SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 60
Baixar para ler offline
Sumário
     Bichos no metrô                     Ensaio:
5                                   8    Pará               12   Poliomielite


              Gastronomia: dicas
         16   de sobrevivência...
                                             Sexo                     Segurança:
                                        18   virtual
                                                              20      DEIC


    23    Política:
          Denúncia                      Cinelândia
                                26
                                                            30     Em que posso
                                                                   ajudar...?
              32 Capa


                      Cupim                             Edição nº 1

         Cuba livre                                       Banheiros
39                                                     41 públicos

                   A magia da                  Virada cultural
              46   ilustração             49

     Homenagem:                                      A balada que abala
53   Itagyba Kuhlmann                          55

                      Humor                                   Charge
               57                                        58
carta ao leitor


         C
Nós...
                                   upim, segundo nosso amigo
                                   dicionário, é a denominação
                                   comum dada aos insetos
                                   sociais da ordem dos
                                   Isópteros. Não! Não somos
                                   insetos sociais, nem ao menos
                                   temos como primórdio corroer
         de dentro para fora o mercado editorial. Mas como não
         temos interesse, no que a maioria das revistas publica,
         pode nos chamar de “do contra”.
                Queremos falar sobre sexo e não pornografia,
         personalidades polêmicas e não celebridades
         instantâneas, falar de política e não politicagem,
         consumo e não consumismos, falar sobre interesse
         público, não interesse do público. Falar com intensidade
         e não, superficialidade.
                Traremos aos leitores, matérias com linguagem
         objetiva e irreverente, apimentada e irônica.
         Trabalhando, ora com intertextualidade e referências
         históricas, ora com figuras de linguagem e metáforas
         imagéticas.
                Faremos junções entre textos, fotos e ilustrações
         com o intuito de criar um universo imagético repleto de
         informações, objetivas ou não, que uma ilustração é
         capaz de proporcionar, permitindo ao leitor infinitas
         possibilidades de composição.

                                             ... o cupins
                                                 os cupins
APERTADINHO




                       bichos no metrô
Everson Bertucci




O
              celular despertou muito cedo.             pen-drive-carteira-canetas-mar-
                                                        mita-água-escova-de-dente-colí-
                                                        rio-óculos-máquina-fotográfica-
                                                        revistas-biscoito e fui trabalhar.
       -- bosta de vida!                                       No trabalho, a rotina
       Acordei. Liguei o piloto automático, desliguei   mortificante de sempre. Fim do
o despertador, levantei, me troquei, escovei os den-    dia. Felicidade, enfim. Durmo
tes, comi qualquer coisa, peguei minha mochila-         no trajeto até a faculdade. Fim
                                                        da aula. Sigo até o metrô. O pi-
                                                        loto automático sempre ligado.
                                                        Pessoas, prédios, carros. Ouve-
                                                        se muito barulho. No fim, é tan-
                                                        ta coisa que tenho a impres-
                                                        são, à noite, que não vi nada
                                                        durante o dia.
                                                               Desço as escadas da es-
                                                        tação Ana Rosa, passo pela ca-
                                                        traca    e   me     direciono    à
                                                        plataforma. Estou cansado. O
                                                        metrô se aproxima, pára, abre
                                                        as portas e num átimo de se-
                                                        gundo sou arremessado para
                                                        dentro. Foi tão rápido que só
                                                        me dou conta que estou no va-
                                                        gão quando sinto meu rosto
                                                        grudado no vidro de uma das
                                                        portas.
                                                               Após um certo esforço,
                                                        consigo virar meu rosto para
                                                        trás para ver o que acontecia e
                                                        para minha surpresa e espanto
                                                        não havia pessoas no vagão.
                                                        Apenas bichos. Pareciam selva-
                                                        gens. Vacas, cavalos, éguas, ga-
                                                        linhas, veados, muitos burros,
                                                        um elefante e uma girafa.
                                                        Eram grunhidos, relinches, mu-
                                                        gidos e outros tantos sons mis-
                                                        turados que mal podia distin-
guir seus emissores.                         fim e se intrometeram na briga.
        Não sabia o que fazer, nem co-              -- vaca!
mo reagir. Preferi ficar imóvel, esperan-           -- galinha!
do pacientemente pela morte. Percebo                -- veado!
que há um certo código entre eles, que              -- cavalo!
foram se dividindo em núcleos. As gali-             -- égua!
nhas cacarejavam entre si, os burros                -- girafa!
se reuniram num canto, a girafa e o ele-            -- elefante!
fante se juntaram nas poltronas cin-
zas, as vacas mugiam demonstrando                    Para a minha sorte, ao chegar
uma certa felicidade e os veados fica-       na estação da Sé as portas do lado on-
ram sentados e quietos numa posição          de eu me encontrava foram as que se
muito reservada.                             abriram. Saí apressado, tentando fu-
        Estava    começando      a   ficar   gir daquela selvageria. Ao olhar para
tranqüilo quando uma égua deu uma            trás, noto que todos aqueles bichos
virada e sua crina veio de encontro di-      saíam acelerados do vagão. O elefante
reto com o meu rosto. Aquilo queimou         enfiou o pé entre o vagão e a platafor-
minha face. Senti uma vontade de xin-        ma e esparramado no chão foi pisotea-
gar ou mesmo de esmurrar, mas fiquei         do. Por um momento senti vontade de
intimidado pela possibilidade de levar       ajudá-lo, mas fui impedido pelo arras-
um coice fulminante do cavalo que a          tão de bichos vindo em minha dire-
acompanhava.                                 ção. Corri até a saída e finalmente
        Ao parar na estação São Joa-         passei pela catraca. Estava a salvo,
quim a situação piorou. Mais bichos fo-      pensei, eles não conseguirão atraves-
ram empurrados para dentro do vagão          sar. Fui para um canto e, tremendo, fi-
e aquilo virou uma lata de sardinha. Fi-     quei olhando.
quei prensado entre um burro, um ca-                 Para meu desespero, todos eles
valo e uma égua. Os pêlos do cavalo,         também começaram a atravessar a ca-
que eram de uma espessura grosseira          traca. Fechei os olhos e aproveitei pa-
e de um cheiro insuportável, começa-         ra pedir, resumidamente, perdão a
ram a me incomodar - embora não des-         Deus por todos os meus pecados.
se para saber se o mal cheiro era do         “Ave Maria, cheia de graça, o senhor é
burro ou do cavalo. Da égua não digo,        convosco, bendita sois vós entre as
pois parecia bem limpa e muito bem           mulheres”... Começou a demorar e na-
cuidada.                                     da de um ataque. Nenhuma agressão,
        Tudo estava indo bem até que         nenhum coice, nada. Resolvi abrir os
umas galinhas, distraídas, pisaram no        olhos e ver o que estava acontecendo.
joanete da girafa, que ficou irritadíssi-    Surpresa: ao atravessar a catraca, to-
ma. Começaram uma discussão ofensi-          dos mudavam de comportamento. O
va. Identificava-se apenas os gritos. As     jeito, os gestos.     Nenhum sinal de
outras galinhas entraram na discus-          agressividade. Passavam direto por
são. O elefante tentou apaziguar, mas        mim e seguiam em frente. Pareciam
foi totalmente ofendido por uma das ga-      não ser mais os mesmos. Cada um se-
linhas, surgindo então uma nova dis-         guindo distintos caminhos. Uns apres-
cussão. Travaram uma briga ferrenha          sados, outros, nem tanto. Não pude
até que uma galinha foi arremessada          evitar as interrogações.
na porta. Viu-se apenas seu deslizar                 Saí correndo da estação à pro-
até o chão, desmaiada. Os cavalos            cura de um espelho. ф
ensaio
  Lais Mendonça
"Lágrima que brota dos andes
 Cordilheira cristalina de esperança
     Eldorado do povo amazônico
 Labirinto nativo de águas barrentas
    Gigante de encantos e lendas
  Santuário de peixes e mananciais
Fertilizador de igarapés, lagos, furos e
                paranás
       Amazonas, das Amazonas
      Do repiquete, da piracema,
       Do pasto novo na vazante
        E vida nova na enchente
       Amazonas, das Amazonas
              Da pororoca
       E bem nutridos afluentes
  Negro magnífico, grandioso Juruá
  Bravo Madeira, misterioso Xingú
Rico Trombetas, lendário Nhamundá
           Imponente Purus,
          Maravilhoso Tapajós
        Deslumbrante Jiapurá"


          "Rei dos Rios"
   Marcos Lima e Inaldo Medeiros
quarto A123
       A história da mulher que vive há 33 anos no
           Hospital das Clínicas em São Paulo
                                                             Alexandre Oliveira da Silva




                                                       P
                                                               ara quem sempre se
                                                               utiliza do Metrô Clíni-
                                                               cas que fica a poucos
                                                               metros do Instituto de
                                                       Ortopedia (HC), não imagina
                                                       que há 33 anos Eliana Zagui,
                                                       35, reside nesse que tornou-se
                                                       seu lar após ter contraído o ví-
                                                       rus da poliomielite quando ti-
                                                       nha um ano e nove meses de
                                                       idade. Ela é natural de Guari-
                                                       ba (SP) onde vive seus pais
                                                       Carlos Zagui e Tereza Jorge Vil-
                                                       kas Zagui. Eliana é uma exí-
                                                       mia pintora de quadros com a
                                                       boca, técnica que vem adqui-
                                                       rindo há 11 anos com a volun-
                                                       tária Ursula J. Carvalhaes e já
                                                       obteve reconhecimento na Suí-
                                                       ça por meio de exposições.


       Com extrema destreza manipula o
pincel em sua boca como se o fizesse                No quarto A123 reside com mais
com as mãos. A duras penas obteve essa      um colega Paulo Oliveira desde sua infân-
autonomia. Ursula demonstra extrema         cia, também portador de Poliomielite. Al-
admiração por sua tutelada e enche-se       moça as 11h30 e janta as 17h30. Cedo,
de orgulho ao descrever seus primeiros      por motivos de regulamento interno. Ela
passos para adquirir tamanho nível técni-   gosta de comer pizza. Eliana tem uma roti-
co. Enquanto conversávamos, Zagui, em       na bastante cheia para um portador de
meio a risadas tomava seu suco com um       Pólio. Entre ida e vinda de enfermeiros,
canudinho, desempenhando sua “perfor-       assim como a pintura, ela também escre-
mance” extremamente eficiente não der-      ve um livro autobiográfico iniciado em
rubando uma gota sequer e ajeitando o       2002, por idéia de uma enfermeira e pre-
copo apenas com uma palheta. Eliana         tende lançá-lo em 2010, pela editora Bela
respira por meio de aparelhos sem os        Letra. Gosta de navegar pela internet (se
quais só agüentaria 6 horas. Apesar das     utiliza de uma palheta para digitar eficien-
circunstâncias ela se demonstra muito       temente bem) e também está cursando o
otimista e esperançosa.                     ensino médio que após conclui-lo, preten-
se graduar em psicologia.                     Passam um pano molhando no meu rosto,
        Apesar de sua condição,        lavam meu óculos, me aspiram, colocam o compu-
Eliana tenta manter-se o mais          tador do meu lado e senta uma delas para me dar
próximo de uma vida normal.            a janta, mas nem sempre eu janto todos os dias”.
“Aceitar é extremamente difícil,       Seu café da manha é: pacote com duas torradas,
me acostumei a conviver nessa si-      mamão, ameixa e chá.
tuação e como qualquer ser hu-                Eliana recebe visitas quase que diariamen-
mano, dito "normal", tenho meus        te e dispõe, diz ela, de vários amigos que esporadi-
momentos de depressão, angús-          camente acompanham-na em passeios fora do
tia, raiva, revolta, mas é superá-     Hospital. “são esporádicos porque demanda muita
vel, pois não perco a fé.              mobilização para minha saída e esse processo é
        Quando se é criança, a de-     muito burocrático” - reclama. “Para eu ficar 12 ho-
pressão, angústia, raiva, revolta,     ras fora daqui, preciso de um mês de antecedên-
é lidada de uma maneira e hoje é       cia. A pessoa que quiser me levar para passar um
de outra maneira, outro olhar,         dia em sua casa, seja onde for, tem que assinar
pensar, enfim”. “Acordam-me en-        um termo de responsabilidade, tem que haver um
tre 08h30, 09h00, tiram todos os       médico, um auxiliar de enfermagem e um técnico
calços do meu corpo (travessei-        de gasoterapia, sendo que essas três pessoas não
ros, rolo feito de cobertor forrado    podem estar trabalhando em lugar nenhum e sim
com lençol) me colocam para fa-        estarem de folga. O médico tem que vir assinar
zer xixi e escovam meus dentes.        um termo de responsabilidade, o hospital inteiro
De segunda, quarta e sexta, são        assina a papelada, alugo ambulância. Mesmo re-
os dias de lavar a cabeça.             solvendo dentro de um mês, se chegar no dia do
        Depois do banho tomado,        passeio e acontecer de alguém não puder acompa-
corpo arrumado na lateral esquer-      nhar, vai tudo por água abaixo”. Conta que em
da (lado que se inclina para pin-      2002 foi para o casamento do irmão de helicópte-
tar), tomo café, vem a voluntária      ro particular, cedido pelo então governador Mario
(Ursula) para me ajudar na pintu-      Covas.
ra (às sextas-feiras). Chega a ho-            Apesar de estar “sempre” rodeada de ami-
ra do almoço, que sempre antes         gos, diz se sentir muito só. Em conversas pelo
elas (as enfermeiras) vêm para         MSN, pois o acessa quase todas as noites perma-
dar os cuidados. Faço xixi, às ve-     necendo muitas vezes até a madrugada em conta-
zes     cocô,    aspiram       minha   to com amigos, confessou sonhar em conhecer
traquéia, me viram para o lado di-     alguém e poder sair do Hospital. Porém não gosta
reito e aí senta uma delas ao meu      de comentar tal situação, quanto mais fala sobre
lado para me servir o almoço.          sua “solidão” mais ela aumenta. Contudo relata já
        Às duas horas da tarde,        ter vivenciado um romance com alguém que ape-
vêm de novo para me virar, por         nas denomina de Ro/SP (assegurando-lhe anoni-
para fazer (as necessidades) se eu     mato) em 1997. Foi o seu primeiro beijo. Falando
tiver com vontade. Às vezes tenho      um pouco sobre sua família, coloca que não há
aula, ou pinto os artesanatos          muito contato entre eles: “Infelizmente, a família
quando recebo uma amiga que            num modo geral é estranho, porque não existiu o
me ajuda, às vezes leio a tarde to-    convívio diário. Garanto que você sabe um pouco
da, ou tenho visita.                   mais sobre mim do que meus pais e irmão”. Há
        Chega a janta. É a hora da     certo sentimento de culpa entre todos, relata.
higiene íntima, faço xixi, lavam       “Meu pai em si, se culpa por ter feito pouco ou na-
com     sabonete     e    trocam   a   da e o meu irmão não comenta muito, mas emoci-
calcinha.                              onalmente ele sofreu muito.
Minha mãe não aguenta falar do assunto, pois co-        rápido para ganhar di-
meça a chorar. Zagui tem noção que seu quadro é irrever-        nheiro.
sível, contudo diz esperar por um milagre.                             O que eu queria
        Sobre seus gostos pessoais, revela que gosta de fil-    que fosse diferente hoje
mes como Jogos Mortais e Pássaros Feridos (The Thorn-           em dia, é que as pessoas
birds). Na internet adora conversar, conhecer novas             parassem      de     matar
amizades e ficar respondendo emails de amigos, mas só os        umas às outras e a si
que classifica como sinceros. Além da pintura, lê livros e      mesmas no sentido inter-
faz artesanato. ”Pinto porta-retratos, caixas, coisas de        no. Todos se tornam
MDF no geral”. “Gosto muito de uma escritora chamada            egoístas, frios, ganancio-
Danielle Steell, ela escreve muitos romances, dramas e          sos, ficam competindo
têm alguns que são muitos bons, o último que li dela foi        para quem vai ficar com
“Porto Seguro”. Agora estou lendo um que se chama: “A           o prêmio do mais malva-
Sombra do Vento”. É um suspense meio misterioso, meio           do ou preguiçoso a troco
terror, é mais misterioso do que terror, muito bom!”.           de nada, sendo que to-
        Perguntamos se gostaria que sua vida fosse diferen-     dos irão morrer virar bos-
te e se teria raiva da situação a qual se encontra, respon-     ta    para    os    vermes
de: “A questão de tentar entender o porquê tive                 comerem.
poliomielite, hoje em dia já estou muito mais tranqüila,               Queria poder al-
pois não culpo meus pais e nem a Deus. Tudo aconteceu           gum dia na minha vida,
porque tinha que acontecer e ainda bem que estou viva. Se       ter a experiência de per-
Já fiquei revoltada? Conflitante? Tive fases terríveis! Se já   manecer uns dias fora
deixaram de existir hoje em dia? Não, porém, minha revol-       daqui, mas com a garan-
ta hoje em dia, está muito ligada a decepções com o ser         tia de que não perderei
humano, no modo geral. O modo que as pessoas vêem e             meu lugar e nem, muito
cuidam da vida dos outros, a pressa de querer fazer tudo        menos, ter a ameaça de
                                                                ser retirada, só por ficar
                                                                uns dias fora. Acredito
                                                                que se isso acontecesse,
                                                                será uma vez só, sem o
                                                                direito de repetir a dose e
                                                                claro, não repetiria sem-
                                                                pre, só em casos extre-
                                                                mamente excepcionais.
                                                                       Mas sonho é so-
                                                                nho. Meus conflitos hoje
                                                                em dia, estão ligados no
                                                                fator emocional, a minha
                                                                extrema teimosia, ao fa-
                                                                tor de viver verdadeira-
                                                                mente      uma      relação
                                                                amorosa      independente
                                                                de sexo, mas sem ser
                                                                muito interrogada, vigia-
                                                                da, atrapalhada, negada,
                                                                sem falatórios maléficos
                                                                para atrapalhar a rela-
                                                                ção, enfim”. ф
MEXEU... FEDEU!



          manual prático de sobrevivência
         num boteco de quinta durante um
          ataque de fome no meio do nada
Fabi Catarse*




1
         ° o teste do balcão - a fome é grande, a
         localidade não oferece opções, o jeito é
         entrar no único 'estabelecimento' que
         oferece 'coisas' de comer. Assim que en-
trar, de modo algum sente-se a mesa (se hou-
ver), antes, vá ao balcão para um rápido teste:
encoste seu antebraço balcão e conte até 3. Se
sua pele não aderir à gordura acumulada do bal-
cão, fique parcialmente feliz, sinal de que ele foi
limpo há pelo menos 6 meses. Caso sua pele fi-
que grudada, mas se solte depois um leve pu-
xãozinho, é um sinal de que ele foi limpo há 1
ou 2 anos, hora de decidir se sua fome é maior
do que o nojo dessa informação. No entanto, se
seu antebraço ficar completamente grudado no
balcão e não se soltar nem com a ajuda do bal-
conista, peça um pouco de água morna, jogue
entre a pele e o balcão, assim que a gordura
amolecer, recolha seu bracinho querido e saia o       abra um pacote novo, nem que
mais rápido possível do local, sem olhar para         para isso você tenha que pagar
trás;                                                 por todo o pacote... afinal, existe
                                                      a possibilidade do digníssimo bal-
2° copo descartável - na hipótese de ter perma-       conista ser do tipo que 'reutiliza'
necido no local, peça algo para beber, talvez sua     copos descartáveis!
fome seja apenas sede! Comece pedindo uma
água. Peça uma cujo copo ou garrafa venha la-         3° talheres descartáveis - você é
crado, vedado, isolado da atmosfera do boteco.        a pessoa mais corajosa e faminta
Caso o balconista diga que ele não 'trabalha'         do mundo, o copinho d'água só
com esse tipo de mercadoria, pergunte qual se-        abriu ainda mais seu apetite, o
ria a procedência da água vendida. Se ele disser      único jeito de resolver o proble-
que a procedência é uma bica que fica logo ali,       ma é comer! Prefira coisas que
no mínimo peça que ele use um copo descartá-          podem ser comidas com as
vel! Mas pense na possibilidade de pedir que ele      mãos, como lanche, esfirra, pas-
tel. No caso desse último, o lado bom é que o óleo quente
pode ter matado todas as bactérias, mas o lado ruim é que
o óleo super-hiper-mega-ultra-saturado completando 5
anos no tacho pode matar você. Se o balconista disser que
não frita, não assa e não prepara nada na hora, repense.
Pergunte pelo PF, com muita, muita, muita sorte o 'maitrê'
irá dizer que fica pronto em 15 minutos... isso será um óti-
mo sinal de que está sendo preparado no mesmo dia! Caso
sua fome já esteja grande a ponto salivar só de pensar no
'cheirinho' do 'bife' sendo frito, aceite um conselho: peça ta-
lheres de plástico. Do contrário, seu bife pode ganhar sabor
de dobradinha... que estava no cardápio de ontem!

4° ovo cozido - o bom e velho ovo, herói no combate a tan-
tos momentos de fome, ele pode salvar você mais uma vez!
Pense bem: ele tem embalagem própria e lacrada, pode ser
comido sem talheres, é rica fonte de proteínas e vitaminas,
não precisando de muito para matar (ainda que temporaria-
mente) sua fome, não é frito nem assado, é cozido! Mas é
preciso que seu poder de persuasão seja forte, afinal, você
terá de convencer o balconista de que faz questão de que
seu ovinho seja cozido na hora e por pelo menos uma hora
(pra garantir a eliminação de qualquer tipo de bactérias).
Diga que é uma receita da sua mãe! Caso consiga, vá fundo!

5° o recurso final - o balconista se nega a cozer um ovinho,
não serve pf, o único pastel que tem é de ontem, só tem co-
pos de vidro, sua pressão caiu, sua fome já está embaçan-
do sua visão. O que fazer?! De repente, não mais do que de
repente, você avista um pacote vermelho, escondido atrás
de algumas garrafas de 51, Velho Barreiro e Pitu... sim,
sim! É um pacote de Fandangos de presunto!!! Peça-o! Che-
que se está na validade, sacuda o pó da embalagem, pague,
nem que custe 5 vezes mais que o normal, e saia correndo!
Com certeza um pacote de Fandangos ( que rende mais do
que qualquer outro salgadinho!) vai conseguir aplacar sua
fome, de quebra, vai resolver seu problema de súbita queda
de pressão arterial já que possui níveis ressuscitadores de
sódio!

Originalmente    publicado   em:  http://www.claraemne-
ve.blogspot.com/
Contato: fabicatarse@yahoo.com.br

*Fabi Catarse é cronista de pequenas bobagens da vida,
lingüista e pensa que é chef, mas só da cozinha dela. Escre-
ve semanalmente no blog Clara em Neve sempre pensando
em comida. ф
... MAS... É GOSTOSO!




             dígitos do desejo
                         Quando o teclado e o monitor
                         substituem o contato sexual


O
            sexo foi e, mui-                                           Everson Bertucci
           to      provável,
           sempre será mo-
           tivo de curiosi-
dade, excitação, êxtase,       afetadas, direta ou indire-
euforia e outros tantos ad-    tamente.
jetivos. Claro que o grau              Muitos se questio-
de cada um deles varia de      nam se isso é bom ou
acordo com a idade, sexo,      ruim. Independente da
meio etc.                      resposta, o fato é que não    soas em busca de uma re-
        Em todos os perío-     somos mais os mesmos,         lação virtual.
dos históricos o sexo teve     ou talvez, sejamos sim os            Alguns usam este
suas influências e particu-    mesmos, só que transfor-      meio como uma espécie
laridades, seja na idade       mados. Uns mais, outros,      de liberação dos desejos
da pedra, com uma certa        nem tanto.                    mais secretos e que não
violência    e  submissão,             E o que dizer sobre   conseguiriam     fazer  no
nas orgias dos grandes pa-     o sexo depois da entrada      mundo real. Outros estão
lácios medievais, ou até       da internet? Mudou? É         à procura apenas de uma
mesmo a partir das fotono-     inegável uma grande mu-       conversa um pouco mais
velas, na era dos folhetins    dança       comportamental    picante, que no fundo não
e revistas românticas.         dentro desse universo tão     têm coragem de fazer dis-
        Com toda essa evo-     complexo. Com a chegada       tante da tela. Medo, pu-
lução e diversificação se-     da internet e das salas de    dor, repressão religiosa.
xual, os meios sempre          bate-papo, o sexo ganhou      São vários os motivos.
tiveram seu papel dentro       outro aliado. Cada vez               Há também aque-
dessas mudanças. Não há        mais aumenta o número         les que sentem um imen-
como negar uma grande          de pessoas a procura de       so prazer em fazer sexo
modificação depois da che-     relacionamentos     através   virtual. Como isso é possí-
gada da internet. Impossí-     dos meios virtuais. As sa-    vel? Simples, tem a manei-
vel não participar dessa       las de bate-papo vivem lo-    ra textual, em que duas
revolução, mesmo aqueles       tadas. Basta entrar num       pessoas estão conectadas
mais resistentes e conser-     desses provedores com         e, numa conversa, come-
vadores. De alguma for-        chats sobre sexo para con-    çam a digitar frases exci-
ma, suas vidas foram           ferir. São inúmeras as pes-   tantes, a se liberarem
sexualmente através de         mente. Como? Mostrando         "eu" que não lhe é habitual
fantasias, fetiches, pala-     seus órgãos genitais, se       – pelo menos socialmente.
vras picantes, obscenida-      masturbando, se tocando,               Diante de uma tela
des.                           utilizando acessórios co-      de computador, parece que
       Neste caso o imagi-     mo     vibradores,  roupas     o indivíduo se liberta de
nário é o grande aliado ao     sensuais, óleos... Elemen-     conceitos religiosos e fami-
que é escrito. O indivíduo     tos estes que ajudam nes-      liares relacionados ao se-
começa a imaginar como é       ta festa sexual, onde          xo. Na frente dela, se
o outro, como ele se com-      algumas máscaras caem          despe de pudores, moralis-
porta, como o tocaria, o       para dar lugar a outras.       mos e deixa aflorar seus
beijaria, enfim, como seria            Obviamente,    uma     desejos mais íntimos e se-
uma relação sexual com         das muitas vantagens de        cretos.
quem está do outro lado.       se relacionar virtualmente             O fato de estar se re-
       Nem sempre este ti-     é que não há absoluta-         lacionando pela internet o
po de relação termina em       mente nenhum risco de          faz ter a impressão de que
orgasmo. Muitas vezes a        contrair uma doença sexu-      aquelas pessoas também
pessoa está apenas a fim       almente       transmissível,   estão despidas de hipocrisi-
de se excitar, se sentir de-   por não haver nenhuma          as sociais, igualando-os, e
sejada, bem quista, ou de      transferência de fluidos       também pelo fato de que
despertar o prazer em al-      corporais.                     não terão nenhum laço so-
guém. Há também os que                                        cial ou afetivo – embora
só querem se divertir.         O sex o e o eu n a w eb ca m   possa haver exceção - num
       Como eles não es-                                      jogo de criação de "eus"
tão se vendo, nunca pode-                                             A webcam possibili-
rão garantir que o seu                Com a chegada da        ta ao indivíduo criar um
parceiro virtual chegou ao     internet e a possibilidade     "cano de escape" para a so-
ápice, pois este pode mui-     de conexão com outros in-      lidão. É como se a webcam
to bem estar mentindo.         divíduos, estando eles em      se transformasse numa
Mas tal fator não tem          qualquer parte do mundo,       companheira fiel do sujei-
grande relevância neste ti-    o sexo ganhou um novo          to, trazendo companhias
po de contexto. O impor-       meio tanto para encontros      diversas     e   descartáveis
tante é se sentir bem e        ocasionais somente para        num frenético e constante
realizado.                     satisfazer o corpo - sem       reality-show. Muitas vezes
       Aliada com a possi-     compromisso, e pela prati-     o indivíduo se torna escra-
bilidade de conversar tex-     cidade provável das par-       vo deste universo vicioso e,
tualmente com pessoas de       tes nunca mais se verem -      porque não dizer, nocivo.
qualquer lugar do mundo,       ou simplesmente pela prá-              É a necessidade de
desconhecidas ou não, a        tica “solitária-virtual”.      ver e de ser visto. A câme-
webcam se torna elemen-               Nestas práticas ci-     ra ligada somente não bas-
to fundamental na relação      bernéticas, o indivíduo se     ta, ele tem a necessidade
virtual. Ela proporciona a     sente liberto de seus pudo-    de saber que está sendo
visualização do outro. Nes-    res e mais a vontade para      visto por alguém e, de pre-
te jogo, a beleza e os gos-    falar e fazer coisas que       ferência, que o número de
tos pessoais contam mais       não teria coragem de fazer     espectadores seja sempre
do que simplesmente tro-       em outros ambientes. Tal-      o maior possível, para que
car mensagens de texto.        vez, possa-se dizer que ele    se sinta real, existente.
       Os envolvidos ago-      expõe o seu verdadeiro                 É a necessidade de
ra podem se excitar visual-    "eu", ou simplesmente o        existir. ф
virtual e obscuro
Cupim trata um dos tipos de crimes mais comuns do momento
e mostra como a demora na obtenção de informações e a falta
       de leis específicas prejudicam todo o processo




C
          om o avanço da                                                Tatianna Felix
          Internet, o au-
          mento do núme-
          ro   de    crimes
virtuais vem crescendo a             As       ocorrências
cada dia. Segundo estatís-    mais comuns são contra
ticas da Central Nacional     a honra. Existem outras
de Crimes Cibernéticos,       como ameaça, estelionato,
só em abril deste ano fo-     fraudes bancárias, falsifi-   gado da 4ª DIG, José Ma-
ram 7.640 denúncias. Em       cações e roubos de se-        riano Araújo Filho, expli-
2008 foram 91.038, das        nhas      bancárias.    Os    ca que ao acessar o menu
quais 57.574 (63%) eram       crimes realizados por mei-    arquivo, em seguida pro-
relativas à pornografia in-   os eletrônicos sempre dei-    priedades e posteriormen-
fantil. Desde 1997 até ho-    xam vestígios, o que faz      te detalhes, no corpo do
je no Brasil, foram mais      com que não exista crime      texto aparecerá o IP de
de 17 mil decisões judici-    perfeito, entretanto, é ne-   quem remeteu a mensa-
ais relacionadas ao cha-      cessário apenas um com-       gem. A partir daí é pedido
mado "direito eletrônico".    putador com acesso a          uma busca e apreensão
        Em São Paulo exis-    internet para que uma sé-     para que se possa ir ao lo-
te o Departamento de In-      rie de delitos sejam come-    cal e obter a informação
vestigações sobre o Crime     tidos.                        no próprio computador.
Organizado (DEIC). Den-              O Internet Protocol           A principal dificul-
tro dele há uma delegacia     - Protocolo de Internet -,    dade para a resolução dos
especializada em crimes       mais conhecido como IP,       casos é conseguir informa-
eletrônicos, a 4ª Delegacia   é uma das principais for-     ções, pois existe uma len-
de Investigações Gerais       mas para se chegar aos        tidão na obtenção das
(DIG), que atende várias      culpados. Ele é a identida-   requisições junto às repre-
ocorrências por meios vir-    de que todo computador        sentações judiciais, o que
tuais com autorias desco-     tem e que indica o endere-    prejudica, na maioria das
nhecidas.                     ço do proprietário. O dele-   vezes, a agilidade nas
apreensões e investigações de mate-
riais que facilitam o rastreamento
das informações que contribuem pa-
                                                 Cupim
ra a solução das denúncias registra-     Cupim- número 1 - Junho 2009
das. É fundamental que as partes
envolvidas facilitem o acesso da polí-             Editor Chefe
cia às informações para que as auto-               Flávio Rocha
rizações     judiciais  sejam    mais
                                            flavio.srochas@gmail.com
rápidas, com isso, o número de ca-
sos solucionados poderá ser maior.
        Em 2005, um caso de estelio-             Editores de Arte
nato envolvendo uma empresa de im-               Everson Bertucci
portação e exportação, que recebeu        everson.cronopio@hotmail.com
via e-mail uma proposta para trans-               Lais Mendonça
portar uma carga, foi solucionado.              lais.me@gmail.com
Eles receberiam um milhão de reais
para realizar o transporte. O gerente        Editor de Publicidade
da empresa acionou a polícia que no
                                                Fernando Nowikow
momento do fechamento do suposto
                                            fe.fig2006@yahoo.com.br
acordo deteve três pessoas.
        No Brasil não existe uma le-
gislação própria para os crimes virtu-       Editora de Fotografia
ais, o que facilitaria o trabalho da             Tatianna Felix
polícia e faria com que muitos não         tatiannafelix@hotmail.com
saíssem impunes por falta de uma
lei específica para enquadrar os cri-              Repórter
minosos.                                   Alexandre Oliveira da Silva
        Para não cair em golpes é im-
                                           ale.normando@gmail.com
portante seguir algumas recomenda-
ções, como não abrir nenhum e-mail
de pessoas desconhecidas, não envi-                Ilustrador
ar senhas ou dados pessoais pela In-               Flávio Leal
ternet, manter um antivírus e o               lealhc@hotmail.com
computador sempre atualizados. As
pessoas que se sentirem prejudica-       PARTICIPARAM DESTA EDIÇÃO
das devem procurar o auxílio de                 Caroline Regine
uma delegacia especializada ou do                Fabi Catarse
distrito policial mais próximo para            Fabiana Machado
que todos os casos possam ser inves-
                                               Gutierres Siqueira
tigados e os responsáveis punidos.

DIG-DEIC – 4ª Delegacia de Delitos
Cometidos por Meios Eletrônicos de                   Capa
São Paulo (SP)                                     Flávio Leal
Endereço: Av. Zack Narchi, 152, Ca-
randiru – São Paulo (SP) Fone: (11)               Blog Cupim
2221-7011 ou 2221-7030 ф                 www.revistacupim.blogspot.com
ENFIANDO O DEDO



        mais um caso de milhões
                       Vereador omite mansão de R$ 2 mi
                              à Justiça Eleitoral
                                                                        Fernando Nowikow




                    R
                              eeleito com 29.915 votos, o vereador Ushitaro Kamia (DEM),
                              de 62 anos, ‘esqueceu’ de declarar à Justiça Eleitoral, man-
                              são de R$ 2 milhões. Conhecido como “palacete imperial”
                              por causa da arquitetura japonesa, o imóvel fica na região
                    da Serra da Cantareira, zona norte de São Paulo.
                           Com três andares e cerca de 500 metros quadrados, a mansão
                    possui três suítes, salão de festa e jogos, duas salas de estar, salas de
                    jantar e meditação, piscina com cascata de pedra, avaliada em




R$ 200 mil, e deverá contar
também com dois elevadores
panorâmicos. Cercado de ver-
de, o “palacete imperial” do ve-
reador Kamia, fica no luxuoso
condomínio Residencial Jardim
Bibi II, no bairro de Vila Alberti-
na.
        O caso chamou a aten-
ção da Justiça Eleitoral, pois
perante a Lei, o vereador decla-
rou possuir um apartamento
de R$ 118,69 mil, na Avenida
Nova Cantareira, e três carros,
que somam R$ 80 mil. Ou seja,
um patrimônio de R$ 194.694.
Em entrevista aos jornais, Ka-
mia confirmou ser o dono do
imóvel, mas se enrolou ao res-
ponder por que não consta na
sua declaração de bens. Primei-
ro, ele disse que a mansão esta-
va em seu nome. Depois,
alegou que comprou no nome
do cunhado e aguarda transfe-
rência para seu nome.        Municipal,     representada    1998. É filho de imigran-
       Os jornais também     pelo vereador Wadih Mu-        tes japoneses que se esta-
flagraram o carro oficial    tran (PP), existe uma enor-    beleceram na zona norte,
do vereador - um Astra       me pressão por parte de        onde mantém seu reduto
Advantage 2.0 sedan, que     seus colegas vereadores        eleitoral.
custa mensalmente cerca      pela absolvição ‘a seco’ do           O caso do vereador
de R$ 1.6 mil aos cofres     vereador Kamia. “A publi-      mostra, mais uma vez, o
públicos municipais, sen-    cação da denúncia pela         mar-de-lama que se insta-
do usado para transpor-      imprensa não é motivo pa-      lou na política brasileira.
tar       material      de   ra alarde. Temos que exa-      Semelhante, porém em
construção para a obra.      minar isso com carinho”,       menor escala ao caso do
       O caso está sendo     declarou o corregedor.         deputado federal Edmar
investigado pelo Ministé-           O vereador Kamia        Moreira, que colocou à
rio Público Federal, que     (DEM) está em seu 4º           venda um castelo avalia-
vê indício de que o valor    mandato na Câmara Mu-          do em R$ 25 milhões, no
da obra é incompatível       nicipal, cargo pelo qual re-   interior de Minas Gerais,
com a renda declarada pe-    cebe salário de R$ 9,2         o “palacete imperial” do
lo parlamentar, que pode,    mil. Membro da base de         vereador Kamia reafirma
em tese, pegar até 5 anos    apoio do prefeito Gilberto     a falta de transparência e
de reclusão e perder o       Kassab (DEM), Kamia é          de credibilidade dos nos-
mandato por improbidade      formado em Direito. Já foi     sos políticos, que parecem
administrativa. Já para a    deputado federal duas ve-      pensar apenas em gran-
Corregedoria da Câmara       zes pelo PPB, em 1994 e        des castelos. ф
sessão nostalgia
  O retorno da cinelândia paulistana
                                                      Flávio Rocha e Lais Mendonça


        “Tinha cinema para todo lado, todo preço e vestimenta. Com terno e
        gravata, era possível entrar no cine República, ou no Ritz, ou mesmo
          no Normandie, na Rua Dom José de Barros. Com roupa ‘comum’,
         era possível entrar no Broadway, ou no Oásis, ambos na Avenida
         São João, onde ficava também o Metro – mas, para freqüentar este
         último, só de fato completo, como diziam os velhos portugueses da
          cidade”. (Heródoto Barbeiro no livro Meu velho centro, publicado
                             pela Edições Sesc São Paulo).




N
          este trecho Heródoto expressa o
          sentimento de quem viveu numa
          época onde o cinema era a diver-      mã mais velha. Fomos ao Santa He-
          são da família paulistana. É atra-    lena, só que na saída da sessão,
vés do olhar de três protagonistas que          saí sozinha e minha irmã com o
contaremos essa história que vai além das       Nelson”. E completa: “perdi o namo-
poltronas de couro, do Sensurround*, dos        rado para ela”.
trajes de gala ou dos grandes projetores das           Mas nem só de romances vi-
antigas salas de cinema: Myrthes Costa, Gil     viam os cinemas. André Mazzaropi,
e André Mazzaropi.                              filho do eterno caipira paulista Maz-
       A Cinelândia ficou caracterizada pelo    zaropi, afirma: “O cinema foi sua vi-
surgimento de cinemas no eixo da Avenida        da e é a sua história, seu reduto
São João, no centro de São Paulo. O circuito    profissional o Largo do Paissandu”.
agitou os dias paulistanos entre as décadas
de 1940 a 1970.                                 “Hoje em dia, tudo é muito diferen-
       Muitos romances começaram nas pol-       te”
tronas do centro, como conta Myrthes, que              Como diziam os também cai-
não revela a idade: “Vim da fazenda para        piras e compositores Chico Rey e
São Paulo em 1942, morava na região do Ipi-     Paraná. Os adjetivos das avenidas
ranga. Conheci o Nelson, que foi quem me        Ipiranga e Rio Branco, além das ru-
convidou para ir ao cinema, mas a mamãe         as Direita, 7 de Abril, Aurora, e das
não deixava eu ir sozinha porque não era de     praças República e Júlio de Mes-
bom tom ir só com um rapaz ao cinema, en-       quita mudaram tanto nas últimas
tão a condição era ter que levar a minha ir-    décadas, que poucas lembranças
as sessões pelo preço de uma.
                                               “O Brás inteiro vai pra lá”, contou Gil,
                                        advogado que jura ter mais de mil anos, so-
                                        bre os comentários tecidos pela elite morado-
                                        ra dos arredores da avenida Paulista e do
                                        ainda glamuroso bairro de Higienópolis, so-
nos restam de seus tempos áureos.       bre os cinemas mais baratos do centro.
       Onde antes encontrávamos                “Esses cines populares que cercavam
casas de chá, cinemas, teatros, pes-    as salas nobres da Cinelândia, eram mais
soas desfilando com roupas da últi-     simples, não precisava se arrumar tanto pa-
ma moda de Paris, celebridades,         ra freqüentá-los, e era mais barato, porém ti-
entre outras centenas de peculiari-     nha muitas pulgas. Bem, era o que diziam,
dades; hoje vemos o abandono e o        porque eu não freqüentava, acho que é por
descaso. Mendigos, camelôs e sujei-     isso que ficaram conhecidos como pulguei-
ra.                                     ros”, comenta a sorridente Myrthes.
       Vestidos longuetes, luvas e             A Cinelândia não só oferecia preços
chapéus eram os trajes das damas,       para vários bolsos, como também filmes pa-
enquanto os moços trajavam seus         ra todos os gostos. O cinema Jussara, por
ternos bem alinhados com sapatos        exemplo, só passava filmes da Nouvelle Va-
engraxados e com toda a pompa e         gue. O Broadway tinha como característica
elegância iam até os cinemas do         os filmes mexicanos. E, como se não bastas-
centro.                                 sem os elementos já citados, muitos cine-
       Durante trinta anos o cine-      mas      contavam       com      ambientação,
ma reinou absoluto, atraindo crian-     decorações especiais e ante-salas para convi-
ças, jovens, homens e mulheres          vência, como o cine Marrocos.
indistintamente. Nas suntuosas sa-
las a diversão era certa.               “São Paulo não pode parar”
       Após uma sessão no Marabá               A década de 1950 foi única para São
ou no Cine Ipiranga, podia-se cami-     Paulo. Segundo censo demográfico da época,
nhar calmamente entre as ruas, en-      ela havia atingido dois milhões de habitan-
contrar amigos, paquerar ou esticar     tes comparando-se com o Rio de Janeiro,
a noite em uma das casas de chá.        que até então era a capital federal do Brasil.
Eram várias as atrações que perme-             Nas avenidas começava o crescimento
avam as ruas de mosaico portu-          da circulação dos automóveis, a cidade cres-
guês e luzes amareladas.                cia vertiginosamente. O slogan era “São Pau-
       Mesmo quem não possuía           lo não pode parar”.
condições financeiras para ir ao Me-           A cidade experimentava os fluidos po-
tro ou ao Ritz, que eram considera-     sitivos da idealização do bem-estar que cer-
dos os “elitizados” da época, não       cavam as metrópoles e que vinham das
deixava de se divertir, pois a preços   principais cidades européias e norte-ameri-
bem mais convidativos podiam ir ao      canas. Neste contexto, o conjunto de salas
Santa Helena, Oásis ou Alhambra,        de cinema tem um papel muito importante,
com a possibilidade de assistir du-     pois personificava a mais gratificante forma
de lazer do habitante da cidade. Era a       rua”, lamenta Gil. A televisão passou
sua janela para o mundo.                     a centralizar a atenção da família,
       As pessoas se deslocavam até a Ci-    enquanto o ato de ir ao cinema foi
nelândia para se envolver na magia da        saindo cada vez mais de foco.
modernidade em meio aos prédios gigan-              Alguns fatores extra-cinemato-
tescos, se misturando às multidões que       gráficos contribuíram para o agrava-
circulavam pelas calçadas antes (ou de-      mento da questão, a transformação
pois) do escurinho do cinema. “Ah! Na-       urbana foi um dos principais. A cida-
quela época, o cinema fazia propaganda       de deixava de ter uma concepção idí-
da 2ª Guerra e a literatura francesa dita-   lica de metrópole e passava a ter
va nossos costumes”, conta Gil sobre o       destaque as dificuldades que já nos
sentimento que levava todos às ruas.         são costumeiras. Trânsito, congestio-
       Com o tempo, a relação entre o        namento, violência, alto custo de vi-
paulistano e a metrópole se alterou subs-    da, transporte coletivo deficiente,
tancialmente. O slogan agora mudou,          são itens que passaram a prender o
São Paulo: “Maior parque industrial da       paulistano dentro de suas casas.
América Latina”. Isso refletiu até mesmo            O perfil do circuito e do públi-
no lazer, substituindo as formas tradicio-   co cinematográfico se altera muito
nais de sociabilidade por novos rituais.     neste período, os palácios cinemato-
       “Chatô, que você deve conhecer        gráficos, por exemplo, tornaram-se
bem, trouxe da Europa a máquina da TV.       obsoletos, desestimulando mudan-
Estava decretada a morte do cinema de        ças. Delírios arquitetônicos que con-
                                             tribuíram para a notoriedade do
                                             Cine Marrocos tornaram-se coisa do
                                             passado.
                                                    Os Shoppings Centers chega-
                                             ram à capital, trazendo as compras,
                                             o cinema, a comida e toda comodida-
                                             de que proporcionam estes espaços.
                                                    A Cinelândia entrou em deca-
                                             dência e as enormes edificações pare-
                                             ciam ainda mais gigantescas com o
                                             esvaziamento das platéias, a solução
                                             então foi dividi-la apressadamente
                                             em nome da sobrevivência.
                                                    Assim, construiu-se um novo
                                             cenário. “Sai de cartaz o casal IV
                                             Centenário (terno & gravata & colar
                                             de pérolas) e surgem os personagens
                                             das ‘tribos’ urbanas que circulam
                                             com desenvoltura e alguma arrogân-
                                             cia”. Como relata Inimá Simões em
                                             seu livro “Salas de Cinema de São
                                             Paulo”.
                                                    Hoje em dia, o público dos ci-
Iniciativas começam a surgir
nemas que ainda estão em funciona-
mento são compostos em sua maioria                 Diferente de tantas salas his-
por office boys, desempregados, estu-       tóricas da cidade de São Paulo, que
dantes, comerciantes e homossexuais.        se transformaram em outros tipos
Não existe mais o antigo glamour que        de estabelecimento, o Cine Marabá,
era visto, e o inconsciente coletivo das    localizado na Avenida Ipiranga -
pessoas já não mais enxerga os cine-        757, foi reaberto ao público em gran-
mas do centro como foi outrora.             de estilo.
       “Na decadência destes cinemas,              Em Julho de 2008, deu-se iní-
ninguém ‘direita’ mais entrava neles.       cio ao processo de revitalização do ci-
Você vai vendo as coisas acabarem e fi-     nema, que transformou uma das
cando mais tristes, muitos ficaram co-      maiores salas do Brasil em um mo-
nhecidos como cinemas pornôs, como          derno complexo, mantendo o seu
o caso do Paissandu e o Olido, que já       charme histórico. São cinco salas
pelas nove horas da manhã se via ho-        nos formatos stadium e convencio-
mens entrando”, comenta Myrthes.            nais, projetores e poltronas importa-
       A existência destes espaços é        das, som Dolby Digital e capacidade
muito inferior em relação ao que já foi     de 1150 lugares.
um dia, alguns se transformaram em                 O projeto de renovação do Ci-
igrejas (Metro), outros ainda exibem fil-   ne Marabá que foi realizado pelo
mes pornográficos (Cine Saci), simples-     Grupo PlayArte e assinado por Ruy
mente foram demolidos e deram lugar         Ohtake, tramitou na Prefeitura de
a estacionamento (Apolo) ou comércio,       São Paulo por três anos e depois de
mas podemos ainda encontrar cine-           atendidas todas as especificações
mas que estão simplesmente fechados         técnicas pôde ser colocado em práti-
ou adornados com a placa de “aluga-         ca.
se” (Cine Ipiranga, Metrópole, Éden).              Além da reforma, o prédio
       Alguns projetos vão na contra-       também passou simultaneamente
mão da atual situação dos cinemas do        por um processo de restauro. Por ser
centro de São Paulo. Já é possível ver      um edifício tombado pelo patrimônio
tentativas de revitalizar salas e colocar   histórico, a Prefeitura exigiu que o
a Cinelândia Paulistana de volta no co-     projeto mantivesse elementos intac-
tidiano dos habitantes. O projeto “Bro-     tos. Segundo a PlayArte, todos os
adway     Paulistana”,    iniciativa   do   cuidados necessários foram tomados
governo de São Paulo, prevê uma             para manter as características que
abrangente reabilitação local com a re-     se tornaram tradicionais no centro
cuperação de dez cinemas antigos, que       paulistano.
seriam reativados ou transformados                 “Essa é nossa contribuição pa-
em casas de espetáculo.                     ra a manutenção de um dos marcos
       Talvez as casas de chá, chapéus      da cultura paulistana e também pa-
e bondes não voltem mais a ser uma          ra a revitalização do centro de São
realidade no centro da capital, mas res-    Paulo, que não pode ser esquecido
ta-nos acreditar que o centro volte a       nunca”, comenta Otelo Bettin Coltro,
ser um lugar de bem-estar e lazer e         vice-presidente executivo do Grupo
não somente de passagem. ф                  PlayArte.
APERTADINHO




 em que posso ajudar...?
                               Alexandre Oliveira da Silva




E
           m um minuto é
           impossível se fa-
           zer muitas coi-
           sas, há quem
diga o contrário (nós, os
tele-operadores). Mas pa-
ra um profissional que tra-
balha em Call Center a
palavra “não” é pecado e a
religião adotada nas em-
presas desse ramo ortodo-
xas puritanas é viril.
        O atual modelo bra-
sileiro instituído por lei
adota que, o atendimento
por meio do telefone tem
que ser o mais rápido pos-
sível e de qualidade (não
esqueçamos), exigindo as-
sim que empresas que
ofertam esse serviço se
adequem para tal faça-
nha. Sobrou para o opera-
dor. Stress, depressão e
baixa estima rola solto
nas centrais de atendi-
mento.
        Dias atrás soltei
um “caralho” em voz alta di-
ante da tela do computador,
socando a mesa em seguida.
Nunca havia me exaltado a
tal ponto. Meu algoz, deno-
minada supervisora, me fuzi-
lou com seu olhar austero.
Sempre fui um cara calmo,
calado em meu canto. De
pouco        relacionamento.
       Nunca gostei de fofo-
cas e conversar era o mesmo
que saltar de pára-quedas
(Pula... Pula!). Tinha que gos-
tar muito de mim para enca-
rar. Sim, após ter entrado
nesse ramo




                                  ф
retrato em
                          branco                             e    preto
    As possibilidades de cores de quem vive na
              pele a marca do vitiligo


C
          om cinco anos                                          mudam, o complexo e o
          de idade, Laura                                        isolamento    surgem     e
          era uma menina                                         com o passar do tempo,
          como outra qual-                                       alguns fantasmas come-
quer. Filha de um casal                                          çam a freqüentar seu o
simples, sua casa sempre                                         cotidiano. A fuga da es-
foi repleta de crianças.                                         cola se torna a melhor
Eram filhos de parentes,                                         opção.
vizinhos e amigos. A mãe,                                               Adolescente, Lau-
Dona Analú, fazia muitos                                         ra tem sede por conheci-
doces e petiscos para agra-                                      mento e a psicologia
dar a criançada. Sempre                                          passa a fazer parte de
pronta para acolher quem                                         seu sonho e faz desper-
quer que fosse, procurava                                        tar seu interesse de estu-
oferecer o que tinha de me-                                      do nesta área, pois
lhor em sua casa. Não só                                         deseja desvendar os mis-
ela, como seu esposo, Seu                                        térios da mente, ajudar
Jonas, mais conhecido co-                                        as crianças e àqueles
mo Jaú – apelido do fute-                                        que necessitam de auxí-
bol. Este, dono de uma        eles - inclusive os mais           lio emocional e encon-
simpatia e generosidade       simples, como aquela ma-           tram dificuldades, assim
que servia de exemplo pa-     ria-mole vendida em um co-         como ela.
ra muitas pessoas.            pinho e que vinha com um                  Hoje, já mulher,
       Como uma boa par-      pequeno brinde que Laura           Laura nos conta um pou-
te das meninas da sua ida-    chama de “figuinha”.               co sobre a doença, os
de, Laura cresceu dentro            Apenas um detalhe            medos, o tratamento, a
do universo de Monteiro       começou a diferenciá-la das        aceitação, o preconceito,
Lobato, suas histórias,       outras crianças, umas man-         os dissabores do amor,
seus personagens cativan-     chinhas brancas começa-            além da perda do sobri-
tes, seu universo fantásti-   ram a aparecer em seu              nho Nicolau de 14 anos,
co. Uma menina que            nariz por volta dos seis           a importância da rela-
sempre vivia num mundo        anos de idade. Era o surgi-        ção familiar, seu encon-
cor-de-rosa, tinha muito      mento do vitiligo.                 tro com Chico Xavier, o
medo da morte e sonhava             Os anos foram pas-           desejo de ser mãe e ou-
em ser bailarina. Era leva-   sando e no início de sua vi-       tros aspectos relativos à
da, adorava doces - todos     da escolar seus medos              sua vida.
CUPIM - Quando tudo co-        adoro dançar. Foi passan-     e comecei a me olhar desde
meçou?                         do o tempo e eu nunca fui     os pés e fui subindo. Pensa-
LAURA – Quando era pe-         atrás, agora até estou        va “nossa, mais eu não sou
quena, tinha muito medo        com vontade de entrar nu-     aleijada, eu tenho perna,
da morte, ficava sabendo       ma aula de dança (risos)      eu tenho pés...”. E eles (os
que alguém tinha partido,      sabe essa dança de salão?     pais) até aceitaram que eu
mesmo não conhecendo a         Então, estou com vontade      ficasse em casa porque eu
pessoa, naquela noite eu       de fazer.                     cheguei a ir procurar em-
não dormia. Tinha um do-       CUPIM - Como foi sua vi-      prego, mas eu via no jornal
ce que era uma maria-mo-       da escolar?                   que precisava ter boa apa-
le dentro de um copinho e      LAURA – Foi um período        rência e sempre tinha aqui-
vinha uma "figuinha" den-      que tive dificuldade, en-     lo    na    minha     cabeça
tro. Um dia eu comi o doce     trei na escola com sete       “duvido que vão me acei-
e fiquei com a figuinha na     anos, e que comecei a sen-    tar, não vai adiantar eu ir,
boca, engoli e fiquei com      tir determinadas coisas       eles vão me ver, lógico que
ela atravessada, e com me-     (complexo). Eu tive sem-      vão querer a outra ou o ou-
do de morrer, apavorei, gri-   pre bons amigos à minha       tro”, e assim sucessivamen-
tei pela minha mãe...          volta, tanto no primário      te. Eu voltava para casa
Enfiava o dedo na gargan-      quanto no ginásio. A esco-    chorando.     Então    meus
ta com medo de morrer.         la e os amigos não faziam     pais, cansados de ver esta
Eu cheguei a engolir o ob-     diferença, o complexo es-     cena toda vez que ia procu-
jeto, mesmo assim eu enfi-     tava em mim, não neles,       rar emprego, resolveram
ava a mão na garganta e        tanto que os amigos fala-     me manter em casa. Me de-
cheguei a machucá-la. Mi-      vam que para eles não ti-     ram salário, me pagavam o
nha mãe me levou ao médi-      nha nenhum problema.          correto. Parece que isso
co várias vezes, porque eu     Fui crescendo e me isolan-    doía neles. Então, quando
comecei a ficar com dor de     do, dei uma parada nos        escutei aquela conversa...
estômago... Tinha de 5 pa-     estudos, minha mãe tinha      Eu falei comigo mesma que
ra 6 anos, na época. O mé-     problema (de saúde) e eu      eu tinha que reverter. Pare-
dico disse que eu estava       não querendo me mostrar       ce que levei um choque,
com dor de estômago por-       para a sociedade, então       pois muita gente que esta-
que eu tinha passado ner-      tudo se encaixou.             va em cadeira de rodas es-
voso. Ele medicou um           CUPIM - Você associava        tava trabalhando. Quando
tranqüilizante. Eu melho-      seus problemas ao vitiligo?   eu estava sofrendo o com-
rei, mas depois de certo       LAURA – Sim, eu associa-      plexo na íntegra eu não per-
tempo, começou a sair          va. Um dia durante uma        cebia essas coisas, foi
uma mancha no nariz, que       conversa entre meu pai e      então que decidi trabalhar
foi constatado que era viti-   minha mãe, sem que eles       fora.
ligo.                          me vissem, ouvi minha         CUPIM - Como foi esse tra-
CUPIM - Nesse período,         mãe falar: “Velho, nós te-    balho?
qual era seu sonho?            mos que ver o futuro da       LAURA - O primeiro traba-
LAURA – Eu sempre gostei       Laura. As outras (filhas)     lho fora de casa foi com
de filmes clássicos, aque-     estão trabalhando, vão ter    uma amiga, onde fui mani-
las    bailarinas,  aquelas    a aposentadoria delas, e      cure em domicílio. Logo
danças. Sempre me fasci-       nós não vamos viver a vi-     passei para um salão, onde
naram. Meu sonho era ser       da inteira. O que vai ser     fiquei quatro anos. Foi
bailarina. Tanto que eu        dela?” Eu tinha 22 anos,      tranqüila, a minha relação
com as pessoas, desde que não me
deixasse me envolver pelo complexo.             O que é o vitiligo?
Depois desses quatro anos eu fui tra-
balhar numa escola, no Walt Disney                Doença caracterizada por
(Escola Infantil).                        descoloração da pele em certas
CUPIM - Houve algum fato que te sur-      áreas, de causa desconhecida e,
preendeu lá?                              embora não provoque danos à
LAURA – Quando houve uma mudan-           saúde, é um problema com pou-
ça de direção na escola, a nova direto-   cas alternativas de tratamento.
ra disse que naquele ano os próprios              Sendo assim, o Vitiligo é
alunos escolheriam quem homenage-         uma patologia de despigmentação
ar. Então a professora de português       da pele em que manchas brancas
pediu para eu subir até a sala do ter-    podem surgir em várias partes do
ceiro colegial. Logo pensei “Ai meu       corpo. Normalmente são bilate-
Deus, aí vem problema”. Fui até a         rais (simétrico), mas pode ser as-
classe e o líder da classe me disse,      simétrico,                segmentar,
“Laura, por unanimidade você foi es-      circunscrito, universal, congêni-
colhida para ser a homenageada do         to, generalizado e ocular. Várias
ano”.                                     hipóteses foram atribuídas acerca
CUPIM - Você sofreu algum preconcei-      das causas da doença.
to neste período?                                 Estatísticas mostram que
LAURA – Pelo contrário, eles até me       cerca de 4% da população mundi-
defendiam e falavam: “Olha, não mexe      al é portadora de vitiligo. Surge
com a Laurinha, não, hein! A Lauri-       como se fosse uma resposta do or-
nha é sangue bom!” (risos).               ganismo às tensões emocionais,
CUPIM - Os adolescentes e crianças,       como grandes perdas materiais,
na escola, te perguntavam o que eram      brigas de família, morte de um en-
as manchas no seu rosto?                  te querido, ou viagem dos pais pa-
LAURA – As crianças, sim. Uma vez         ra o exterior.
percebi que duas meninas me olha-                 Segundo especialistas, Viti-
vam, eu as chamei e elas pergunta-        ligo, não pega, não mata e não
ram: “O que é isso que você tem?”. Eu     dói . A maioria dos pacientes com
expliquei que eram manchinhas que         vitiligo já foi vítima de algum tipo
saíram, e se contentavam com isso.        de preconceito. Especialistas no
Como eu sempre estava com elas dan-       setor afirmam que isso colabora
do carinho e atenção...                   para atrasar a reação positiva do
CUPIM - Como era a sua relação fami-      organismo dos portadores aos me-
liar?                                     dicamentos. Discriminar um por-
LAURA – Com as minhas irmãs foi as-       tador de Vitiligo é uma atitude
sim: como a “Laura” sofria devido ao      que não se justifica, porque Vitili-
vitiligo, o amparo era maior, elas fo-    go não é doença, é apenas um
ram trabalhar cedo, e eu fiquei como      problema de pele e como tal deve
a “bebezinha” da casa. Todo mundo         ser encarado pela família e ami-
amparava para eu não sofrer. Isso de      gos. Dermatologistas atestam que
certa forma influenciou na relação        não há o menor risco de contágio
com minhas irmãs. Tanto que hoje          direto ou indireto.
sinto a distância delas em relação a
mim. Meus pais sempre           aí que veio uma amiga,        sinaram a ter força, humil-
me trataram com mais            me levou na delegacia do      dade e a querer o bem do
cuidado, mais preocupa-         ensino, para escolher a       próximo.
ção, e elas (irmãs) se senti-   escola onde tinha lugar       CUPIM - Fale sobre sua en-
ram como que deixadas           para eu trabalhar. Ela fa-    trada no Fórum de Mauá.
de lado. Elas queriam que       zia a unha comigo e dizia     LAURA – Eu estava acostu-
as tratassem igual. Meus        “Laura, eu não sei por        mada a trabalhar com cri-
pais foram assim, aonde         que você não trabalha fo-     ança e adolescente, onde
falavam que tinham médi-        ra, você se comunica          havia uma troca. Você da-
co para tratar o vitiligo,      bem, é uma pessoa inteli-     va e recebia. No Fórum (on-
eles me levavam. Iam, fala-     gente”.                       de trabalha atualmente)
vam com o médico e de-          CUPIM - Fale um pouco         era o inverso. Quando eu
pois me levavam.                dos seus pais.                entrei lá, as pessoas eram
CUPIM - E a relação atual       LAURA – Meu pai era co-       duras, como se fossem
com suas irmãs, como é?         nhecido como Jaú, apeli-      robôs. Aquilo me chocou.
LAURA – Eu gosto de coi-        do    do    futebol.    Um    Na época eu fazia terapia
sas clássicas, elas de pa-      encanto de pessoa. Uma        com um psicólogo, o Sr.
gode;    elas    vivem    de    bondade que só faltava ti-    Rubens. Disse a ele que
novelas e eu não suporto;       rar a roupa do corpo para     não queria ficar no Fórum.
adoro ler, elas já não gos-     doar pro outro. E até hoje    Ele me explicou que cada
tam. Eu sou diferente. Até      é uma pessoa homenagea-       lugar que a gente vai temos
hoje se você conversar          da. Até hoje ouço das pes-    uma missão, e se recusar-
com elas vai ouvir “meus        soas que conheceu ele “o      mos essa missão, nós volta-
pais só faltavam colocar a      seu pai é um exemplo de       mos atrás para cumprí-la.
Laura dentro de uma redo-       vida pra gente!”. Isso quer   Tudo é uma conquista. Fi-
ma de vidro para ninguém        dizer tudo. Nas horas         zemos um trabalho emocio-
machucar, para ninguém          enérgicas, no momento         nal, que eu poderia ser a
tocar”. Eu quero que elas       certo, foi enérgico sim,      Laura em qualquer lugar
vejam a Laura de agora.         porque era necessário,        que eu fosse. Vai fazer 12
Pois quando eu saí para         pra dar uma educação,         anos que estou no Fórum e
trabalhar, eu dei uma mu-       mas sempre com bondade        nunca deixei de cumpri-
dança de trezentos e ses-       e nisso construiu a Lau-      mentar, de sorrir, de lidar
senta graus.                    ra. Minha mãe era uma         com um, com outro. O que
CUPIM - E como foi esse         mulher lutadora, forte.       você leva, surte um efeito
processo?                       Uma pessoa que casou          nas pessoas, independente
LAURA – Eu me senti co-         com o homem certo. Ao         do que você é.
mo se tivesse uma força         mesmo tempo ela ficou         CUPIM - Você sentiu algum
interior    falando    assim    em casa cumprindo o pa-       tipo de preconceito lá?
“Agora você vai ou vai”.        pel dela, ajudando aquele     LAURA – Eu mudei a mi-
Porque a forma que a gen-       homem a enfrentar cada        nha maneira de pensar.
te pensa, ou a gente abre       obstáculo que aparecia.       Quando eu estava vendo
ou fecha os caminhos. E         Hoje eu estou aqui em no-     eles como robô... Eu afir-
como falei para mim, que        me dessa força dos dois.      mava “não gosto daqui, as
eu era uma pessoa nor-          Deixaram uma riqueza          pessoas são duras, são in-
mal, que precisava traba-       imensa não só pra mim,        sensíveis”. Enquanto eu es-
lhar,      os      caminhos     como pra todos que esta-      tava tendo essa visão, a
começaram a se abrir. Foi       vam em sua volta. Me en-      coisa não iria mudar.
CUPIM - E você acha que      Tratando da pele, não só       CUPIM - E hoje, o que di-
as pessoas te viam dife-     do vitiligo. Não é tudo que    zem os médicos?
rente em relação ao as-      eu posso usar. No lugar do     LAURA – Sempre me de-
pecto visual?                claro (da pele) é muito sen-   ram esperança. E uma
LAURA – Como certeza,        sível. Mas em em mim,          coisa que sempre me for-
mas não tive nenhuma         não. Eu caminho, eu faço       taleceu também, como eu
forma de não aceitação       ioga, eu não paro.             já falei, é a parte espiritu-
ou receio como relação       CUPIM - O sol não chega a      al. A parte espiritual aju-
ao vitiligo.                 te afetar?                     da muito, muito, muito
CUPIM - Você já sofreu al-   LAURA – Não. A única coi-      mesmo. Quando eu fui
guma discriminação vela-     sa é que fica um pouco ver-    pra Uberaba foi já procu-
da?                          melhinho.      Mas    arder,   rando algo tanto pro vitili-
LAURA – Que tenha che-       machucar, coisa assim,         go como pra essa coisa,
gado até a mim, não.         não. Eu passo o protetor       de medo da morte, coisa
Nunca senti que isso         solar normalmente. Só.         que eu já tinha superado
aconteceu.                   CUPIM - O que dizem os         um pouco por estar a al-
CUPIM - Você vai fazer       especialistas em relação       gum tempo no kardecis-
ou está fazendo algum        ao tratamento? O que você      mo, (muito serena) é ali
tratamento?                  já ouviu?                      que eu tive a confirmação
LAURA – Eu estou fazen-      LAURA – Em termos de           que a morte não existe...
do. Tanto a parte psicoló-   medicina, já ouvi de tudo,     Que a vida continua.
gica quanto a parte          aliás, na minha adolescên-     Através duma palestra do
médica.                      cia o que levou eu ter com-    Chico Xavier.
CUPIM - Como é o proces-     plexo foi o que ouvi de um     CUPIM - Como foi este
so de tratamento?            médico, que falou, assim,      contato? Você conversou
LAURA – É lento, mas de-     na lata: “Isso não tem cu-     com ele diretamente?
pende de como a pessoa       ra, tem que saber lidar        LAURA – Olha, lá eu vi
lida com o problema. A       com isso”. Aquilo acabou       tantos casos mais difí-
ênfase da coisa está no      comigo. Foi aí que veio o      ceis, complicados, que di-
emocional.                   complexo mais difícil na       ante      de    todos      os
CUPIM - E já sente os re-    minha vida. Um profissio-      problemas      das    outras
sultados?                    nal tem que saber falar, sa-   pessoas, eu percebi que
LAURA – Com certeza. O       ber orientar. O dia em que     eu não tinha nada, enten-
remédio em si é uma coi-     ele falou isso eu chorei du-   deu? E quando eu passei
sa que você tem que acre-    as semanas sem parar.          perto dele, ele me entre-
ditar naquilo que está       Meus pais até se arrepen-      gou uma rosa, eu peguei
fazendo. Quando eu pro-      deram de ter me levado ne-     ia saindo. Foi quando ele
curava uma dermatologis-     le, coitados! Eu tinha         me segurou pela mão, o
ta, o que acontecia? A       quinze anos. Foi duro.         Chico Xavier, e falou “fica
Laura ia especificamente     CUPIM – Nessa idade, qual      tranqüila, você vai sarar,
só pelo vitiligo, esquecia   era seu sonho?                 viu?”. Falou desse jeito.
da Laura mulher, da bele-    LAURA – (Fica pensativa        CUPIM - E sobre as ques-
za, que poderia estar fa-    por alguns segundos) Aos       tões do amor...
zendo um tratamento. Eu      quinze... A psicologia sem-    LAURA – O coração não
estou em busca de elimi-     pre me fascinou. Essa fase     escolhe quem gostar. Vo-
nar o vitiligo, mas tam-     eu já estava pensando em       cê quer escolher, po-
bém cuidar de mim.           psicologia. Era meu sonho.     rém...
Certa vez eu ouvi da pes-       goste de mim porque eu       não tinha (mostra as
soa que eu gostava que eu       posso amar a pessoa,         mãos). Eu acho que a gen-
era maravilhosa, mas fica-      mas se ela não correspon-    te tem que extravasar, co-
va sempre na amizade, e         der, isso não serve pra      locar pra fora tudo o que a
eu tinha que entender is-       mim. Não serve.              gente está sentindo, mas
so, mas também não esta-        CUPIM – Tem algum ou-        eu me segurei muito por
va       preparada      para    tro sonho?                   causa da minha irmã
relacionamentos. Não ha-        LAURA – Fazer uma facul-     (mãe de Nicolau) e isso é
via preparado isso em           dade de psicologia.          um erro. Acredito agora,
mim. Obviamente qual-           CUPIM - Há pouco tempo       que Deus tem um propósi-
quer tipo de relacionamen-      você viveu um momento        to maior por tê-lo levado.
to não iria dar certo. Eu       muito delicado que foi o     CUPIM - Qual foi a causa
achava que eu não conse-        falecimento do seu sobri-    do falecimento dele?
guia uma relação mais for-      nho de 14 anos. Como         LAURA – Começou com
te por causa do vitiligo, e     era sua relação com ele?     problema na garganta e fe-
isso fazia com que eu não       LAURA – Nós tivemos          bre, mas acho que a infec-
conseguisse ver que mi-         uma ligação muito forte.     ção foi tão grande que
nhas amigas que não ti-         Muito mais eu com ele do     começou a complicar os
nham vitiligo também não        que ele comigo. Quando       órgãos e, principalmente,
conseguiam se relacionar        ele era pequeno, eu fica-    o rim. Chegou a fazer he-
com ninguém (risos). E is-      va todo o tempo cuidan-      modiálise.
so é uma coisa que eu ain-      do dele. Nós não nos         CUPIM - Como você lida
da vou superar... Como          parecíamos tia e sobri-      com isso, hoje?
eu superei no trabalho.         nho, éramos como irmão-      LAURA – O tempo ajuda
Eu tenho certeza disso.         zinhos,     tanto     que,   muito.
CUPIM - Você tem vonta-         quando eu falava do Ni       CUPIM – O que pode ser
de de ter filhos?               (Nicolau)   todo    mundo    mais importante na vida
LAURA – Claro. Eu tenho         achava que fosse meu ir-     de uma pessoa?
vontade de ter trigêmeos        mão e não meu sobrinho.      LAURA – O mais importan-
(risos) até vejo os três, as-   A morte de Ni foi surpre-    te é se gostar. É a coisa
sim, deitadinhos, o cari-       sa. Muito, muito dolori-     principal. Se você não se
nho, aquela coisa toda.         da, mas muito mesmo.         ama, você não vai conse-
Eu tenho essa vontade...        Tanto que eu voltei a fa-    guir amar o outro.
De ter um casamento e           zer terapia. Eu não espe-    CUPIM - Se vendo de fora,
disso resultar em filhos.       rava isso. Não esperava      quem é Laura?
Eu sempre tive muito for-       mesmo. Eu tenho tanta        LAURA – (pensa um pou-
te esse lado com universo       fé que achava que ele ia     co, sorri) A Laura... Olha,
infantil, aliás, minha famí-    sair dessa. Hoje eu consi-   a Laura é o Coração de
lia é assim. As crianças        go falar sem chorar, mas     Deus. Porque o que eu
gostavam muito de ir à mi-      tinha vez que qualquer       quero pra mim, eu quero
nha casa. Meu sonho era         coisa que eu lembrava de-    pra você, quero pra to-
casar e ter filhos...           le, eu chorava. Embora       dos... (muito emocionada)
CUPIM - Era?                    eu tenha voltado a fazer     principalmente para as cri-
LAURA – Não, é (risos) é        terapia por causa disso.     anças. ф
meu sonho, formar uma           Eu não tinha vitiligo nes-
família junto com a pes-        sa parte (lado direito do              Everson Bertucci
soa que eu goste e que ela      rosto), nas mãos também                    Flávio Rocha
CUTUCANDO




                     cuba livre
             Uma reflexão sobre comunismo,
            neoliberalismo e social-democracia
Gutierres Siqueira
                                                     o sanguinário Fidel. Liberalismo é a
                                                     defesa intransigente da liberdade in-



Q
         uando eu era um pré-adolescente,            dividual.
         meu pai recebeu de presente o CD do                 Em nome da liberdade defen-
         seu primo, um cantor não profissiona-       demos mercados competitivos (e
         lizado. O título do CD era “Cuba Li-        não essa palhaçada do monopólio
vre”. Lembro que então com 11 anos, o “Cuba          no Brasil), livre concorrência (princí-
Livre” me chamava mais atenção do que as mú-         pio pouco observado em nosso
sicas MPB daquele disco. Infelizmente ainda          país), facilitação de ingresso comer-
não contemplamos o “Cuba Livre”, mas o dita-         cial e evitar ao máximo a interven-
dor Fidel continua a jogar todo o seu ódio con-      ção econômica do Estado, pois a
tra    o    “maldoso”    e   “feroz”   liberalismo   mão dele sempre é pesada, burocrá-
econômico. Realmente, ditadores não gostam           tica e ineficiente.
dos liberais.
        Nessa última semana, o cubano falou          Neoliberalismo é o pai da crise
mais uma vez sobre a crise em suas reflexões         econômica mundial?
[1]. Sempre que vejo uma pessoa como ele opi-               Acusar o neoliberalismo de
nando sobre economia, olho isso como uma             pai da crise econômica mundial é
grande piada. O que é a economia de Cuba?            uma grande falácia, como mostra o
Nada, absolutamente nada! Bem, na verdade            ex-ministro da fazenda, Maílson da
Fidel não opina nesse texto, simplesmente re-        Nóbrega:
produz as palavras de um “companheiro comu-                 A crise teria sido efeito da
na economista”.                                      crença cega no mercado. Ocorre
        A única coisa que Fidel fala, logo no fi-    que não existe livre mercado no sis-
nal do texto, é uma crítica à grande imprensa.       tema financeiro. Na verdade, o deto-
Aliás, os comunistas sempre acusam a grande          nador    da    crise    nasceu    de
imprensa de alguma coisa. Não é a toa que os         intervenção do estado, qual seja a
regimes “neo-socialistas” latinos, como de Hu-       norma pela qual se financiou a casa
go Chávez persigam jornalistas por meio de mi-       própria para milhões de americanos
lícias que estão a serviço do governo.               sem condições de pagar. Analistas
        Por que Fidel é tão contra o liberalismo     de esquerda adoram apontar a des-
econômico? Ora, pois liberalismo combina com         regulação. A culpa seria da revoga-
democracia, liberalismo político, pouca interfe-     ção do Glass-Steagall Act, no
rência do Estado em nossa vida particular. Tu-       governo de Bill Clinton. Essa lei,
do isso Fidel, como ditador, tem pavor em            dos anos 30, separava as atividades
ouvir. Fidel sabe que se a ilha cubana implan-       de banco comercial das de investi-
tasse o regime econômico neoliberal, os habi-        mento, mas ficou gagá com a sofisti-
tantes dessa ilha logo clamariam por uma             cação    e   a    globalização  dos
abertura democrática. Isso é inadmissível para       mercados. Penalizava os bancos
americanos. [2]
        Portanto, ainda na era mais “re-
gulamentada” do governo democrata,
os Estados Unidos tomaram algumas
medidas. O neoliberalismo simplesmen-
te é o saco de pancadas de todos os ma-
les desse mundo, incluindo a crise
econômica.

Social-Democracia como solução?
        A social-democracia ou “liberalis-
mo-socialismo” falhou, na década de
70, com seu programa de “bem-estar
social” (Welfare Stat), mas nos últimos
anos voltou com força da Europa e es-
pecialmente na Inglaterra de Tony
Blair. O modelo desregulamentado dos
Estados Unidos caiu na crise, isso é
um fato, mas não tão profundamente
como na mais “regulamentada” Europa
social-democrata.       Vários analistas
econômicos apontam que os Estados
Unidos saíram primeiro da crise do que
a Europa. Promover o “bem-estar soci-
al” pesa o Estado e chama a ineficiên-
cia econômica- financeira. Logo, essa
política deu certo em países que já ti-
nham feito o dever liberal, portanto já
eram ricos e pequenos em sua popula-
ção, mas promoveram o desejo de aca-
bar     com      as   desigualdades      e
implantaram essa política meio socialis-
ta, meio liberal.

Conclusão
       Portanto, bom seria para aquela
pequena ilha do Caribe implantar o li-
beralismo, tanto na economia e na polí-
tica. Cuba assim seria livre, assim
como o título daquele CD.

Notas:
[1] Veja a “reflexão” de Fidel nesse site:
http://www.vermelho.org.br/ba-
se.asp?texto=52131
[2] NÓBREGA, Maílson da. Crise: como
chegamos a este ponto? Revista Veja.
Ed. 2103, ano 42, n. 10. p 106 ф
PINTOU SUJEIRA                                                    Fernando Nowikow


banheiros públicos:
                  quem irá nos salvar?
     Saiba como mais de 10 milhões de pessoas dividem
              apenas três banheiros públicos



T
         udo começou quando soubemos         nheiros – públicos ou não - espalhados
         do lançamento de um tal guia        pela cidade, avaliando suas condições de
         de banheiros que um grupo de        higiene, de acessibilidade, se possuem
         médicos do Hospital das Clíni-      ou não sinalização adequada e se dis-
cas (HC) havia escrito. Lembro na época      põem de materiais de higiene pessoal (sa-
- início de fevereiro - que o tal guia não   bonete, papel higiênico e papel para
saía das páginas dos principais jornais      secar as mãos e o rosto). E, sem muitas
durante semanas. Lembro que eles (jor-       surpresas, a avaliação do guia mostrou a
nais) pautaram de tudo, desde os ba-         clara e enorme defasagem destes equipa-
nheiros aconselhados pelo guia até os        mentos na cidade.
desaconselhados. Entrevistaram quem                 Para termos idéia do tamanho des-
tomava conta destes equipamentos e           sa disparidade, imagine uma metrópole
quem os depredava, além de informar as       como São Paulo, onde cerca de 10 mi-
dificuldades em administrá-los. Outro        lhões de habitantes circulam regular-
ponto importante tratado pelo manual         mente pelas ruas, seja para trabalhar,
foi o risco gerado pela contenção urina-     estudar, passear, etc. Imagine agora,
ria que pode provocar uma série de pro-      que para atender todo este público, a ci-
blemas às pessoas, estes, um dos             dade disponibilize apenas três banheiros
principais focos do guia, que a propósito    públicos. Ou seja, são três banheiros pú-
chama-se: ‘Banheiros em São Paulo. On-       blicos para aproximadamente 10 mi-
de ir,como fazer?’                           lhões de pessoas. Incrível, não é mesmo?
        A intenção dos médicos, além de      Pois esse é o tema da nossa reportagem.
informar todos os problemas causados                Comecemos pelo centro da cidade,
pela contenção urinária, como o fato de      região histórica de arquitetura imponen-
termos necessidade de urinar a cada 4        te e comércio pujante, onde milhares de
horas, em média, ou que cerca de 15%         pessoas circulam todos os dias. Região
da população adulta sofre com proble-        que abriga a Praça da Sé, marco zero da
mas de bexiga hiperativa - pessoas que       capital, ou então a centenária Praça da
não conseguem reter o líquido por muito      República, que recentemente foi reforma-
tempo, era também de formular um guia        da pela Prefeitura de São Paulo, mas que
que pudesse orientar a população dos lo-     agora está completamente desfigurada
cais onde haja banheiros para uso públi-     pelas obras do Metrô. Só que isso não
co.                                          vem ao caso, nosso assunto são os ba-
        E foi dessa maneira que a equipe     nheiros públicos, ou melhor, a falta de-
de médicos percorreu cerca de 150 ba-        les.
Na Estação Sé do Metrô, por exem-       los impostos mais caros do planeta e de-
plo, onde centenas de pessoas se esbar-        veriam, por isso, contar com os melho-
ram diariamente seguindo para os               res serviços públicos. Só que isso
quatro cantos da cidade, um único ba-          novamente é uma outra história. O ba-
nheiro é encarregado de atender todo es-       nheiro administrado pela Prefeitura, fica
se mundaréu de gente, e o que é pior, ele      próximo à Avenida Ipiranga. De longe, a
fica na parte de fora da estação. Ou seja,     casinha rústica mais parece um cenário
caso esteja em apuros fisiológicos e não       de desenho animado, só que de perto...
consiga esperar nem mais um instante,          Bem, de perto, além da falta de sinaliza-
terá de ultrapassar a catraca – sair do        ção e do risco iminente de ser assaltado
Metrô - para utilizar o bendito banheiro,      com a ‘boca na botija’, o banheiro é pe-
que, aliás, de bendito não tem nada.           queno e só tem um mictório e uma pia,
Além de pequeno, com um mictório cole-         as outras duas portas estavam tranca-
tivo e apenas quatro cabines com vasos         das, pois as privadas estavam entupidas
sanitários, o banheiro não tem papel hi-       há duas semanas, segundo alguns usuá-
giênico e trinco nas portas das cabines,       rios. Não há sabonete e nem papel. O
isso sem falar no forte odor que é senti-      chão, todo empoçado com água suja e
do de longe. No mais, o banheiro da Sé,        mal cheirosa inibe a permanência de
possui pias com sabonete e papel para          qualquer um no local. Portanto, se esti-
secar as mãos.       Tem sinalização cor-      ver passando por lá e precisar usar o ba-
reta e acessibilidade para deficientes físi-   nheiro público da Praça da República
cos, com rampas e corrimão, além de            não se engane.
um banheiro exclusivo. No entanto, sen-               Além do banheiro da República,
do público e estando em uma área onde          os outros dois banheiros realmente pú-
ficam muitos moradores de rua, é co-           blicos da cidade são: o da rua Brigadeiro
mum esbarrar com o “pessoal” tomando           Galvão Bueno, no bairro da Liberdade,
banho nas torneiras.                           que segundo o guia do HC, apresenta bo-
       Já na Praça da República fica um        as condições de uso, e o banheiro do Va-
dos três banheiros realmente públicos          le    do     Anhangabaú,     este     que
que a cidade disponibiliza para seus mo-       disponibilizaremos os próximos parágra-
radores, que afinal de contas pagam pe-        fos para descrever sua enorme varieda-
de de ‘coisas’.                                    do alguma moeda, “para com-
        Vale do Anhangabaú: local histórico e      prar um lanche”, dizem eles. Ou-
privilegiado com uma vista fantástica de São       tras formas de vida que habitam
Paulo. Ali, por debaixo de sua monumental ar-      o local são os ‘animais urbaniza-
quitetura corre o rio Anhangabaú, canalizado       dos’ (ratos, baratas e pombos).
no final da década de 1940. No vale também es-     Além deste seleto grupo, outra
tão prédios como o da Prefeitura de São Paulo,     espécie encontrada por ali são
o da Central dos Correios, e outros tantos arra-   repórteres à procura de mais
nha-céus de fazer inveja a qualquer grande me-     uma manchete. O caso, no en-
trópole do planeta. E, é lá também que está o      tanto, já não se trata mais de
nosso terceiro banheiro realmente público da       uma manchete e sim de uma
cidade.                                            profunda análise sociológica pa-
        Reformado três vezes nos últimos dois      ra fins científicos.
anos com custo estimado de R$ 120 mil por re-
forma, totalizando cerca de R$ 360 mil. Admi-      A mais paulista de todas as
nistrado nos últimos anos pela Subprefeitura       avenidas também sofre com a
Sé, depois pela Secretaria Municipal de Assis-     falta de banheiros públicos
tência e Desenvolvimento Social e agora devol-            Cartão postal da cidade e
vido novamente para a tutela da Subprefeitura      um dos centros comerciais de
Sé. Senhoras e Senhores apresentamos: o ba-        maior envergadura do país, a
nheiro público do Vale do Anhangabaú.              Avenida Paulista tem apenas
        Imagine um lugar sujo, muito sujo mes-     um banheiro de uso público.
mo. Agora multiplique essa sujeira por cem, ou     Imagine, são 2,67 quilômetros
melhor, por mil. Imaginou? Muito bem, assim é      de extensão, por onde circulam
o banheiro público do Vale do Anhangabaú,          diariamente     aproximadamente
um verdadeiro lixão a céu aberto. É lixo espa-     cerca de dois milhões de pesso-
lhado por todos os lados. Tem lixo misturado       as tendo que dividir apenas um
com fezes, entulho misturado com urina, gra-       banheiro público. O jeito é ape-
des arrombadas, vidros e luminárias quebra-        lar para os banheiros privados,
das, paredes pichadas, enfim... uma verdadeira     que segundo o guia do HC, nem
catástrofe ambiental urbana no local onde de-      sempre estão disponíveis para o
veria funcionar um banheiro público para a po-     público. Ou seja, na hora do
pulação.                                           aperto é bom contar com a sorte
        É tanto lixo e tanto cocô que as paredes   e com o bom humor dos lojistas
recém cobertas por azulejos novinhos já estão      da região.
todas ‘grafitadas de merda’. Localizado bem               A pesquisa feita pelos mé-
abaixo do prédio central dos Correios, o local     dicos do HC mostra também que
lembra o fim dos tempos, o Apocalipse. Tudo        apesar da dificuldade em encon-
está quebrado ou foi furtado: grades, pias, vi-    trar alguma privada, muitos lo-
dros e luminárias. As privadas sumiram possi-      jistas da avenida, no entanto,
velmente levadas por alguém que precisou           disponibilizaram seus sanitários
muito delas.                                       para o uso público. Aliás, muito
        Abandonado pelo poder público e pela       bem avaliados pelo guia, com si-
população, hoje, o banheiro do Vale do Anhan-      nalização adequada e kit de lim-
gabaú atrai somente mendigos (os mais corajo-      peza completo. E foi logo em
sos), usuários de drogas, e alguns cidadãos de     uma farmácia, que teoricamente
aparência ameaçadora que ficam por ali pedin-      deveria preocupar-se com a saú-
Conclusão

                                         Antes de sair de casa tente lembrar de usar o ba-
                                  nheiro.
                                         Mais do que atender às necessidades físicas das
                                  pessoas, os banheiros públicos deveriam servir de orgu-
                                  lho para a cidade. Uma cidade que respeita seus mora-
                                  dores deve obrigatoriamente atender suas principais
                                  necessidades e não suprimi-las transferindo responsa-
                                  bilidades.
                                         Por outro lado, todo povo tem aquilo que mere-
                                  ce, e como aqui, o que é público nunca é de ninguém,
                                  continuaremos colhendo nossos próprios frutos, mes-
                                  mo que muitas vezes, amargos.

                                  Dicas Cupim

                                  - Câmara Municipal de São Paulo (aproveite para to-
                                  mar um café e saber como anda o seu vereador);
                                  - Prefeitura de São Paulo (segundo o guia do HC, é um
de, que o pedido para usar
                                  dos melhores banheiros públicos da cidade);
o banheiro foi negado, ale-
                                  - Subprefeituras (são 31 subprefeituras espalhadas pe-
gando ser de uso exclusivo
                                  los quatro cantos da cidade. Basta pedir licença);
para os funcionários da lo-
                                  - Praça Fernando Costa (a R$ 0,65 é uma boa opção pa-
ja. Portanto, uma dica: em
                                  ra quem está na região da rua 25 de Março);
casos de emergência, não
                                  - Estação Ana Rosa do Metrô (é limpo e fica aberto até
recorra às farmácias.
                                  às 22h, o problema são os garotos de programa ofere-
       A opção pública fica
                                  cendo serviços);
por conta dos banheiros do
                                  - Bourbon Shopping (um dos toaletes mais luxuosos da
Parque Trianon, que apesar
                                  cidade. Aproveite também para fazer massagem rela-
da falta de sinalização exter-
                                  xante enquanto engraxam seus sapatos). ф
na (na entrada do Parque),
apresenta ótimas condições
de uso. O banheiro que é
mantido     pela    Prefeitura,
tem pias, privadas e mictó-
rio em perfeitas condições
de uso. Funciona das 7h às
18h, e sempre tem um fun-
cionário do parque cuidan-
do da limpeza do local. O
diferencial neste caso, além
da agradável trilha que leva
até os banheiros, é a sua ar-
quitetura nostálgica manti-
da em perfeitas condições.
Este sim, dá para relaxar e
gozar.
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M
C U P I M

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Camões e o principezinho
Camões e o principezinhoCamões e o principezinho
Camões e o principezinhoProfmaria
 
O marido extremosos ou o pai cuidadoso
O marido extremosos ou o pai cuidadosoO marido extremosos ou o pai cuidadoso
O marido extremosos ou o pai cuidadosoGladis Maia
 
Colunista convidado (9)
Colunista convidado (9)Colunista convidado (9)
Colunista convidado (9)Sergyo Vitro
 
Artur azevedo nova viagem a lua
Artur azevedo   nova viagem a luaArtur azevedo   nova viagem a lua
Artur azevedo nova viagem a luaTulipa Zoá
 
Pág.Crianças9Maio09.Asp
Pág.Crianças9Maio09.AspPág.Crianças9Maio09.Asp
Pág.Crianças9Maio09.Aspmrvpimenta
 
Capitulo 1 a garota do espelho
Capitulo 1  a garota do espelhoCapitulo 1  a garota do espelho
Capitulo 1 a garota do espelhoLuizzinhah
 
CriançAs7 Fev.2
CriançAs7 Fev.2CriançAs7 Fev.2
CriançAs7 Fev.2mrvpimenta
 

Mais procurados (14)

Perdida cap1
Perdida cap1Perdida cap1
Perdida cap1
 
Camões e o principezinho
Camões e o principezinhoCamões e o principezinho
Camões e o principezinho
 
Principezinho
PrincipezinhoPrincipezinho
Principezinho
 
Zeli pausa
Zeli pausaZeli pausa
Zeli pausa
 
O marido extremosos ou o pai cuidadoso
O marido extremosos ou o pai cuidadosoO marido extremosos ou o pai cuidadoso
O marido extremosos ou o pai cuidadoso
 
O Pequeno Príncipe
O Pequeno PríncipeO Pequeno Príncipe
O Pequeno Príncipe
 
Colunista convidado (9)
Colunista convidado (9)Colunista convidado (9)
Colunista convidado (9)
 
Artur azevedo nova viagem a lua
Artur azevedo   nova viagem a luaArtur azevedo   nova viagem a lua
Artur azevedo nova viagem a lua
 
Pág.Crianças9Maio09.Asp
Pág.Crianças9Maio09.AspPág.Crianças9Maio09.Asp
Pág.Crianças9Maio09.Asp
 
Capitulo 1 a garota do espelho
Capitulo 1  a garota do espelhoCapitulo 1  a garota do espelho
Capitulo 1 a garota do espelho
 
CriançAs7 Fev.2
CriançAs7 Fev.2CriançAs7 Fev.2
CriançAs7 Fev.2
 
Obsoleto Artur Xexéo O Globo de hoje
Obsoleto Artur Xexéo  O Globo de hojeObsoleto Artur Xexéo  O Globo de hoje
Obsoleto Artur Xexéo O Globo de hoje
 
Peça teatral
Peça teatralPeça teatral
Peça teatral
 
18. rapidinhas
18. rapidinhas18. rapidinhas
18. rapidinhas
 

Semelhante a C U P I M

O quotidiano na obra de Cesário Verde
O quotidiano na obra de Cesário VerdeO quotidiano na obra de Cesário Verde
O quotidiano na obra de Cesário VerdeMariaVerde1995
 
The new coreau_arre__materias
The new coreau_arre__materiasThe new coreau_arre__materias
The new coreau_arre__materiasEliton Meneses
 
Excertos de sugestões de livros lígia martins
Excertos de sugestões de livros lígia martinsExcertos de sugestões de livros lígia martins
Excertos de sugestões de livros lígia martinscnoesv
 
Livro Virtual
Livro VirtualLivro Virtual
Livro Virtualefa10d
 
Livro Virtual
Livro VirtualLivro Virtual
Livro Virtualefa10d
 
LEITURA COLABORATIVA.pptxjddjdhhdhdhdhdhdbdbd
LEITURA COLABORATIVA.pptxjddjdhhdhdhdhdhdbdbdLEITURA COLABORATIVA.pptxjddjdhhdhdhdhdhdbdbd
LEITURA COLABORATIVA.pptxjddjdhhdhdhdhdhdbdbdDanielTuber
 
Mónica Almeida (FT1)
Mónica Almeida (FT1)Mónica Almeida (FT1)
Mónica Almeida (FT1)efaesan
 
Linha da vidalembranças
Linha da vidalembrançasLinha da vidalembranças
Linha da vidalembrançasangelamspg
 
Boletim Informativo Biblioteca
Boletim Informativo BibliotecaBoletim Informativo Biblioteca
Boletim Informativo BibliotecaVera Paulo
 
LEITURA COLABORATIVA.pptxjejeieiieieieieii4j
LEITURA COLABORATIVA.pptxjejeieiieieieieii4jLEITURA COLABORATIVA.pptxjejeieiieieieieii4j
LEITURA COLABORATIVA.pptxjejeieiieieieieii4jDanielSilva909444
 

Semelhante a C U P I M (18)

Jane Ausetn Portugal - Abril - 2011
Jane Ausetn Portugal - Abril - 2011Jane Ausetn Portugal - Abril - 2011
Jane Ausetn Portugal - Abril - 2011
 
Pausa - Moacyr Scliar
Pausa  - Moacyr ScliarPausa  - Moacyr Scliar
Pausa - Moacyr Scliar
 
327 an 13_abril_2011.ok
327 an 13_abril_2011.ok327 an 13_abril_2011.ok
327 an 13_abril_2011.ok
 
O quotidiano na obra de Cesário Verde
O quotidiano na obra de Cesário VerdeO quotidiano na obra de Cesário Verde
O quotidiano na obra de Cesário Verde
 
The new coreau_arre__materias
The new coreau_arre__materiasThe new coreau_arre__materias
The new coreau_arre__materias
 
W'nderer Writer
W'nderer WriterW'nderer Writer
W'nderer Writer
 
Excertos de sugestões de livros lígia martins
Excertos de sugestões de livros lígia martinsExcertos de sugestões de livros lígia martins
Excertos de sugestões de livros lígia martins
 
Algo tão simples
Algo tão simplesAlgo tão simples
Algo tão simples
 
Livro Virtual
Livro VirtualLivro Virtual
Livro Virtual
 
Livro Virtual
Livro VirtualLivro Virtual
Livro Virtual
 
LEITURA COLABORATIVA.pptxjddjdhhdhdhdhdhdbdbd
LEITURA COLABORATIVA.pptxjddjdhhdhdhdhdhdbdbdLEITURA COLABORATIVA.pptxjddjdhhdhdhdhdhdbdbd
LEITURA COLABORATIVA.pptxjddjdhhdhdhdhdhdbdbd
 
O Crânio de Cristal
O Crânio de CristalO Crânio de Cristal
O Crânio de Cristal
 
Mónica Almeida (FT1)
Mónica Almeida (FT1)Mónica Almeida (FT1)
Mónica Almeida (FT1)
 
Aula sobre memórias
Aula sobre memóriasAula sobre memórias
Aula sobre memórias
 
Linha da vidalembranças
Linha da vidalembrançasLinha da vidalembranças
Linha da vidalembranças
 
Boletim Informativo Biblioteca
Boletim Informativo BibliotecaBoletim Informativo Biblioteca
Boletim Informativo Biblioteca
 
LEITURA COLABORATIVA.pptxjejeieiieieieieii4j
LEITURA COLABORATIVA.pptxjejeieiieieieieii4jLEITURA COLABORATIVA.pptxjejeieiieieieieii4j
LEITURA COLABORATIVA.pptxjejeieiieieieieii4j
 
LEITURA COLABORATIVA.pptx
LEITURA COLABORATIVA.pptxLEITURA COLABORATIVA.pptx
LEITURA COLABORATIVA.pptx
 

C U P I M

  • 1.
  • 2.
  • 3. Sumário Bichos no metrô Ensaio: 5 8 Pará 12 Poliomielite Gastronomia: dicas 16 de sobrevivência... Sexo Segurança: 18 virtual 20 DEIC 23 Política: Denúncia Cinelândia 26 30 Em que posso ajudar...? 32 Capa Cupim Edição nº 1 Cuba livre Banheiros 39 41 públicos A magia da Virada cultural 46 ilustração 49 Homenagem: A balada que abala 53 Itagyba Kuhlmann 55 Humor Charge 57 58
  • 4. carta ao leitor C Nós... upim, segundo nosso amigo dicionário, é a denominação comum dada aos insetos sociais da ordem dos Isópteros. Não! Não somos insetos sociais, nem ao menos temos como primórdio corroer de dentro para fora o mercado editorial. Mas como não temos interesse, no que a maioria das revistas publica, pode nos chamar de “do contra”. Queremos falar sobre sexo e não pornografia, personalidades polêmicas e não celebridades instantâneas, falar de política e não politicagem, consumo e não consumismos, falar sobre interesse público, não interesse do público. Falar com intensidade e não, superficialidade. Traremos aos leitores, matérias com linguagem objetiva e irreverente, apimentada e irônica. Trabalhando, ora com intertextualidade e referências históricas, ora com figuras de linguagem e metáforas imagéticas. Faremos junções entre textos, fotos e ilustrações com o intuito de criar um universo imagético repleto de informações, objetivas ou não, que uma ilustração é capaz de proporcionar, permitindo ao leitor infinitas possibilidades de composição. ... o cupins os cupins
  • 5. APERTADINHO bichos no metrô Everson Bertucci O celular despertou muito cedo. pen-drive-carteira-canetas-mar- mita-água-escova-de-dente-colí- rio-óculos-máquina-fotográfica- revistas-biscoito e fui trabalhar. -- bosta de vida! No trabalho, a rotina Acordei. Liguei o piloto automático, desliguei mortificante de sempre. Fim do o despertador, levantei, me troquei, escovei os den- dia. Felicidade, enfim. Durmo tes, comi qualquer coisa, peguei minha mochila- no trajeto até a faculdade. Fim da aula. Sigo até o metrô. O pi- loto automático sempre ligado. Pessoas, prédios, carros. Ouve- se muito barulho. No fim, é tan- ta coisa que tenho a impres- são, à noite, que não vi nada durante o dia. Desço as escadas da es- tação Ana Rosa, passo pela ca- traca e me direciono à plataforma. Estou cansado. O metrô se aproxima, pára, abre as portas e num átimo de se- gundo sou arremessado para dentro. Foi tão rápido que só me dou conta que estou no va- gão quando sinto meu rosto grudado no vidro de uma das portas. Após um certo esforço, consigo virar meu rosto para trás para ver o que acontecia e para minha surpresa e espanto não havia pessoas no vagão. Apenas bichos. Pareciam selva- gens. Vacas, cavalos, éguas, ga- linhas, veados, muitos burros, um elefante e uma girafa. Eram grunhidos, relinches, mu- gidos e outros tantos sons mis- turados que mal podia distin-
  • 6. guir seus emissores. fim e se intrometeram na briga. Não sabia o que fazer, nem co- -- vaca! mo reagir. Preferi ficar imóvel, esperan- -- galinha! do pacientemente pela morte. Percebo -- veado! que há um certo código entre eles, que -- cavalo! foram se dividindo em núcleos. As gali- -- égua! nhas cacarejavam entre si, os burros -- girafa! se reuniram num canto, a girafa e o ele- -- elefante! fante se juntaram nas poltronas cin- zas, as vacas mugiam demonstrando Para a minha sorte, ao chegar uma certa felicidade e os veados fica- na estação da Sé as portas do lado on- ram sentados e quietos numa posição de eu me encontrava foram as que se muito reservada. abriram. Saí apressado, tentando fu- Estava começando a ficar gir daquela selvageria. Ao olhar para tranqüilo quando uma égua deu uma trás, noto que todos aqueles bichos virada e sua crina veio de encontro di- saíam acelerados do vagão. O elefante reto com o meu rosto. Aquilo queimou enfiou o pé entre o vagão e a platafor- minha face. Senti uma vontade de xin- ma e esparramado no chão foi pisotea- gar ou mesmo de esmurrar, mas fiquei do. Por um momento senti vontade de intimidado pela possibilidade de levar ajudá-lo, mas fui impedido pelo arras- um coice fulminante do cavalo que a tão de bichos vindo em minha dire- acompanhava. ção. Corri até a saída e finalmente Ao parar na estação São Joa- passei pela catraca. Estava a salvo, quim a situação piorou. Mais bichos fo- pensei, eles não conseguirão atraves- ram empurrados para dentro do vagão sar. Fui para um canto e, tremendo, fi- e aquilo virou uma lata de sardinha. Fi- quei olhando. quei prensado entre um burro, um ca- Para meu desespero, todos eles valo e uma égua. Os pêlos do cavalo, também começaram a atravessar a ca- que eram de uma espessura grosseira traca. Fechei os olhos e aproveitei pa- e de um cheiro insuportável, começa- ra pedir, resumidamente, perdão a ram a me incomodar - embora não des- Deus por todos os meus pecados. se para saber se o mal cheiro era do “Ave Maria, cheia de graça, o senhor é burro ou do cavalo. Da égua não digo, convosco, bendita sois vós entre as pois parecia bem limpa e muito bem mulheres”... Começou a demorar e na- cuidada. da de um ataque. Nenhuma agressão, Tudo estava indo bem até que nenhum coice, nada. Resolvi abrir os umas galinhas, distraídas, pisaram no olhos e ver o que estava acontecendo. joanete da girafa, que ficou irritadíssi- Surpresa: ao atravessar a catraca, to- ma. Começaram uma discussão ofensi- dos mudavam de comportamento. O va. Identificava-se apenas os gritos. As jeito, os gestos. Nenhum sinal de outras galinhas entraram na discus- agressividade. Passavam direto por são. O elefante tentou apaziguar, mas mim e seguiam em frente. Pareciam foi totalmente ofendido por uma das ga- não ser mais os mesmos. Cada um se- linhas, surgindo então uma nova dis- guindo distintos caminhos. Uns apres- cussão. Travaram uma briga ferrenha sados, outros, nem tanto. Não pude até que uma galinha foi arremessada evitar as interrogações. na porta. Viu-se apenas seu deslizar Saí correndo da estação à pro- até o chão, desmaiada. Os cavalos cura de um espelho. ф
  • 7.
  • 8. ensaio Lais Mendonça
  • 9. "Lágrima que brota dos andes Cordilheira cristalina de esperança Eldorado do povo amazônico Labirinto nativo de águas barrentas Gigante de encantos e lendas Santuário de peixes e mananciais Fertilizador de igarapés, lagos, furos e paranás Amazonas, das Amazonas Do repiquete, da piracema, Do pasto novo na vazante E vida nova na enchente Amazonas, das Amazonas Da pororoca E bem nutridos afluentes Negro magnífico, grandioso Juruá Bravo Madeira, misterioso Xingú Rico Trombetas, lendário Nhamundá Imponente Purus, Maravilhoso Tapajós Deslumbrante Jiapurá" "Rei dos Rios" Marcos Lima e Inaldo Medeiros
  • 10.
  • 11.
  • 12. quarto A123 A história da mulher que vive há 33 anos no Hospital das Clínicas em São Paulo Alexandre Oliveira da Silva P ara quem sempre se utiliza do Metrô Clíni- cas que fica a poucos metros do Instituto de Ortopedia (HC), não imagina que há 33 anos Eliana Zagui, 35, reside nesse que tornou-se seu lar após ter contraído o ví- rus da poliomielite quando ti- nha um ano e nove meses de idade. Ela é natural de Guari- ba (SP) onde vive seus pais Carlos Zagui e Tereza Jorge Vil- kas Zagui. Eliana é uma exí- mia pintora de quadros com a boca, técnica que vem adqui- rindo há 11 anos com a volun- tária Ursula J. Carvalhaes e já obteve reconhecimento na Suí- ça por meio de exposições. Com extrema destreza manipula o pincel em sua boca como se o fizesse No quarto A123 reside com mais com as mãos. A duras penas obteve essa um colega Paulo Oliveira desde sua infân- autonomia. Ursula demonstra extrema cia, também portador de Poliomielite. Al- admiração por sua tutelada e enche-se moça as 11h30 e janta as 17h30. Cedo, de orgulho ao descrever seus primeiros por motivos de regulamento interno. Ela passos para adquirir tamanho nível técni- gosta de comer pizza. Eliana tem uma roti- co. Enquanto conversávamos, Zagui, em na bastante cheia para um portador de meio a risadas tomava seu suco com um Pólio. Entre ida e vinda de enfermeiros, canudinho, desempenhando sua “perfor- assim como a pintura, ela também escre- mance” extremamente eficiente não der- ve um livro autobiográfico iniciado em rubando uma gota sequer e ajeitando o 2002, por idéia de uma enfermeira e pre- copo apenas com uma palheta. Eliana tende lançá-lo em 2010, pela editora Bela respira por meio de aparelhos sem os Letra. Gosta de navegar pela internet (se quais só agüentaria 6 horas. Apesar das utiliza de uma palheta para digitar eficien- circunstâncias ela se demonstra muito temente bem) e também está cursando o otimista e esperançosa. ensino médio que após conclui-lo, preten-
  • 13. se graduar em psicologia. Passam um pano molhando no meu rosto, Apesar de sua condição, lavam meu óculos, me aspiram, colocam o compu- Eliana tenta manter-se o mais tador do meu lado e senta uma delas para me dar próximo de uma vida normal. a janta, mas nem sempre eu janto todos os dias”. “Aceitar é extremamente difícil, Seu café da manha é: pacote com duas torradas, me acostumei a conviver nessa si- mamão, ameixa e chá. tuação e como qualquer ser hu- Eliana recebe visitas quase que diariamen- mano, dito "normal", tenho meus te e dispõe, diz ela, de vários amigos que esporadi- momentos de depressão, angús- camente acompanham-na em passeios fora do tia, raiva, revolta, mas é superá- Hospital. “são esporádicos porque demanda muita vel, pois não perco a fé. mobilização para minha saída e esse processo é Quando se é criança, a de- muito burocrático” - reclama. “Para eu ficar 12 ho- pressão, angústia, raiva, revolta, ras fora daqui, preciso de um mês de antecedên- é lidada de uma maneira e hoje é cia. A pessoa que quiser me levar para passar um de outra maneira, outro olhar, dia em sua casa, seja onde for, tem que assinar pensar, enfim”. “Acordam-me en- um termo de responsabilidade, tem que haver um tre 08h30, 09h00, tiram todos os médico, um auxiliar de enfermagem e um técnico calços do meu corpo (travessei- de gasoterapia, sendo que essas três pessoas não ros, rolo feito de cobertor forrado podem estar trabalhando em lugar nenhum e sim com lençol) me colocam para fa- estarem de folga. O médico tem que vir assinar zer xixi e escovam meus dentes. um termo de responsabilidade, o hospital inteiro De segunda, quarta e sexta, são assina a papelada, alugo ambulância. Mesmo re- os dias de lavar a cabeça. solvendo dentro de um mês, se chegar no dia do Depois do banho tomado, passeio e acontecer de alguém não puder acompa- corpo arrumado na lateral esquer- nhar, vai tudo por água abaixo”. Conta que em da (lado que se inclina para pin- 2002 foi para o casamento do irmão de helicópte- tar), tomo café, vem a voluntária ro particular, cedido pelo então governador Mario (Ursula) para me ajudar na pintu- Covas. ra (às sextas-feiras). Chega a ho- Apesar de estar “sempre” rodeada de ami- ra do almoço, que sempre antes gos, diz se sentir muito só. Em conversas pelo elas (as enfermeiras) vêm para MSN, pois o acessa quase todas as noites perma- dar os cuidados. Faço xixi, às ve- necendo muitas vezes até a madrugada em conta- zes cocô, aspiram minha to com amigos, confessou sonhar em conhecer traquéia, me viram para o lado di- alguém e poder sair do Hospital. Porém não gosta reito e aí senta uma delas ao meu de comentar tal situação, quanto mais fala sobre lado para me servir o almoço. sua “solidão” mais ela aumenta. Contudo relata já Às duas horas da tarde, ter vivenciado um romance com alguém que ape- vêm de novo para me virar, por nas denomina de Ro/SP (assegurando-lhe anoni- para fazer (as necessidades) se eu mato) em 1997. Foi o seu primeiro beijo. Falando tiver com vontade. Às vezes tenho um pouco sobre sua família, coloca que não há aula, ou pinto os artesanatos muito contato entre eles: “Infelizmente, a família quando recebo uma amiga que num modo geral é estranho, porque não existiu o me ajuda, às vezes leio a tarde to- convívio diário. Garanto que você sabe um pouco da, ou tenho visita. mais sobre mim do que meus pais e irmão”. Há Chega a janta. É a hora da certo sentimento de culpa entre todos, relata. higiene íntima, faço xixi, lavam “Meu pai em si, se culpa por ter feito pouco ou na- com sabonete e trocam a da e o meu irmão não comenta muito, mas emoci- calcinha. onalmente ele sofreu muito.
  • 14. Minha mãe não aguenta falar do assunto, pois co- rápido para ganhar di- meça a chorar. Zagui tem noção que seu quadro é irrever- nheiro. sível, contudo diz esperar por um milagre. O que eu queria Sobre seus gostos pessoais, revela que gosta de fil- que fosse diferente hoje mes como Jogos Mortais e Pássaros Feridos (The Thorn- em dia, é que as pessoas birds). Na internet adora conversar, conhecer novas parassem de matar amizades e ficar respondendo emails de amigos, mas só os umas às outras e a si que classifica como sinceros. Além da pintura, lê livros e mesmas no sentido inter- faz artesanato. ”Pinto porta-retratos, caixas, coisas de no. Todos se tornam MDF no geral”. “Gosto muito de uma escritora chamada egoístas, frios, ganancio- Danielle Steell, ela escreve muitos romances, dramas e sos, ficam competindo têm alguns que são muitos bons, o último que li dela foi para quem vai ficar com “Porto Seguro”. Agora estou lendo um que se chama: “A o prêmio do mais malva- Sombra do Vento”. É um suspense meio misterioso, meio do ou preguiçoso a troco terror, é mais misterioso do que terror, muito bom!”. de nada, sendo que to- Perguntamos se gostaria que sua vida fosse diferen- dos irão morrer virar bos- te e se teria raiva da situação a qual se encontra, respon- ta para os vermes de: “A questão de tentar entender o porquê tive comerem. poliomielite, hoje em dia já estou muito mais tranqüila, Queria poder al- pois não culpo meus pais e nem a Deus. Tudo aconteceu gum dia na minha vida, porque tinha que acontecer e ainda bem que estou viva. Se ter a experiência de per- Já fiquei revoltada? Conflitante? Tive fases terríveis! Se já manecer uns dias fora deixaram de existir hoje em dia? Não, porém, minha revol- daqui, mas com a garan- ta hoje em dia, está muito ligada a decepções com o ser tia de que não perderei humano, no modo geral. O modo que as pessoas vêem e meu lugar e nem, muito cuidam da vida dos outros, a pressa de querer fazer tudo menos, ter a ameaça de ser retirada, só por ficar uns dias fora. Acredito que se isso acontecesse, será uma vez só, sem o direito de repetir a dose e claro, não repetiria sem- pre, só em casos extre- mamente excepcionais. Mas sonho é so- nho. Meus conflitos hoje em dia, estão ligados no fator emocional, a minha extrema teimosia, ao fa- tor de viver verdadeira- mente uma relação amorosa independente de sexo, mas sem ser muito interrogada, vigia- da, atrapalhada, negada, sem falatórios maléficos para atrapalhar a rela- ção, enfim”. ф
  • 15.
  • 16. MEXEU... FEDEU! manual prático de sobrevivência num boteco de quinta durante um ataque de fome no meio do nada Fabi Catarse* 1 ° o teste do balcão - a fome é grande, a localidade não oferece opções, o jeito é entrar no único 'estabelecimento' que oferece 'coisas' de comer. Assim que en- trar, de modo algum sente-se a mesa (se hou- ver), antes, vá ao balcão para um rápido teste: encoste seu antebraço balcão e conte até 3. Se sua pele não aderir à gordura acumulada do bal- cão, fique parcialmente feliz, sinal de que ele foi limpo há pelo menos 6 meses. Caso sua pele fi- que grudada, mas se solte depois um leve pu- xãozinho, é um sinal de que ele foi limpo há 1 ou 2 anos, hora de decidir se sua fome é maior do que o nojo dessa informação. No entanto, se seu antebraço ficar completamente grudado no balcão e não se soltar nem com a ajuda do bal- conista, peça um pouco de água morna, jogue entre a pele e o balcão, assim que a gordura amolecer, recolha seu bracinho querido e saia o abra um pacote novo, nem que mais rápido possível do local, sem olhar para para isso você tenha que pagar trás; por todo o pacote... afinal, existe a possibilidade do digníssimo bal- 2° copo descartável - na hipótese de ter perma- conista ser do tipo que 'reutiliza' necido no local, peça algo para beber, talvez sua copos descartáveis! fome seja apenas sede! Comece pedindo uma água. Peça uma cujo copo ou garrafa venha la- 3° talheres descartáveis - você é crado, vedado, isolado da atmosfera do boteco. a pessoa mais corajosa e faminta Caso o balconista diga que ele não 'trabalha' do mundo, o copinho d'água só com esse tipo de mercadoria, pergunte qual se- abriu ainda mais seu apetite, o ria a procedência da água vendida. Se ele disser único jeito de resolver o proble- que a procedência é uma bica que fica logo ali, ma é comer! Prefira coisas que no mínimo peça que ele use um copo descartá- podem ser comidas com as vel! Mas pense na possibilidade de pedir que ele mãos, como lanche, esfirra, pas-
  • 17. tel. No caso desse último, o lado bom é que o óleo quente pode ter matado todas as bactérias, mas o lado ruim é que o óleo super-hiper-mega-ultra-saturado completando 5 anos no tacho pode matar você. Se o balconista disser que não frita, não assa e não prepara nada na hora, repense. Pergunte pelo PF, com muita, muita, muita sorte o 'maitrê' irá dizer que fica pronto em 15 minutos... isso será um óti- mo sinal de que está sendo preparado no mesmo dia! Caso sua fome já esteja grande a ponto salivar só de pensar no 'cheirinho' do 'bife' sendo frito, aceite um conselho: peça ta- lheres de plástico. Do contrário, seu bife pode ganhar sabor de dobradinha... que estava no cardápio de ontem! 4° ovo cozido - o bom e velho ovo, herói no combate a tan- tos momentos de fome, ele pode salvar você mais uma vez! Pense bem: ele tem embalagem própria e lacrada, pode ser comido sem talheres, é rica fonte de proteínas e vitaminas, não precisando de muito para matar (ainda que temporaria- mente) sua fome, não é frito nem assado, é cozido! Mas é preciso que seu poder de persuasão seja forte, afinal, você terá de convencer o balconista de que faz questão de que seu ovinho seja cozido na hora e por pelo menos uma hora (pra garantir a eliminação de qualquer tipo de bactérias). Diga que é uma receita da sua mãe! Caso consiga, vá fundo! 5° o recurso final - o balconista se nega a cozer um ovinho, não serve pf, o único pastel que tem é de ontem, só tem co- pos de vidro, sua pressão caiu, sua fome já está embaçan- do sua visão. O que fazer?! De repente, não mais do que de repente, você avista um pacote vermelho, escondido atrás de algumas garrafas de 51, Velho Barreiro e Pitu... sim, sim! É um pacote de Fandangos de presunto!!! Peça-o! Che- que se está na validade, sacuda o pó da embalagem, pague, nem que custe 5 vezes mais que o normal, e saia correndo! Com certeza um pacote de Fandangos ( que rende mais do que qualquer outro salgadinho!) vai conseguir aplacar sua fome, de quebra, vai resolver seu problema de súbita queda de pressão arterial já que possui níveis ressuscitadores de sódio! Originalmente publicado em: http://www.claraemne- ve.blogspot.com/ Contato: fabicatarse@yahoo.com.br *Fabi Catarse é cronista de pequenas bobagens da vida, lingüista e pensa que é chef, mas só da cozinha dela. Escre- ve semanalmente no blog Clara em Neve sempre pensando em comida. ф
  • 18. ... MAS... É GOSTOSO! dígitos do desejo Quando o teclado e o monitor substituem o contato sexual O sexo foi e, mui- Everson Bertucci to provável, sempre será mo- tivo de curiosi- dade, excitação, êxtase, afetadas, direta ou indire- euforia e outros tantos ad- tamente. jetivos. Claro que o grau Muitos se questio- de cada um deles varia de nam se isso é bom ou acordo com a idade, sexo, ruim. Independente da meio etc. resposta, o fato é que não soas em busca de uma re- Em todos os perío- somos mais os mesmos, lação virtual. dos históricos o sexo teve ou talvez, sejamos sim os Alguns usam este suas influências e particu- mesmos, só que transfor- meio como uma espécie laridades, seja na idade mados. Uns mais, outros, de liberação dos desejos da pedra, com uma certa nem tanto. mais secretos e que não violência e submissão, E o que dizer sobre conseguiriam fazer no nas orgias dos grandes pa- o sexo depois da entrada mundo real. Outros estão lácios medievais, ou até da internet? Mudou? É à procura apenas de uma mesmo a partir das fotono- inegável uma grande mu- conversa um pouco mais velas, na era dos folhetins dança comportamental picante, que no fundo não e revistas românticas. dentro desse universo tão têm coragem de fazer dis- Com toda essa evo- complexo. Com a chegada tante da tela. Medo, pu- lução e diversificação se- da internet e das salas de dor, repressão religiosa. xual, os meios sempre bate-papo, o sexo ganhou São vários os motivos. tiveram seu papel dentro outro aliado. Cada vez Há também aque- dessas mudanças. Não há mais aumenta o número les que sentem um imen- como negar uma grande de pessoas a procura de so prazer em fazer sexo modificação depois da che- relacionamentos através virtual. Como isso é possí- gada da internet. Impossí- dos meios virtuais. As sa- vel? Simples, tem a manei- vel não participar dessa las de bate-papo vivem lo- ra textual, em que duas revolução, mesmo aqueles tadas. Basta entrar num pessoas estão conectadas mais resistentes e conser- desses provedores com e, numa conversa, come- vadores. De alguma for- chats sobre sexo para con- çam a digitar frases exci- ma, suas vidas foram ferir. São inúmeras as pes- tantes, a se liberarem
  • 19. sexualmente através de mente. Como? Mostrando "eu" que não lhe é habitual fantasias, fetiches, pala- seus órgãos genitais, se – pelo menos socialmente. vras picantes, obscenida- masturbando, se tocando, Diante de uma tela des. utilizando acessórios co- de computador, parece que Neste caso o imagi- mo vibradores, roupas o indivíduo se liberta de nário é o grande aliado ao sensuais, óleos... Elemen- conceitos religiosos e fami- que é escrito. O indivíduo tos estes que ajudam nes- liares relacionados ao se- começa a imaginar como é ta festa sexual, onde xo. Na frente dela, se o outro, como ele se com- algumas máscaras caem despe de pudores, moralis- porta, como o tocaria, o para dar lugar a outras. mos e deixa aflorar seus beijaria, enfim, como seria Obviamente, uma desejos mais íntimos e se- uma relação sexual com das muitas vantagens de cretos. quem está do outro lado. se relacionar virtualmente O fato de estar se re- Nem sempre este ti- é que não há absoluta- lacionando pela internet o po de relação termina em mente nenhum risco de faz ter a impressão de que orgasmo. Muitas vezes a contrair uma doença sexu- aquelas pessoas também pessoa está apenas a fim almente transmissível, estão despidas de hipocrisi- de se excitar, se sentir de- por não haver nenhuma as sociais, igualando-os, e sejada, bem quista, ou de transferência de fluidos também pelo fato de que despertar o prazer em al- corporais. não terão nenhum laço so- guém. Há também os que cial ou afetivo – embora só querem se divertir. O sex o e o eu n a w eb ca m possa haver exceção - num Como eles não es- jogo de criação de "eus" tão se vendo, nunca pode- A webcam possibili- rão garantir que o seu Com a chegada da ta ao indivíduo criar um parceiro virtual chegou ao internet e a possibilidade "cano de escape" para a so- ápice, pois este pode mui- de conexão com outros in- lidão. É como se a webcam to bem estar mentindo. divíduos, estando eles em se transformasse numa Mas tal fator não tem qualquer parte do mundo, companheira fiel do sujei- grande relevância neste ti- o sexo ganhou um novo to, trazendo companhias po de contexto. O impor- meio tanto para encontros diversas e descartáveis tante é se sentir bem e ocasionais somente para num frenético e constante realizado. satisfazer o corpo - sem reality-show. Muitas vezes Aliada com a possi- compromisso, e pela prati- o indivíduo se torna escra- bilidade de conversar tex- cidade provável das par- vo deste universo vicioso e, tualmente com pessoas de tes nunca mais se verem - porque não dizer, nocivo. qualquer lugar do mundo, ou simplesmente pela prá- É a necessidade de desconhecidas ou não, a tica “solitária-virtual”. ver e de ser visto. A câme- webcam se torna elemen- Nestas práticas ci- ra ligada somente não bas- to fundamental na relação bernéticas, o indivíduo se ta, ele tem a necessidade virtual. Ela proporciona a sente liberto de seus pudo- de saber que está sendo visualização do outro. Nes- res e mais a vontade para visto por alguém e, de pre- te jogo, a beleza e os gos- falar e fazer coisas que ferência, que o número de tos pessoais contam mais não teria coragem de fazer espectadores seja sempre do que simplesmente tro- em outros ambientes. Tal- o maior possível, para que car mensagens de texto. vez, possa-se dizer que ele se sinta real, existente. Os envolvidos ago- expõe o seu verdadeiro É a necessidade de ra podem se excitar visual- "eu", ou simplesmente o existir. ф
  • 20. virtual e obscuro Cupim trata um dos tipos de crimes mais comuns do momento e mostra como a demora na obtenção de informações e a falta de leis específicas prejudicam todo o processo C om o avanço da Tatianna Felix Internet, o au- mento do núme- ro de crimes virtuais vem crescendo a As ocorrências cada dia. Segundo estatís- mais comuns são contra ticas da Central Nacional a honra. Existem outras de Crimes Cibernéticos, como ameaça, estelionato, só em abril deste ano fo- fraudes bancárias, falsifi- gado da 4ª DIG, José Ma- ram 7.640 denúncias. Em cações e roubos de se- riano Araújo Filho, expli- 2008 foram 91.038, das nhas bancárias. Os ca que ao acessar o menu quais 57.574 (63%) eram crimes realizados por mei- arquivo, em seguida pro- relativas à pornografia in- os eletrônicos sempre dei- priedades e posteriormen- fantil. Desde 1997 até ho- xam vestígios, o que faz te detalhes, no corpo do je no Brasil, foram mais com que não exista crime texto aparecerá o IP de de 17 mil decisões judici- perfeito, entretanto, é ne- quem remeteu a mensa- ais relacionadas ao cha- cessário apenas um com- gem. A partir daí é pedido mado "direito eletrônico". putador com acesso a uma busca e apreensão Em São Paulo exis- internet para que uma sé- para que se possa ir ao lo- te o Departamento de In- rie de delitos sejam come- cal e obter a informação vestigações sobre o Crime tidos. no próprio computador. Organizado (DEIC). Den- O Internet Protocol A principal dificul- tro dele há uma delegacia - Protocolo de Internet -, dade para a resolução dos especializada em crimes mais conhecido como IP, casos é conseguir informa- eletrônicos, a 4ª Delegacia é uma das principais for- ções, pois existe uma len- de Investigações Gerais mas para se chegar aos tidão na obtenção das (DIG), que atende várias culpados. Ele é a identida- requisições junto às repre- ocorrências por meios vir- de que todo computador sentações judiciais, o que tuais com autorias desco- tem e que indica o endere- prejudica, na maioria das nhecidas. ço do proprietário. O dele- vezes, a agilidade nas
  • 21. apreensões e investigações de mate- riais que facilitam o rastreamento das informações que contribuem pa- Cupim ra a solução das denúncias registra- Cupim- número 1 - Junho 2009 das. É fundamental que as partes envolvidas facilitem o acesso da polí- Editor Chefe cia às informações para que as auto- Flávio Rocha rizações judiciais sejam mais flavio.srochas@gmail.com rápidas, com isso, o número de ca- sos solucionados poderá ser maior. Em 2005, um caso de estelio- Editores de Arte nato envolvendo uma empresa de im- Everson Bertucci portação e exportação, que recebeu everson.cronopio@hotmail.com via e-mail uma proposta para trans- Lais Mendonça portar uma carga, foi solucionado. lais.me@gmail.com Eles receberiam um milhão de reais para realizar o transporte. O gerente Editor de Publicidade da empresa acionou a polícia que no Fernando Nowikow momento do fechamento do suposto fe.fig2006@yahoo.com.br acordo deteve três pessoas. No Brasil não existe uma le- gislação própria para os crimes virtu- Editora de Fotografia ais, o que facilitaria o trabalho da Tatianna Felix polícia e faria com que muitos não tatiannafelix@hotmail.com saíssem impunes por falta de uma lei específica para enquadrar os cri- Repórter minosos. Alexandre Oliveira da Silva Para não cair em golpes é im- ale.normando@gmail.com portante seguir algumas recomenda- ções, como não abrir nenhum e-mail de pessoas desconhecidas, não envi- Ilustrador ar senhas ou dados pessoais pela In- Flávio Leal ternet, manter um antivírus e o lealhc@hotmail.com computador sempre atualizados. As pessoas que se sentirem prejudica- PARTICIPARAM DESTA EDIÇÃO das devem procurar o auxílio de Caroline Regine uma delegacia especializada ou do Fabi Catarse distrito policial mais próximo para Fabiana Machado que todos os casos possam ser inves- Gutierres Siqueira tigados e os responsáveis punidos. DIG-DEIC – 4ª Delegacia de Delitos Cometidos por Meios Eletrônicos de Capa São Paulo (SP) Flávio Leal Endereço: Av. Zack Narchi, 152, Ca- randiru – São Paulo (SP) Fone: (11) Blog Cupim 2221-7011 ou 2221-7030 ф www.revistacupim.blogspot.com
  • 22.
  • 23. ENFIANDO O DEDO mais um caso de milhões Vereador omite mansão de R$ 2 mi à Justiça Eleitoral Fernando Nowikow R eeleito com 29.915 votos, o vereador Ushitaro Kamia (DEM), de 62 anos, ‘esqueceu’ de declarar à Justiça Eleitoral, man- são de R$ 2 milhões. Conhecido como “palacete imperial” por causa da arquitetura japonesa, o imóvel fica na região da Serra da Cantareira, zona norte de São Paulo. Com três andares e cerca de 500 metros quadrados, a mansão possui três suítes, salão de festa e jogos, duas salas de estar, salas de jantar e meditação, piscina com cascata de pedra, avaliada em R$ 200 mil, e deverá contar também com dois elevadores panorâmicos. Cercado de ver- de, o “palacete imperial” do ve- reador Kamia, fica no luxuoso condomínio Residencial Jardim Bibi II, no bairro de Vila Alberti- na. O caso chamou a aten- ção da Justiça Eleitoral, pois perante a Lei, o vereador decla- rou possuir um apartamento de R$ 118,69 mil, na Avenida Nova Cantareira, e três carros, que somam R$ 80 mil. Ou seja, um patrimônio de R$ 194.694. Em entrevista aos jornais, Ka- mia confirmou ser o dono do imóvel, mas se enrolou ao res- ponder por que não consta na sua declaração de bens. Primei- ro, ele disse que a mansão esta- va em seu nome. Depois, alegou que comprou no nome do cunhado e aguarda transfe-
  • 24. rência para seu nome. Municipal, representada 1998. É filho de imigran- Os jornais também pelo vereador Wadih Mu- tes japoneses que se esta- flagraram o carro oficial tran (PP), existe uma enor- beleceram na zona norte, do vereador - um Astra me pressão por parte de onde mantém seu reduto Advantage 2.0 sedan, que seus colegas vereadores eleitoral. custa mensalmente cerca pela absolvição ‘a seco’ do O caso do vereador de R$ 1.6 mil aos cofres vereador Kamia. “A publi- mostra, mais uma vez, o públicos municipais, sen- cação da denúncia pela mar-de-lama que se insta- do usado para transpor- imprensa não é motivo pa- lou na política brasileira. tar material de ra alarde. Temos que exa- Semelhante, porém em construção para a obra. minar isso com carinho”, menor escala ao caso do O caso está sendo declarou o corregedor. deputado federal Edmar investigado pelo Ministé- O vereador Kamia Moreira, que colocou à rio Público Federal, que (DEM) está em seu 4º venda um castelo avalia- vê indício de que o valor mandato na Câmara Mu- do em R$ 25 milhões, no da obra é incompatível nicipal, cargo pelo qual re- interior de Minas Gerais, com a renda declarada pe- cebe salário de R$ 9,2 o “palacete imperial” do lo parlamentar, que pode, mil. Membro da base de vereador Kamia reafirma em tese, pegar até 5 anos apoio do prefeito Gilberto a falta de transparência e de reclusão e perder o Kassab (DEM), Kamia é de credibilidade dos nos- mandato por improbidade formado em Direito. Já foi sos políticos, que parecem administrativa. Já para a deputado federal duas ve- pensar apenas em gran- Corregedoria da Câmara zes pelo PPB, em 1994 e des castelos. ф
  • 25.
  • 26. sessão nostalgia O retorno da cinelândia paulistana Flávio Rocha e Lais Mendonça “Tinha cinema para todo lado, todo preço e vestimenta. Com terno e gravata, era possível entrar no cine República, ou no Ritz, ou mesmo no Normandie, na Rua Dom José de Barros. Com roupa ‘comum’, era possível entrar no Broadway, ou no Oásis, ambos na Avenida São João, onde ficava também o Metro – mas, para freqüentar este último, só de fato completo, como diziam os velhos portugueses da cidade”. (Heródoto Barbeiro no livro Meu velho centro, publicado pela Edições Sesc São Paulo). N este trecho Heródoto expressa o sentimento de quem viveu numa época onde o cinema era a diver- mã mais velha. Fomos ao Santa He- são da família paulistana. É atra- lena, só que na saída da sessão, vés do olhar de três protagonistas que saí sozinha e minha irmã com o contaremos essa história que vai além das Nelson”. E completa: “perdi o namo- poltronas de couro, do Sensurround*, dos rado para ela”. trajes de gala ou dos grandes projetores das Mas nem só de romances vi- antigas salas de cinema: Myrthes Costa, Gil viam os cinemas. André Mazzaropi, e André Mazzaropi. filho do eterno caipira paulista Maz- A Cinelândia ficou caracterizada pelo zaropi, afirma: “O cinema foi sua vi- surgimento de cinemas no eixo da Avenida da e é a sua história, seu reduto São João, no centro de São Paulo. O circuito profissional o Largo do Paissandu”. agitou os dias paulistanos entre as décadas de 1940 a 1970. “Hoje em dia, tudo é muito diferen- Muitos romances começaram nas pol- te” tronas do centro, como conta Myrthes, que Como diziam os também cai- não revela a idade: “Vim da fazenda para piras e compositores Chico Rey e São Paulo em 1942, morava na região do Ipi- Paraná. Os adjetivos das avenidas ranga. Conheci o Nelson, que foi quem me Ipiranga e Rio Branco, além das ru- convidou para ir ao cinema, mas a mamãe as Direita, 7 de Abril, Aurora, e das não deixava eu ir sozinha porque não era de praças República e Júlio de Mes- bom tom ir só com um rapaz ao cinema, en- quita mudaram tanto nas últimas tão a condição era ter que levar a minha ir- décadas, que poucas lembranças
  • 27. as sessões pelo preço de uma. “O Brás inteiro vai pra lá”, contou Gil, advogado que jura ter mais de mil anos, so- bre os comentários tecidos pela elite morado- ra dos arredores da avenida Paulista e do ainda glamuroso bairro de Higienópolis, so- nos restam de seus tempos áureos. bre os cinemas mais baratos do centro. Onde antes encontrávamos “Esses cines populares que cercavam casas de chá, cinemas, teatros, pes- as salas nobres da Cinelândia, eram mais soas desfilando com roupas da últi- simples, não precisava se arrumar tanto pa- ma moda de Paris, celebridades, ra freqüentá-los, e era mais barato, porém ti- entre outras centenas de peculiari- nha muitas pulgas. Bem, era o que diziam, dades; hoje vemos o abandono e o porque eu não freqüentava, acho que é por descaso. Mendigos, camelôs e sujei- isso que ficaram conhecidos como pulguei- ra. ros”, comenta a sorridente Myrthes. Vestidos longuetes, luvas e A Cinelândia não só oferecia preços chapéus eram os trajes das damas, para vários bolsos, como também filmes pa- enquanto os moços trajavam seus ra todos os gostos. O cinema Jussara, por ternos bem alinhados com sapatos exemplo, só passava filmes da Nouvelle Va- engraxados e com toda a pompa e gue. O Broadway tinha como característica elegância iam até os cinemas do os filmes mexicanos. E, como se não bastas- centro. sem os elementos já citados, muitos cine- Durante trinta anos o cine- mas contavam com ambientação, ma reinou absoluto, atraindo crian- decorações especiais e ante-salas para convi- ças, jovens, homens e mulheres vência, como o cine Marrocos. indistintamente. Nas suntuosas sa- las a diversão era certa. “São Paulo não pode parar” Após uma sessão no Marabá A década de 1950 foi única para São ou no Cine Ipiranga, podia-se cami- Paulo. Segundo censo demográfico da época, nhar calmamente entre as ruas, en- ela havia atingido dois milhões de habitan- contrar amigos, paquerar ou esticar tes comparando-se com o Rio de Janeiro, a noite em uma das casas de chá. que até então era a capital federal do Brasil. Eram várias as atrações que perme- Nas avenidas começava o crescimento avam as ruas de mosaico portu- da circulação dos automóveis, a cidade cres- guês e luzes amareladas. cia vertiginosamente. O slogan era “São Pau- Mesmo quem não possuía lo não pode parar”. condições financeiras para ir ao Me- A cidade experimentava os fluidos po- tro ou ao Ritz, que eram considera- sitivos da idealização do bem-estar que cer- dos os “elitizados” da época, não cavam as metrópoles e que vinham das deixava de se divertir, pois a preços principais cidades européias e norte-ameri- bem mais convidativos podiam ir ao canas. Neste contexto, o conjunto de salas Santa Helena, Oásis ou Alhambra, de cinema tem um papel muito importante, com a possibilidade de assistir du- pois personificava a mais gratificante forma
  • 28. de lazer do habitante da cidade. Era a rua”, lamenta Gil. A televisão passou sua janela para o mundo. a centralizar a atenção da família, As pessoas se deslocavam até a Ci- enquanto o ato de ir ao cinema foi nelândia para se envolver na magia da saindo cada vez mais de foco. modernidade em meio aos prédios gigan- Alguns fatores extra-cinemato- tescos, se misturando às multidões que gráficos contribuíram para o agrava- circulavam pelas calçadas antes (ou de- mento da questão, a transformação pois) do escurinho do cinema. “Ah! Na- urbana foi um dos principais. A cida- quela época, o cinema fazia propaganda de deixava de ter uma concepção idí- da 2ª Guerra e a literatura francesa dita- lica de metrópole e passava a ter va nossos costumes”, conta Gil sobre o destaque as dificuldades que já nos sentimento que levava todos às ruas. são costumeiras. Trânsito, congestio- Com o tempo, a relação entre o namento, violência, alto custo de vi- paulistano e a metrópole se alterou subs- da, transporte coletivo deficiente, tancialmente. O slogan agora mudou, são itens que passaram a prender o São Paulo: “Maior parque industrial da paulistano dentro de suas casas. América Latina”. Isso refletiu até mesmo O perfil do circuito e do públi- no lazer, substituindo as formas tradicio- co cinematográfico se altera muito nais de sociabilidade por novos rituais. neste período, os palácios cinemato- “Chatô, que você deve conhecer gráficos, por exemplo, tornaram-se bem, trouxe da Europa a máquina da TV. obsoletos, desestimulando mudan- Estava decretada a morte do cinema de ças. Delírios arquitetônicos que con- tribuíram para a notoriedade do Cine Marrocos tornaram-se coisa do passado. Os Shoppings Centers chega- ram à capital, trazendo as compras, o cinema, a comida e toda comodida- de que proporcionam estes espaços. A Cinelândia entrou em deca- dência e as enormes edificações pare- ciam ainda mais gigantescas com o esvaziamento das platéias, a solução então foi dividi-la apressadamente em nome da sobrevivência. Assim, construiu-se um novo cenário. “Sai de cartaz o casal IV Centenário (terno & gravata & colar de pérolas) e surgem os personagens das ‘tribos’ urbanas que circulam com desenvoltura e alguma arrogân- cia”. Como relata Inimá Simões em seu livro “Salas de Cinema de São Paulo”. Hoje em dia, o público dos ci-
  • 29. Iniciativas começam a surgir nemas que ainda estão em funciona- mento são compostos em sua maioria Diferente de tantas salas his- por office boys, desempregados, estu- tóricas da cidade de São Paulo, que dantes, comerciantes e homossexuais. se transformaram em outros tipos Não existe mais o antigo glamour que de estabelecimento, o Cine Marabá, era visto, e o inconsciente coletivo das localizado na Avenida Ipiranga - pessoas já não mais enxerga os cine- 757, foi reaberto ao público em gran- mas do centro como foi outrora. de estilo. “Na decadência destes cinemas, Em Julho de 2008, deu-se iní- ninguém ‘direita’ mais entrava neles. cio ao processo de revitalização do ci- Você vai vendo as coisas acabarem e fi- nema, que transformou uma das cando mais tristes, muitos ficaram co- maiores salas do Brasil em um mo- nhecidos como cinemas pornôs, como derno complexo, mantendo o seu o caso do Paissandu e o Olido, que já charme histórico. São cinco salas pelas nove horas da manhã se via ho- nos formatos stadium e convencio- mens entrando”, comenta Myrthes. nais, projetores e poltronas importa- A existência destes espaços é das, som Dolby Digital e capacidade muito inferior em relação ao que já foi de 1150 lugares. um dia, alguns se transformaram em O projeto de renovação do Ci- igrejas (Metro), outros ainda exibem fil- ne Marabá que foi realizado pelo mes pornográficos (Cine Saci), simples- Grupo PlayArte e assinado por Ruy mente foram demolidos e deram lugar Ohtake, tramitou na Prefeitura de a estacionamento (Apolo) ou comércio, São Paulo por três anos e depois de mas podemos ainda encontrar cine- atendidas todas as especificações mas que estão simplesmente fechados técnicas pôde ser colocado em práti- ou adornados com a placa de “aluga- ca. se” (Cine Ipiranga, Metrópole, Éden). Além da reforma, o prédio Alguns projetos vão na contra- também passou simultaneamente mão da atual situação dos cinemas do por um processo de restauro. Por ser centro de São Paulo. Já é possível ver um edifício tombado pelo patrimônio tentativas de revitalizar salas e colocar histórico, a Prefeitura exigiu que o a Cinelândia Paulistana de volta no co- projeto mantivesse elementos intac- tidiano dos habitantes. O projeto “Bro- tos. Segundo a PlayArte, todos os adway Paulistana”, iniciativa do cuidados necessários foram tomados governo de São Paulo, prevê uma para manter as características que abrangente reabilitação local com a re- se tornaram tradicionais no centro cuperação de dez cinemas antigos, que paulistano. seriam reativados ou transformados “Essa é nossa contribuição pa- em casas de espetáculo. ra a manutenção de um dos marcos Talvez as casas de chá, chapéus da cultura paulistana e também pa- e bondes não voltem mais a ser uma ra a revitalização do centro de São realidade no centro da capital, mas res- Paulo, que não pode ser esquecido ta-nos acreditar que o centro volte a nunca”, comenta Otelo Bettin Coltro, ser um lugar de bem-estar e lazer e vice-presidente executivo do Grupo não somente de passagem. ф PlayArte.
  • 30. APERTADINHO em que posso ajudar...? Alexandre Oliveira da Silva E m um minuto é impossível se fa- zer muitas coi- sas, há quem diga o contrário (nós, os tele-operadores). Mas pa- ra um profissional que tra- balha em Call Center a palavra “não” é pecado e a religião adotada nas em- presas desse ramo ortodo- xas puritanas é viril. O atual modelo bra- sileiro instituído por lei adota que, o atendimento por meio do telefone tem que ser o mais rápido pos- sível e de qualidade (não esqueçamos), exigindo as- sim que empresas que ofertam esse serviço se adequem para tal faça- nha. Sobrou para o opera- dor. Stress, depressão e baixa estima rola solto nas centrais de atendi- mento. Dias atrás soltei
  • 31. um “caralho” em voz alta di- ante da tela do computador, socando a mesa em seguida. Nunca havia me exaltado a tal ponto. Meu algoz, deno- minada supervisora, me fuzi- lou com seu olhar austero. Sempre fui um cara calmo, calado em meu canto. De pouco relacionamento. Nunca gostei de fofo- cas e conversar era o mesmo que saltar de pára-quedas (Pula... Pula!). Tinha que gos- tar muito de mim para enca- rar. Sim, após ter entrado nesse ramo ф
  • 32. retrato em branco e preto As possibilidades de cores de quem vive na pele a marca do vitiligo C om cinco anos mudam, o complexo e o de idade, Laura isolamento surgem e era uma menina com o passar do tempo, como outra qual- alguns fantasmas come- quer. Filha de um casal çam a freqüentar seu o simples, sua casa sempre cotidiano. A fuga da es- foi repleta de crianças. cola se torna a melhor Eram filhos de parentes, opção. vizinhos e amigos. A mãe, Adolescente, Lau- Dona Analú, fazia muitos ra tem sede por conheci- doces e petiscos para agra- mento e a psicologia dar a criançada. Sempre passa a fazer parte de pronta para acolher quem seu sonho e faz desper- quer que fosse, procurava tar seu interesse de estu- oferecer o que tinha de me- do nesta área, pois lhor em sua casa. Não só deseja desvendar os mis- ela, como seu esposo, Seu térios da mente, ajudar Jonas, mais conhecido co- as crianças e àqueles mo Jaú – apelido do fute- que necessitam de auxí- bol. Este, dono de uma eles - inclusive os mais lio emocional e encon- simpatia e generosidade simples, como aquela ma- tram dificuldades, assim que servia de exemplo pa- ria-mole vendida em um co- como ela. ra muitas pessoas. pinho e que vinha com um Hoje, já mulher, Como uma boa par- pequeno brinde que Laura Laura nos conta um pou- te das meninas da sua ida- chama de “figuinha”. co sobre a doença, os de, Laura cresceu dentro Apenas um detalhe medos, o tratamento, a do universo de Monteiro começou a diferenciá-la das aceitação, o preconceito, Lobato, suas histórias, outras crianças, umas man- os dissabores do amor, seus personagens cativan- chinhas brancas começa- além da perda do sobri- tes, seu universo fantásti- ram a aparecer em seu nho Nicolau de 14 anos, co. Uma menina que nariz por volta dos seis a importância da rela- sempre vivia num mundo anos de idade. Era o surgi- ção familiar, seu encon- cor-de-rosa, tinha muito mento do vitiligo. tro com Chico Xavier, o medo da morte e sonhava Os anos foram pas- desejo de ser mãe e ou- em ser bailarina. Era leva- sando e no início de sua vi- tros aspectos relativos à da, adorava doces - todos da escolar seus medos sua vida.
  • 33. CUPIM - Quando tudo co- adoro dançar. Foi passan- e comecei a me olhar desde meçou? do o tempo e eu nunca fui os pés e fui subindo. Pensa- LAURA – Quando era pe- atrás, agora até estou va “nossa, mais eu não sou quena, tinha muito medo com vontade de entrar nu- aleijada, eu tenho perna, da morte, ficava sabendo ma aula de dança (risos) eu tenho pés...”. E eles (os que alguém tinha partido, sabe essa dança de salão? pais) até aceitaram que eu mesmo não conhecendo a Então, estou com vontade ficasse em casa porque eu pessoa, naquela noite eu de fazer. cheguei a ir procurar em- não dormia. Tinha um do- CUPIM - Como foi sua vi- prego, mas eu via no jornal ce que era uma maria-mo- da escolar? que precisava ter boa apa- le dentro de um copinho e LAURA – Foi um período rência e sempre tinha aqui- vinha uma "figuinha" den- que tive dificuldade, en- lo na minha cabeça tro. Um dia eu comi o doce trei na escola com sete “duvido que vão me acei- e fiquei com a figuinha na anos, e que comecei a sen- tar, não vai adiantar eu ir, boca, engoli e fiquei com tir determinadas coisas eles vão me ver, lógico que ela atravessada, e com me- (complexo). Eu tive sem- vão querer a outra ou o ou- do de morrer, apavorei, gri- pre bons amigos à minha tro”, e assim sucessivamen- tei pela minha mãe... volta, tanto no primário te. Eu voltava para casa Enfiava o dedo na gargan- quanto no ginásio. A esco- chorando. Então meus ta com medo de morrer. la e os amigos não faziam pais, cansados de ver esta Eu cheguei a engolir o ob- diferença, o complexo es- cena toda vez que ia procu- jeto, mesmo assim eu enfi- tava em mim, não neles, rar emprego, resolveram ava a mão na garganta e tanto que os amigos fala- me manter em casa. Me de- cheguei a machucá-la. Mi- vam que para eles não ti- ram salário, me pagavam o nha mãe me levou ao médi- nha nenhum problema. correto. Parece que isso co várias vezes, porque eu Fui crescendo e me isolan- doía neles. Então, quando comecei a ficar com dor de do, dei uma parada nos escutei aquela conversa... estômago... Tinha de 5 pa- estudos, minha mãe tinha Eu falei comigo mesma que ra 6 anos, na época. O mé- problema (de saúde) e eu eu tinha que reverter. Pare- dico disse que eu estava não querendo me mostrar ce que levei um choque, com dor de estômago por- para a sociedade, então pois muita gente que esta- que eu tinha passado ner- tudo se encaixou. va em cadeira de rodas es- voso. Ele medicou um CUPIM - Você associava tava trabalhando. Quando tranqüilizante. Eu melho- seus problemas ao vitiligo? eu estava sofrendo o com- rei, mas depois de certo LAURA – Sim, eu associa- plexo na íntegra eu não per- tempo, começou a sair va. Um dia durante uma cebia essas coisas, foi uma mancha no nariz, que conversa entre meu pai e então que decidi trabalhar foi constatado que era viti- minha mãe, sem que eles fora. ligo. me vissem, ouvi minha CUPIM - Como foi esse tra- CUPIM - Nesse período, mãe falar: “Velho, nós te- balho? qual era seu sonho? mos que ver o futuro da LAURA - O primeiro traba- LAURA – Eu sempre gostei Laura. As outras (filhas) lho fora de casa foi com de filmes clássicos, aque- estão trabalhando, vão ter uma amiga, onde fui mani- las bailarinas, aquelas a aposentadoria delas, e cure em domicílio. Logo danças. Sempre me fasci- nós não vamos viver a vi- passei para um salão, onde naram. Meu sonho era ser da inteira. O que vai ser fiquei quatro anos. Foi bailarina. Tanto que eu dela?” Eu tinha 22 anos, tranqüila, a minha relação
  • 34. com as pessoas, desde que não me deixasse me envolver pelo complexo. O que é o vitiligo? Depois desses quatro anos eu fui tra- balhar numa escola, no Walt Disney Doença caracterizada por (Escola Infantil). descoloração da pele em certas CUPIM - Houve algum fato que te sur- áreas, de causa desconhecida e, preendeu lá? embora não provoque danos à LAURA – Quando houve uma mudan- saúde, é um problema com pou- ça de direção na escola, a nova direto- cas alternativas de tratamento. ra disse que naquele ano os próprios Sendo assim, o Vitiligo é alunos escolheriam quem homenage- uma patologia de despigmentação ar. Então a professora de português da pele em que manchas brancas pediu para eu subir até a sala do ter- podem surgir em várias partes do ceiro colegial. Logo pensei “Ai meu corpo. Normalmente são bilate- Deus, aí vem problema”. Fui até a rais (simétrico), mas pode ser as- classe e o líder da classe me disse, simétrico, segmentar, “Laura, por unanimidade você foi es- circunscrito, universal, congêni- colhida para ser a homenageada do to, generalizado e ocular. Várias ano”. hipóteses foram atribuídas acerca CUPIM - Você sofreu algum preconcei- das causas da doença. to neste período? Estatísticas mostram que LAURA – Pelo contrário, eles até me cerca de 4% da população mundi- defendiam e falavam: “Olha, não mexe al é portadora de vitiligo. Surge com a Laurinha, não, hein! A Lauri- como se fosse uma resposta do or- nha é sangue bom!” (risos). ganismo às tensões emocionais, CUPIM - Os adolescentes e crianças, como grandes perdas materiais, na escola, te perguntavam o que eram brigas de família, morte de um en- as manchas no seu rosto? te querido, ou viagem dos pais pa- LAURA – As crianças, sim. Uma vez ra o exterior. percebi que duas meninas me olha- Segundo especialistas, Viti- vam, eu as chamei e elas pergunta- ligo, não pega, não mata e não ram: “O que é isso que você tem?”. Eu dói . A maioria dos pacientes com expliquei que eram manchinhas que vitiligo já foi vítima de algum tipo saíram, e se contentavam com isso. de preconceito. Especialistas no Como eu sempre estava com elas dan- setor afirmam que isso colabora do carinho e atenção... para atrasar a reação positiva do CUPIM - Como era a sua relação fami- organismo dos portadores aos me- liar? dicamentos. Discriminar um por- LAURA – Com as minhas irmãs foi as- tador de Vitiligo é uma atitude sim: como a “Laura” sofria devido ao que não se justifica, porque Vitili- vitiligo, o amparo era maior, elas fo- go não é doença, é apenas um ram trabalhar cedo, e eu fiquei como problema de pele e como tal deve a “bebezinha” da casa. Todo mundo ser encarado pela família e ami- amparava para eu não sofrer. Isso de gos. Dermatologistas atestam que certa forma influenciou na relação não há o menor risco de contágio com minhas irmãs. Tanto que hoje direto ou indireto. sinto a distância delas em relação a
  • 35.
  • 36. mim. Meus pais sempre aí que veio uma amiga, sinaram a ter força, humil- me trataram com mais me levou na delegacia do dade e a querer o bem do cuidado, mais preocupa- ensino, para escolher a próximo. ção, e elas (irmãs) se senti- escola onde tinha lugar CUPIM - Fale sobre sua en- ram como que deixadas para eu trabalhar. Ela fa- trada no Fórum de Mauá. de lado. Elas queriam que zia a unha comigo e dizia LAURA – Eu estava acostu- as tratassem igual. Meus “Laura, eu não sei por mada a trabalhar com cri- pais foram assim, aonde que você não trabalha fo- ança e adolescente, onde falavam que tinham médi- ra, você se comunica havia uma troca. Você da- co para tratar o vitiligo, bem, é uma pessoa inteli- va e recebia. No Fórum (on- eles me levavam. Iam, fala- gente”. de trabalha atualmente) vam com o médico e de- CUPIM - Fale um pouco era o inverso. Quando eu pois me levavam. dos seus pais. entrei lá, as pessoas eram CUPIM - E a relação atual LAURA – Meu pai era co- duras, como se fossem com suas irmãs, como é? nhecido como Jaú, apeli- robôs. Aquilo me chocou. LAURA – Eu gosto de coi- do do futebol. Um Na época eu fazia terapia sas clássicas, elas de pa- encanto de pessoa. Uma com um psicólogo, o Sr. gode; elas vivem de bondade que só faltava ti- Rubens. Disse a ele que novelas e eu não suporto; rar a roupa do corpo para não queria ficar no Fórum. adoro ler, elas já não gos- doar pro outro. E até hoje Ele me explicou que cada tam. Eu sou diferente. Até é uma pessoa homenagea- lugar que a gente vai temos hoje se você conversar da. Até hoje ouço das pes- uma missão, e se recusar- com elas vai ouvir “meus soas que conheceu ele “o mos essa missão, nós volta- pais só faltavam colocar a seu pai é um exemplo de mos atrás para cumprí-la. Laura dentro de uma redo- vida pra gente!”. Isso quer Tudo é uma conquista. Fi- ma de vidro para ninguém dizer tudo. Nas horas zemos um trabalho emocio- machucar, para ninguém enérgicas, no momento nal, que eu poderia ser a tocar”. Eu quero que elas certo, foi enérgico sim, Laura em qualquer lugar vejam a Laura de agora. porque era necessário, que eu fosse. Vai fazer 12 Pois quando eu saí para pra dar uma educação, anos que estou no Fórum e trabalhar, eu dei uma mu- mas sempre com bondade nunca deixei de cumpri- dança de trezentos e ses- e nisso construiu a Lau- mentar, de sorrir, de lidar senta graus. ra. Minha mãe era uma com um, com outro. O que CUPIM - E como foi esse mulher lutadora, forte. você leva, surte um efeito processo? Uma pessoa que casou nas pessoas, independente LAURA – Eu me senti co- com o homem certo. Ao do que você é. mo se tivesse uma força mesmo tempo ela ficou CUPIM - Você sentiu algum interior falando assim em casa cumprindo o pa- tipo de preconceito lá? “Agora você vai ou vai”. pel dela, ajudando aquele LAURA – Eu mudei a mi- Porque a forma que a gen- homem a enfrentar cada nha maneira de pensar. te pensa, ou a gente abre obstáculo que aparecia. Quando eu estava vendo ou fecha os caminhos. E Hoje eu estou aqui em no- eles como robô... Eu afir- como falei para mim, que me dessa força dos dois. mava “não gosto daqui, as eu era uma pessoa nor- Deixaram uma riqueza pessoas são duras, são in- mal, que precisava traba- imensa não só pra mim, sensíveis”. Enquanto eu es- lhar, os caminhos como pra todos que esta- tava tendo essa visão, a começaram a se abrir. Foi vam em sua volta. Me en- coisa não iria mudar.
  • 37. CUPIM - E você acha que Tratando da pele, não só CUPIM - E hoje, o que di- as pessoas te viam dife- do vitiligo. Não é tudo que zem os médicos? rente em relação ao as- eu posso usar. No lugar do LAURA – Sempre me de- pecto visual? claro (da pele) é muito sen- ram esperança. E uma LAURA – Como certeza, sível. Mas em em mim, coisa que sempre me for- mas não tive nenhuma não. Eu caminho, eu faço taleceu também, como eu forma de não aceitação ioga, eu não paro. já falei, é a parte espiritu- ou receio como relação CUPIM - O sol não chega a al. A parte espiritual aju- ao vitiligo. te afetar? da muito, muito, muito CUPIM - Você já sofreu al- LAURA – Não. A única coi- mesmo. Quando eu fui guma discriminação vela- sa é que fica um pouco ver- pra Uberaba foi já procu- da? melhinho. Mas arder, rando algo tanto pro vitili- LAURA – Que tenha che- machucar, coisa assim, go como pra essa coisa, gado até a mim, não. não. Eu passo o protetor de medo da morte, coisa Nunca senti que isso solar normalmente. Só. que eu já tinha superado aconteceu. CUPIM - O que dizem os um pouco por estar a al- CUPIM - Você vai fazer especialistas em relação gum tempo no kardecis- ou está fazendo algum ao tratamento? O que você mo, (muito serena) é ali tratamento? já ouviu? que eu tive a confirmação LAURA – Eu estou fazen- LAURA – Em termos de que a morte não existe... do. Tanto a parte psicoló- medicina, já ouvi de tudo, Que a vida continua. gica quanto a parte aliás, na minha adolescên- Através duma palestra do médica. cia o que levou eu ter com- Chico Xavier. CUPIM - Como é o proces- plexo foi o que ouvi de um CUPIM - Como foi este so de tratamento? médico, que falou, assim, contato? Você conversou LAURA – É lento, mas de- na lata: “Isso não tem cu- com ele diretamente? pende de como a pessoa ra, tem que saber lidar LAURA – Olha, lá eu vi lida com o problema. A com isso”. Aquilo acabou tantos casos mais difí- ênfase da coisa está no comigo. Foi aí que veio o ceis, complicados, que di- emocional. complexo mais difícil na ante de todos os CUPIM - E já sente os re- minha vida. Um profissio- problemas das outras sultados? nal tem que saber falar, sa- pessoas, eu percebi que LAURA – Com certeza. O ber orientar. O dia em que eu não tinha nada, enten- remédio em si é uma coi- ele falou isso eu chorei du- deu? E quando eu passei sa que você tem que acre- as semanas sem parar. perto dele, ele me entre- ditar naquilo que está Meus pais até se arrepen- gou uma rosa, eu peguei fazendo. Quando eu pro- deram de ter me levado ne- ia saindo. Foi quando ele curava uma dermatologis- le, coitados! Eu tinha me segurou pela mão, o ta, o que acontecia? A quinze anos. Foi duro. Chico Xavier, e falou “fica Laura ia especificamente CUPIM – Nessa idade, qual tranqüila, você vai sarar, só pelo vitiligo, esquecia era seu sonho? viu?”. Falou desse jeito. da Laura mulher, da bele- LAURA – (Fica pensativa CUPIM - E sobre as ques- za, que poderia estar fa- por alguns segundos) Aos tões do amor... zendo um tratamento. Eu quinze... A psicologia sem- LAURA – O coração não estou em busca de elimi- pre me fascinou. Essa fase escolhe quem gostar. Vo- nar o vitiligo, mas tam- eu já estava pensando em cê quer escolher, po- bém cuidar de mim. psicologia. Era meu sonho. rém...
  • 38. Certa vez eu ouvi da pes- goste de mim porque eu não tinha (mostra as soa que eu gostava que eu posso amar a pessoa, mãos). Eu acho que a gen- era maravilhosa, mas fica- mas se ela não correspon- te tem que extravasar, co- va sempre na amizade, e der, isso não serve pra locar pra fora tudo o que a eu tinha que entender is- mim. Não serve. gente está sentindo, mas so, mas também não esta- CUPIM – Tem algum ou- eu me segurei muito por va preparada para tro sonho? causa da minha irmã relacionamentos. Não ha- LAURA – Fazer uma facul- (mãe de Nicolau) e isso é via preparado isso em dade de psicologia. um erro. Acredito agora, mim. Obviamente qual- CUPIM - Há pouco tempo que Deus tem um propósi- quer tipo de relacionamen- você viveu um momento to maior por tê-lo levado. to não iria dar certo. Eu muito delicado que foi o CUPIM - Qual foi a causa achava que eu não conse- falecimento do seu sobri- do falecimento dele? guia uma relação mais for- nho de 14 anos. Como LAURA – Começou com te por causa do vitiligo, e era sua relação com ele? problema na garganta e fe- isso fazia com que eu não LAURA – Nós tivemos bre, mas acho que a infec- conseguisse ver que mi- uma ligação muito forte. ção foi tão grande que nhas amigas que não ti- Muito mais eu com ele do começou a complicar os nham vitiligo também não que ele comigo. Quando órgãos e, principalmente, conseguiam se relacionar ele era pequeno, eu fica- o rim. Chegou a fazer he- com ninguém (risos). E is- va todo o tempo cuidan- modiálise. so é uma coisa que eu ain- do dele. Nós não nos CUPIM - Como você lida da vou superar... Como parecíamos tia e sobri- com isso, hoje? eu superei no trabalho. nho, éramos como irmão- LAURA – O tempo ajuda Eu tenho certeza disso. zinhos, tanto que, muito. CUPIM - Você tem vonta- quando eu falava do Ni CUPIM – O que pode ser de de ter filhos? (Nicolau) todo mundo mais importante na vida LAURA – Claro. Eu tenho achava que fosse meu ir- de uma pessoa? vontade de ter trigêmeos mão e não meu sobrinho. LAURA – O mais importan- (risos) até vejo os três, as- A morte de Ni foi surpre- te é se gostar. É a coisa sim, deitadinhos, o cari- sa. Muito, muito dolori- principal. Se você não se nho, aquela coisa toda. da, mas muito mesmo. ama, você não vai conse- Eu tenho essa vontade... Tanto que eu voltei a fa- guir amar o outro. De ter um casamento e zer terapia. Eu não espe- CUPIM - Se vendo de fora, disso resultar em filhos. rava isso. Não esperava quem é Laura? Eu sempre tive muito for- mesmo. Eu tenho tanta LAURA – (pensa um pou- te esse lado com universo fé que achava que ele ia co, sorri) A Laura... Olha, infantil, aliás, minha famí- sair dessa. Hoje eu consi- a Laura é o Coração de lia é assim. As crianças go falar sem chorar, mas Deus. Porque o que eu gostavam muito de ir à mi- tinha vez que qualquer quero pra mim, eu quero nha casa. Meu sonho era coisa que eu lembrava de- pra você, quero pra to- casar e ter filhos... le, eu chorava. Embora dos... (muito emocionada) CUPIM - Era? eu tenha voltado a fazer principalmente para as cri- LAURA – Não, é (risos) é terapia por causa disso. anças. ф meu sonho, formar uma Eu não tinha vitiligo nes- família junto com a pes- sa parte (lado direito do Everson Bertucci soa que eu goste e que ela rosto), nas mãos também Flávio Rocha
  • 39. CUTUCANDO cuba livre Uma reflexão sobre comunismo, neoliberalismo e social-democracia Gutierres Siqueira o sanguinário Fidel. Liberalismo é a defesa intransigente da liberdade in- Q uando eu era um pré-adolescente, dividual. meu pai recebeu de presente o CD do Em nome da liberdade defen- seu primo, um cantor não profissiona- demos mercados competitivos (e lizado. O título do CD era “Cuba Li- não essa palhaçada do monopólio vre”. Lembro que então com 11 anos, o “Cuba no Brasil), livre concorrência (princí- Livre” me chamava mais atenção do que as mú- pio pouco observado em nosso sicas MPB daquele disco. Infelizmente ainda país), facilitação de ingresso comer- não contemplamos o “Cuba Livre”, mas o dita- cial e evitar ao máximo a interven- dor Fidel continua a jogar todo o seu ódio con- ção econômica do Estado, pois a tra o “maldoso” e “feroz” liberalismo mão dele sempre é pesada, burocrá- econômico. Realmente, ditadores não gostam tica e ineficiente. dos liberais. Nessa última semana, o cubano falou Neoliberalismo é o pai da crise mais uma vez sobre a crise em suas reflexões econômica mundial? [1]. Sempre que vejo uma pessoa como ele opi- Acusar o neoliberalismo de nando sobre economia, olho isso como uma pai da crise econômica mundial é grande piada. O que é a economia de Cuba? uma grande falácia, como mostra o Nada, absolutamente nada! Bem, na verdade ex-ministro da fazenda, Maílson da Fidel não opina nesse texto, simplesmente re- Nóbrega: produz as palavras de um “companheiro comu- A crise teria sido efeito da na economista”. crença cega no mercado. Ocorre A única coisa que Fidel fala, logo no fi- que não existe livre mercado no sis- nal do texto, é uma crítica à grande imprensa. tema financeiro. Na verdade, o deto- Aliás, os comunistas sempre acusam a grande nador da crise nasceu de imprensa de alguma coisa. Não é a toa que os intervenção do estado, qual seja a regimes “neo-socialistas” latinos, como de Hu- norma pela qual se financiou a casa go Chávez persigam jornalistas por meio de mi- própria para milhões de americanos lícias que estão a serviço do governo. sem condições de pagar. Analistas Por que Fidel é tão contra o liberalismo de esquerda adoram apontar a des- econômico? Ora, pois liberalismo combina com regulação. A culpa seria da revoga- democracia, liberalismo político, pouca interfe- ção do Glass-Steagall Act, no rência do Estado em nossa vida particular. Tu- governo de Bill Clinton. Essa lei, do isso Fidel, como ditador, tem pavor em dos anos 30, separava as atividades ouvir. Fidel sabe que se a ilha cubana implan- de banco comercial das de investi- tasse o regime econômico neoliberal, os habi- mento, mas ficou gagá com a sofisti- tantes dessa ilha logo clamariam por uma cação e a globalização dos abertura democrática. Isso é inadmissível para mercados. Penalizava os bancos
  • 40. americanos. [2] Portanto, ainda na era mais “re- gulamentada” do governo democrata, os Estados Unidos tomaram algumas medidas. O neoliberalismo simplesmen- te é o saco de pancadas de todos os ma- les desse mundo, incluindo a crise econômica. Social-Democracia como solução? A social-democracia ou “liberalis- mo-socialismo” falhou, na década de 70, com seu programa de “bem-estar social” (Welfare Stat), mas nos últimos anos voltou com força da Europa e es- pecialmente na Inglaterra de Tony Blair. O modelo desregulamentado dos Estados Unidos caiu na crise, isso é um fato, mas não tão profundamente como na mais “regulamentada” Europa social-democrata. Vários analistas econômicos apontam que os Estados Unidos saíram primeiro da crise do que a Europa. Promover o “bem-estar soci- al” pesa o Estado e chama a ineficiên- cia econômica- financeira. Logo, essa política deu certo em países que já ti- nham feito o dever liberal, portanto já eram ricos e pequenos em sua popula- ção, mas promoveram o desejo de aca- bar com as desigualdades e implantaram essa política meio socialis- ta, meio liberal. Conclusão Portanto, bom seria para aquela pequena ilha do Caribe implantar o li- beralismo, tanto na economia e na polí- tica. Cuba assim seria livre, assim como o título daquele CD. Notas: [1] Veja a “reflexão” de Fidel nesse site: http://www.vermelho.org.br/ba- se.asp?texto=52131 [2] NÓBREGA, Maílson da. Crise: como chegamos a este ponto? Revista Veja. Ed. 2103, ano 42, n. 10. p 106 ф
  • 41. PINTOU SUJEIRA Fernando Nowikow banheiros públicos: quem irá nos salvar? Saiba como mais de 10 milhões de pessoas dividem apenas três banheiros públicos T udo começou quando soubemos nheiros – públicos ou não - espalhados do lançamento de um tal guia pela cidade, avaliando suas condições de de banheiros que um grupo de higiene, de acessibilidade, se possuem médicos do Hospital das Clíni- ou não sinalização adequada e se dis- cas (HC) havia escrito. Lembro na época põem de materiais de higiene pessoal (sa- - início de fevereiro - que o tal guia não bonete, papel higiênico e papel para saía das páginas dos principais jornais secar as mãos e o rosto). E, sem muitas durante semanas. Lembro que eles (jor- surpresas, a avaliação do guia mostrou a nais) pautaram de tudo, desde os ba- clara e enorme defasagem destes equipa- nheiros aconselhados pelo guia até os mentos na cidade. desaconselhados. Entrevistaram quem Para termos idéia do tamanho des- tomava conta destes equipamentos e sa disparidade, imagine uma metrópole quem os depredava, além de informar as como São Paulo, onde cerca de 10 mi- dificuldades em administrá-los. Outro lhões de habitantes circulam regular- ponto importante tratado pelo manual mente pelas ruas, seja para trabalhar, foi o risco gerado pela contenção urina- estudar, passear, etc. Imagine agora, ria que pode provocar uma série de pro- que para atender todo este público, a ci- blemas às pessoas, estes, um dos dade disponibilize apenas três banheiros principais focos do guia, que a propósito públicos. Ou seja, são três banheiros pú- chama-se: ‘Banheiros em São Paulo. On- blicos para aproximadamente 10 mi- de ir,como fazer?’ lhões de pessoas. Incrível, não é mesmo? A intenção dos médicos, além de Pois esse é o tema da nossa reportagem. informar todos os problemas causados Comecemos pelo centro da cidade, pela contenção urinária, como o fato de região histórica de arquitetura imponen- termos necessidade de urinar a cada 4 te e comércio pujante, onde milhares de horas, em média, ou que cerca de 15% pessoas circulam todos os dias. Região da população adulta sofre com proble- que abriga a Praça da Sé, marco zero da mas de bexiga hiperativa - pessoas que capital, ou então a centenária Praça da não conseguem reter o líquido por muito República, que recentemente foi reforma- tempo, era também de formular um guia da pela Prefeitura de São Paulo, mas que que pudesse orientar a população dos lo- agora está completamente desfigurada cais onde haja banheiros para uso públi- pelas obras do Metrô. Só que isso não co. vem ao caso, nosso assunto são os ba- E foi dessa maneira que a equipe nheiros públicos, ou melhor, a falta de- de médicos percorreu cerca de 150 ba- les.
  • 42. Na Estação Sé do Metrô, por exem- los impostos mais caros do planeta e de- plo, onde centenas de pessoas se esbar- veriam, por isso, contar com os melho- ram diariamente seguindo para os res serviços públicos. Só que isso quatro cantos da cidade, um único ba- novamente é uma outra história. O ba- nheiro é encarregado de atender todo es- nheiro administrado pela Prefeitura, fica se mundaréu de gente, e o que é pior, ele próximo à Avenida Ipiranga. De longe, a fica na parte de fora da estação. Ou seja, casinha rústica mais parece um cenário caso esteja em apuros fisiológicos e não de desenho animado, só que de perto... consiga esperar nem mais um instante, Bem, de perto, além da falta de sinaliza- terá de ultrapassar a catraca – sair do ção e do risco iminente de ser assaltado Metrô - para utilizar o bendito banheiro, com a ‘boca na botija’, o banheiro é pe- que, aliás, de bendito não tem nada. queno e só tem um mictório e uma pia, Além de pequeno, com um mictório cole- as outras duas portas estavam tranca- tivo e apenas quatro cabines com vasos das, pois as privadas estavam entupidas sanitários, o banheiro não tem papel hi- há duas semanas, segundo alguns usuá- giênico e trinco nas portas das cabines, rios. Não há sabonete e nem papel. O isso sem falar no forte odor que é senti- chão, todo empoçado com água suja e do de longe. No mais, o banheiro da Sé, mal cheirosa inibe a permanência de possui pias com sabonete e papel para qualquer um no local. Portanto, se esti- secar as mãos. Tem sinalização cor- ver passando por lá e precisar usar o ba- reta e acessibilidade para deficientes físi- nheiro público da Praça da República cos, com rampas e corrimão, além de não se engane. um banheiro exclusivo. No entanto, sen- Além do banheiro da República, do público e estando em uma área onde os outros dois banheiros realmente pú- ficam muitos moradores de rua, é co- blicos da cidade são: o da rua Brigadeiro mum esbarrar com o “pessoal” tomando Galvão Bueno, no bairro da Liberdade, banho nas torneiras. que segundo o guia do HC, apresenta bo- Já na Praça da República fica um as condições de uso, e o banheiro do Va- dos três banheiros realmente públicos le do Anhangabaú, este que que a cidade disponibiliza para seus mo- disponibilizaremos os próximos parágra- radores, que afinal de contas pagam pe- fos para descrever sua enorme varieda-
  • 43.
  • 44. de de ‘coisas’. do alguma moeda, “para com- Vale do Anhangabaú: local histórico e prar um lanche”, dizem eles. Ou- privilegiado com uma vista fantástica de São tras formas de vida que habitam Paulo. Ali, por debaixo de sua monumental ar- o local são os ‘animais urbaniza- quitetura corre o rio Anhangabaú, canalizado dos’ (ratos, baratas e pombos). no final da década de 1940. No vale também es- Além deste seleto grupo, outra tão prédios como o da Prefeitura de São Paulo, espécie encontrada por ali são o da Central dos Correios, e outros tantos arra- repórteres à procura de mais nha-céus de fazer inveja a qualquer grande me- uma manchete. O caso, no en- trópole do planeta. E, é lá também que está o tanto, já não se trata mais de nosso terceiro banheiro realmente público da uma manchete e sim de uma cidade. profunda análise sociológica pa- Reformado três vezes nos últimos dois ra fins científicos. anos com custo estimado de R$ 120 mil por re- forma, totalizando cerca de R$ 360 mil. Admi- A mais paulista de todas as nistrado nos últimos anos pela Subprefeitura avenidas também sofre com a Sé, depois pela Secretaria Municipal de Assis- falta de banheiros públicos tência e Desenvolvimento Social e agora devol- Cartão postal da cidade e vido novamente para a tutela da Subprefeitura um dos centros comerciais de Sé. Senhoras e Senhores apresentamos: o ba- maior envergadura do país, a nheiro público do Vale do Anhangabaú. Avenida Paulista tem apenas Imagine um lugar sujo, muito sujo mes- um banheiro de uso público. mo. Agora multiplique essa sujeira por cem, ou Imagine, são 2,67 quilômetros melhor, por mil. Imaginou? Muito bem, assim é de extensão, por onde circulam o banheiro público do Vale do Anhangabaú, diariamente aproximadamente um verdadeiro lixão a céu aberto. É lixo espa- cerca de dois milhões de pesso- lhado por todos os lados. Tem lixo misturado as tendo que dividir apenas um com fezes, entulho misturado com urina, gra- banheiro público. O jeito é ape- des arrombadas, vidros e luminárias quebra- lar para os banheiros privados, das, paredes pichadas, enfim... uma verdadeira que segundo o guia do HC, nem catástrofe ambiental urbana no local onde de- sempre estão disponíveis para o veria funcionar um banheiro público para a po- público. Ou seja, na hora do pulação. aperto é bom contar com a sorte É tanto lixo e tanto cocô que as paredes e com o bom humor dos lojistas recém cobertas por azulejos novinhos já estão da região. todas ‘grafitadas de merda’. Localizado bem A pesquisa feita pelos mé- abaixo do prédio central dos Correios, o local dicos do HC mostra também que lembra o fim dos tempos, o Apocalipse. Tudo apesar da dificuldade em encon- está quebrado ou foi furtado: grades, pias, vi- trar alguma privada, muitos lo- dros e luminárias. As privadas sumiram possi- jistas da avenida, no entanto, velmente levadas por alguém que precisou disponibilizaram seus sanitários muito delas. para o uso público. Aliás, muito Abandonado pelo poder público e pela bem avaliados pelo guia, com si- população, hoje, o banheiro do Vale do Anhan- nalização adequada e kit de lim- gabaú atrai somente mendigos (os mais corajo- peza completo. E foi logo em sos), usuários de drogas, e alguns cidadãos de uma farmácia, que teoricamente aparência ameaçadora que ficam por ali pedin- deveria preocupar-se com a saú-
  • 45. Conclusão Antes de sair de casa tente lembrar de usar o ba- nheiro. Mais do que atender às necessidades físicas das pessoas, os banheiros públicos deveriam servir de orgu- lho para a cidade. Uma cidade que respeita seus mora- dores deve obrigatoriamente atender suas principais necessidades e não suprimi-las transferindo responsa- bilidades. Por outro lado, todo povo tem aquilo que mere- ce, e como aqui, o que é público nunca é de ninguém, continuaremos colhendo nossos próprios frutos, mes- mo que muitas vezes, amargos. Dicas Cupim - Câmara Municipal de São Paulo (aproveite para to- mar um café e saber como anda o seu vereador); - Prefeitura de São Paulo (segundo o guia do HC, é um de, que o pedido para usar dos melhores banheiros públicos da cidade); o banheiro foi negado, ale- - Subprefeituras (são 31 subprefeituras espalhadas pe- gando ser de uso exclusivo los quatro cantos da cidade. Basta pedir licença); para os funcionários da lo- - Praça Fernando Costa (a R$ 0,65 é uma boa opção pa- ja. Portanto, uma dica: em ra quem está na região da rua 25 de Março); casos de emergência, não - Estação Ana Rosa do Metrô (é limpo e fica aberto até recorra às farmácias. às 22h, o problema são os garotos de programa ofere- A opção pública fica cendo serviços); por conta dos banheiros do - Bourbon Shopping (um dos toaletes mais luxuosos da Parque Trianon, que apesar cidade. Aproveite também para fazer massagem rela- da falta de sinalização exter- xante enquanto engraxam seus sapatos). ф na (na entrada do Parque), apresenta ótimas condições de uso. O banheiro que é mantido pela Prefeitura, tem pias, privadas e mictó- rio em perfeitas condições de uso. Funciona das 7h às 18h, e sempre tem um fun- cionário do parque cuidan- do da limpeza do local. O diferencial neste caso, além da agradável trilha que leva até os banheiros, é a sua ar- quitetura nostálgica manti- da em perfeitas condições. Este sim, dá para relaxar e gozar.