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Ficha Informativa                             de LC e CLC


No âmbito das sessões de desocultação dos Referenciais de Competências-Chave
de L.C. e C.L.C. do processo R.V.C.C., a formadora Lígia Martins apresenta
alguns excertos de livros, de modo a sensibilizar os formandos para a leitura.




    Sugestões
    de leituras                                               Livros…


                                                                                 Lígia Martins




                 “Ler é a arte de desatar nós cegos”
                                                                        Goethe




                                  “Não era um cão como os outros. Já o meu pai o dizia,
                               quando caçávamos às codornizes nos campos de Águeda.
                                  - Este cão é um grande sacana, caça um bocado e depois põe-
                               se a fazer a parte, olha para ele, está-se nas tintas para as
                               codornizes e para nós.
    “Cão como nós”                Era uma das suas características, fazer ouvidos moucos,
                               aparentar indiferença, fosse por espírito de independência fosse
                               porque gostava de armar à originalidade.
         Manuel Alegre            (…)
                                  - Este cão tem um problema, disse por fim o meu pai, está
                               convencido de que não é cão.”




                                                   Co-Financiado por:
O Gato Nacional
                                             “No mesmo muro onde começa esta crónica, o mesmo gato
                                         me distraiu. Agora já não perseguia comida. Seu andar meticuloso
        “Cronicando”                     tapeteava o telhado à procura de gatas ciosas, ociosas, ansiosas.”


             Mia Couto




                                                “Faustino só tirava o dedo do botão quando o elevador
                                            aparecia.
                                                – Como é? Porco no elevador?
                                                – Porco não. Leitão, camarada Faustino.
                                                – Dá no mesmo em matéria de interpretação de leis.
       “Quem me dera                            – Quais leis?
            ser onda”                           – O problema é o que a gente combinou na assembleia de
                                            moradores e o camarada estava presente. Votação por
            Manuel Rui                      unanimidade. Aqui no elevador só pessoas. E coisas só no
                                            monta-cargas.
                                                – Mas leitão é coisa?
    – Nada disso. Bichos ficou combinado cão, gato ou passarinho. Agora se for galinha morta depenada,
leitão ou cabrito já morto limpo e embrulhado, passa como carne, também está previsto. Leitão assim vivo
é que não tem direito, camarada Diogo, cai na alçada da lei. (…)
    O porco farejava e abanava as orelhas, como a interrogar a razão do seu novo estatuto.
    – Temos de lhe pôr um nome – disse Zeca, eufórico.
    – Pode ficar Carnaval, filho!
    – Acho bem, Ruca. Pode ficar Carnaval. E no Carnaval a gente mata e come. Com fiscal ou sem fiscal. O
porco é nosso.
    Na cara de Liloca a alegria de ver pai e filhos contentes na igual ideia, ainda riqueza de um leitão mais
tarde um porco de tanta coisa, torresmos, banha carne, costeletas, ossos para salgar.”



                                           “O corpo do Papalagui *o homem branco]está, da cabeça aos
                                        pés, coberto de tecidos, pelos e panos tão cingidos e grossos que
                                        jamais olhar humano ou raio de sol poderá atravessá-los. O
                                        Papalagui veste-se na maior parte das vezes com três partes: uma
                                        que cobre a parte superior do corpo, a outra a parte média, e a
       “O Papalagui”                    terceira as nádegas e as pernas (...) Este pano é geralmente
                                        cinzento, como a lagoa durante a estação das chuvas; não deve
                                        ser de cor viva, exceto a parte média do pano dos homens que
               Tuiavii                  gostam de dar que falar, dos que muito cortejam as mulheres (…).
                                           Por fim, cobre-se os pés com uma pele macia, e depois com
uma pele muito dura (...) Esta é tirada da pele de um animal robusto. (...) O Papalagui confeciona uma
espécie de canoa de bordos levantados, e suficientemente grande para que lá caiba um pé. Faz uma para o
pé esquerdo e outra para o pé direito. Prendem-se e atam-se estas canoas para os pés com cordas e
ganchos, de modo a que os pé repousem num estojo rígido. Como isto é contra a natureza, como isto dá
cabo dos pés e os faz cheirar mal, e como, de facto, a maior parte dos europeus não é capaz de suster-se
nem de trepar uma palmeira, o Papalagui tenta disfarçar a sua loucura, cobrindo a pele, já de si vermelha,
desse animal, com uma grande porção de lama e esfregando-a durante muito tempo até fazê-la brilhar.”


                                                                Co-Financiado por:
“Existe uma espécie de alquimia na transformação do
                                          chocolate em bruto neste ouro de um louco sábio, a magia de
                                          um leigo que até a minha mãe poderia apreciar. Ao trabalhar,
                                          limpo a mente, respirando fundo. (…) Os aromas cruzados de
                                          chocolate, baunilha, cobre aquecido e canela são intoxicantes,
          “Chocolate”                     poderosamente sugestivos, os aromas brutos e telúricos das
                                          Américas, o perfume quente e resinoso da floresta tropical. Os
                                          aromas cruzados de chocolate, baunilha, cobre aquecido e
              Joanne Harris
                                          canela são intoxicantes, poderosamente sugestivos, os aromas
brutos e telúricos das Américas, o perfume quente e resinoso da floresta tropical. Eis como agora viajo,
como os aztecas nos seus rituais sagrados: México, Venezuela, Colômbia. A corte de Montezuma. Cortez e
Colombo. O Manjar dos Deuses, borbulhando e espumando em taças cerimoniais. O amargo elixir da vida.
(…)
  Vou pegar na primeira coisa que me chegar às mãos. Não me posso perder nesta distração. Um único
chocolate – não roubo, propriamente, mas algo de salvados; será o único entre os pares a sobreviver ao
naufrágio. A minha mão demora-se, contra a sua própria vontade, pairando como uma libelinha sobre um
ninho de guloseimas (…) Os nomes são arrebatadores. Biscoitos de laranja amarga. Rolo de alperce e
maçapão. Cerisette russe. Trufa branca de rum.
  Este é completamente diferente: a resistência breve da concha de chocolate contra os lábios, a trufa
cremosa no interior… Há camadas de sabor como o bouquet de um bom vinho, uma ligeira amargura, a
riqueza encorpada do café moído, o calor que dá vida ao aroma e me enche as narinas. (…) Pego noutro,
dizendo-me que não importa. Tão pouco tempo e tantas coisas ainda a provar… (…)
  Escolho um bombom escuro de um tabuleiro intitulado Viagem oriental. Gengibre cristalizado envolto
numa concha de açúcar dura, dissolvendo-se na boca num licor lembrando um concentrado do de
especiarias, um sopro de ar aromatizado onde sândalo e canela e tília concorrem com cedro e pimenta da
Jamaica… Pego num outro tabuleiro intitulado Pêche au miel millefleurs. (…) Consulto o relógio. Ainda há
tempo.”




                                               “Desconfiado, provou o caldo que era de galinha e rescendia.
                                           Provou — e levantou para mim, seu camarada de miséria, uns
                                           olhos que brilhavam, surpreendidos. Tornou a sorver uma
                                           colherada mais cheia, mais considerada. E sorriu, com espanto:
                                           — “Está bom!" Estava precioso: tinha fígado e tinha moela: o seu
   “A Cidade e as Serras”                  perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele
                                           caldo.
                                               E já espreitava a porta, esperando a portadora dos pitéus, a
          Eça de Queirós                   rija moça de peitos trementes, que enfim surgiu, mais
                                           esbraseada, abalando o sobrado - e pousou sobre a mesa uma
                                           travessa a transbordar de arroz com favas. Que desconsolo!
Jacinto, em Paris, sempre abominara favas!...Tentou todavia uma garfada tímida - e de novo aqueles seus
olhos, que o pessimismo enevoara, luziram, procurando os meus. Outra larga garfada, concentrada, com
uma lentidão de frade que se regala. Depois um brado:
   - Ótimo!...Ah, destas favas, sim! Oh que fava! Que delícia!
   E por esta santa gula louvava a serra, a arte perfeita das mulheres palreiras que em baixo remexiam as
panelas, o Melchior que presidia ao bródio...
   - Deste arroz com fava nem em Paris, Melchior amigo! (…)
   O homem ótimo sorria, inteiramente desanuviado:
   - Pois é cá a comidinha dos moços da quinta! E cada pratada, que até suas Incelências se riam… Mas
agora, aqui, o Sr. Jacinto também vai engordar e enrijar!”




                                                               Co-Financiado por:
“No fundo do mar, entre os cinco e os dez metros de
                                           profundidade, vive o peixe-papagaio. Há anos que sigo o seu
                                           rastro, através dos livros e das séries da televisão. Mas faltava-
                                           me este encontro pessoal, que acontece ao largo da ilha de
                                           Pigeon (…). É a versão tropical da United Colours of Benetton –
           “Sul - Viagens”                 verde, azul, encarnado, amarelo, numa geometria tão precisa
                                           que é difícil acreditar que não foram pintados à mão. (…) Não há
                                           fotografias, nem filmes, nem descrições que possam contar o
       Miguel Sousa Tavares                que é o fundo do mar das Antilhas. Não há palavras. Há apenas
                                           uma memória de cores e de movimentos, uma recordação de
                                           azul intenso, cortado por amarelos e vermelhos, submersa num
silêncio irreproduzível e uma alegria de criança extasiada, no interior de um sonho. Nós não somos deste
mundo. Olhamos, apenas, e seguimos.”



                                        “- O que se passa é que descobrimos que o clima é muito mais
                                      volátil do que antes se pensava. Pequeníssimas mudanças suscitam
                                      alterações        desproporcionadas   no     equilíbrio    global.
                                      - Uma espécie de efeito borboleta.
                                        - Isso. E ninguém vai escapar. (…)
    “O Sétimo Selo”                     Filipe suspirou e olhou para o amigo, ganhando balanço para
                                      entrar na questão que verdadeiramente o aterrorizava.
                                      - Sabes o que é uma extinção em massa?
 José Rodrigues dos Santos              - Vê-se mesmo que não conheces os interesses que estão em jogo.
                                        - Estás a falar de quê?
 - Estou a falar do maior negócio do mundo. O petróleo.
 - O que tem ele?
 - O que achas que aconteceria quando as fabulosas fortunas e o imenso poder que são alimentados pelo
petróleo descobrissem que havia uns palermas a fazer um trabalho que poderia pôr em causa a fonte
dessas fortunas e desse seu poder.”



                                             “Havia muita gente na rua naquele dia. Eu caminhava no
                                         passeio, depressa. A certa altura encontrei-me atrás de um
                                         homem muito pobremente vestido que levava ao colo uma
                                         criança loira, uma daquelas crianças cuja beleza quase não se
                                         pode descrever. É a beleza de uma madrugada de verão, a beleza
            “Contos                      de uma rosa, a beleza do orvalho, unidas à incrível beleza de uma
         Exemplares”                     inocência humana. Instintivamente o meu olhar ficou um
                                         momento preso na cara da criança. Mas o homem caminhava
                                         muito devagar. (…)
Sophia de Mello Breyner Andresen
                                             Foi então que vi o homem. Imediatamente parei. Era um
                                         homem extraordinariamente belo, que devia ter trinta anos e em
cujo rosto estavam inscritos a miséria, o abandono, a solidão. (…) Estreitamente esculpida pela pobreza, a
cara mostrava o belo desenho dos ossos. Mas mais belos do que tudo eram os olhos, os olhos claros,
luminosos de solidão e de doçura. No próprio instante em que eu o vi, o homem levantou a cabeça para o
céu.
   Como contar o seu gesto?
   Era um céu alto, sem resposta, cor de frio. A sua cara escorria sofrimento. A sua expressão era
simultaneamente resignação, espanto e pergunta. Caminhava lentamente, muito lentamente.”




                                                                Co-Financiado por:
“Sou publicitário: pois sim, poluo o universo. (...) Quando, à
                                        força de economias, conseguem comprar o carro dos vossos
                                        sonhos, aquele que eu visei na minha última campanha, já o pus
                                        fora de moda. Tenho três modas de avanço e consigo sempre
                                        frustrar-vos. O Glamour é a terra aonde nunca se chega. Eu drogo-
            “€14,99
                                        vos com a novidade, e a vantagem da novidade é que nunca se
   A Outra Face da Moeda”               mantém nova. Há sempre uma nova novidade para fazer
                                        envelhecer a precedente. Pôr-vos a babar, eis o meu sacerdócio.
      Frédéric Beigbeder                  Na minha profissão, ninguém deseja a vossa felicidade, porque
                                        as pessoas felizes não consomem. (…)
                                          Vocês não me escapam. A minha publicidade reina onde quer
que vocês pousem os olhos. Proíbo-vos de se maçarem. Impeço-vos de pensarem. O terrorismo da
novidade serve-me para vender o vazio. (…) Eu decreto o que é Verdadeiro, o que é Belo, o que é Bom.”


                                              O menino no sapatinho
                                                 “Era uma vez o menino pequenito, tão minimozito que
                                             todos seus dedos eram mindinhos. Dito assim, fino modo, ele,
          “Na Berma de                       quando nasceu, nem foi dado à luz mas a uma simples fresta de
                                             claridade.
      Nenhuma Estrada”                           De tão miserenta, a mãe se alegrou com o destamanho do
                                             rebento – assim pediria apenas os menores alimentos. (…)
             Mia Couto                           Ao menino nem se lhe ouvia o choro. Sabia-se de sua
                                             tristeza pelas lágrimas. Mas estas, de tão leves, nem lhe
                                             desciam pelo rosto. As lagriminhas subiam pelo ar e vogavam
suspensas. Depois, se fixavam no teto e ali se grutavam, missangas tremeluzentes.”



                                           “E os três padres então foram até à porta da cozinha. As
                                        senhoras lá estavam, em pé diante da lareira, batidas da luz
                                        violenta da fogueira que fazia destacar estranhamente as mantas
                                        de agasalho de que já se tinham coberto. A Ruça, de joelhos,
             “O Crime                   soprava esfalfada. Tinham cortado com o facão a encadernação do
                                        Panorama; e as folhas retorcidas e negras, com um faiscar de
      do Padre Amaro”                   fagulhas, voavam pela chaminé nas línguas de fogo claro.
                                           - Bufa-lhe, rapariga, bufa-lhe, aconselhava da porta o cónego
          Eça de Queirós                muito divertido. (…)
                                           Então, confiadas na ciência do senhor cónego, a Gansoso e D.
                                        Maria da Assunção, acocoradas, bufaram também. As outras
olhavam, num sorriso mudo, o olho brilhante e cruel, no gozo daquela exterminação grata a Nosso Senhor.
O fogo estalava, pulando com uma força galharda, na glória da sua antiga função de purificador dos
pecados. - E por fim sobre as achas em brasa, nada restou do Panorama (…).”


                                             “Fez um esforço. Embora ardesse numa chama de fúria,
                                         tentou refrear os nervos e medir com a calma possível a situação.
                                         Estava, pois, encurralado, impedido de dar um passo, à espera de
                                         que lhe chegasse a vez! Um ser livre e natural, um toiro nado e
             “Bichos”                    criado na lezíria ribatejana, de gaiola como um passarinho,
                                         condenado a divertir a multidão!
                                             Irreprimível, uma onda de calor tapou-lhe o entendimento,
                                         por um segundo. (…)”
             Miguel Torga

                                                              Co-Financiado por:
O diretor disse que nos via partir com muita emoção e que tinha a
                                      certeza de que nós partilhávamos a mesma emoção e que nos
                                      desejava umas boas férias, porque quando as aulas recomeçassem
                                      acabava-se a brincadeira e era preciso estudar muito, e assim
     “As brincadeiras do
                                      terminou a distribuição dos prémios.
        menino Nicolau”                  Foi uma distribuição de prémios muito engraçada. (…)
                                         Os meus amigos e eu falámos de coisas fabulosas que íamos fazer
         Sempé - Goscinny             nas férias mas ficou tudo estragado quando o Clotário disse que ia
                                      salvar pessoas que se estivessem a afogar, como tinha feito no ano
passado. Eu disse-lhe que ele era um mentiroso porque eu tinha visto o Clotário na piscina: ele não sabe
nadar, por isso não pode salvar ninguém. Então o Clotário deu-me com o livro, que tinha recebido como
prémio de camaradagem, na cabeça. O que fez Rufus começar a rir; então, eu dei-lhe uma bofetada e ele
começou a chorar e dar pontapés ao Eudes. Começámos a empurrarmo-nos uns aos outros, divertíamo-nos
imenso, mas os pais e as mães vieram a correr, agarraram nas nossas mãos e disseram que éramos
incorrigíveis e que era uma vergonha.




            “O espírito que não lê emagrece como um corpo que não come.”
                                                                                        Victor Hugo




RAP – Quem são os seus [autores influentes para si]?
ALA – A mim, o que me deu vontade de escrever foram o Almanaque Bertrand,
      o Pato Donald, o Mandrake… Foi por causa disso que eu comecei a
      escrever *…+ O que eu devo às Selecções do Reader’s Digest que havia em
      casa dos meus avós.

                    Entrevista de Ricardo Araújo Pereira (RAP) a António Lobo Antunes (ALA), in Visão – 28/10/2010




                 Lígia Martins

                                                                  Lígia Martins
            ligiamartins.cno@gmail.com




        Plano Nacional de Leitura                          ligiamartins.cno@gmail.com
    www.planonacionaldeleitura.gov.pt




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Excertos de sugestões de livros lígia martins

  • 1. Ficha Informativa de LC e CLC No âmbito das sessões de desocultação dos Referenciais de Competências-Chave de L.C. e C.L.C. do processo R.V.C.C., a formadora Lígia Martins apresenta alguns excertos de livros, de modo a sensibilizar os formandos para a leitura. Sugestões de leituras Livros… Lígia Martins “Ler é a arte de desatar nós cegos” Goethe “Não era um cão como os outros. Já o meu pai o dizia, quando caçávamos às codornizes nos campos de Águeda. - Este cão é um grande sacana, caça um bocado e depois põe- se a fazer a parte, olha para ele, está-se nas tintas para as codornizes e para nós. “Cão como nós” Era uma das suas características, fazer ouvidos moucos, aparentar indiferença, fosse por espírito de independência fosse porque gostava de armar à originalidade. Manuel Alegre (…) - Este cão tem um problema, disse por fim o meu pai, está convencido de que não é cão.” Co-Financiado por:
  • 2. O Gato Nacional “No mesmo muro onde começa esta crónica, o mesmo gato me distraiu. Agora já não perseguia comida. Seu andar meticuloso “Cronicando” tapeteava o telhado à procura de gatas ciosas, ociosas, ansiosas.” Mia Couto “Faustino só tirava o dedo do botão quando o elevador aparecia. – Como é? Porco no elevador? – Porco não. Leitão, camarada Faustino. – Dá no mesmo em matéria de interpretação de leis. “Quem me dera – Quais leis? ser onda” – O problema é o que a gente combinou na assembleia de moradores e o camarada estava presente. Votação por Manuel Rui unanimidade. Aqui no elevador só pessoas. E coisas só no monta-cargas. – Mas leitão é coisa? – Nada disso. Bichos ficou combinado cão, gato ou passarinho. Agora se for galinha morta depenada, leitão ou cabrito já morto limpo e embrulhado, passa como carne, também está previsto. Leitão assim vivo é que não tem direito, camarada Diogo, cai na alçada da lei. (…) O porco farejava e abanava as orelhas, como a interrogar a razão do seu novo estatuto. – Temos de lhe pôr um nome – disse Zeca, eufórico. – Pode ficar Carnaval, filho! – Acho bem, Ruca. Pode ficar Carnaval. E no Carnaval a gente mata e come. Com fiscal ou sem fiscal. O porco é nosso. Na cara de Liloca a alegria de ver pai e filhos contentes na igual ideia, ainda riqueza de um leitão mais tarde um porco de tanta coisa, torresmos, banha carne, costeletas, ossos para salgar.” “O corpo do Papalagui *o homem branco]está, da cabeça aos pés, coberto de tecidos, pelos e panos tão cingidos e grossos que jamais olhar humano ou raio de sol poderá atravessá-los. O Papalagui veste-se na maior parte das vezes com três partes: uma que cobre a parte superior do corpo, a outra a parte média, e a “O Papalagui” terceira as nádegas e as pernas (...) Este pano é geralmente cinzento, como a lagoa durante a estação das chuvas; não deve ser de cor viva, exceto a parte média do pano dos homens que Tuiavii gostam de dar que falar, dos que muito cortejam as mulheres (…). Por fim, cobre-se os pés com uma pele macia, e depois com uma pele muito dura (...) Esta é tirada da pele de um animal robusto. (...) O Papalagui confeciona uma espécie de canoa de bordos levantados, e suficientemente grande para que lá caiba um pé. Faz uma para o pé esquerdo e outra para o pé direito. Prendem-se e atam-se estas canoas para os pés com cordas e ganchos, de modo a que os pé repousem num estojo rígido. Como isto é contra a natureza, como isto dá cabo dos pés e os faz cheirar mal, e como, de facto, a maior parte dos europeus não é capaz de suster-se nem de trepar uma palmeira, o Papalagui tenta disfarçar a sua loucura, cobrindo a pele, já de si vermelha, desse animal, com uma grande porção de lama e esfregando-a durante muito tempo até fazê-la brilhar.” Co-Financiado por:
  • 3. “Existe uma espécie de alquimia na transformação do chocolate em bruto neste ouro de um louco sábio, a magia de um leigo que até a minha mãe poderia apreciar. Ao trabalhar, limpo a mente, respirando fundo. (…) Os aromas cruzados de chocolate, baunilha, cobre aquecido e canela são intoxicantes, “Chocolate” poderosamente sugestivos, os aromas brutos e telúricos das Américas, o perfume quente e resinoso da floresta tropical. Os aromas cruzados de chocolate, baunilha, cobre aquecido e Joanne Harris canela são intoxicantes, poderosamente sugestivos, os aromas brutos e telúricos das Américas, o perfume quente e resinoso da floresta tropical. Eis como agora viajo, como os aztecas nos seus rituais sagrados: México, Venezuela, Colômbia. A corte de Montezuma. Cortez e Colombo. O Manjar dos Deuses, borbulhando e espumando em taças cerimoniais. O amargo elixir da vida. (…) Vou pegar na primeira coisa que me chegar às mãos. Não me posso perder nesta distração. Um único chocolate – não roubo, propriamente, mas algo de salvados; será o único entre os pares a sobreviver ao naufrágio. A minha mão demora-se, contra a sua própria vontade, pairando como uma libelinha sobre um ninho de guloseimas (…) Os nomes são arrebatadores. Biscoitos de laranja amarga. Rolo de alperce e maçapão. Cerisette russe. Trufa branca de rum. Este é completamente diferente: a resistência breve da concha de chocolate contra os lábios, a trufa cremosa no interior… Há camadas de sabor como o bouquet de um bom vinho, uma ligeira amargura, a riqueza encorpada do café moído, o calor que dá vida ao aroma e me enche as narinas. (…) Pego noutro, dizendo-me que não importa. Tão pouco tempo e tantas coisas ainda a provar… (…) Escolho um bombom escuro de um tabuleiro intitulado Viagem oriental. Gengibre cristalizado envolto numa concha de açúcar dura, dissolvendo-se na boca num licor lembrando um concentrado do de especiarias, um sopro de ar aromatizado onde sândalo e canela e tília concorrem com cedro e pimenta da Jamaica… Pego num outro tabuleiro intitulado Pêche au miel millefleurs. (…) Consulto o relógio. Ainda há tempo.” “Desconfiado, provou o caldo que era de galinha e rescendia. Provou — e levantou para mim, seu camarada de miséria, uns olhos que brilhavam, surpreendidos. Tornou a sorver uma colherada mais cheia, mais considerada. E sorriu, com espanto: — “Está bom!" Estava precioso: tinha fígado e tinha moela: o seu “A Cidade e as Serras” perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele caldo. E já espreitava a porta, esperando a portadora dos pitéus, a Eça de Queirós rija moça de peitos trementes, que enfim surgiu, mais esbraseada, abalando o sobrado - e pousou sobre a mesa uma travessa a transbordar de arroz com favas. Que desconsolo! Jacinto, em Paris, sempre abominara favas!...Tentou todavia uma garfada tímida - e de novo aqueles seus olhos, que o pessimismo enevoara, luziram, procurando os meus. Outra larga garfada, concentrada, com uma lentidão de frade que se regala. Depois um brado: - Ótimo!...Ah, destas favas, sim! Oh que fava! Que delícia! E por esta santa gula louvava a serra, a arte perfeita das mulheres palreiras que em baixo remexiam as panelas, o Melchior que presidia ao bródio... - Deste arroz com fava nem em Paris, Melchior amigo! (…) O homem ótimo sorria, inteiramente desanuviado: - Pois é cá a comidinha dos moços da quinta! E cada pratada, que até suas Incelências se riam… Mas agora, aqui, o Sr. Jacinto também vai engordar e enrijar!” Co-Financiado por:
  • 4. “No fundo do mar, entre os cinco e os dez metros de profundidade, vive o peixe-papagaio. Há anos que sigo o seu rastro, através dos livros e das séries da televisão. Mas faltava- me este encontro pessoal, que acontece ao largo da ilha de Pigeon (…). É a versão tropical da United Colours of Benetton – “Sul - Viagens” verde, azul, encarnado, amarelo, numa geometria tão precisa que é difícil acreditar que não foram pintados à mão. (…) Não há fotografias, nem filmes, nem descrições que possam contar o Miguel Sousa Tavares que é o fundo do mar das Antilhas. Não há palavras. Há apenas uma memória de cores e de movimentos, uma recordação de azul intenso, cortado por amarelos e vermelhos, submersa num silêncio irreproduzível e uma alegria de criança extasiada, no interior de um sonho. Nós não somos deste mundo. Olhamos, apenas, e seguimos.” “- O que se passa é que descobrimos que o clima é muito mais volátil do que antes se pensava. Pequeníssimas mudanças suscitam alterações desproporcionadas no equilíbrio global. - Uma espécie de efeito borboleta. - Isso. E ninguém vai escapar. (…) “O Sétimo Selo” Filipe suspirou e olhou para o amigo, ganhando balanço para entrar na questão que verdadeiramente o aterrorizava. - Sabes o que é uma extinção em massa? José Rodrigues dos Santos - Vê-se mesmo que não conheces os interesses que estão em jogo. - Estás a falar de quê? - Estou a falar do maior negócio do mundo. O petróleo. - O que tem ele? - O que achas que aconteceria quando as fabulosas fortunas e o imenso poder que são alimentados pelo petróleo descobrissem que havia uns palermas a fazer um trabalho que poderia pôr em causa a fonte dessas fortunas e desse seu poder.” “Havia muita gente na rua naquele dia. Eu caminhava no passeio, depressa. A certa altura encontrei-me atrás de um homem muito pobremente vestido que levava ao colo uma criança loira, uma daquelas crianças cuja beleza quase não se pode descrever. É a beleza de uma madrugada de verão, a beleza “Contos de uma rosa, a beleza do orvalho, unidas à incrível beleza de uma Exemplares” inocência humana. Instintivamente o meu olhar ficou um momento preso na cara da criança. Mas o homem caminhava muito devagar. (…) Sophia de Mello Breyner Andresen Foi então que vi o homem. Imediatamente parei. Era um homem extraordinariamente belo, que devia ter trinta anos e em cujo rosto estavam inscritos a miséria, o abandono, a solidão. (…) Estreitamente esculpida pela pobreza, a cara mostrava o belo desenho dos ossos. Mas mais belos do que tudo eram os olhos, os olhos claros, luminosos de solidão e de doçura. No próprio instante em que eu o vi, o homem levantou a cabeça para o céu. Como contar o seu gesto? Era um céu alto, sem resposta, cor de frio. A sua cara escorria sofrimento. A sua expressão era simultaneamente resignação, espanto e pergunta. Caminhava lentamente, muito lentamente.” Co-Financiado por:
  • 5. “Sou publicitário: pois sim, poluo o universo. (...) Quando, à força de economias, conseguem comprar o carro dos vossos sonhos, aquele que eu visei na minha última campanha, já o pus fora de moda. Tenho três modas de avanço e consigo sempre frustrar-vos. O Glamour é a terra aonde nunca se chega. Eu drogo- “€14,99 vos com a novidade, e a vantagem da novidade é que nunca se A Outra Face da Moeda” mantém nova. Há sempre uma nova novidade para fazer envelhecer a precedente. Pôr-vos a babar, eis o meu sacerdócio. Frédéric Beigbeder Na minha profissão, ninguém deseja a vossa felicidade, porque as pessoas felizes não consomem. (…) Vocês não me escapam. A minha publicidade reina onde quer que vocês pousem os olhos. Proíbo-vos de se maçarem. Impeço-vos de pensarem. O terrorismo da novidade serve-me para vender o vazio. (…) Eu decreto o que é Verdadeiro, o que é Belo, o que é Bom.” O menino no sapatinho “Era uma vez o menino pequenito, tão minimozito que todos seus dedos eram mindinhos. Dito assim, fino modo, ele, “Na Berma de quando nasceu, nem foi dado à luz mas a uma simples fresta de claridade. Nenhuma Estrada” De tão miserenta, a mãe se alegrou com o destamanho do rebento – assim pediria apenas os menores alimentos. (…) Mia Couto Ao menino nem se lhe ouvia o choro. Sabia-se de sua tristeza pelas lágrimas. Mas estas, de tão leves, nem lhe desciam pelo rosto. As lagriminhas subiam pelo ar e vogavam suspensas. Depois, se fixavam no teto e ali se grutavam, missangas tremeluzentes.” “E os três padres então foram até à porta da cozinha. As senhoras lá estavam, em pé diante da lareira, batidas da luz violenta da fogueira que fazia destacar estranhamente as mantas de agasalho de que já se tinham coberto. A Ruça, de joelhos, “O Crime soprava esfalfada. Tinham cortado com o facão a encadernação do Panorama; e as folhas retorcidas e negras, com um faiscar de do Padre Amaro” fagulhas, voavam pela chaminé nas línguas de fogo claro. - Bufa-lhe, rapariga, bufa-lhe, aconselhava da porta o cónego Eça de Queirós muito divertido. (…) Então, confiadas na ciência do senhor cónego, a Gansoso e D. Maria da Assunção, acocoradas, bufaram também. As outras olhavam, num sorriso mudo, o olho brilhante e cruel, no gozo daquela exterminação grata a Nosso Senhor. O fogo estalava, pulando com uma força galharda, na glória da sua antiga função de purificador dos pecados. - E por fim sobre as achas em brasa, nada restou do Panorama (…).” “Fez um esforço. Embora ardesse numa chama de fúria, tentou refrear os nervos e medir com a calma possível a situação. Estava, pois, encurralado, impedido de dar um passo, à espera de que lhe chegasse a vez! Um ser livre e natural, um toiro nado e “Bichos” criado na lezíria ribatejana, de gaiola como um passarinho, condenado a divertir a multidão! Irreprimível, uma onda de calor tapou-lhe o entendimento, por um segundo. (…)” Miguel Torga Co-Financiado por:
  • 6. O diretor disse que nos via partir com muita emoção e que tinha a certeza de que nós partilhávamos a mesma emoção e que nos desejava umas boas férias, porque quando as aulas recomeçassem acabava-se a brincadeira e era preciso estudar muito, e assim “As brincadeiras do terminou a distribuição dos prémios. menino Nicolau” Foi uma distribuição de prémios muito engraçada. (…) Os meus amigos e eu falámos de coisas fabulosas que íamos fazer Sempé - Goscinny nas férias mas ficou tudo estragado quando o Clotário disse que ia salvar pessoas que se estivessem a afogar, como tinha feito no ano passado. Eu disse-lhe que ele era um mentiroso porque eu tinha visto o Clotário na piscina: ele não sabe nadar, por isso não pode salvar ninguém. Então o Clotário deu-me com o livro, que tinha recebido como prémio de camaradagem, na cabeça. O que fez Rufus começar a rir; então, eu dei-lhe uma bofetada e ele começou a chorar e dar pontapés ao Eudes. Começámos a empurrarmo-nos uns aos outros, divertíamo-nos imenso, mas os pais e as mães vieram a correr, agarraram nas nossas mãos e disseram que éramos incorrigíveis e que era uma vergonha. “O espírito que não lê emagrece como um corpo que não come.” Victor Hugo RAP – Quem são os seus [autores influentes para si]? ALA – A mim, o que me deu vontade de escrever foram o Almanaque Bertrand, o Pato Donald, o Mandrake… Foi por causa disso que eu comecei a escrever *…+ O que eu devo às Selecções do Reader’s Digest que havia em casa dos meus avós. Entrevista de Ricardo Araújo Pereira (RAP) a António Lobo Antunes (ALA), in Visão – 28/10/2010 Lígia Martins Lígia Martins ligiamartins.cno@gmail.com Plano Nacional de Leitura ligiamartins.cno@gmail.com www.planonacionaldeleitura.gov.pt Co-Financiado por: Co-Financiado por: