A autora descreve sua jornada de retomar os estudos aos 48 anos após ter deixado a escola aos 13. Ela frequentou um curso de cabeleireiro e aprendeu novas habilidades como usar computadores e programas. A autora também aprendeu sobre cidadania, português e matemática. Ela espera no futuro abrir uma creche para realizar seu sonho de trabalhar com crianças.
1. Recuando algum tempo atrás, há pouco mais ou menos 10 anos concluí
um curso de Empreendedorismo de Mulheres, promovido pelo Externato
Oliveira Martins; este desafio não foi nada fácil, dado que apenas
completei o sexto ano e deixei a escola com treze anos, mas proporcionou-
me adquirir algumas competências em determinadas áreas,
designadamente no português, na matemática e na economia. Porém,
como estive mais 9 anos sem estudar, uma parte do
que aprendi fui perdendo, e estava como que
parada no tempo.
Assim, tomei a decisão de me inscrever e
frequentar um curso de educação e formação de
adultos, na área de cabeleireiro, e após um ano
de trabalho compreendo o quanto tem sido
importante para mim voltar a estudar e exercitar a
mente; estou bastante contente porque, para além das matérias
relacionadas com cabeleireiro, tenho aprendido muitas outras coisas bem
interessantes e necessárias nos dias de hoje.
Quando iniciei o curso nada sabia sobre a utilização do computador e dos
programas mais comuns, como o Windows, o Word, o Excel ou o Power
Point, competências essas que fui adquirindo no decorrer das aulas, com
alguma dificuldade é certo, mas tenho conseguido. Na disciplina de
Cidadania tenho ouvido explicar muitos factos e situações do nosso dia-a-
dia que eu desconhecia ou não entendia, dos quais tenho agora algum
conhecimento e uma visão mais correcta e objectiva. As aulas de
Português têm sido uma grande ajuda para eu saber escrever melhor, dar
menos erros, compreender o que leio, fazer um texto sobre um qualquer
assunto, tantas coisas que tenho aprendido…
A disciplina de Matemática obriga-me a exercitar a mente, a tentar
ultrapassar o meu medo de errar, e a pôr à prova as minhas capacidades e
também os meus limites: com 48 anos não é fácil recomeçar, mas afinal a
idade não me tem impedido de evoluir, de melhorar enquanto pessoa e de
ter mais amor-próprio.
Se bem que tenha referido apenas algumas, todas as disciplinas são
importantes e com todas elas tenho aprendido e adquirido competências
que não tinha, e ainda outras mais que vou desenvolver até ao final deste
curso; sou eu que saio beneficiada, pois tenho desenvolvido a mente,
tenho aprendido a encarar os problemas do quotidiano de forma mais
positiva, interpreto agora a nossa linguagem escrita e falada de outra
forma, sei utilizar ferramentas de trabalho comuns mas que eu
basicamente desconhecia, enfim, tudo este processo tem sido um teste às
minhas capacidades, menos limitadas hoje do que ontem.
Não estou certa de as vir a utilizar um dia, mas as competências
adquiridas na área de cabeleireiro são também elas bem relevantes, de
facto é uma nova profissão que estou a aprender a partir do zero, e para a
qual espero vir a ser certificada; sou agora capaz de cortar ou pintar um
cabelo, fazer uma permanente, atender uma pessoa e corresponder ao
que ela pretenda que eu faça – há um ano atrás isto não era certamente
possível.
2. Projectar o futuro é algo muito complicado e
subjectivo: vivemos um tempo de mudança, em
que o futuro se mede em meses ou mesmo semanas:
assim, como será a minha vida daqui a 10 anos?
Gostaria, e espero consegui-lo, de tirar um curso de auxiliar de infância e
abrir ter um infantário, um espaço onde pudesse ter muitas crianças, poder
realizar um sonho antigo mas que ainda não me foi possível tornar
realidade, fazer algo de que gosto e que igualmente me ajudasse a pagar
as contas.
Gostaria de ter saúde e de viver, que a minha família estivesse a meu lado,
que o meu filho me desse quatro netos para eu ajudar a crescer, gostaria
de poder fazer o meu futuro, mas também de o deixar nas mãos de Deus.
Ângela Maria