Nas vésperas do Natal, consumidores enfrentam longas filas para fazer compras. Lojistas tentam melhorar o atendimento para minimizar o impacto da espera, como criando distrações para os clientes. Alguns compradores aproveitam o tempo de espera para conversar ou namorar.
1. | 24 | ZERO HORA > SEXTA | 23 | DEZEMBRO | 2005
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Brasil paga dívida,
mas ainda deve muito
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Mensalidade escolar
sobe 6,5% em 2006
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Comportamento Comprar nos dias que antecedem o Natal exige tolerância e muita disposição dos
consumidores, mas também ações de lojistas preocupados em atender melhor no fim do ano
Antes das festas, as filas
FOTOS EMERSON SOUZA
Cena comum às vésperas dos festejos natalinos, lojas e mercados cheios de gente formando um formigueiro à espera de uma chance para pedir e pagar por seus produtos desafiam a paciência
SEBASTIÃO RIBEIRO
preparadas para encarar a espera Os clientes também têm suas es-
Natal é sinônimo de festa, es- nas compras de final do ano. tratégias. Enquanto o exército de jo-
perança, Papai Noel, fé, presen- – É importante se planejar. Quan- vens atendentes da Renner se desdo-
tes... e fila. Nesta época do ano do você sabe que vai enfrentar fila, brava para fazer a fila andar – e até
comprar quer dizer esperar. pode sair com um livro para ler, um que andava bem depressa –, a uni-
disco para escutar. Fazer do limão versitária Lisiani Mottini e o bancá-
N a banca 26 do Mercado Público
de Porto Alegre ontem à tarde a
espera chegava a meia hora. As filas
uma limonada – diz, alertando que
para os mais “agressivos e competi-
tivos” a tarefa pode não ser tão fácil.
rio Christian Magalhães aproveita-
ram a espera para namorar. Troca-
ram longos beijos para diminuir o
– para comprar e para pagar – por Não é o caso de Luiza, que saiu da impacto de 10 minutos entre o fim e
vezes se insinuavam, mas logo per- banca tão sorridente quanto entrou, a ponta da fila.
diam a forma em meio à confusão. faceira com seus R$ 6,38 de frutas Não tão longe dali, no Shopping
Os clientes eram tantos e estavam cristalizadas, passas de uva e azeito- Praia de Belas, o advogado Leonardo
tão apertados que se tornava impos- nas na sacola. Amanhã, as especia- Brandão teve de enfrentar duas ve-
sível seguir linhas – mais fácil era rias alimentarão a festa em sua casa zes a mesma fila para levar a filha
aguardar em um canto qualquer, em Gravataí, que como sempre terá Júlia, de cinco anos, para ver o Papai
entre os bacalhaus e os granéis, de Luiza, bom humor, apesar da ficha 70 mesa farta, família reunida, música Lisiani e Christian aproveitam espera Noel. Da primeira feita, quando es-
preferência embaixo do ventilador. para acabar só na manhã do dia 25. tava bem pertinho de ser atendida
A única coisa que punha ordem Antes, porém, a doméstica terá de pelo atarefado velhinho, a menina
no caos do fim de ano eram as fi- com um “no me lembro de ti”, re- enfrentar mais filas para comprar os deixando para o caixa apenas a sentiu uma súbita vontade de ir ao
chas, cujos números os atendentes trucado em um português com car- presentes de Natal. Se optar pelas emissão de carnês e embalagem dos banheiro e o encontro teve de ser
chamavam freneticamente – 25, 26, regado sotaque espanhol. grandes redes de varejo, não faltarão produtos. O consultor de negócios adiado. Na segunda tentativa, foram
27, 28... Ficha 70 em mãos, a empre- Mas na fila sempre tem uma par- oportunidades para conversar en- Alexandre Freire explica que as em- mais 10 longos minutos, a garota
gada doméstica Luiza Soares nem ceira disposta a conversar, seja sobre quanto espera. Na loja central de presas utilizam duas vias para mini- pendurada nas mãos do pai, dis-
parecia se importar com a confusão. o tempo ou sobre os preços que es- uma grande rede na Capital, havia mizar o impacto negativo da fila: traindo-se com a própria meninice.
Afinal, já que a espera era inevitável, tão proibitivos, e isso já basta para filas para provar, pagar e até para modificar processos para diminuir a Até que enfim ambos chegaram
melhor “levar na esportiva” mesmo. manter Luiza de alto astral. Nem to- pegar o elevador. Não importa a espera ou para que cliente não sinta diante do Papai Noel, o olhar do ad-
Luiza conversa nas filas. Só que às do mundo consegue enfrentar a si- quantidade e a agilidade dos caixas, o tempo passar. vogado deixou o infinito e concen-
vezes não arruma parceiro. Ontem tuação com tamanha tranqüilidade. parece impossível dar conta do pú- – O cliente pode ficar até meia ho- trou-se na máquina fotográfica, a
tentou um “bá, está recém na (ficha) Por isso, a psicóloga Ana Maria Ros- blico que faz a loja parecer um for- ra em uma fila, mas se a empresa garota pulou para o colo do senhor
30” para o office boy cara amarrada si, presidente da International Stress migueiro. Não é à toa que a rede cria dispositivos para distraí-lo, ele barbudo e pronto: o aguardado mo-
ao lado e ouviu um grunhido como Management Association no Brasil, criou os papa-filas, profissionais vai achar que ficou cinco minutos. mento estava agora documentado. A
resposta. Depois, disse “engraçado, uma associação que se dedica à pre- munidos de máquinas com leitores Atender o cliente na fila, por exem- espera tinha valido a pena.
teu rosto não me é estranho” para venção e tratamento do estresse, de códigos de barras cuja função é plo, faz com que ele nem repare que
uma senhora, e foi surpreendida aconselha que as pessoas já saiam encaminhar toda a compra antes, está esperando – diz. ± sebastiao.ribeiro@zerohora.com.br