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Semfomee
bemnutridos
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3FOLHA DE LONDRINA, SÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE MAIO DE 2017 I FOLHA RURAL@folhadelondrina
Produtoresrurais
sealimentammal
Dieta de boa parte dos agricultores familiares é feita de
muito sal, açúcar, gordura e fritura, aponta pesquisa
Victor Lopes
Reportagem Local
U
mpensamentonatural
e simples é considerar
que os produtores que
vivem no campo possuem
uma qualidade nutricional
melhor de suas dietas, afinal,
eles são os responsáveis por
colocar na mesa da população
urbana uma gama enorme de
alimentos, como os hortifruti-
granjeiros, quando se trata da
agricultura familiar. Infeliz-
mente, esse raciocínio não é
tãosimplesassim.
As dietas de famílias que
moram na zona rural também
estão longe do ideal. Uma
pesquisa realizada pelo Cen-
tro de Ciências Exatas e Natu-
rais da Universidade Federal
do Espírito Santo (UFES), no
município de Alegre, mostra a
gravidade do assunto. A inse-
gurança alimentar e nutricio-
nal no campo ainda é uma re-
alidade naquela região e se
estende para o País. O estudo
foi apresentado na última
quarta-feira (3), em Brasília
(DF), na oficina sobre Agricul-
tura e Sistemas Alimentares
em Nutrição, promovida pelo
Painel Global em parceria
comaEmbrapa(vejamatérias
nas páginas seguintes).
Na pequena cidade do ES,
com cerca de 30 mil habitan-
tes, metade são produtores,
sendo 70% deles agricultores
familiares. Foi realizada então
umainvestigaçãodoconsumo
alimentar de 168 pessoas de
quatrocomunidadesrurais.Se
o índice ideal da dieta era aci-
ma de 80 para se considerar
adequado, o resultado final fi-
cou em 49,4.“O que constata-
mos foi um baixo consumo de
frutas, leite e derivados. Por
outro lado, um excessivo con-
sumo de óleo, gordura satura-
da, sódio e açúcar. Eles ven-
dem produtos saudáveis, mas
não os consomem. Eles fazem
umadietademuitosal,açúcar,
gordura e fritura”, explica Neu-
za Brunoro Costa, diretora do
Centro de Ciências Exatas e
NaturaisdaUFES.
Com isso, a pesquisa con-
statou um excesso consumo
calórico em 70% da popula-
Shutterstock
ção, proteína insuficiente em
30%, excesso do consumo de
lipídios em 50% dos casos e,
por fim, fibras abaixo da reco-
mendação ideal.“42% da pop-
ulação estava com excesso de
peso”,decretaNeuza.
Foi realiza então um progra-
ma de reeducação alimentar
com 81 produtores da área. A
ideia era trabalhar também
com os alimentos biofortifica-
dos, mas infelizmente uma se-
ca grave de três anos acabou
nãoajudandonaproduçãodas
variedades. “Fizemos então
umtrabalhocompalestras,liv-
rosdereceitasedicasnosquais
se mostrava o risco das doen-
ças e incentivava o plantio de
hortaliçasparaconsumodeles.
Depois dessa intervenção, vi-
mos um aumento do índice de
49 para 58, ainda longe do ide-
al, mas uma melhora. A quali-
dade das dietas melhorou, in-
clusive com a aumento signifi-
cativo de consumo de vegetais
e derivados do leite”, comple-
mentaapesquisadora.
PNAEFORTALECE
AGRICULTURAFAMILIAR
Se de um lado os agricul-
tores familiares estão longe de
uma dieta ideal, por outro, a
comercialização dos seus
produtostemfeitotodaadifer-
ença para a nutrição da popu-
lação, principalmente crian-
ças. A expectativa do Ministé-
riodoDesenvolvimentoSocial
e Agrário (MDSA) é que entre
2016 e 2019 sejam investidos
R$ 2,5 bilhões por meio do
Programa de Aquisição de Ali-
mentos (PAA) da agricultura
familiar, sendo metade deste
valor destinado ao Programa
Nacional de Alimentação Es-
colar (PNAE). “Queremos for-
talecer essas mudanças de
hábitos(alimentares)quecon-
sideramos tão corretos com as
escolas. É lá que as crianças
passam a maior parte do tem-
po, que se alimentam e apren-
dem os bons hábitos”, salienta
o Secretário Nacional de Segu-
rançaAlimentareNutrição,do
MDSA,CaioRocha.
De fato, os números do
PNAE são significativos, aju-
dando na renda da agricultu-
ra familiar e, claro, nutrindo o
estudantes.São41milhõesde
alunos e 130 milhões de re-
feições diárias em todos os
estados do País. O fomento é
por alimentos in natura e
minimamente processados.
Os três principais grupos de
compra são carne, cereais,
leite e derivados. Aliás, existe
uma resolução do Ministério
daEducaçãoqueéobrigatório
a oferta de frutos e hortaliças
na quantidade de 200 gramas
por semana. “Estamos regu-
lando a questão do sal, da
gordura, dos processados e
discutindo a taxação de bebi-
das açucaradas (refriger-
antes). O Brasil é um dos
países mais evoluídos nesses
processos. Por outro lado, te-
mos um grande caminho a
percorrer, porque ainda são
7,2 milhões de pessoas com
insegurança alimentar grave,
ouseja,quenãosealimentam
todos os dias”.
Apesar de
produzir e
vender produtos
saudáveis, nem
sempre o
produtor rural
consome dessa
produção
Queremos fortalecer essas mudanças de
hábitos (alimentares),que consideramos
tão corretos,com as escolas”
4 FOLHA RURAL I FOLHA DE LONDRINA, SÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE MAIO DE 2017 @folhadelondrina
Victor Lopes
Reportagem Local
‘O
Brasil é o celeiro
do mundo”; “Com
as projeções de
aumento da população
mundial, a responsabilida-
de do País é gigantesca em
alimentar as nações”. Se o
leitor acompanha o agrone-
gócio, bem provavelmente
já viu algumas dessas sen-
tenças por aí. Nada mais
natural, afinal, as safras de
grãos batem recordes ano
após ano - estimativa em
2016-17 é 227,9 milhões de
toneladas - sem contar a
força da produção de car-
nes, como é o caso da avi-
cultura.
Se de um lado a insegu-
rança alimentar parece
“águas passadas” - já que as
estatísticas da fome, de fato,
assustam menos hoje - por
outro um assunto alarman-
te precisa ser discutido com
urgência: dietas de má qua-
lidade. Simples de explicar.
O mundo passa menos fo-
me, mas as pessoas estão
mal nutridas. Aí está o para-
doxo: os ganhos na produ-
ção de alimentos não têm
sido seguidos, em escala
global, por ganhos equiva-
lentes em densidade e qua-
lidade nutricional. O assun-
to, que antes estava direta-
mente ligado à medicina,
agora está na agenda de
pesquisa e inovação da
agropecuária brasileira. Um
alerta vermelho que, não
por acaso, fez a Organização
das Nações Unidas (ONU)
proclamar no ano passado a
“Década de Ação sobre Nu-
trição” entre 2016 e 2025.
Os números são alarman-
tes. De acordo com Painel
Global de Agricultura e Sis-
temas Alimentares de Nu-
trição, entidade criada em
2013 para promover políti-
cas de agricultura e alimen-
tação pelo mundo, são
aproximadamente 3 bilhões
de pessoas vivendo com
dietas de má qualidade, que
incluem desde insuficiência
de micronutrientes, mulhe-
res anêmicas em idade re-
forma concreta? A pesquisa,
claro, tem um papel extre-
mamente importante. Um
dos exemplos citados por
Maurício, cujo País já é pro-
tagonista, é o programa de
biofortificação, um proces-
so de cruzamento de plan-
tas da mesma espécie que
resulta em cultivares mais
nutritivas. Alimentos bási-
cos são enriquecidos com
ferro, zinco e vitamina A,
capazes de auxiliar signifi-
cativamente nas dietas (ve-
ja box). “Este é um caminho
muito interessante usando
a ciência agronômica para
elevar a densidade nutricio-
nal dos alimentos. Traze-
mos micronutrientes, mais
proteínas ricas, vitaminas...
Temos um programa de su-
cesso, referência de biofor-
tificação e estamos lideran-
do isso”, ressalta.
Outro caminho é a diver-
sificação das dietas. Ao lon-
go dos anos, segundo Lo-
pes, houve uma tendências
das dietas ficarem mais res-
tritivas, com um conjunto
menor de alternativas. É
preciso maior diversidade.
“A Embrapa está neste mo-
mento desenvolvendo um
grande programa para for-
talecer a produção das cha-
madas leguminosas de
grãos (pulses) no Brasil,
muito apreciadas em países
como a Índia. Os indianos
são em grande parte vege-
tarianos e consomem essas
leguminosas em quantida-
de. Grão-de-bico, feijão-
caupi, lentilhas, feijão-
mungo têm uma qualidade
nutricional alta e são ótima
alternativa na diversifica-
ção da dieta”.
Mais do que isso, para os
agricultores, uma aposta
como essa acaba se tornan-
do alternativa de diversifi-
cação da produção, agrega-
ção de renda, e, eventual-
mente, pode-se aproveitar
um mercado ainda pouco
explorado. “Tudo isso vai
fortalecer ainda mais o pro-
dutor. A agricultura precisa
incorporar essa noção de
suficiência nutricional,
bem-estar. São outras di-
mensões que vão valorizar
ainda mais a cadeia de ali-
mentos e o papel do produ-
tor na sociedade”.
ProduçãoProdução
que nutreque nutre
Diversificação
de dietas com
leguminosas
de grãos e
alimentos
biofortificados
são apostas da
pesquisa
brasileira para
vencer
insegurança
nutricional
pelo mundo
produtiva, obesidade, até
doenças não transmissíveis
relacionadas à dieta. Segun-
do a entidade, os custos da
desnutrição com relação à
perda do PIB é de 5% em ní-
vel mundial.
Maurício Antônio Lopes
é presidente da Embrapa e
um dos 11 membros do Pai-
nel Global. Nesta semana, o
encontro da entidade acon-
teceu na sede da instituição
de pesquisa, em Brasília,
pela primeira vez realizado
no Brasil. Na concepção de
Lopes, este é o momento da
pesquisa agropecuária e de
alimentos destinarem uma
atenção maior na busca de
sistemas de produção liga-
dos à promoção de dietas
de alta qualidade. “Traba-
lhamos com uma visão de
urgência, porque o proble-
ma é grave, inclusive em
países desenvolvidos. O
problema do desbalanço
nutricional traz consequ-
ências sérias para a econo-
mia e custos altos pelas so-
luções da medicina. Preci-
samos partir para a preven-
ção e a agricultura tem que
participar ativamente dis-
so”, salienta.
ESTRATÉGIAS
CONCRETAS
Mas como o Brasil pode
participar dessa agenda de
5FOLHA DE LONDRINA, SÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE MAIO DE 2017 I FOLHA RURAL@folhadelondrina
Embrapa/Divulgação
Tarcila Viana/Embrapa/Divulgação
O Brasil é o
único do mundo
trabalhando
com oito
alimentos
biofortificados,
principalmente
feijão,
mandioca,
milho e batata
doce
Painel Global de Agricul-
tura e Sistemas Alimentares
de Nutrição publica fre-
quentementerelatóriosbem
detalhados com o objetivo
de apontar para onde políti-
cas públicas, pesquisas e a
sociedade devem caminhar,
com intuito de oferecer à
população uma melhor
qualidade nutricional dos
alimentos disponíveis no
mercado.
Na última quarta-feira
(3), quando pela primeira
vez o Painel passou pelo
Brasil, em Brasília, em ofici-
na realizada em parceria
com a Embrapa, eles apre-
sentaram um documento
com recomendações para
os responsáveis pela elabo-
ração de políticas públicas.
O documento destaca, pri-
meiramente, que é funda-
mental reunir esforços do
setor privado, sociedade ci-
vil e governo, para que em
conjunto melhorem os am-
bientes alimentares e façam
que os consumidores pas-
sem a preferir dietas mais
nutritivas.
Outro ponto destacado é
um processo eficaz de ela-
boração de políticas públi-
cas, identificando, antes de
tudo, os desafios relaciona-
dos à boa nutrição a serem
priorizados. Eles serão
identificados por meio de
problemas específicos de
saúde pública local. Ou se-
ja, todas as soluções têm de
ser adaptadas às necessida-
desdogrupoalvo,mastam-
bém terem flexibilidade pa-
ra abranger a variedade
existente na população.
Com base nesses princí-
pios, o Painel Global reco-
menda definir incentivos
fiscais, restringir o marke-
ting de produtos alimentí-
cios para crianças, ampliar
o alcance dos produtos re-
formulados mais saudáveis,
aumentar a oferta de ali-
mentos nutritivos, garantir
um maior fornecimento de
alimentos de alta qualidade
nas instituições públicas e,
por fim, criar processos de
medição da qualidade dos
ambientes alimentares e di-
vulgaressesdados.
A consultora internacio-
nal com foco em nutrição e
agricultura e membro do
Painel Global, Emmy Sim-
mons,destacoualgunspon-
tos concretos que mostram
que o Brasil está no cami-
nho certo: o primeiro é rela-
cionado à alimentação de
qualidade nas escolas, o
Bolsa Família e o segundo
ponto é trabalhar forte no
quedizrespeitoaosobrepe-
so e obesidade. “No Brasil,
os números relacionados a
esses problemas estão cres-
cendo, mas não estão horrí-
veis como em outras partes
do mundo. Por fim, eu acre-
dito que a pesquisa tem pa-
pelimportante.OBrasiltem
uma responsabilidade mo-
ral, pelo momento em que
vive, de assumir o protago-
nismo e, eu sugiro, lideran-
ça, no que diz respeito a es-
ses assuntos nutricionais.
Muitos países querem ter
uma população saudável
como é considerada a po-
pulaçãobrasileira”.(V.L.)
PainelGlobal:‘Brasil
precisaassumirliderança’
Muitos países
querem ter uma
população
saudável como
é considerada a
população
brasileira”
Maurício Antônio Lopes,Maurício Antônio Lopes,
presidente da Embrapa:presidente da Embrapa:
“Trabalhamos com uma“Trabalhamos com uma
visão de urgência,visão de urgência,
porque o problema éporque o problema é
grave, inclusive emgrave, inclusive em
países desenvolvidos”países desenvolvidos”
6 FOLHA RURAL I FOLHA DE LONDRINA, SÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE MAIO DE 2017 @folhadelondrina
TarcilaViana/Embrapa
Victor Lopes
Reportagem Local
Desde 2013, a Organização
das Nações Unidas para Ali-
mentaçãoeAgricultura(FAO)
reconhece a biofortificação
como uma das estratégias de
agricultura para sistemas ali-
mentares e melhoria de nu-
trição. Um processo de me-
lhoramento genético que re-
sulta em cultivares mais nu-
tritivas. O Brasil projetou a
importância disso e iniciou
os trabalhos há quase 15
anos. Agora, num momento
de alerta para a qualidade da
nutrição mundial, a tecnolo-
gia pode fazer toda a diferen-
ça nos resultados de dietas
mais consistentes.
A Rede Biofort é coordena-
da pela Embrapa e seu princi-
pal objetivo é o enriqueci-
mento de alimentos que já fa-
zem parte da dieta básica da
população brasileira. Hoje, o
País é o único do mundo tra-
balhando com oito alimentos
biofortificados, sendo 12 cul-
tivares, principalmente de fei-
jão, feijão-caupi, mandioca,
milho e batata doce. Existem
ainda trabalhos em fase de
melhoramento para abóbora,
arroz e trigo.
Biofortificação é uma inter-
venção nutricional específica,
com o objetivo de aumentar o
conteúdo de micronutrientes
em alimentos através do me-
lhoramento genético. Dife-
rentemente da fortificação de
alimentos, que ocorre duran-
te o processamento.
Além disso, a Embrapa faz
parte da HarvestPlus, uma
aliança mundial de institui-
ções de pesquisa e de entida-
des executoras que se uniram
para melhorar e disseminar
produtos agrícolas que con-
tribuam para uma melhor nu-
trição, com foco grande de
biofortificados na América
Latina e Caribe. “Sempre bus-
camos alimentos básicos,
porque são consumidos em
grandes quantidades. Traba-
lhamos para suprir os micro-
nutrientes deficientes em de-
terminada população. O pro-
jeto HarvestPus trabalha com
ferro, zinco e vitamina A”, ex-
plica a pesquisadora da Em-
brapa Agroindústria de Ali-
mentos e líder da Rede Bio-
fort, Marília Nutti, do Rio de
Janeiro (RJ).
Para atingir os resultados,
associando produtividade e
nutrição eficiente, foram
identificadasnobancodeger-
moplasma quais variedades
teriam melhor qualidade nu-
tricional e elas passaram a ser
cruzadas com variedades de
maior produtividade, resis-
tentes a pragas e uma série de
outras características. “Não
adianta ser uma variedade
produtiva e não tiver uma ex-
celente performance agrícola.
Trabalhamos junto com os
produtores, desde o melhora-
mento, para saber a aceitação
deles. Eles nos ajudaram a es-
colher as melhores cultivares,
além das unidades demons-
trativas (no Paraná há uma,
inclusive), dias de campo e
acompanhamento de aceita-
ção nas escolas e outros locais
de consumo”.
Entre 2012 e 2014, cerca de
2,5 mil famílias tiveram aces-
soaalimentosbiofortificados.
“Acreditamos que a diversifi-
cação é o ponto mais impor-
tante de uma boa alimenta-
ção. Sabemos, entretanto, que
existem casos que mesmo as-
sim não se atinge os índices
nutricionais necessários.
Em nenhum momento
pretendemos dizer
que a biofortifica-
ção pode ser usada
sozinha. É uma estratégia, in-
clusive, que em alguns países
vem depois da suplementa-
ção, como uma forma de
manter tais níveis de micro-
nutrientes mais altos”.
Pesquisas da Rede Biofort
juntoàuniversidadesjáapon-
tam que estes alimentos têm
micronutrientes necessários
para impactar na saúde da
população.“Nãoadiantafazer
tudoissoseosprodutoresnão
adotarem e as pessoas não
consumirem. Temos um tra-
balho muito grande de trans-
ferência de tecnologia, acesso
para receber e ver os resulta-
dos das variedades. No Mara-
nhão e no Piauí estabelece-
mosunidadesdemonstrativas
em escolas técnicas agrícolas.
Estudantes ficam 15 dias nas
escolas e 15 dias em casa. As-
sim, eles levam esse material
para suas residências e se tor-
nam multiplicadores”. Para
Marília, o maior resultado,
principalmente no Nordeste,
é a diminuição da evasão ru-
ral dos jovens estudantes gra-
ças a biofortificação.
O Brasil trabalha há quase 15 anos em pesquisas que
visam ao enriquecimento nutricional de alimentos
Alimentosbiofortificados:
protagonistasdeboasdietas
Alimentos básicos,Alimentos básicos,
consumidos emconsumidos em
grandes quantidadesgrandes quantidades
são o foco da pesquisasão o foco da pesquisa
da biofortificação;da biofortificação;
projeto HarvestPusprojeto HarvestPus
trabalha com ferro,trabalha com ferro,
zinco e vitamina Azinco e vitamina A
7FOLHA DE LONDRINA, SÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE MAIO DE 2017 I FOLHA RURAL@folhadelondrina
“Em termos mundiais somos uma referência em conservação de plantas,
animais e microrganismos”, diz o pesquisador Juliano Gomes Pádua
O banco genético armazena 976 espécies, só de amostras vegetais, com
potencial de germinação e aptas para utilização em qualquer momento
Embrapa/Divulgação
Victor Lopes
Victor Lopes
Reportagem Local
Quando se pensa nos desa-
fios agronômicos para alimen-
tar o mundo, as variantes são
enormes: cultivares mais nu-
tritivas, de alta produtividade,
resistentes à pragas e doenças,
tudo isso associado às preocu-
pações ambientais, cada vez
maislatentesnasociedade.Pa-
ra fazer esse trabalho, sem dú-
vida,oinvestimentonumban-
co genético – com amostras
das mais variadas espécies - se
tornouprimordialentreospaí-
ses, afinal, o trabalho de me-
lhoramento genético constan-
te é fundamental para atingir
taisobjetivos.
A Embrapa atua com a con-
servação das mais variadas es-
pécies desde 1976, na sede de
Recursos Genéticos e Biotec-
nologia, em Brasília, que conta
com cópias de segurança de
tudoqueétrabalhadoporsuas
unidades pelo País, uma espé-
cie de“backup vivo”. Em 2014,
a instituição de pesquisa inau-
gurou um novo prédio, com
um investimento R$ 13 mi-
lhões. O novo espaço tem mais
de 2 mil metros quadrados e a
reportagem da FOLHA visitou
o local esta semana. O banco
genético armazena amostras a
uma temperatura de 20ºC ne-
gativos,comumcontrolecom-
pleto via software. Um total de
120milacessosde976espécies
só de amostras vegetais, com
potencial de germinação que
precisa ficar acima de 85%, ap-
tasparautilizaçãoemqualquer
momento.
A capacidade total do banco
é de incríveis dois milhões de
acessos. Hoje , num trabalho
demaisde40anos,apenasdu-
ascâmarasestãosendoutiliza-
daseháespaçoparamaisqua-
trodelas.Tambémháachama-
da criopreservação, a 196ºC
negativos, com amostras de
animais, vegetais e microrga-
nismos. Somente o espaço
destinadoaocriobancoanimal
tem uma estrutura para oito
criotanques, sendo que cada
um deles tem capacidade ar-
mazenar90milamostras,tota-
lizando720mil.
Atualmente estão em utili-
zação dois criotanques com
capacidadepara180milamos-
tras de raças brasileiras natu-
ralizadas. “Hoje os bancos ge-
néticos são uma tendência
mundial. Antes os recursos ge-
néticos eram tratados como
um bem mundial, sem dono.
Depois da Conferência da Bio-
diversidade, que surgiu na Eco
92, cada País ficou responsável
por sua diversidade. O que o
Brasil tem e traz de outros paí-
ses é importante inclusive por
uma questão estratégica, co-
mercial e pagamentos de pro-
priedadeintelectual”,explicao
curador da coleção de base do
Banco Genético da Embrapa,
o pesquisador Juliano Gomes
Pádua. A movimentação do
Banco Genético em Brasília é
de oito mil testes de germina-
ção por ano, sendo quatro mil
acessos novos e quatro mil de
monitoração dos que já estão
armazenados.“Para fazer me-
lhoramentogenéticovocêpre-
cisatervariabilidadeevaiatéo
banco para buscar caracterís-
ticas que precisa, como uma
planta com teor mais alto em
proteína, resistente a doenças,
etc. A ideia é pegar esses genes
que conferem tais qualidades
eincorporarnummaterialque
se está cultivando, fazendo
cruzamentos e seleção de
plantas”.
Por fim, para o pesquisador,
o Brasil está bem posicionado
no trabalho com bancos gené-
ticos, ficando“em 5º ou 6º” en-
tre os maiores do mundo.“Te-
mos uma capacidade gigante
paracrescereemtermosmun-
diaissomosumareferênciaem
conservação de plantas, ani-
mais e microrganismos. Sem-
prequeconversamoscompes-
quisadores estrangeiros, eles
elogiam muito nossa forma de
trabalhar em rede no Brasil, de
formabemorganizada”.
Veja vídeo utilizando apli-
cativo capaz de ler QR Code e
posicionando no código
abaixo:
Investimentoembanco
genéticoéfundamental
paradesafiosdofuturo
A Embrapa atua com a conservação das
mais variadas espécies desde 1976, na sede de
Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília
file: E:HIRE

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  • 2. 3FOLHA DE LONDRINA, SÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE MAIO DE 2017 I FOLHA RURAL@folhadelondrina Produtoresrurais sealimentammal Dieta de boa parte dos agricultores familiares é feita de muito sal, açúcar, gordura e fritura, aponta pesquisa Victor Lopes Reportagem Local U mpensamentonatural e simples é considerar que os produtores que vivem no campo possuem uma qualidade nutricional melhor de suas dietas, afinal, eles são os responsáveis por colocar na mesa da população urbana uma gama enorme de alimentos, como os hortifruti- granjeiros, quando se trata da agricultura familiar. Infeliz- mente, esse raciocínio não é tãosimplesassim. As dietas de famílias que moram na zona rural também estão longe do ideal. Uma pesquisa realizada pelo Cen- tro de Ciências Exatas e Natu- rais da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), no município de Alegre, mostra a gravidade do assunto. A inse- gurança alimentar e nutricio- nal no campo ainda é uma re- alidade naquela região e se estende para o País. O estudo foi apresentado na última quarta-feira (3), em Brasília (DF), na oficina sobre Agricul- tura e Sistemas Alimentares em Nutrição, promovida pelo Painel Global em parceria comaEmbrapa(vejamatérias nas páginas seguintes). Na pequena cidade do ES, com cerca de 30 mil habitan- tes, metade são produtores, sendo 70% deles agricultores familiares. Foi realizada então umainvestigaçãodoconsumo alimentar de 168 pessoas de quatrocomunidadesrurais.Se o índice ideal da dieta era aci- ma de 80 para se considerar adequado, o resultado final fi- cou em 49,4.“O que constata- mos foi um baixo consumo de frutas, leite e derivados. Por outro lado, um excessivo con- sumo de óleo, gordura satura- da, sódio e açúcar. Eles ven- dem produtos saudáveis, mas não os consomem. Eles fazem umadietademuitosal,açúcar, gordura e fritura”, explica Neu- za Brunoro Costa, diretora do Centro de Ciências Exatas e NaturaisdaUFES. Com isso, a pesquisa con- statou um excesso consumo calórico em 70% da popula- Shutterstock ção, proteína insuficiente em 30%, excesso do consumo de lipídios em 50% dos casos e, por fim, fibras abaixo da reco- mendação ideal.“42% da pop- ulação estava com excesso de peso”,decretaNeuza. Foi realiza então um progra- ma de reeducação alimentar com 81 produtores da área. A ideia era trabalhar também com os alimentos biofortifica- dos, mas infelizmente uma se- ca grave de três anos acabou nãoajudandonaproduçãodas variedades. “Fizemos então umtrabalhocompalestras,liv- rosdereceitasedicasnosquais se mostrava o risco das doen- ças e incentivava o plantio de hortaliçasparaconsumodeles. Depois dessa intervenção, vi- mos um aumento do índice de 49 para 58, ainda longe do ide- al, mas uma melhora. A quali- dade das dietas melhorou, in- clusive com a aumento signifi- cativo de consumo de vegetais e derivados do leite”, comple- mentaapesquisadora. PNAEFORTALECE AGRICULTURAFAMILIAR Se de um lado os agricul- tores familiares estão longe de uma dieta ideal, por outro, a comercialização dos seus produtostemfeitotodaadifer- ença para a nutrição da popu- lação, principalmente crian- ças. A expectativa do Ministé- riodoDesenvolvimentoSocial e Agrário (MDSA) é que entre 2016 e 2019 sejam investidos R$ 2,5 bilhões por meio do Programa de Aquisição de Ali- mentos (PAA) da agricultura familiar, sendo metade deste valor destinado ao Programa Nacional de Alimentação Es- colar (PNAE). “Queremos for- talecer essas mudanças de hábitos(alimentares)quecon- sideramos tão corretos com as escolas. É lá que as crianças passam a maior parte do tem- po, que se alimentam e apren- dem os bons hábitos”, salienta o Secretário Nacional de Segu- rançaAlimentareNutrição,do MDSA,CaioRocha. De fato, os números do PNAE são significativos, aju- dando na renda da agricultu- ra familiar e, claro, nutrindo o estudantes.São41milhõesde alunos e 130 milhões de re- feições diárias em todos os estados do País. O fomento é por alimentos in natura e minimamente processados. Os três principais grupos de compra são carne, cereais, leite e derivados. Aliás, existe uma resolução do Ministério daEducaçãoqueéobrigatório a oferta de frutos e hortaliças na quantidade de 200 gramas por semana. “Estamos regu- lando a questão do sal, da gordura, dos processados e discutindo a taxação de bebi- das açucaradas (refriger- antes). O Brasil é um dos países mais evoluídos nesses processos. Por outro lado, te- mos um grande caminho a percorrer, porque ainda são 7,2 milhões de pessoas com insegurança alimentar grave, ouseja,quenãosealimentam todos os dias”. Apesar de produzir e vender produtos saudáveis, nem sempre o produtor rural consome dessa produção Queremos fortalecer essas mudanças de hábitos (alimentares),que consideramos tão corretos,com as escolas”
  • 3. 4 FOLHA RURAL I FOLHA DE LONDRINA, SÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE MAIO DE 2017 @folhadelondrina Victor Lopes Reportagem Local ‘O Brasil é o celeiro do mundo”; “Com as projeções de aumento da população mundial, a responsabilida- de do País é gigantesca em alimentar as nações”. Se o leitor acompanha o agrone- gócio, bem provavelmente já viu algumas dessas sen- tenças por aí. Nada mais natural, afinal, as safras de grãos batem recordes ano após ano - estimativa em 2016-17 é 227,9 milhões de toneladas - sem contar a força da produção de car- nes, como é o caso da avi- cultura. Se de um lado a insegu- rança alimentar parece “águas passadas” - já que as estatísticas da fome, de fato, assustam menos hoje - por outro um assunto alarman- te precisa ser discutido com urgência: dietas de má qua- lidade. Simples de explicar. O mundo passa menos fo- me, mas as pessoas estão mal nutridas. Aí está o para- doxo: os ganhos na produ- ção de alimentos não têm sido seguidos, em escala global, por ganhos equiva- lentes em densidade e qua- lidade nutricional. O assun- to, que antes estava direta- mente ligado à medicina, agora está na agenda de pesquisa e inovação da agropecuária brasileira. Um alerta vermelho que, não por acaso, fez a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamar no ano passado a “Década de Ação sobre Nu- trição” entre 2016 e 2025. Os números são alarman- tes. De acordo com Painel Global de Agricultura e Sis- temas Alimentares de Nu- trição, entidade criada em 2013 para promover políti- cas de agricultura e alimen- tação pelo mundo, são aproximadamente 3 bilhões de pessoas vivendo com dietas de má qualidade, que incluem desde insuficiência de micronutrientes, mulhe- res anêmicas em idade re- forma concreta? A pesquisa, claro, tem um papel extre- mamente importante. Um dos exemplos citados por Maurício, cujo País já é pro- tagonista, é o programa de biofortificação, um proces- so de cruzamento de plan- tas da mesma espécie que resulta em cultivares mais nutritivas. Alimentos bási- cos são enriquecidos com ferro, zinco e vitamina A, capazes de auxiliar signifi- cativamente nas dietas (ve- ja box). “Este é um caminho muito interessante usando a ciência agronômica para elevar a densidade nutricio- nal dos alimentos. Traze- mos micronutrientes, mais proteínas ricas, vitaminas... Temos um programa de su- cesso, referência de biofor- tificação e estamos lideran- do isso”, ressalta. Outro caminho é a diver- sificação das dietas. Ao lon- go dos anos, segundo Lo- pes, houve uma tendências das dietas ficarem mais res- tritivas, com um conjunto menor de alternativas. É preciso maior diversidade. “A Embrapa está neste mo- mento desenvolvendo um grande programa para for- talecer a produção das cha- madas leguminosas de grãos (pulses) no Brasil, muito apreciadas em países como a Índia. Os indianos são em grande parte vege- tarianos e consomem essas leguminosas em quantida- de. Grão-de-bico, feijão- caupi, lentilhas, feijão- mungo têm uma qualidade nutricional alta e são ótima alternativa na diversifica- ção da dieta”. Mais do que isso, para os agricultores, uma aposta como essa acaba se tornan- do alternativa de diversifi- cação da produção, agrega- ção de renda, e, eventual- mente, pode-se aproveitar um mercado ainda pouco explorado. “Tudo isso vai fortalecer ainda mais o pro- dutor. A agricultura precisa incorporar essa noção de suficiência nutricional, bem-estar. São outras di- mensões que vão valorizar ainda mais a cadeia de ali- mentos e o papel do produ- tor na sociedade”. ProduçãoProdução que nutreque nutre Diversificação de dietas com leguminosas de grãos e alimentos biofortificados são apostas da pesquisa brasileira para vencer insegurança nutricional pelo mundo produtiva, obesidade, até doenças não transmissíveis relacionadas à dieta. Segun- do a entidade, os custos da desnutrição com relação à perda do PIB é de 5% em ní- vel mundial. Maurício Antônio Lopes é presidente da Embrapa e um dos 11 membros do Pai- nel Global. Nesta semana, o encontro da entidade acon- teceu na sede da instituição de pesquisa, em Brasília, pela primeira vez realizado no Brasil. Na concepção de Lopes, este é o momento da pesquisa agropecuária e de alimentos destinarem uma atenção maior na busca de sistemas de produção liga- dos à promoção de dietas de alta qualidade. “Traba- lhamos com uma visão de urgência, porque o proble- ma é grave, inclusive em países desenvolvidos. O problema do desbalanço nutricional traz consequ- ências sérias para a econo- mia e custos altos pelas so- luções da medicina. Preci- samos partir para a preven- ção e a agricultura tem que participar ativamente dis- so”, salienta. ESTRATÉGIAS CONCRETAS Mas como o Brasil pode participar dessa agenda de
  • 4. 5FOLHA DE LONDRINA, SÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE MAIO DE 2017 I FOLHA RURAL@folhadelondrina Embrapa/Divulgação Tarcila Viana/Embrapa/Divulgação O Brasil é o único do mundo trabalhando com oito alimentos biofortificados, principalmente feijão, mandioca, milho e batata doce Painel Global de Agricul- tura e Sistemas Alimentares de Nutrição publica fre- quentementerelatóriosbem detalhados com o objetivo de apontar para onde políti- cas públicas, pesquisas e a sociedade devem caminhar, com intuito de oferecer à população uma melhor qualidade nutricional dos alimentos disponíveis no mercado. Na última quarta-feira (3), quando pela primeira vez o Painel passou pelo Brasil, em Brasília, em ofici- na realizada em parceria com a Embrapa, eles apre- sentaram um documento com recomendações para os responsáveis pela elabo- ração de políticas públicas. O documento destaca, pri- meiramente, que é funda- mental reunir esforços do setor privado, sociedade ci- vil e governo, para que em conjunto melhorem os am- bientes alimentares e façam que os consumidores pas- sem a preferir dietas mais nutritivas. Outro ponto destacado é um processo eficaz de ela- boração de políticas públi- cas, identificando, antes de tudo, os desafios relaciona- dos à boa nutrição a serem priorizados. Eles serão identificados por meio de problemas específicos de saúde pública local. Ou se- ja, todas as soluções têm de ser adaptadas às necessida- desdogrupoalvo,mastam- bém terem flexibilidade pa- ra abranger a variedade existente na população. Com base nesses princí- pios, o Painel Global reco- menda definir incentivos fiscais, restringir o marke- ting de produtos alimentí- cios para crianças, ampliar o alcance dos produtos re- formulados mais saudáveis, aumentar a oferta de ali- mentos nutritivos, garantir um maior fornecimento de alimentos de alta qualidade nas instituições públicas e, por fim, criar processos de medição da qualidade dos ambientes alimentares e di- vulgaressesdados. A consultora internacio- nal com foco em nutrição e agricultura e membro do Painel Global, Emmy Sim- mons,destacoualgunspon- tos concretos que mostram que o Brasil está no cami- nho certo: o primeiro é rela- cionado à alimentação de qualidade nas escolas, o Bolsa Família e o segundo ponto é trabalhar forte no quedizrespeitoaosobrepe- so e obesidade. “No Brasil, os números relacionados a esses problemas estão cres- cendo, mas não estão horrí- veis como em outras partes do mundo. Por fim, eu acre- dito que a pesquisa tem pa- pelimportante.OBrasiltem uma responsabilidade mo- ral, pelo momento em que vive, de assumir o protago- nismo e, eu sugiro, lideran- ça, no que diz respeito a es- ses assuntos nutricionais. Muitos países querem ter uma população saudável como é considerada a po- pulaçãobrasileira”.(V.L.) PainelGlobal:‘Brasil precisaassumirliderança’ Muitos países querem ter uma população saudável como é considerada a população brasileira” Maurício Antônio Lopes,Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa:presidente da Embrapa: “Trabalhamos com uma“Trabalhamos com uma visão de urgência,visão de urgência, porque o problema éporque o problema é grave, inclusive emgrave, inclusive em países desenvolvidos”países desenvolvidos”
  • 5. 6 FOLHA RURAL I FOLHA DE LONDRINA, SÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE MAIO DE 2017 @folhadelondrina TarcilaViana/Embrapa Victor Lopes Reportagem Local Desde 2013, a Organização das Nações Unidas para Ali- mentaçãoeAgricultura(FAO) reconhece a biofortificação como uma das estratégias de agricultura para sistemas ali- mentares e melhoria de nu- trição. Um processo de me- lhoramento genético que re- sulta em cultivares mais nu- tritivas. O Brasil projetou a importância disso e iniciou os trabalhos há quase 15 anos. Agora, num momento de alerta para a qualidade da nutrição mundial, a tecnolo- gia pode fazer toda a diferen- ça nos resultados de dietas mais consistentes. A Rede Biofort é coordena- da pela Embrapa e seu princi- pal objetivo é o enriqueci- mento de alimentos que já fa- zem parte da dieta básica da população brasileira. Hoje, o País é o único do mundo tra- balhando com oito alimentos biofortificados, sendo 12 cul- tivares, principalmente de fei- jão, feijão-caupi, mandioca, milho e batata doce. Existem ainda trabalhos em fase de melhoramento para abóbora, arroz e trigo. Biofortificação é uma inter- venção nutricional específica, com o objetivo de aumentar o conteúdo de micronutrientes em alimentos através do me- lhoramento genético. Dife- rentemente da fortificação de alimentos, que ocorre duran- te o processamento. Além disso, a Embrapa faz parte da HarvestPlus, uma aliança mundial de institui- ções de pesquisa e de entida- des executoras que se uniram para melhorar e disseminar produtos agrícolas que con- tribuam para uma melhor nu- trição, com foco grande de biofortificados na América Latina e Caribe. “Sempre bus- camos alimentos básicos, porque são consumidos em grandes quantidades. Traba- lhamos para suprir os micro- nutrientes deficientes em de- terminada população. O pro- jeto HarvestPus trabalha com ferro, zinco e vitamina A”, ex- plica a pesquisadora da Em- brapa Agroindústria de Ali- mentos e líder da Rede Bio- fort, Marília Nutti, do Rio de Janeiro (RJ). Para atingir os resultados, associando produtividade e nutrição eficiente, foram identificadasnobancodeger- moplasma quais variedades teriam melhor qualidade nu- tricional e elas passaram a ser cruzadas com variedades de maior produtividade, resis- tentes a pragas e uma série de outras características. “Não adianta ser uma variedade produtiva e não tiver uma ex- celente performance agrícola. Trabalhamos junto com os produtores, desde o melhora- mento, para saber a aceitação deles. Eles nos ajudaram a es- colher as melhores cultivares, além das unidades demons- trativas (no Paraná há uma, inclusive), dias de campo e acompanhamento de aceita- ção nas escolas e outros locais de consumo”. Entre 2012 e 2014, cerca de 2,5 mil famílias tiveram aces- soaalimentosbiofortificados. “Acreditamos que a diversifi- cação é o ponto mais impor- tante de uma boa alimenta- ção. Sabemos, entretanto, que existem casos que mesmo as- sim não se atinge os índices nutricionais necessários. Em nenhum momento pretendemos dizer que a biofortifica- ção pode ser usada sozinha. É uma estratégia, in- clusive, que em alguns países vem depois da suplementa- ção, como uma forma de manter tais níveis de micro- nutrientes mais altos”. Pesquisas da Rede Biofort juntoàuniversidadesjáapon- tam que estes alimentos têm micronutrientes necessários para impactar na saúde da população.“Nãoadiantafazer tudoissoseosprodutoresnão adotarem e as pessoas não consumirem. Temos um tra- balho muito grande de trans- ferência de tecnologia, acesso para receber e ver os resulta- dos das variedades. No Mara- nhão e no Piauí estabelece- mosunidadesdemonstrativas em escolas técnicas agrícolas. Estudantes ficam 15 dias nas escolas e 15 dias em casa. As- sim, eles levam esse material para suas residências e se tor- nam multiplicadores”. Para Marília, o maior resultado, principalmente no Nordeste, é a diminuição da evasão ru- ral dos jovens estudantes gra- ças a biofortificação. O Brasil trabalha há quase 15 anos em pesquisas que visam ao enriquecimento nutricional de alimentos Alimentosbiofortificados: protagonistasdeboasdietas Alimentos básicos,Alimentos básicos, consumidos emconsumidos em grandes quantidadesgrandes quantidades são o foco da pesquisasão o foco da pesquisa da biofortificação;da biofortificação; projeto HarvestPusprojeto HarvestPus trabalha com ferro,trabalha com ferro, zinco e vitamina Azinco e vitamina A
  • 6. 7FOLHA DE LONDRINA, SÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE MAIO DE 2017 I FOLHA RURAL@folhadelondrina “Em termos mundiais somos uma referência em conservação de plantas, animais e microrganismos”, diz o pesquisador Juliano Gomes Pádua O banco genético armazena 976 espécies, só de amostras vegetais, com potencial de germinação e aptas para utilização em qualquer momento Embrapa/Divulgação Victor Lopes Victor Lopes Reportagem Local Quando se pensa nos desa- fios agronômicos para alimen- tar o mundo, as variantes são enormes: cultivares mais nu- tritivas, de alta produtividade, resistentes à pragas e doenças, tudo isso associado às preocu- pações ambientais, cada vez maislatentesnasociedade.Pa- ra fazer esse trabalho, sem dú- vida,oinvestimentonumban- co genético – com amostras das mais variadas espécies - se tornouprimordialentreospaí- ses, afinal, o trabalho de me- lhoramento genético constan- te é fundamental para atingir taisobjetivos. A Embrapa atua com a con- servação das mais variadas es- pécies desde 1976, na sede de Recursos Genéticos e Biotec- nologia, em Brasília, que conta com cópias de segurança de tudoqueétrabalhadoporsuas unidades pelo País, uma espé- cie de“backup vivo”. Em 2014, a instituição de pesquisa inau- gurou um novo prédio, com um investimento R$ 13 mi- lhões. O novo espaço tem mais de 2 mil metros quadrados e a reportagem da FOLHA visitou o local esta semana. O banco genético armazena amostras a uma temperatura de 20ºC ne- gativos,comumcontrolecom- pleto via software. Um total de 120milacessosde976espécies só de amostras vegetais, com potencial de germinação que precisa ficar acima de 85%, ap- tasparautilizaçãoemqualquer momento. A capacidade total do banco é de incríveis dois milhões de acessos. Hoje , num trabalho demaisde40anos,apenasdu- ascâmarasestãosendoutiliza- daseháespaçoparamaisqua- trodelas.Tambémháachama- da criopreservação, a 196ºC negativos, com amostras de animais, vegetais e microrga- nismos. Somente o espaço destinadoaocriobancoanimal tem uma estrutura para oito criotanques, sendo que cada um deles tem capacidade ar- mazenar90milamostras,tota- lizando720mil. Atualmente estão em utili- zação dois criotanques com capacidadepara180milamos- tras de raças brasileiras natu- ralizadas. “Hoje os bancos ge- néticos são uma tendência mundial. Antes os recursos ge- néticos eram tratados como um bem mundial, sem dono. Depois da Conferência da Bio- diversidade, que surgiu na Eco 92, cada País ficou responsável por sua diversidade. O que o Brasil tem e traz de outros paí- ses é importante inclusive por uma questão estratégica, co- mercial e pagamentos de pro- priedadeintelectual”,explicao curador da coleção de base do Banco Genético da Embrapa, o pesquisador Juliano Gomes Pádua. A movimentação do Banco Genético em Brasília é de oito mil testes de germina- ção por ano, sendo quatro mil acessos novos e quatro mil de monitoração dos que já estão armazenados.“Para fazer me- lhoramentogenéticovocêpre- cisatervariabilidadeevaiatéo banco para buscar caracterís- ticas que precisa, como uma planta com teor mais alto em proteína, resistente a doenças, etc. A ideia é pegar esses genes que conferem tais qualidades eincorporarnummaterialque se está cultivando, fazendo cruzamentos e seleção de plantas”. Por fim, para o pesquisador, o Brasil está bem posicionado no trabalho com bancos gené- ticos, ficando“em 5º ou 6º” en- tre os maiores do mundo.“Te- mos uma capacidade gigante paracrescereemtermosmun- diaissomosumareferênciaem conservação de plantas, ani- mais e microrganismos. Sem- prequeconversamoscompes- quisadores estrangeiros, eles elogiam muito nossa forma de trabalhar em rede no Brasil, de formabemorganizada”. Veja vídeo utilizando apli- cativo capaz de ler QR Code e posicionando no código abaixo: Investimentoembanco genéticoéfundamental paradesafiosdofuturo A Embrapa atua com a conservação das mais variadas espécies desde 1976, na sede de Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília file: E:HIRE