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ARTIGO              Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no
ORIGINAL            município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7.            581

          O COMPORTAMENTO SEXUAL DE ADOLESCENTES EM ALGUMAS
              ESCOLAS NO MUNICÍPIO DE EMBU, SÃO PAULO, BRASIL

                                                                                            José Roberto da Silva BRÊTASa
                                                                                            Conceição Vieira da Silva OHARAb
                                                                                            Dulcilene Pereira JARDIMc


                                                             RESUMO

Trata de um estudo descritivo de cunho quantitativo, que teve como objetivo identificar alguns aspectos relacio-
nados ao comportamento sexual de adolescentes. A população do estudo constituiu-se de 920 adolescentes entre
10 e 19 anos de idade que freqüentavam escolas de ensino fundamental e médio da Região de Santo Eduardo,
município de Embu, São Paulo. Os dados foram obtidos por meio de um questionário com 28 questões estrutura-
das, cujos resultados demonstraram que 77% dos adolescentes gostavam do seu corpo, 71% buscavam informações
sobre sexualidade e 35% consideravam os pais como principal fonte de informação; 26% dos adolescentes referiram
vida sexual ativa, 79% deles tiveram sua primeira relação sexual com 14 anos ou menos e 81% deles relataram usar
condom nas relações sexuais. Os resultados do estudo reforçaram a importância da orientação sexual junto a
adolescentes favorecendo atitudes de prevenção.

Descritores: Adolescente. Comportamento sexual. Saúde pública. Sexualidade.

                                                            RESUMEN

Se trata de un estudio descriptivo cuantitativo, que tuvo como objetivo identificar algunos aspectos relacionados al
comportamiento sexual de adolescentes. La población del estudio estuvo formada por 920 adolescentes entre 10 y 19 años de
edad que asistían a instituciones de enseñanza primaria y secundaria de la Región de Santo Eduardo, municipalidad de
Embu, estado de São Paulo, Brasil. Los datos fueron obtenidos por medio de un cuestionario con 28 preguntas estructuradas,
cuyos resultados demostraron que al 77% de los adolescentes les gustaba su cuerpo, el 71% buscaba información sobre sexualidad
y el 35% consideraba a los padres como la principal fuente de información; 26% de los adolescentes dijeron tener vida sexual
activa, el 79% de ellos mantuvieron su primera relación sexual a los 14 años o menos y el 81% de ellos relató usar preservativo
en las relaciones sexuales. Los resultados del estudio refuerzan la importancia de la orientación sexual con adolescentes para
favorecer actitudes de prevención.

Descriptores: Adolescente. Conducta sexual. Salud pública. Sexualidad.
Título: El comportamiento sexual de los adolescentes en algunas instituciones de enseñanza de la ciudad de Embu, São
        Paulo, Brasil.

                                                            ABSTRACT

It is a descriptive, qualitative study aimed at identifying some aspects related to teenagers’ sexual behavior. The subjects of the
study were 920 adolescents aged 10 to 19, who were attending primary and secondary schools in the region of Santo
Eduardo, municipality of Embu, São Paulo, Brazil. The data were collected through a questionnaire with 28 structured
questions. The results show that 77% of adolescents liked their bodies, 71% looked for information about sexuality, and 35%
thought their parents were the primary source of information; 26% of them said they had an active sexual life, 79% had had
the first sexual intercourse at the age of 14 or younger, and 81% used condoms. The results of the study emphasize the
importance of providing sexual guidance for adolescents in order to encourage prevention attitudes.

Descriptors: Adolescent. Sexual behavior. Public health. Sexuality.
Title: The sexual behavior of adolescents in some schools in the city of Embu, São Paulo, Brazil.


a
  Enfermeiro. Psicólogo. Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Líder do Grupo de Estudos sobre Corporalidade
  e Promoção da Saúde (GECOPROS), São Paulo, Brasil.
b
  Enfermeira. Professora Associada da UNIFESP, São Paulo, Brasil.
c
  Enfermeira. Mestranda em Ciências pela UNIFESP, São Paulo, Brasil.
Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no
582           município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7.



INTRODUÇÃO                                                      pulação de adolescentes e jovens que freqüentam
                                                                três escolas públicas da Estância Turística do Mu-
      Na adolescência, o aprendizado da sexualida-              nicípio do Embu, São Paulo. As atividades do pro-
de não se restringe àquele da genitalidade, tam-                jeto estão vinculadas ao Programa de Integração
pouco ao acontecimento da primeira relação sexual.              Docente-Assistencial do Embu (PIDA/EMBU),
Trata-se de um processo de experimentação pes-                  instituído desde 1970 e caracterizado pela inte-
soal e de impregnação pela cultura sexual do gru-               gração de ações desenvolvidas por diferentes de-
po, que se acelera na adolescência e na juventude.              partamentos acadêmicos da Universidade Federal
O aprendizado constitui-se na familiarização de re-             de São Paulo, com a população moradora deste
presentações, valores, papéis de gênero, rituais de             município.
interação e de práticas, presentes na noção de cul-                   Para atender as necessidades do projeto, o
tura sexual na perspectiva(1).                                  conceito de ação adotado foi o de Orientação Se-
      Por isso, a adolescência vem ocupando, nas                xual(4), que pode ser conceituado como o processo
últimas décadas, um lugar de significativa relevân-             de intervenção sistemática na área da sexualidade
cia no contexto das grandes inquietações que as-                humana e que se propõe a fornecer informações
solam a comunidade mundial, tanto no campo da                   sobre sexualidade e a organizar um espaço de re-
educação quanto no da saúde, contribuindo, em                   flexões e questionamento sobre a importância da
especial, à preocupação com problemas que vêm                   prevenção, mudanças corporais, identidade, rela-
atingindo os jovens de todo o planeta, como: saúde              ções interpessoais, auto-estima, relações de gêne-
sexual e reprodutiva, a gravidez precoce, o aborto              ro, tabus, crenças e valores a respeito de relaciona-
inseguro e as Doenças Sexualmente Transmissíveis                mentos, comportamentos sexuais e DST.
(DST) e Síndrome de Imunodeficiência Adquirida                        Neste contexto, este estudo teve como obje-
(Aids)(2).                                                      tivos: identificar o comportamento sexual de ado-
      A sexualidade é uma manifestação psicoafeti-              lescentes que participaram das oficinas de orienta-
va individual e social que transcende sua base bio-             ção sexual; fornecer informações ao Projeto de Ex-
lógica (sexo) e cuja expressão é normatizada pelos              tensão Universitária “Corporalidade e Promoção
valores sociais vigentes. O desenvolvimento sexual              da Saúde”.
do adolescente sofre as influências dele próprio, da
família, de sua cultura e de seus companheiros, sen-            MÉTODO
do que a pressão do grupo é, talvez, o fator mais po-
deroso para determinar seu comportamento.                             Trata-se de um estudo descritivo que visa ex-
      Se a esse dado soma-se o fato de que a falta de           por as características de determinada população ou
conhecimento sobre sexo e/ou o constrangimento                  fatos e fenômenos de determinada realidade. O
provocado pelo tema faz com que os pais, educado-               mesmo promove um delineamento da realidade
res sexuais por excelência, não assumam esse pa-                uma vez que esta descreve, registra, analisa e inter-
pel, vê-se, freqüentemente, o adolescente inician-              preta a natureza atual ou processos dos fenôme-
do uma atividade sexual num momento em que não                  nos. O enfoque deste método sobre as condições
está preparado.                                                 dominantes da realidade, ou como uma pessoa, gru-
      Completando este quadro de influência sobre               po ou coisa, se conduz ou funciona no presente, em-
o desenvolvimento da sexualidade do adolescente,                pregando para este fim a comparação e o contras-
encontramos a escola, cenário deste estudo, a qual              te. Na resolução de problemas, informa as condi-
se mostra um ambiente propício para o desenvol-                 ções atuais, necessidades e como alcançar resulta-
vimento de atividades educativas. A escola comple-              dos(5).
menta o que é iniciado no lar, suprindo lacunas,                      O projeto deste estudo foi avaliado e aprova-
combatendo preconceitos, desenvolvendo respei-                  do pelo Comitê de Ética da Universidade Federal
to pelo corpo e pelos sentimentos(3).                           de São Paulo, sob o nº 1561/03, e obedeceu as nor-
      A motivação para a realização deste estudo                mas estabelecidas pela Resolução 196/96 do Con-
teve como ponto de partida nossa experiência jun-               selho Nacional de Saúde, que trata das Normas de
to ao Projeto de Extensão Universitária “Corpora-               Pesquisa Envolvendo Seres Humanos(6).
lidade e Promoção da Saúde”, em que desenvolve-                       Como princípio de inclusão da população ado-
mos atividades de orientação sexual com uma po-                 tou-se dois critérios: estar matriculado em uma das
Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no
              município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7.   583

três escolas e estar participando das atividades                      A questão envolvendo o conhecimento sobre
educativas do Projeto de Extensão Universitária                 sexualidade revelou que 71% da população busca-
“Corporalidade e Promoção da Saúde”.                            vam informações sobre a temática, sendo que 52%
     A coleta de dados deu-se mediante a aplica-                declararam possuir um bom conhecimento sobre o
ção de um questionário semi-estruturado, compos-                assunto, 43% consideravam seu conhecimento in-
to por 28 questões representando as variáveis re-               suficiente e 5% não responderam.
lacionadas aos dados sócio-demográficos (idade,                       Para resolver as dúvidas referentes à sexuali-
sexo, escolaridade, religião, estado civil) para ca-            dade, 35% dos adolescentes conversavam com os
racterização da população estudada e ao compor-                 pais, 32% recorriam aos amigos, 6% perguntavam
tamento sexual (auto-imagem, conhecimento so-                   aos professores, 3% aos avós, 2% aos profissionais
bre sexualidade, menarca, masturbação, namoro,                  de saúde, 1% pesquisavam em livros e 1% recorria
orientação sexual, virgindade, iniciação sexual,                ao namorado (a). Uma parcela significativa da po-
contracepção, aborto).                                          pulação (18%) referiu não conversar sobre a temá-
     Os dados obtidos foram analisados e interpre-              tica e 2% não responderam à questão.
tados em um contexto quantitativo, expressos me-                      A menarca se deu em maior porcentagem
diante símbolos numéricos.                                      (31%) aos 12 anos, sendo que 7% das adolescentes
                                                                ainda não havia menstruado. No período menstrual,
RESULTADOS                                                      31% das adolescentes referiram permanecer tran-
                                                                qüilas, 22% afirmaram ficarem intranqüilas, 15%
      Os resultados relacionados ao comportamen-                ficavam agressivas, 21% sentiam cansaço e 6% re-
to sexual dos adolescentes estudados foram tabu-                feriram sentir medo durante a menstruação.
lados, organizados e apresentados a seguir.                           Quanto à masturbação, 56% dos adolescentes
      A população desta pesquisa constituiu-se de               afirmaram não se masturbar, 31% se masturbava e
920 adolescentes, sendo 52% do sexo feminino e                  13% abstiveram-se de responder a questão. Quan-
48% masculino, na faixa etária entre 10 e 19 anos,              to à freqüência da masturbação, 37% a praticavam
com maior concentração (68%) entre 10 e 14 anos                 uma vez por semana, 34% se masturbavam de duas
de idade, de três Escolas Estaduais de Ensino Fun-              a três vezes por semana, 8% de quatro a cinco vezes
damental e Médio, situadas na região de Santo                   por semana e 14% mais de cinco vezes na semana.
Eduardo, do município do Embu, São Paulo.                             Para 60% da população estudada não há uma
      A população estudada mostrou que 81% en-                  idade certa para namorar. Para os que indicaram
contravam-se cursando o Ensino Fundamental,                     uma idade, 25% indicaram que deveria começar
enquanto 16% o Ensino Médio e 3% não respon-                    somente após os 15 anos. Destes, 60% já haviam
deram. Com relação ao estado civil 83% eram sol-                namorado ou estavam namorando, 28% nunca na-
teiros, apenas 1% declararam casados e 16% não                  moraram e 2% não responderam a questão.
responderam. Quanto à religião, 55% referiram ser                     O namoro entre pessoas do mesmo sexo para
católicos, seguido dos evangélicos (17%), espíritas             51% dos adolescentes é uma escolha sexual nor-
(1%), budistas (1%), testemunha de Jeová (1%), os               mal, enquanto que 13% consideraram a homosse-
agnósticos (15%) e 10% não responderam à ques-                  xualidade uma doença, para 34% é algo absurdo e
tão.                                                            2% da população deixou de responder a questão.
      Quanto à variável auto-imagem, 59% dos ado-                     A virgindade foi considerada importante para
lescentes consideravam-se atraentes, 87% simpá-                 79% dos adolescentes. Quanto à iniciação sexual,
ticos, 88% bonitos e 12% se achavam feios. Fisica-              70% dos adolescentes ainda não haviam tido a pri-
mente, 51% consideravam-se magros, 73% uma                      meira relação sexual, 26% já se relacionavam se-
“aparência normal”, 13% consideraram-se “gordi-                 xualmente, sendo que esta iniciação se deu para
nhos” e apenas 8% declararam-se “gordos”.                       79% com 14 anos ou menos. Dos adolescentes que
      Ainda, 77% dos adolescentes responderam                   já tiveram sua primeira experiência sexual, 81%
gostar do próprio corpo, 19% disseram não gostar                relataram que usam ou já utilizaram a camisinha.
e 4% não responderam a questão. Completando                           Quanto ao parceiro na primeira relação sexual,
estes dados, 72% afirmaram estarem satisfeitos com              45% relataram com namorado (a), 41% com um
as proporções do corpo, 27% não estavam satisfei-               amigo (a), 3% com profissionais do sexo, 7% com
tos e 1% não respondeu a questão.                               primos (as) e 4% não responderam à questão.
Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no
584           município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7.



      Quanto à orientação do desejo sexual, 70%                mente pela família com influência social direta,
declararam-se heterossexual, 1% bissexual, 22%                 além de eleger a escola como um ambiente propí-
ainda não sabiam e 7% não responderam à ques-                  cio à orientação sexual(8). Porém, muitos pais apre-
tão. Nenhum adolescente que referiu ter tido rela-             sentam enormes dificuldades quando se trata da
ções sexuais declarou-se homossexual.                          sexualidade dos filhos adolescentes, acabando por
      Entre os adolescentes com vida sexual ativa,             transferir o papel educativo a terceiros e reprodu-
40% afirmaram que os pais nem desconfiavam que                 zindo formas disciplinares de controle, perpetuan-
eles possuíssem vida sexual ativa, 16% dos pais                do assim um ciclo por muitas gerações.
sabiam, entretanto, fingiam não saber, 16% con-                        Neste contexto, a maioria dos pais atribui a
versavam com os pais sobre tudo, 23% afirmaram                 tarefa da orientação sexual(4) de seus filhos à escola
não ter diálogo sobre sexo com os pais e 5% não                e esta, por sua vez, apresenta dificuldade em cum-
responderam a questão.                                         prir tal tarefa, pois é importante considerar tam-
      Como método contraceptivo, 66% dos adoles-               bém o fato de que o professor pode sentir-se des-
centes pesquisados referiram usar o condom, 8%                 preparado em lidar com aspectos da orientação se-
utilizavam a pílula, 12% não usavam nenhum mé-                 xual junto a seus alunos(8).
todo para evitar a gravidez e 14% não responde-                        Outra importante parcela da população (18%)
ram à questão.                                                 referiu não buscar informações sobre as questões
      Na questão do aborto, a maioria dos adoles-              da sexualidade, configurando-se em um grupo de
centes (83%) não faria ou ajudaria alguém a fazer              risco para a gravidez precoce e/ou transmissão de
um aborto, 15% ajudariam ou fariam um aborto e                 DST/Aids, entre outros.
2% não responderam à questão.                                          Em relação ao assunto menarca, a maior por-
                                                               centagem da população indicou 12 anos como a
DISCUSSÃO                                                      idade de maior ocorrência da mesma. A precocida-
                                                               de da menarca na adolescência nos remete à neces-
     Os resultados revelaram que a maioria dos                 sidade da orientação sexual precoce, para garantir
adolescentes tinha uma visão positiva de si mes-               a efetividade das informações sobre sexualidade
mo, consideravam-se bonitos, atraentes, simpáti-               num caráter preventivo, pois as tendências de que-
cos e aparentemente satisfeitos com seus corpos.               da da idade média da menarca e da iniciação se-
Somente 12% se achavam feios.                                  xual aparecem associadas à gravidez na adolescên-
     O corpo é um importante elo de identificação              cia(9).
para os adolescentes. A preocupação com a beleza                       Durante o período menstrual, 6% das meni-
será marcante nesta fase, na medida em que ela                 nas referiram sentir medo, o que sinaliza a exis-
propiciará a chance de se destacar no grupo. Neste             tência de tabus e a falta de informação. Trata-se de
contexto, a auto-imagem positiva é de suma im-                 um marco de passagem da infância da menina para
portância, pois no aspecto psicológico do adoles-              a adolescência, que assume um papel importante
cente é um dos fatores determinantes à manifesta-              nesta fase de socialização. Independentemente do
ção de sua sexualidade. Este momento é caracteri-              segmento social, ainda caracteriza-se como rito de
zado pelas mudanças corporais, adquirindo o cor-               passagem valorizado nas sociedades modernas.
po um significado mais relevante, pois será por meio                   A masturbação é praticada por uma expressi-
dele que haverá ou não a identificação consigo                 va porcentagem dos adolescentes. Apenas uma par-
mesmo, com os pares do seu grupo, e a percepção                cela deles não respondeu a questão, o que pode re-
do olhar do outro. Conhecer este contexto auxilia-             fletir a vergonha ou incômodo em compartilhar a
nos a compreender as características desta fase de             intimidade sobre um assunto que ainda é conside-
intensas transformações que configuram a adoles-               rado um “tabu” social. Em época ainda recente foi
cência(7).                                                     considerado um ato prejudicial à saúde, devido a
     A maioria dos adolescentes deste estudo bus-              conseqüências bastante sérias tais como cegueira,
cava informações sobre sexualidade. Os pais e os               surdez, espinhas, fraqueza, impotência, debilidade
amigos, respectivamente, consolidaram-se como as               mental, loucura e outros desvarios(2).
principais fontes de informação sobre sexualidade,                     A adolescência é caracterizada por ser um pe-
seguidos dos professores, o que confirma a impor-              ríodo de descobertas, incluindo a descoberta do pró-
tância da educação sexual fornecida prioritaria-               prio corpo e da sexualidade, sendo que o ato de
Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no
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masturbar-se é uma das maneiras pelas qual o jo-                32,8% dos jovens brasileiros entre 12 e 17 anos já
vem pode conhecer e explorar o seu próprio cor-                 iniciaram a sua vida sexual, aumentando as chan-
po e a sua sexualidade, sendo muito importante                  ces de paridade juvenil entre 12 e 20 vezes(2).
para o desenvolvimento da genitalidade adulta(8).                     A precocidade da iniciação sexual vem ape-
      Para a população deste estudo não havia ida-              nas confirmar a importância da orientação sexual
de certa para se iniciar o namoro, a maioria já na-             começar na infância para que o adolescente possa
morou ou namorava por ocasião da pesquisa. Ou-                  fazer uso dessas informações preventivas no início
tros respondentes indicaram 15 anos a idade ideal               de sua vida sexual, minimizando os riscos ineren-
para se iniciar um namoro.                                      tes a esta prática.
      O relacionamento afetivo é fundamental pa-                      O uso do condom foi indicado por uma signi-
ra que se estabeleçam identificações, favorecendo               ficativa parcela dos adolescentes com vida sexual
a formação da identidade adolescente, experimen-                ativa, o que aparentemente demonstra conhecimen-
tando no namoro a relação de companheirismo, de-                to desta forma de prevenção. No Brasil, assim como
terminando como se comportam em uma relação a                   em outros países, tem havido aumento do uso de
dois, havendo trocas e experiências íntimas, com                preservativo pelos adolescentes(15). Porém, há es-
ou sem o intercurso sexual(10).                                 tudos com adolescentes que referiram nunca ter
      O namoro entre pessoas do mesmo sexo foi                  usado o condom, apesar de conhecerem os riscos
considerado normal para a maioria dos adolescen-                aos quais estavam expostos(16).
tes, mas ainda expressiva porcentagem considerou                      Se o uso de preservativos aumentou entre os
doença e “um absurdo”, confirmando a existência de              jovens, ele ainda não é usado por todos e nem em
postura ainda discriminatória quanto à orientação               todas as relações sexuais, pois o seu uso depende,
do desejo sexual(11) dos indivíduos. Uma pesquisa rea-          entre outros fatores, do envolvimento afetivo do
lizada em escolas demonstrou que 60% dos alunos                 momento, questões financeiras e de acesso aos mé-
adolescentes não gostariam de estudar ao lado de                todos, bem como o grau de liberdade e autonomia
homossexuais e que 40% dos professores não sa-                  alcançadas nesta faixa etária. Os jovens que usam
bem lidar com esse tipo de orientação do desejo                 preservativo na iniciação sexual tendem a manter
sexual(3).                                                      esta prática no decorrer da sua vida sexual, refor-
      A virgindade foi considerada importante pa-               çando mais uma vez a necessidade da orientação
ra a maioria dos adolescentes, confirmando ser um               da sexualidade precoce(17).
valor social atribuído, especialmente à mulher, na                    Na iniciação sexual, a maioria (86%) dos ado-
sociedade patriarcal. Porém, a adoção de compor-                lescentes teve como primeiro(a) parceiro(a) sexual
tamentos modernos tem se confrontado com a ma-                  o(a) namorado(a) ou amigo(a), resultado que cor-
nutenção das tradições, pois ter relações sexuais               robora com outros estudos, em que os jovens têm,
com o namorado a aproxima das práticas atuais de                então, iniciado sua atividade sexual com seus par-
relacionamento afetivo e de liberdade sexual, não se            ceiros, muitas vezes, no primeiro relacionamento
diferenciando entre o grupo na qual se encontra in-             afetivo(12). Uma pequena parcela teve como parcei-
serida(12).                                                     ro um profissional do sexo, o que corresponde his-
      A iniciação sexual ocorreu para 26% dos ado-              toricamente a uma parcela dos homens no Brasil,
lescentes que participaram do estudo, sendo que                 que teve como possíveis parceiras sexuais prosti-
destes, a experiência ocorreu com 14 anos ou me-                tutas ou empregadas domésticas(18).
nos. Confirmando que os adolescentes têm inicia-                      Na realidade, o que parece estar havendo é a
do sua vida sexual cada vez mais cedo, o que cola-              ocorrência de novas possibilidades dos adolescen-
bora para não utilização de proteção na primeira                tes buscarem parceiros com idades similares, o que
relação sexual devido a sua imaturidade etária,                 significa novos padrões de relações para a ocor-
emocional e afetiva(13).                                        rência da atividade sexual.
      Alguns autores consideram como fatores de                       Quanto à orientação do desejo sexual(11), a
proteção na prática sexual dos adolescentes a maior             maioria se declarou heterossexual, e uma expres-
escolaridade, melhores condições sociais, conviver              siva porcentagem diz ainda não haver se definido.
com ambos os pais, podendo postergar a idade de                 Trata-se de uma posição compreensível, pois os
iniciação sexual e facilitar o uso de proteção na pri-          adolescentes estão deixando para trás a bissexua-
meira relação sexual(1,2,14,15). Dados apontam que              lidade e, com base na primazia da genitalidade, es-
Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no
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tabelecendo diferenciação entre sexos e a elei-                 o aborto. A decisão do aborto raramente é to-
ção do objeto sexual(19).                                       mada de forma solitária pelos adolescentes, pois as
      Na relação com os pais, 40% dos adolescentes              famílias se posicionam oferecendo condições ma-
referiram que os mesmos não desconfiavam que                    teriais e apoio para sua realização, com base nos
tivessem vida sexualmente ativa. Outra significa-               valores morais e religiosos(2).
tiva parcela referiu não manter diálogo sobre sexo
com os pais. Estes dados demonstraram certa dis-                CONCLUSÕES
cordância, quando comparamos estes dados aos re-
ferentes às principais fontes de informação sobre                      A abordagem escolhida para nortear este es-
sexualidade, em que a principal fonte de diálogo e              tudo junto à população de adolescentes revela que
informação apontada foram os pais (35%). Sabe-                  atingimos o propósito de identificar comportamen-
mos que a educação sexual é uma responsabilidade                tos, formas de inter-relacionamentos e conhecimen-
inicialmente da família, começando desde o nasci-               to das práticas preventivas. Além da contribuição
mento e se consolidando com o passar do tempo.                  para o Projeto de Extensão Universitária “Corpo-
Se os pais não cumprem sua tarefa, expõem seus fi-              ralidade e Promoção da Saúde”.
lhos a informações, na maioria das vezes descone-                      Os resultados mostraram que os adolescen-
xas, recebidas da mídia e dos amigos.                           tes procuravam buscar informações sobre sexuali-
      Entretanto, lidar com a sexualidade dos filhos            dade e alguns se consideravam bons conhecedores
não é uma tarefa fácil para a maioria dos pais, pois,           do assunto, tendo como principal fonte de infor-
muitas vezes, necessitam se defrontar com a pró-                mações os pais e os amigos. A educação sexual é
pria sexualidade, e esta situação pode gerar, por               inicialmente uma função da família e vai se conso-
vezes, angústia. A sexualidade dos filhos traz à to-            lidando com o passar do tempo sob outras influên-
na, para muitos pais, aspectos reprimidos da pró-               cias sociais, como a escola, que se consolida como
pria sexualidade(8). Diante desta limitação, há uma             espaço propício para o desenvolvimento de ações
transferência para a escola de uma responsabili-                de cunho preventivo centrado principalmente na
dade que muitos pais não se dispõem ou encon-                   pessoa do professor, que deve estar preparado para
tram dificuldades de assumir. E, quando a práti-                a função.
ca sexual dos filhos não é discutida na família, o                     Os resultados mostraram uma precocidade
gerenciamento da contracepção à revelia dos pais                na idade de iniciação sexual, porém, um achado in-
torna-se mais difícil. No entanto, o fato dos pais es-          teressante do estudo foi o uso do preservativo nas
tarem cientes e a recomendarem não significa que                relações sexuais atuais e anteriores. Esta preva-
serão feitas(20).                                               lência do uso do preservativo entre os adolescen-
      O método de contracepção eleito pelos ado-                tes estudados confirma a literatura sobre a temática,
lescentes foi o condom, seguido em menor porcen-                que aponta o aumento do uso em relação há alguns
tagem pela pílula. O condom é o método de pre-                  anos atrás.
venção de gravidez e DST mais conhecido e mais                         Tudo isso é motivador e vem reforçar a ne-
usado entre os adolescentes(2). Embora 12% tenham               cessidade da informação contínua sobre sexuali-
referido não usar nenhuma forma de prevenção e                  dade para o estímulo de hábitos mais saudáveis na
14% deixaram de responder a questão.                            relação com o outro.
      A preocupação e a responsabilidade da con-                       Assim, acreditamos que o comportamento
tracepção quase sempre recaem sobre a mulher,                   sexual humano, quando vivenciado sem riscos, pode
sendo o uso do preservativo como método de pre-                 proporcionar alegria, prazer e satisfação. Ao con-
venção das DST e gravidez uma forma de dividir a                trário, quando há desconhecimento e despreparo,
responsabilidade da contracepção(16). Porém, os re-             o resultado pode ser desagradável e provocar so-
lacionamentos estáveis implicam na diminuição do                frimento, principalmente se ocorrer gravidez não
uso de preservativo e o conseqüente aumento do                  programada, além sofrer as ameaças e conseqüên-
uso de outros métodos contraceptivos, como a pí-                cias de uma DST. Por isso, ultimamente, muito se
lula, pois, a prioridade deixa de ser a proteção das            fala sobre sexo seguro, o que significa poder vi-
DST e passa a ser a prevenção da gravidez(13).                  venciar a sexualidade de forma satisfatória, sem o
      Somente vivenciando esta situação que o ado-              temor da ocorrência dessas complicações, as quais
lescente poderá decidir-se pela maternidade ou                  podem colocar em risco a própria saúde e a vida.
Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no
               município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7.    587

                  REFERÊNCIAS                                    11 Picazio C. Sexo secreto: temas polêmicos da sexuali-
                                                                    dade. São Paulo: Summus; 1998.
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  de Janeiro: Garamond/Fiocruz; 2006.                               com jovens mulheres pertencentes a uma coorte de
                                                                    nascimento. Cadernos de Saúde Pública 2006;22(7):
2 Castro GC, Abramovay M, Silva LB. Juventudes e se-                1459-69.
  xualidade. Brasília (DF): UNESCO; 2004.
                                                                 13 Ministério da Saúde (BR). Comportamento sexual da
3 Egypto AC. O projeto de orientação sexual na escola.              população brasileira e percepções do HIV/AIDS, PN
  In: Egypto AC, organizador. Orientação sexual na es-              DST e Aids. Brasília (DF); 2000. (Série Avaliação; 4).
  cola: um projeto apaixonante. São Paulo: Cortez; 2003.
  p. 13-31.                                                      14 Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Progra-
                                                                    ma Saúde do Adolescente. São Paulo: Secretaria de
4 Suplicy M, Egypto AC, Vonk FVV, Barbirato MA,                     Estado da Saúde de São Paulo; 2003.
  Silva MCP, Simonetti C, et al. Guia de orientação se-
  xual: diretrizes e metodologia. 10ª ed. São Paulo: Casa        15 Teixeira AMFB, Knauth DR, Fachel JMG, Leal AF.
  do Psicólogo; 1994. v. 1.                                         Adolescentes e uso de preservativos: as escolhas dos
                                                                    jovens de três capitais brasileiras na iniciação e na
5 Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Pau-           última relação sexual. Cadernos de Saúde Pública
  lo: Atlas; 2006.                                                  2006;22(7):1385-96.

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  de. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996: dire-             CC. Uso da camisinha por adolescentes e jovens: ava-
  trizes e normas regulamentadoras de pesquisas em                  liação da seqüência dos procedimentos. Acta Paulista
  seres humanos. O Mundo da Saúde 1996;21(1):52-                    de Enfermagem 2004;17(4):392-9.
  61.
                                                                 17 Martins LBM, Costa-Paiva LHS, Osis MJD, Souza
7 Leite CI, Rodrigues NR, Fonseca MC. Fatores asso-                 MH, Pinto-Neto AM, Tadini V. Fatores associados
  ciados com o comportamento sexual e reprodutivo en-               ao uso de preservativo masculino e ao conhecimento
  tre adolescentes das Regiões Sudeste e Nordeste do                sobre DST/AIDS em adolescentes de escolas públi-
  Brasil. Cadernos de Saúde Pública 2004;20(2):474-                 cas e privadas do Município de São Paulo, Brasil. Ca-
  81.                                                               dernos de Saúde Pública 2006;22(2):315-23.

8 Brêtas JRS, Silva CV. Orientação sexual para adoles-           18 Leal AF, Knauth DR. A relação sexual como uma
  centes: relato de experiência. Acta Paulista de Enfer-            técnica corporal: representações masculinas dos re-
  magem 2005;18(3):326-33.                                          lacionamentos afetivo-sexuais. Cadernos de Saúde
                                                                    Pública 2006;22(7):1375-84.
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  na perspectiva de jovens pais de uma comunidade                19 Brêtas JRS. A mudança corporal na adolescência: a
  favelada do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública             grande metamorfose. Temas Sobre Desenvolvimen-
  2003;19(Supl 2):283-92.                                           to 2004;12(72):29-38.

10 Torres GV, Davim RMB, Almeida MCS. Conheci-                   20 Brandão ER, Heilborn ML. Sexualidade e gravidez
   mentos e opiniões de um grupo de adolescentes so-                na adolescência entre jovens de camadas médias do
   bre a prevenção da AIDS. Revista Latino-America-                 Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública
   na de Enfermagem 1999;7(2):41-6.                                 2006;22(7):1421-30.




Endereço do autor / Dirección del autor /                        Recebido em: 05/05/2008
Author’s address:                                                Aprovado em: 06/10/2008
José Roberto da Silva Brêtas
Rua Carneiro da Cunha, 517, ap. 11, Saúde
04144-000, São Paulo, SP
E-mail: bretas.roberto@unifesp.br

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Comportamento sexual de adolescentes em escolas de Embu

  • 1. ARTIGO Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no ORIGINAL município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7. 581 O COMPORTAMENTO SEXUAL DE ADOLESCENTES EM ALGUMAS ESCOLAS NO MUNICÍPIO DE EMBU, SÃO PAULO, BRASIL José Roberto da Silva BRÊTASa Conceição Vieira da Silva OHARAb Dulcilene Pereira JARDIMc RESUMO Trata de um estudo descritivo de cunho quantitativo, que teve como objetivo identificar alguns aspectos relacio- nados ao comportamento sexual de adolescentes. A população do estudo constituiu-se de 920 adolescentes entre 10 e 19 anos de idade que freqüentavam escolas de ensino fundamental e médio da Região de Santo Eduardo, município de Embu, São Paulo. Os dados foram obtidos por meio de um questionário com 28 questões estrutura- das, cujos resultados demonstraram que 77% dos adolescentes gostavam do seu corpo, 71% buscavam informações sobre sexualidade e 35% consideravam os pais como principal fonte de informação; 26% dos adolescentes referiram vida sexual ativa, 79% deles tiveram sua primeira relação sexual com 14 anos ou menos e 81% deles relataram usar condom nas relações sexuais. Os resultados do estudo reforçaram a importância da orientação sexual junto a adolescentes favorecendo atitudes de prevenção. Descritores: Adolescente. Comportamento sexual. Saúde pública. Sexualidade. RESUMEN Se trata de un estudio descriptivo cuantitativo, que tuvo como objetivo identificar algunos aspectos relacionados al comportamiento sexual de adolescentes. La población del estudio estuvo formada por 920 adolescentes entre 10 y 19 años de edad que asistían a instituciones de enseñanza primaria y secundaria de la Región de Santo Eduardo, municipalidad de Embu, estado de São Paulo, Brasil. Los datos fueron obtenidos por medio de un cuestionario con 28 preguntas estructuradas, cuyos resultados demostraron que al 77% de los adolescentes les gustaba su cuerpo, el 71% buscaba información sobre sexualidad y el 35% consideraba a los padres como la principal fuente de información; 26% de los adolescentes dijeron tener vida sexual activa, el 79% de ellos mantuvieron su primera relación sexual a los 14 años o menos y el 81% de ellos relató usar preservativo en las relaciones sexuales. Los resultados del estudio refuerzan la importancia de la orientación sexual con adolescentes para favorecer actitudes de prevención. Descriptores: Adolescente. Conducta sexual. Salud pública. Sexualidad. Título: El comportamiento sexual de los adolescentes en algunas instituciones de enseñanza de la ciudad de Embu, São Paulo, Brasil. ABSTRACT It is a descriptive, qualitative study aimed at identifying some aspects related to teenagers’ sexual behavior. The subjects of the study were 920 adolescents aged 10 to 19, who were attending primary and secondary schools in the region of Santo Eduardo, municipality of Embu, São Paulo, Brazil. The data were collected through a questionnaire with 28 structured questions. The results show that 77% of adolescents liked their bodies, 71% looked for information about sexuality, and 35% thought their parents were the primary source of information; 26% of them said they had an active sexual life, 79% had had the first sexual intercourse at the age of 14 or younger, and 81% used condoms. The results of the study emphasize the importance of providing sexual guidance for adolescents in order to encourage prevention attitudes. Descriptors: Adolescent. Sexual behavior. Public health. Sexuality. Title: The sexual behavior of adolescents in some schools in the city of Embu, São Paulo, Brazil. a Enfermeiro. Psicólogo. Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Líder do Grupo de Estudos sobre Corporalidade e Promoção da Saúde (GECOPROS), São Paulo, Brasil. b Enfermeira. Professora Associada da UNIFESP, São Paulo, Brasil. c Enfermeira. Mestranda em Ciências pela UNIFESP, São Paulo, Brasil.
  • 2. Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no 582 município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7. INTRODUÇÃO pulação de adolescentes e jovens que freqüentam três escolas públicas da Estância Turística do Mu- Na adolescência, o aprendizado da sexualida- nicípio do Embu, São Paulo. As atividades do pro- de não se restringe àquele da genitalidade, tam- jeto estão vinculadas ao Programa de Integração pouco ao acontecimento da primeira relação sexual. Docente-Assistencial do Embu (PIDA/EMBU), Trata-se de um processo de experimentação pes- instituído desde 1970 e caracterizado pela inte- soal e de impregnação pela cultura sexual do gru- gração de ações desenvolvidas por diferentes de- po, que se acelera na adolescência e na juventude. partamentos acadêmicos da Universidade Federal O aprendizado constitui-se na familiarização de re- de São Paulo, com a população moradora deste presentações, valores, papéis de gênero, rituais de município. interação e de práticas, presentes na noção de cul- Para atender as necessidades do projeto, o tura sexual na perspectiva(1). conceito de ação adotado foi o de Orientação Se- Por isso, a adolescência vem ocupando, nas xual(4), que pode ser conceituado como o processo últimas décadas, um lugar de significativa relevân- de intervenção sistemática na área da sexualidade cia no contexto das grandes inquietações que as- humana e que se propõe a fornecer informações solam a comunidade mundial, tanto no campo da sobre sexualidade e a organizar um espaço de re- educação quanto no da saúde, contribuindo, em flexões e questionamento sobre a importância da especial, à preocupação com problemas que vêm prevenção, mudanças corporais, identidade, rela- atingindo os jovens de todo o planeta, como: saúde ções interpessoais, auto-estima, relações de gêne- sexual e reprodutiva, a gravidez precoce, o aborto ro, tabus, crenças e valores a respeito de relaciona- inseguro e as Doenças Sexualmente Transmissíveis mentos, comportamentos sexuais e DST. (DST) e Síndrome de Imunodeficiência Adquirida Neste contexto, este estudo teve como obje- (Aids)(2). tivos: identificar o comportamento sexual de ado- A sexualidade é uma manifestação psicoafeti- lescentes que participaram das oficinas de orienta- va individual e social que transcende sua base bio- ção sexual; fornecer informações ao Projeto de Ex- lógica (sexo) e cuja expressão é normatizada pelos tensão Universitária “Corporalidade e Promoção valores sociais vigentes. O desenvolvimento sexual da Saúde”. do adolescente sofre as influências dele próprio, da família, de sua cultura e de seus companheiros, sen- MÉTODO do que a pressão do grupo é, talvez, o fator mais po- deroso para determinar seu comportamento. Trata-se de um estudo descritivo que visa ex- Se a esse dado soma-se o fato de que a falta de por as características de determinada população ou conhecimento sobre sexo e/ou o constrangimento fatos e fenômenos de determinada realidade. O provocado pelo tema faz com que os pais, educado- mesmo promove um delineamento da realidade res sexuais por excelência, não assumam esse pa- uma vez que esta descreve, registra, analisa e inter- pel, vê-se, freqüentemente, o adolescente inician- preta a natureza atual ou processos dos fenôme- do uma atividade sexual num momento em que não nos. O enfoque deste método sobre as condições está preparado. dominantes da realidade, ou como uma pessoa, gru- Completando este quadro de influência sobre po ou coisa, se conduz ou funciona no presente, em- o desenvolvimento da sexualidade do adolescente, pregando para este fim a comparação e o contras- encontramos a escola, cenário deste estudo, a qual te. Na resolução de problemas, informa as condi- se mostra um ambiente propício para o desenvol- ções atuais, necessidades e como alcançar resulta- vimento de atividades educativas. A escola comple- dos(5). menta o que é iniciado no lar, suprindo lacunas, O projeto deste estudo foi avaliado e aprova- combatendo preconceitos, desenvolvendo respei- do pelo Comitê de Ética da Universidade Federal to pelo corpo e pelos sentimentos(3). de São Paulo, sob o nº 1561/03, e obedeceu as nor- A motivação para a realização deste estudo mas estabelecidas pela Resolução 196/96 do Con- teve como ponto de partida nossa experiência jun- selho Nacional de Saúde, que trata das Normas de to ao Projeto de Extensão Universitária “Corpora- Pesquisa Envolvendo Seres Humanos(6). lidade e Promoção da Saúde”, em que desenvolve- Como princípio de inclusão da população ado- mos atividades de orientação sexual com uma po- tou-se dois critérios: estar matriculado em uma das
  • 3. Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7. 583 três escolas e estar participando das atividades A questão envolvendo o conhecimento sobre educativas do Projeto de Extensão Universitária sexualidade revelou que 71% da população busca- “Corporalidade e Promoção da Saúde”. vam informações sobre a temática, sendo que 52% A coleta de dados deu-se mediante a aplica- declararam possuir um bom conhecimento sobre o ção de um questionário semi-estruturado, compos- assunto, 43% consideravam seu conhecimento in- to por 28 questões representando as variáveis re- suficiente e 5% não responderam. lacionadas aos dados sócio-demográficos (idade, Para resolver as dúvidas referentes à sexuali- sexo, escolaridade, religião, estado civil) para ca- dade, 35% dos adolescentes conversavam com os racterização da população estudada e ao compor- pais, 32% recorriam aos amigos, 6% perguntavam tamento sexual (auto-imagem, conhecimento so- aos professores, 3% aos avós, 2% aos profissionais bre sexualidade, menarca, masturbação, namoro, de saúde, 1% pesquisavam em livros e 1% recorria orientação sexual, virgindade, iniciação sexual, ao namorado (a). Uma parcela significativa da po- contracepção, aborto). pulação (18%) referiu não conversar sobre a temá- Os dados obtidos foram analisados e interpre- tica e 2% não responderam à questão. tados em um contexto quantitativo, expressos me- A menarca se deu em maior porcentagem diante símbolos numéricos. (31%) aos 12 anos, sendo que 7% das adolescentes ainda não havia menstruado. No período menstrual, RESULTADOS 31% das adolescentes referiram permanecer tran- qüilas, 22% afirmaram ficarem intranqüilas, 15% Os resultados relacionados ao comportamen- ficavam agressivas, 21% sentiam cansaço e 6% re- to sexual dos adolescentes estudados foram tabu- feriram sentir medo durante a menstruação. lados, organizados e apresentados a seguir. Quanto à masturbação, 56% dos adolescentes A população desta pesquisa constituiu-se de afirmaram não se masturbar, 31% se masturbava e 920 adolescentes, sendo 52% do sexo feminino e 13% abstiveram-se de responder a questão. Quan- 48% masculino, na faixa etária entre 10 e 19 anos, to à freqüência da masturbação, 37% a praticavam com maior concentração (68%) entre 10 e 14 anos uma vez por semana, 34% se masturbavam de duas de idade, de três Escolas Estaduais de Ensino Fun- a três vezes por semana, 8% de quatro a cinco vezes damental e Médio, situadas na região de Santo por semana e 14% mais de cinco vezes na semana. Eduardo, do município do Embu, São Paulo. Para 60% da população estudada não há uma A população estudada mostrou que 81% en- idade certa para namorar. Para os que indicaram contravam-se cursando o Ensino Fundamental, uma idade, 25% indicaram que deveria começar enquanto 16% o Ensino Médio e 3% não respon- somente após os 15 anos. Destes, 60% já haviam deram. Com relação ao estado civil 83% eram sol- namorado ou estavam namorando, 28% nunca na- teiros, apenas 1% declararam casados e 16% não moraram e 2% não responderam a questão. responderam. Quanto à religião, 55% referiram ser O namoro entre pessoas do mesmo sexo para católicos, seguido dos evangélicos (17%), espíritas 51% dos adolescentes é uma escolha sexual nor- (1%), budistas (1%), testemunha de Jeová (1%), os mal, enquanto que 13% consideraram a homosse- agnósticos (15%) e 10% não responderam à ques- xualidade uma doença, para 34% é algo absurdo e tão. 2% da população deixou de responder a questão. Quanto à variável auto-imagem, 59% dos ado- A virgindade foi considerada importante para lescentes consideravam-se atraentes, 87% simpá- 79% dos adolescentes. Quanto à iniciação sexual, ticos, 88% bonitos e 12% se achavam feios. Fisica- 70% dos adolescentes ainda não haviam tido a pri- mente, 51% consideravam-se magros, 73% uma meira relação sexual, 26% já se relacionavam se- “aparência normal”, 13% consideraram-se “gordi- xualmente, sendo que esta iniciação se deu para nhos” e apenas 8% declararam-se “gordos”. 79% com 14 anos ou menos. Dos adolescentes que Ainda, 77% dos adolescentes responderam já tiveram sua primeira experiência sexual, 81% gostar do próprio corpo, 19% disseram não gostar relataram que usam ou já utilizaram a camisinha. e 4% não responderam a questão. Completando Quanto ao parceiro na primeira relação sexual, estes dados, 72% afirmaram estarem satisfeitos com 45% relataram com namorado (a), 41% com um as proporções do corpo, 27% não estavam satisfei- amigo (a), 3% com profissionais do sexo, 7% com tos e 1% não respondeu a questão. primos (as) e 4% não responderam à questão.
  • 4. Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no 584 município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7. Quanto à orientação do desejo sexual, 70% mente pela família com influência social direta, declararam-se heterossexual, 1% bissexual, 22% além de eleger a escola como um ambiente propí- ainda não sabiam e 7% não responderam à ques- cio à orientação sexual(8). Porém, muitos pais apre- tão. Nenhum adolescente que referiu ter tido rela- sentam enormes dificuldades quando se trata da ções sexuais declarou-se homossexual. sexualidade dos filhos adolescentes, acabando por Entre os adolescentes com vida sexual ativa, transferir o papel educativo a terceiros e reprodu- 40% afirmaram que os pais nem desconfiavam que zindo formas disciplinares de controle, perpetuan- eles possuíssem vida sexual ativa, 16% dos pais do assim um ciclo por muitas gerações. sabiam, entretanto, fingiam não saber, 16% con- Neste contexto, a maioria dos pais atribui a versavam com os pais sobre tudo, 23% afirmaram tarefa da orientação sexual(4) de seus filhos à escola não ter diálogo sobre sexo com os pais e 5% não e esta, por sua vez, apresenta dificuldade em cum- responderam a questão. prir tal tarefa, pois é importante considerar tam- Como método contraceptivo, 66% dos adoles- bém o fato de que o professor pode sentir-se des- centes pesquisados referiram usar o condom, 8% preparado em lidar com aspectos da orientação se- utilizavam a pílula, 12% não usavam nenhum mé- xual junto a seus alunos(8). todo para evitar a gravidez e 14% não responde- Outra importante parcela da população (18%) ram à questão. referiu não buscar informações sobre as questões Na questão do aborto, a maioria dos adoles- da sexualidade, configurando-se em um grupo de centes (83%) não faria ou ajudaria alguém a fazer risco para a gravidez precoce e/ou transmissão de um aborto, 15% ajudariam ou fariam um aborto e DST/Aids, entre outros. 2% não responderam à questão. Em relação ao assunto menarca, a maior por- centagem da população indicou 12 anos como a DISCUSSÃO idade de maior ocorrência da mesma. A precocida- de da menarca na adolescência nos remete à neces- Os resultados revelaram que a maioria dos sidade da orientação sexual precoce, para garantir adolescentes tinha uma visão positiva de si mes- a efetividade das informações sobre sexualidade mo, consideravam-se bonitos, atraentes, simpáti- num caráter preventivo, pois as tendências de que- cos e aparentemente satisfeitos com seus corpos. da da idade média da menarca e da iniciação se- Somente 12% se achavam feios. xual aparecem associadas à gravidez na adolescên- O corpo é um importante elo de identificação cia(9). para os adolescentes. A preocupação com a beleza Durante o período menstrual, 6% das meni- será marcante nesta fase, na medida em que ela nas referiram sentir medo, o que sinaliza a exis- propiciará a chance de se destacar no grupo. Neste tência de tabus e a falta de informação. Trata-se de contexto, a auto-imagem positiva é de suma im- um marco de passagem da infância da menina para portância, pois no aspecto psicológico do adoles- a adolescência, que assume um papel importante cente é um dos fatores determinantes à manifesta- nesta fase de socialização. Independentemente do ção de sua sexualidade. Este momento é caracteri- segmento social, ainda caracteriza-se como rito de zado pelas mudanças corporais, adquirindo o cor- passagem valorizado nas sociedades modernas. po um significado mais relevante, pois será por meio A masturbação é praticada por uma expressi- dele que haverá ou não a identificação consigo va porcentagem dos adolescentes. Apenas uma par- mesmo, com os pares do seu grupo, e a percepção cela deles não respondeu a questão, o que pode re- do olhar do outro. Conhecer este contexto auxilia- fletir a vergonha ou incômodo em compartilhar a nos a compreender as características desta fase de intimidade sobre um assunto que ainda é conside- intensas transformações que configuram a adoles- rado um “tabu” social. Em época ainda recente foi cência(7). considerado um ato prejudicial à saúde, devido a A maioria dos adolescentes deste estudo bus- conseqüências bastante sérias tais como cegueira, cava informações sobre sexualidade. Os pais e os surdez, espinhas, fraqueza, impotência, debilidade amigos, respectivamente, consolidaram-se como as mental, loucura e outros desvarios(2). principais fontes de informação sobre sexualidade, A adolescência é caracterizada por ser um pe- seguidos dos professores, o que confirma a impor- ríodo de descobertas, incluindo a descoberta do pró- tância da educação sexual fornecida prioritaria- prio corpo e da sexualidade, sendo que o ato de
  • 5. Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7. 585 masturbar-se é uma das maneiras pelas qual o jo- 32,8% dos jovens brasileiros entre 12 e 17 anos já vem pode conhecer e explorar o seu próprio cor- iniciaram a sua vida sexual, aumentando as chan- po e a sua sexualidade, sendo muito importante ces de paridade juvenil entre 12 e 20 vezes(2). para o desenvolvimento da genitalidade adulta(8). A precocidade da iniciação sexual vem ape- Para a população deste estudo não havia ida- nas confirmar a importância da orientação sexual de certa para se iniciar o namoro, a maioria já na- começar na infância para que o adolescente possa morou ou namorava por ocasião da pesquisa. Ou- fazer uso dessas informações preventivas no início tros respondentes indicaram 15 anos a idade ideal de sua vida sexual, minimizando os riscos ineren- para se iniciar um namoro. tes a esta prática. O relacionamento afetivo é fundamental pa- O uso do condom foi indicado por uma signi- ra que se estabeleçam identificações, favorecendo ficativa parcela dos adolescentes com vida sexual a formação da identidade adolescente, experimen- ativa, o que aparentemente demonstra conhecimen- tando no namoro a relação de companheirismo, de- to desta forma de prevenção. No Brasil, assim como terminando como se comportam em uma relação a em outros países, tem havido aumento do uso de dois, havendo trocas e experiências íntimas, com preservativo pelos adolescentes(15). Porém, há es- ou sem o intercurso sexual(10). tudos com adolescentes que referiram nunca ter O namoro entre pessoas do mesmo sexo foi usado o condom, apesar de conhecerem os riscos considerado normal para a maioria dos adolescen- aos quais estavam expostos(16). tes, mas ainda expressiva porcentagem considerou Se o uso de preservativos aumentou entre os doença e “um absurdo”, confirmando a existência de jovens, ele ainda não é usado por todos e nem em postura ainda discriminatória quanto à orientação todas as relações sexuais, pois o seu uso depende, do desejo sexual(11) dos indivíduos. Uma pesquisa rea- entre outros fatores, do envolvimento afetivo do lizada em escolas demonstrou que 60% dos alunos momento, questões financeiras e de acesso aos mé- adolescentes não gostariam de estudar ao lado de todos, bem como o grau de liberdade e autonomia homossexuais e que 40% dos professores não sa- alcançadas nesta faixa etária. Os jovens que usam bem lidar com esse tipo de orientação do desejo preservativo na iniciação sexual tendem a manter sexual(3). esta prática no decorrer da sua vida sexual, refor- A virgindade foi considerada importante pa- çando mais uma vez a necessidade da orientação ra a maioria dos adolescentes, confirmando ser um da sexualidade precoce(17). valor social atribuído, especialmente à mulher, na Na iniciação sexual, a maioria (86%) dos ado- sociedade patriarcal. Porém, a adoção de compor- lescentes teve como primeiro(a) parceiro(a) sexual tamentos modernos tem se confrontado com a ma- o(a) namorado(a) ou amigo(a), resultado que cor- nutenção das tradições, pois ter relações sexuais robora com outros estudos, em que os jovens têm, com o namorado a aproxima das práticas atuais de então, iniciado sua atividade sexual com seus par- relacionamento afetivo e de liberdade sexual, não se ceiros, muitas vezes, no primeiro relacionamento diferenciando entre o grupo na qual se encontra in- afetivo(12). Uma pequena parcela teve como parcei- serida(12). ro um profissional do sexo, o que corresponde his- A iniciação sexual ocorreu para 26% dos ado- toricamente a uma parcela dos homens no Brasil, lescentes que participaram do estudo, sendo que que teve como possíveis parceiras sexuais prosti- destes, a experiência ocorreu com 14 anos ou me- tutas ou empregadas domésticas(18). nos. Confirmando que os adolescentes têm inicia- Na realidade, o que parece estar havendo é a do sua vida sexual cada vez mais cedo, o que cola- ocorrência de novas possibilidades dos adolescen- bora para não utilização de proteção na primeira tes buscarem parceiros com idades similares, o que relação sexual devido a sua imaturidade etária, significa novos padrões de relações para a ocor- emocional e afetiva(13). rência da atividade sexual. Alguns autores consideram como fatores de Quanto à orientação do desejo sexual(11), a proteção na prática sexual dos adolescentes a maior maioria se declarou heterossexual, e uma expres- escolaridade, melhores condições sociais, conviver siva porcentagem diz ainda não haver se definido. com ambos os pais, podendo postergar a idade de Trata-se de uma posição compreensível, pois os iniciação sexual e facilitar o uso de proteção na pri- adolescentes estão deixando para trás a bissexua- meira relação sexual(1,2,14,15). Dados apontam que lidade e, com base na primazia da genitalidade, es-
  • 6. Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no 586 município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7. tabelecendo diferenciação entre sexos e a elei- o aborto. A decisão do aborto raramente é to- ção do objeto sexual(19). mada de forma solitária pelos adolescentes, pois as Na relação com os pais, 40% dos adolescentes famílias se posicionam oferecendo condições ma- referiram que os mesmos não desconfiavam que teriais e apoio para sua realização, com base nos tivessem vida sexualmente ativa. Outra significa- valores morais e religiosos(2). tiva parcela referiu não manter diálogo sobre sexo com os pais. Estes dados demonstraram certa dis- CONCLUSÕES cordância, quando comparamos estes dados aos re- ferentes às principais fontes de informação sobre A abordagem escolhida para nortear este es- sexualidade, em que a principal fonte de diálogo e tudo junto à população de adolescentes revela que informação apontada foram os pais (35%). Sabe- atingimos o propósito de identificar comportamen- mos que a educação sexual é uma responsabilidade tos, formas de inter-relacionamentos e conhecimen- inicialmente da família, começando desde o nasci- to das práticas preventivas. Além da contribuição mento e se consolidando com o passar do tempo. para o Projeto de Extensão Universitária “Corpo- Se os pais não cumprem sua tarefa, expõem seus fi- ralidade e Promoção da Saúde”. lhos a informações, na maioria das vezes descone- Os resultados mostraram que os adolescen- xas, recebidas da mídia e dos amigos. tes procuravam buscar informações sobre sexuali- Entretanto, lidar com a sexualidade dos filhos dade e alguns se consideravam bons conhecedores não é uma tarefa fácil para a maioria dos pais, pois, do assunto, tendo como principal fonte de infor- muitas vezes, necessitam se defrontar com a pró- mações os pais e os amigos. A educação sexual é pria sexualidade, e esta situação pode gerar, por inicialmente uma função da família e vai se conso- vezes, angústia. A sexualidade dos filhos traz à to- lidando com o passar do tempo sob outras influên- na, para muitos pais, aspectos reprimidos da pró- cias sociais, como a escola, que se consolida como pria sexualidade(8). Diante desta limitação, há uma espaço propício para o desenvolvimento de ações transferência para a escola de uma responsabili- de cunho preventivo centrado principalmente na dade que muitos pais não se dispõem ou encon- pessoa do professor, que deve estar preparado para tram dificuldades de assumir. E, quando a práti- a função. ca sexual dos filhos não é discutida na família, o Os resultados mostraram uma precocidade gerenciamento da contracepção à revelia dos pais na idade de iniciação sexual, porém, um achado in- torna-se mais difícil. No entanto, o fato dos pais es- teressante do estudo foi o uso do preservativo nas tarem cientes e a recomendarem não significa que relações sexuais atuais e anteriores. Esta preva- serão feitas(20). lência do uso do preservativo entre os adolescen- O método de contracepção eleito pelos ado- tes estudados confirma a literatura sobre a temática, lescentes foi o condom, seguido em menor porcen- que aponta o aumento do uso em relação há alguns tagem pela pílula. O condom é o método de pre- anos atrás. venção de gravidez e DST mais conhecido e mais Tudo isso é motivador e vem reforçar a ne- usado entre os adolescentes(2). Embora 12% tenham cessidade da informação contínua sobre sexuali- referido não usar nenhuma forma de prevenção e dade para o estímulo de hábitos mais saudáveis na 14% deixaram de responder a questão. relação com o outro. A preocupação e a responsabilidade da con- Assim, acreditamos que o comportamento tracepção quase sempre recaem sobre a mulher, sexual humano, quando vivenciado sem riscos, pode sendo o uso do preservativo como método de pre- proporcionar alegria, prazer e satisfação. Ao con- venção das DST e gravidez uma forma de dividir a trário, quando há desconhecimento e despreparo, responsabilidade da contracepção(16). Porém, os re- o resultado pode ser desagradável e provocar so- lacionamentos estáveis implicam na diminuição do frimento, principalmente se ocorrer gravidez não uso de preservativo e o conseqüente aumento do programada, além sofrer as ameaças e conseqüên- uso de outros métodos contraceptivos, como a pí- cias de uma DST. Por isso, ultimamente, muito se lula, pois, a prioridade deixa de ser a proteção das fala sobre sexo seguro, o que significa poder vi- DST e passa a ser a prevenção da gravidez(13). venciar a sexualidade de forma satisfatória, sem o Somente vivenciando esta situação que o ado- temor da ocorrência dessas complicações, as quais lescente poderá decidir-se pela maternidade ou podem colocar em risco a própria saúde e a vida.
  • 7. Brêtas JRS, Ohara CVS, Jardim DP. O comportamento sexual de adolescentes em algumas escolas no município de Embu, São Paulo, Brasil. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):581-7. 587 REFERÊNCIAS 11 Picazio C. Sexo secreto: temas polêmicos da sexuali- dade. São Paulo: Summus; 1998. 1 Heilborn ML, Aquino EML, Bozon M, Knauth DR, organizadores. O aprendizado da sexualidade: repro- 12 Gonçalves H, Gigante D. Trabalho, escolaridade e dução e trajetórias sociais de jovens brasileiros. Rio saúde reprodutiva: um estudo etno-epidemiológico de Janeiro: Garamond/Fiocruz; 2006. com jovens mulheres pertencentes a uma coorte de nascimento. Cadernos de Saúde Pública 2006;22(7): 2 Castro GC, Abramovay M, Silva LB. Juventudes e se- 1459-69. xualidade. Brasília (DF): UNESCO; 2004. 13 Ministério da Saúde (BR). Comportamento sexual da 3 Egypto AC. O projeto de orientação sexual na escola. população brasileira e percepções do HIV/AIDS, PN In: Egypto AC, organizador. Orientação sexual na es- DST e Aids. Brasília (DF); 2000. (Série Avaliação; 4). cola: um projeto apaixonante. São Paulo: Cortez; 2003. p. 13-31. 14 Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Progra- ma Saúde do Adolescente. São Paulo: Secretaria de 4 Suplicy M, Egypto AC, Vonk FVV, Barbirato MA, Estado da Saúde de São Paulo; 2003. Silva MCP, Simonetti C, et al. Guia de orientação se- xual: diretrizes e metodologia. 10ª ed. São Paulo: Casa 15 Teixeira AMFB, Knauth DR, Fachel JMG, Leal AF. do Psicólogo; 1994. v. 1. Adolescentes e uso de preservativos: as escolhas dos jovens de três capitais brasileiras na iniciação e na 5 Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Pau- última relação sexual. Cadernos de Saúde Pública lo: Atlas; 2006. 2006;22(7):1385-96. 6 Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saú- 16 Silva CV, Brêtas JRS, Ferreira D, Correa DS, Cintra de. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996: dire- CC. Uso da camisinha por adolescentes e jovens: ava- trizes e normas regulamentadoras de pesquisas em liação da seqüência dos procedimentos. Acta Paulista seres humanos. O Mundo da Saúde 1996;21(1):52- de Enfermagem 2004;17(4):392-9. 61. 17 Martins LBM, Costa-Paiva LHS, Osis MJD, Souza 7 Leite CI, Rodrigues NR, Fonseca MC. Fatores asso- MH, Pinto-Neto AM, Tadini V. Fatores associados ciados com o comportamento sexual e reprodutivo en- ao uso de preservativo masculino e ao conhecimento tre adolescentes das Regiões Sudeste e Nordeste do sobre DST/AIDS em adolescentes de escolas públi- Brasil. Cadernos de Saúde Pública 2004;20(2):474- cas e privadas do Município de São Paulo, Brasil. Ca- 81. dernos de Saúde Pública 2006;22(2):315-23. 8 Brêtas JRS, Silva CV. Orientação sexual para adoles- 18 Leal AF, Knauth DR. A relação sexual como uma centes: relato de experiência. Acta Paulista de Enfer- técnica corporal: representações masculinas dos re- magem 2005;18(3):326-33. lacionamentos afetivo-sexuais. Cadernos de Saúde Pública 2006;22(7):1375-84. 9 Cabral CS. Contracepção e gravidez na adolescência na perspectiva de jovens pais de uma comunidade 19 Brêtas JRS. A mudança corporal na adolescência: a favelada do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública grande metamorfose. Temas Sobre Desenvolvimen- 2003;19(Supl 2):283-92. to 2004;12(72):29-38. 10 Torres GV, Davim RMB, Almeida MCS. Conheci- 20 Brandão ER, Heilborn ML. Sexualidade e gravidez mentos e opiniões de um grupo de adolescentes so- na adolescência entre jovens de camadas médias do bre a prevenção da AIDS. Revista Latino-America- Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública na de Enfermagem 1999;7(2):41-6. 2006;22(7):1421-30. Endereço do autor / Dirección del autor / Recebido em: 05/05/2008 Author’s address: Aprovado em: 06/10/2008 José Roberto da Silva Brêtas Rua Carneiro da Cunha, 517, ap. 11, Saúde 04144-000, São Paulo, SP E-mail: bretas.roberto@unifesp.br