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Universidade Presbiteriana Mackenzie


A VISÃO IMEDIATA DA IMPRENSA BRASILEIRA ACERCA DOS ATENTADOS
TERRORISTAS EM NOVA YORK
Lucas Teixeira (IC) e Denise Paiero (Orientadora)
Apoio: PIVIC Mackenzie


Resumo

Os atentados ao World Trade Center em Nova York, no dia 11 de setembro de 2001 foi um dos
ataques terroristas mais reproduzidos e discutidos pela imprensa mundial. Foi assunto nas redes de
televisão, jornal e revista ao redor do globo. A presente pesquisa pretende analisar a cobertura
imediata feita pela revista Veja e pelo jornal Folha de S. Paulo acerca dos ataques. Pretende analisar
de que forma ocorreu essa cobertura e se houve ou não algum tratamento preconceituoso.

Palavras-chave: jornalismo; terrorismo; imprensa


Abstract

The attacks on the World Trade Center in New York on September 11, 2001 were one of the most
reproduced and discussed terrorist attacks by the world press. This subject was on the television
networks, newspapers and magazines around the globe. This study intends to analyze the immediate
coverage made by Veja magazine and the newspaper Folha de S. Paulo about the event. Intends to
analyze how this coverage occurred and if had or not any prejudicial treatment.

Key-words: journalism; terrorism; press




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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Introdução

Os atentados ao World Trade Center em Nova York, no dia 11 de setembro de 2001,
trouxeram à tona uma tendência do terrorismo contemporâneo: a criação de fatos
espetaculares que, mais do que o ato em si, visam à sua repercussão através dos meios de
comunicação.

O termo terrorismo adotado por nós refere-se ao “uso do terror como prática de violência
para a consecução de um objetivo político”. (MELO NETO, 2002, p. 22) O que tem se
observado, no entanto, é a utilização de recursos terroristas para a obtenção de destaque e
cobertura midiática. Segundo Wainberg,

                        Tais ocorrências [atentados terroristas contra civis] são premeditadas e
                        visam prioritariamente atrair a atenção da mídia. Neste sentido, costuma-se
                        também dizer que o terror é uma forma de comunicação violenta. (2005,
                        contracapa)


Essa questão de comunicação, fundamental nos dias atuais, abre espaço para a discussão
de como se dá essa cobertura midiática acerca desses eventos que, conforme já afirmamos,
visam em grande parte às páginas dos jornais, revistas e sites e também à cobertura do tele
e do rádiojornalismo.

Ao cumprir sua função de informar, o jornalismo acaba por construir a compreensão pública
acerca desses atos terroristas. Nesta pesquisa, propomos analisar a visão midiática sobre o
atentado terrorista a Nova York, no dia 11 de setembro de 2001. O objetivo é analisar a
cobertura imediata após os atentados, verificando o discurso construído pela mídia acerca
desse evento, mesmo antes de qualquer apuração mais aprofundada ou de um
encaminhamento mais longo das investigações. Para essa cobertura, analisaremos tanto os
textos publicados sobre os eventos, quanto às imagens que ilustravam as páginas de
cobertura e também o projeto de hierarquização da informação, ou seja, o que foi
considerado mais ou menos importante na distribuição das notícias na página.

Na manhã do dia 11 de setembro de 2001, dois aviões, um da American Airlines e outro da
United Airlines, colidiram com as duas torres do World Trade Center, o maior prédio de
negócios de Nova York. O grupo terrorista Al Qaeda foi considerado culpado pelo atentado.

Nosso foco foi a cobertura brasileira do atentado. Para isso, escolhemos as cinco edições
seguintes aos ataques do Jornal Folha de S. Paulo, o jornal com maior circulação do país,
que tem a tiragem média de 302 mil exemplares em dias úteis e 365 mil aos domingos
(segundo site oficial da Folha), e a edição seguinte da Revista Veja, a revista com maior
número de leitores do país, que tem a circulação média de um milhão de revistas por
semana (segundo o site Publiabril, da editora da revista).



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Universidade Presbiteriana Mackenzie


A escolha de um corpus construído logo após os acontecimentos nos permitiu observar se
há uma visão pré-concebida da mídia acerca do atentado e de seus possíveis executores.
Verificamos também que aspectos dos eventos são destacados por cada cobertura
jornalística e onde elas assemelham e se diferenciam entre si.

Outra questão que tem estado em discussão nos meios acadêmicos diz respeito ao
preconceito que se desenvolveu contra os árabes ou os seguidores do islamismo logo após
tais atentados. Sobre isso, Wainberg afirma que

                       O ataque às torres gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001, foi
                       realizado por terroristas mulçumanos, por isso mesmo, encontrou campo
                       fértil num imaginário ocidental que estereotipou um Islã militante e
                       agressivo. (2005, p. 50)


A partir dessas considerações observaremos se, de fato, nessa cobertura imediata existe
uma tendência a tratar esses grupos com preconceito, atribuindo a eles uma possível culpa
pelos atentados, antes mesmo de qualquer investigação.

                       Os conceitos de moderado e extremista foram amplamente utilizados não
                       só pelo governo americano e por pensadores conservadores. A mídia
                       reproduziu esses rótulos na maioria das vezes em que tratou do islamismo.
                       (DORNELES, 2002, p. 221)


Hoje, no jornalismo, muito se discute sobre a necessidade de transparência dos meios em
relação à produção de notícias. Ao mesmo tempo, observa-se uma tendência a coberturas
internacionais direcionadas para uma única visão ocidental e americanizada. Quando o
assunto é terrorismo, estamos nos referindo aos grandes inimigos da cultura ocidental
contemporânea, ou seja, é de se esperar que certo direcionamento preconceituoso apareça
já nos primeiros momentos do fato ocorrido. No entanto, esse direcionamento, ao ser tratado
com a naturalidade de quem se vê como uma das partes envolvidas – a vítima – no
episódio, não esteja sendo percebido pelos veículos de comunicação nem pelo seu público
consumidor.

                       Imagine uma televisão que adota um alinhamento automático com o
                       governo de seu país, recomenda a seus repórteres que sejam patriotas,
                       admite declaradamente a propaganda contra o “inimigo” e censura
                       pronunciamentos de quem é contrário ao discurso oficial. Não seria uma
                       aberração para os padrões ocidentais da chamada liberdade de expressão?
                       Imagine então que esse canal tem o nome de Al Jazira. Seria difícil então
                       imaginar o bombardeio que ele receberia da imprensa desse lado de cá do
                       mundo? Mas como essa televisão não se chama Al Jazira, mas sim CNN,
                       nossos padrões de reação são outros. (DORNELES, 2002, p. 130)




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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Essa citação do jornalista Carlos Dorneles deixa evidente a falta de transparência presente
na cobertura jornalística quando o assunto é terrorismo e a dificuldade de olhar para o
próprio desvio da função do jornalismo pelas mídias envolvidas. Ainda segundo Dorneles,

                      A imprensa somente revela os fatos, não toma partido; não é responsável
                      por acontecimentos, apenas os registra. Esse dogma jornalístico jamais
                      soou tão irreal como depois do 11 de setembro. Muitos episódios, como a
                      própria guerra do Afeganistão, tiveram participação ativa da imprensa. É
                      impossível, hoje, separar o que foi apenas a intenção pura e simples do
                      governo Bush e o que foi facilitado, possibilitado pela influência da mídia.
                      (2002, p. 270)


Com este trabalho, pretendemos trazer à tona como se dá a cobertura brasileira sobre os
episódios de terror, se o nosso jornalismo está ou não contaminado com essas visões
preconceituosas e direcionadas acerca de episódios que são notícia obrigatória.

A mass culture e o Marketing do Terror

Para entendermos por que e como a mídia tratou os atentados terroristas que foram
analisados, é importante, primeiro, considerar alguns conceitos, tais como o que o sociólogo
francês Edgard Morin chama de Cultura de Massas (mass culture).

O jornalismo, assim como toda a área da comunicação de um modo geral, vai se
desenvolver no mundo capitalista totalmente influenciado por essa mass culture. Segundo
Morin,

                      a cultura de massa integra e se integra ao mesmo tempo numa realidade
                      policultural; faz-se conter, controlar, censurar (pelo Estado, pela Igreja) e,
                      simultaneamente, tende a corroer, a desagregar as outras culturas. (...)
                      Embora não sendo a única cultura do Século XX, é a corrente
                      verdadeiramente maciça e nova deste século. (...) Alguns de seus
                      elementos se espalharam por todo o globo. Ela é cosmopolita por vocação e
                      planetária por extensão. (1962, p. 16)


É a cultura da pós-Segunda Guerra, que se desenvolverá em um mundo bipolar, dividido
entre o capitalismo desenfreado do Ocidente e o comunismo fechado do Oriente.

Mas, por ser desenvolvida e difundida principalmente em países como Estados Unidos e
França, “a cultura de massa favorecerá em profundidade, numa segunda fase, o
desenvolvimento dos valores e dos modelos do individualismo, do bem-estar e do
consumo.” (MORIN, 1962, p. 165)

Ela terá o consumo como maior estimulante, pois “toda produção de massa destinada ao
consumo tem sua própria lógica, que é a de máximo consumo” (MORIN, 1962, p. 35). E será
essa lógica que fará os jornais irem se adaptando às necessidades da publicidade.




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Universidade Presbiteriana Mackenzie


                       O fim da fronteira entre informação e entretenimento obrigou o
                       telejornalismo a se adaptar ao ritmo das mensagens publicitárias: ninguém
                       que tenha acabado de passar pelo impacto visual proporcionado pelas
                       mensagens da Coca-Cola ou Marlboro suportaria uma sequência longa
                       (mais do que trinta segundos) ou densa sobre algum evento. (ARBEX JR,
                       2002, p. 51)


Para conseguir acompanhar esse ritmo, é formada uma espetacularização da notícia. “Os
temas fundamentais do cinema – a aventura, a proeza, o amor, a vida privada – são
igualmente privilegiados junto à informação.” (MORIN, 1962, p. 99) O fantástico e o que é
considerado “cena de filme” começará a ser muito valorizado pela imprensa, especialmente
a televisão que pode mostrar, em sequência, tudo o que aconteceu. Com o advento da
câmera no celular, então, basta um anônimo estar no local, filmar e mandar para a
emissora. Em cinco minutos essas imagens podem rodar o mundo.

Essa lógica do consumo não só gera uma vontade momentânea, como uma futura também.
Quanto mais a imprensa fornece essas “cenas” para o público, mais o público quer vê-las.
“A presença no sensacionalismo do horrível (...) é atenuada pelo modo de consumo
jornalístico; o sensacionalismo é consumado (...) à mesa.” (MORIN, 1962, p. 115)

O sensacionalismo tomará conta da imprensa mundial para que ela consiga preencher essa
demanda do público. E, claro, quanto maior a demanda do público, maior o interesse dos
anunciantes publicitários pelo veículo.

Mesmo essa lógica sendo mais antiga que a cultura de massas, já que os anúncios de
produtos em um jornal vêm desde o início do século XIX, “com o tempo, tornaram-se a parte
mais importante de suas receitas.” (ARBEX JR, 2002, p. 35)

Essa lógica consumista cria uma nova tendência, pois

                       se no passado a publicidade tinha como objetivo vender produtos, no
                       mundo contemporâneo ela estabelece modelos a serem seguidos, padrões
                       físicos, estéticos, sensuais e comportamentais. (ARBEX JR, 2002, p. 60,61)


Dentro desse contexto, podemos entender melhor qual o objetivo dos responsáveis pelo
ataque fazerem o que fizeram da forma que fizeram. Isso nos leva a outro conceito
importante que seria o chamado Marketing do Terror, criado pelo estudioso brasileiro
Francisco Paulo de Melo Neto.

Mas primeiro é importante esclarecer que ele diferencia ataques chamados terroristas, como
os tratados nessa pesquisa, de atos de guerra.

                       O ato terrorista não é um ato de guerra. (...) Ao contrário, o ato terrorista é
                       uma fúria descabida, um ato isolado, inesperado, covarde, porque surge
                       das sombras e não dá nenhuma possibilidade de defesa. (2002, p. 21)




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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Porém, o próprio Francisco adverte:

                      O ataque terrorista aos Estados Unidos demonstraram ao mundo o
                      surgimento de um novo tipo de terrorismo. Para o especialista americano
                      Ian O. Lesser, o novo terrorismo tem as seguintes características: utilização
                      de ataques em maior escala com um enorme número de vítimas fatais,
                      escolha de alvos simbólicos e ataques sem objetivos claramente definidos.
                      (2002, p. 28)


Ao estudar tais atos e sua repercussão no mundo e, em especial, nos meios de
comunicação, ele criou o termo do Marketing do Terror. O qual

                      é um tipo de marketing às avessas. Suas ações e características constituem
                      o avesso do que denominamos de marketing moderno. Utiliza as redes de
                      TV como promotores do seu espetáculo trágico e bárbaro. Não é uma mídia
                      para si, mas contra si. Não investe em mídia. É a mídia que investe nele.
                      (2002, p. 17)


Assim, pode-se entender e analisar melhor como a mídia internacional (no nosso caso, a
brasileira) trata de imediato atentados terroristas como os selecionados por nós. O
tratamento dessas catástrofes como espetáculo é determinante na forma que a notícia é
passada. É fazendo esse marketing que muitas vezes a mídia, mesmo sem saber, já
começa a sua cobertura.



11 de Setembro de 2001 – Nova York

A colisão de dois aviões, um da American Airlines e outro da United Airlines, nas torres do
World Trade Center, em Nova York, na manhã do dia 11 de setembro de 2001 é
possivelmente o atentado terrorista mais conhecido na história. As televisões ao longo do
mundo inteiro passaram horas transmitindo ao vivo o que estava acontecendo e também foi
assunto de grande parte das publicações impressas, inclusive no Brasil.



Veja

Esse fatídico dia foi uma terça-feira. A revista Veja data as suas edições na quarta-feira
seguinte à distribuição, por isso, a edição Nº 1717 foi datada no dia 12 de setembro, mas
chegou às bancas no domingo anterior, dia 9.

A edição seguinte (Nº 1718), datada no dia 19 de setembro, é que foi distribuída no domingo
seguinte ao ocorrido, dia 16 de setembro. Foi uma edição especial sobre os atentados, sem
nenhuma matéria nacional ou internacional que não fosse relacionada a eles. Essa foi a
edição escolhida por nós.




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Universidade Presbiteriana Mackenzie


Tendo isso em vista, é importante levar em consideração que os jornalistas da revista
tiveram por volta de cinco dias para apurar os acontecimentos e as informações oficiais
divulgadas até então e escreverem suas reportagens.

Tal informação é importante, pois o presente artigo fez a análise da cobertura imediata e,
por mais que cinco dias pareçam um período curto de tempo, é, na verdade, um período
bastante considerável, visto que os jornais diários, como a Folha, tiveram que publicar suas
matérias apenas um dia depois.

A imagem escolhida para a capa não foi uma montagem, algo muito frequente nas edições
da revista, mas sim uma foto do exato momento em que o segundo avião sequestrado
colidiu com a torre sul. Embaixo, o seguinte título: O Império Vulnerável, e ao lado, algumas
chamadas para as matérias internas, escritas em branco com fundo preto, o que certamente
ajuda no tom pesado da capa.

Como é uma edição especial apenas sobre os atentados, as Páginas Amarelas, conhecido
espaço de entrevista, a Carta ao Leitor e as colunas de opinião abordaram o assunto. Até o
índice foi escrito sobre uma foto de bombeiros retirando um homem dos escombros. O único
trecho da revista que não trata do assunto é a sessão A Semana, que abordou de algumas
questões da política nacional.

A proposta do editorial, que na revista tem o nome de Carta ao leitor, já foi exposta no título:
O que incomoda o terror. Nesta parte é prevista a opinião da revista, a qual se espera que
seja embasada em fatos e, no mínimo, coerente.

Mas o que temos em dois grandes parágrafos é um discurso repleto de pré-julgamentos o
qual prega que “o que os radicais não toleram, mais que tudo, é a modernidade”. (p. 9) E
continua: “É a existência de uma sociedade em que os justos podem viver sem ser
incomodados e os pobres têm possibilidades reais de atingir a prosperidade com o fruto de
seu trabalho. Esse é o verdadeiro anátema dos terroristas que atacaram os Estados
Unidos”. (p. 9)

Além de nos fazer pensar se tal editorial foi mesmo escrito por um brasileiro, visto seu tom
extremamente patriota, também nos passa a imagem de que, seja qual for o país árabe que
vieram tais “fundamentalistas”, é um país regido pelo atraso, no qual o desenvolvimento e o
trabalho duro não são considerados qualidades.

                       A ideia de que os países árabes e mulçumanos são pobres, atrasados e
                       têm inveja do progresso americano também se tornou como nas páginas
                       dos jornais. Um contraponto (...) veio do economista americano Jeffrey
                       Sachs. Ele escreveu um artigo negando que a cultura islâmica represente
                       uma barreira ao crescimento. ‘É falso que algumas culturas sejam estáticas
                       e adversárias da mudança enquanto outras sejam, de alguma maneira,
                       singularmente modernas.’ (...) ‘A ideia de um mundo islâmico unificado e



                                                                                               7
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


                       conservador é tão errônea quanto a de uma sociedade ocidental moderna e
                       única’. (DORNELES, 2002, p. 222)
Em suma, várias culturas, modos de vida e preceitos morais foram unificados, simplificados
e destruídos em poucas linhas de um texto cheio de preconceitos e com pouquíssimo – ou
nenhum – embasamento teórico.

A reportagem especial, na qual a revista está toda baseada, começa com uma foto de
Manhattan num dia de sol, ainda com as torres do World Trade Center, e a seguinte
inscrição: Este mundo nunca mais será o mesmo.

A matéria principal, A Descoberta da Vulnerabilidade, começa mesmo nas duas páginas
seguintes. Dessa vez, com duas fotos que mostram o avião da United Airlines segundos
antes de colidir e colidindo com a segunda torre.

Como o título e a própria capa já apontavam, a matéria começa com o foco na repercussão
que os atentados geraram nos Estados Unidos e no mundo. Para isso, a revista afirma que
o acontecido representa o “fim do mito da invulnerabilidade do território americano” (p. 48).
Mais uma vez as letras são brancas com fundo preto, o que dá um tom mais sério, pesado e
até de luto a esse trecho da matéria.

A matéria segue narrando o acontecido e o que o então presidente George W. Bush fez
naquele dia. Para fazer um contraponto e reforçar o sentimento de vulnerabilidade proposto
pela revista, os Estados Unidos são chamados de “superpotência” ou “a nação mais
poderosa do planeta” (p. 50).

Outro fato a se apontar é que desde o começo a matéria comete o erro da generalização,
tratando sempre dos “americanos” ou do “povo americano”, como se todos os envolvidos
pudessem ser definidos assim ou como se todos os cidadãos americanos pensassem da
mesma maneira.

A situação se agrava um pouco quando a matéria sugere que “os americanos acham que é
preciso dar o troco” (p. 48), mas usa como única fonte o subsecretário de Defesa do
governo Bush, Paul Wolfowitz. Tal fonte que, obviamente, confirma a tese. A opinião de
diferentes cidadãos comuns, que estatisticamente representa melhor “os americanos” que
apenas um homem do governo, foi dispensada. Faltou pluralidade no desenvolvimento do
discurso e no uso das fontes.

Nas páginas 50 e 51, além de mais uma foto do World Trade Center pegando fogo (dessa
vez com a legenda: Nova York em chamas), consta um pequeno mapa que mostra a rota
dos quatro aviões sequestrados naquela manhã e os seus horários de decolagem e colisão.
Esse recurso, que é muito usado pela revista, ajuda o leitor a entender o percurso feito pelas
aeronaves, além do preciso detalhamento do horário.



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Universidade Presbiteriana Mackenzie


A matéria segue levantando questões que abordam a reação dos Estados Unidos e ainda
dá as alternativas prováveis que Bush iria seguir. É nesse contexto que a revista usa a sua
primeira fonte, que não declarações do presidente ou do subsecretário. A matéria cita um
trecho do editorial do respeitado jornal americano Washington Post, o qual fala das
dificuldades que Bush iria enfrentar.

Nas próximas quatro páginas, somos bombardeados por fotos de prédios em chamas,
escombros, pessoas chorando e até alguém se atirando de uma das torres. Mesmo que
indiretamente, a revista acaba por reforçar o que os atos tanto pretendem: propagar o medo
e a sensação de insegurança por meio da sua imagem.

                       Não sabemos se o desabamento das torres fora previsto pelos terroristas. O
                       importante é que o espetáculo de destruição maximizou a exposição do
                       terror na mídia. Ao dar total cobertura do evento, a mídia tornara-se a
                       grande aliada do terrorismo, como afirmam Umberto Eco e George Steiner.
                       (MELO NETO, 2002, p. 108)


Na antemão das imagens, a matéria aborda vários temas para contextualizar – ou pelo
menos tentar – o leitor. Para explicar, por exemplo, essa vontade de vingança já citada
foram abordados assuntos como o relativismo cultural, além do uso de mais fontes, como
um ex-secretário de Estado e combatente do Vietnã e o ex-presidente do Conselho de
Segurança Nacional do governo Clinton. Ambos a favor da retaliação.

Mesmo essa contextualização, embora simplista, ser um ponto positivo para a matéria, ela é
abalada pela pluralidade de fontes, que continua deixando a desejar, pois, embora pareça
plural colocar dois homens de visões diferentes apontando para o mesmo rumo, não é.
Continua faltando membros de outras classes que não seja a dos envolvidos no poder.
Algumas falas parecem estar ali apenas para confirmar o discurso de vulnerabilidade e
vingança proposto pela matéria.

Discurso esse que, segundo Melo Neto, está previsto no objetivo dos terroristas:

                       A lógica do marketing do terror é perfeita. Inicialmente, gera cenas de
                       catástrofe muito admiradas pela imprensa. Com isso, assegura a sua ampla
                       veiculação. Em seguida, desperta polêmicas de interesse da mídia: a
                       autoria dos atentados, a cobertura das ações, a estratégia utilizada pelos
                       terroristas, as vulnerabilidades dos Estados Unidos como país hegemônico,
                       a natureza e a abrangência da reação americana e de seus aliados. (2002,
                       p. 106)


A matéria segue com generalizações, mas dessa vez sobre “o outro lado”. Quando começa
a falar sobre a identificação dos culpados, que, a essa altura, já haviam sido identificados, a
matéria insiste em falar dos “árabes” e “mulçumanos”, a única diferenciação entre qualquer
grupo dentro dessas amplas definições vem nesse trecho igualmente simplista e



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preconceituoso: “Há mais de 1 bilhão de mulçumanos espalhados por quase todos os
países. Na maioria, são moderados. A minoria radical, no entanto, tem uma disposição
fanática para matar e morrer e se une num ódio incontrolável contra os Estados Unidos, em
sua opinião um país satânico.” (p. 56 e 57)

É muito difícil e improvável que o jornalista que escreveu a matéria tenha feito um estudo ou
uma pesquisa abordando os mais de um bilhão de mulçumanos espalhados pelo mundo. E,
mesmo se tivesse o feito, definir uma religião apenas baseado em um grupo menor é, no
mínimo, uma generalização indevida. Até mesmo os mulçumanos que não são considerados
radicais pela matéria são chamados de “moderados”, o que significa que, se você for um
mulçumano, você tem que ser, no mínimo, moderado.

A foto dividida entre as páginas 56 e 57 mostra um grupo de homens armados
comemorando no meio da rua. A legenda, intitulada A favor do terrorismo, diz: “Palestinos
comemoram atentados contra os americanos em um campo de refugiados no Líbano:
alegria com a desgraça do ‘grande Satã’”.

Esse trecho não só é repleto de pré-julgamentos, como também cria a noção dos Estados
Unidos como o país correto que foram atacados pelos anticristos do século XX. É evidente
que eles foram vítimas de um ataque inesperado, covarde e desumano. Isso tem que ser
dito. Porém criar uma bipolaridade, na qual existe um povo “do bem” e outro povo “do mal”,
é desnecessário.

                       A luta do bem contra o mal, tão repetida pelo presidente George W. Bush
                       em seus discursos,foi levada a sério pela imprensa e por grande parte dos
                       pensadores acadêmicos, fartamente utilizados para satanizar o islamismo.
                       (DORNELES, 2002, p. 219)


Melo Neto complementa:

                       No caso dos atos terroristas, os Estados Unidos são mostrados como o país
                       “do bem”, covardemente atingido, e os terroristas, como a imagem “do mal”.
                       O marketing do terror sabe explorar a estratégia de manipulação exercida
                       pela mídia americana (...), bem como o seu maniqueísmo exacerbado, que
                       se expressa nas ações de demonização dos mulçumanos, de
                       caricaturização do islamismo e da depreciação do exotismo do Oriente.
                       (2002, p. 113)


Esse assunto é tratado na matéria Assassinato em Nome de Alá. Porém o que chama a
atenção é que a sua proposta vai ao sentido inverso: de quebrar alguns preconceitos e
equívocos freqüentes no que se refere aos mulçumanos. Usa como fontes professores e
estudiosos de universidades respeitadas, como Harvard e USP.

A matéria tenta fazer uma diferenciação entre os radicais e os chamados por ela de
“moderados”, mas, assim como a anterior, acaba caindo em lugar-comum na sua narrativa.


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Ela chega a tratar uma religião como raça ou doença: “Com o liberalismo religioso na maior
parte do Ocidente, os mulçumanos também se espalham com alguma facilidade” (p. 82). O
verbo “espalhar” está empregado de forma similar ao tratamento de uma praga ou doença
contagiosa.

Nela também está presente um recurso muito utilizado pela Veja: um quadro na parte
inferior que resume alguns acontecimentos históricos. Nesse, intitulado A cara das guerras,
propõe: “Confira como mudou a natureza dos conflitos nos últimos 500 anos, período em
que consolidou o domínio da civilização cristã e ocidental no mundo.”

Quadros como esse são interessantes no que desrespeito à contextualização, porém é no
mínimo pretensioso definir 500 anos de história do mundo em apenas quatro pequenos
parágrafos. Essa redução não é apenas simplista como favorece a generalização. Esse
pequeno recorte de quatro traços importantes na história se encaixa na visão simplificadora
da matéria e fica acaba parecendo o bastante, mas é, no fim, uma contextualização
descontextualizada que não acrescenta muito.

O Inimigo Número 1 da América é a matéria mais bem elaborada da edição. Com um título
que tinha tudo para endossar preconceitos e lugar-comum, a matéria não só dá um resumo
da biografia de Osama Bin Laden, como dá também um pequeno histórico, não tão
detalhado, de alguns ataques terroristas que os Estados Unidos sofreram. A matéria não
demoniza nem glorifica o líder acusado dos atentados e, ao final, como nada foi provado,
chega até a assumir que ele pode ser ou não o responsável.

Ainda sim, o tom presente na edição como um todo já é representado no editorial, no final,
especialmente: “Eles [terroristas/fundamentalistas/mulçumanos] são enviados da morte, da
elite teocrática, medieval, tirânica que exerce o poder absoluto em seus feudos. Para eles, a
democracia é satânica”. (p. 9) A generalização os torna iguais. Eles são todos parecidos e
maus. Diferentes de “nós”, o Ocidente, democrático e justo. “Nós” somos o bem e “eles”, o
mal.

A edição especial conta com mais algumas matérias que tratam do assunto, como a reação
de alguns passageiros dos aviões seqüestrados ou filmes americanos que tratam de
terrorismo, mas que não são interessantes para a análise proposta aqui, pois não chegam a
tratar dos ataques em si ou dos responsáveis.



Folha de São Paulo

Já no dia seguinte, quarta-feira, dia 12 de setembro, a Folha de S. Paulo publicou mais de
vinte matérias, entre notícias e colunas de opinião, sobre os atentados. Embora a pesquisa



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aborde a cobertura imediata como um todo, algumas matérias, tais como sobre a
repercussão econômica e relacionadas ao Brasil, não são interessantes, pois não nos
ajudam a ver como a mídia trata o terrorismo.

A manchete e a capa dessa edição, como não poderiam deixar de ser, tratam dos ataques.
A manchete EUA SOFREM MAIOR ATAQUE DA HISTÓRIA – sim, em caixa alta – é
ilustrada pela repetida imagem do exato momento em que o avião 747 da United Airlines
bate na torre sul do World Trade Center.

                       Pelos alvos escolhidos, todos de grande valor simbólico para os
                       americanos, o terror seduziu a mídia com o espetáculo de suas imagens. É
                       o marketing do terror produzindo imagens de impacto para a mídia. (MELO
                       NETO, 2002, p. 104)


A imagem é tão surreal que parece vir da ficção. Parece que estamos prestes a abrir um
livro, a vermos um espetáculo. Sob a legenda um pouco sensacionalista de Guerra na
América, temos quase certeza que, dentro dessas páginas, presenciaremos algo fantástico.

                       O universo do sensacionalismo tem isso em comum com o imaginário (...):
                       infringe a ordem das coisas, viola os tabus, compele ao extremo a lógica
                       das paixões. (...) É esse universo do sonho vivido, da tragédia vivida e de
                       fatalidade que valorizam os jornais modernos do mundo ocidental. (MORIN,
                       1962, p. 100)


Dentre várias matérias informativas, sobre atrasos nos aeroportos e confusão nas linhas
telefônicas, a matéria escrita por Sérgio Dávila, um dos enviados da Folha em Nova York,
chama atenção.

Escrita de forma narrativa, em Horror em Nova York – Corpos e destroços compõem o
cenário, o jornalista conta de forma detalhada como foi o seu trajeto do prédio do jornal até o
World Trade Center, á quinze quadras. Ele narra não só o efeito físico nos arredores
causado pelo desabamento de uma das torres, como a reação das pessoas que se
encontravam na rua.

Um bom exemplo de jornalismo literário que não se prendeu a clichês e pode dar a nós, que
estávamos há milhares de quilômetros, uma noção de como as coisas estavam por lá.

Já outras matérias como Crianças de Nova York enfrentam clima de guerra após atentado e
NY vive caos, com filas parar doar sangue e estocar comida e dinheiro não são
propriamente sensacionalistas, mas, mesmo sem saber, aderem ao mecanismo quase
automático de usar palavras de efeito, como “colapso”, “guerra” e “caos”, para narrar os
acontecimentos. O que não é falso ou talvez nem indevido, é apenas digno de se ressaltar.




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Uma das matérias que mais chama a atenção na edição é “Nações renegadas” podem ter
colaborado. Escrita por um jornalista enviado aos Estados Unidos, a matéria já começa
mostrando de onde veio a opinião expressa no título: “Uma opinião era dominante entre as
dezenas de analistas ouvidos ontem pelas TVs americanas”.

Especialista por especialista e veículo por veículo, ele vai reproduzindo as opiniões que,
como já dito, convergem em um ponto dominante: que o grupo terrorista não agiu sozinho,
mas teve ajuda de países como Afeganistão, Iraque, Irã ou Líbia. O interessante a se
ressaltar nessa matéria não é apenas questionar por que um correspondente dentro dos
Estados Unidos precisou recorrer às TVs americanas e não foi atrás das suas próprias
fontes, mas sim ressaltá-la como uma prova de que a Folha de S. Paulo acabou aderindo às
infundadas opiniões que tomaram conta de alguns veículos americanos.

Ao invés de ir atrás de outras fontes e escrever uma matéria que confirme ou não tais
opiniões, o jornal preferiu pegar depoimentos de especialistas em TVs locais para tomar
como verdade única. É cabível perguntar o que acha, então, um especialista (ou estudioso)
de algum dos países acusados de darem apoio ao grupo. Será que a opinião continuaria
“dominante”?

Em sua coluna de opinião, intitulada Zona de Guerra, Janio de Freitas é o primeiro a fazer
um levantamento interessante, que sempre é lembrado por estudiosos do assunto: no
mesmo dia dos ataques, por exemplo, os Estados Unidos estavam bombardeando o Iraque.

Sem se dar conta ou se importar, a imprensa compra uma briga – a Folha e a Veja seguiram
esse caminho – de forma completamente imparcial e injusta. O fato de os atentados
terroristas terem sido cometidos por árabes mulçumanos, informação que ainda não havia
sido provada no dia seguinte, já é motivo para que a mídia faça julgamentos sobre todo um
povo e uma cultura.

Tais opiniões que, na maioria das vezes, não têm embasamento teórico nenhum são
passadas como verdade absoluta para o público. O bombardeio americano foi ignorado
pelos dois veículos pesquisados. Nenhum julgamento moral, como foi feito repetidas vezes
com o povo árabe, foi feito com a atitude americana. A coluna do Janio de Freitas elucida
isso.

É na quinta-feira, dia 13 de setembro, que um dos principais nomes do jornal se pronuncia
em uma coluna, intitulada Guerra Invisível, assinada por ele. Otávio Frias Filho, ao invés de
fazer um julgamento ou análise do ato terrorista em si, faz uma pequena retrospectiva do
cenário do terrorismo internacional e fala das possíveis conseqüências de tais atos. Quase
dez anos depois, podemos ver que ele acertou em algumas de suas previsões, como “um
presidente até aqui fraco deverá fortalecer-se por efeito da coesão nacionalista interna”


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(George W. Bush foi reeleito em 2004, dessa vez, sem questionamento na contagem de
votos) e “intervenções em nome da ‘civilização’, como nas guerras do Golfo e dos Bálcãs,
contarão com apoio internacional mais amplo e talvez se tornem rotina” (em resposta direta,
os Estados Unidos começaram a Guerra do Afeganistão, que não acabou até hoje, e foram
apoiados por países como o Reino Unido).

Mais lúcido que a maioria, o artigo de Frias Filho não se refere ao que aconteceu em Nova
York como “guerra”, o nome que consta no título se refere a o que, segundo ele, seria o
substituto da Guerra Fria, previsão essa que ainda não pode ser confirmada ou descartada.

Nessa edição também consta uma reunião de análises sobre diferentes pontos ligados aos
ataques. Dentre elas, está a entrevista de Maurício Santos Dias com o historiador Kennedy
Maxwell. Com perguntas diretas e bem feitas, o jornalista toca em pontos como a situação
dos árabes residentes nos Estados Unidos, a atitude da imprensa e a reação americana.

Porém o melhor texto dessa edição, e provavelmente de toda a cobertura, foi um artigo do
escritor israelense Asmo Oz. O texto aborda o assunto de uma forma sensível e
extremamente sensata, sem fazer julgamento nenhum, nos lembra: “nenhum ser humano
decente se esqueça de que a imensa maioria dos árabes e outros muçulmanos não é
cúmplice do crime nem se regozija com ele. Quase todos estão tão chocados e aflitos
quanto o resto da humanidade”.

Tal afirmação, evidentemente, parece óbvia, porém, como estamos mostrando, esse
sentimento de vingança e ódio levou a muitos, inclusive membros da imprensa, proferirem
palavras preconceituosas e generalizadas em relação às pessoas de origem árabe ou da
religião mulçumana. Ainda mais por não ter sido um texto escrito para o jornal, foi um ponto
alto de sua cobertura tê-lo publicado.

Na sexta-feira, dia 14 de setembro, mais uma vez, além das matérias técnicas sobre os
seguros e a paralisação da Bolsa, o que mais chama atenção são os comentários, artigos e
análises.

Milly Lacombe, enviada da Folha em Los Angeles, entrevistou Larry Wright, escritor de Nova
York Sitiada – que virou filme – e escreveu um artigo. No livro (1997) e no filme (1998), a
cidade fica sob lei marcial no comando do exército enquanto terroristas detonam bombas.
Os terroristas culpados eram árabes.

O artigo, intitulado A Profecia, é prudente ao lembrar que ainda não se sabia naquele dia
quais eram os culpados, os “inimigos”. Uma das partes que ela transcreve é um importante
lembrete proferido por Wright: “Isso me apavora. Não podemos cair na tentação nazista de
generalizar e eleger uma raça como inimiga."




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Outra análise do mesmo dia que aborda e ficção é o artigo de Sérgio Rizzo chamado
Fantasia nunca se atreveu a imitar o horror da realidade. Ele faz uma abordagem sobre
vários momentos do cinema os quais tiveram relação com o tema, como filmes sobre
sequestro de avião e os chamados “filmes-catástrofe”.

Marcio Aith, de Washington, escreveu um comentário que trata sobre o preconceito que os
árabes e descendentes estavam sofrendo. Ele próprio, descendente de sírios e libaneses,
chegou a sofrer preconceito.

Os temas patriotismo e insegurança foram abordados por Álvaro Pereira Júnior, enviado
especial em São Francisco. No texto Patriotismo toma conta dos americanos em todo o
país, ele expõe como o patriotismo e amor à bandeira americana aumentaram em grande
escala após os ataques e lembra que “comunidade islâmica enfrenta manifestações de
hostilidade”.

A edição trás ainda uma matéria sobre um marroquino preso no Brasil que disse ter
informações privilegiadas sobre os atentados. Até a embaixada americana no Brasil e o FBI
entraram no caso que, como lembrou o jornal, poderia não passar de um blefe. Mas serve
para expor o clima que estava instalado, não só nos Estados Unidos.

A Folha do dia 15 de setembro, um sábado, trouxe duas matérias sobre o comportamento
americano e o comportamento mundial perante os ataques. Em Bush é ovacionado em
visita a NY, Sérgio Dávila mostra que, mesmo o presidente que enfrentava oposição na
cidade e estado de Nova York, foi muito aplaudido e elogiado devido ao clima de euforia
patriota. Em Mundo unido contra o terror, o jornal fala das diversas manifestações que
ocorreram ao redor do mundo em memória às vitimas, mas lembrou ainda que, mesmo
havendo milhares de mulçumanos prestando homenagens, vários templos foram pichados e
o clima de xenofobia estava aumentando no país.

Mais um artigo escrito por Marcio Aith, Mídia filtra tragédia e poupa Bush, trás uma análise
interessante para a pesquisa. Segundo ele, o clima patriótico presente no país durante
aqueles dias guiou o tratamento dos jornais norte-americanos em relação a Bush. “A
prioridade dos meios de comunicação tem sido a de ‘curar’ feridas emocionais causadas
pelo desastre na população”, escreveu ele. Isso fez com que a imprensa e as redes
televisivas transmitissem mais e mais as imagens e dramas pessoais das famílias, mas não
fizesse perguntas chaves, como, por exemplo, como os terroristas conseguiram furar o
sistema de inteligência americano, considerado o melhor do mundo.

Um dos editoriais publicados nesse dia foi mais um ponto alto da cobertura da Folha.
Intitulado de Pela Culatra, ele trata do preconceito contra o mundo árabe e como os ataques
podem ter afetado Estados como o da Palestina. Ele ressalta um ponto importantíssimo, que


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foi ignorado pela revista Veja: analisa que, mesmo não tendo ainda certeza dos culpados,
fica difícil não associar à imagem árabe, já que várias imagens e vídeos exibem
comemoração nas ruas, todavia, o jornal lembra que “a esmagadora maioria dos palestinos,
como a esmagadora maioria dos seres humanos, condena com vigor crimes dessa
natureza”. Fala ainda que já culpar os árabes pelos ataques é “uma visão distorcida e com
contornos racistas”. Foi um editorial bem escrito, analítico e nada hipócrita.

O jornal publicou ainda uma análise financeira de Andrew Hill, do Financial Times, sobre os
efeitos dos atentados no mercado, intitulada Amanhã é o dia D.

O último dia previsto na nossa análise, 16 de setembro, o domingo, teve duas análises de
colunistas sobre o antiamericanismo, que, em contraponto à crescente xenofobia nos
Estados Unidos, vinha também crescendo no mundo.

Contardo Calligaris em uma grande análise da ação terrorista chamada A face oculta do
antiamericanismo faz a seguinte pergunta sobre os ataques a um dos maiores símbolos
americanos: “o show era para quem?”. Explica que a aposta dos terroristas era que, em
vários lugares do mundo, muita gente gostou de ver um dos maiores símbolos do
capitalismo e materialismo ser derrubado. O imaginário foi à mil.

Citando pesquisas feitas pelas redes de televisão e sites, ele mostra que a grande maioria
dos americanos entrevistados era a favor de uma retaliação. Esta briga de sentimentos
repercutiu no mundo inteiro. Para ele, era um bom momento para reflexão sobre todas
essas questões.

Já para Elio Gaspari, em Celso Furtado comprou a teoria do Grande Satã, esse
antiamericanismo cresceu no Brasil, e isso se deve em parte a um sentimento de
inferioridade presente em nós. Ambos tentam mostrar que muitas vezes culpamos os
Estados Unidos por problemas internos.

O que é interessante na publicação dos dois artigos é mostrar que a Folha, pelo menos
nessas cinco primeiras edições, não embarcou em sentimento algum. Não formou um “lado
bom, lado ruim”, seja ele os Estados Unidos ou qualquer país árabe. A análise sobre os
acontecimentos está mais presente no jornal diário que, com o passar dos dias, foi
dedicando cada vez menos espaço para o ocorrido.



Conclusão

Ao se fazer a análise mais detalhada da cobertura feita pelas duas mídias, podemos chegar
a certas conclusões – algumas alarmantes – sobre cada cobertura específica e sobre
algumas diferenças entre elas.


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A falta de cuidado com as generalizações foi muito presente na cobertura da Veja. A maioria
do material publicado não procurou diferenciar a nacionalidade dos cidadãos árabes, como
se identificá-los como “árabes” fosse o bastante. Raramente lê-se “iraquianos”,
“paquistaneses” ou “iranianos”, são todos “árabes”.

A situação piora quando a generalização parte para a religião. Não são apenas árabes, são
mulçumanos. Para a revista, não importa se o cidadão nasceu no Afeganistão ou nos
Estados Unidos, sendo mulçumano, ele só tem duas escolhas: ser “radical” ou “moderado”.
Mais que uma generalização, é um preconceito.

Já a Folha de S. Paulo procurou não criar muitos rótulos. Pouquíssimas vezes foram usados
em suas análises termos de generalização.

Isso denota outro grave problema presente durante quase toda a cobertura da Veja: a falta
de embasamento teórico. Quando se trata com uma cultura tão diferente da nossa, espera-
se que seja feito com cuidado, para que o jornalista mostre o diferente para o leitor, e não
endosse os preconceitos. Mas essa cobertura, tratando os mulçumanos desse modo, por
exemplo, fez o contrário: rotulou e tratou de forma simplista misturando culturas, nações e
religião. Passa a impressão que tudo é um só. Enquanto isso, os ensaios da Folha
procuraram emitir suas opiniões, em sua maioria, embasadas em pesquisas, entrevistas e
vivência (já que havia enviados por todo o país).

Na revista Veja, como já foi dito, foram raras as vezes em que as matérias foram
apresentadas com algum contexto histórico ou cultural necessário. Quando isso ocorreu,
como no uso do quadro citado, foi de forma rasa e nada esclarecedora. O leitor foi
apresentado a um grande número de informações, a maioria delas relatava os
acontecimentos recentes e outra parte tentava explicar o porquê desses acontecimentos.
Nessa segunda parte está o problema.

Ao tentar fazer essa explicação, regidas pelo editorial, as matérias analisadas caiam no
lugar comum do preconceito, cometendo o erro que Francisco de Melo Neto advertiu:
confundir atos terroristas com atos de guerra. E pior: a revista reforçou a ideia de que era
uma guerra do Ocidente contra o Oriente.

Muitas vezes tínhamos a impressão de que o ataque terrorista estava ameaçando não só a
democracia norte-americana, como a mundial, inclusive a brasileira. Ao fazer essa leitura
mal embasada, a revista reforçou o objetivo do ato terrorista: propagou insegurança e fixou
a marca do medo.

Todavia, em parte por ser um jornal, quase todas as matérias presentes na Folha não
tinham nem um histórico. Como vimos, ao tratar de vários incidentes, raramente era
construído um quadro contextualizado.


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Ambas as coberturas também não pouparam em imagens. Desde as imagens das torres
explodindo até imagens de pessoas se jogando delas. Legendadas com mensagens
sensacionalistas como Nova York em chamas, elas foram determinantes na formação de um
clima de insegurança e medo. Em suma, tudo que um atentado pretende.

Por fim, a grande diferença entre a cobertura da Veja e da Folha está presente na parte que
deveria, teoricamente, ser a mais analítica e coerente: o editorial. Sem fundamento teórico
algum, do começo ao fim, a Carta ao leitor não só reforçou preconceitos como muniu os
preconceituosos de novos argumentos infundados.

Sem deixar bem claro se está se referindo especificamente aos terroristas que atacaram os
Estados Unidos ou aos mulçumanos ou árabes de uma forma geral, lemos uma carta de
repúdio. Mas não de repúdio apenas aos ataques, a generalização é tão grande e tão mal
feita que deixa o leitor em dúvida se o repúdio não é a todo um povo.

Já a Folha teve os editorias – um deles assinado, inclusive – e as análises de opinião seu
ponto forte, pois vários assuntos acerca dos atentados, principalmente mídia e preconceito,
foram discutidos nesses espaços de forma analítica e na maioria das vezes coerentes. O
jornal, no entanto, pecou ao, muitas vezes, usar como fonte redes de televisão americanas.

Uma cobertura como a feita pela revista Veja não deve ser pensada apenas como um
exercício mal feito de jornalismo, mas também como uma questão ética, que não está na
proposta deste trabalho analisar. Porém, ao publicar matérias com tantas falhas, a revista
deixa o leitor leigo, que confia nela para se informar, a mercê de preconceitos.

É trabalho do jornalista e dos veículos midiáticos passarem a informação da maneira mais
imparcial possível e com menos preconceitos arrobados. A cobertura de uma revista tão
respeitada não tomou esse cuidado e, em alguns momentos, fez o contrário: reforçou
preconceito contra uma religião, algumas nações e algumas culturas. Sem querer eleger
qual o melhor veículo, ambas tiveram seus pontos altos e baixos, só que uma teve mais
pontos que positivos e a outra, mais negativos. São nesses pontos positivos, como textos
analíticos e mais imparciais possível, que devemos nos espelhar para fazer bom jornalismo.



Referências

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Universidade Presbiteriana Mackenzie


Folha            Online:       banco         de         dados.           Disponível          em:
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<http://publicidade.abril.com.br/marcas/veja/revista/informacoes-gerais> Acesso em 02 de
abril de 2011.

WAINBERG, J. A. Mídia e terror: Comunicação e violência política. São Paulo: Paulus,
2005.




Contato: lucas.bteixeira@gmail; denise.paiero@mackenzie.br




                                                                                              19

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  • 1. Universidade Presbiteriana Mackenzie A VISÃO IMEDIATA DA IMPRENSA BRASILEIRA ACERCA DOS ATENTADOS TERRORISTAS EM NOVA YORK Lucas Teixeira (IC) e Denise Paiero (Orientadora) Apoio: PIVIC Mackenzie Resumo Os atentados ao World Trade Center em Nova York, no dia 11 de setembro de 2001 foi um dos ataques terroristas mais reproduzidos e discutidos pela imprensa mundial. Foi assunto nas redes de televisão, jornal e revista ao redor do globo. A presente pesquisa pretende analisar a cobertura imediata feita pela revista Veja e pelo jornal Folha de S. Paulo acerca dos ataques. Pretende analisar de que forma ocorreu essa cobertura e se houve ou não algum tratamento preconceituoso. Palavras-chave: jornalismo; terrorismo; imprensa Abstract The attacks on the World Trade Center in New York on September 11, 2001 were one of the most reproduced and discussed terrorist attacks by the world press. This subject was on the television networks, newspapers and magazines around the globe. This study intends to analyze the immediate coverage made by Veja magazine and the newspaper Folha de S. Paulo about the event. Intends to analyze how this coverage occurred and if had or not any prejudicial treatment. Key-words: journalism; terrorism; press 1
  • 2. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Introdução Os atentados ao World Trade Center em Nova York, no dia 11 de setembro de 2001, trouxeram à tona uma tendência do terrorismo contemporâneo: a criação de fatos espetaculares que, mais do que o ato em si, visam à sua repercussão através dos meios de comunicação. O termo terrorismo adotado por nós refere-se ao “uso do terror como prática de violência para a consecução de um objetivo político”. (MELO NETO, 2002, p. 22) O que tem se observado, no entanto, é a utilização de recursos terroristas para a obtenção de destaque e cobertura midiática. Segundo Wainberg, Tais ocorrências [atentados terroristas contra civis] são premeditadas e visam prioritariamente atrair a atenção da mídia. Neste sentido, costuma-se também dizer que o terror é uma forma de comunicação violenta. (2005, contracapa) Essa questão de comunicação, fundamental nos dias atuais, abre espaço para a discussão de como se dá essa cobertura midiática acerca desses eventos que, conforme já afirmamos, visam em grande parte às páginas dos jornais, revistas e sites e também à cobertura do tele e do rádiojornalismo. Ao cumprir sua função de informar, o jornalismo acaba por construir a compreensão pública acerca desses atos terroristas. Nesta pesquisa, propomos analisar a visão midiática sobre o atentado terrorista a Nova York, no dia 11 de setembro de 2001. O objetivo é analisar a cobertura imediata após os atentados, verificando o discurso construído pela mídia acerca desse evento, mesmo antes de qualquer apuração mais aprofundada ou de um encaminhamento mais longo das investigações. Para essa cobertura, analisaremos tanto os textos publicados sobre os eventos, quanto às imagens que ilustravam as páginas de cobertura e também o projeto de hierarquização da informação, ou seja, o que foi considerado mais ou menos importante na distribuição das notícias na página. Na manhã do dia 11 de setembro de 2001, dois aviões, um da American Airlines e outro da United Airlines, colidiram com as duas torres do World Trade Center, o maior prédio de negócios de Nova York. O grupo terrorista Al Qaeda foi considerado culpado pelo atentado. Nosso foco foi a cobertura brasileira do atentado. Para isso, escolhemos as cinco edições seguintes aos ataques do Jornal Folha de S. Paulo, o jornal com maior circulação do país, que tem a tiragem média de 302 mil exemplares em dias úteis e 365 mil aos domingos (segundo site oficial da Folha), e a edição seguinte da Revista Veja, a revista com maior número de leitores do país, que tem a circulação média de um milhão de revistas por semana (segundo o site Publiabril, da editora da revista). 2
  • 3. Universidade Presbiteriana Mackenzie A escolha de um corpus construído logo após os acontecimentos nos permitiu observar se há uma visão pré-concebida da mídia acerca do atentado e de seus possíveis executores. Verificamos também que aspectos dos eventos são destacados por cada cobertura jornalística e onde elas assemelham e se diferenciam entre si. Outra questão que tem estado em discussão nos meios acadêmicos diz respeito ao preconceito que se desenvolveu contra os árabes ou os seguidores do islamismo logo após tais atentados. Sobre isso, Wainberg afirma que O ataque às torres gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001, foi realizado por terroristas mulçumanos, por isso mesmo, encontrou campo fértil num imaginário ocidental que estereotipou um Islã militante e agressivo. (2005, p. 50) A partir dessas considerações observaremos se, de fato, nessa cobertura imediata existe uma tendência a tratar esses grupos com preconceito, atribuindo a eles uma possível culpa pelos atentados, antes mesmo de qualquer investigação. Os conceitos de moderado e extremista foram amplamente utilizados não só pelo governo americano e por pensadores conservadores. A mídia reproduziu esses rótulos na maioria das vezes em que tratou do islamismo. (DORNELES, 2002, p. 221) Hoje, no jornalismo, muito se discute sobre a necessidade de transparência dos meios em relação à produção de notícias. Ao mesmo tempo, observa-se uma tendência a coberturas internacionais direcionadas para uma única visão ocidental e americanizada. Quando o assunto é terrorismo, estamos nos referindo aos grandes inimigos da cultura ocidental contemporânea, ou seja, é de se esperar que certo direcionamento preconceituoso apareça já nos primeiros momentos do fato ocorrido. No entanto, esse direcionamento, ao ser tratado com a naturalidade de quem se vê como uma das partes envolvidas – a vítima – no episódio, não esteja sendo percebido pelos veículos de comunicação nem pelo seu público consumidor. Imagine uma televisão que adota um alinhamento automático com o governo de seu país, recomenda a seus repórteres que sejam patriotas, admite declaradamente a propaganda contra o “inimigo” e censura pronunciamentos de quem é contrário ao discurso oficial. Não seria uma aberração para os padrões ocidentais da chamada liberdade de expressão? Imagine então que esse canal tem o nome de Al Jazira. Seria difícil então imaginar o bombardeio que ele receberia da imprensa desse lado de cá do mundo? Mas como essa televisão não se chama Al Jazira, mas sim CNN, nossos padrões de reação são outros. (DORNELES, 2002, p. 130) 3
  • 4. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Essa citação do jornalista Carlos Dorneles deixa evidente a falta de transparência presente na cobertura jornalística quando o assunto é terrorismo e a dificuldade de olhar para o próprio desvio da função do jornalismo pelas mídias envolvidas. Ainda segundo Dorneles, A imprensa somente revela os fatos, não toma partido; não é responsável por acontecimentos, apenas os registra. Esse dogma jornalístico jamais soou tão irreal como depois do 11 de setembro. Muitos episódios, como a própria guerra do Afeganistão, tiveram participação ativa da imprensa. É impossível, hoje, separar o que foi apenas a intenção pura e simples do governo Bush e o que foi facilitado, possibilitado pela influência da mídia. (2002, p. 270) Com este trabalho, pretendemos trazer à tona como se dá a cobertura brasileira sobre os episódios de terror, se o nosso jornalismo está ou não contaminado com essas visões preconceituosas e direcionadas acerca de episódios que são notícia obrigatória. A mass culture e o Marketing do Terror Para entendermos por que e como a mídia tratou os atentados terroristas que foram analisados, é importante, primeiro, considerar alguns conceitos, tais como o que o sociólogo francês Edgard Morin chama de Cultura de Massas (mass culture). O jornalismo, assim como toda a área da comunicação de um modo geral, vai se desenvolver no mundo capitalista totalmente influenciado por essa mass culture. Segundo Morin, a cultura de massa integra e se integra ao mesmo tempo numa realidade policultural; faz-se conter, controlar, censurar (pelo Estado, pela Igreja) e, simultaneamente, tende a corroer, a desagregar as outras culturas. (...) Embora não sendo a única cultura do Século XX, é a corrente verdadeiramente maciça e nova deste século. (...) Alguns de seus elementos se espalharam por todo o globo. Ela é cosmopolita por vocação e planetária por extensão. (1962, p. 16) É a cultura da pós-Segunda Guerra, que se desenvolverá em um mundo bipolar, dividido entre o capitalismo desenfreado do Ocidente e o comunismo fechado do Oriente. Mas, por ser desenvolvida e difundida principalmente em países como Estados Unidos e França, “a cultura de massa favorecerá em profundidade, numa segunda fase, o desenvolvimento dos valores e dos modelos do individualismo, do bem-estar e do consumo.” (MORIN, 1962, p. 165) Ela terá o consumo como maior estimulante, pois “toda produção de massa destinada ao consumo tem sua própria lógica, que é a de máximo consumo” (MORIN, 1962, p. 35). E será essa lógica que fará os jornais irem se adaptando às necessidades da publicidade. 4
  • 5. Universidade Presbiteriana Mackenzie O fim da fronteira entre informação e entretenimento obrigou o telejornalismo a se adaptar ao ritmo das mensagens publicitárias: ninguém que tenha acabado de passar pelo impacto visual proporcionado pelas mensagens da Coca-Cola ou Marlboro suportaria uma sequência longa (mais do que trinta segundos) ou densa sobre algum evento. (ARBEX JR, 2002, p. 51) Para conseguir acompanhar esse ritmo, é formada uma espetacularização da notícia. “Os temas fundamentais do cinema – a aventura, a proeza, o amor, a vida privada – são igualmente privilegiados junto à informação.” (MORIN, 1962, p. 99) O fantástico e o que é considerado “cena de filme” começará a ser muito valorizado pela imprensa, especialmente a televisão que pode mostrar, em sequência, tudo o que aconteceu. Com o advento da câmera no celular, então, basta um anônimo estar no local, filmar e mandar para a emissora. Em cinco minutos essas imagens podem rodar o mundo. Essa lógica do consumo não só gera uma vontade momentânea, como uma futura também. Quanto mais a imprensa fornece essas “cenas” para o público, mais o público quer vê-las. “A presença no sensacionalismo do horrível (...) é atenuada pelo modo de consumo jornalístico; o sensacionalismo é consumado (...) à mesa.” (MORIN, 1962, p. 115) O sensacionalismo tomará conta da imprensa mundial para que ela consiga preencher essa demanda do público. E, claro, quanto maior a demanda do público, maior o interesse dos anunciantes publicitários pelo veículo. Mesmo essa lógica sendo mais antiga que a cultura de massas, já que os anúncios de produtos em um jornal vêm desde o início do século XIX, “com o tempo, tornaram-se a parte mais importante de suas receitas.” (ARBEX JR, 2002, p. 35) Essa lógica consumista cria uma nova tendência, pois se no passado a publicidade tinha como objetivo vender produtos, no mundo contemporâneo ela estabelece modelos a serem seguidos, padrões físicos, estéticos, sensuais e comportamentais. (ARBEX JR, 2002, p. 60,61) Dentro desse contexto, podemos entender melhor qual o objetivo dos responsáveis pelo ataque fazerem o que fizeram da forma que fizeram. Isso nos leva a outro conceito importante que seria o chamado Marketing do Terror, criado pelo estudioso brasileiro Francisco Paulo de Melo Neto. Mas primeiro é importante esclarecer que ele diferencia ataques chamados terroristas, como os tratados nessa pesquisa, de atos de guerra. O ato terrorista não é um ato de guerra. (...) Ao contrário, o ato terrorista é uma fúria descabida, um ato isolado, inesperado, covarde, porque surge das sombras e não dá nenhuma possibilidade de defesa. (2002, p. 21) 5
  • 6. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Porém, o próprio Francisco adverte: O ataque terrorista aos Estados Unidos demonstraram ao mundo o surgimento de um novo tipo de terrorismo. Para o especialista americano Ian O. Lesser, o novo terrorismo tem as seguintes características: utilização de ataques em maior escala com um enorme número de vítimas fatais, escolha de alvos simbólicos e ataques sem objetivos claramente definidos. (2002, p. 28) Ao estudar tais atos e sua repercussão no mundo e, em especial, nos meios de comunicação, ele criou o termo do Marketing do Terror. O qual é um tipo de marketing às avessas. Suas ações e características constituem o avesso do que denominamos de marketing moderno. Utiliza as redes de TV como promotores do seu espetáculo trágico e bárbaro. Não é uma mídia para si, mas contra si. Não investe em mídia. É a mídia que investe nele. (2002, p. 17) Assim, pode-se entender e analisar melhor como a mídia internacional (no nosso caso, a brasileira) trata de imediato atentados terroristas como os selecionados por nós. O tratamento dessas catástrofes como espetáculo é determinante na forma que a notícia é passada. É fazendo esse marketing que muitas vezes a mídia, mesmo sem saber, já começa a sua cobertura. 11 de Setembro de 2001 – Nova York A colisão de dois aviões, um da American Airlines e outro da United Airlines, nas torres do World Trade Center, em Nova York, na manhã do dia 11 de setembro de 2001 é possivelmente o atentado terrorista mais conhecido na história. As televisões ao longo do mundo inteiro passaram horas transmitindo ao vivo o que estava acontecendo e também foi assunto de grande parte das publicações impressas, inclusive no Brasil. Veja Esse fatídico dia foi uma terça-feira. A revista Veja data as suas edições na quarta-feira seguinte à distribuição, por isso, a edição Nº 1717 foi datada no dia 12 de setembro, mas chegou às bancas no domingo anterior, dia 9. A edição seguinte (Nº 1718), datada no dia 19 de setembro, é que foi distribuída no domingo seguinte ao ocorrido, dia 16 de setembro. Foi uma edição especial sobre os atentados, sem nenhuma matéria nacional ou internacional que não fosse relacionada a eles. Essa foi a edição escolhida por nós. 6
  • 7. Universidade Presbiteriana Mackenzie Tendo isso em vista, é importante levar em consideração que os jornalistas da revista tiveram por volta de cinco dias para apurar os acontecimentos e as informações oficiais divulgadas até então e escreverem suas reportagens. Tal informação é importante, pois o presente artigo fez a análise da cobertura imediata e, por mais que cinco dias pareçam um período curto de tempo, é, na verdade, um período bastante considerável, visto que os jornais diários, como a Folha, tiveram que publicar suas matérias apenas um dia depois. A imagem escolhida para a capa não foi uma montagem, algo muito frequente nas edições da revista, mas sim uma foto do exato momento em que o segundo avião sequestrado colidiu com a torre sul. Embaixo, o seguinte título: O Império Vulnerável, e ao lado, algumas chamadas para as matérias internas, escritas em branco com fundo preto, o que certamente ajuda no tom pesado da capa. Como é uma edição especial apenas sobre os atentados, as Páginas Amarelas, conhecido espaço de entrevista, a Carta ao Leitor e as colunas de opinião abordaram o assunto. Até o índice foi escrito sobre uma foto de bombeiros retirando um homem dos escombros. O único trecho da revista que não trata do assunto é a sessão A Semana, que abordou de algumas questões da política nacional. A proposta do editorial, que na revista tem o nome de Carta ao leitor, já foi exposta no título: O que incomoda o terror. Nesta parte é prevista a opinião da revista, a qual se espera que seja embasada em fatos e, no mínimo, coerente. Mas o que temos em dois grandes parágrafos é um discurso repleto de pré-julgamentos o qual prega que “o que os radicais não toleram, mais que tudo, é a modernidade”. (p. 9) E continua: “É a existência de uma sociedade em que os justos podem viver sem ser incomodados e os pobres têm possibilidades reais de atingir a prosperidade com o fruto de seu trabalho. Esse é o verdadeiro anátema dos terroristas que atacaram os Estados Unidos”. (p. 9) Além de nos fazer pensar se tal editorial foi mesmo escrito por um brasileiro, visto seu tom extremamente patriota, também nos passa a imagem de que, seja qual for o país árabe que vieram tais “fundamentalistas”, é um país regido pelo atraso, no qual o desenvolvimento e o trabalho duro não são considerados qualidades. A ideia de que os países árabes e mulçumanos são pobres, atrasados e têm inveja do progresso americano também se tornou como nas páginas dos jornais. Um contraponto (...) veio do economista americano Jeffrey Sachs. Ele escreveu um artigo negando que a cultura islâmica represente uma barreira ao crescimento. ‘É falso que algumas culturas sejam estáticas e adversárias da mudança enquanto outras sejam, de alguma maneira, singularmente modernas.’ (...) ‘A ideia de um mundo islâmico unificado e 7
  • 8. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 conservador é tão errônea quanto a de uma sociedade ocidental moderna e única’. (DORNELES, 2002, p. 222) Em suma, várias culturas, modos de vida e preceitos morais foram unificados, simplificados e destruídos em poucas linhas de um texto cheio de preconceitos e com pouquíssimo – ou nenhum – embasamento teórico. A reportagem especial, na qual a revista está toda baseada, começa com uma foto de Manhattan num dia de sol, ainda com as torres do World Trade Center, e a seguinte inscrição: Este mundo nunca mais será o mesmo. A matéria principal, A Descoberta da Vulnerabilidade, começa mesmo nas duas páginas seguintes. Dessa vez, com duas fotos que mostram o avião da United Airlines segundos antes de colidir e colidindo com a segunda torre. Como o título e a própria capa já apontavam, a matéria começa com o foco na repercussão que os atentados geraram nos Estados Unidos e no mundo. Para isso, a revista afirma que o acontecido representa o “fim do mito da invulnerabilidade do território americano” (p. 48). Mais uma vez as letras são brancas com fundo preto, o que dá um tom mais sério, pesado e até de luto a esse trecho da matéria. A matéria segue narrando o acontecido e o que o então presidente George W. Bush fez naquele dia. Para fazer um contraponto e reforçar o sentimento de vulnerabilidade proposto pela revista, os Estados Unidos são chamados de “superpotência” ou “a nação mais poderosa do planeta” (p. 50). Outro fato a se apontar é que desde o começo a matéria comete o erro da generalização, tratando sempre dos “americanos” ou do “povo americano”, como se todos os envolvidos pudessem ser definidos assim ou como se todos os cidadãos americanos pensassem da mesma maneira. A situação se agrava um pouco quando a matéria sugere que “os americanos acham que é preciso dar o troco” (p. 48), mas usa como única fonte o subsecretário de Defesa do governo Bush, Paul Wolfowitz. Tal fonte que, obviamente, confirma a tese. A opinião de diferentes cidadãos comuns, que estatisticamente representa melhor “os americanos” que apenas um homem do governo, foi dispensada. Faltou pluralidade no desenvolvimento do discurso e no uso das fontes. Nas páginas 50 e 51, além de mais uma foto do World Trade Center pegando fogo (dessa vez com a legenda: Nova York em chamas), consta um pequeno mapa que mostra a rota dos quatro aviões sequestrados naquela manhã e os seus horários de decolagem e colisão. Esse recurso, que é muito usado pela revista, ajuda o leitor a entender o percurso feito pelas aeronaves, além do preciso detalhamento do horário. 8
  • 9. Universidade Presbiteriana Mackenzie A matéria segue levantando questões que abordam a reação dos Estados Unidos e ainda dá as alternativas prováveis que Bush iria seguir. É nesse contexto que a revista usa a sua primeira fonte, que não declarações do presidente ou do subsecretário. A matéria cita um trecho do editorial do respeitado jornal americano Washington Post, o qual fala das dificuldades que Bush iria enfrentar. Nas próximas quatro páginas, somos bombardeados por fotos de prédios em chamas, escombros, pessoas chorando e até alguém se atirando de uma das torres. Mesmo que indiretamente, a revista acaba por reforçar o que os atos tanto pretendem: propagar o medo e a sensação de insegurança por meio da sua imagem. Não sabemos se o desabamento das torres fora previsto pelos terroristas. O importante é que o espetáculo de destruição maximizou a exposição do terror na mídia. Ao dar total cobertura do evento, a mídia tornara-se a grande aliada do terrorismo, como afirmam Umberto Eco e George Steiner. (MELO NETO, 2002, p. 108) Na antemão das imagens, a matéria aborda vários temas para contextualizar – ou pelo menos tentar – o leitor. Para explicar, por exemplo, essa vontade de vingança já citada foram abordados assuntos como o relativismo cultural, além do uso de mais fontes, como um ex-secretário de Estado e combatente do Vietnã e o ex-presidente do Conselho de Segurança Nacional do governo Clinton. Ambos a favor da retaliação. Mesmo essa contextualização, embora simplista, ser um ponto positivo para a matéria, ela é abalada pela pluralidade de fontes, que continua deixando a desejar, pois, embora pareça plural colocar dois homens de visões diferentes apontando para o mesmo rumo, não é. Continua faltando membros de outras classes que não seja a dos envolvidos no poder. Algumas falas parecem estar ali apenas para confirmar o discurso de vulnerabilidade e vingança proposto pela matéria. Discurso esse que, segundo Melo Neto, está previsto no objetivo dos terroristas: A lógica do marketing do terror é perfeita. Inicialmente, gera cenas de catástrofe muito admiradas pela imprensa. Com isso, assegura a sua ampla veiculação. Em seguida, desperta polêmicas de interesse da mídia: a autoria dos atentados, a cobertura das ações, a estratégia utilizada pelos terroristas, as vulnerabilidades dos Estados Unidos como país hegemônico, a natureza e a abrangência da reação americana e de seus aliados. (2002, p. 106) A matéria segue com generalizações, mas dessa vez sobre “o outro lado”. Quando começa a falar sobre a identificação dos culpados, que, a essa altura, já haviam sido identificados, a matéria insiste em falar dos “árabes” e “mulçumanos”, a única diferenciação entre qualquer grupo dentro dessas amplas definições vem nesse trecho igualmente simplista e 9
  • 10. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 preconceituoso: “Há mais de 1 bilhão de mulçumanos espalhados por quase todos os países. Na maioria, são moderados. A minoria radical, no entanto, tem uma disposição fanática para matar e morrer e se une num ódio incontrolável contra os Estados Unidos, em sua opinião um país satânico.” (p. 56 e 57) É muito difícil e improvável que o jornalista que escreveu a matéria tenha feito um estudo ou uma pesquisa abordando os mais de um bilhão de mulçumanos espalhados pelo mundo. E, mesmo se tivesse o feito, definir uma religião apenas baseado em um grupo menor é, no mínimo, uma generalização indevida. Até mesmo os mulçumanos que não são considerados radicais pela matéria são chamados de “moderados”, o que significa que, se você for um mulçumano, você tem que ser, no mínimo, moderado. A foto dividida entre as páginas 56 e 57 mostra um grupo de homens armados comemorando no meio da rua. A legenda, intitulada A favor do terrorismo, diz: “Palestinos comemoram atentados contra os americanos em um campo de refugiados no Líbano: alegria com a desgraça do ‘grande Satã’”. Esse trecho não só é repleto de pré-julgamentos, como também cria a noção dos Estados Unidos como o país correto que foram atacados pelos anticristos do século XX. É evidente que eles foram vítimas de um ataque inesperado, covarde e desumano. Isso tem que ser dito. Porém criar uma bipolaridade, na qual existe um povo “do bem” e outro povo “do mal”, é desnecessário. A luta do bem contra o mal, tão repetida pelo presidente George W. Bush em seus discursos,foi levada a sério pela imprensa e por grande parte dos pensadores acadêmicos, fartamente utilizados para satanizar o islamismo. (DORNELES, 2002, p. 219) Melo Neto complementa: No caso dos atos terroristas, os Estados Unidos são mostrados como o país “do bem”, covardemente atingido, e os terroristas, como a imagem “do mal”. O marketing do terror sabe explorar a estratégia de manipulação exercida pela mídia americana (...), bem como o seu maniqueísmo exacerbado, que se expressa nas ações de demonização dos mulçumanos, de caricaturização do islamismo e da depreciação do exotismo do Oriente. (2002, p. 113) Esse assunto é tratado na matéria Assassinato em Nome de Alá. Porém o que chama a atenção é que a sua proposta vai ao sentido inverso: de quebrar alguns preconceitos e equívocos freqüentes no que se refere aos mulçumanos. Usa como fontes professores e estudiosos de universidades respeitadas, como Harvard e USP. A matéria tenta fazer uma diferenciação entre os radicais e os chamados por ela de “moderados”, mas, assim como a anterior, acaba caindo em lugar-comum na sua narrativa. 10
  • 11. Universidade Presbiteriana Mackenzie Ela chega a tratar uma religião como raça ou doença: “Com o liberalismo religioso na maior parte do Ocidente, os mulçumanos também se espalham com alguma facilidade” (p. 82). O verbo “espalhar” está empregado de forma similar ao tratamento de uma praga ou doença contagiosa. Nela também está presente um recurso muito utilizado pela Veja: um quadro na parte inferior que resume alguns acontecimentos históricos. Nesse, intitulado A cara das guerras, propõe: “Confira como mudou a natureza dos conflitos nos últimos 500 anos, período em que consolidou o domínio da civilização cristã e ocidental no mundo.” Quadros como esse são interessantes no que desrespeito à contextualização, porém é no mínimo pretensioso definir 500 anos de história do mundo em apenas quatro pequenos parágrafos. Essa redução não é apenas simplista como favorece a generalização. Esse pequeno recorte de quatro traços importantes na história se encaixa na visão simplificadora da matéria e fica acaba parecendo o bastante, mas é, no fim, uma contextualização descontextualizada que não acrescenta muito. O Inimigo Número 1 da América é a matéria mais bem elaborada da edição. Com um título que tinha tudo para endossar preconceitos e lugar-comum, a matéria não só dá um resumo da biografia de Osama Bin Laden, como dá também um pequeno histórico, não tão detalhado, de alguns ataques terroristas que os Estados Unidos sofreram. A matéria não demoniza nem glorifica o líder acusado dos atentados e, ao final, como nada foi provado, chega até a assumir que ele pode ser ou não o responsável. Ainda sim, o tom presente na edição como um todo já é representado no editorial, no final, especialmente: “Eles [terroristas/fundamentalistas/mulçumanos] são enviados da morte, da elite teocrática, medieval, tirânica que exerce o poder absoluto em seus feudos. Para eles, a democracia é satânica”. (p. 9) A generalização os torna iguais. Eles são todos parecidos e maus. Diferentes de “nós”, o Ocidente, democrático e justo. “Nós” somos o bem e “eles”, o mal. A edição especial conta com mais algumas matérias que tratam do assunto, como a reação de alguns passageiros dos aviões seqüestrados ou filmes americanos que tratam de terrorismo, mas que não são interessantes para a análise proposta aqui, pois não chegam a tratar dos ataques em si ou dos responsáveis. Folha de São Paulo Já no dia seguinte, quarta-feira, dia 12 de setembro, a Folha de S. Paulo publicou mais de vinte matérias, entre notícias e colunas de opinião, sobre os atentados. Embora a pesquisa 11
  • 12. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 aborde a cobertura imediata como um todo, algumas matérias, tais como sobre a repercussão econômica e relacionadas ao Brasil, não são interessantes, pois não nos ajudam a ver como a mídia trata o terrorismo. A manchete e a capa dessa edição, como não poderiam deixar de ser, tratam dos ataques. A manchete EUA SOFREM MAIOR ATAQUE DA HISTÓRIA – sim, em caixa alta – é ilustrada pela repetida imagem do exato momento em que o avião 747 da United Airlines bate na torre sul do World Trade Center. Pelos alvos escolhidos, todos de grande valor simbólico para os americanos, o terror seduziu a mídia com o espetáculo de suas imagens. É o marketing do terror produzindo imagens de impacto para a mídia. (MELO NETO, 2002, p. 104) A imagem é tão surreal que parece vir da ficção. Parece que estamos prestes a abrir um livro, a vermos um espetáculo. Sob a legenda um pouco sensacionalista de Guerra na América, temos quase certeza que, dentro dessas páginas, presenciaremos algo fantástico. O universo do sensacionalismo tem isso em comum com o imaginário (...): infringe a ordem das coisas, viola os tabus, compele ao extremo a lógica das paixões. (...) É esse universo do sonho vivido, da tragédia vivida e de fatalidade que valorizam os jornais modernos do mundo ocidental. (MORIN, 1962, p. 100) Dentre várias matérias informativas, sobre atrasos nos aeroportos e confusão nas linhas telefônicas, a matéria escrita por Sérgio Dávila, um dos enviados da Folha em Nova York, chama atenção. Escrita de forma narrativa, em Horror em Nova York – Corpos e destroços compõem o cenário, o jornalista conta de forma detalhada como foi o seu trajeto do prédio do jornal até o World Trade Center, á quinze quadras. Ele narra não só o efeito físico nos arredores causado pelo desabamento de uma das torres, como a reação das pessoas que se encontravam na rua. Um bom exemplo de jornalismo literário que não se prendeu a clichês e pode dar a nós, que estávamos há milhares de quilômetros, uma noção de como as coisas estavam por lá. Já outras matérias como Crianças de Nova York enfrentam clima de guerra após atentado e NY vive caos, com filas parar doar sangue e estocar comida e dinheiro não são propriamente sensacionalistas, mas, mesmo sem saber, aderem ao mecanismo quase automático de usar palavras de efeito, como “colapso”, “guerra” e “caos”, para narrar os acontecimentos. O que não é falso ou talvez nem indevido, é apenas digno de se ressaltar. 12
  • 13. Universidade Presbiteriana Mackenzie Uma das matérias que mais chama a atenção na edição é “Nações renegadas” podem ter colaborado. Escrita por um jornalista enviado aos Estados Unidos, a matéria já começa mostrando de onde veio a opinião expressa no título: “Uma opinião era dominante entre as dezenas de analistas ouvidos ontem pelas TVs americanas”. Especialista por especialista e veículo por veículo, ele vai reproduzindo as opiniões que, como já dito, convergem em um ponto dominante: que o grupo terrorista não agiu sozinho, mas teve ajuda de países como Afeganistão, Iraque, Irã ou Líbia. O interessante a se ressaltar nessa matéria não é apenas questionar por que um correspondente dentro dos Estados Unidos precisou recorrer às TVs americanas e não foi atrás das suas próprias fontes, mas sim ressaltá-la como uma prova de que a Folha de S. Paulo acabou aderindo às infundadas opiniões que tomaram conta de alguns veículos americanos. Ao invés de ir atrás de outras fontes e escrever uma matéria que confirme ou não tais opiniões, o jornal preferiu pegar depoimentos de especialistas em TVs locais para tomar como verdade única. É cabível perguntar o que acha, então, um especialista (ou estudioso) de algum dos países acusados de darem apoio ao grupo. Será que a opinião continuaria “dominante”? Em sua coluna de opinião, intitulada Zona de Guerra, Janio de Freitas é o primeiro a fazer um levantamento interessante, que sempre é lembrado por estudiosos do assunto: no mesmo dia dos ataques, por exemplo, os Estados Unidos estavam bombardeando o Iraque. Sem se dar conta ou se importar, a imprensa compra uma briga – a Folha e a Veja seguiram esse caminho – de forma completamente imparcial e injusta. O fato de os atentados terroristas terem sido cometidos por árabes mulçumanos, informação que ainda não havia sido provada no dia seguinte, já é motivo para que a mídia faça julgamentos sobre todo um povo e uma cultura. Tais opiniões que, na maioria das vezes, não têm embasamento teórico nenhum são passadas como verdade absoluta para o público. O bombardeio americano foi ignorado pelos dois veículos pesquisados. Nenhum julgamento moral, como foi feito repetidas vezes com o povo árabe, foi feito com a atitude americana. A coluna do Janio de Freitas elucida isso. É na quinta-feira, dia 13 de setembro, que um dos principais nomes do jornal se pronuncia em uma coluna, intitulada Guerra Invisível, assinada por ele. Otávio Frias Filho, ao invés de fazer um julgamento ou análise do ato terrorista em si, faz uma pequena retrospectiva do cenário do terrorismo internacional e fala das possíveis conseqüências de tais atos. Quase dez anos depois, podemos ver que ele acertou em algumas de suas previsões, como “um presidente até aqui fraco deverá fortalecer-se por efeito da coesão nacionalista interna” 13
  • 14. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 (George W. Bush foi reeleito em 2004, dessa vez, sem questionamento na contagem de votos) e “intervenções em nome da ‘civilização’, como nas guerras do Golfo e dos Bálcãs, contarão com apoio internacional mais amplo e talvez se tornem rotina” (em resposta direta, os Estados Unidos começaram a Guerra do Afeganistão, que não acabou até hoje, e foram apoiados por países como o Reino Unido). Mais lúcido que a maioria, o artigo de Frias Filho não se refere ao que aconteceu em Nova York como “guerra”, o nome que consta no título se refere a o que, segundo ele, seria o substituto da Guerra Fria, previsão essa que ainda não pode ser confirmada ou descartada. Nessa edição também consta uma reunião de análises sobre diferentes pontos ligados aos ataques. Dentre elas, está a entrevista de Maurício Santos Dias com o historiador Kennedy Maxwell. Com perguntas diretas e bem feitas, o jornalista toca em pontos como a situação dos árabes residentes nos Estados Unidos, a atitude da imprensa e a reação americana. Porém o melhor texto dessa edição, e provavelmente de toda a cobertura, foi um artigo do escritor israelense Asmo Oz. O texto aborda o assunto de uma forma sensível e extremamente sensata, sem fazer julgamento nenhum, nos lembra: “nenhum ser humano decente se esqueça de que a imensa maioria dos árabes e outros muçulmanos não é cúmplice do crime nem se regozija com ele. Quase todos estão tão chocados e aflitos quanto o resto da humanidade”. Tal afirmação, evidentemente, parece óbvia, porém, como estamos mostrando, esse sentimento de vingança e ódio levou a muitos, inclusive membros da imprensa, proferirem palavras preconceituosas e generalizadas em relação às pessoas de origem árabe ou da religião mulçumana. Ainda mais por não ter sido um texto escrito para o jornal, foi um ponto alto de sua cobertura tê-lo publicado. Na sexta-feira, dia 14 de setembro, mais uma vez, além das matérias técnicas sobre os seguros e a paralisação da Bolsa, o que mais chama atenção são os comentários, artigos e análises. Milly Lacombe, enviada da Folha em Los Angeles, entrevistou Larry Wright, escritor de Nova York Sitiada – que virou filme – e escreveu um artigo. No livro (1997) e no filme (1998), a cidade fica sob lei marcial no comando do exército enquanto terroristas detonam bombas. Os terroristas culpados eram árabes. O artigo, intitulado A Profecia, é prudente ao lembrar que ainda não se sabia naquele dia quais eram os culpados, os “inimigos”. Uma das partes que ela transcreve é um importante lembrete proferido por Wright: “Isso me apavora. Não podemos cair na tentação nazista de generalizar e eleger uma raça como inimiga." 14
  • 15. Universidade Presbiteriana Mackenzie Outra análise do mesmo dia que aborda e ficção é o artigo de Sérgio Rizzo chamado Fantasia nunca se atreveu a imitar o horror da realidade. Ele faz uma abordagem sobre vários momentos do cinema os quais tiveram relação com o tema, como filmes sobre sequestro de avião e os chamados “filmes-catástrofe”. Marcio Aith, de Washington, escreveu um comentário que trata sobre o preconceito que os árabes e descendentes estavam sofrendo. Ele próprio, descendente de sírios e libaneses, chegou a sofrer preconceito. Os temas patriotismo e insegurança foram abordados por Álvaro Pereira Júnior, enviado especial em São Francisco. No texto Patriotismo toma conta dos americanos em todo o país, ele expõe como o patriotismo e amor à bandeira americana aumentaram em grande escala após os ataques e lembra que “comunidade islâmica enfrenta manifestações de hostilidade”. A edição trás ainda uma matéria sobre um marroquino preso no Brasil que disse ter informações privilegiadas sobre os atentados. Até a embaixada americana no Brasil e o FBI entraram no caso que, como lembrou o jornal, poderia não passar de um blefe. Mas serve para expor o clima que estava instalado, não só nos Estados Unidos. A Folha do dia 15 de setembro, um sábado, trouxe duas matérias sobre o comportamento americano e o comportamento mundial perante os ataques. Em Bush é ovacionado em visita a NY, Sérgio Dávila mostra que, mesmo o presidente que enfrentava oposição na cidade e estado de Nova York, foi muito aplaudido e elogiado devido ao clima de euforia patriota. Em Mundo unido contra o terror, o jornal fala das diversas manifestações que ocorreram ao redor do mundo em memória às vitimas, mas lembrou ainda que, mesmo havendo milhares de mulçumanos prestando homenagens, vários templos foram pichados e o clima de xenofobia estava aumentando no país. Mais um artigo escrito por Marcio Aith, Mídia filtra tragédia e poupa Bush, trás uma análise interessante para a pesquisa. Segundo ele, o clima patriótico presente no país durante aqueles dias guiou o tratamento dos jornais norte-americanos em relação a Bush. “A prioridade dos meios de comunicação tem sido a de ‘curar’ feridas emocionais causadas pelo desastre na população”, escreveu ele. Isso fez com que a imprensa e as redes televisivas transmitissem mais e mais as imagens e dramas pessoais das famílias, mas não fizesse perguntas chaves, como, por exemplo, como os terroristas conseguiram furar o sistema de inteligência americano, considerado o melhor do mundo. Um dos editoriais publicados nesse dia foi mais um ponto alto da cobertura da Folha. Intitulado de Pela Culatra, ele trata do preconceito contra o mundo árabe e como os ataques podem ter afetado Estados como o da Palestina. Ele ressalta um ponto importantíssimo, que 15
  • 16. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 foi ignorado pela revista Veja: analisa que, mesmo não tendo ainda certeza dos culpados, fica difícil não associar à imagem árabe, já que várias imagens e vídeos exibem comemoração nas ruas, todavia, o jornal lembra que “a esmagadora maioria dos palestinos, como a esmagadora maioria dos seres humanos, condena com vigor crimes dessa natureza”. Fala ainda que já culpar os árabes pelos ataques é “uma visão distorcida e com contornos racistas”. Foi um editorial bem escrito, analítico e nada hipócrita. O jornal publicou ainda uma análise financeira de Andrew Hill, do Financial Times, sobre os efeitos dos atentados no mercado, intitulada Amanhã é o dia D. O último dia previsto na nossa análise, 16 de setembro, o domingo, teve duas análises de colunistas sobre o antiamericanismo, que, em contraponto à crescente xenofobia nos Estados Unidos, vinha também crescendo no mundo. Contardo Calligaris em uma grande análise da ação terrorista chamada A face oculta do antiamericanismo faz a seguinte pergunta sobre os ataques a um dos maiores símbolos americanos: “o show era para quem?”. Explica que a aposta dos terroristas era que, em vários lugares do mundo, muita gente gostou de ver um dos maiores símbolos do capitalismo e materialismo ser derrubado. O imaginário foi à mil. Citando pesquisas feitas pelas redes de televisão e sites, ele mostra que a grande maioria dos americanos entrevistados era a favor de uma retaliação. Esta briga de sentimentos repercutiu no mundo inteiro. Para ele, era um bom momento para reflexão sobre todas essas questões. Já para Elio Gaspari, em Celso Furtado comprou a teoria do Grande Satã, esse antiamericanismo cresceu no Brasil, e isso se deve em parte a um sentimento de inferioridade presente em nós. Ambos tentam mostrar que muitas vezes culpamos os Estados Unidos por problemas internos. O que é interessante na publicação dos dois artigos é mostrar que a Folha, pelo menos nessas cinco primeiras edições, não embarcou em sentimento algum. Não formou um “lado bom, lado ruim”, seja ele os Estados Unidos ou qualquer país árabe. A análise sobre os acontecimentos está mais presente no jornal diário que, com o passar dos dias, foi dedicando cada vez menos espaço para o ocorrido. Conclusão Ao se fazer a análise mais detalhada da cobertura feita pelas duas mídias, podemos chegar a certas conclusões – algumas alarmantes – sobre cada cobertura específica e sobre algumas diferenças entre elas. 16
  • 17. Universidade Presbiteriana Mackenzie A falta de cuidado com as generalizações foi muito presente na cobertura da Veja. A maioria do material publicado não procurou diferenciar a nacionalidade dos cidadãos árabes, como se identificá-los como “árabes” fosse o bastante. Raramente lê-se “iraquianos”, “paquistaneses” ou “iranianos”, são todos “árabes”. A situação piora quando a generalização parte para a religião. Não são apenas árabes, são mulçumanos. Para a revista, não importa se o cidadão nasceu no Afeganistão ou nos Estados Unidos, sendo mulçumano, ele só tem duas escolhas: ser “radical” ou “moderado”. Mais que uma generalização, é um preconceito. Já a Folha de S. Paulo procurou não criar muitos rótulos. Pouquíssimas vezes foram usados em suas análises termos de generalização. Isso denota outro grave problema presente durante quase toda a cobertura da Veja: a falta de embasamento teórico. Quando se trata com uma cultura tão diferente da nossa, espera- se que seja feito com cuidado, para que o jornalista mostre o diferente para o leitor, e não endosse os preconceitos. Mas essa cobertura, tratando os mulçumanos desse modo, por exemplo, fez o contrário: rotulou e tratou de forma simplista misturando culturas, nações e religião. Passa a impressão que tudo é um só. Enquanto isso, os ensaios da Folha procuraram emitir suas opiniões, em sua maioria, embasadas em pesquisas, entrevistas e vivência (já que havia enviados por todo o país). Na revista Veja, como já foi dito, foram raras as vezes em que as matérias foram apresentadas com algum contexto histórico ou cultural necessário. Quando isso ocorreu, como no uso do quadro citado, foi de forma rasa e nada esclarecedora. O leitor foi apresentado a um grande número de informações, a maioria delas relatava os acontecimentos recentes e outra parte tentava explicar o porquê desses acontecimentos. Nessa segunda parte está o problema. Ao tentar fazer essa explicação, regidas pelo editorial, as matérias analisadas caiam no lugar comum do preconceito, cometendo o erro que Francisco de Melo Neto advertiu: confundir atos terroristas com atos de guerra. E pior: a revista reforçou a ideia de que era uma guerra do Ocidente contra o Oriente. Muitas vezes tínhamos a impressão de que o ataque terrorista estava ameaçando não só a democracia norte-americana, como a mundial, inclusive a brasileira. Ao fazer essa leitura mal embasada, a revista reforçou o objetivo do ato terrorista: propagou insegurança e fixou a marca do medo. Todavia, em parte por ser um jornal, quase todas as matérias presentes na Folha não tinham nem um histórico. Como vimos, ao tratar de vários incidentes, raramente era construído um quadro contextualizado. 17
  • 18. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Ambas as coberturas também não pouparam em imagens. Desde as imagens das torres explodindo até imagens de pessoas se jogando delas. Legendadas com mensagens sensacionalistas como Nova York em chamas, elas foram determinantes na formação de um clima de insegurança e medo. Em suma, tudo que um atentado pretende. Por fim, a grande diferença entre a cobertura da Veja e da Folha está presente na parte que deveria, teoricamente, ser a mais analítica e coerente: o editorial. Sem fundamento teórico algum, do começo ao fim, a Carta ao leitor não só reforçou preconceitos como muniu os preconceituosos de novos argumentos infundados. Sem deixar bem claro se está se referindo especificamente aos terroristas que atacaram os Estados Unidos ou aos mulçumanos ou árabes de uma forma geral, lemos uma carta de repúdio. Mas não de repúdio apenas aos ataques, a generalização é tão grande e tão mal feita que deixa o leitor em dúvida se o repúdio não é a todo um povo. Já a Folha teve os editorias – um deles assinado, inclusive – e as análises de opinião seu ponto forte, pois vários assuntos acerca dos atentados, principalmente mídia e preconceito, foram discutidos nesses espaços de forma analítica e na maioria das vezes coerentes. O jornal, no entanto, pecou ao, muitas vezes, usar como fonte redes de televisão americanas. Uma cobertura como a feita pela revista Veja não deve ser pensada apenas como um exercício mal feito de jornalismo, mas também como uma questão ética, que não está na proposta deste trabalho analisar. Porém, ao publicar matérias com tantas falhas, a revista deixa o leitor leigo, que confia nela para se informar, a mercê de preconceitos. É trabalho do jornalista e dos veículos midiáticos passarem a informação da maneira mais imparcial possível e com menos preconceitos arrobados. A cobertura de uma revista tão respeitada não tomou esse cuidado e, em alguns momentos, fez o contrário: reforçou preconceito contra uma religião, algumas nações e algumas culturas. Sem querer eleger qual o melhor veículo, ambas tiveram seus pontos altos e baixos, só que uma teve mais pontos que positivos e a outra, mais negativos. São nesses pontos positivos, como textos analíticos e mais imparciais possível, que devemos nos espelhar para fazer bom jornalismo. Referências ARBEX JR, J. Showrnalismo: A notícia como espetáculo. São Paulo: Casa Amarela, 2002. DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Projeto Periferia: eBookLibris, 2003. Presente no endereço: <http://www.ebooksbrasil.com/eLibris/socespetaculo.html> DORNELES, C. Deus é inocente: a imprensa, não. 4. ed. São Paulo: Globo, 2005. 18
  • 19. Universidade Presbiteriana Mackenzie Folha Online: banco de dados. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/conheca/>. Acesso em 02 de abril de 2011. MELO NETO, F. P. Marketing do Terror. São Paulo: Contexto, 2002. MORIN, E. Cultura de Massas no Séc. XX: Neurose. 3ª ed. São Paulo: Forense Universitária, 2009. Publiabril: banco de dados. Disponível em: <http://publicidade.abril.com.br/marcas/veja/revista/informacoes-gerais> Acesso em 02 de abril de 2011. WAINBERG, J. A. Mídia e terror: Comunicação e violência política. São Paulo: Paulus, 2005. Contato: lucas.bteixeira@gmail; denise.paiero@mackenzie.br 19