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CHUPUNGCO, Anscar. A liturgia do futuro: processos de inculturar;ao.
                                                           Sao Paulo: Paulinas, 1992 (liturgia e Teologia), p. 1-79.
                                                CONSTITUI<;AO DOGMA TICA SACROSANCTUM CONCILIUM
                                                 DO CONCILlO VA TICANO II, Sao Paulo: Paulus, 2001, p. 33-50.



            A reforma do Vaticano II usou como modelo a liturgia romana classica ou pura (as formas
limrgicas usadas em Roma antes de serem adaptados elementos franco-germanicos                   por volta do seculo
oitavo). A estrutura da liturgia romano classica e simples e sua linguagem e s6bria e direta (apela ao
intelecto). Portanto, a reforma da Sacrosanctum Concilium (SC) segue fielmente              0   esquema do modelo
chissico da liturgia romana: "Os ritos devem ser assinalados por nobre simplicidade; devem ser breves e
claros, evitando repetiyoes inuteis; devem acomodar-se a capacidade de compreensao do povo e, regra
geral, nao necessitar de muita explicayao".
            Durante quatro seculos depois do Concilio de Trento, prevaleceu na Igreja            0   ritualismo rigido
devido razoes bastante compreensiveis            ate para as pessoas de hoje, pois uma liturgia escrupulosa e .
minuciosamente defmida se tomou           0   simbolo da estabilidade da Igreja diante da desenfreada inovayao.
Como afirmava       0   Papa Clemente VIII "Uma vez que somos urn s6 corpo e participamos do corpo unico
de Cristo, seria mais adequado que todos observassemos uma s6 e mesma maneira de celebrar a missa"]
Hoje,   0   tern a da flexibilidade na liturgia passa a ser de extrema importancia (SC 37-40) porque a SC
deseja fomentar a vida crista e permitir adaptayoes as exigencias do nosso tempo, principalmente
naquelas instituiyoes que sac passiveis de mudanya, fazendo tudo que favoreya a uniao dos crentes com
Cristo e 0 revigoramento de tudo que contribui para chamar a todos aO ceio da Igreja [1].




                                      "Deus, que quer salvar a todos os homens
                   efazer com que todos cheguem ao conhecimento da verdade" (lTm 2,4)[5].


            A obra da redenyao humana e da glorificayao de Deus tern         0   seu apice em Jesus Cristo, pois do
lado do Cristo agonizante na cruz nasce             "0   adminivel sacramento de toda a Igreja" [5]. A Igreja
perpetua     0   Sacramento de Cristo que, como enviado pelo Pai, envia os ap6stolos, cheios do Espirito
Santo, e neles envia hoje a Igreja a todos os horn ens e mulheres do nosso tempo. Para realizar tao
grande obra, Cristo esta presente em sua Igreja (Mt 18,20), porque toda vez que comemos da ceia do
Senhor, anunciamos a sua morte ate que ele venha [6]. Cristo esta realmente presente em sua Igreja e
por isso a Liturgia e     0   exercicio da funyao Sacerdotal de Cristo como mediador entre os homens e           0   Pai.
Por isso toda celebrayao limrgica e obra de Cristo Sacerdote e do seu corpo mistico [9]. Portanto, a
liturgia e        0   cume para   0   qual se dirige toda.a ayao da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde emana
toda a sua forya [10].


Necessidade de promover a reforma liturgica.
              E   desejo ardente da mae Igreja que todos os fieis cheguem aquela plena, consciente e ativa
participayao na celebrayao Iiturgica que a propria natureza da liturgia exige e a qual                     0    povo cristao,
"raya escolhida, sacerdocio               real, nayao santa, povo adquirido"      (lPd 2,9; cf. 2,3-5), tern direito e
obiigayao, por forya do seu batismo [14]. A liturgia seja tanto para                0   clerc como para     0   povo cristao
considerada uma das disciplinas mais importante e necessaria para a vida da Igreja [16]. Portanto, com
paciencia prccurem os pastores de almas dar a formayao liturgica e promovam tambem a participayao
ativa dos fieis [19].


Reforma da Sagrada Liturgia - Tradil;ao e progresso.
     A santa mae Igreja, para permitir           0   acesso mais segura a Sagrada Liturgia, deseja fazer uma acurada
reforma geral da liturgia. Os textos e as cerimonias devem ser ordenados de tal modo que de fato
exprimam mais claramente                  as coisas que eles significam e     0   povo cristao possa compreende-Ias
 facilmente, a medida do possivel, e tambem participar plena e ativamente das ayoes comunitarias [21].


1. As ayoes liturgicas nao sao ayoes privadas, mas pertencem a todo                      0   corpo da Igreja conforme a
     diversidade de ordens e oficios (Ministerios)              [26] em vista da promoyao e participayao ativa dos
     fieis.
2.   Para que fique evidente a ligayao entre a Palavra de Deus e a Liturgia, seja concedido                0    direito para   0

     uso da lingua dos povos (vemaculo) nos textos e nas orayoes liturgicas [35-36].
3.   A Igreja nao deseja impor uma rigida uniformidade para aquelas coisas que nao dizem respeito a fe
     ou ao bem de todos. Portanto, a Igreja considera combenevolencia                   tudo que nos seus costumes nao
     esta indissoluvelmente            ligado a superstiyao e ao eITO,e, quando possivel,    0   conserva inalterado, e por
     vezes ate         0   admite na propria liturgia, conquanto esteja de acordo com as normas do verdadeiro e
     autentico espirito litillgico [37]. De-se lugar as legitimas variayoes e adaptayoes ao Rito Romano e,
     sobretudo nas missoes ... [38].




              Alem da adaptayao,           a historia mostra que no decorrer dos seculos a Igreja empregou a
 aculturayao e a criatividade              para desenvolver   a formayao liturgica. A aculturayao opera dentro da
 dinamica de integrayao cultural, ou melhor, trata-se de urn encontro inicial entre duas realidades que
 tern interesses a proteger (Apresentayao de duas culturas). Na aculturayao, compreendemos                        claramente
 o que pode ter acontecido na empreitada evangelizadora de nossos povos, pois, muitas vezes, a liturgia
pode tomar elementos culturais dos povos sem assimila-Ios intemamente,                        isto e, sem permitir que eles
se torn em parte e parcela de sua linguagem e de suas expressoes rituais. Um exemplo classico e a
maneira como a liturgia era aculturada no periodo barroco (retrocesso para a acultura~ao litu.rgica).
Portanto, a acultura~ao e a intera~ao entre a liturgia Romana e a cultura local. Contudo, nao e estado de
coisa permanente, porque a intera~ao e a justaposi~11.o(a~oes externas) sozinhas nao podem satisfazer
plenamente os requisitos da atualiza~ao genuina almejada pelo Vaticano II. Portanto, a acultura~ao e
uma abordagem inicial precisando-se desenvolver e transformar-se na dinamica de inser~ao cultural e da
assimila~ao interior de formas culturais. Em outras palavras, ela deve levar a incultura~ao.




         o termo    foi assumido pel a Igreja na alocu~ao a Comissao Biblica Pontificia em 1979, por Joao
Paulo II, "em comparal(ao ao misterio da encarnal(ao". A incultural(ao e urn neologismo lirurgico, mas a
ideia n11.o nova para a liturgia, pois se
          e                                    0    partir   0   pao,   0   batismo, a imposil(ao de maos e a un~ao dos
doentes podem ser aceitos como exemplos de incultura~ao, entao a pratica remonta a Cristo e a seus
discfpulos. A historia da liturgia romana apresenta do is exemplos excelentes de incultural(ao: 1. A forma
c1<issicaque floresceu em Roma depois do sec. N e 2. A forma franco-germanica                           que se desenvolveu
no periodo carolfngio. A incultural(ao da liturgia e um meio viavel em dois sentidos: 1. Antropologico
(permite que    0   fiel possa vivenciar a sua fe com forma e linguagem coerente a sua cultura) e 2.
Teologico (atualiza a radicalidade do misterio Pascal de Cristo a comunidade de fe). Por exemplo, nos
textos de Hipolito de Roma, encontramos             0   usa de "leite e mel" juntos a eucaristia. Essa mistura fazia
eco a tradil(ao biblica da promessa de uma terra que corra "lei de mel", mas, mesmo nao tendo mandado
(fundamental(ao) biblica foi aceito na liturgia por causa da indole do povo romano que dava essa mistura
as crianl(as como sinal de sua acolhida no seio familiar. Portanto, atraves da tipologia biblica, os
elementos culturais eram elevados a esfera da historia da Salval(ao, ao mesmo tempo, tornavam-se
expressoes das obras de Deus no seio da historia humana. Portanto, a incultural(ao nao e uma a~ao
unilateral   e nao consiste     apenas   em observar             princfpios      teologicos    e lirurgicos.    Precisa haver
reciprocidade e respeito mutuo entre liturgia e cultura, po is a cultura tambem possui suas categorias, sua
dinamica e suas leis intrinsecas. A liturgia nao deve impor a cultura urn sentido ou peso estranho a sua
natureza, pois uma incultural(ao autentica respeita                 0       processo   de transcultura~ao.     A incultura~ao
evidentemente       possui os seus riscos, pois, no sec. III, Hipolito de Roma pedia com insistencia aos
bispos que explicassem cuidadosamente           0   sentido da ta~a de "leite e mel" aos neofilos na comunidade
para que nao fosse confundida com        0   sacramento do sangue de Cristo. Embora a prudencia seja mae das
virtudes, cabe ter sempre cuidado, pois certos riscos sempre acompanhara                        0   progresso legitimo. Se a
historia tem algo a nos ensinar sobre falhas e insucessos, tem muito a contar-nos do ganho e verdadeiro
progresso que a fe fez e faz na Igreja da historia ainda hoje.

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Reforma litúrgica do Vaticano II: tradição, progresso e inculturação

  • 1. CHUPUNGCO, Anscar. A liturgia do futuro: processos de inculturar;ao. Sao Paulo: Paulinas, 1992 (liturgia e Teologia), p. 1-79. CONSTITUI<;AO DOGMA TICA SACROSANCTUM CONCILIUM DO CONCILlO VA TICANO II, Sao Paulo: Paulus, 2001, p. 33-50. A reforma do Vaticano II usou como modelo a liturgia romana classica ou pura (as formas limrgicas usadas em Roma antes de serem adaptados elementos franco-germanicos por volta do seculo oitavo). A estrutura da liturgia romano classica e simples e sua linguagem e s6bria e direta (apela ao intelecto). Portanto, a reforma da Sacrosanctum Concilium (SC) segue fielmente 0 esquema do modelo chissico da liturgia romana: "Os ritos devem ser assinalados por nobre simplicidade; devem ser breves e claros, evitando repetiyoes inuteis; devem acomodar-se a capacidade de compreensao do povo e, regra geral, nao necessitar de muita explicayao". Durante quatro seculos depois do Concilio de Trento, prevaleceu na Igreja 0 ritualismo rigido devido razoes bastante compreensiveis ate para as pessoas de hoje, pois uma liturgia escrupulosa e . minuciosamente defmida se tomou 0 simbolo da estabilidade da Igreja diante da desenfreada inovayao. Como afirmava 0 Papa Clemente VIII "Uma vez que somos urn s6 corpo e participamos do corpo unico de Cristo, seria mais adequado que todos observassemos uma s6 e mesma maneira de celebrar a missa"] Hoje, 0 tern a da flexibilidade na liturgia passa a ser de extrema importancia (SC 37-40) porque a SC deseja fomentar a vida crista e permitir adaptayoes as exigencias do nosso tempo, principalmente naquelas instituiyoes que sac passiveis de mudanya, fazendo tudo que favoreya a uniao dos crentes com Cristo e 0 revigoramento de tudo que contribui para chamar a todos aO ceio da Igreja [1]. "Deus, que quer salvar a todos os homens efazer com que todos cheguem ao conhecimento da verdade" (lTm 2,4)[5]. A obra da redenyao humana e da glorificayao de Deus tern 0 seu apice em Jesus Cristo, pois do lado do Cristo agonizante na cruz nasce "0 adminivel sacramento de toda a Igreja" [5]. A Igreja perpetua 0 Sacramento de Cristo que, como enviado pelo Pai, envia os ap6stolos, cheios do Espirito Santo, e neles envia hoje a Igreja a todos os horn ens e mulheres do nosso tempo. Para realizar tao grande obra, Cristo esta presente em sua Igreja (Mt 18,20), porque toda vez que comemos da ceia do Senhor, anunciamos a sua morte ate que ele venha [6]. Cristo esta realmente presente em sua Igreja e por isso a Liturgia e 0 exercicio da funyao Sacerdotal de Cristo como mediador entre os homens e 0 Pai. Por isso toda celebrayao limrgica e obra de Cristo Sacerdote e do seu corpo mistico [9]. Portanto, a
  • 2. liturgia e 0 cume para 0 qual se dirige toda.a ayao da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde emana toda a sua forya [10]. Necessidade de promover a reforma liturgica. E desejo ardente da mae Igreja que todos os fieis cheguem aquela plena, consciente e ativa participayao na celebrayao Iiturgica que a propria natureza da liturgia exige e a qual 0 povo cristao, "raya escolhida, sacerdocio real, nayao santa, povo adquirido" (lPd 2,9; cf. 2,3-5), tern direito e obiigayao, por forya do seu batismo [14]. A liturgia seja tanto para 0 clerc como para 0 povo cristao considerada uma das disciplinas mais importante e necessaria para a vida da Igreja [16]. Portanto, com paciencia prccurem os pastores de almas dar a formayao liturgica e promovam tambem a participayao ativa dos fieis [19]. Reforma da Sagrada Liturgia - Tradil;ao e progresso. A santa mae Igreja, para permitir 0 acesso mais segura a Sagrada Liturgia, deseja fazer uma acurada reforma geral da liturgia. Os textos e as cerimonias devem ser ordenados de tal modo que de fato exprimam mais claramente as coisas que eles significam e 0 povo cristao possa compreende-Ias facilmente, a medida do possivel, e tambem participar plena e ativamente das ayoes comunitarias [21]. 1. As ayoes liturgicas nao sao ayoes privadas, mas pertencem a todo 0 corpo da Igreja conforme a diversidade de ordens e oficios (Ministerios) [26] em vista da promoyao e participayao ativa dos fieis. 2. Para que fique evidente a ligayao entre a Palavra de Deus e a Liturgia, seja concedido 0 direito para 0 uso da lingua dos povos (vemaculo) nos textos e nas orayoes liturgicas [35-36]. 3. A Igreja nao deseja impor uma rigida uniformidade para aquelas coisas que nao dizem respeito a fe ou ao bem de todos. Portanto, a Igreja considera combenevolencia tudo que nos seus costumes nao esta indissoluvelmente ligado a superstiyao e ao eITO,e, quando possivel, 0 conserva inalterado, e por vezes ate 0 admite na propria liturgia, conquanto esteja de acordo com as normas do verdadeiro e autentico espirito litillgico [37]. De-se lugar as legitimas variayoes e adaptayoes ao Rito Romano e, sobretudo nas missoes ... [38]. Alem da adaptayao, a historia mostra que no decorrer dos seculos a Igreja empregou a aculturayao e a criatividade para desenvolver a formayao liturgica. A aculturayao opera dentro da dinamica de integrayao cultural, ou melhor, trata-se de urn encontro inicial entre duas realidades que tern interesses a proteger (Apresentayao de duas culturas). Na aculturayao, compreendemos claramente o que pode ter acontecido na empreitada evangelizadora de nossos povos, pois, muitas vezes, a liturgia
  • 3. pode tomar elementos culturais dos povos sem assimila-Ios intemamente, isto e, sem permitir que eles se torn em parte e parcela de sua linguagem e de suas expressoes rituais. Um exemplo classico e a maneira como a liturgia era aculturada no periodo barroco (retrocesso para a acultura~ao litu.rgica). Portanto, a acultura~ao e a intera~ao entre a liturgia Romana e a cultura local. Contudo, nao e estado de coisa permanente, porque a intera~ao e a justaposi~11.o(a~oes externas) sozinhas nao podem satisfazer plenamente os requisitos da atualiza~ao genuina almejada pelo Vaticano II. Portanto, a acultura~ao e uma abordagem inicial precisando-se desenvolver e transformar-se na dinamica de inser~ao cultural e da assimila~ao interior de formas culturais. Em outras palavras, ela deve levar a incultura~ao. o termo foi assumido pel a Igreja na alocu~ao a Comissao Biblica Pontificia em 1979, por Joao Paulo II, "em comparal(ao ao misterio da encarnal(ao". A incultural(ao e urn neologismo lirurgico, mas a ideia n11.o nova para a liturgia, pois se e 0 partir 0 pao, 0 batismo, a imposil(ao de maos e a un~ao dos doentes podem ser aceitos como exemplos de incultura~ao, entao a pratica remonta a Cristo e a seus discfpulos. A historia da liturgia romana apresenta do is exemplos excelentes de incultural(ao: 1. A forma c1<issicaque floresceu em Roma depois do sec. N e 2. A forma franco-germanica que se desenvolveu no periodo carolfngio. A incultural(ao da liturgia e um meio viavel em dois sentidos: 1. Antropologico (permite que 0 fiel possa vivenciar a sua fe com forma e linguagem coerente a sua cultura) e 2. Teologico (atualiza a radicalidade do misterio Pascal de Cristo a comunidade de fe). Por exemplo, nos textos de Hipolito de Roma, encontramos 0 usa de "leite e mel" juntos a eucaristia. Essa mistura fazia eco a tradil(ao biblica da promessa de uma terra que corra "lei de mel", mas, mesmo nao tendo mandado (fundamental(ao) biblica foi aceito na liturgia por causa da indole do povo romano que dava essa mistura as crianl(as como sinal de sua acolhida no seio familiar. Portanto, atraves da tipologia biblica, os elementos culturais eram elevados a esfera da historia da Salval(ao, ao mesmo tempo, tornavam-se expressoes das obras de Deus no seio da historia humana. Portanto, a incultural(ao nao e uma a~ao unilateral e nao consiste apenas em observar princfpios teologicos e lirurgicos. Precisa haver reciprocidade e respeito mutuo entre liturgia e cultura, po is a cultura tambem possui suas categorias, sua dinamica e suas leis intrinsecas. A liturgia nao deve impor a cultura urn sentido ou peso estranho a sua natureza, pois uma incultural(ao autentica respeita 0 processo de transcultura~ao. A incultura~ao evidentemente possui os seus riscos, pois, no sec. III, Hipolito de Roma pedia com insistencia aos bispos que explicassem cuidadosamente 0 sentido da ta~a de "leite e mel" aos neofilos na comunidade para que nao fosse confundida com 0 sacramento do sangue de Cristo. Embora a prudencia seja mae das virtudes, cabe ter sempre cuidado, pois certos riscos sempre acompanhara 0 progresso legitimo. Se a historia tem algo a nos ensinar sobre falhas e insucessos, tem muito a contar-nos do ganho e verdadeiro progresso que a fe fez e faz na Igreja da historia ainda hoje.