O documento discute o uso excessivo da tecnologia e redes sociais e como isso pode afetar negativamente as relações pessoais. Ele enfatiza a importância de saber desligar dispositivos eletrônicos para estar totalmente presente com outras pessoas e sugere moderação no compartilhamento online para preservar a privacidade.
Desligar é preciso: refletindo sobre o uso consciente das redes sociais
1. O
convidado
Colunista
34 • REVISTA O GLOBO• 11 DE MARÇO DE 2012
Divulgação
Claudia Matarazzo*
Desligar é preciso
‘‘
O espaço virtual é cada vez mais ocupado, sença virtual implica uma educação real.
frequentado, comentado. Ele hoje é tão real que, Vamos às webcams: hoje, há uma verda-
em pouco tempo, a fronteira e o nome para deira compulsão por desvendar intimidades
diferenciá-lo do mundo real serão impercep- diante de “quanto mais pessoas, melhor”. Ora,
tíveis. E a velocidade da evolução das novas as câmeras de segurança de estabelecimentos
tecnologias pede frequentes ajustes na chamada comerciais, escritórios e prédios públicos já
“netiqueta”, justamente para refletir e regular as nos mostram em elevadores, dentro dos edi-
relações e a comunicação virtual. fícios e nas ruas. Para que mais exposição? A
Pode reparar: a conversa olho no olho, agora, privacidade e a exclusividade, mais do que
é interrompida por frequentes olhares de sau- nunca, tornaram-se um luxo, e, mais do que
A conversa olho dade para o tablet ou celular — sempre à vista e
à mão em posição privilegiada, como um terceiro
isso, uma meta a se perseguir se quisermos
ser realmente elegantes.
no olho, agora, é hóspede. É frustrante. O celular virou um com-
panheiro praticamente inseparável, e tem sido o
Em relação ao Twitter, suas mensagens de 140
toques permitem uma comunicação muito mais
grande vilão quando se trata de extrapolar. As rápida e dinâmica. Ótimo. Porém, com 140
interrompida por pessoas que estão com você ao vivo merecem toques, ou falamos algo sensacional ou é melhor
mais atenção do que o aparelho. É simples assim, nem teclar. Evite o comentário gratuito ou o que
frequentes e se não consegue desligá-lo quando necessário, apenas concorda e “paga pau” o tempo todo. Só
comece a se exercitar para dominar a ansiedade. vale se agregar algo, concorda?
‘‘
olhares de
saudade para o
tablet ou celular
— sempre à
vista e à mão
em posição
privilegiada
Sim, eu sei que pouca gente faz isso. É por isso
que vemos verdadeiras barbaridades em pú-
blico, e a promiscuidade impera nas comu-
nicações. Pense nisso e faça a diferença.
O Facebook, com milhões de usuários, de-
senvolveu-se de forma muito particular. Assim, é
bom estar familiarizado com certos “modos de
fazer”. Por exemplo: não peça a alguém para ser
seu amigo mais de uma vez. E não se ofenda se
alguém não te aceitar. É um direito. Tampouco
faça pedidos de amizade a amigos dos seus
amigos se você não os conhece. Alguns usuários
medem seu prestígio pela quantidade de amigos,
mas isso é bobagem. E cuidado com o que
postar. Falar mal de alguém pensando que a
pessoa não vai saber só porque não está em sua
O mundo mudou — e muito — por conta das
novas tecnologias. Se para melhor ou pior, só
saberemos em mais algumas décadas, pois ainda
estamos semi-hipnotizados por essas mudanças
que, para quem não nasceu com elas (como eu),
ainda parecem magia. No entanto, a mudança na
base de valores que regiam nossas vidas até
então é visível e até palpável. Se toda essa
tecnologia vier a melhorar o relacionamento
entre as pessoas (e não apenas facilitar a vida
prática), ela terá alçado o seu fim. Mas, para que
isso aconteça, é preciso disciplina para que
aprendamos a usar e, principalmente, dominar
as máquinas e o seu tempo de uso. Não é fácil,
pois essas máquinas não têm emoção, não ficam
carentes e nem se viciam. Nós, sim. Porém, resta-
lista de amigos é um enorme engano. É bom nos o livre arbítrio, o bom senso e — a nosso
lembrar que a elegância passa por tudo, in- favor — a paixão. De modo que é possível usar
clusive pela internet e suas redes sociais. Assim, todas essas novidades com mais benefícios do
convém ter a noção de que mesmo uma pre- que prejuízos. Ainda bem.
*ClaudiaMatarazzoéescritoraeacabadelançar“Etiquetasemfrescura”(editoraPlaneta)