




                          Rio de Janeiro, 01 / 08 /2011




                          Professor Orientador Específico
Este trabalho é dedicado a minha mãe,
Juranda Machado e in memorian ao
meu pai, Haroldo José de Oliveira.
“O Ocidente tem o relógio, o Oriente tem
o tempo...”.


                 Ditado popular iraniano
RESUMO



Machado, Janaína. Islamismo 2.0
Prof. Orientador Específico: Carlos Frederico Coelho
Rio de Janeiro: UNILASALLE 2011
Relatório de Conclusão de Estágio.


      O presente trabalho pretende comprovar, por meio de reportagens publicadas
em jornais, revistas, livros e material pesquisado via Internet, que o Islamismo e os
países tipicamente muçulmanos, já no século XXI, ainda resistem às modernidades
introduzidas pelo crescente avanço tecnológico criado especificamente pelo mundo
ocidental e à globalização. Apesar disso, jovens muçulmanos com menos de 25
anos, em recentes levantes, em países islâmicos, mostraram ao mundo que a
resistência impera somente em alguns países e essencialmente por causa de seus
governantes e seus ditadores. Milhares foram às ruas protestar contra seus
governos munidos de ferramentas modernas, criadas pelo ocidente, para questionar
a política, a religião, a cultura, a submissão e a crescente repressão imposta pela
tradição autoritária dos aiatolás. Não desejam mais repressão, falta de liberdade de
expressão, ditadura, torturas, prisões, pobreza e diversas mazelas frequentemente
divulgadas pela imprensa com relação aos seus países. Pela primeira vez o mundo
viu uma Revolução supostamente dita como Digital, onde tudo era divulgado via
Twitter, YouTube, Facebook, celular e outras ferramentas que pudessem acessar a
Internet. Estes jovens depois de muito tempo não tiveram medo de enfrentar a
milícia subordinada à Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), uma polícia criada
para proteger, mas que pratica a vigilância e a opressão a toda à população, pronta
para denunciar qualquer iraniano que não apoie o governo.
      O Choque de Civilizações, a divisão entre o Ocidente e o Oriente e, o porquê
do mundo muçulmano ser movido pelo ódio em relação aos países ocidentais
também será tratado neste trabalho. Teremos como base de estudo um único país
que passou por muitas transformações, golpes, revoluções e recentes protestos: o
Irã. Este país presenciou a Revolução Islâmica de 1979, tem um complicado
relacionamento com os Estados Unidos e presenciou um recente levante, no mês de
junho de 2009 que sacudiu os iranianos e mundo.
O uso das redes sociais foi fundamental para que os jovens fossem às ruas
mostrar à sua revolta e a verdadeira face do Islã e do atual Irã. O poder de Alá
sucumbiu à modernidade e apareceu um novo Islamismo, movido pela força da web
2.0.




Palavras-chaves:    Choque   do   Oriente   e   Ocidente,   Modernização, Avanço
Tecnológico, Globalização, Revolução Islâmica, Islã, Irã, Estados Unidos,Redes
Sociais, Web 2.0.
SUMÁRIO


1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................08

1.1 UMA BREVE HISTÓRIA DO ISLÃ......................................................................15

1.2 O CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES ........................................................................22

1.3 A DIFICULDADE DO ISLAMISMO A MODERNIZAÇÃO.....................................32


2 IRÃ - HISTÓRIA E A SUA RELAÇÃO COM OS ESTADOS UNIDOS.....................40

2.1 IRÃ E SUAS REVOLUÇÕES...............................................................................54

2.2 A REVOLUÇÃO 2.0 - UM MUNDO DE CONTRADIÇÕES..................................63

3 A CIVILIZAÇÃO NA ERA 2.0...................................................................................76

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................88

5 REFERÊNCIAS.......................................................................................................96
APRESENTAÇÃO



DO ACADÊMICO:
Nome: Janaina Machado de Oliveira
Endereço: Rua São João nº 171/ 102 Bloco A Centro Niterói
Email: janaina.machado@planobconsultoria.com        Fone: 21 93384330
Empresa onde trabalha: Plano B Consultoria Empresarial e Assessoria de
Imprensa
Setor: Sócia-diretora
Ramo de Atividade: Consultoria Empresarial, Comunicação, Mídias e Redes
Sociais e Assessoria de Imprensa.
8

      1. INTRODUÇÃO



      No dia 11 de setembro de 2001, o mundo testemunhou uma das maiores
mudanças no curso da história. Três pontos diferentes e estratégicos dos Estados
Unidos, são atacados simultânea e inesperadamente. Milhares de vidas se perderam.
Um dos maiores símbolos americanos, o World Trade Center, as duas Torres
Gêmeas, localizada no sul da ilha de Manhattan, na cidade de Nova York, caem como
se fossem folhas de papel picado. O Pentágono, localizado na capital Washington,
tem uma de suas partes destruídas e um avião da United Airlines, cai em uma área
florestal da Pensilvânia, matando todos a bordo. Um terror que ficaria marcado não
somente na memória dos americanos, mas em todas as civilizações. Não haverá,
decerto, uma explicação tangível e aceitável para o ocorrido.


      O horror se espalhou pelo mundo no momento em que as terríveis cenas foram
transmitidas ao vivo pela TV. Tudo parou. O autor dos atentados, o rico saudita,
Osama Bin Laden com a ajuda do grupo terrorista islâmico Al Qaeda não poderia
imaginar que o plano seria tão perfeito e visto ao vivo por bilhões de pessoas.


      O mundo naquela manhã de 11 de setembro de 2001 havia acordado para a
sua “primeira guerra do século XXI”. Foi assim que o Ex-presidente George W. Bush
falaria sobre os atentados em sua primeira declaração oficial. Uma “Cruzada” em
defesa da “civilização”. Havíamos começado a travar uma “Guerra ao Terror” e o
Oriente seria classificado definitivamente como o “Eixo do Mal”.


      Esta cruzada sempre será lembrada por cenas terríveis, nascidas antes,
durante e depois do 11 de setembro. O mundo já havia presenciado um primeiro
ataque as Torres Gêmeas, no ano de 1993. Um carro bomba explodiu na garagem de
uma das Torres ferindo milhares de americanos e matando muitos agentes do
Federal Bureau Investigation (FBI) que trabalhavam nos andares superiores da
área atingida.


      Este atentando foi o primeiro de muitos que teriam sucesso e que acabaram
por criar uma xenofobia contra qualquer muçulmano. Velho, adulto, homem, mulher,
9

ou criança são atacados e todos os lugares, principalmente nos Estados Unidos.
Durante o governo de George W. Bush, dezenas de muçulmanos suspeitos de
terrorismo são presos e levados para interrogatórios em Guantánamo, na ilha de
Cuba. Iraquianos são humilhados e torturados nas prisões de Abu Ghraib, em Bagdá.
O mundo passa a ter uma visão distorcida do islamismo, dos muçulmanos e de todo o
Oriente Médio.


           O orientalista Bernard Lewis, que criou o termo “Choque de Civilizações” e
inadequadamente apropriado após o primeiro ataque de 1993, pelo escritor Samuel
Huntington, explica claramente essa expressão:


                                     “(...) delinear a visão de um mundo dividido em conjunto
                                     geo-culturais       fechados       sobre      as     próprias      certezas
                                                    1
                                     absolutas.”


           O futuro da humanidade começa a depender do êxito ou do fracasso coletivo
em lidar com a dificuldade da coexistência entre as diferenças existentes entre o
Ocidente e o Oriente. Mas tanto o Ex-presidente Bush, quanto os políticos ocidentais,
têm feito grandes esforços para deixar claro que esta atual “Guerra”, e na qual as
grandes potências estão envolvidas, é apenas contra o terrorismo. De acordo com
Osama Bin Laden, descrito em um dos livros de Bernard Lewis, a guerra não é contra
o terrorismo:


                                     “Para eles e seus seguidores, essa é uma guerra religiosa,
                                     uma guerra do Islã contra os infiéis e, portanto,
                                     inacreditavelmente, contra os Estados Unidos, a maior
                                     potência do mundo infiel.” 2


           Os discursos de Bin Laden, sempre foram referentes à história e aos infiéis. O
seu vídeo de 7 de outubro de 2001, logo após os atentados de 11 de setembro,
refere-se à “humilhação e desgraça” e as pessoas, às quais ele se dirigia,
entenderam perfeitamente qual o fato histórico citado pelo terrorista.

1
    Magnoli, Demétrio, “Terror Global”, São Paulo, PubliFolha, Série 21, pág. 7, 2008.
2
    Lewis, Bernard, “A Crise do Islã - Guerra Santa e Terror Profano”, Rio de Janeiro, Zahar Editor pág.11, 2003.
10

        Ele fazia referência à perda do sultanato otomano, o último dos grandes
impérios muçulmanos restantes, em 1918 para os britânicos e franceses, assim como
as antigas províncias otomanas de língua árabe, que separadas deram origem a
novas “nações”, que ganharam outros nomes e fronteiras. São elas: Iraque, Palestina
e Líbano. Mais tarde os britânicos dividiram a Palestina, criando uma divisão entre as
duas margens do Jordão. A parte oriental transformou-se em Jordânia e a margem
ocidental Cisjordânia. Até hoje área nervosa do Oriente e geradora de grandes
conflitos.


        A Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Pau-
lo (UNIFESP), Cristina Soreanu Pecequilo, em seu artigo “A estranheza da democra-
cia” 3, escrito para o site Carta Maior explica que um dos termos mais utilizados na
retórica da política internacional, ao lado de paz e guerra, é democracia. Segundo a
professora traduzida e manipulada pelos mais diferentes interesses e grupos políti-
cos, a palavra pode ser levada a extremos como ao justificar a invasão norte-
americana ao Iraque em 2003 ou a Guerra Contra o Terror de 2001 do Afeganistão
em 2001. Ela explica que para os Estados Unidos, trata-se de motivação de uso cor-
rente para legitimar intervenções externas para o seu público interno e que ultrapassa
fronteiras. Mesmo com o patente unilateralismo de George W. Bush, alguns veículos
e analistas chegaram a definir este momento como o início de uma “Primavera dos
Povos” para o Oriente Médio, similar a 1989 na Europa Oriental.

        E sabemos que democracia não existe na maioria dos países muçulmanos.
Quase todos são governados por ditadores a mais de três décadas para revolta da
população, subjugando-os a repressões, maus-tratos, prisões indevidas, pobreza, má
qualidade de vida, falta de trabalho entre outros graves problemas.


        Esta nova “Guerra” impôs para a humanidade um desafio mais urgente do que
o fundamentalismo islâmico. Este “Choque de Civilizações” poderia ter sido evitado
de várias formas, sem xenofobia, sem “Cruzada” e sem “Guerra ao Terror”. Poderia

3
 Pecequilo,Cristina Soreanu, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, artigo;
“A estranheza da democracia” , site Carta Maior, de 12/02/2011.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17431
11

ser evitado se as grandes potências, principalmente os Estados Unidos se
propusessem a um diálogo aberto com os países islâmicos.


          Para os fundamentalistas islâmicos, que aparentemente estão liderando e
controlando a luta anti-imperialista e que mostra este fascínio pelo terror, nos diz
muito sobre a degeneração de correntes de esquerda que não conseguem esconder
sua profunda hostilidade à democracia e ao Ocidente. Os atentados, as revoltas, são
revelações claras de uma nova sociedade que está surgindo e que não quer mais
viver sob o véu da intolerância, criada por xiitas e sunitas.


          Podemos evitar este choque desde que ambos os lados façam concessões e
esforços necessários. Isto é possível? Há esforços praticados por ambas as partes?
Fica muito claro que é necessário muito exercício de compreensão de ambos os
lados. Alguém tem que ceder.


                                   “Ao Ocidente, cabe entender como a riqueza histórica do
                                   mundo muçulmano se vincula à sua ira atual - e como o
                                   próprio mundo ocidental é cúmplice, de certa forma, da
                                   crise contemporânea do islã. Um entendimento da
                                   dinâmica interna do mundo muçulmano, assim como de
                                   sua interação com os povos vizinhos, constitui o primeiro
                                   passo para desenhar políticas mais compassivas, e mais
                                   efetivas, frente a ele.” 4


          O Ocidente, - mais para os americanos do que para os europeus-, a unidade
básica da organização humana é a nação. Isto virtualmente é considerado um país.
Nesta totalidade está incluída a religião. Já os muçulmanos, tendem a ver não uma
nação subdividida em grupos religiosos, mas sim, uma religião subdivida em nações.
Segundo Bernard Lewis, em seu livro, “A Crise do Islã”, de 2003, páginas 14 e 15
este pensamento ou esta formação de Estados-nações, que compõem o “Oriente
Moderno”, podem ser observadas a partir do tempo de dominação imperial anglo-
francesa e que se seguiram à derrota do Império Otomano. Muitos outros países
surgiram com novos nomes: Turquia; Irã, antiga Pérsia; Paquistão, uma invenção do

4
    Demant, Peter; “O Mundo Muçulmano”, São Paulo, Editora Contexto,, Introdução, 2004
12

século XX que foi designado um país inteiramente definido por sua religião e lealdade
islâmicas. Um país que fez por muito tempo parte do território indiano e que se
preocupou entre muitas outras coisas com a sucessão do Talibã e seus sucessores
no vizinho Afeganistão.


      Muito aconteceu no século XX e XXI e este “Choque de Civilizações” que
poderia ser evitado, tem se acirrado com novos eventos e novas guerras, sem
justificativas e sem aprovações do Conselho de Segurança da ONU. Após os ataques
de 11 de setembro, o mundo assiste a uma perseguição que não tem fim, mesmo
com a morte do terrorista Osama Bin Laden, em 1º de maio de 2011 e seus terroristas
formadores do grupo Al Qaeda.


      Para justificar a sua “Guerra ao Terror” e a sua “Cruzada”, o Ex-presidente
norte-americano, George W. Bush mandou tropas do exército americano invadir o
Iraque, com o objetivo de instaurar um novo governo e a democracia. Para isso,
perseguiu incansavelmente o ditador Saddam Hussein, antes aliado dos americanos.
O Iraque foi invadido com a justificativa de que no país havia armas químicas, que
poderiam acabar com a paz mundial. Nada foi achado e nada foi provado. Onze anos
depois, uma república ainda não foi instaurada no Iraque e o Ex-ditador, Saddam
Hussein, capturado pelos soldados americanos, foi enforcado após um curto
julgamento por crimes de guerra cometidos contra seu próprio povo e a humanidade.


      Sem conseguir controlar seus soldados, o mundo assistiu via satélite
atrocidades cometidas nas prisões de Abu Ghraib e Guantánamo, praticadas pelo
exército americano. Os Estados Unidos mostravam definitivamente que o controle
estava sendo perdido.


      Democracia está à palavra da nova geração islâmica. Eles estão mudando o
mundo e chamando a atenção para o Oriente Médio de uma forma completamente
diferente da ocorrida no século XX. Seus desejos e sua formação são diferentes de
seus pais e dos religiosos que comandam com pulsos firmes os principais países
islâmicos. Os jovens muçulmanos de hoje estão com menos de 25 anos, não
vivenciaram com a intensidade de seus pais a Guerra do Irã-Iraque, a Revolução
Islâmica do Irã de 1979; os conflitos na Palestina e em Israel ou qualquer tipo de
13

atrocidades ocorridas em seus países. Esses jovens estão fazendo história, estão
querendo melhores condições de vida e trabalho. Seus países ricos em petróleo
podem proporcionar isto para eles a partir do momento que instaurarem uma
democracia.


      Sem armas, apenas munidos de celulares, internet, mídias sociais e redes
sociais o Irã, o Egito, a Tunísia e outros países do Oriente, fazem sua revolução. Por
meio destas ferramentas, conseguiram marcar encontros em praças públicas e
protestaram na frente de milhões de pessoas que o assistiam e o apoiavam via
internet. Seus gritos, seus apelos foram “Twittados”.        Gritam por injustiças e
reclamam por votos não computados em eleições presidenciáveis. O mundo até
então não tinha visto com tanta intensidade a voz desses jovens reclamando e
reivindicando seus direitos.


      Pela primeira vez o mundo viu o verdadeiro poder das redes sociais e o que
ela pode ajudar a fazer. Nem mesmo países tão seculares, fechados e com religiões
tão severas resistiram aos apelos destes jovens. O primeiro forte levante foi no Irã. A
Revolução Verde foi completamente twittada, apesar de todos os esforços dos
clérigos xiitas do Irã e do atual Presidente, Marmoud Ahmadinejad para tirar os jovens
da rua. O governo cortou a Internet ou qualquer tipo de acesso com o mundo exterior.
Não queriam que o mundo soubesse o que estava acontecendo em Teerã.
Ahmadinejad pode não ter saído da presidência fraudulenta como ficou explicitado, os
jovens muçulmanos munidos de celulares mostrou ao mundo que podem gritar mais
alto do que balas, pauladas e prisões praticadas pelos soldados Barsij, a polícia que
vigia e controla os iranianos.


      Os jovens iranianos deram vozes a outros mostrando a possibilidade de irem
às ruas e reivindicar direitos negados pelo governo. Diretos simples que podem
chegar com a democracia, a separação do Estado/religião. Mas, como o Oriente
Médio está conseguindo suplantar anos de tradicionalismo e adotar novas
ferramentas e dar a palavra a jovens que aparentemente “não” seguem as leis
islâmicas? Qual o relacionamento existente entre Estados Unidos e Irã? Por que o
Oriente tem tanto ódio do Ocidente? Estas e muitas outras questões serão levantadas
ao longo desse trabalho. Trataremos de forma breve o nascimento do Islã até os
14

acontecimentos de hoje, acompanhados pela Web 2.0. Apesar de muitos países do
Oriente Médio terem participado de recentes levantes clamando por democracia e
utilizando ferramentas da Web 2.0, focaremos o presente trabalho no Irã.
15

        1.1 UMA BREVE HISTÓRIA DO ISLÃ


        O Islã é a terceira religião monoteísta, revelada após o cristianismo e judaísmo.
Em árabe, Islã significa “Submissão a Deus”. É uma religião que nasceu com data e
local definido: na península Árabe, na atual Arábia Saudita, no século VII, no ano de
622. Conta à tradição muçulmana que a palavra de Deus foi transmitida em árabe,
pelo arcanjo Gabriel ao profeta Maomé, nascido no ano de 570 d.c., exatamente na
cidade de Meca, na Arábia desértica, uma área povoada por judeus e cristãos que
viviam instalados nesta região e sobretudo, por beduínos politeístas, povo que
venerava mais de 300 ídolos, reunidos na Caaba5. De acordo com os relatos
históricos dos muçulmanos, este santuário foi erguido por Adão e destruído durante o
Dilúvio. Abraão, considerado o ancestral de todos os árabes, reconstruiu o Santuário
com a ajuda de seu filho Ismael, instalando em seu ponto mais sagrado a Pedra
Negra.


        O Islamismo é o legado do profeta Maomé. É uma religião inspirado no
cristianismo, no judaísmo. Maomé desafiou os poderosos, unificou os árabes e criou
uma civilização fértil, complexa e acima de tudo, bela.


        Maomé nasceu em um clã que pertencia à tribo Koraishitas, uma das mais
poderosas estabelecidas em Meca. Perdeu os pais muito cedo e seu nascimento é
envolvido de fatos extraordinários. Já sob a guarda de seu tio paterno e a caminho da
Síria em uma caravana, chefiada pelo seu primo Ali, Maomé foi abordado pelo monge
Bahirá que o reconheceu de seus sonhos como o homem que portava uma auréola e
que era o enviado de Deus, o profeta que anunciaria o Livro Santo, o Alcorão ou
Corão6. Quando Maomé se aproximava dos 40 anos, no ano de 611 d.c., o Arcanjo
Gabriel apareceu ao profeta ditando uma série de preceitos e ordenando-lhe que
retransmitisse as palavras escutadas. Foi a partir daí que se seguiram as pregações
com instruções para a crença e a conduta do seguidor da nova religião.


        O Corão não fala somente de fé, mas também como o muçulmano deve
compreender aspectos sociais e políticos. As revelações estão divididas em 114
5
 Santuário dos muçulmanos em Meca
6
 Livro Sagrado dos muçulmanos que reúne todas as revelações de Deus, pelo Arcanjo Gabriel para o profeta
Maomé.
16

suratas (capítulos) com diversos versículos que vão de 3 a 286. Tornou-se um livro
de difícil entendimento, pois foi todo escrito em árabe formal. Uma coletânea de
diversos discursos do profeta Maomé, conhecido como hadith, formam um
complemento para a leitura do Corão: a Sunna. A linguagem mais clara e fluente
facilita a compreensão. Mesmo assim, como os registros foram realizados por
pessoas diferentes, existem muitas divergências em relação aos ensinamentos do
profeta. Muitas interpretações são dadas até hoje, o que dificulta e até mesmo, torna
a religião um pouco temida no Ocidente, pois as contradições da hadith provocaram
uma expansão dos conceitos do Islã ao incorporar tradições e doutrinas sobre a
sociedade e justiça. Estes conceitos são importantes na formação da cultura islâmica,
não ficando restrita à religião.


       Nos islamismo não há mediação entre o homem e o divino, como ocorre no
cristianismo com a figura de Jesus Cristo. Com isto, a religião islâmica ganha uma
força ainda maior para os muçulmanos, pois a palavra de Deus é direta e o Corão
papel central nesta divulgação dos ensinamentos divinos para o Islã. No uso ritual dos
muçulmanos, o Corão nunca foi traduzido do árabe. Eles fazem questão que seja
recitado na língua original, preservando assim, as palavras de Deus.


       No início Maomé e um pequeno grupo de seguidores foram perseguidos por
grupos rivais deixando a cidade de Meca e rumando a Medina. Esta migração ficou
conhecida como Hégira e inaugura o islamismo, marcando assim o início de seu
calendário. Esta migração não foi impedimento para que a religião islâmica e a
palavra de Maomé fossem abafadas. As revelações de Deus ao profeta conquistaram
adeptos em ritmo bem acelerado.


                            “O Islã é uma religião (din), com tudo o que este termo
                            implica (crença, ritual, normas, consolação, etc.), ao
                            mesmo tempo em que é uma comunidade (umma) e um
                            modo de viver ou tradição (sunna) que regulariza todos os
                            aspectos da vida: o indivíduo e as etapas de seu
                            desenvolvimento; a educação; as relações entre homens e
17

                                   mulheres; a vida familiar e comunal; o comércio, a justiça e
                                   a filosofia.”7


          Para melhor entender a religião islâmica, tudo gira em torno de um sistema
jurídico-religioso total: a xaria (Shari’a), que quer dizer, o caminho certo. Tudo
baseado em fontes sagradas, nos primórdios do islamismo. O desenvolvimento nunca
cessou e o islamismo reage a qualquer circunstância nova que é imposta a religião.


          Por ser tão complexa foi criada uma classe de prestígio. Legistas-intérpretes
especializados em traduzir e entender o Corão, os ulemás (ulama). Não tem papel do
clero institucionalizado da Igreja Católica: são apenas intérpretes e mediadores.


          No islamismo não há separação entre religião e política. Por muito tempo,
quando a comunidade de Medina era regida por Maomé, não existia separação entre
o Estado e Igreja, facilmente transferida para o Estado-Império Muçulmano.


          O Islã parece uma religião simples, com muitos dogmas e obrigações e
proibições que devem ser sempre cumpridas pelo muçulmano. Os deveres do povo
muçulmano se sustentam em cinco pilares.


          A primeira obrigação é a Shahada (testemunho), quando o muçulmano realiza
a sua confissão efetuando assim, a sua conversão à religião islâmica. É o momento
em que o crente irá declarar a sua devoção única a Deus, ao todo-poderoso e aceita
Maomé como o profeta. Neste momento fica claro para o muçulmano convertido de
que há uma invencível distância entre o Criador e a criatura. O islamismo é
extremamente severo com crenças em espíritos, santos e imagens e não consegue
entender a Trindade. Mas aceitam a existência de anjos e demônios. Para eles Deus
é oniciente, onipresente, inato e eterno. A função do homem/mulher religioso (a) é
entregar-se e servir a Deus. Nada consegue se relacionar a Deus, inclusive o profeta
Maomé, pois até mesmo ele enquanto homem era mortal e devia obediência
absoluta. Quando a morte chega para o muçulmano, finalmente chega o dia do



7
    Demant, Peter - O Mundo Muçulmano, São Paulo, Editora Contexto,, Introdução, 2004
18

julgamento e é neste momento que Deus aceitará os bons seguidores no paraíso,
enquanto os maus serão levados e condenados a viverem no inferno.


      O muçulmano praticante reza cinco vezes ao dia. Esta obrigação é conhecida
como Salat. Os muçulmanos são sempre chamados para a recitação do Corão pelo
muezzin, sua voz hoje, é escutada por toda a cidade, via autofalantes e uma
gravação substituiu os chamados ao vivo. Quando é feito pessoalmente o muezzin
se posiciona no manara, a torre da mesquita principal da cidade. É o momento de
veneração a Deus. A submissão é incondicional e as graças alcançadas derivam de
Deus e porque ele quis dar ao religioso. A Salat pode ser feita individualmente, porém
o preferencial é que seja realizada de forma coletiva. A sexta-feira para o muçulmano
representa o domingo dos cristãos, quando todos se reúnem na mesquita para a
realização de uma oração comunal. Os homens rezam no salão principal e as
mulheres em outras. São proibidos de se misturarem nos momentos de oração. Elas
devem sempre entrar com a cabeça coberta e realizar suas orações da mesma
forma, apenas os sapatos podem ser retirados e deixados a porta como respeito a
mesquita e principalmente a Deus.


      A terceira obrigação é conhecida como Zakat, que quer dizer esmola. Tem o
mesmo significado do Tzadaká judaico e o dízimo do cristão. O muçulmano deve
reservar uma parcela de sua renda para os pobres, refeições comunais e outras
atividades com relação à assistência social. Este é o momento em que o islâmico
demonstra solidariedade formando a ummah, formando a coletividade.


      O quarto pilar ou a quarta obrigação é o Ramadan. Durante um mês, todos os
muçulmanos devem jejuar como forma de purificação e acesso a Deus. A abstinência
ocorre durante um mês inteiro, pois é a comemoração que o muçulmano faz pelo
recebimento do Alcorão. O jejum vai desde o nascer até o por do sol. É proibido beber
incluindo água, comer, ter relações sexuais. Não é somente um momento árduo para
o crente islâmico, pois se celebra com alegria e muitas festas familiares que
acontecem assim que anoitece e podem ir até o nascer do sol.


      O quinto e último pilar é o Hajj. Significa que todo muçulmano deve realizar
pelo menos uma vez na vida uma peregrinação a Meca e seus Santuários. É a
19

simbologia da crença suprema a Deus. Historiadores relatam que na Idade Média
esta peregrinação era difícil e perigosa, mas muitos, até hoje, conseguem fazer esta
viagem oriundos de todos os países muçulmanos.


      Em todas as obras pesquisadas o conceito de jihad foi citado e deve ser
explicado. A palavra vem sendo traduzida como “Guerra Santa”, ou ainda no seu
sentido mais primitivo, na raiz da palavra: “combate na senda de Deus contra si
mesmo a fim de se aperfeiçoar”, mas na verdade, ela quer dizer “esforço em favor a
Deus”. A partir do momento que o indivíduo e a comunidade são islâmicos, todos
assumem um compromisso com a religião. Ela rege o que todos fazem de acordo
com a palavra de Deus, disseminada pelo profeta Maomé. A história revela que a
primeira jihad ocorreu por volta de 623 quando Maomé travou batalhas contra os
habitantes de Meca por não obter provisões. Com o passar dos séculos, muitos
muçulmanos passaram a usar a Jihad para a luta ou militância. Uma “guerra santa
contra os infiéis”.


      Maomé morreu quando a maior parte da Arábia já havia se convertido ao
islamismo. O seu tenente ou suplente califa (khalifa) tinha autoridade militar, jurídica
e religiosa sobre a comunidade (umma). Até os dias de hoje não há separação entre
religião-política. Mas, concluímos que o islamismo é muito mais do que um conjunto
de crenças. Conseguimos observar que há semelhanças na maneira de viver entra as
mais distantes sociedades muçulmanas.


      A maioria ocidental e grande parte dos muçulmanos costuma ver o islamismo
como uma religião imutável através dos tempos e completamente estagnada. Para
que possamos entender melhor o que aconteceu com o islã, os historiadores
dividiram esquematicamente em quatro fases o desenvolvimento do islamismo.


      A primeira fase acontece nos séculos VII a XI, quando os árabes expandiram o
Islã pelo Oriente Médio e África do Norte. Um período em que se estabelece o mais
extenso Estado do mundo e onde se desenvolveu uma das civilizações mais
avançadas e originais. Considerada pelos estudiosos como a fase clássica do
islamismo.
20

        A segunda fase acontece ainda no século XI ao XIV, quando o Islã sofre ações
desfavoráveis no Oriente Médio, mas consegue realizar sua expansão na Ásia
Central e Índia. Esta fase é a Idade Média Muçulmana.


        A terceira fase se concentra no século XV ao XVIII quando o Islã vê a
renovação do dinamismo acontecer devido a uma série de eficientes muçulmanos.
Fase conhecida como o “Império da Pólvora”, denominado desta forma por possuir
supremacia na fabricação e utilização de canhões. Era a época do Império Otomano
no Oriente Médio, o safávida no Irã, os grão-mughals na Índia, entre muitos outros.


        A quarta fase acontece pelo século XIX e a primeira metade do século XX
quando o mundo muçulmano cai nas mãos das potências europeias. Marcada
principalmente por tentativas de descolonização e por momentos em que ocorre um
confronto do Islã com as modernidades ocidentais. Uma época que perdura até o
momento onde o Ocidente cobra do Oriente uma reavaliação do islamismo, do mundo
muçulmano e de um novo equilíbrio para que se possa haver uma melhor convivência
mundial.


        Vale citar que os muçulmanos são divididos em três grupos desde os ocorridos
nos 37 anos da hégira8, de acordo com o calendário maometano. São os xiitas (o
segundo maior grupo dentro da religião, concentrando 10% dos muçulmanos), os
kharijitas (do árabe kharaja, “sair”, nome atribuído ao primeiro cisma do Islã, ocorrido
aproximadamente no ano de 657 da era cristã), formando apenas 1% e por fim, os
sunitas, formando quase 90% da população muçulmana.


        Grande parte dos sunitas acredita que o nome refere-se à Suna. Dois
caminhos foram estabelecidos pelos muçulmanos para explicar a razão da palavra
sunita. O primeiro está baseado nos preceitos estabelecidos na primeira fase do islã
no século XVIII a partir dos ensinamentos do profeta Maomé e de quatro califas
ortodoxos próximos a ele. A segunda explicação seria de que a palavra sunita
significa “caminho moderado”, defendendo a tese de que o sunismo faz parte de um
grupo que trabalha a moderação, o diálogo e sempre voltado para posições bem mais

8
 Do árabe hijra, “emigração”, quando acontece a partida de Maomé de Meca para Medina, em 622, e corresponde
ao ano inicial do calendário muçulmano, calculado de acordo com o segundo ciclo lunar.
21

neutras do que as tomadas pelos xiitas e kharidijas, considerados extremamente
radicais e fundamentalistas.


      O Corão/Alcorão apresenta uma complexidade de interpretação religiosa-
política que ultrapassou os séculos e o Islã inclui em seus versículos muito mais do
que crenças. Existem muitas semelhanças na maneira de viver e nas sociedades dos
muçulmanos mesmo elas estando em diferentes partes do mundo.


      Quando Maomé morreu, aos 63 anos de idade, a maior parte da Arábia já era
muçulmana. Um século depois, o islamismo era praticado da Espanha até a China.
Na virada do segundo milênio, a religião tornou-se a mais praticada do mundo, com
1,3 bilhão de adeptos, um quinto da população mundial, aproximadamente 20% da
humanidade. A religião se concentra em grande parte na África Ocidental seguindo
até Indonésia, passa pelo Oriente Média e Índia. Na maioria destes países, os
muçulmanos fazem parte da maioria da população local.


      Foram muitas mudanças através dos séculos, muitas batalhas, muitas
distorções ocorridas a respeito da religião islâmica. Podemos dizer que a história nos
revelou que o Islã é uma religião, uma lei, uma moral, um estilo de vida, uma cultura
para seus fiéis seguidores.


      As pesquisas nos revelaram que o Islã sempre acabou por se considerar o
dono da verdade absoluta, nem que o fiel tenha que disseminá-la usando a palavra
ou a espada. Maomé é visto até hoje pelos seus seguidores como um líder perfeito a
ser atingido. Nos séculos XVII e XVIII a expansão do islamismo foi feito através de
batalhas, eram as conquistas em nome da fé. Foi um período de expansão militar que
acabou por se estabilizar, firmando-se por um crescimento gradual, descrito como na
maior parte de forma pacífica, feito através do boca a boca. É inegável que o
islamismo é portador de uma vasta cultura disseminada através dos séculos.
22

      1.2 O CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES


      Não há duvidas que o mundo hoje, no século XXI está dividido entre Nós e
Eles. O Nós são os Ocidentais e o Eles sã os Orientais.


      A história mundial sempre foi marcada por uma série de divisões e destacamos
como as mais recentes a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial que
deixou marcas profundas na civilização. Não que depois destas grandes guerras,
ainda durante o século XX e início do século XXI os olhos humanos não tenham
registrados conflitos, guerras, revoltas. O homem é capaz de cometer atos bárbaros.
Este é um fato triste de se constatar. Genocídios foram cometidos depois do
Holocausto, que ocorreu durante a Segunda Grande Guerra, que também foi capaz
de jogar duas bombas atômicas contra o Japão. Ruanda, Kosovo, são alguns dos
exemplos de genocídios ocorridos no final do século XX, assim como as milhares de
mortes, ocorridos devido a invasão da União Soviética ao Afeganistão; Guerra do
Golfo, Irã X Iraque e os recentes conflitos internos e externos em muitos países
espalhados por esta imensidão terrestre. . a Guerra Fria. Eram os Estados Unidos
contra a União Soviética, quer dizer, Ocidente contra os Comunistas.


      O mundo sempre esteve em grande alerta e fortes ameaças. Após a Segunda
Guerra, esta vigília aumentou devido a Guerra Fria entre Estados Unidos e União
Soviética. O medo de um ataque nuclear de ambos os lados mexeu com os nervos e
a imaginação até mesmo dos mais céticos. Durante 45 anos a famosa Cortina de
Ferro foi a maior linha divisória que marcou a Europa. Ela com o tempo foi se
movendo para o leste e acentuando e mantendo de um lado a separação da
Cristandade Ocidental e do outro lado os povos muçulmanos e ortodoxos do outro.


      A Guerra Fria acabou e os comunistas “desapareceram”, acordos foram
assinados, mas o medo de um ataque nuclear ainda persiste agora vindo de outros
lugares que insistem em enriquecer urânio quando esta tarefa na mão de países e
ditadores pode-se tornar uma arma fatal para a paz mundial.


      Nos dias de hoje, principalmente após o 11 de setembro de 2001, o mundo se
dividiu entre o Ocidente e Oriente. Desta vez, esta divisão absurda, carregada de
23

intolerância cultural e religiosa vem reforçada com armamentos bélicos bem mais
poderosos. Os dois lados parecem estar separados por uma linha invisível. Não há
possibilidade alguma de ultrapassagem. Onze anos após os atentados terroristas aos
Estados Unidos, um menor passo em falso pode ser motivo para conflitos, invasões
territoriais, perseguições, prisões, bombardeios e destruições de cidades e
populações principalmente no Oriente Médio. Uma intolerância muitas vezes repetida
no curso da história como podemos observar no histórico da formação do Oriente
Médio, América, Ásia, África e Europa. Não somente os muçulmanos sofreram:
judeus, cristãos, budistas, africanos, árabes, aborígenes, vietnamitas, mongóis,
chineses, japoneses, mexicanos, etc..


        O curso da política mundial acabou por realizar estas transformações e muitas
divisões econômicas, sociais, políticas, religiosas. Mas, no século XXI o mundo
consegue sentir com mais evidência a divisão existente entre o Oriente e o Ocidente.


                                 “Pela primeira vez na História, a política mundial é, ao
                                 mesmo        tempo,      multipolar      e    multicivilizacional.     A
                                 modernização econômica e social não está produzindo
                                 nem      uma     civilização     universal     de    qualquer       modo
                                 significativo, nem a ocidentalização das sociedades, não-
                                 ocidentais.”9


        Mas o que realmente define civilização? Muitos estudiosos definem civilização
no singular outros no plural como relatado no livro de Samuel P. Huntington, O
“Choque das Civilizações”. Segundo o autor, a definição surgiu por meio dos
pensadores franceses, no século XVIII, Este conceito apareceu em oposição ao
“barbarismo”. Um modo de criar uma linha divisória entre a sociedade privada e a
primitiva, entre a urbana e alfabetizada. No século XIX, este conceito foi utilizado
fornecendo para a sociedade as diferenças sociais. A sociedade europeia se
empenhou por muito tempo a desenvolver e elaborar critérios que envolviam o
intelecto, a diplomacia e a política para realizar a clara separação com os não-
europeus. Este foi um modo encontrado para que os europeus pudessem julgar os


9
 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora
Objetiva, pág. 19
24

não-europeus e assim, eles serem aceitos como membros de um sistema totalmente
controlado pelos civilizados. Esta forma de julgamento de civilizado e não civilizado,
europeu e não europeu acabou por fazer com que as pessoas falassem mais em
civilizações, utilizando o a palavra no plural.


                                “Isto significa “renunciar à civilização definida como um
                                ideal, ou melhor, como o ideal”, e um afastamento da
                                pressuposição de que havia um único padrão para o que
                                era civilizado, “confinado a umas poucas pessoas ou
                                grupos privilegiados, a “elite” da humanidade”. (...) Em
                                suma, a civilização no singular, “perdeu um pouco do seu
                                encanto”, e uma civilização no sentido plural podia na
                                realidade ser bastante não civilizada no sentido singular”.10


        A civilização e a cultura acabam se referindo ao estilo de vida de um povo. As
duas compõem os valores, as normas, as instituições, as gerações e seu modo de
pensar. Podemos dizer que civilização é uma coletânea composta de características e
fenômenos culturais. Uma civilização nunca terá um começo e nem um fim. Desde a
Pré-história que civilização forma um agrupamento de pessoas e sua forma cultural.
Foi esta forma de agrupamento que começou a diversificação e distinguir os seres
humanos dos demais seres vivos existentes. Depois surgiram outros elementos de
separação como a religião, a história, a língua, os costumes, os valores, etc..


        Passou também a não ter começos e fins. Os povos existentes costumam
redefinir suas identidades, acabam mudando com o tempo as suas definições e
formas. As culturas existentes interagem e se superpõem.


        Muitos estudos mostram que o equilíbrio de poder entra as muitas civilizações
está se modificando. Com a recente derrubada das Bolsas conseguimos perceber
que poucos foram os países que ficaram ilesos ao recente desequilíbrio da economia
mundial. O Ocidente sofreu muito com este desequilíbrio, principalmente os Estados
Unidos. As civilizações asiáticas expandiram e continuam expandindo o seu poderio
10
 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora
Objetiva, pág. 45
25

econômico, militar e político. O Islã aproveitou esta oportunidade para uma explosão
demográfica o que acabou causando uma desestabilização para os países islâmicos
e seus vizinhos, encontrando um modo e se reafirmar, não somente para os não
ocidentais, o valor de sua cultura.


        A religiosidade na maior parte do mundo demarca a diferença entre as
sociedades e principalmente a civilização. Estas diferenças em desenvolvimento
político e econômico mostram com nitidez as desigualdades culturais.


        O Choque entre Oriente e Ocidente fica cada vez mais acentuado quando
observamos que as sociedades que compartilham afinidades culturais acabam se
relacionando e cooperando uma com as outras. Neste contexto, conseguimos
observar que o Ocidente mostra pretensões universalistas cada vez maiores como
explica Samuel P. Huntigton:


                                “As pretensões universalistas do Ocidente o levam cada
                                vez mais para o conflito com outras civilizações, de forma
                                mais grave com o Islã e a China. Enquanto isso, em nível
                                local, guerras de linha de fratura, basicamente entre
                                muçulmanos e não muçulmanos geram “o agrupamento de
                                países afins”, a ameaça de uma escala ampla e, por
                                conseguinte, os esforços dos Estados-núcleos para deter
                                estas guerras. ”11


        Sabemos que para deter estas guerras globais e com equipamentos bélicos
cada vez mais sofisticados depende exclusivamente dos líderes mundiais. É dever
destes líderes aceitar a natureza multicivilizacional que o mundo acabou formando.
Uma cooperação é imprescindível para manter a ordem e uma abertura de diálogo de
ambos os lados.


        Após a Guerra Fria as distinções deixaram de ser ideológicas, políticas ou
econômicas. Elas hoje são definidas pela cultura e a cada ano que avança esta

11
 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora
Objetiva, pág. 19
26

distinção segue o rumo para a religiosidade. O agrupamento está voltando ao
passado quando a sociedade se dividia em religião, idioma, história, valores,
costumes e instituições.


                                “À medida que aumenta seu poder e autoconfiança, as
                                sociedades não ocidentais cada vez mais afirmam seus
                                próprios valores culturais e repudiam aqueles que lhes
                                foram impostos pelo Ocidente. Henry Kissinger observou
                                que “o sistema internacional do século XXI (...) conterá
                                pelo menos seis potências principais – os Estados Unidos,
                                a Europa, a China, o Japão, a Rússia e, provavelmente a
                                Índia – bem como a multiplicidade de países de tamanho
                                médio e menor”. 12


        Os países referidos por Kissinger fazem parte das cinco maiores civilizações
mundiais e são diferentes entre si. Mas, ele nos alerta para um detalhe altamente
importante:     alguns      países     islâmicos      estão    localizados      geograficamente      e
estrategicamente em cima das maiores reservas petrolíferos mundiais, como é o caso
do Irã e da Arábia Saudita. Estes países não podem e não devem ser deixados de
fora. São importantes para a economia mundial. Kissinger chama a atenção para que
as potências ocidentais “carimbem o passaporte” desses fortes Estados de influência
em assuntos mundiais. Eles devem ser ouvidos, as rivalidades e diferenças devem
ser esquecidas. No momento o diálogo ainda não acontece. São raros os encontros
para apertos de mãos entre Ocidentais e Orientais – no caso específico, países
islâmicos. Infelizmente sabemos que este conselho não está sendo seguido. No
mundo do século XXI o que importa é a política local, que forma a política da etnia e,
a política mundial é a política das civilizações. Este tipo de atitude cria um vácuo, uma
ruptura entre os povos e faz surgir uma forte rivalidade entre as nações. A rivalidade
das superpotências é substituída pelo Choque das Civilizações.


        Dois mundos, uma tendência que se repete por meio da história mundial.
Muitos escritores, jornalistas, antropólogos, sociólogos dizem em seus estudos que


12
 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora
Objetiva, pág. 21
27

sempre existirá uma expectativa de um mundo único ao final de grandes conflitos,
mas o curso da história nos mostram fatos inversos. Sempre aparece o Nós e Eles, a
civilização     e     os     bárbaros,      a     civilização     ocidental      e     os     religiosos
fanáticos/fundamentalistas. Cada vez mais os estudos são voltados para análises
divisórias: Oriente x Ocidente. Mais saibam:


                                “Os muçulmanos tradicionalmente dividem o mundo em
                                Dar Al-Islam e Dar Al-Harb, o reino da paz e o reino da
                                guerra. Essa distinção se refletiu –e, num certo sentido, se
                                inverteu – ao fim da Guerra Fria por estudiosos norte-
                                americanos que dividiram o mundo em “zonas de paz” e
                                “zonas de agitação”.13


        Todos os livros e reportagens pesquisadas reconhecem que há a existência de
uma civilização islâmica distinta. Ela se originou na Península Arábica, por volta do
século VII d.c., espalhando rapidamente pelo norte da África e Península Ibérica, bem
como na direção do leste da Ásia Central, tanto pelo subcontinente como pelo
Sudeste Asiático. Isto acabou por formar dentro do Islã muitas culturas distintas, pois
passou por diversas civilizações como a árabe, turca, persa e malaia.


        Com o passar do tempo e da história era natural o Ocidente ter uma visão
deturpada do Islã, achando que os muçulmanos são violentos. Esta percepção
errônea do islamismo vem de muitos séculos e a história atribui este erro à rápida
expansão que o Império Islâmico experimentou nos seus primeiros cem anos.


                                “Para cristãos e judeus conquistados, e para nações
                                europeias, muitas delas ainda em formação, não há dúvida
                                de que o Islã era uma religião que se expandiam pela
                                espada. Afinal, para que os conquistados permanecessem
                                vivos só havia duas opções: ou a conversão ou o
                                pagamento de um tributo extra (...). Para quem vivia uma
                                situação assim (morte ou conversão ou tributo), não havia

13
 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora
Objetiva, pág. 33
28

                                     outra conclusão senão a de que o Islã, Estado e Religião
                                     expandiam-se pela força.” 14


           Esta expansão realizada pela força não é reconhecida pelos muçulmanos. A
expansão pela espada era feita pelo califado, pelo Império islâmico. O Ocidente tinha
que entender que a religião proíbe conversões forçadas.


           Muitos ficam se perguntando se haverá algum dia o respeito mútuo entre o
Ocidente e Oriente. No momento a resposta é inconclusiva. Com a morte do maior
terrorista de todos os tempos, Osama Bin Laden, em 1º maio de 2011, o mundo ficou
em alerta máximo. A civilização muçulmana, completamente dividida entre os ideais
do terrorista e a palavra divina do Corão, avisou que represálias podem acontecer. De
uma minoria, mas que poderá fazer bons estragos na civilização Ocidental.


           Por muitos anos, o Ocidente e o Islã realizaram intercâmbios nas ciências,
medicina, na matemática, na astrologia na filosofia, nas artes e principalmente na
ética da guerra. Sim, este tempo existiu. Uma convivência pacífica entre ambos os
lados.


           Historicamente a civilização ocidental é a europeia, mas na era moderna a
civilização é a euro-americano ou do Atlântico Norte. É uma definição utilizada por
muitos escritores. O Japão está incluído nesta definição, apesar de ser uma
civilização bem mais antiga do que a norte-americana e fora do continente ocidental.
Sua recuperação pós-Segunda Guerra Mundial foi uma das razões desta
superpotência entrar no hall das civilizações ocidentais.


                                     “Durante a expansão europeia, as civilizações andina e
                                     mesoamericana, foram eliminadas, as civilizações indianas
                                     e islâmicas, juntamente com a África foram subjugadas, e a
                                     China foi invadida e subordinada à influência Ocidental.
                                     Somente as civilizações russa, japonesa e etíope, todas
                                     três governadas por autoridades imperiais, altamente
                                     centralizadas, foram capazes de resistir ao ataque do


14
     Kamel, Ali, “Sobre o Islã”, 2007, Editora Nova Fronteira, pág.124,
29

                                Ocidente e manter uma autêntica existência independente.
                                Durante      400     anos,     as     relações     intercivilizacionais
                                consistiram na subordinação de outras sociedades à
                                civilização ocidental.”15


        O choque prevalece, com culturas, religiões, políticas, economias e ideologias
diferentes. A prepotência do Ocidente de achar que tudo gira ao seu redor piora
substancialmente este problema. Os ocidentais acham que o Oriente está estagnado
e de que o progresso é inevitável. Recusam-se a esta implantação. Não é preconceito
ou ilusão de que este choque é existente. Os termos Cruzada, Guerra ao Terror, Eixo
do Mal, criaram uma absurda intolerância em civilizações milenares que não sabemos
se, algum dia irão conseguir recuperar a sua ideologia, dignidade, diretos e
democracia. Este choque faz com que todos busquem uma perspectiva mais ampla
com o objetivo de compreender os grandes conflitos culturais em que o mundo está
passando pós o 11 de setembro. Há uma multiplicidade de civilizações que devem ser
consideradas e observadas. Elas não devem ser perdidas nas áreas do deserto como
muitos antropólogos, filósofos e sociólogos apregoam em seus livros e entrevistas.


        No século XXI o islamismo, o cristianismo e o judaísmo são as três maiores
religiões da civilização. Partilham do mesmo ancestral, o profeta Abraão, um dos
filhos de Noé que sobreviveu ao dilúvio. Mas, os filhos de Abraão, com todas estas
afinidades, continuam se estranhando a ponto de termos muitas separações, muita
xenofobia e muitos loucos como Bin Laden fazendo do terror a sua religião, do
extremismo uma crença, atraindo milhares de seguidores dispostos a matar em nome
de Deus.


        Caso não houvesse tantos obstáculos agravados pelo 11 de setembro, as três
maiores religiões poderiam conviver em harmonia, sem precisar entender os textos
sagrados ao pé da letra. Entendê-las desta forma é uma loucura que acaba
exacerbando o que há de pior no indivíduo, em vez de mostrar o que há de melhor.


        O islamismo teve um período muito rico e seu maior crescimento foi em um


15
 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora
Objetiva, pág. 58
30

tempo em que os religiosos islâmicos não tinham total poder sobre a vida e o dia a
dia de suas comunidades e viam o Corão como um livro criado pelo homem. Por este
motivo, poderia haver diversas interpretações e não seguido cegamente.


        Este tipo de pensamento não era visto como heresia e sim como a melhor
forma de se ver um livro considerado sagrado pelos muçulmanos. Foram momentos
em que o Oriente Médio viveu a liberdade. Esta fase só voltou a acontecer no final do
século XIX e início do século XX quando o Oriente Médio viveu uma nova onda de
criação artística. O cinema, a música, a literatura e, toda a cultura islâmica foi
reverenciada pelo mundo.


        Na década de 30, no centro dos Estados Unidos, os americanos veem a sua
primeira nação islâmica nascer, por meio de Wallace Fard Muhammad, que se dizia a
reencanação de Alá. Era considerado por muitos como o “Salvador da Raça Negra”.
Este líder ficou mundialmente famoso como Malcom X. Em meio a segregação racial
americana, este líder criou o islamismo americanizado. O que já era confuso acabou
piorando. Malcom X, de ex-fumante, de ex-bebedor e ex-cristão foi assassinado por
pistoleiros da Nação do Islã.


        Hoje a população muçulmana é bem mais jovem e tem mais filhos do que a
média mundial. Deve crescer 35% nos próximos 20 anos, podendo chegar a 2,2
bilhões de pessoas. Em países de maioria islâmica a taxa de fecundidade é de 2,9
filhos por mulher, quase o dobro do índice das nações ocidentais desenvolvidas. Em
algumas regiões islâmicas, como nos territórios palestinos e no Iêmen, os jovens
formam três quartos da população. Cerca de seis em cada 10 habitantes do Oriente
Médio têm menos de 30 anos. Na Europa, a média é de quatro em cada dez. Isto
significa que a população da muçulmana é bem mais jovem do que a europeia. A
população urbana nos países islâmicos cresce 3,1% ao ano, enquanto no restante do
mundo o índice é de 1,8%. * 16


        E os números não param por aí. No continente americano 0,5% são
muçulmanos. Na Europa 5%, na África Subsaariana o índice é de 30%, na Ásia 24%


16
  Fonseca, Ana Cláudia; Teixeira Duda e Carvalho, Julia, Revista Veja, Edição 2216, ano 44, nº19, 11 de maio de
2011, Editora Abril, pág 102
31

e no Oriente Médio e Norte da África 91%.


                                “No mundo moderno, a religião é uma força central, talvez
                                a força central, que motiva e mobiliza as pessoas. É pura
                                arrogância pensar que, porque o comunismo soviético
                                desmoronou, o Ocidente ganhou o mundo para sempre e
                                que os muçulmanos, os chineses, os indianos e outros vão
                                se precipitar para abraçar o liberalismo ocidental como a
                                única alternativa. A divisão da Humanidade em termos de
                                Guerra Fria acabou há muito tempo. As divisões mais
                                fundamentais da Humanidade em termos de etnia, religiões
                                e civilizações permanecem e geram novos conflitos” 17




        Concluímos que é preciso conhecer o islamismo em profundidade para
entender melhor a religião e a cultura. A Religião nestes países não é separada do
Estado. Para os líderes mundiais e para nós, ocidentais, esta questão é de difícil
compreensão. A abertura de diálogo é fundamental. Sem a conversa entre estes
governantes dificilmente haverá uma possível conciliação entre Ocidente e Oriente.
Muitos podem discordar e achar que esta separação é inexistente, mas basta estudar,
acompanhar os fatos históricos e os passos da política mundial para perceber que ela
divide o mundo em duas civilizações. O preconceito é latente, mas o elo perdido deve
ser recuperado. A Cruzada, a Guerra ao Terror já levou muitas vidas inocentes. Este
jogo político deve exterminar definitivamente o termo Eixo do Mal. Tanto o Ocidente
quanto o Oriente podem voltar a conviver harmoniosamente sem nenhum Choque de
Civilizações.




17
 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora
Objetiva, pág. 79
32

      1.3. A DIFICULDADE DO ISLAMISMO A MODERNIZAÇÃO



      Foram muitos os motivos que fizeram o Ocidente a assumir a liderança de todo
o processo de modernização mundial, tanto da sociedade ocidental quanto das não
ocidentais. Os estudiosos apontam diversos fatores para tanta rejeição a
modernidade e a globalização.


      Existem milhares de “Islãs”, - fundamentalistas xiitas ou sunitas, wahhabitas,-
muitas variações de valores compatíveis com a modernidade. O cerne de todo o
problema está na profunda rejeição que o mundo muçulmano tem com relação ao
Ocidente. A estrutura Ocidental de conhecimento, baseada em poder, acabou por
criar uma imagem artificial, longe do que realmente parece verdade e hostil ao
islamismo. Esta imagem vem fomentada de um projeto de dominação que aparece
após as independências formais dos Estados muçulmanos. O próprio Islã acabou por
criar o problema. A história apresenta muitas intervenções ocidentais, muitas
oportunidades e desvantagens. Grandes autores como Bernard Lewis, Daniel Pipes e
Martin Kramer, apontam em seus livros que os muçulmanos não souberam aproveitar
estas oportunidades. Com isso, o mundo muçulmano parece permanecer preso em
um círculo vicioso de rancor, autopiedade e ódio, regada de teorias conspiratórias e
cheia de atentados terroristas em nome de Deus.


      Os orientalistas, como são chamados os que acreditam nesta teoria, acham
que o Islã é algo irredutível, que sua época de glória foi na Idade Média e que nunca
mais conseguiu se renovar e muito menos, incorporar soluções modernas para que a
sociedade muçulmana pudesse progredir.


      Com tudo isto os muçulmanos tem pagado um alto preço, pois as
consequências vêm por meio de muitos reveses históricos. Os orientalistas dizem que
os muçulmanos vivem presos em uma estrutura de pensamento que insiste na
superioridade dos próprios valores. Além disso, é incapaz de explicar as repetidas
derrotas do Islã. Culpam então, o mundo exterior, o Ocidente, por todas as
infelicidades e mazelas.
33

      Para que haja uma modernização no mundo muçulmano é necessário então,
uma reforma islâmica. Somente desta forma, os orientalistas apontam que poderia ser
possível os Estados Muçulmanos alcançar a tão sonhada democratização e
modernização clamada hoje nas marchas realizadas pelos jovens. Mas isto
possivelmente não irá acontecer, por mais que haja conflitos armados e não armados.
A situação tende então a piorar a cada conflito, que atraia mais e mais jovens, pois
fica evidenciado uma pseudo-solução para o islamismo.


      Além dos orientalistas há um grupo conhecido como externalistas que
sustentam em seus estudos que, as responsabilidades da não modernização das
sociedades muçulmanas devem ser minimizadas. Sustentam que tanto a desunião
quanto a existência de estruturas autoritárias é resultado de intromissões ocidentais.


      As causas reais são indefinidas e são sustentadas por séculos de erros
cometidos tanto pelo mundo Ocidental e Oriental. Sendo ou não causas internas e
externas o grande problema é que o Oriente Médio ainda passa por muitas
dificuldades e a região é considerada um barril de pólvora pronta para explodir tanto
em pequenos quanto grandes conflitos. O que acontece naquela região são
informações desencontradas fruto de erros de ambos os lados. No meio há um ódio
crescente que separa estas civilizações que poderiam conviver e desfrutar de muito
mais avanços do que poderiam ter.


      Há tanta turbulência no mundo muçulmano, montada em uma estrutura global
e desequilibrada firmada em poder e riqueza, que o Ocidente se julga no direito de
intervir militar e economicamente. Veremos mais adiante muitos e muitos fatores. A
lista é longa, fundamentalismo, terrorismo, petróleo. Diariamente jornais, revistas,
internet divulgam matérias que tentam convencer que o mundo muçulmano é o pior
buraco negro do mundo, esquecendo-se de sua riqueza histórica e de seu povo que
luta por melhores condições de vida e trabalho. As novas gerações muçulmanas
estão tentando mostrar que este buraco negro não é realmente o que parece ser.


      Temos certeza sim de que o mundo muçulmano vive uma crise generalizada,
regada ou não por justiça e que está afetando o restante do mundo. Por este motivo,
que muitas vezes, o Ocidente reage à necessidade de intervir para que a crise não
34

mergulhe o mundo em problemas mais graves. O diálogo é necessário, mas muitas
vezes o Ocidente partiu primeiramente para a força sem ao menos saber qual
realmente era o problema. A postura Ocidental em relação ao mundo muçulmano
muitas vezes é de não praticar o diálogo, apesar de que tentar o diálogo com
ditadores e fundamentalistas religiosos ser uma perda de tempo para ambos os lados.


      A modernização envolve muitos fatores como industrialização, urbanização,
crescimento dos níveis de alfabetização, educação entre muitos outros. A
modernização é produto do crescimento do processo científico e isto começou a
ocorrer no século XVIII. Este conhecimento foi primordial para que as sociedades
pudessem se desenvolver e moldar os seus próprios processos. Além disso, com o
passar do tempo, estes processos foram se aperfeiçoando e ajudando as sociedades
que antes eram primitivas e viviam em processos primitivos a tornarem-se modernas.
Mas os valores, educação, conhecimento, cultura diferem de sociedade para
sociedade. Mesmo assim, à medida que outras sociedades adquirem processos
semelhantes à cultura ocidental acabou por se transformar em cultura universal do
mundo.


      Este é um dos pontos fortemente rejeitados pelos líderes políticos, intelectuais
e religiosos do Oriente. Esta rejeição foi gradativa e com a chegada do século XX,
com surgimento dos avanços tecnológicos, culturais, de comunicação, transportes e
agora, com o advento da globalização, é quase impossível manter a modernização
longe da civilização. A interdependência global acabou por gerar altos custos para as
sociedades que prefere esta exclusão. O mundo é predominantemente moderno e a
globalização e os avanços tecnológicos do final do século XX e início do século XXI
aumentaram a interligação.


      No Oriente Médio e principalmente nas sociedades islâmico-muçulmanas, os
fundamentalistas são os que mais rejeitam a modernidade. Os religiosos
fundamentalistas veem na modernização e ocidentalização o abandono às tradições
islâmicas. O escritor Bernard Lewis, faz diversas perguntas em seu livro “O que Deu
Errado no Oriente Médio”, da Editora Zahar, de 2002, pois não podemos enxergar a
causa das mudanças na relação Oriente e Ocidente devido a um declínio do Oriente
Médio, mas sim a um surto Ocidental. Na visão do grande autor, o Ocidente
35

aumentou sua riqueza e seu poder por causa de suas descobertas, movimento
científico, revoluções industriais, tecnológicas, econômicas e políticas. Muitos
estudiosos se perguntam por que os avanços científicos ocorreram na Europa e não
nos domínios ricos e avançados e esclarecidos do islamismo? É um jogo de
acusações que não tem limites e são encontrados não fora, mas dentro da sociedade.
Um dos maiores alvos é a religião e especificamente o Islã. Mas devemos lembrar
que, na Idade Média os maiores progressos ocorreram não no Ocidente que formava
a cultura mais nova, e não estava também nas culturas mais antigas do Oriente, e
sim, no seio do mundo islâmico que estava bem no meio delas.


           Apesar de tudo isto, infelizmente hoje, observamos em alguns países islâmicos
vivendo ainda em um mundo medieval, em um grau limitado de liberdade quando
comparados com os ideais modernos e com práticas modernas nas democracias
mais avançadas. Muitas são as perguntas e muitas são as respostas que
encontramos para a rejeição do islamismo ao mundo moderno, a globalização, a
ocidentalização. E, não há razão para esta total rejeição, uma vez que o Islã foi
pioneiro à ciência, ao desenvolvimento econômico, à liberdade. Os muçulmanos
costumam culpar este “atraso” aos fundamentalistas e o fundamentalismo muçulmano
nada mais é do que uma reação contra a modernidade.


                                    “(...) os fracassos e deficiências dos países islâmicos
                                    modernos se devem ao fato de que adotaram noções e
                                    práticas estrangeiras. Abandonaram o Islã autêntico (...). O
                                    Clero Islâmico são responsáveis pela persistência de
                                    crenças e práticas que podem ter sido criativas e
                                    progressistas mil anos atrás, mas hoje não são uma coisa
                                    e nem outra.” 18


           A religião na forma fundamentalista está intimamente ligada com a situação de
pobreza. Notamos isto em países como o Afeganistão e o Paquistão, onde o regime
Talibã tem fortes raízes desde a expulsão dos russos das terras afegãs. O
fundamentalismo afasta estes povos da riqueza lembrando que deve ser descartada
para dedicação a Deus, sem a dependência de bens materiais. O fundamentalismo

18
     Lewis, Bernard, O que deu errado no Oriente Médio?, 2002, Editora Zahar, pág, 180 e 181.
36

resgata valores pré-capitalistas e não-materiais que se adéquam perfeitamente a
situação de pobreza que a maioria se encontra. Neste ponto reside a honra,
obediência, solidariedade e ajuda mútua. Além disso, o mundo muçulmano e o
islamismo não separa o Estado da Religião. Ambos fazem parte de um único pilar,
presidindo aí a teocracia.


      O fundamentalismo prega o afastamento das tentações ocidentais, uma clara
defesa ideológica. Tudo que vem do Ocidente é permissivo como o sexo, às drogas,
ao álcool e o consumismo. Mobiliza a ira que vem se alimentando por anos pela
desigualdade, escancara a ausência de oportunidades e as humilhações oriundas de
anos e anos. Estas emoções acabam sendo canalizadas para a luta contra o
Ocidente e confirmadas pela religião. Esta ira se aproveita e se alimenta do
antiocidentalismo.


      O islamismo é uma religião com forte mensagem social e política. Passa aos
seus seguidores autoconfiança e tem uma forte história de resistência que se perdura
até os dias de hoje, principalmente contra imposições estrangeiras. Não é surpresa
que a região, por não aceitar a modernização, a globalização, a consumismos
ocidentais, passa por fortes crises demográficas, socioeconômicas e ideológicas que
acaba colocando o Oriente Médio em uma situação geopolítica de inferioridade em
relação ao Ocidente. São derrotas sucessivas por causa de milhares de propostas
emancipatórias. Existe uma união entre a ideologia oposicionista que realiza a
politização da religião islâmica, grupos sociais alienados e fanáticos que encontram
nisto tudo, um novo sentido e uma nova ordenação.


                             “O   fundamentalismo    muçulmano      se   explica   pela
                             coincidência de determinados fatores quase inevitáveis,
                             seu desdobramento e o desfecho eventual de sua luta
                             contra o Ocidente estão ainda em aberto. (...) As escolhas
                             a serem feitas nestes tempos de encontro com o islamismo
37

                                   influenciarão o curso da humanidade nas décadas
                                   futuras”.19


           Estudiosos também apontam a descriminação sexual muçulmano e a desprezo
as mulheres colocando-as em uma posição inferior na sociedade. O mundo islâmico
concentrou todas as suas energias em educar a outra metade, enquanto mulheres e
mães continuavam analfabetas e tiranizadas. Este tipo de educação tende criar uma
sociedade arrogante ou submissa, completamente incapaz de ser livre e aberta.


           A submissão, tirania e o desrespeito aos direitos humanos nos países árabes é
outro ponto de forte discussão nos países Ocidentais. Existe uma união entre a baixa
produtividade e alta taxa de natalidade no Oriente Médio. Esta união acaba
produzindo uma população que cresce com bastante rapidez, lotada de homens
jovens desempregados, sem instrução e frustrados. Indicadores das Nações Unidas e
de muitas outras autoridades apontam os países muçulmanos com graves problemas
também em educação e tecnologia e estão ficando cada vez mais atrasados com
relação ao Ocidente.


             Todos estes fatores estão associados à modernização e a globalização, e
estão afetando profundamente a maioria dos países do mundo muçulmano. No
século XXI países muçulmanos vivem abaixo da linha da pobreza, com graves
problemas econômicos, apesar da riqueza petrolífera. Países regidos por regimes
teocráticos e outros por democracias disfarçadas por governos comandados por
ditadores que servem propósitos aos países ocidentais que estão apenas
interessados nas riquezas escondidas nas profundezas de suas terras. Riquezas
estas que o ocidente enfrenta escassez e que foi a estrela principal do crescimento
econômico mundial: o petróleo, a commodity mais comercializada do mundo. Cerca
de 68% das reservas mundiais conhecidas ficam no Oriente Médio, quase todas
localizadas na região do Golfo Pérsico. O controle, o acesso e influência em relação
ao petróleo do Oriente Médio são fundamentais para a política mundial. Muitos
conflitos e guerras tiveram origem por causa desta disputa, mesmo que não tenha
ficado explicitado o motivo.



19
     Demant, Peter , O Mundo Muçulmano, Editora Contexto, 2004, pág. 330.
38

      Mesmo com a falta de modernização na maioria de seus países, o Oriente
Médio sempre está no centro do cenário internacional e após o 11 de setembro esta
visibilidade ficou ampliada. Isto também faz com que as potências mundiais atuem
com força aliando-se a governantes tiranos e inescrupulosos. Moderno ou não,
globalizado ou não, enquanto o petróleo for importante para as grandes potências e
para a economia mundial, haverá o interesse nos países muçulmanos.


      As questões de penetração e alienação cultural estão completamente vivas em
muitas regiões do mundo muçulmano, onde é o único em que a cultura religiosa tem
se transformado em ideologia fundamentalista não somente de forma defensiva, mas
que inclui em todo este pacote uma reivindicação pela primazia mundial contra o
Ocidente. Uma nova e perigosa ordem global, espalhada por fundamentalistas
religiosos e apoiado por terroristas, baseadas em uma suposta superioridade do Islã.


      Na maioria dos países muçulmanos há a violação dos Diretos Humanos.
Embora tudo isto ocorra, o fundamentalismo acontece de formas variadas e em graus
de violência diferenciados. Foi a forma alternativa encontrada pelo islamismo para
atacar de forma assertiva a supremacia Ocidental.


      O fracasso da modernidade nos países islâmicos é amplamente discutido pelas
autoridades como também pelos povos islâmicos. A população muçulmana está cada
vez mais consciente do que está acontecendo em seus países e sabe das grandes
diferenças existentes entre viver em um mundo livre, moderno e globalizado. Sabem
o que existe, o que se passa além de suas fronteiras. Mas, muitas vezes são
obrigados a conviver com a repressão, a falta de liberdade de expressão existente em
seus países.


      Os crescentes conflitos ocorridos recentemente nos países do Oriente Médio,
de 2009 a 2011, são resultados desta repressão, da raiva contida e claramente
dirigida aos seus governantes. Esta nova geração não viveu a forte repressão vivida
por seus avós e pais durante o século XX e início do século XXI, mas são capazes de
irem até o fim para tentar tirar os falsos governantes democratas que usam o poder
de forma egoísta e tirânica. É fato que muitos gritam pelas ruas que querem
democracia e falem sobre o fracasso da modernidade em seus países.
39

      É fato, o Ocidente não sabe ainda lidar com o Islã, a xenofobia, a visão de não
modernidade e globalização. Como se o Ocidente e o Oriente fossem dois planetas
em rota de colisão. Os terroristas e fundamentalistas religiosos, que se consideram
bons, únicos e autênticos muçulmanos, só agravaram esta situação. Já os norte-
americanos provocaram este ódio crescente para que o maior ataque terrorista da
história fosse calculado e realizado daquela forma.


      O islamismo não prega a violência. Não existe dentro do Islã fatores que
afirmam que a religião é mais violenta do que outras. Existem muçulmanos que
abraçam a xaria como uma base de ordem social e esta ramificação deseja a
segurança física e psicológica. Não aceitam as severidades interpretadas pelas leis
islâmicas dos fundamentalistas, que rejeitam a modernidade, a globalização, afastam
seus jovens de uma vida melhor e prega o terror, a vigilância como forma de manter
as tradições anunciadas pelo Profeta.


      Os jovens de hoje tem um preço alto a pagar, mas estão lutando para que tudo
isto possa mudar mantendo-se as tradições religiosas, assim como aconteceu com o
judaísmo e o cristianismo. A luta pela democracia é apenas o primeiro passo
considerado por estes jovens, um caminho real para abraçar definitivamente a
modernidade.


      O Islã ainda não fracassou, não aceitando a modernidade. Estes jovens que
protestam nas ruas e conseguem criar movimentos contra todas as ditaduras
passadas, certamente sabem que o caminho ainda é longo e que apoiados por
ferramentas ocidentais como as redes sociais, podem e tem muito que fazer. Eles
sabem que especificamente esta modernidade ocidental tem mais valor do que uma
AK-47 antes, empunhada por seus pais e avós.
40

      2. IRÃ - HISTÓRIA E A SUA RELAÇÃO COM OS ESTADOS UNIDOS


      A República Islâmica do Irã é um dos locais no Oriente Médio onde o mundo
parece ter parado em um tempo remoto. Tempo este, quando os bazaris – antigos
comerciantes-, dominavam a economia da antiga Pérsia. O Irã é considerado por o
berço da civilização. Em suas terras viveram astrônomos, matemáticos, cientistas,
artistas, mestres da ciência. Suas descobertas foram divulgadas quando os árabes
islamizaram todo o Oriente Médio. Neste enigmático e atraente país, temido hoje por
grandes potências, que reprime a sua população, rica em petróleo e pobre em
emprego, surgiu a primeira religião monoteísta por volta de 1000 a.C.


      Desde 1979, o Irã é terra dos aiatolás. O país dos mantos negros (chador) que
cobrem as mulheres, da língua farsi falado na província da Fars. Seu idioma é uma
variante do alfabeto assírio até o século VII, mas com a dominação árabe, os
iranianos assumiram o alfabeto árabe com pequenas modificações. É o único país
com um regime xiita. Herdeiro direto do antigo Império Persa, o Irã é um dos países
com um peso econômico considerável para o mundo muçulmano, pois está situado
em cima de uma dos maiores poços de petróleo do mundo, com um grande potencial
energético em gás e desenvolvimento nuclear, este último, causando grandes
desconfortos em líderes mundiais do século XXI.


      Independente de toda a sua história, o Irã dos tempos modernos cresce
desordenadamente como qualquer país que tem uma capital conhecida e intensa
como Teerã. Este país do Oriente Médio conta com uma população de mais de 70
milhões de habitantes e têm suas fronteiras divididas com países historicamente tão
importantes quanto ele. Conhecido como a Terra do Meio, o Irã ao norte faz divisa
com a Armênia, o Azerbaijão, o Turquemenistão e o Mar Cáspio. Ao leste faz fronteira
com o Afeganistão e o Paquistão, a oeste com o Iraque e a Turquia e ao sul, com o
Golfo de Amã e o Golfo Pérsico.


      Até o ano de 1935, o Irã ainda era conhecido como Pérsia e carregava o peso
de sua importância histórica. Foi do Império à teocracia. Um território de imperadores
famosos. Em 559 a.C, Ciro, o Grande, funda o Império Persa, conquista a Babilônia e
liberta os judeus da escravidão. Com Dario, Rei dos Reis, os iranianos conquistaram
41

expansão territorial e poderio político. Xerxes filho e sucessor de Dario, comandou
uma grande invasão a Grécia em 480 a.C, levando sob seu comando 180 mil
homens. Na época foi considerado o maior exercito já visto na Europa. No ano de 334
a.C, Alexandre, O Grande invadiu a Pérsia saqueando Persépolis. As famosas ruínas
de Persépolis são testemunhas da beleza e da grandeza que um dia foi a Pérsia.
Durante o seu apogeu a Pérsia, que chegou a conquistar o mundo antigo, formou
uma das civilizações mais prósperas e sofisticadas da Mesopotâmia.


      Na Idade Média foi invadido por mongóis, um grupo que teve sua formação na
Ásia Central, no século XIII, por Genghis Khan. Eles devastaram o Irã nos anos
seguintes de 1220. Quando os mongóis perderam o controle da situação este poder
passou então para às mãos da dinastia revolucionária Safávida, que tinha como
crença o xiismo. Adotar o xiismo foi um passo muito importante para a formação da
nação iraniana. Ismail I, que se proclamou Xá em 1501 e declarou o xiismo como
religião oficial do Estado, ergueu um império dez anos depois denominado: os
Safávidas. A vertente de que o xiismo não é um mero ato religioso perdura até os dias
de hoje no Irã. Na época, se estendeu da Ásia Central a Bagdá e das montanhas
geladas do Cáucaso as areias do Golfo Pérsico.


      O grande apogeu do Império Safávida aconteceu entre os anos de 1587 a
1629, durante os 40 anos do reinando de Abbas, também conhecido como o Grande.
Neste tempo, a cultura iraniana alcançou o seu maior reconhecimento. Abbas
conseguiu unificar o povo, construiu estradas para atrair mercadores europeus e criou
oficinas para produzir seda e cerâmica. A história iraniana nos conta que desde o
século IX, os intelectuais que viviam em terras persas haviam explorado o mundo
islâmico à procura de cientistas, filósofos e sábios. Criou a coleta de impostos,
montando uma competente rede burocrática, organizando o país que já vinha em
desordem desde os tempos de Ciro e Dario, dois mil anos antes de sua chegada.


      Apesar de obter um grande avanço durante a dinastia de Abbas, a sua forma
brutal de governar foi sob torturas e execuções. O seu modelo de governo casou
desordem, cobiça e morte entre as nações vizinhas ao Irã. Houve um longo período
de lutas e anarquias entre as tribos. Muitos outros imperadores vieram depois de
Abbas, como Xá Nadir, conhecido como um dos últimos grandes líderes históricos do
42

Irã, assassinado em 1747 e os Qajar, provenientes de um tribo turca do Mar Cáspio
que governaram o Irã do final do século XVII até o ano de 1925.


        No ano de 1804 os ingleses ajudam os persas na guerra contra a Rússia e
passam a influenciar o país. O Xá Muzzafar AL-Din, em 1901 concede aos ingleses a
exploração do petróleo. Vinte anos depois Xá Reza Khan toma o poder e começa a
modernização da Pérsia.


        Adriana Carranca e Mônica Camargo relatam em seu livro, “O Irã, sob o
Chador – Duas brasileiras no país dos aiatolás”20, da Editora Globo, 2010, que a seus
reis tacanhos e corruptos cabe à culpa pela decadência que se abateu sobre o povo
iraniano. Enquanto a maior parte do mundo avançava para a modernidade, o Irã da
dinastia Qajar estagnava. O Irã era rota de cobiça para as grandes potências que não
tiravam os olhos desta terra. Já o jornalista do New York Times, Stephen Kinzer,
citado no livro das jornalistas brasileiras, escreveu um estudo sobre a Operação Ajax
- que derrubou o governo democrático do Irã, em 1953, articulado pelos Estados
Unidos e Inglaterra -, como sendo o responsável por modificar definitivamente os
rumos históricos do Irã. O que se conclui de todas as dinastias é que cada uma delas
deixaram profundas marcas neste país de mais de quatro mil anos.


        O Irã político e espiritual surgiu durante o reinado de Ismail I. Aceitando o
xiismo, os iranianos estavam aceitando o islamismo, mesmo que não fosse da forma
desejada pelos sunitas. Na política a posição do xiismo, como para o zoroastrismo, os
governantes só tem o direito de exercer o poder de forma justa.


                                  “Essa crença conferiu às massas xiitas, e por extensão aos
                                  seus líderes religiosos, força para promover a debacle do
                                  regime       laico,     construindo        o    paradoxo        de      uma
                                  modernização autoritária e religiosa jamais prevista por
                                  nenhum manual de teoria política.”21



20
   Carranca, Adriana e Camargos, Márcia, “O Irã sob o Chador – Duas brasileiras no país dos aiatolás”, Editora
Globo, 2010, pág 68
21
   Carranca, Adriana e Camargos, Márcia, “O Irã sob o Chador – Duas brasileiras no país dos aiatolás”, Editora
Globo, 2010, pág. 55
43

        No século XXI, os xiitas compõem o segundo maior número de adeptos do Islã,
depois dos sunitas. O Irã é um dos Estados mais antigos do mundo. Estas terras já
geraram milhares de filmes, estudos e livros. Foram séculos e séculos de uma rica
história de conquistas, guerras, conflitos e revoluções. Um pouco antes dos Aiatolás
dominarem o Irã, o país passou por um processo pioneiro com a Revolução
Constitucionalista de 1906 e a nacionalização da indústria petrolífera implantada por
Mohammed Mossaddegh em 1951. Foram dois fatos considerados importantíssimos
não somente para o país, como também, para a história mundial. A devolução do
petróleo para o povo iraniano custou o cargo político a Mossaddegh. Ele pagou um
preço bem alto por esta nacionalização. O livro “Todos os Homens do Xá – O Golpe
Norte-Americano no Irã e as Raízes do Terror no Oriente Médio”, de Stephen Kinzer,
Editora Bertrand Brasil, 2003, conta em detalhes o complô armado entre os Estados
Unidos e a Inglaterra. Um golpe que derrubou o governo democrático de Mossaddegh
e implantou no Irã uma longa e tenebrosa ditadura comandada pelo Xá Mohammed
Reza.


        O Xá Reza obteve por um bom tempo apoio dos ocidentais, mas foi derrubado
por um movimento popular que era contra à crescente secularização da sociedade e
principalmente à forte corrupção que estava sendo acobertada por sua temida polícia
política, os Savaks. O Irã passou por momentos de grande tensão, assim como
estava acontecendo em países do terceiro mundo – Brasil, Argentina, Chile. O ano de
1964 foi marcado com a expulsão do Aiatolá Khomeini, que se exilou na Turquia,
seguindo depois para Najaf, cidade considerada santa aos xiitas, ao sul de Bagdá, no
Iraque e por fim, para a França após duras críticas ao modo como Reza Pahlavi
conduzia o país. Seus discursos eram ouvidos clandestinamente por seus seguidores
no Irã, sendo reproduzidos em fitas cassete. Durante este período o país passou por
greves na administração pública, a interrupção da extração em seus cobiçados poços
de petróleo, produto principal de sua base econômica.


        O ano de 1979 foi marcado por uma das maiores Revoluções Islâmicas no
mundo muçulmano. Em 16 de janeiro de 1979, o Xá Mohammad Reza Pahlavi e sua
família real fogem para o exílio abrindo assim as portas para a volta do Aiatolá
Ruhollah Khomeini. O processo foi lento, mas muito bem planejado, pois o Aiatolá
precisou apenas de 10 dias no país para tomar o poder. No dia 10 de fevereiro,
44

Khomeini provocou uma mudança definitiva da ordem política e social no Irã. Foram
momentos de intensa luta armada dentro de terras iranianas, onde unidades do
exército, fiéis ao Aiatolá e a velha Guarda Imperial do Xá, se enfrentaram. Pelas ruas
os homens faziam barricadas e se vestiam para morrer pela causa islâmica. As
mulheres abandonaram as roupas ocidentais e cobriam-se com seus chadores. A
Revolução deixou 200 mortos, acarretou invasões a diversos prédios públicos e
provocou a soltura de 11 mil detentos da prisão de Evin,O resultado se deu na noite
de 2 de abril de 1979, quando foi proclamada a Primeira República Islâmica do
mundo. Uma tentativa de reproduzir o regime vigente na Arábia do profeta Maomé.


      Uma revolução e um novo regime com nuances ideológicas apoiado por
comunistas, liberais e mollah - camponeses armados com paus e pedras. Até
muçulmanos sunitas e xiitas juntaram-se a causa tendo apoio de judeus, cristãos,
ateus unidos a favor da revolução.


      Não havia uma programação concreta. Naquele momento, o que os iranianos
desejavam era obter uma liberdade por meios de atos democráticos. O sonho durou
pouco, o idealismo de liberdade e democracia sofreram mudanças radicais. No poder,
o Aiatolá modificou o discurso. Estudantes viram escolas e universidades serem
fechadas para que o ensino pudesse ser adaptado de acordo com a sharia, a lei
islâmica. As mulheres foram obrigadas a cobrir os cabelos em público. Uma
democracia e uma liberdade prometida e que acabou não sendo exercida ao longo
dos anos. Ao longo destes 30 anos pós-revolução, o Irã se manteve a maior parte do
tempo fechado para o mundo ocidental.


      A inimizade e a falta de diálogo com os Estados Unidos e Irã, quer dizer,
Ocidente contra Oriente, dura a mais de 30 anos. Não há respeito entre Estados
Unidos e Teerã. O jornalista Stephen Kinzer, ex-repórter do New York Times,
concedeu em janeiro de 2011, uma entrevista ao jornalista Jorge Pontual, para o
Programa Milênio, do canal GloboNews, analisando o passado, presente e o futuro
desta tão conturbada relação envolvendo os dois países.


      Para o jornalista americano, a melhor maneira encontrada por ele para este
conflito é os Estados Unidos trocarem os velhos aliados, no caso Israel e Arábia
45

Saudita. Seriam necessários novos parceiros, no caso o Irã e a Turquia. Isto deveria
ser feito rapidamente antes que aconteça mais uma guerra. Kinzer afirma que os
Estados Unidos devem reconhecer os erros do passado e quem sabe reencontrar um
sentimento democrático até pró-americano do povo iraniano.


        Os conflitos se tornaram maiores quando iranianos começaram a sequestrar
diplomatas americanos. Isto acabou por forçar o povo americano a se perguntar o
porquê destes sequestros estarem acontecendo, pois até então os norte-americanos
não sabiam do golpe articulado pela CIA, junto com o governo britânico, para tirar o
premier Mossadegh do poder, antes da Revolução Iraniana de 1979. Kinzer ressalta
em sua entrevista que um lado desta história ficou por muito tempo obscuro para o
povo americano. Esta falta de diálogo e incompreensão com o povo iraniano acabou
por ser acentuada a cada dia.


                                  “Esta crise dos reféns, deixou marcas profundas em uma
                                  geração        de       formuladores       das      políticas     externas
                                  americanas.         A     reação     da     crise     aos       reféns    foi
                                  essencialmente: “Eles não tinham motivos para fazerem
                                  isto. São selvagens, niilistas bárbaros, que, sem motivo,
                                  estão fazendo sofrer nossos concidadãos.” Para os
                                  americanos era o que parecia. Não imaginávamos que
                                  alguns iranianos, tinham motivos para ter raiva de nós.
                                  Para os americanos, até hoje, as relações Estados Unidos-
                                  Irã, começam e terminam em 1979-1980. Foi quando elas
                                  começaram e não avançaram mais.”22


        Os americanos esqueceram que para o lado iraniano, os fatos poderiam ser
bem diferentes e que isto poderia mudar completamente o curso das relações
internacionais entre o Ocidente e o Oriente.




22
  Kinzer, Stephen, jornalista e escritor do livro: “Todos os Homens do Xá – O Golpe Norte-Americano no Irã e as
Raízes do Terror no Oriente Médio”, Editora Bertand Brasil, 2003, em entrevista ao jornalista da Globo News,
Jorge Pontual, para o Programa Milênio, janeiro de 2011, com inserção no YouTube:
http://www.youtube.com/watch?v=JYsxSFZa648
46

                                  “As relações entre Irã-Estados Unidos e seus conflitos
                                  começaram em 1953, quando Mohammed Mossadegh foi
                                  derrubado pela CIA. Desde as crises dos reféns, alguns
                                  dos     sequestrados         escreveram        artigos      e    memórias
                                  contando         o    porquê    fizeram      tudo    aquilo.     Só     hoje
                                  conseguimos descobrir que eles tinham um motivo. Os
                                  iranianos não eram apenas niilistas, tinham algo bem claro
                                  em mente. Estavam pensando no que havia acontecido em
                                  1953. O que aconteceu então? O povo iraniano obrigou o
                                  Xá a fugir. Mas, os agentes da Cia, trabalhando nos porões
                                  da    embaixada          americana,      organizaram         o   golpe      e
                                  trouxeram o Xá de volta. Então, 25 anos depois, em 1979,
                                  o     Xá   foi       obrigado   a    fugir   de     novo.       Os    jovens
                                  revolucionários iranianos pensaram: “Vai acontecer tudo de
                                  novo. Os agentes da CIA nos porões da embaixada
                                  americana, vão organizar outro golpe para trazê-lo de
                                  volta. Não podemos deixar isto acontecer.” Foi por este
                                  motivo que eles invadiram a embaixada. Mas, só depois de
                                  muitos anos que os americanos ficaram sabendo o que os
                                  Estados Unidos tinham feito no Irã, em 1953. Foram
                                  grandes danos que eles nem desconfiavam. Esta foi a
                                  causa da crise dos reféns e de todos os conflitos
                                  subsequentes entre os dois países.” 23


        A crise dos reféns durou 444 dias. Foi considerado um marco do rompimento
entre Estados Unidos e Irã. O sequestro de 52 cidadãos americanos durou de 1979 a
198, dentro da Embaixada dos Estados Unidos por seguidores de Khomeini que
contavam com sua anuência. A crise dos reféns acabou por eleger o republicano
Ronald Reagan, nas eleições presidenciais americanas no ano de 1980 e o fatídico
isolamento internacional do Irã. Esse isolamento foi carregado de acusações de que
os Aiatolás por terem interesse de disseminar a Revolução Islâmica pelo mundo

23
  Kinzer, Stephen, jornalista e escritor do livro: “Todos os Homens do Xá – O Golpe Norte-Americano no Irã e as
Raízes do Terror no Oriente Médio”, Editora Bertand Brasil, 2003, em entrevista ao jornalista da Globo News,
Jorge Pontual, para o Programa Milênio, janeiro de 2011, com inserção no YouTube:
http://www.youtube.com/watch?v=JYsxSFZa648
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  • 1. UNIVERSIDADE LA SALLE RJ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS “ISLAMISMO 2.0” SO JANAÍNA MACHADO RIO DE JANEIRO JUNHO/2006
  • 2. JANAÍNA MACHADO ISLAMISMO 2.0 Este é o trabalho final de Janaína Machado de Oliveira, aluna do curso de Pós- graduação em Relações Internacionais, da Universidade La Salle de Niterói, Rio de Janeiro. O professor Carlos Frederico Coelho foi escolhido pela aluna como orientador e receberá o trabalho de conclusão do curso para avaliação. Rio de Janeiro, 01 / 08 /2011 Professor Orientador Específico
  • 3. Este trabalho é dedicado a minha mãe, Juranda Machado e in memorian ao meu pai, Haroldo José de Oliveira.
  • 4. “O Ocidente tem o relógio, o Oriente tem o tempo...”. Ditado popular iraniano
  • 5. RESUMO Machado, Janaína. Islamismo 2.0 Prof. Orientador Específico: Carlos Frederico Coelho Rio de Janeiro: UNILASALLE 2011 Relatório de Conclusão de Estágio. O presente trabalho pretende comprovar, por meio de reportagens publicadas em jornais, revistas, livros e material pesquisado via Internet, que o Islamismo e os países tipicamente muçulmanos, já no século XXI, ainda resistem às modernidades introduzidas pelo crescente avanço tecnológico criado especificamente pelo mundo ocidental e à globalização. Apesar disso, jovens muçulmanos com menos de 25 anos, em recentes levantes, em países islâmicos, mostraram ao mundo que a resistência impera somente em alguns países e essencialmente por causa de seus governantes e seus ditadores. Milhares foram às ruas protestar contra seus governos munidos de ferramentas modernas, criadas pelo ocidente, para questionar a política, a religião, a cultura, a submissão e a crescente repressão imposta pela tradição autoritária dos aiatolás. Não desejam mais repressão, falta de liberdade de expressão, ditadura, torturas, prisões, pobreza e diversas mazelas frequentemente divulgadas pela imprensa com relação aos seus países. Pela primeira vez o mundo viu uma Revolução supostamente dita como Digital, onde tudo era divulgado via Twitter, YouTube, Facebook, celular e outras ferramentas que pudessem acessar a Internet. Estes jovens depois de muito tempo não tiveram medo de enfrentar a milícia subordinada à Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), uma polícia criada para proteger, mas que pratica a vigilância e a opressão a toda à população, pronta para denunciar qualquer iraniano que não apoie o governo. O Choque de Civilizações, a divisão entre o Ocidente e o Oriente e, o porquê do mundo muçulmano ser movido pelo ódio em relação aos países ocidentais também será tratado neste trabalho. Teremos como base de estudo um único país que passou por muitas transformações, golpes, revoluções e recentes protestos: o Irã. Este país presenciou a Revolução Islâmica de 1979, tem um complicado relacionamento com os Estados Unidos e presenciou um recente levante, no mês de junho de 2009 que sacudiu os iranianos e mundo.
  • 6. O uso das redes sociais foi fundamental para que os jovens fossem às ruas mostrar à sua revolta e a verdadeira face do Islã e do atual Irã. O poder de Alá sucumbiu à modernidade e apareceu um novo Islamismo, movido pela força da web 2.0. Palavras-chaves: Choque do Oriente e Ocidente, Modernização, Avanço Tecnológico, Globalização, Revolução Islâmica, Islã, Irã, Estados Unidos,Redes Sociais, Web 2.0.
  • 7. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................08 1.1 UMA BREVE HISTÓRIA DO ISLÃ......................................................................15 1.2 O CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES ........................................................................22 1.3 A DIFICULDADE DO ISLAMISMO A MODERNIZAÇÃO.....................................32 2 IRÃ - HISTÓRIA E A SUA RELAÇÃO COM OS ESTADOS UNIDOS.....................40 2.1 IRÃ E SUAS REVOLUÇÕES...............................................................................54 2.2 A REVOLUÇÃO 2.0 - UM MUNDO DE CONTRADIÇÕES..................................63 3 A CIVILIZAÇÃO NA ERA 2.0...................................................................................76 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................88 5 REFERÊNCIAS.......................................................................................................96
  • 8. APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO: Nome: Janaina Machado de Oliveira Endereço: Rua São João nº 171/ 102 Bloco A Centro Niterói Email: janaina.machado@planobconsultoria.com Fone: 21 93384330 Empresa onde trabalha: Plano B Consultoria Empresarial e Assessoria de Imprensa Setor: Sócia-diretora Ramo de Atividade: Consultoria Empresarial, Comunicação, Mídias e Redes Sociais e Assessoria de Imprensa.
  • 9. 8 1. INTRODUÇÃO No dia 11 de setembro de 2001, o mundo testemunhou uma das maiores mudanças no curso da história. Três pontos diferentes e estratégicos dos Estados Unidos, são atacados simultânea e inesperadamente. Milhares de vidas se perderam. Um dos maiores símbolos americanos, o World Trade Center, as duas Torres Gêmeas, localizada no sul da ilha de Manhattan, na cidade de Nova York, caem como se fossem folhas de papel picado. O Pentágono, localizado na capital Washington, tem uma de suas partes destruídas e um avião da United Airlines, cai em uma área florestal da Pensilvânia, matando todos a bordo. Um terror que ficaria marcado não somente na memória dos americanos, mas em todas as civilizações. Não haverá, decerto, uma explicação tangível e aceitável para o ocorrido. O horror se espalhou pelo mundo no momento em que as terríveis cenas foram transmitidas ao vivo pela TV. Tudo parou. O autor dos atentados, o rico saudita, Osama Bin Laden com a ajuda do grupo terrorista islâmico Al Qaeda não poderia imaginar que o plano seria tão perfeito e visto ao vivo por bilhões de pessoas. O mundo naquela manhã de 11 de setembro de 2001 havia acordado para a sua “primeira guerra do século XXI”. Foi assim que o Ex-presidente George W. Bush falaria sobre os atentados em sua primeira declaração oficial. Uma “Cruzada” em defesa da “civilização”. Havíamos começado a travar uma “Guerra ao Terror” e o Oriente seria classificado definitivamente como o “Eixo do Mal”. Esta cruzada sempre será lembrada por cenas terríveis, nascidas antes, durante e depois do 11 de setembro. O mundo já havia presenciado um primeiro ataque as Torres Gêmeas, no ano de 1993. Um carro bomba explodiu na garagem de uma das Torres ferindo milhares de americanos e matando muitos agentes do Federal Bureau Investigation (FBI) que trabalhavam nos andares superiores da área atingida. Este atentando foi o primeiro de muitos que teriam sucesso e que acabaram por criar uma xenofobia contra qualquer muçulmano. Velho, adulto, homem, mulher,
  • 10. 9 ou criança são atacados e todos os lugares, principalmente nos Estados Unidos. Durante o governo de George W. Bush, dezenas de muçulmanos suspeitos de terrorismo são presos e levados para interrogatórios em Guantánamo, na ilha de Cuba. Iraquianos são humilhados e torturados nas prisões de Abu Ghraib, em Bagdá. O mundo passa a ter uma visão distorcida do islamismo, dos muçulmanos e de todo o Oriente Médio. O orientalista Bernard Lewis, que criou o termo “Choque de Civilizações” e inadequadamente apropriado após o primeiro ataque de 1993, pelo escritor Samuel Huntington, explica claramente essa expressão: “(...) delinear a visão de um mundo dividido em conjunto geo-culturais fechados sobre as próprias certezas 1 absolutas.” O futuro da humanidade começa a depender do êxito ou do fracasso coletivo em lidar com a dificuldade da coexistência entre as diferenças existentes entre o Ocidente e o Oriente. Mas tanto o Ex-presidente Bush, quanto os políticos ocidentais, têm feito grandes esforços para deixar claro que esta atual “Guerra”, e na qual as grandes potências estão envolvidas, é apenas contra o terrorismo. De acordo com Osama Bin Laden, descrito em um dos livros de Bernard Lewis, a guerra não é contra o terrorismo: “Para eles e seus seguidores, essa é uma guerra religiosa, uma guerra do Islã contra os infiéis e, portanto, inacreditavelmente, contra os Estados Unidos, a maior potência do mundo infiel.” 2 Os discursos de Bin Laden, sempre foram referentes à história e aos infiéis. O seu vídeo de 7 de outubro de 2001, logo após os atentados de 11 de setembro, refere-se à “humilhação e desgraça” e as pessoas, às quais ele se dirigia, entenderam perfeitamente qual o fato histórico citado pelo terrorista. 1 Magnoli, Demétrio, “Terror Global”, São Paulo, PubliFolha, Série 21, pág. 7, 2008. 2 Lewis, Bernard, “A Crise do Islã - Guerra Santa e Terror Profano”, Rio de Janeiro, Zahar Editor pág.11, 2003.
  • 11. 10 Ele fazia referência à perda do sultanato otomano, o último dos grandes impérios muçulmanos restantes, em 1918 para os britânicos e franceses, assim como as antigas províncias otomanas de língua árabe, que separadas deram origem a novas “nações”, que ganharam outros nomes e fronteiras. São elas: Iraque, Palestina e Líbano. Mais tarde os britânicos dividiram a Palestina, criando uma divisão entre as duas margens do Jordão. A parte oriental transformou-se em Jordânia e a margem ocidental Cisjordânia. Até hoje área nervosa do Oriente e geradora de grandes conflitos. A Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Pau- lo (UNIFESP), Cristina Soreanu Pecequilo, em seu artigo “A estranheza da democra- cia” 3, escrito para o site Carta Maior explica que um dos termos mais utilizados na retórica da política internacional, ao lado de paz e guerra, é democracia. Segundo a professora traduzida e manipulada pelos mais diferentes interesses e grupos políti- cos, a palavra pode ser levada a extremos como ao justificar a invasão norte- americana ao Iraque em 2003 ou a Guerra Contra o Terror de 2001 do Afeganistão em 2001. Ela explica que para os Estados Unidos, trata-se de motivação de uso cor- rente para legitimar intervenções externas para o seu público interno e que ultrapassa fronteiras. Mesmo com o patente unilateralismo de George W. Bush, alguns veículos e analistas chegaram a definir este momento como o início de uma “Primavera dos Povos” para o Oriente Médio, similar a 1989 na Europa Oriental. E sabemos que democracia não existe na maioria dos países muçulmanos. Quase todos são governados por ditadores a mais de três décadas para revolta da população, subjugando-os a repressões, maus-tratos, prisões indevidas, pobreza, má qualidade de vida, falta de trabalho entre outros graves problemas. Esta nova “Guerra” impôs para a humanidade um desafio mais urgente do que o fundamentalismo islâmico. Este “Choque de Civilizações” poderia ter sido evitado de várias formas, sem xenofobia, sem “Cruzada” e sem “Guerra ao Terror”. Poderia 3 Pecequilo,Cristina Soreanu, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, artigo; “A estranheza da democracia” , site Carta Maior, de 12/02/2011. http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17431
  • 12. 11 ser evitado se as grandes potências, principalmente os Estados Unidos se propusessem a um diálogo aberto com os países islâmicos. Para os fundamentalistas islâmicos, que aparentemente estão liderando e controlando a luta anti-imperialista e que mostra este fascínio pelo terror, nos diz muito sobre a degeneração de correntes de esquerda que não conseguem esconder sua profunda hostilidade à democracia e ao Ocidente. Os atentados, as revoltas, são revelações claras de uma nova sociedade que está surgindo e que não quer mais viver sob o véu da intolerância, criada por xiitas e sunitas. Podemos evitar este choque desde que ambos os lados façam concessões e esforços necessários. Isto é possível? Há esforços praticados por ambas as partes? Fica muito claro que é necessário muito exercício de compreensão de ambos os lados. Alguém tem que ceder. “Ao Ocidente, cabe entender como a riqueza histórica do mundo muçulmano se vincula à sua ira atual - e como o próprio mundo ocidental é cúmplice, de certa forma, da crise contemporânea do islã. Um entendimento da dinâmica interna do mundo muçulmano, assim como de sua interação com os povos vizinhos, constitui o primeiro passo para desenhar políticas mais compassivas, e mais efetivas, frente a ele.” 4 O Ocidente, - mais para os americanos do que para os europeus-, a unidade básica da organização humana é a nação. Isto virtualmente é considerado um país. Nesta totalidade está incluída a religião. Já os muçulmanos, tendem a ver não uma nação subdividida em grupos religiosos, mas sim, uma religião subdivida em nações. Segundo Bernard Lewis, em seu livro, “A Crise do Islã”, de 2003, páginas 14 e 15 este pensamento ou esta formação de Estados-nações, que compõem o “Oriente Moderno”, podem ser observadas a partir do tempo de dominação imperial anglo- francesa e que se seguiram à derrota do Império Otomano. Muitos outros países surgiram com novos nomes: Turquia; Irã, antiga Pérsia; Paquistão, uma invenção do 4 Demant, Peter; “O Mundo Muçulmano”, São Paulo, Editora Contexto,, Introdução, 2004
  • 13. 12 século XX que foi designado um país inteiramente definido por sua religião e lealdade islâmicas. Um país que fez por muito tempo parte do território indiano e que se preocupou entre muitas outras coisas com a sucessão do Talibã e seus sucessores no vizinho Afeganistão. Muito aconteceu no século XX e XXI e este “Choque de Civilizações” que poderia ser evitado, tem se acirrado com novos eventos e novas guerras, sem justificativas e sem aprovações do Conselho de Segurança da ONU. Após os ataques de 11 de setembro, o mundo assiste a uma perseguição que não tem fim, mesmo com a morte do terrorista Osama Bin Laden, em 1º de maio de 2011 e seus terroristas formadores do grupo Al Qaeda. Para justificar a sua “Guerra ao Terror” e a sua “Cruzada”, o Ex-presidente norte-americano, George W. Bush mandou tropas do exército americano invadir o Iraque, com o objetivo de instaurar um novo governo e a democracia. Para isso, perseguiu incansavelmente o ditador Saddam Hussein, antes aliado dos americanos. O Iraque foi invadido com a justificativa de que no país havia armas químicas, que poderiam acabar com a paz mundial. Nada foi achado e nada foi provado. Onze anos depois, uma república ainda não foi instaurada no Iraque e o Ex-ditador, Saddam Hussein, capturado pelos soldados americanos, foi enforcado após um curto julgamento por crimes de guerra cometidos contra seu próprio povo e a humanidade. Sem conseguir controlar seus soldados, o mundo assistiu via satélite atrocidades cometidas nas prisões de Abu Ghraib e Guantánamo, praticadas pelo exército americano. Os Estados Unidos mostravam definitivamente que o controle estava sendo perdido. Democracia está à palavra da nova geração islâmica. Eles estão mudando o mundo e chamando a atenção para o Oriente Médio de uma forma completamente diferente da ocorrida no século XX. Seus desejos e sua formação são diferentes de seus pais e dos religiosos que comandam com pulsos firmes os principais países islâmicos. Os jovens muçulmanos de hoje estão com menos de 25 anos, não vivenciaram com a intensidade de seus pais a Guerra do Irã-Iraque, a Revolução Islâmica do Irã de 1979; os conflitos na Palestina e em Israel ou qualquer tipo de
  • 14. 13 atrocidades ocorridas em seus países. Esses jovens estão fazendo história, estão querendo melhores condições de vida e trabalho. Seus países ricos em petróleo podem proporcionar isto para eles a partir do momento que instaurarem uma democracia. Sem armas, apenas munidos de celulares, internet, mídias sociais e redes sociais o Irã, o Egito, a Tunísia e outros países do Oriente, fazem sua revolução. Por meio destas ferramentas, conseguiram marcar encontros em praças públicas e protestaram na frente de milhões de pessoas que o assistiam e o apoiavam via internet. Seus gritos, seus apelos foram “Twittados”. Gritam por injustiças e reclamam por votos não computados em eleições presidenciáveis. O mundo até então não tinha visto com tanta intensidade a voz desses jovens reclamando e reivindicando seus direitos. Pela primeira vez o mundo viu o verdadeiro poder das redes sociais e o que ela pode ajudar a fazer. Nem mesmo países tão seculares, fechados e com religiões tão severas resistiram aos apelos destes jovens. O primeiro forte levante foi no Irã. A Revolução Verde foi completamente twittada, apesar de todos os esforços dos clérigos xiitas do Irã e do atual Presidente, Marmoud Ahmadinejad para tirar os jovens da rua. O governo cortou a Internet ou qualquer tipo de acesso com o mundo exterior. Não queriam que o mundo soubesse o que estava acontecendo em Teerã. Ahmadinejad pode não ter saído da presidência fraudulenta como ficou explicitado, os jovens muçulmanos munidos de celulares mostrou ao mundo que podem gritar mais alto do que balas, pauladas e prisões praticadas pelos soldados Barsij, a polícia que vigia e controla os iranianos. Os jovens iranianos deram vozes a outros mostrando a possibilidade de irem às ruas e reivindicar direitos negados pelo governo. Diretos simples que podem chegar com a democracia, a separação do Estado/religião. Mas, como o Oriente Médio está conseguindo suplantar anos de tradicionalismo e adotar novas ferramentas e dar a palavra a jovens que aparentemente “não” seguem as leis islâmicas? Qual o relacionamento existente entre Estados Unidos e Irã? Por que o Oriente tem tanto ódio do Ocidente? Estas e muitas outras questões serão levantadas ao longo desse trabalho. Trataremos de forma breve o nascimento do Islã até os
  • 15. 14 acontecimentos de hoje, acompanhados pela Web 2.0. Apesar de muitos países do Oriente Médio terem participado de recentes levantes clamando por democracia e utilizando ferramentas da Web 2.0, focaremos o presente trabalho no Irã.
  • 16. 15 1.1 UMA BREVE HISTÓRIA DO ISLÃ O Islã é a terceira religião monoteísta, revelada após o cristianismo e judaísmo. Em árabe, Islã significa “Submissão a Deus”. É uma religião que nasceu com data e local definido: na península Árabe, na atual Arábia Saudita, no século VII, no ano de 622. Conta à tradição muçulmana que a palavra de Deus foi transmitida em árabe, pelo arcanjo Gabriel ao profeta Maomé, nascido no ano de 570 d.c., exatamente na cidade de Meca, na Arábia desértica, uma área povoada por judeus e cristãos que viviam instalados nesta região e sobretudo, por beduínos politeístas, povo que venerava mais de 300 ídolos, reunidos na Caaba5. De acordo com os relatos históricos dos muçulmanos, este santuário foi erguido por Adão e destruído durante o Dilúvio. Abraão, considerado o ancestral de todos os árabes, reconstruiu o Santuário com a ajuda de seu filho Ismael, instalando em seu ponto mais sagrado a Pedra Negra. O Islamismo é o legado do profeta Maomé. É uma religião inspirado no cristianismo, no judaísmo. Maomé desafiou os poderosos, unificou os árabes e criou uma civilização fértil, complexa e acima de tudo, bela. Maomé nasceu em um clã que pertencia à tribo Koraishitas, uma das mais poderosas estabelecidas em Meca. Perdeu os pais muito cedo e seu nascimento é envolvido de fatos extraordinários. Já sob a guarda de seu tio paterno e a caminho da Síria em uma caravana, chefiada pelo seu primo Ali, Maomé foi abordado pelo monge Bahirá que o reconheceu de seus sonhos como o homem que portava uma auréola e que era o enviado de Deus, o profeta que anunciaria o Livro Santo, o Alcorão ou Corão6. Quando Maomé se aproximava dos 40 anos, no ano de 611 d.c., o Arcanjo Gabriel apareceu ao profeta ditando uma série de preceitos e ordenando-lhe que retransmitisse as palavras escutadas. Foi a partir daí que se seguiram as pregações com instruções para a crença e a conduta do seguidor da nova religião. O Corão não fala somente de fé, mas também como o muçulmano deve compreender aspectos sociais e políticos. As revelações estão divididas em 114 5 Santuário dos muçulmanos em Meca 6 Livro Sagrado dos muçulmanos que reúne todas as revelações de Deus, pelo Arcanjo Gabriel para o profeta Maomé.
  • 17. 16 suratas (capítulos) com diversos versículos que vão de 3 a 286. Tornou-se um livro de difícil entendimento, pois foi todo escrito em árabe formal. Uma coletânea de diversos discursos do profeta Maomé, conhecido como hadith, formam um complemento para a leitura do Corão: a Sunna. A linguagem mais clara e fluente facilita a compreensão. Mesmo assim, como os registros foram realizados por pessoas diferentes, existem muitas divergências em relação aos ensinamentos do profeta. Muitas interpretações são dadas até hoje, o que dificulta e até mesmo, torna a religião um pouco temida no Ocidente, pois as contradições da hadith provocaram uma expansão dos conceitos do Islã ao incorporar tradições e doutrinas sobre a sociedade e justiça. Estes conceitos são importantes na formação da cultura islâmica, não ficando restrita à religião. Nos islamismo não há mediação entre o homem e o divino, como ocorre no cristianismo com a figura de Jesus Cristo. Com isto, a religião islâmica ganha uma força ainda maior para os muçulmanos, pois a palavra de Deus é direta e o Corão papel central nesta divulgação dos ensinamentos divinos para o Islã. No uso ritual dos muçulmanos, o Corão nunca foi traduzido do árabe. Eles fazem questão que seja recitado na língua original, preservando assim, as palavras de Deus. No início Maomé e um pequeno grupo de seguidores foram perseguidos por grupos rivais deixando a cidade de Meca e rumando a Medina. Esta migração ficou conhecida como Hégira e inaugura o islamismo, marcando assim o início de seu calendário. Esta migração não foi impedimento para que a religião islâmica e a palavra de Maomé fossem abafadas. As revelações de Deus ao profeta conquistaram adeptos em ritmo bem acelerado. “O Islã é uma religião (din), com tudo o que este termo implica (crença, ritual, normas, consolação, etc.), ao mesmo tempo em que é uma comunidade (umma) e um modo de viver ou tradição (sunna) que regulariza todos os aspectos da vida: o indivíduo e as etapas de seu desenvolvimento; a educação; as relações entre homens e
  • 18. 17 mulheres; a vida familiar e comunal; o comércio, a justiça e a filosofia.”7 Para melhor entender a religião islâmica, tudo gira em torno de um sistema jurídico-religioso total: a xaria (Shari’a), que quer dizer, o caminho certo. Tudo baseado em fontes sagradas, nos primórdios do islamismo. O desenvolvimento nunca cessou e o islamismo reage a qualquer circunstância nova que é imposta a religião. Por ser tão complexa foi criada uma classe de prestígio. Legistas-intérpretes especializados em traduzir e entender o Corão, os ulemás (ulama). Não tem papel do clero institucionalizado da Igreja Católica: são apenas intérpretes e mediadores. No islamismo não há separação entre religião e política. Por muito tempo, quando a comunidade de Medina era regida por Maomé, não existia separação entre o Estado e Igreja, facilmente transferida para o Estado-Império Muçulmano. O Islã parece uma religião simples, com muitos dogmas e obrigações e proibições que devem ser sempre cumpridas pelo muçulmano. Os deveres do povo muçulmano se sustentam em cinco pilares. A primeira obrigação é a Shahada (testemunho), quando o muçulmano realiza a sua confissão efetuando assim, a sua conversão à religião islâmica. É o momento em que o crente irá declarar a sua devoção única a Deus, ao todo-poderoso e aceita Maomé como o profeta. Neste momento fica claro para o muçulmano convertido de que há uma invencível distância entre o Criador e a criatura. O islamismo é extremamente severo com crenças em espíritos, santos e imagens e não consegue entender a Trindade. Mas aceitam a existência de anjos e demônios. Para eles Deus é oniciente, onipresente, inato e eterno. A função do homem/mulher religioso (a) é entregar-se e servir a Deus. Nada consegue se relacionar a Deus, inclusive o profeta Maomé, pois até mesmo ele enquanto homem era mortal e devia obediência absoluta. Quando a morte chega para o muçulmano, finalmente chega o dia do 7 Demant, Peter - O Mundo Muçulmano, São Paulo, Editora Contexto,, Introdução, 2004
  • 19. 18 julgamento e é neste momento que Deus aceitará os bons seguidores no paraíso, enquanto os maus serão levados e condenados a viverem no inferno. O muçulmano praticante reza cinco vezes ao dia. Esta obrigação é conhecida como Salat. Os muçulmanos são sempre chamados para a recitação do Corão pelo muezzin, sua voz hoje, é escutada por toda a cidade, via autofalantes e uma gravação substituiu os chamados ao vivo. Quando é feito pessoalmente o muezzin se posiciona no manara, a torre da mesquita principal da cidade. É o momento de veneração a Deus. A submissão é incondicional e as graças alcançadas derivam de Deus e porque ele quis dar ao religioso. A Salat pode ser feita individualmente, porém o preferencial é que seja realizada de forma coletiva. A sexta-feira para o muçulmano representa o domingo dos cristãos, quando todos se reúnem na mesquita para a realização de uma oração comunal. Os homens rezam no salão principal e as mulheres em outras. São proibidos de se misturarem nos momentos de oração. Elas devem sempre entrar com a cabeça coberta e realizar suas orações da mesma forma, apenas os sapatos podem ser retirados e deixados a porta como respeito a mesquita e principalmente a Deus. A terceira obrigação é conhecida como Zakat, que quer dizer esmola. Tem o mesmo significado do Tzadaká judaico e o dízimo do cristão. O muçulmano deve reservar uma parcela de sua renda para os pobres, refeições comunais e outras atividades com relação à assistência social. Este é o momento em que o islâmico demonstra solidariedade formando a ummah, formando a coletividade. O quarto pilar ou a quarta obrigação é o Ramadan. Durante um mês, todos os muçulmanos devem jejuar como forma de purificação e acesso a Deus. A abstinência ocorre durante um mês inteiro, pois é a comemoração que o muçulmano faz pelo recebimento do Alcorão. O jejum vai desde o nascer até o por do sol. É proibido beber incluindo água, comer, ter relações sexuais. Não é somente um momento árduo para o crente islâmico, pois se celebra com alegria e muitas festas familiares que acontecem assim que anoitece e podem ir até o nascer do sol. O quinto e último pilar é o Hajj. Significa que todo muçulmano deve realizar pelo menos uma vez na vida uma peregrinação a Meca e seus Santuários. É a
  • 20. 19 simbologia da crença suprema a Deus. Historiadores relatam que na Idade Média esta peregrinação era difícil e perigosa, mas muitos, até hoje, conseguem fazer esta viagem oriundos de todos os países muçulmanos. Em todas as obras pesquisadas o conceito de jihad foi citado e deve ser explicado. A palavra vem sendo traduzida como “Guerra Santa”, ou ainda no seu sentido mais primitivo, na raiz da palavra: “combate na senda de Deus contra si mesmo a fim de se aperfeiçoar”, mas na verdade, ela quer dizer “esforço em favor a Deus”. A partir do momento que o indivíduo e a comunidade são islâmicos, todos assumem um compromisso com a religião. Ela rege o que todos fazem de acordo com a palavra de Deus, disseminada pelo profeta Maomé. A história revela que a primeira jihad ocorreu por volta de 623 quando Maomé travou batalhas contra os habitantes de Meca por não obter provisões. Com o passar dos séculos, muitos muçulmanos passaram a usar a Jihad para a luta ou militância. Uma “guerra santa contra os infiéis”. Maomé morreu quando a maior parte da Arábia já havia se convertido ao islamismo. O seu tenente ou suplente califa (khalifa) tinha autoridade militar, jurídica e religiosa sobre a comunidade (umma). Até os dias de hoje não há separação entre religião-política. Mas, concluímos que o islamismo é muito mais do que um conjunto de crenças. Conseguimos observar que há semelhanças na maneira de viver entra as mais distantes sociedades muçulmanas. A maioria ocidental e grande parte dos muçulmanos costuma ver o islamismo como uma religião imutável através dos tempos e completamente estagnada. Para que possamos entender melhor o que aconteceu com o islã, os historiadores dividiram esquematicamente em quatro fases o desenvolvimento do islamismo. A primeira fase acontece nos séculos VII a XI, quando os árabes expandiram o Islã pelo Oriente Médio e África do Norte. Um período em que se estabelece o mais extenso Estado do mundo e onde se desenvolveu uma das civilizações mais avançadas e originais. Considerada pelos estudiosos como a fase clássica do islamismo.
  • 21. 20 A segunda fase acontece ainda no século XI ao XIV, quando o Islã sofre ações desfavoráveis no Oriente Médio, mas consegue realizar sua expansão na Ásia Central e Índia. Esta fase é a Idade Média Muçulmana. A terceira fase se concentra no século XV ao XVIII quando o Islã vê a renovação do dinamismo acontecer devido a uma série de eficientes muçulmanos. Fase conhecida como o “Império da Pólvora”, denominado desta forma por possuir supremacia na fabricação e utilização de canhões. Era a época do Império Otomano no Oriente Médio, o safávida no Irã, os grão-mughals na Índia, entre muitos outros. A quarta fase acontece pelo século XIX e a primeira metade do século XX quando o mundo muçulmano cai nas mãos das potências europeias. Marcada principalmente por tentativas de descolonização e por momentos em que ocorre um confronto do Islã com as modernidades ocidentais. Uma época que perdura até o momento onde o Ocidente cobra do Oriente uma reavaliação do islamismo, do mundo muçulmano e de um novo equilíbrio para que se possa haver uma melhor convivência mundial. Vale citar que os muçulmanos são divididos em três grupos desde os ocorridos nos 37 anos da hégira8, de acordo com o calendário maometano. São os xiitas (o segundo maior grupo dentro da religião, concentrando 10% dos muçulmanos), os kharijitas (do árabe kharaja, “sair”, nome atribuído ao primeiro cisma do Islã, ocorrido aproximadamente no ano de 657 da era cristã), formando apenas 1% e por fim, os sunitas, formando quase 90% da população muçulmana. Grande parte dos sunitas acredita que o nome refere-se à Suna. Dois caminhos foram estabelecidos pelos muçulmanos para explicar a razão da palavra sunita. O primeiro está baseado nos preceitos estabelecidos na primeira fase do islã no século XVIII a partir dos ensinamentos do profeta Maomé e de quatro califas ortodoxos próximos a ele. A segunda explicação seria de que a palavra sunita significa “caminho moderado”, defendendo a tese de que o sunismo faz parte de um grupo que trabalha a moderação, o diálogo e sempre voltado para posições bem mais 8 Do árabe hijra, “emigração”, quando acontece a partida de Maomé de Meca para Medina, em 622, e corresponde ao ano inicial do calendário muçulmano, calculado de acordo com o segundo ciclo lunar.
  • 22. 21 neutras do que as tomadas pelos xiitas e kharidijas, considerados extremamente radicais e fundamentalistas. O Corão/Alcorão apresenta uma complexidade de interpretação religiosa- política que ultrapassou os séculos e o Islã inclui em seus versículos muito mais do que crenças. Existem muitas semelhanças na maneira de viver e nas sociedades dos muçulmanos mesmo elas estando em diferentes partes do mundo. Quando Maomé morreu, aos 63 anos de idade, a maior parte da Arábia já era muçulmana. Um século depois, o islamismo era praticado da Espanha até a China. Na virada do segundo milênio, a religião tornou-se a mais praticada do mundo, com 1,3 bilhão de adeptos, um quinto da população mundial, aproximadamente 20% da humanidade. A religião se concentra em grande parte na África Ocidental seguindo até Indonésia, passa pelo Oriente Média e Índia. Na maioria destes países, os muçulmanos fazem parte da maioria da população local. Foram muitas mudanças através dos séculos, muitas batalhas, muitas distorções ocorridas a respeito da religião islâmica. Podemos dizer que a história nos revelou que o Islã é uma religião, uma lei, uma moral, um estilo de vida, uma cultura para seus fiéis seguidores. As pesquisas nos revelaram que o Islã sempre acabou por se considerar o dono da verdade absoluta, nem que o fiel tenha que disseminá-la usando a palavra ou a espada. Maomé é visto até hoje pelos seus seguidores como um líder perfeito a ser atingido. Nos séculos XVII e XVIII a expansão do islamismo foi feito através de batalhas, eram as conquistas em nome da fé. Foi um período de expansão militar que acabou por se estabilizar, firmando-se por um crescimento gradual, descrito como na maior parte de forma pacífica, feito através do boca a boca. É inegável que o islamismo é portador de uma vasta cultura disseminada através dos séculos.
  • 23. 22 1.2 O CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES Não há duvidas que o mundo hoje, no século XXI está dividido entre Nós e Eles. O Nós são os Ocidentais e o Eles sã os Orientais. A história mundial sempre foi marcada por uma série de divisões e destacamos como as mais recentes a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial que deixou marcas profundas na civilização. Não que depois destas grandes guerras, ainda durante o século XX e início do século XXI os olhos humanos não tenham registrados conflitos, guerras, revoltas. O homem é capaz de cometer atos bárbaros. Este é um fato triste de se constatar. Genocídios foram cometidos depois do Holocausto, que ocorreu durante a Segunda Grande Guerra, que também foi capaz de jogar duas bombas atômicas contra o Japão. Ruanda, Kosovo, são alguns dos exemplos de genocídios ocorridos no final do século XX, assim como as milhares de mortes, ocorridos devido a invasão da União Soviética ao Afeganistão; Guerra do Golfo, Irã X Iraque e os recentes conflitos internos e externos em muitos países espalhados por esta imensidão terrestre. . a Guerra Fria. Eram os Estados Unidos contra a União Soviética, quer dizer, Ocidente contra os Comunistas. O mundo sempre esteve em grande alerta e fortes ameaças. Após a Segunda Guerra, esta vigília aumentou devido a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética. O medo de um ataque nuclear de ambos os lados mexeu com os nervos e a imaginação até mesmo dos mais céticos. Durante 45 anos a famosa Cortina de Ferro foi a maior linha divisória que marcou a Europa. Ela com o tempo foi se movendo para o leste e acentuando e mantendo de um lado a separação da Cristandade Ocidental e do outro lado os povos muçulmanos e ortodoxos do outro. A Guerra Fria acabou e os comunistas “desapareceram”, acordos foram assinados, mas o medo de um ataque nuclear ainda persiste agora vindo de outros lugares que insistem em enriquecer urânio quando esta tarefa na mão de países e ditadores pode-se tornar uma arma fatal para a paz mundial. Nos dias de hoje, principalmente após o 11 de setembro de 2001, o mundo se dividiu entre o Ocidente e Oriente. Desta vez, esta divisão absurda, carregada de
  • 24. 23 intolerância cultural e religiosa vem reforçada com armamentos bélicos bem mais poderosos. Os dois lados parecem estar separados por uma linha invisível. Não há possibilidade alguma de ultrapassagem. Onze anos após os atentados terroristas aos Estados Unidos, um menor passo em falso pode ser motivo para conflitos, invasões territoriais, perseguições, prisões, bombardeios e destruições de cidades e populações principalmente no Oriente Médio. Uma intolerância muitas vezes repetida no curso da história como podemos observar no histórico da formação do Oriente Médio, América, Ásia, África e Europa. Não somente os muçulmanos sofreram: judeus, cristãos, budistas, africanos, árabes, aborígenes, vietnamitas, mongóis, chineses, japoneses, mexicanos, etc.. O curso da política mundial acabou por realizar estas transformações e muitas divisões econômicas, sociais, políticas, religiosas. Mas, no século XXI o mundo consegue sentir com mais evidência a divisão existente entre o Oriente e o Ocidente. “Pela primeira vez na História, a política mundial é, ao mesmo tempo, multipolar e multicivilizacional. A modernização econômica e social não está produzindo nem uma civilização universal de qualquer modo significativo, nem a ocidentalização das sociedades, não- ocidentais.”9 Mas o que realmente define civilização? Muitos estudiosos definem civilização no singular outros no plural como relatado no livro de Samuel P. Huntington, O “Choque das Civilizações”. Segundo o autor, a definição surgiu por meio dos pensadores franceses, no século XVIII, Este conceito apareceu em oposição ao “barbarismo”. Um modo de criar uma linha divisória entre a sociedade privada e a primitiva, entre a urbana e alfabetizada. No século XIX, este conceito foi utilizado fornecendo para a sociedade as diferenças sociais. A sociedade europeia se empenhou por muito tempo a desenvolver e elaborar critérios que envolviam o intelecto, a diplomacia e a política para realizar a clara separação com os não- europeus. Este foi um modo encontrado para que os europeus pudessem julgar os 9 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora Objetiva, pág. 19
  • 25. 24 não-europeus e assim, eles serem aceitos como membros de um sistema totalmente controlado pelos civilizados. Esta forma de julgamento de civilizado e não civilizado, europeu e não europeu acabou por fazer com que as pessoas falassem mais em civilizações, utilizando o a palavra no plural. “Isto significa “renunciar à civilização definida como um ideal, ou melhor, como o ideal”, e um afastamento da pressuposição de que havia um único padrão para o que era civilizado, “confinado a umas poucas pessoas ou grupos privilegiados, a “elite” da humanidade”. (...) Em suma, a civilização no singular, “perdeu um pouco do seu encanto”, e uma civilização no sentido plural podia na realidade ser bastante não civilizada no sentido singular”.10 A civilização e a cultura acabam se referindo ao estilo de vida de um povo. As duas compõem os valores, as normas, as instituições, as gerações e seu modo de pensar. Podemos dizer que civilização é uma coletânea composta de características e fenômenos culturais. Uma civilização nunca terá um começo e nem um fim. Desde a Pré-história que civilização forma um agrupamento de pessoas e sua forma cultural. Foi esta forma de agrupamento que começou a diversificação e distinguir os seres humanos dos demais seres vivos existentes. Depois surgiram outros elementos de separação como a religião, a história, a língua, os costumes, os valores, etc.. Passou também a não ter começos e fins. Os povos existentes costumam redefinir suas identidades, acabam mudando com o tempo as suas definições e formas. As culturas existentes interagem e se superpõem. Muitos estudos mostram que o equilíbrio de poder entra as muitas civilizações está se modificando. Com a recente derrubada das Bolsas conseguimos perceber que poucos foram os países que ficaram ilesos ao recente desequilíbrio da economia mundial. O Ocidente sofreu muito com este desequilíbrio, principalmente os Estados Unidos. As civilizações asiáticas expandiram e continuam expandindo o seu poderio 10 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora Objetiva, pág. 45
  • 26. 25 econômico, militar e político. O Islã aproveitou esta oportunidade para uma explosão demográfica o que acabou causando uma desestabilização para os países islâmicos e seus vizinhos, encontrando um modo e se reafirmar, não somente para os não ocidentais, o valor de sua cultura. A religiosidade na maior parte do mundo demarca a diferença entre as sociedades e principalmente a civilização. Estas diferenças em desenvolvimento político e econômico mostram com nitidez as desigualdades culturais. O Choque entre Oriente e Ocidente fica cada vez mais acentuado quando observamos que as sociedades que compartilham afinidades culturais acabam se relacionando e cooperando uma com as outras. Neste contexto, conseguimos observar que o Ocidente mostra pretensões universalistas cada vez maiores como explica Samuel P. Huntigton: “As pretensões universalistas do Ocidente o levam cada vez mais para o conflito com outras civilizações, de forma mais grave com o Islã e a China. Enquanto isso, em nível local, guerras de linha de fratura, basicamente entre muçulmanos e não muçulmanos geram “o agrupamento de países afins”, a ameaça de uma escala ampla e, por conseguinte, os esforços dos Estados-núcleos para deter estas guerras. ”11 Sabemos que para deter estas guerras globais e com equipamentos bélicos cada vez mais sofisticados depende exclusivamente dos líderes mundiais. É dever destes líderes aceitar a natureza multicivilizacional que o mundo acabou formando. Uma cooperação é imprescindível para manter a ordem e uma abertura de diálogo de ambos os lados. Após a Guerra Fria as distinções deixaram de ser ideológicas, políticas ou econômicas. Elas hoje são definidas pela cultura e a cada ano que avança esta 11 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora Objetiva, pág. 19
  • 27. 26 distinção segue o rumo para a religiosidade. O agrupamento está voltando ao passado quando a sociedade se dividia em religião, idioma, história, valores, costumes e instituições. “À medida que aumenta seu poder e autoconfiança, as sociedades não ocidentais cada vez mais afirmam seus próprios valores culturais e repudiam aqueles que lhes foram impostos pelo Ocidente. Henry Kissinger observou que “o sistema internacional do século XXI (...) conterá pelo menos seis potências principais – os Estados Unidos, a Europa, a China, o Japão, a Rússia e, provavelmente a Índia – bem como a multiplicidade de países de tamanho médio e menor”. 12 Os países referidos por Kissinger fazem parte das cinco maiores civilizações mundiais e são diferentes entre si. Mas, ele nos alerta para um detalhe altamente importante: alguns países islâmicos estão localizados geograficamente e estrategicamente em cima das maiores reservas petrolíferos mundiais, como é o caso do Irã e da Arábia Saudita. Estes países não podem e não devem ser deixados de fora. São importantes para a economia mundial. Kissinger chama a atenção para que as potências ocidentais “carimbem o passaporte” desses fortes Estados de influência em assuntos mundiais. Eles devem ser ouvidos, as rivalidades e diferenças devem ser esquecidas. No momento o diálogo ainda não acontece. São raros os encontros para apertos de mãos entre Ocidentais e Orientais – no caso específico, países islâmicos. Infelizmente sabemos que este conselho não está sendo seguido. No mundo do século XXI o que importa é a política local, que forma a política da etnia e, a política mundial é a política das civilizações. Este tipo de atitude cria um vácuo, uma ruptura entre os povos e faz surgir uma forte rivalidade entre as nações. A rivalidade das superpotências é substituída pelo Choque das Civilizações. Dois mundos, uma tendência que se repete por meio da história mundial. Muitos escritores, jornalistas, antropólogos, sociólogos dizem em seus estudos que 12 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora Objetiva, pág. 21
  • 28. 27 sempre existirá uma expectativa de um mundo único ao final de grandes conflitos, mas o curso da história nos mostram fatos inversos. Sempre aparece o Nós e Eles, a civilização e os bárbaros, a civilização ocidental e os religiosos fanáticos/fundamentalistas. Cada vez mais os estudos são voltados para análises divisórias: Oriente x Ocidente. Mais saibam: “Os muçulmanos tradicionalmente dividem o mundo em Dar Al-Islam e Dar Al-Harb, o reino da paz e o reino da guerra. Essa distinção se refletiu –e, num certo sentido, se inverteu – ao fim da Guerra Fria por estudiosos norte- americanos que dividiram o mundo em “zonas de paz” e “zonas de agitação”.13 Todos os livros e reportagens pesquisadas reconhecem que há a existência de uma civilização islâmica distinta. Ela se originou na Península Arábica, por volta do século VII d.c., espalhando rapidamente pelo norte da África e Península Ibérica, bem como na direção do leste da Ásia Central, tanto pelo subcontinente como pelo Sudeste Asiático. Isto acabou por formar dentro do Islã muitas culturas distintas, pois passou por diversas civilizações como a árabe, turca, persa e malaia. Com o passar do tempo e da história era natural o Ocidente ter uma visão deturpada do Islã, achando que os muçulmanos são violentos. Esta percepção errônea do islamismo vem de muitos séculos e a história atribui este erro à rápida expansão que o Império Islâmico experimentou nos seus primeiros cem anos. “Para cristãos e judeus conquistados, e para nações europeias, muitas delas ainda em formação, não há dúvida de que o Islã era uma religião que se expandiam pela espada. Afinal, para que os conquistados permanecessem vivos só havia duas opções: ou a conversão ou o pagamento de um tributo extra (...). Para quem vivia uma situação assim (morte ou conversão ou tributo), não havia 13 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora Objetiva, pág. 33
  • 29. 28 outra conclusão senão a de que o Islã, Estado e Religião expandiam-se pela força.” 14 Esta expansão realizada pela força não é reconhecida pelos muçulmanos. A expansão pela espada era feita pelo califado, pelo Império islâmico. O Ocidente tinha que entender que a religião proíbe conversões forçadas. Muitos ficam se perguntando se haverá algum dia o respeito mútuo entre o Ocidente e Oriente. No momento a resposta é inconclusiva. Com a morte do maior terrorista de todos os tempos, Osama Bin Laden, em 1º maio de 2011, o mundo ficou em alerta máximo. A civilização muçulmana, completamente dividida entre os ideais do terrorista e a palavra divina do Corão, avisou que represálias podem acontecer. De uma minoria, mas que poderá fazer bons estragos na civilização Ocidental. Por muitos anos, o Ocidente e o Islã realizaram intercâmbios nas ciências, medicina, na matemática, na astrologia na filosofia, nas artes e principalmente na ética da guerra. Sim, este tempo existiu. Uma convivência pacífica entre ambos os lados. Historicamente a civilização ocidental é a europeia, mas na era moderna a civilização é a euro-americano ou do Atlântico Norte. É uma definição utilizada por muitos escritores. O Japão está incluído nesta definição, apesar de ser uma civilização bem mais antiga do que a norte-americana e fora do continente ocidental. Sua recuperação pós-Segunda Guerra Mundial foi uma das razões desta superpotência entrar no hall das civilizações ocidentais. “Durante a expansão europeia, as civilizações andina e mesoamericana, foram eliminadas, as civilizações indianas e islâmicas, juntamente com a África foram subjugadas, e a China foi invadida e subordinada à influência Ocidental. Somente as civilizações russa, japonesa e etíope, todas três governadas por autoridades imperiais, altamente centralizadas, foram capazes de resistir ao ataque do 14 Kamel, Ali, “Sobre o Islã”, 2007, Editora Nova Fronteira, pág.124,
  • 30. 29 Ocidente e manter uma autêntica existência independente. Durante 400 anos, as relações intercivilizacionais consistiram na subordinação de outras sociedades à civilização ocidental.”15 O choque prevalece, com culturas, religiões, políticas, economias e ideologias diferentes. A prepotência do Ocidente de achar que tudo gira ao seu redor piora substancialmente este problema. Os ocidentais acham que o Oriente está estagnado e de que o progresso é inevitável. Recusam-se a esta implantação. Não é preconceito ou ilusão de que este choque é existente. Os termos Cruzada, Guerra ao Terror, Eixo do Mal, criaram uma absurda intolerância em civilizações milenares que não sabemos se, algum dia irão conseguir recuperar a sua ideologia, dignidade, diretos e democracia. Este choque faz com que todos busquem uma perspectiva mais ampla com o objetivo de compreender os grandes conflitos culturais em que o mundo está passando pós o 11 de setembro. Há uma multiplicidade de civilizações que devem ser consideradas e observadas. Elas não devem ser perdidas nas áreas do deserto como muitos antropólogos, filósofos e sociólogos apregoam em seus livros e entrevistas. No século XXI o islamismo, o cristianismo e o judaísmo são as três maiores religiões da civilização. Partilham do mesmo ancestral, o profeta Abraão, um dos filhos de Noé que sobreviveu ao dilúvio. Mas, os filhos de Abraão, com todas estas afinidades, continuam se estranhando a ponto de termos muitas separações, muita xenofobia e muitos loucos como Bin Laden fazendo do terror a sua religião, do extremismo uma crença, atraindo milhares de seguidores dispostos a matar em nome de Deus. Caso não houvesse tantos obstáculos agravados pelo 11 de setembro, as três maiores religiões poderiam conviver em harmonia, sem precisar entender os textos sagrados ao pé da letra. Entendê-las desta forma é uma loucura que acaba exacerbando o que há de pior no indivíduo, em vez de mostrar o que há de melhor. O islamismo teve um período muito rico e seu maior crescimento foi em um 15 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora Objetiva, pág. 58
  • 31. 30 tempo em que os religiosos islâmicos não tinham total poder sobre a vida e o dia a dia de suas comunidades e viam o Corão como um livro criado pelo homem. Por este motivo, poderia haver diversas interpretações e não seguido cegamente. Este tipo de pensamento não era visto como heresia e sim como a melhor forma de se ver um livro considerado sagrado pelos muçulmanos. Foram momentos em que o Oriente Médio viveu a liberdade. Esta fase só voltou a acontecer no final do século XIX e início do século XX quando o Oriente Médio viveu uma nova onda de criação artística. O cinema, a música, a literatura e, toda a cultura islâmica foi reverenciada pelo mundo. Na década de 30, no centro dos Estados Unidos, os americanos veem a sua primeira nação islâmica nascer, por meio de Wallace Fard Muhammad, que se dizia a reencanação de Alá. Era considerado por muitos como o “Salvador da Raça Negra”. Este líder ficou mundialmente famoso como Malcom X. Em meio a segregação racial americana, este líder criou o islamismo americanizado. O que já era confuso acabou piorando. Malcom X, de ex-fumante, de ex-bebedor e ex-cristão foi assassinado por pistoleiros da Nação do Islã. Hoje a população muçulmana é bem mais jovem e tem mais filhos do que a média mundial. Deve crescer 35% nos próximos 20 anos, podendo chegar a 2,2 bilhões de pessoas. Em países de maioria islâmica a taxa de fecundidade é de 2,9 filhos por mulher, quase o dobro do índice das nações ocidentais desenvolvidas. Em algumas regiões islâmicas, como nos territórios palestinos e no Iêmen, os jovens formam três quartos da população. Cerca de seis em cada 10 habitantes do Oriente Médio têm menos de 30 anos. Na Europa, a média é de quatro em cada dez. Isto significa que a população da muçulmana é bem mais jovem do que a europeia. A população urbana nos países islâmicos cresce 3,1% ao ano, enquanto no restante do mundo o índice é de 1,8%. * 16 E os números não param por aí. No continente americano 0,5% são muçulmanos. Na Europa 5%, na África Subsaariana o índice é de 30%, na Ásia 24% 16 Fonseca, Ana Cláudia; Teixeira Duda e Carvalho, Julia, Revista Veja, Edição 2216, ano 44, nº19, 11 de maio de 2011, Editora Abril, pág 102
  • 32. 31 e no Oriente Médio e Norte da África 91%. “No mundo moderno, a religião é uma força central, talvez a força central, que motiva e mobiliza as pessoas. É pura arrogância pensar que, porque o comunismo soviético desmoronou, o Ocidente ganhou o mundo para sempre e que os muçulmanos, os chineses, os indianos e outros vão se precipitar para abraçar o liberalismo ocidental como a única alternativa. A divisão da Humanidade em termos de Guerra Fria acabou há muito tempo. As divisões mais fundamentais da Humanidade em termos de etnia, religiões e civilizações permanecem e geram novos conflitos” 17 Concluímos que é preciso conhecer o islamismo em profundidade para entender melhor a religião e a cultura. A Religião nestes países não é separada do Estado. Para os líderes mundiais e para nós, ocidentais, esta questão é de difícil compreensão. A abertura de diálogo é fundamental. Sem a conversa entre estes governantes dificilmente haverá uma possível conciliação entre Ocidente e Oriente. Muitos podem discordar e achar que esta separação é inexistente, mas basta estudar, acompanhar os fatos históricos e os passos da política mundial para perceber que ela divide o mundo em duas civilizações. O preconceito é latente, mas o elo perdido deve ser recuperado. A Cruzada, a Guerra ao Terror já levou muitas vidas inocentes. Este jogo político deve exterminar definitivamente o termo Eixo do Mal. Tanto o Ocidente quanto o Oriente podem voltar a conviver harmoniosamente sem nenhum Choque de Civilizações. 17 Huntington, Samuel P. , O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, 1996, Editora Objetiva, pág. 79
  • 33. 32 1.3. A DIFICULDADE DO ISLAMISMO A MODERNIZAÇÃO Foram muitos os motivos que fizeram o Ocidente a assumir a liderança de todo o processo de modernização mundial, tanto da sociedade ocidental quanto das não ocidentais. Os estudiosos apontam diversos fatores para tanta rejeição a modernidade e a globalização. Existem milhares de “Islãs”, - fundamentalistas xiitas ou sunitas, wahhabitas,- muitas variações de valores compatíveis com a modernidade. O cerne de todo o problema está na profunda rejeição que o mundo muçulmano tem com relação ao Ocidente. A estrutura Ocidental de conhecimento, baseada em poder, acabou por criar uma imagem artificial, longe do que realmente parece verdade e hostil ao islamismo. Esta imagem vem fomentada de um projeto de dominação que aparece após as independências formais dos Estados muçulmanos. O próprio Islã acabou por criar o problema. A história apresenta muitas intervenções ocidentais, muitas oportunidades e desvantagens. Grandes autores como Bernard Lewis, Daniel Pipes e Martin Kramer, apontam em seus livros que os muçulmanos não souberam aproveitar estas oportunidades. Com isso, o mundo muçulmano parece permanecer preso em um círculo vicioso de rancor, autopiedade e ódio, regada de teorias conspiratórias e cheia de atentados terroristas em nome de Deus. Os orientalistas, como são chamados os que acreditam nesta teoria, acham que o Islã é algo irredutível, que sua época de glória foi na Idade Média e que nunca mais conseguiu se renovar e muito menos, incorporar soluções modernas para que a sociedade muçulmana pudesse progredir. Com tudo isto os muçulmanos tem pagado um alto preço, pois as consequências vêm por meio de muitos reveses históricos. Os orientalistas dizem que os muçulmanos vivem presos em uma estrutura de pensamento que insiste na superioridade dos próprios valores. Além disso, é incapaz de explicar as repetidas derrotas do Islã. Culpam então, o mundo exterior, o Ocidente, por todas as infelicidades e mazelas.
  • 34. 33 Para que haja uma modernização no mundo muçulmano é necessário então, uma reforma islâmica. Somente desta forma, os orientalistas apontam que poderia ser possível os Estados Muçulmanos alcançar a tão sonhada democratização e modernização clamada hoje nas marchas realizadas pelos jovens. Mas isto possivelmente não irá acontecer, por mais que haja conflitos armados e não armados. A situação tende então a piorar a cada conflito, que atraia mais e mais jovens, pois fica evidenciado uma pseudo-solução para o islamismo. Além dos orientalistas há um grupo conhecido como externalistas que sustentam em seus estudos que, as responsabilidades da não modernização das sociedades muçulmanas devem ser minimizadas. Sustentam que tanto a desunião quanto a existência de estruturas autoritárias é resultado de intromissões ocidentais. As causas reais são indefinidas e são sustentadas por séculos de erros cometidos tanto pelo mundo Ocidental e Oriental. Sendo ou não causas internas e externas o grande problema é que o Oriente Médio ainda passa por muitas dificuldades e a região é considerada um barril de pólvora pronta para explodir tanto em pequenos quanto grandes conflitos. O que acontece naquela região são informações desencontradas fruto de erros de ambos os lados. No meio há um ódio crescente que separa estas civilizações que poderiam conviver e desfrutar de muito mais avanços do que poderiam ter. Há tanta turbulência no mundo muçulmano, montada em uma estrutura global e desequilibrada firmada em poder e riqueza, que o Ocidente se julga no direito de intervir militar e economicamente. Veremos mais adiante muitos e muitos fatores. A lista é longa, fundamentalismo, terrorismo, petróleo. Diariamente jornais, revistas, internet divulgam matérias que tentam convencer que o mundo muçulmano é o pior buraco negro do mundo, esquecendo-se de sua riqueza histórica e de seu povo que luta por melhores condições de vida e trabalho. As novas gerações muçulmanas estão tentando mostrar que este buraco negro não é realmente o que parece ser. Temos certeza sim de que o mundo muçulmano vive uma crise generalizada, regada ou não por justiça e que está afetando o restante do mundo. Por este motivo, que muitas vezes, o Ocidente reage à necessidade de intervir para que a crise não
  • 35. 34 mergulhe o mundo em problemas mais graves. O diálogo é necessário, mas muitas vezes o Ocidente partiu primeiramente para a força sem ao menos saber qual realmente era o problema. A postura Ocidental em relação ao mundo muçulmano muitas vezes é de não praticar o diálogo, apesar de que tentar o diálogo com ditadores e fundamentalistas religiosos ser uma perda de tempo para ambos os lados. A modernização envolve muitos fatores como industrialização, urbanização, crescimento dos níveis de alfabetização, educação entre muitos outros. A modernização é produto do crescimento do processo científico e isto começou a ocorrer no século XVIII. Este conhecimento foi primordial para que as sociedades pudessem se desenvolver e moldar os seus próprios processos. Além disso, com o passar do tempo, estes processos foram se aperfeiçoando e ajudando as sociedades que antes eram primitivas e viviam em processos primitivos a tornarem-se modernas. Mas os valores, educação, conhecimento, cultura diferem de sociedade para sociedade. Mesmo assim, à medida que outras sociedades adquirem processos semelhantes à cultura ocidental acabou por se transformar em cultura universal do mundo. Este é um dos pontos fortemente rejeitados pelos líderes políticos, intelectuais e religiosos do Oriente. Esta rejeição foi gradativa e com a chegada do século XX, com surgimento dos avanços tecnológicos, culturais, de comunicação, transportes e agora, com o advento da globalização, é quase impossível manter a modernização longe da civilização. A interdependência global acabou por gerar altos custos para as sociedades que prefere esta exclusão. O mundo é predominantemente moderno e a globalização e os avanços tecnológicos do final do século XX e início do século XXI aumentaram a interligação. No Oriente Médio e principalmente nas sociedades islâmico-muçulmanas, os fundamentalistas são os que mais rejeitam a modernidade. Os religiosos fundamentalistas veem na modernização e ocidentalização o abandono às tradições islâmicas. O escritor Bernard Lewis, faz diversas perguntas em seu livro “O que Deu Errado no Oriente Médio”, da Editora Zahar, de 2002, pois não podemos enxergar a causa das mudanças na relação Oriente e Ocidente devido a um declínio do Oriente Médio, mas sim a um surto Ocidental. Na visão do grande autor, o Ocidente
  • 36. 35 aumentou sua riqueza e seu poder por causa de suas descobertas, movimento científico, revoluções industriais, tecnológicas, econômicas e políticas. Muitos estudiosos se perguntam por que os avanços científicos ocorreram na Europa e não nos domínios ricos e avançados e esclarecidos do islamismo? É um jogo de acusações que não tem limites e são encontrados não fora, mas dentro da sociedade. Um dos maiores alvos é a religião e especificamente o Islã. Mas devemos lembrar que, na Idade Média os maiores progressos ocorreram não no Ocidente que formava a cultura mais nova, e não estava também nas culturas mais antigas do Oriente, e sim, no seio do mundo islâmico que estava bem no meio delas. Apesar de tudo isto, infelizmente hoje, observamos em alguns países islâmicos vivendo ainda em um mundo medieval, em um grau limitado de liberdade quando comparados com os ideais modernos e com práticas modernas nas democracias mais avançadas. Muitas são as perguntas e muitas são as respostas que encontramos para a rejeição do islamismo ao mundo moderno, a globalização, a ocidentalização. E, não há razão para esta total rejeição, uma vez que o Islã foi pioneiro à ciência, ao desenvolvimento econômico, à liberdade. Os muçulmanos costumam culpar este “atraso” aos fundamentalistas e o fundamentalismo muçulmano nada mais é do que uma reação contra a modernidade. “(...) os fracassos e deficiências dos países islâmicos modernos se devem ao fato de que adotaram noções e práticas estrangeiras. Abandonaram o Islã autêntico (...). O Clero Islâmico são responsáveis pela persistência de crenças e práticas que podem ter sido criativas e progressistas mil anos atrás, mas hoje não são uma coisa e nem outra.” 18 A religião na forma fundamentalista está intimamente ligada com a situação de pobreza. Notamos isto em países como o Afeganistão e o Paquistão, onde o regime Talibã tem fortes raízes desde a expulsão dos russos das terras afegãs. O fundamentalismo afasta estes povos da riqueza lembrando que deve ser descartada para dedicação a Deus, sem a dependência de bens materiais. O fundamentalismo 18 Lewis, Bernard, O que deu errado no Oriente Médio?, 2002, Editora Zahar, pág, 180 e 181.
  • 37. 36 resgata valores pré-capitalistas e não-materiais que se adéquam perfeitamente a situação de pobreza que a maioria se encontra. Neste ponto reside a honra, obediência, solidariedade e ajuda mútua. Além disso, o mundo muçulmano e o islamismo não separa o Estado da Religião. Ambos fazem parte de um único pilar, presidindo aí a teocracia. O fundamentalismo prega o afastamento das tentações ocidentais, uma clara defesa ideológica. Tudo que vem do Ocidente é permissivo como o sexo, às drogas, ao álcool e o consumismo. Mobiliza a ira que vem se alimentando por anos pela desigualdade, escancara a ausência de oportunidades e as humilhações oriundas de anos e anos. Estas emoções acabam sendo canalizadas para a luta contra o Ocidente e confirmadas pela religião. Esta ira se aproveita e se alimenta do antiocidentalismo. O islamismo é uma religião com forte mensagem social e política. Passa aos seus seguidores autoconfiança e tem uma forte história de resistência que se perdura até os dias de hoje, principalmente contra imposições estrangeiras. Não é surpresa que a região, por não aceitar a modernização, a globalização, a consumismos ocidentais, passa por fortes crises demográficas, socioeconômicas e ideológicas que acaba colocando o Oriente Médio em uma situação geopolítica de inferioridade em relação ao Ocidente. São derrotas sucessivas por causa de milhares de propostas emancipatórias. Existe uma união entre a ideologia oposicionista que realiza a politização da religião islâmica, grupos sociais alienados e fanáticos que encontram nisto tudo, um novo sentido e uma nova ordenação. “O fundamentalismo muçulmano se explica pela coincidência de determinados fatores quase inevitáveis, seu desdobramento e o desfecho eventual de sua luta contra o Ocidente estão ainda em aberto. (...) As escolhas a serem feitas nestes tempos de encontro com o islamismo
  • 38. 37 influenciarão o curso da humanidade nas décadas futuras”.19 Estudiosos também apontam a descriminação sexual muçulmano e a desprezo as mulheres colocando-as em uma posição inferior na sociedade. O mundo islâmico concentrou todas as suas energias em educar a outra metade, enquanto mulheres e mães continuavam analfabetas e tiranizadas. Este tipo de educação tende criar uma sociedade arrogante ou submissa, completamente incapaz de ser livre e aberta. A submissão, tirania e o desrespeito aos direitos humanos nos países árabes é outro ponto de forte discussão nos países Ocidentais. Existe uma união entre a baixa produtividade e alta taxa de natalidade no Oriente Médio. Esta união acaba produzindo uma população que cresce com bastante rapidez, lotada de homens jovens desempregados, sem instrução e frustrados. Indicadores das Nações Unidas e de muitas outras autoridades apontam os países muçulmanos com graves problemas também em educação e tecnologia e estão ficando cada vez mais atrasados com relação ao Ocidente. Todos estes fatores estão associados à modernização e a globalização, e estão afetando profundamente a maioria dos países do mundo muçulmano. No século XXI países muçulmanos vivem abaixo da linha da pobreza, com graves problemas econômicos, apesar da riqueza petrolífera. Países regidos por regimes teocráticos e outros por democracias disfarçadas por governos comandados por ditadores que servem propósitos aos países ocidentais que estão apenas interessados nas riquezas escondidas nas profundezas de suas terras. Riquezas estas que o ocidente enfrenta escassez e que foi a estrela principal do crescimento econômico mundial: o petróleo, a commodity mais comercializada do mundo. Cerca de 68% das reservas mundiais conhecidas ficam no Oriente Médio, quase todas localizadas na região do Golfo Pérsico. O controle, o acesso e influência em relação ao petróleo do Oriente Médio são fundamentais para a política mundial. Muitos conflitos e guerras tiveram origem por causa desta disputa, mesmo que não tenha ficado explicitado o motivo. 19 Demant, Peter , O Mundo Muçulmano, Editora Contexto, 2004, pág. 330.
  • 39. 38 Mesmo com a falta de modernização na maioria de seus países, o Oriente Médio sempre está no centro do cenário internacional e após o 11 de setembro esta visibilidade ficou ampliada. Isto também faz com que as potências mundiais atuem com força aliando-se a governantes tiranos e inescrupulosos. Moderno ou não, globalizado ou não, enquanto o petróleo for importante para as grandes potências e para a economia mundial, haverá o interesse nos países muçulmanos. As questões de penetração e alienação cultural estão completamente vivas em muitas regiões do mundo muçulmano, onde é o único em que a cultura religiosa tem se transformado em ideologia fundamentalista não somente de forma defensiva, mas que inclui em todo este pacote uma reivindicação pela primazia mundial contra o Ocidente. Uma nova e perigosa ordem global, espalhada por fundamentalistas religiosos e apoiado por terroristas, baseadas em uma suposta superioridade do Islã. Na maioria dos países muçulmanos há a violação dos Diretos Humanos. Embora tudo isto ocorra, o fundamentalismo acontece de formas variadas e em graus de violência diferenciados. Foi a forma alternativa encontrada pelo islamismo para atacar de forma assertiva a supremacia Ocidental. O fracasso da modernidade nos países islâmicos é amplamente discutido pelas autoridades como também pelos povos islâmicos. A população muçulmana está cada vez mais consciente do que está acontecendo em seus países e sabe das grandes diferenças existentes entre viver em um mundo livre, moderno e globalizado. Sabem o que existe, o que se passa além de suas fronteiras. Mas, muitas vezes são obrigados a conviver com a repressão, a falta de liberdade de expressão existente em seus países. Os crescentes conflitos ocorridos recentemente nos países do Oriente Médio, de 2009 a 2011, são resultados desta repressão, da raiva contida e claramente dirigida aos seus governantes. Esta nova geração não viveu a forte repressão vivida por seus avós e pais durante o século XX e início do século XXI, mas são capazes de irem até o fim para tentar tirar os falsos governantes democratas que usam o poder de forma egoísta e tirânica. É fato que muitos gritam pelas ruas que querem democracia e falem sobre o fracasso da modernidade em seus países.
  • 40. 39 É fato, o Ocidente não sabe ainda lidar com o Islã, a xenofobia, a visão de não modernidade e globalização. Como se o Ocidente e o Oriente fossem dois planetas em rota de colisão. Os terroristas e fundamentalistas religiosos, que se consideram bons, únicos e autênticos muçulmanos, só agravaram esta situação. Já os norte- americanos provocaram este ódio crescente para que o maior ataque terrorista da história fosse calculado e realizado daquela forma. O islamismo não prega a violência. Não existe dentro do Islã fatores que afirmam que a religião é mais violenta do que outras. Existem muçulmanos que abraçam a xaria como uma base de ordem social e esta ramificação deseja a segurança física e psicológica. Não aceitam as severidades interpretadas pelas leis islâmicas dos fundamentalistas, que rejeitam a modernidade, a globalização, afastam seus jovens de uma vida melhor e prega o terror, a vigilância como forma de manter as tradições anunciadas pelo Profeta. Os jovens de hoje tem um preço alto a pagar, mas estão lutando para que tudo isto possa mudar mantendo-se as tradições religiosas, assim como aconteceu com o judaísmo e o cristianismo. A luta pela democracia é apenas o primeiro passo considerado por estes jovens, um caminho real para abraçar definitivamente a modernidade. O Islã ainda não fracassou, não aceitando a modernidade. Estes jovens que protestam nas ruas e conseguem criar movimentos contra todas as ditaduras passadas, certamente sabem que o caminho ainda é longo e que apoiados por ferramentas ocidentais como as redes sociais, podem e tem muito que fazer. Eles sabem que especificamente esta modernidade ocidental tem mais valor do que uma AK-47 antes, empunhada por seus pais e avós.
  • 41. 40 2. IRÃ - HISTÓRIA E A SUA RELAÇÃO COM OS ESTADOS UNIDOS A República Islâmica do Irã é um dos locais no Oriente Médio onde o mundo parece ter parado em um tempo remoto. Tempo este, quando os bazaris – antigos comerciantes-, dominavam a economia da antiga Pérsia. O Irã é considerado por o berço da civilização. Em suas terras viveram astrônomos, matemáticos, cientistas, artistas, mestres da ciência. Suas descobertas foram divulgadas quando os árabes islamizaram todo o Oriente Médio. Neste enigmático e atraente país, temido hoje por grandes potências, que reprime a sua população, rica em petróleo e pobre em emprego, surgiu a primeira religião monoteísta por volta de 1000 a.C. Desde 1979, o Irã é terra dos aiatolás. O país dos mantos negros (chador) que cobrem as mulheres, da língua farsi falado na província da Fars. Seu idioma é uma variante do alfabeto assírio até o século VII, mas com a dominação árabe, os iranianos assumiram o alfabeto árabe com pequenas modificações. É o único país com um regime xiita. Herdeiro direto do antigo Império Persa, o Irã é um dos países com um peso econômico considerável para o mundo muçulmano, pois está situado em cima de uma dos maiores poços de petróleo do mundo, com um grande potencial energético em gás e desenvolvimento nuclear, este último, causando grandes desconfortos em líderes mundiais do século XXI. Independente de toda a sua história, o Irã dos tempos modernos cresce desordenadamente como qualquer país que tem uma capital conhecida e intensa como Teerã. Este país do Oriente Médio conta com uma população de mais de 70 milhões de habitantes e têm suas fronteiras divididas com países historicamente tão importantes quanto ele. Conhecido como a Terra do Meio, o Irã ao norte faz divisa com a Armênia, o Azerbaijão, o Turquemenistão e o Mar Cáspio. Ao leste faz fronteira com o Afeganistão e o Paquistão, a oeste com o Iraque e a Turquia e ao sul, com o Golfo de Amã e o Golfo Pérsico. Até o ano de 1935, o Irã ainda era conhecido como Pérsia e carregava o peso de sua importância histórica. Foi do Império à teocracia. Um território de imperadores famosos. Em 559 a.C, Ciro, o Grande, funda o Império Persa, conquista a Babilônia e liberta os judeus da escravidão. Com Dario, Rei dos Reis, os iranianos conquistaram
  • 42. 41 expansão territorial e poderio político. Xerxes filho e sucessor de Dario, comandou uma grande invasão a Grécia em 480 a.C, levando sob seu comando 180 mil homens. Na época foi considerado o maior exercito já visto na Europa. No ano de 334 a.C, Alexandre, O Grande invadiu a Pérsia saqueando Persépolis. As famosas ruínas de Persépolis são testemunhas da beleza e da grandeza que um dia foi a Pérsia. Durante o seu apogeu a Pérsia, que chegou a conquistar o mundo antigo, formou uma das civilizações mais prósperas e sofisticadas da Mesopotâmia. Na Idade Média foi invadido por mongóis, um grupo que teve sua formação na Ásia Central, no século XIII, por Genghis Khan. Eles devastaram o Irã nos anos seguintes de 1220. Quando os mongóis perderam o controle da situação este poder passou então para às mãos da dinastia revolucionária Safávida, que tinha como crença o xiismo. Adotar o xiismo foi um passo muito importante para a formação da nação iraniana. Ismail I, que se proclamou Xá em 1501 e declarou o xiismo como religião oficial do Estado, ergueu um império dez anos depois denominado: os Safávidas. A vertente de que o xiismo não é um mero ato religioso perdura até os dias de hoje no Irã. Na época, se estendeu da Ásia Central a Bagdá e das montanhas geladas do Cáucaso as areias do Golfo Pérsico. O grande apogeu do Império Safávida aconteceu entre os anos de 1587 a 1629, durante os 40 anos do reinando de Abbas, também conhecido como o Grande. Neste tempo, a cultura iraniana alcançou o seu maior reconhecimento. Abbas conseguiu unificar o povo, construiu estradas para atrair mercadores europeus e criou oficinas para produzir seda e cerâmica. A história iraniana nos conta que desde o século IX, os intelectuais que viviam em terras persas haviam explorado o mundo islâmico à procura de cientistas, filósofos e sábios. Criou a coleta de impostos, montando uma competente rede burocrática, organizando o país que já vinha em desordem desde os tempos de Ciro e Dario, dois mil anos antes de sua chegada. Apesar de obter um grande avanço durante a dinastia de Abbas, a sua forma brutal de governar foi sob torturas e execuções. O seu modelo de governo casou desordem, cobiça e morte entre as nações vizinhas ao Irã. Houve um longo período de lutas e anarquias entre as tribos. Muitos outros imperadores vieram depois de Abbas, como Xá Nadir, conhecido como um dos últimos grandes líderes históricos do
  • 43. 42 Irã, assassinado em 1747 e os Qajar, provenientes de um tribo turca do Mar Cáspio que governaram o Irã do final do século XVII até o ano de 1925. No ano de 1804 os ingleses ajudam os persas na guerra contra a Rússia e passam a influenciar o país. O Xá Muzzafar AL-Din, em 1901 concede aos ingleses a exploração do petróleo. Vinte anos depois Xá Reza Khan toma o poder e começa a modernização da Pérsia. Adriana Carranca e Mônica Camargo relatam em seu livro, “O Irã, sob o Chador – Duas brasileiras no país dos aiatolás”20, da Editora Globo, 2010, que a seus reis tacanhos e corruptos cabe à culpa pela decadência que se abateu sobre o povo iraniano. Enquanto a maior parte do mundo avançava para a modernidade, o Irã da dinastia Qajar estagnava. O Irã era rota de cobiça para as grandes potências que não tiravam os olhos desta terra. Já o jornalista do New York Times, Stephen Kinzer, citado no livro das jornalistas brasileiras, escreveu um estudo sobre a Operação Ajax - que derrubou o governo democrático do Irã, em 1953, articulado pelos Estados Unidos e Inglaterra -, como sendo o responsável por modificar definitivamente os rumos históricos do Irã. O que se conclui de todas as dinastias é que cada uma delas deixaram profundas marcas neste país de mais de quatro mil anos. O Irã político e espiritual surgiu durante o reinado de Ismail I. Aceitando o xiismo, os iranianos estavam aceitando o islamismo, mesmo que não fosse da forma desejada pelos sunitas. Na política a posição do xiismo, como para o zoroastrismo, os governantes só tem o direito de exercer o poder de forma justa. “Essa crença conferiu às massas xiitas, e por extensão aos seus líderes religiosos, força para promover a debacle do regime laico, construindo o paradoxo de uma modernização autoritária e religiosa jamais prevista por nenhum manual de teoria política.”21 20 Carranca, Adriana e Camargos, Márcia, “O Irã sob o Chador – Duas brasileiras no país dos aiatolás”, Editora Globo, 2010, pág 68 21 Carranca, Adriana e Camargos, Márcia, “O Irã sob o Chador – Duas brasileiras no país dos aiatolás”, Editora Globo, 2010, pág. 55
  • 44. 43 No século XXI, os xiitas compõem o segundo maior número de adeptos do Islã, depois dos sunitas. O Irã é um dos Estados mais antigos do mundo. Estas terras já geraram milhares de filmes, estudos e livros. Foram séculos e séculos de uma rica história de conquistas, guerras, conflitos e revoluções. Um pouco antes dos Aiatolás dominarem o Irã, o país passou por um processo pioneiro com a Revolução Constitucionalista de 1906 e a nacionalização da indústria petrolífera implantada por Mohammed Mossaddegh em 1951. Foram dois fatos considerados importantíssimos não somente para o país, como também, para a história mundial. A devolução do petróleo para o povo iraniano custou o cargo político a Mossaddegh. Ele pagou um preço bem alto por esta nacionalização. O livro “Todos os Homens do Xá – O Golpe Norte-Americano no Irã e as Raízes do Terror no Oriente Médio”, de Stephen Kinzer, Editora Bertrand Brasil, 2003, conta em detalhes o complô armado entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Um golpe que derrubou o governo democrático de Mossaddegh e implantou no Irã uma longa e tenebrosa ditadura comandada pelo Xá Mohammed Reza. O Xá Reza obteve por um bom tempo apoio dos ocidentais, mas foi derrubado por um movimento popular que era contra à crescente secularização da sociedade e principalmente à forte corrupção que estava sendo acobertada por sua temida polícia política, os Savaks. O Irã passou por momentos de grande tensão, assim como estava acontecendo em países do terceiro mundo – Brasil, Argentina, Chile. O ano de 1964 foi marcado com a expulsão do Aiatolá Khomeini, que se exilou na Turquia, seguindo depois para Najaf, cidade considerada santa aos xiitas, ao sul de Bagdá, no Iraque e por fim, para a França após duras críticas ao modo como Reza Pahlavi conduzia o país. Seus discursos eram ouvidos clandestinamente por seus seguidores no Irã, sendo reproduzidos em fitas cassete. Durante este período o país passou por greves na administração pública, a interrupção da extração em seus cobiçados poços de petróleo, produto principal de sua base econômica. O ano de 1979 foi marcado por uma das maiores Revoluções Islâmicas no mundo muçulmano. Em 16 de janeiro de 1979, o Xá Mohammad Reza Pahlavi e sua família real fogem para o exílio abrindo assim as portas para a volta do Aiatolá Ruhollah Khomeini. O processo foi lento, mas muito bem planejado, pois o Aiatolá precisou apenas de 10 dias no país para tomar o poder. No dia 10 de fevereiro,
  • 45. 44 Khomeini provocou uma mudança definitiva da ordem política e social no Irã. Foram momentos de intensa luta armada dentro de terras iranianas, onde unidades do exército, fiéis ao Aiatolá e a velha Guarda Imperial do Xá, se enfrentaram. Pelas ruas os homens faziam barricadas e se vestiam para morrer pela causa islâmica. As mulheres abandonaram as roupas ocidentais e cobriam-se com seus chadores. A Revolução deixou 200 mortos, acarretou invasões a diversos prédios públicos e provocou a soltura de 11 mil detentos da prisão de Evin,O resultado se deu na noite de 2 de abril de 1979, quando foi proclamada a Primeira República Islâmica do mundo. Uma tentativa de reproduzir o regime vigente na Arábia do profeta Maomé. Uma revolução e um novo regime com nuances ideológicas apoiado por comunistas, liberais e mollah - camponeses armados com paus e pedras. Até muçulmanos sunitas e xiitas juntaram-se a causa tendo apoio de judeus, cristãos, ateus unidos a favor da revolução. Não havia uma programação concreta. Naquele momento, o que os iranianos desejavam era obter uma liberdade por meios de atos democráticos. O sonho durou pouco, o idealismo de liberdade e democracia sofreram mudanças radicais. No poder, o Aiatolá modificou o discurso. Estudantes viram escolas e universidades serem fechadas para que o ensino pudesse ser adaptado de acordo com a sharia, a lei islâmica. As mulheres foram obrigadas a cobrir os cabelos em público. Uma democracia e uma liberdade prometida e que acabou não sendo exercida ao longo dos anos. Ao longo destes 30 anos pós-revolução, o Irã se manteve a maior parte do tempo fechado para o mundo ocidental. A inimizade e a falta de diálogo com os Estados Unidos e Irã, quer dizer, Ocidente contra Oriente, dura a mais de 30 anos. Não há respeito entre Estados Unidos e Teerã. O jornalista Stephen Kinzer, ex-repórter do New York Times, concedeu em janeiro de 2011, uma entrevista ao jornalista Jorge Pontual, para o Programa Milênio, do canal GloboNews, analisando o passado, presente e o futuro desta tão conturbada relação envolvendo os dois países. Para o jornalista americano, a melhor maneira encontrada por ele para este conflito é os Estados Unidos trocarem os velhos aliados, no caso Israel e Arábia
  • 46. 45 Saudita. Seriam necessários novos parceiros, no caso o Irã e a Turquia. Isto deveria ser feito rapidamente antes que aconteça mais uma guerra. Kinzer afirma que os Estados Unidos devem reconhecer os erros do passado e quem sabe reencontrar um sentimento democrático até pró-americano do povo iraniano. Os conflitos se tornaram maiores quando iranianos começaram a sequestrar diplomatas americanos. Isto acabou por forçar o povo americano a se perguntar o porquê destes sequestros estarem acontecendo, pois até então os norte-americanos não sabiam do golpe articulado pela CIA, junto com o governo britânico, para tirar o premier Mossadegh do poder, antes da Revolução Iraniana de 1979. Kinzer ressalta em sua entrevista que um lado desta história ficou por muito tempo obscuro para o povo americano. Esta falta de diálogo e incompreensão com o povo iraniano acabou por ser acentuada a cada dia. “Esta crise dos reféns, deixou marcas profundas em uma geração de formuladores das políticas externas americanas. A reação da crise aos reféns foi essencialmente: “Eles não tinham motivos para fazerem isto. São selvagens, niilistas bárbaros, que, sem motivo, estão fazendo sofrer nossos concidadãos.” Para os americanos era o que parecia. Não imaginávamos que alguns iranianos, tinham motivos para ter raiva de nós. Para os americanos, até hoje, as relações Estados Unidos- Irã, começam e terminam em 1979-1980. Foi quando elas começaram e não avançaram mais.”22 Os americanos esqueceram que para o lado iraniano, os fatos poderiam ser bem diferentes e que isto poderia mudar completamente o curso das relações internacionais entre o Ocidente e o Oriente. 22 Kinzer, Stephen, jornalista e escritor do livro: “Todos os Homens do Xá – O Golpe Norte-Americano no Irã e as Raízes do Terror no Oriente Médio”, Editora Bertand Brasil, 2003, em entrevista ao jornalista da Globo News, Jorge Pontual, para o Programa Milênio, janeiro de 2011, com inserção no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=JYsxSFZa648
  • 47. 46 “As relações entre Irã-Estados Unidos e seus conflitos começaram em 1953, quando Mohammed Mossadegh foi derrubado pela CIA. Desde as crises dos reféns, alguns dos sequestrados escreveram artigos e memórias contando o porquê fizeram tudo aquilo. Só hoje conseguimos descobrir que eles tinham um motivo. Os iranianos não eram apenas niilistas, tinham algo bem claro em mente. Estavam pensando no que havia acontecido em 1953. O que aconteceu então? O povo iraniano obrigou o Xá a fugir. Mas, os agentes da Cia, trabalhando nos porões da embaixada americana, organizaram o golpe e trouxeram o Xá de volta. Então, 25 anos depois, em 1979, o Xá foi obrigado a fugir de novo. Os jovens revolucionários iranianos pensaram: “Vai acontecer tudo de novo. Os agentes da CIA nos porões da embaixada americana, vão organizar outro golpe para trazê-lo de volta. Não podemos deixar isto acontecer.” Foi por este motivo que eles invadiram a embaixada. Mas, só depois de muitos anos que os americanos ficaram sabendo o que os Estados Unidos tinham feito no Irã, em 1953. Foram grandes danos que eles nem desconfiavam. Esta foi a causa da crise dos reféns e de todos os conflitos subsequentes entre os dois países.” 23 A crise dos reféns durou 444 dias. Foi considerado um marco do rompimento entre Estados Unidos e Irã. O sequestro de 52 cidadãos americanos durou de 1979 a 198, dentro da Embaixada dos Estados Unidos por seguidores de Khomeini que contavam com sua anuência. A crise dos reféns acabou por eleger o republicano Ronald Reagan, nas eleições presidenciais americanas no ano de 1980 e o fatídico isolamento internacional do Irã. Esse isolamento foi carregado de acusações de que os Aiatolás por terem interesse de disseminar a Revolução Islâmica pelo mundo 23 Kinzer, Stephen, jornalista e escritor do livro: “Todos os Homens do Xá – O Golpe Norte-Americano no Irã e as Raízes do Terror no Oriente Médio”, Editora Bertand Brasil, 2003, em entrevista ao jornalista da Globo News, Jorge Pontual, para o Programa Milênio, janeiro de 2011, com inserção no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=JYsxSFZa648