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CINEMA E JUVENTUDE PARA ALÉM DA REBELDIA 
Lisli Seibert – ULBRA 
A juventude, este tema tão caro à Educação, é reconhecida, histórica e 
socialmente, como uma fase da vida marcada por instabilidade e geralmente associada a 
problemas sociais (mesmo que estes sejam tão mutáveis quanto seus modos de 
apreensão). Sposito (1997, p. 38) nos apresenta alguns dos modos pelos quais, em dados 
momentos históricos, a juventude foi narrada: tema de constante investigação já desde a 
década de 20, nos EUA, as primeiras pesquisas sobre juventude privilegiavam os 
exames de disfunções e anomalias, para se tentar compreender as condutas dos jovens 
(ligadas, neste primeiro momento, a fenômenos de delinqüência). Após a Segunda 
Guerra Mundial, essa tradição foi rompida, dando lugar ao potencial do jovem como 
contestador e rebelde e, consequentemente, dando origem a estudos que viam os 
mesmos como participantes de práticas estudantis e culturais. A juventude dos anos 60, 
vista como um “problema”, foi definida como protagonista de uma grande crise de 
valores e de um conflito de gerações; a juventude dos anos 70 marcada pelos problemas 
ligados ao desemprego e à entrada na vida ativa. O que a autora nos diz com esse breve 
panorama, portanto, é que os trabalhos e pesquisas desenvolvidos sobre juventude 
acabam por revelar questões emergentes na sociedade; mas, ao mesmo tempo, esses 
trabalhos e pesquisas acabam também por participar da construção de conhecimentos e 
conceitos específicos sobre este grupo. Para a autora, muitas análises que envolvem o 
tema juventude hoje realizadas (e que guardam as marcas, os vestígios das pesquisas de 
décadas anteriores), acabam por relacionar o jovem com a violência ou passam a 
caracterizá-lo pelo um acentuado traço individualista, pela apatia política e pelo 
desinteresse nas relações com a esfera pública – enfim, trata-se de perspectivas que, em 
certa medida, limitam o olhar que lançamos sobre o jovem. 
Na esteira de vários autores que vêm buscando dinamizar as formas de pensar 
este grupo, meu objetivo principal é pensar que modos de narrar a juventude estão 
sendo, hoje, tramados pelo cinema. Entendo que, também neste espaço, o ato de narrar 
está profundamente implicado com as formas pelas quais damos sentido àquilo que é 
narrado. Tal como Fabris (2008), vejo o cinema “como uma produção cultural que não 
apenas inventa histórias, mas que, na complexidade da produção de sentidos, vai
criando, substituindo, limitando, incluindo e excluindo ‘realidades’” (Fabris, 2008, p. 
120). 
Pergunto-me, então, como as imagens fílmicas podem contribuir para a 
significação dos jovens, acerca dos jovens? Primeiramente é importante dizer, de acordo 
com Duarte (2000), que “nada nos autoriza a afirmar que os filmes impõem significados 
ou interpretações aos seus espectadores” (p. 76, grifos da autora), mas talvez possamos 
dizer que eles colaboram com esta significação, participam dela. O que me interessa 
investigar aqui, portanto, é de que modo o cinema “nos faz pensar” (Xavier, 2008, p. 
17), especialmente quando “caminha na direção do combate ao clichê” (ibidem), 
do combate àquela forma de experiência na qual não se vê efetivamente a 
imagem e não se percebe a experiência, ou, se quisermos, não se captura o 
que acontece na imagem, pois a mobilização de protocolos de leitura já 
automatizados definem a priori “do que se trata” quando olhamos a imagem 
(...) o que vale – estética, cultural e politicamente – é a relação com a imagem 
(e a narrativa) que não compõe de imediato a certeza “do que se trata” e lança 
o desafio para explorar terrenos não-codificados de experiência (Xavier, 
2008, p. 17). 
Neste trabalho, discuto de que modo algumas estruturas fílmicas tensionam o 
conceito de juventude, na medida em que apontam para o caráter da formação de um 
sujeito ético (tal como entendido por Foucault, 2006). O objetivo aqui, assim, não se 
alicerça sobre a idéia de que o cinema simplesmente cria, inventa outra noção de 
juventude, mas de que, em alguma medida e em alguns materiais, ele acaba por lançar 
um outro olhar sobre o conceito – para além de repetir e reiterar enunciações que há 
muito circulam na cultura e acabam por limitar os modos de ver e dizer o jovem. 
Para tanto, inicialmente, apresento algumas discussões ligadas à temática 
juventude, cinema e educação. Trata-se aqui não apenas de pensar as questões propostas 
juntamente a outras pesquisas do campo, como, do mesmo modo, de trazer para o 
debate algumas narrativas fílmicas cujo mote seja a juventude. Em seguida, discuto um 
certo modelo de narrativa e a forma como, no cinema, ele poderia nos trazer algumas 
idéias importantes sobre a constituição do sujeito e, sobretudo, sobre a relação disso 
com a temática chave aqui em questão. Faço isso a partir de breves relatos de quatro 
filmes: Diários de Motocicleta (2004), O Leitor (2008), Educação (2009), Balzac e a 
Costureirinha Chinesa (2002)
Cinema, juventude e educação 
A relação entre cinema e juventude tem gerado discussões das mais diversas no 
âmbito da educação. Ressalto, neste sentido, o trabalho de Henry Giroux (1996), que 
trata sobre a “política de demonização da juventude” expressa no filme Kids, de Larry 
Clark (1995). Para o autor, trata-se aqui de um tipo específico de representação, voltado 
para a construção de um retrato no qual os jovens acabam se transformando em modelos 
emblemáticos da promiscuidade, da doença e da decadência social. “Visto como não 
possuindo qualquer capacidade crítica, os/as jovens são definidos/as primariamente por 
uma sexualidade que é vista como fora de controle, exigindo vigilância, restrição legal e 
outras formas de poder disciplinar” (Giroux, 1996, p. 131). Somado a este, outros filmes 
exercem uma política semelhante de representação da juventude, qual seja, aquela que 
narra os jovens como uma crescente ameaça à ordem pública: Juventude Assassina 
(1987); Assassinos por Natureza (1995); Garotos de Programa (1991) 
Discutindo semelhante temática, porém a partir de uma outra abordagem, 
Fischer (2008b), em seu texto “Quando os meninos de Cidade de Deus nos olham”, traz 
os personagens do filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, para discutir sobre 
jovens marginalizados, moradores da favela do Rio de Janeiro que dá nome ao filme: 
“existências ínfimas que são trazidas à visibilidade midiática”, [...] “vidas obscuras e 
desafortunadas que [...] nos provocam, misturam em si beleza e assombro” (Fischer, 
2008b, p. 195). São jovens envolvidos com o tráfico, dentro de uma favela do Rio de 
Janeiro, imbricados em histórias que se passam entre os anos 70 e 80. O filme 
mundialmente conhecido mostra jovens que criaram um sistema próprio de poder, 
ficando, a um só tempo, à margem e imersos no sistema oficial. 
Em relação a este aspecto, a autora fala de uma cisão radical que há na sociedade 
brasileira, entre ricos e pobres, cidadãos e subcidadãos, e traz esta como uma divisão de 
extrema violência, que instaura, naquele espaço preciso, relações de poder muito 
particulares. Este ciclo sem fim vivido por jovens na favela, e retratado no filme, mostra 
esse grupo social que tem sua própria linguagem, seu próprio código de honra, de ética 
e de comportamento, onde cabe ao chefe o poder sobre a vida e a morte das pessoas do 
grupo. Para Fischer (2008b) esta violência é lançada no filme em seu estado mais puro, 
sem muitas mediações narrativas, onde vê-se a banalização da morte, assim como da 
vida e, através desse olhar o espectador conhece a trajetória dos personagens da favela.
Assim como os jovens marginalizados têm evidência no filme citado pela 
autora, e como já me referi anteriormente, a juventude é hoje um tema bastante presente 
em diversos filmes de gêneros variados. Neles, os jovens aparecem imersos em temas 
diversos, envolvidos com problemas de relacionamento entre familiares e entre seus 
pares, como no filme Meninas Malvadas1, em questões ligadas à sexualidade, tendo 
como exemplo os inúmeros filmes da série American Pie2; drogas e violência também 
são assuntos correntes, semelhantemente ao filme Kids3, citado anteriormente; assuntos 
ligados à moda e ao consumo, tendo como um ícone o filme As Patricinhas de Beverly 
Hills4, também têm destaque. Outros temas ligados à fantasia e ao imaginário como o 
mundo e a aventuras de bruxos (na série de sete filmes do Harry Potter5) e vampiros 
(em Crepúsculo6) são presentes e disseminados entre os jovens e sobre os jovens. É 
válido destacar aqui o quanto são recorrentes filmes nos quais jovens que passam por 
problemas de ordem moral e/ou são apresentados como sendo violentos, usuários de 
drogas ou rebeldes, sofrem uma mudança radical – mudança, esta, em inúmeros casos, 
ligada à intervenção de um professor ou da escola. O que busco mostrar aqui, mesmo 
que brevemente, é a recorrência nas formas de narrar a juventude pelo cinema, ou seja, a 
partir de temáticas bastante semelhantes, geralmente relacionadas à sexualidade, 
drogadição, consumo, rebeldia – talvez não tão distantes do clássico Juventude 
Transviada (1955). 
1 Produção de 2004, dirigido por Mark S. Waters, onde a personagem Cady Heron ao voltar para a sua 
cidade natal, ao voltar para a escola entra em conflitos com suas colegas populares. Para piorar ainda mais 
sua situação, Cady se apaixona pelo garoto errado 
2 O primeiro da série de seis filmes é de 1999. Todos tem como foco um grupo de amigos que juntos 
passam por experiências como a primeira relação sexual, assim como tratam de temas como namoro, 
casamento, virgindade, relações de amizade, etc. 
3 Produção de 1995, onde Nova York serve de cenário para mostrar o conturbado mundo dos 
adolescentes, que indiscriminadamente consomem drogas e quase nunca praticam sexo seguro. 
4 Filmado em 1995, o filme passa-se na badalada cidade citada no nome, onde uma jovem popular e 
extremamente fútil resolve ajudar uma amiga cafona a melhorar seu visual. O enredo envolve jovens 
sempre preocupados com o seu visual e indo a compras. 
5 Primeiro filme foi lançado em 2001, abrindo a série de sete. Filme baseado nos livros da autora J.K. 
Rowling, que estão entre os mais vendidos no mundo. Mostra o crescimento do Harry e dos seus amigos, 
envoltos em guerras bruxas, feitiçarias e aventuras. 
6 Também tendo seu roteiro baseado em um livro, este filme, de 2008, envolve romance, onde alguns de 
seus personagens são vampiros.
Das transformações do sujeito 
Dentro deste trabalho que desenvolvo sobre a juventude no cinema e a partir do 
pensamento do filósofo Michel Foucault, busco realizar algumas discussões voltadas 
não apenas para a idéia de como o cinema produz ou reitera verdades já dadas sobre a 
juventude, mas sim como este, ao tratar do tema, ao ter este como seu foco, apresenta 
outras possibilidades de pensar a juventude, descoladas daqueles saberes já instituídos e 
enraizados. Proponho-me a apontar para análises nas quais o foco não seja a descrição 
de verdades correntes e remanescentes, possíveis de serem localizadas dentro da ampla 
rede de saberes e significados que instituem, contribuem e reforçam a objetivação dos 
sujeitos jovens. Porém, proponho-me neste trabalho a não olhar somente para estas 
verdades, mas sim, vendo o cinema como um elemento capaz de tensioná-las e colocá-las 
em jogo. 
Vale aqui ainda destacar que não quero com isso afirmar que o cinema inventa 
uma outra juventude, pois estes filmes estão imersos em uma dada cultura, e trazem 
consigo muitos discursos sobre a mesma que são padronizados pela sociedade. Intento 
dizer que no cinema existe a possibilidade de se ter um outro olhar sobre a juventude; 
um olhar que tensiona e questiona este conceito já socialmente dado, possibilitando a 
criação de outros modos de ser jovem, outros modos de ser sujeito, colocando os 
mesmo como sujeitos éticos, fugindo das convenções. 
O que sabemos e pensamos hoje em dia sobre a juventude está imerso em uma 
rede de saberes que temos previstos e que são previsíveis a ela. O que busco nos filmes 
aqui analisados é perceber um outro campo onde se permita ver a juventude inserida em 
outras modalidades narrativas. Isto é, não descrever de que forma o cinema estaria 
comprometido manutenção dos sentidos sobre juventude, mas sim filmes que trazem em 
seu enredo outras maneiras de ser e fazer-se sujeito jovem. Tal perspectiva está ligada 
àquelas que Michel Foucault coloca em suas últimas aulas no Collège de France. 
Assim, passa-se a pensar a subjetivação do sujeito não apenas dentro de uma sujeição, 
não mais ligado apenas ao obedecer, sujeitar-se ao outro, como primeiramente 
apresentado por Foucault dentro dos seus estudos sobre poder e saber. Ele mesmo 
pressente que existe, junto a esta sujeição do sujeito por ele já pensada, uma outra forma 
onde o sujeito irá constituir-se como tal; Foucault recorreu ao textos da Antiguidade, 
gregos e romanos, para perceber que estes “convidavam a uma prática de si e da
verdade em que está em jogo a libertação do sujeito mais que seu aprisionamento em 
uma camisa-de-força da verdade” (Gros, 2006, p. 618). 
Foucault fala de uma outra figura do sujeito, figura essa que não é mais 
constituída apenas através do poder e dos saberes; mas de um sujeito que se constitui 
também através de práticas (mesmo que passíveis de regras): ele se autoconstitui 
também dentro de práticas de si, ao invés de ser apenas constituído por técnicas de 
dominação (ligadas ao poder) ou de técnicas discursivas (ligadas ao saber). Esta 
constituição de sujeito pensada por Foucault não está mais ligada à idéia de sujeito 
moderno, para o qual o acesso à verdade não dependia de um trabalho interior de ordem 
ética, mas a um sujeito para o qual tal acesso dependia de um movimento de conversão 
que impusesse ao seu ser uma conversão, acima de tudo, ética. Dito de outro modo, se 
na modernidade é no ato de estar esclarecido pela verdade que o sujeito tende a mudar, 
na Antiguidade, é a partir da transformação do sujeito que o mesmo poderá pretender 
alcançar a verdade. 
Ao resgatar estas questões da Antiguidade grega e romana, Foucault não 
pretendeu ver como as coisas se repetem na modernidade, mas sim buscar dentro desses 
textos inspirações para pensar nosso tempo, principalmente no que diz respeito às 
práticas de si. Mas sempre tendo claro também que “o sujeito se constitui numa relação 
consigo determinada e são as essas técnicas de si historicamente referenciáveis, assim 
como com as técnicas de dominação” (Gros, 2006, p. 637). Estas duas se atravessam, se 
cruzam e desse cruzamento é que o individuo-sujeito irá emergir, nessa “dobra dos 
processos de subjetivação sobre os procedimentos de sujeição” (ibdem). 
Vejo que existem no cinema imagens, enredos, diálogos que contemplam e 
apresentam, no caso dos filmes em questão, os jovens passando por situações onde se 
apresentam uma ampla condição e possibilidade para que o indivíduo possa 
transformar-se através das práticas de si trazidas por Foucault. Não uma transformação 
moral, mas sim uma transformação ligada à preparação para a vida, instaurando uma 
nova ética. Esta transformação está descolada de um julgamento entre bem e mal, não 
sendo, portanto, uma transformação ligada a valores eminentemente cristãos. Ao 
contrário, como dito, trata-se de uma preparação para a vida, onde as verdades são 
usadas como ferramentas. Transformação aqui adquire um sentido de formação, porém 
vista como “uma operação que se dá para além do institucional (escola, igreja, família, 
por exemplo), embora tais espaços não sejam jamais ignorados; para além de um 
sistema de autoridade, normativo ou disciplinar.” (Fischer, 2008a, p. 52)
Busquei dentro de uma ampla gama de filmes que tem como foco a juventude, 
perceber este diferencial da juventude passando por esta transformação, também ligado 
a idéia de Romance de Formação, trazido pela literatura, como no capítulo 3 do presente 
trabalho, que fala sobre o tema. Acredito ser pertinente retomar aqui que o que 
caracteriza esta literatura, deste gênero de romance, são os textos onde o personagem ou 
os personagens passam por uma trajetória, vivenciando diversas experiências, tendo um 
desenvolvimento pleno de suas potencialidades e uma integração harmônica com a 
sociedade, já que esta transformação vivenciada pelos jovens nos filmes será o cerne da 
análise do meu trabalho. 
Tomando as teorias de Foucault que diz respeito a práticas de si para esta 
transformação ética já citada, que é vista nos filmes por mim analisados, percebo, dentro 
destas questões, as ligadas ao que Foucault chama de presença do Outro e a idéia de 
travessia (retiro usado por Foucault e metáfora da viagem, como será por mim 
utilizado). O Outro está sempre presente “como diretor de existência, como 
correspondente a quem escrevemos e diante de quem nos medimos, o outro como amigo 
que socorre, parente benfeitor” (Gros, 2006, p. 650). Percebo nos filmes a constante 
presença do Outro, nas relações estabelecidas pelos personagens. O Outro que ouve, que 
move, que mexe com os sentimentos. Esta relação com o Outro que é compartilhada, e 
não mais o Outro apenas como um dominador, a quem se deve obediência como um 
sujeito para o qual será necessário dizer toda a verdade sobre si mesmo, fazendo uma 
confissão, como no Cristianismo. Por travessia, ou retiro, como nos traz Foucault, como 
um momento onde cada sujeito poderá ocupar-se de si mesmo, submetendo-se a 
diversas e duras provas, para assim poder se transformar. (Fischer, 2008) 
Pode-se dizer que a juventude, tal como narrada a partir dos filmes que trago 
aqui, contempla uma forma de luta: neste caso, a um só tempo, luta contra a sujeição e 
voltada para a ética. Ou seja, voltada a atacar não apenas uma ou outra instituição de 
poder, grupo ou classe, mas sim uma forma de poder que incide sobre a forma de vida 
cotidiana, imediata, “que classifica os indivíduos em categorias, designa-os por sua 
individualidade própria, prende-os a uma identidade, impõe-lhes uma lei de verdade que 
é preciso neles reconhecer” (Gros, 2006, p. 618).
Outros sentidos para o mesmo conceito: juventude e “filmes de formação” 
Neste capítulo irei analisar os filmes por mim escolhidos por terem as 
características elencadas neste trabalho, sendo essas o protagonismo juvenil e que estes 
jovens passem por uma transformação. Esta transformação terá com características as 
oriundas do subgênero literário “romance de formação” e principalmente ligadas às 
idéias de transformação do sujeito trazidas por Michel Foucault. A transformação de 
que falo não implica em uma idéia de um sujeito “mal”, com atitudes impróprias dentro 
de uma sociedade, transformação simples e linearmente em um sujeito melhor, mais 
agradável. Não se trata desse tipo de mudança, mas aquela na qual o sujeito alcança um 
novo grau de “perfectibilidade” – o que implica, conforme Foucault, em o sujeito passar 
por determinadas situações em que sejam “levados a prestar atenção a eles próprios, a se 
decifrar, a se reconhecer” (Foucault, 1984, p. 11), para terem consigo uma determinada 
relação na qual este sujeito irá descobrir a verdade do seu próprio ser, “obtendo assim 
uma transformação de si mesmos com a finalidade de alcançar um certo estado de 
felicidade, pureza, sabedoria ou imortalidade” (Foucault, 1984, p. 48) 
Nos filmes aqui trazidos esta transformação é vista nos personagens e ocorrem 
através de diferentes situações, seja através de uma grande viagem onde os mesmos 
passam a olhar para o mundo de uma maneira mais ética e comprometida com o outro (e 
também consigo), seja a partir da perda por morte ou uma decepção amorosa. O que 
aqui importa é que, a partir deste acontecimento, o sujeito, personagem principal do 
filme, passa, através de práticas reflexivas, “a se transformar, a modificar-se em seu ser 
singular e fazer da sua vida uma obra que seja portadora de certos valores estéticos” 
(Foucault, 1984, p. 15). Não sendo mais sujeitos fixados por determinadas regras de 
condutas, passam a fazer das suas vidas “uma obra de arte”, sendo esta formação não 
ligada a uma lei, a uma prescrição religiosa, mas sim uma escolha pessoal de existência 
(Gross, 2006). 
Mas, como estas mudanças, estas transformações se dão na especificidade de 
cada filme? E ainda, que mudanças são estas apresentadas pelos filmes? Para iniciar esta 
breve discussão, que se dará com cinco diferentes filmes, detenho-me ao filme Diários 
de Motocicleta (2004), que retrata uma viagem realizada por dois argentinos que têm 
por objetivo atravessar a América do Sul. Estes dois jovens em questão (o estudante de 
medicina Ernesto Guevara e o amigo, o bioquímico Alberto Granado) partem sobre a 
moto para se aventurarem a conhecer outros países, os quais só conhecem por livros. Na
aventura, além de romances, situações engraçadas e belas paisagens, Alberto e Ernesto 
se deparam com a relação desigual que se dá entre os mineradores chilenos e a 
multinacional que controla a região. Os dois começam, assim, a conhecer a miséria e a 
injustiça, gerando um sentimento de revolta que cresce a cada dia e a cada novo 
paradeiro, até sua chegada ao leprosário de San Pablo, na Amazônia peruana. 
O filme mostra estas situações e em relação às quais cada uma das personagens 
reage de uma maneira distinta. Ambos ficam chocados com a injustiça, porém esta toca 
mais no estudante Ernesto Guevara, e faz com que, além de ver e perceber a realidade 
desigual e injusta que ali se apresenta, se crie nele um grande desejo pela lutar contra a 
mesma, inicialmente conversando com os mineradores e ajudando a tratar os leprosos. 
Guevara relata no seu diário e escreve cartas para a sua mãe (não por acaso, um 
movimento de escrita, escrita de si), e ao mesmo o espectador vai percebendo em suas 
atitudes e naquelas palavras registros da transformação de um jovem estudante de 
medicina para um jovem revolucionário que passa a ver o mundo a sua volta através de 
outro olhar, que percebe as dificuldades enfrentadas pelas pessoas dessas classes menos 
favorecidas. Já ali – independe de todos os questionamentos políticos que poderiam ser 
feitos – o desejo de fazer sua vida voltar-se para um novo ideal de igualdade e justiça 
social. 
O segundo filme a contemplar essa dinâmica diferenciada em relação à 
juventude é O Leitor (2008), que tem como pano de fundo a Alemanha pós-2ª Guerra 
Mundial. Neste, o adolescente Michael Berg se envolve, por acaso, com Hanna 
Schmitz, uma mulher com o dobro de sua idade. Apesar das diferenças de classe, os 
dois se apaixonam e vivem uma história de amor, atravessada por um seguinte 
elemento: Berg passa a ler diversos livros em voz alta para Hanna. Um dia Hanna 
desaparece misteriosamente. Oito anos se passam e Berg, então um interessado 
estudante de Direito, se surpreende quando um professor os leva para um julgamento, 
no qual mulheres estão sendo julgadas por terem trabalhado em um campo de 
concentração – entre elas está Hanna. A mesma é condenada porque prefere, em seu 
julgamento, dizer-se responsável por uma carta com ordens de matar judias, do que 
admitir que era analfabeta. Berg se sente responsável com a possibilidade de revelar 
esse grande segredo e, em troca, livrar a culpa de Hanna, mas não o faz. Com o passar 
de mais muitos anos, Berg começa a enviar gravações onde o mesmo lê novamente 
diversos livros a Hanna e então passa a receber cartas escritas pela mesma, que dedicou-se 
a alfabetizar-se. Quando Berg vai procurar o primeiro amor da sua vida na prisão,
após saber que sua pena seria aliviada e esta poderia ter a liberdade, descobre que na 
noite anterior Hanna havia se matado. 
Educação (2009) é um filme onde vê-se a história de uma brilhante estudante, 
chamada Jenny, de 16 anos, que está dedicando-se intensamente, sob os olhos de seus 
pais, para entrar na universidade de Oxford (e nitidamente percebe-se em seu pai 
atitudes de quem vê na filha o futuro da família). Porém, esta se apaixona por David, 
um rapaz com mais idade e rico, e vê nele um a felicidade, pois o mesmo sabe bem 
como a divertir, levando-a a leilões de artes, a salões de baile e até mesmo a Paris. Ao 
ter de escolher entre a educação formal e os prazeres da vida no momento em que David 
a pede em casamento, esta passa por um grave dilema. Ao consultar o pai, que sempre 
apoiou o seu estudo, este incentiva que a menina case com o rico rapaz, e leve uma vida 
voltada para o cuidado com o lar. Porém a menina descobre que David já é casado, e 
depois deste grande baque Jenny quer voltar novamente aos seus estudos. Ao procurar a 
sua antiga escola, esta não a aceita de volta e então, junto com sua professora, Jenny 
estuda para conseguir ingressar em Oxford, o que realmente acontece. Percebo nesse 
filme que sua personagem principal Jenny passa por uma transformação ao se deparar 
com uma problemática, uma decepção. A jovem menina que passa por um momento de 
rebeldia, vendo os estudos como uma atividade maçante e sem muito valor, realizando-os 
apenas por obrigação do pai, sem ver neles uma real importância, após viver uma 
decepção e ao ter um contato mais íntimo com sua professora, vendo a vida 
independente que a mesma leva, começa a encarar a vida de uma outra forma, 
valorizando sua juventude, seus estudos e buscando por uma vida baseada nesses 
pretextos. 
No filme Balzac e a Costureirinha Chinesa (2002) a transformação da 
personagem costureirinha, através da leitura de diversos livros de literatura, é muito 
marcante. A história do filme se passa durante o regime maoísta na China Comunista, e 
dois amigos, Lu e Ma, são enviado para as montanhas por causa de suas orientações 
reacionárias para passarem por um processo de reeducação. Nesta montanha, os dois 
devem aprender a se desapegarem de seus princípios. Lá os mesmos conhecem uma 
singela costureirinha e assim querem “civilizá-la”. Descobrem, então, que um outro 
reacionário que está na montanha para reeducação, porém de partida, guarda consigo 
um grande mala com diversos livros, diversos romances de autores clássicos da 
literatura francesa, como Balzac, Zola e Flaubert Ao lerem os livros proibidos os três 
criam um vínculo muito íntimo que os ligam à liberdade de pensamento e à ruptura de
um autoritarismo intelectual. A costureirinha, antes impregnada pela cultura do povoado 
onde nasceu, passa a perceber o mundo à sua volta de outra maneira, e busca por 
liberdade indo embora do lugar. Esta mudança, como ela mesma diz, deve-se a Balzac, 
que através das palavras do seu livro a fez pensar sobre si mesma e assim conseguir se 
transformar. 
Em todos esses filmes, um mesmo elemento chave: a formação não tem apenas 
um caráter privado, mas amplia-se para uma outra esfera vasta e em tudo diferente da 
existência histórica – daí o sentido ético de ser sujeito, de constituir-se como sujeito. O 
personagem jovem, neste tipo de narrativa, não se encontra imóvel em uma época, mas 
sim na fronteira entre duas épocas (entre dois momentos de vida, de história, de ser), 
onde o caminho da transição irá se efetuar nele e através dele, sendo então obrigado a 
tornar-se um novo tipo de homem/mulher ainda inédito (para si mesmo). Não é tão-somente 
o mundo que se transforma ou o sujeito: o sujeito se transforma 
concomitantemente com o mundo (com o mundo e apesar do mundo). É desta dinâmica 
de sentidos, pois, que estes filmes trazem: nenhuma mudança milagrosa ou 
melodramática, mas sofrida e constituída; nenhum personagem que muda o mundo, mas 
a si mesmo com o mundo (e apesar do mundo).
Referências bibliográficas 
DUARTE, Rosália. Cinema e Educação. Belo Horizonte: Autentica, 2002 
FABRIS, Elí Henn. Cinema e Educação: um caminho metodológico. Revista Educação 
e Realidade. vol.33, n.1, jan./jun. 2008, p117-134. 
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Pequena Miss Sunshine: para além de uma subjetividade 
exterior. Pró-posições. vol.19, n. 02, mai./ago. 2008a, p. 47-57 
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Quando os meninos de Cidade de Deus nos olham. 
Revista Educação & Realidade. vol. 33, n.°1, jan a junho 2008b, p. 193 – 208 
FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. 2ed. São Paulo: Matins Fontes, 2006 
GROSS, Fredéric. Situação do Curso. In.: FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do 
Sujeito. 2ed. São Paulo: Matins Fontes, 2006 
MARCELLO, Fabiana de Amorim. Cinema e educação: da criança que nos convoca à 
imagem que nos afronta. Revista Brasileira de Educação. 2008, vol.13, n.38, pp. 343- 
356. 
SPOSITO, Marília Pontes. Estudos sobre juventude em educação. Revista Brasileira de 
Educação. n. 5 e 6, mai./jun./jul./set./out./nov./dez. 1997, p. 37-52. 
XAVIER, Ismail. Um Cinema que “Educa” é um Cinema que (nos) faz Pensar. Revista 
Educação e Realidade. v.33, n.1, jan./jun. 2008, p. 13-20. 
GIROUX, Henry. O filme Kids e a política de demonização da juventude. Educação & 
Realidade, vol. 21, n. 1, jan./jun., 1996, p.123-136.

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  • 1. CINEMA E JUVENTUDE PARA ALÉM DA REBELDIA Lisli Seibert – ULBRA A juventude, este tema tão caro à Educação, é reconhecida, histórica e socialmente, como uma fase da vida marcada por instabilidade e geralmente associada a problemas sociais (mesmo que estes sejam tão mutáveis quanto seus modos de apreensão). Sposito (1997, p. 38) nos apresenta alguns dos modos pelos quais, em dados momentos históricos, a juventude foi narrada: tema de constante investigação já desde a década de 20, nos EUA, as primeiras pesquisas sobre juventude privilegiavam os exames de disfunções e anomalias, para se tentar compreender as condutas dos jovens (ligadas, neste primeiro momento, a fenômenos de delinqüência). Após a Segunda Guerra Mundial, essa tradição foi rompida, dando lugar ao potencial do jovem como contestador e rebelde e, consequentemente, dando origem a estudos que viam os mesmos como participantes de práticas estudantis e culturais. A juventude dos anos 60, vista como um “problema”, foi definida como protagonista de uma grande crise de valores e de um conflito de gerações; a juventude dos anos 70 marcada pelos problemas ligados ao desemprego e à entrada na vida ativa. O que a autora nos diz com esse breve panorama, portanto, é que os trabalhos e pesquisas desenvolvidos sobre juventude acabam por revelar questões emergentes na sociedade; mas, ao mesmo tempo, esses trabalhos e pesquisas acabam também por participar da construção de conhecimentos e conceitos específicos sobre este grupo. Para a autora, muitas análises que envolvem o tema juventude hoje realizadas (e que guardam as marcas, os vestígios das pesquisas de décadas anteriores), acabam por relacionar o jovem com a violência ou passam a caracterizá-lo pelo um acentuado traço individualista, pela apatia política e pelo desinteresse nas relações com a esfera pública – enfim, trata-se de perspectivas que, em certa medida, limitam o olhar que lançamos sobre o jovem. Na esteira de vários autores que vêm buscando dinamizar as formas de pensar este grupo, meu objetivo principal é pensar que modos de narrar a juventude estão sendo, hoje, tramados pelo cinema. Entendo que, também neste espaço, o ato de narrar está profundamente implicado com as formas pelas quais damos sentido àquilo que é narrado. Tal como Fabris (2008), vejo o cinema “como uma produção cultural que não apenas inventa histórias, mas que, na complexidade da produção de sentidos, vai
  • 2. criando, substituindo, limitando, incluindo e excluindo ‘realidades’” (Fabris, 2008, p. 120). Pergunto-me, então, como as imagens fílmicas podem contribuir para a significação dos jovens, acerca dos jovens? Primeiramente é importante dizer, de acordo com Duarte (2000), que “nada nos autoriza a afirmar que os filmes impõem significados ou interpretações aos seus espectadores” (p. 76, grifos da autora), mas talvez possamos dizer que eles colaboram com esta significação, participam dela. O que me interessa investigar aqui, portanto, é de que modo o cinema “nos faz pensar” (Xavier, 2008, p. 17), especialmente quando “caminha na direção do combate ao clichê” (ibidem), do combate àquela forma de experiência na qual não se vê efetivamente a imagem e não se percebe a experiência, ou, se quisermos, não se captura o que acontece na imagem, pois a mobilização de protocolos de leitura já automatizados definem a priori “do que se trata” quando olhamos a imagem (...) o que vale – estética, cultural e politicamente – é a relação com a imagem (e a narrativa) que não compõe de imediato a certeza “do que se trata” e lança o desafio para explorar terrenos não-codificados de experiência (Xavier, 2008, p. 17). Neste trabalho, discuto de que modo algumas estruturas fílmicas tensionam o conceito de juventude, na medida em que apontam para o caráter da formação de um sujeito ético (tal como entendido por Foucault, 2006). O objetivo aqui, assim, não se alicerça sobre a idéia de que o cinema simplesmente cria, inventa outra noção de juventude, mas de que, em alguma medida e em alguns materiais, ele acaba por lançar um outro olhar sobre o conceito – para além de repetir e reiterar enunciações que há muito circulam na cultura e acabam por limitar os modos de ver e dizer o jovem. Para tanto, inicialmente, apresento algumas discussões ligadas à temática juventude, cinema e educação. Trata-se aqui não apenas de pensar as questões propostas juntamente a outras pesquisas do campo, como, do mesmo modo, de trazer para o debate algumas narrativas fílmicas cujo mote seja a juventude. Em seguida, discuto um certo modelo de narrativa e a forma como, no cinema, ele poderia nos trazer algumas idéias importantes sobre a constituição do sujeito e, sobretudo, sobre a relação disso com a temática chave aqui em questão. Faço isso a partir de breves relatos de quatro filmes: Diários de Motocicleta (2004), O Leitor (2008), Educação (2009), Balzac e a Costureirinha Chinesa (2002)
  • 3. Cinema, juventude e educação A relação entre cinema e juventude tem gerado discussões das mais diversas no âmbito da educação. Ressalto, neste sentido, o trabalho de Henry Giroux (1996), que trata sobre a “política de demonização da juventude” expressa no filme Kids, de Larry Clark (1995). Para o autor, trata-se aqui de um tipo específico de representação, voltado para a construção de um retrato no qual os jovens acabam se transformando em modelos emblemáticos da promiscuidade, da doença e da decadência social. “Visto como não possuindo qualquer capacidade crítica, os/as jovens são definidos/as primariamente por uma sexualidade que é vista como fora de controle, exigindo vigilância, restrição legal e outras formas de poder disciplinar” (Giroux, 1996, p. 131). Somado a este, outros filmes exercem uma política semelhante de representação da juventude, qual seja, aquela que narra os jovens como uma crescente ameaça à ordem pública: Juventude Assassina (1987); Assassinos por Natureza (1995); Garotos de Programa (1991) Discutindo semelhante temática, porém a partir de uma outra abordagem, Fischer (2008b), em seu texto “Quando os meninos de Cidade de Deus nos olham”, traz os personagens do filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, para discutir sobre jovens marginalizados, moradores da favela do Rio de Janeiro que dá nome ao filme: “existências ínfimas que são trazidas à visibilidade midiática”, [...] “vidas obscuras e desafortunadas que [...] nos provocam, misturam em si beleza e assombro” (Fischer, 2008b, p. 195). São jovens envolvidos com o tráfico, dentro de uma favela do Rio de Janeiro, imbricados em histórias que se passam entre os anos 70 e 80. O filme mundialmente conhecido mostra jovens que criaram um sistema próprio de poder, ficando, a um só tempo, à margem e imersos no sistema oficial. Em relação a este aspecto, a autora fala de uma cisão radical que há na sociedade brasileira, entre ricos e pobres, cidadãos e subcidadãos, e traz esta como uma divisão de extrema violência, que instaura, naquele espaço preciso, relações de poder muito particulares. Este ciclo sem fim vivido por jovens na favela, e retratado no filme, mostra esse grupo social que tem sua própria linguagem, seu próprio código de honra, de ética e de comportamento, onde cabe ao chefe o poder sobre a vida e a morte das pessoas do grupo. Para Fischer (2008b) esta violência é lançada no filme em seu estado mais puro, sem muitas mediações narrativas, onde vê-se a banalização da morte, assim como da vida e, através desse olhar o espectador conhece a trajetória dos personagens da favela.
  • 4. Assim como os jovens marginalizados têm evidência no filme citado pela autora, e como já me referi anteriormente, a juventude é hoje um tema bastante presente em diversos filmes de gêneros variados. Neles, os jovens aparecem imersos em temas diversos, envolvidos com problemas de relacionamento entre familiares e entre seus pares, como no filme Meninas Malvadas1, em questões ligadas à sexualidade, tendo como exemplo os inúmeros filmes da série American Pie2; drogas e violência também são assuntos correntes, semelhantemente ao filme Kids3, citado anteriormente; assuntos ligados à moda e ao consumo, tendo como um ícone o filme As Patricinhas de Beverly Hills4, também têm destaque. Outros temas ligados à fantasia e ao imaginário como o mundo e a aventuras de bruxos (na série de sete filmes do Harry Potter5) e vampiros (em Crepúsculo6) são presentes e disseminados entre os jovens e sobre os jovens. É válido destacar aqui o quanto são recorrentes filmes nos quais jovens que passam por problemas de ordem moral e/ou são apresentados como sendo violentos, usuários de drogas ou rebeldes, sofrem uma mudança radical – mudança, esta, em inúmeros casos, ligada à intervenção de um professor ou da escola. O que busco mostrar aqui, mesmo que brevemente, é a recorrência nas formas de narrar a juventude pelo cinema, ou seja, a partir de temáticas bastante semelhantes, geralmente relacionadas à sexualidade, drogadição, consumo, rebeldia – talvez não tão distantes do clássico Juventude Transviada (1955). 1 Produção de 2004, dirigido por Mark S. Waters, onde a personagem Cady Heron ao voltar para a sua cidade natal, ao voltar para a escola entra em conflitos com suas colegas populares. Para piorar ainda mais sua situação, Cady se apaixona pelo garoto errado 2 O primeiro da série de seis filmes é de 1999. Todos tem como foco um grupo de amigos que juntos passam por experiências como a primeira relação sexual, assim como tratam de temas como namoro, casamento, virgindade, relações de amizade, etc. 3 Produção de 1995, onde Nova York serve de cenário para mostrar o conturbado mundo dos adolescentes, que indiscriminadamente consomem drogas e quase nunca praticam sexo seguro. 4 Filmado em 1995, o filme passa-se na badalada cidade citada no nome, onde uma jovem popular e extremamente fútil resolve ajudar uma amiga cafona a melhorar seu visual. O enredo envolve jovens sempre preocupados com o seu visual e indo a compras. 5 Primeiro filme foi lançado em 2001, abrindo a série de sete. Filme baseado nos livros da autora J.K. Rowling, que estão entre os mais vendidos no mundo. Mostra o crescimento do Harry e dos seus amigos, envoltos em guerras bruxas, feitiçarias e aventuras. 6 Também tendo seu roteiro baseado em um livro, este filme, de 2008, envolve romance, onde alguns de seus personagens são vampiros.
  • 5. Das transformações do sujeito Dentro deste trabalho que desenvolvo sobre a juventude no cinema e a partir do pensamento do filósofo Michel Foucault, busco realizar algumas discussões voltadas não apenas para a idéia de como o cinema produz ou reitera verdades já dadas sobre a juventude, mas sim como este, ao tratar do tema, ao ter este como seu foco, apresenta outras possibilidades de pensar a juventude, descoladas daqueles saberes já instituídos e enraizados. Proponho-me a apontar para análises nas quais o foco não seja a descrição de verdades correntes e remanescentes, possíveis de serem localizadas dentro da ampla rede de saberes e significados que instituem, contribuem e reforçam a objetivação dos sujeitos jovens. Porém, proponho-me neste trabalho a não olhar somente para estas verdades, mas sim, vendo o cinema como um elemento capaz de tensioná-las e colocá-las em jogo. Vale aqui ainda destacar que não quero com isso afirmar que o cinema inventa uma outra juventude, pois estes filmes estão imersos em uma dada cultura, e trazem consigo muitos discursos sobre a mesma que são padronizados pela sociedade. Intento dizer que no cinema existe a possibilidade de se ter um outro olhar sobre a juventude; um olhar que tensiona e questiona este conceito já socialmente dado, possibilitando a criação de outros modos de ser jovem, outros modos de ser sujeito, colocando os mesmo como sujeitos éticos, fugindo das convenções. O que sabemos e pensamos hoje em dia sobre a juventude está imerso em uma rede de saberes que temos previstos e que são previsíveis a ela. O que busco nos filmes aqui analisados é perceber um outro campo onde se permita ver a juventude inserida em outras modalidades narrativas. Isto é, não descrever de que forma o cinema estaria comprometido manutenção dos sentidos sobre juventude, mas sim filmes que trazem em seu enredo outras maneiras de ser e fazer-se sujeito jovem. Tal perspectiva está ligada àquelas que Michel Foucault coloca em suas últimas aulas no Collège de France. Assim, passa-se a pensar a subjetivação do sujeito não apenas dentro de uma sujeição, não mais ligado apenas ao obedecer, sujeitar-se ao outro, como primeiramente apresentado por Foucault dentro dos seus estudos sobre poder e saber. Ele mesmo pressente que existe, junto a esta sujeição do sujeito por ele já pensada, uma outra forma onde o sujeito irá constituir-se como tal; Foucault recorreu ao textos da Antiguidade, gregos e romanos, para perceber que estes “convidavam a uma prática de si e da
  • 6. verdade em que está em jogo a libertação do sujeito mais que seu aprisionamento em uma camisa-de-força da verdade” (Gros, 2006, p. 618). Foucault fala de uma outra figura do sujeito, figura essa que não é mais constituída apenas através do poder e dos saberes; mas de um sujeito que se constitui também através de práticas (mesmo que passíveis de regras): ele se autoconstitui também dentro de práticas de si, ao invés de ser apenas constituído por técnicas de dominação (ligadas ao poder) ou de técnicas discursivas (ligadas ao saber). Esta constituição de sujeito pensada por Foucault não está mais ligada à idéia de sujeito moderno, para o qual o acesso à verdade não dependia de um trabalho interior de ordem ética, mas a um sujeito para o qual tal acesso dependia de um movimento de conversão que impusesse ao seu ser uma conversão, acima de tudo, ética. Dito de outro modo, se na modernidade é no ato de estar esclarecido pela verdade que o sujeito tende a mudar, na Antiguidade, é a partir da transformação do sujeito que o mesmo poderá pretender alcançar a verdade. Ao resgatar estas questões da Antiguidade grega e romana, Foucault não pretendeu ver como as coisas se repetem na modernidade, mas sim buscar dentro desses textos inspirações para pensar nosso tempo, principalmente no que diz respeito às práticas de si. Mas sempre tendo claro também que “o sujeito se constitui numa relação consigo determinada e são as essas técnicas de si historicamente referenciáveis, assim como com as técnicas de dominação” (Gros, 2006, p. 637). Estas duas se atravessam, se cruzam e desse cruzamento é que o individuo-sujeito irá emergir, nessa “dobra dos processos de subjetivação sobre os procedimentos de sujeição” (ibdem). Vejo que existem no cinema imagens, enredos, diálogos que contemplam e apresentam, no caso dos filmes em questão, os jovens passando por situações onde se apresentam uma ampla condição e possibilidade para que o indivíduo possa transformar-se através das práticas de si trazidas por Foucault. Não uma transformação moral, mas sim uma transformação ligada à preparação para a vida, instaurando uma nova ética. Esta transformação está descolada de um julgamento entre bem e mal, não sendo, portanto, uma transformação ligada a valores eminentemente cristãos. Ao contrário, como dito, trata-se de uma preparação para a vida, onde as verdades são usadas como ferramentas. Transformação aqui adquire um sentido de formação, porém vista como “uma operação que se dá para além do institucional (escola, igreja, família, por exemplo), embora tais espaços não sejam jamais ignorados; para além de um sistema de autoridade, normativo ou disciplinar.” (Fischer, 2008a, p. 52)
  • 7. Busquei dentro de uma ampla gama de filmes que tem como foco a juventude, perceber este diferencial da juventude passando por esta transformação, também ligado a idéia de Romance de Formação, trazido pela literatura, como no capítulo 3 do presente trabalho, que fala sobre o tema. Acredito ser pertinente retomar aqui que o que caracteriza esta literatura, deste gênero de romance, são os textos onde o personagem ou os personagens passam por uma trajetória, vivenciando diversas experiências, tendo um desenvolvimento pleno de suas potencialidades e uma integração harmônica com a sociedade, já que esta transformação vivenciada pelos jovens nos filmes será o cerne da análise do meu trabalho. Tomando as teorias de Foucault que diz respeito a práticas de si para esta transformação ética já citada, que é vista nos filmes por mim analisados, percebo, dentro destas questões, as ligadas ao que Foucault chama de presença do Outro e a idéia de travessia (retiro usado por Foucault e metáfora da viagem, como será por mim utilizado). O Outro está sempre presente “como diretor de existência, como correspondente a quem escrevemos e diante de quem nos medimos, o outro como amigo que socorre, parente benfeitor” (Gros, 2006, p. 650). Percebo nos filmes a constante presença do Outro, nas relações estabelecidas pelos personagens. O Outro que ouve, que move, que mexe com os sentimentos. Esta relação com o Outro que é compartilhada, e não mais o Outro apenas como um dominador, a quem se deve obediência como um sujeito para o qual será necessário dizer toda a verdade sobre si mesmo, fazendo uma confissão, como no Cristianismo. Por travessia, ou retiro, como nos traz Foucault, como um momento onde cada sujeito poderá ocupar-se de si mesmo, submetendo-se a diversas e duras provas, para assim poder se transformar. (Fischer, 2008) Pode-se dizer que a juventude, tal como narrada a partir dos filmes que trago aqui, contempla uma forma de luta: neste caso, a um só tempo, luta contra a sujeição e voltada para a ética. Ou seja, voltada a atacar não apenas uma ou outra instituição de poder, grupo ou classe, mas sim uma forma de poder que incide sobre a forma de vida cotidiana, imediata, “que classifica os indivíduos em categorias, designa-os por sua individualidade própria, prende-os a uma identidade, impõe-lhes uma lei de verdade que é preciso neles reconhecer” (Gros, 2006, p. 618).
  • 8. Outros sentidos para o mesmo conceito: juventude e “filmes de formação” Neste capítulo irei analisar os filmes por mim escolhidos por terem as características elencadas neste trabalho, sendo essas o protagonismo juvenil e que estes jovens passem por uma transformação. Esta transformação terá com características as oriundas do subgênero literário “romance de formação” e principalmente ligadas às idéias de transformação do sujeito trazidas por Michel Foucault. A transformação de que falo não implica em uma idéia de um sujeito “mal”, com atitudes impróprias dentro de uma sociedade, transformação simples e linearmente em um sujeito melhor, mais agradável. Não se trata desse tipo de mudança, mas aquela na qual o sujeito alcança um novo grau de “perfectibilidade” – o que implica, conforme Foucault, em o sujeito passar por determinadas situações em que sejam “levados a prestar atenção a eles próprios, a se decifrar, a se reconhecer” (Foucault, 1984, p. 11), para terem consigo uma determinada relação na qual este sujeito irá descobrir a verdade do seu próprio ser, “obtendo assim uma transformação de si mesmos com a finalidade de alcançar um certo estado de felicidade, pureza, sabedoria ou imortalidade” (Foucault, 1984, p. 48) Nos filmes aqui trazidos esta transformação é vista nos personagens e ocorrem através de diferentes situações, seja através de uma grande viagem onde os mesmos passam a olhar para o mundo de uma maneira mais ética e comprometida com o outro (e também consigo), seja a partir da perda por morte ou uma decepção amorosa. O que aqui importa é que, a partir deste acontecimento, o sujeito, personagem principal do filme, passa, através de práticas reflexivas, “a se transformar, a modificar-se em seu ser singular e fazer da sua vida uma obra que seja portadora de certos valores estéticos” (Foucault, 1984, p. 15). Não sendo mais sujeitos fixados por determinadas regras de condutas, passam a fazer das suas vidas “uma obra de arte”, sendo esta formação não ligada a uma lei, a uma prescrição religiosa, mas sim uma escolha pessoal de existência (Gross, 2006). Mas, como estas mudanças, estas transformações se dão na especificidade de cada filme? E ainda, que mudanças são estas apresentadas pelos filmes? Para iniciar esta breve discussão, que se dará com cinco diferentes filmes, detenho-me ao filme Diários de Motocicleta (2004), que retrata uma viagem realizada por dois argentinos que têm por objetivo atravessar a América do Sul. Estes dois jovens em questão (o estudante de medicina Ernesto Guevara e o amigo, o bioquímico Alberto Granado) partem sobre a moto para se aventurarem a conhecer outros países, os quais só conhecem por livros. Na
  • 9. aventura, além de romances, situações engraçadas e belas paisagens, Alberto e Ernesto se deparam com a relação desigual que se dá entre os mineradores chilenos e a multinacional que controla a região. Os dois começam, assim, a conhecer a miséria e a injustiça, gerando um sentimento de revolta que cresce a cada dia e a cada novo paradeiro, até sua chegada ao leprosário de San Pablo, na Amazônia peruana. O filme mostra estas situações e em relação às quais cada uma das personagens reage de uma maneira distinta. Ambos ficam chocados com a injustiça, porém esta toca mais no estudante Ernesto Guevara, e faz com que, além de ver e perceber a realidade desigual e injusta que ali se apresenta, se crie nele um grande desejo pela lutar contra a mesma, inicialmente conversando com os mineradores e ajudando a tratar os leprosos. Guevara relata no seu diário e escreve cartas para a sua mãe (não por acaso, um movimento de escrita, escrita de si), e ao mesmo o espectador vai percebendo em suas atitudes e naquelas palavras registros da transformação de um jovem estudante de medicina para um jovem revolucionário que passa a ver o mundo a sua volta através de outro olhar, que percebe as dificuldades enfrentadas pelas pessoas dessas classes menos favorecidas. Já ali – independe de todos os questionamentos políticos que poderiam ser feitos – o desejo de fazer sua vida voltar-se para um novo ideal de igualdade e justiça social. O segundo filme a contemplar essa dinâmica diferenciada em relação à juventude é O Leitor (2008), que tem como pano de fundo a Alemanha pós-2ª Guerra Mundial. Neste, o adolescente Michael Berg se envolve, por acaso, com Hanna Schmitz, uma mulher com o dobro de sua idade. Apesar das diferenças de classe, os dois se apaixonam e vivem uma história de amor, atravessada por um seguinte elemento: Berg passa a ler diversos livros em voz alta para Hanna. Um dia Hanna desaparece misteriosamente. Oito anos se passam e Berg, então um interessado estudante de Direito, se surpreende quando um professor os leva para um julgamento, no qual mulheres estão sendo julgadas por terem trabalhado em um campo de concentração – entre elas está Hanna. A mesma é condenada porque prefere, em seu julgamento, dizer-se responsável por uma carta com ordens de matar judias, do que admitir que era analfabeta. Berg se sente responsável com a possibilidade de revelar esse grande segredo e, em troca, livrar a culpa de Hanna, mas não o faz. Com o passar de mais muitos anos, Berg começa a enviar gravações onde o mesmo lê novamente diversos livros a Hanna e então passa a receber cartas escritas pela mesma, que dedicou-se a alfabetizar-se. Quando Berg vai procurar o primeiro amor da sua vida na prisão,
  • 10. após saber que sua pena seria aliviada e esta poderia ter a liberdade, descobre que na noite anterior Hanna havia se matado. Educação (2009) é um filme onde vê-se a história de uma brilhante estudante, chamada Jenny, de 16 anos, que está dedicando-se intensamente, sob os olhos de seus pais, para entrar na universidade de Oxford (e nitidamente percebe-se em seu pai atitudes de quem vê na filha o futuro da família). Porém, esta se apaixona por David, um rapaz com mais idade e rico, e vê nele um a felicidade, pois o mesmo sabe bem como a divertir, levando-a a leilões de artes, a salões de baile e até mesmo a Paris. Ao ter de escolher entre a educação formal e os prazeres da vida no momento em que David a pede em casamento, esta passa por um grave dilema. Ao consultar o pai, que sempre apoiou o seu estudo, este incentiva que a menina case com o rico rapaz, e leve uma vida voltada para o cuidado com o lar. Porém a menina descobre que David já é casado, e depois deste grande baque Jenny quer voltar novamente aos seus estudos. Ao procurar a sua antiga escola, esta não a aceita de volta e então, junto com sua professora, Jenny estuda para conseguir ingressar em Oxford, o que realmente acontece. Percebo nesse filme que sua personagem principal Jenny passa por uma transformação ao se deparar com uma problemática, uma decepção. A jovem menina que passa por um momento de rebeldia, vendo os estudos como uma atividade maçante e sem muito valor, realizando-os apenas por obrigação do pai, sem ver neles uma real importância, após viver uma decepção e ao ter um contato mais íntimo com sua professora, vendo a vida independente que a mesma leva, começa a encarar a vida de uma outra forma, valorizando sua juventude, seus estudos e buscando por uma vida baseada nesses pretextos. No filme Balzac e a Costureirinha Chinesa (2002) a transformação da personagem costureirinha, através da leitura de diversos livros de literatura, é muito marcante. A história do filme se passa durante o regime maoísta na China Comunista, e dois amigos, Lu e Ma, são enviado para as montanhas por causa de suas orientações reacionárias para passarem por um processo de reeducação. Nesta montanha, os dois devem aprender a se desapegarem de seus princípios. Lá os mesmos conhecem uma singela costureirinha e assim querem “civilizá-la”. Descobrem, então, que um outro reacionário que está na montanha para reeducação, porém de partida, guarda consigo um grande mala com diversos livros, diversos romances de autores clássicos da literatura francesa, como Balzac, Zola e Flaubert Ao lerem os livros proibidos os três criam um vínculo muito íntimo que os ligam à liberdade de pensamento e à ruptura de
  • 11. um autoritarismo intelectual. A costureirinha, antes impregnada pela cultura do povoado onde nasceu, passa a perceber o mundo à sua volta de outra maneira, e busca por liberdade indo embora do lugar. Esta mudança, como ela mesma diz, deve-se a Balzac, que através das palavras do seu livro a fez pensar sobre si mesma e assim conseguir se transformar. Em todos esses filmes, um mesmo elemento chave: a formação não tem apenas um caráter privado, mas amplia-se para uma outra esfera vasta e em tudo diferente da existência histórica – daí o sentido ético de ser sujeito, de constituir-se como sujeito. O personagem jovem, neste tipo de narrativa, não se encontra imóvel em uma época, mas sim na fronteira entre duas épocas (entre dois momentos de vida, de história, de ser), onde o caminho da transição irá se efetuar nele e através dele, sendo então obrigado a tornar-se um novo tipo de homem/mulher ainda inédito (para si mesmo). Não é tão-somente o mundo que se transforma ou o sujeito: o sujeito se transforma concomitantemente com o mundo (com o mundo e apesar do mundo). É desta dinâmica de sentidos, pois, que estes filmes trazem: nenhuma mudança milagrosa ou melodramática, mas sofrida e constituída; nenhum personagem que muda o mundo, mas a si mesmo com o mundo (e apesar do mundo).
  • 12. Referências bibliográficas DUARTE, Rosália. Cinema e Educação. Belo Horizonte: Autentica, 2002 FABRIS, Elí Henn. Cinema e Educação: um caminho metodológico. Revista Educação e Realidade. vol.33, n.1, jan./jun. 2008, p117-134. FISCHER, Rosa Maria Bueno. Pequena Miss Sunshine: para além de uma subjetividade exterior. Pró-posições. vol.19, n. 02, mai./ago. 2008a, p. 47-57 FISCHER, Rosa Maria Bueno. Quando os meninos de Cidade de Deus nos olham. Revista Educação & Realidade. vol. 33, n.°1, jan a junho 2008b, p. 193 – 208 FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. 2ed. São Paulo: Matins Fontes, 2006 GROSS, Fredéric. Situação do Curso. In.: FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. 2ed. São Paulo: Matins Fontes, 2006 MARCELLO, Fabiana de Amorim. Cinema e educação: da criança que nos convoca à imagem que nos afronta. Revista Brasileira de Educação. 2008, vol.13, n.38, pp. 343- 356. SPOSITO, Marília Pontes. Estudos sobre juventude em educação. Revista Brasileira de Educação. n. 5 e 6, mai./jun./jul./set./out./nov./dez. 1997, p. 37-52. XAVIER, Ismail. Um Cinema que “Educa” é um Cinema que (nos) faz Pensar. Revista Educação e Realidade. v.33, n.1, jan./jun. 2008, p. 13-20. GIROUX, Henry. O filme Kids e a política de demonização da juventude. Educação & Realidade, vol. 21, n. 1, jan./jun., 1996, p.123-136.