1) O documento discute a ocupação de nove dias da Reitoria da UFRGS por estudantes, apontando vitórias e limites dessa ação.
2) Houve divergências entre grupos políticos estudantis sobre a ocupação, com alguns apoiando e outros se opondo, tentando deslegitimá-la.
3) Após nove dias, a ocupação deixou a reitoria com vitórias como isenção de pagamento no restaurante universitário para estudantes de baixa renda.
Ocupação da Reitoria da Ufrgs: um balanço necessário
1. Ocupação da Reitoria da Ufrgs: um balanço necessário
Tendência Estudantil
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RESISTÊNCIA
POPULAR
Estude e Lute!MAIO/JUNHO de 2014
Foram 9 dias de ocupação e 9 dias de uma experiência que pede um balanço político que aponte os erros e
acertos dessa ação. Um balanço de quem apostou e esteve metido nessa construção e não poupou esforços
para que ela saisse vitoriosa. Infelizmente não podemos dizera mesma coisa de outros grupos políticos que,
contrários a ocupação nesse momento, não só não participaram como em alguns casos, fizeram de tudo
para deslegitimá-la e sabotá-la. Contudo, estes também são elementos que devemos levar em consideração
na nossa avaliação,pois, entresaltos etropeços,se(re)constróiomovimentoestudantil.
Porque ocupar a Reitoria?
Unidade de base e/ou unidade entre correntes?
Mas houveram diferentes
entendimentos sobre a decisão de
ocupar a reitoria. Para algumas
correntes políticas, ela foi uma
medida sectária de alguns grupos
que não respeitaram a "decisão"
tomada pelo fórum unitário
"Estudantes de Luta" em não
realizar a ocupação nesse
momento (é bom lembrar que em
uma reunião bem maior desse
fórum,aocupaçãofoiaprovada).
Essateriasido, portanto,umaação
de vanguarda que não esperou pelo
necessário trabalho de base e de
articulação entre o conjunto dos
DA's e CA's de Luta e que queimou
um cartucho que poderia ter sido
melhoraproveitado.
A ocupação da Reitoria, na visão
desses grupos, teria sido realizada
visando a autoconstrução dos
coletivos políticos que a
defenderam. Uma avaliação curiosa,
ainda mais vinda de grupos que só
falamde trabalhode base quando diz
respeitoaosseus interessesdecor-
rente ou quando se trata de
desqualificar posições alheias, sem
falar na autoconstrução em
detrimento do fortalecimento da
organização de base, prática
corrente de alguns desses grupos no
interior do Movimento Estudantil.
Para outros grupos e alguns CA's, a
ocupação da Reitoria concorreria
com a luta de rua articulada pelo
Bloco de Luta no dia 15 de maio e
com as lutas dos trabalhadores
marcadasparaesse mesmodia.
Não é novidade para o Movimento rua convocadas pelo Bloco de Luta debate feito no "Estudantes em
Estudantil da UFRGS os inúmeros pelo Transporte Público. É por isso Luta”, também é necessário dizer
problemas acumulados durante que, na busca por reorganizar os que ela é a expressão da avaliação de
anos e as diversas tentativas de estudantes para a luta por suas um setor que compunha esse espaço
exigir soluções que acabaram reivindicações, é criado em 2014 o e que dizia haver uma conjuntura
emperradas na burocracia, no "não é "bloco de DA's e CA's de Luta", favorável para essa ação, pois não
comigo" das instâncias de "diálogo" depois "Bloco de Estudantes de era mais possível ficar de braços
e nas desculpas de "isso já foi Luta". É nesse espaço que se iniciou cruzadosacumulandodebilidades.
encaminhado". Da mesma forma, a longa discussão sobre ocupar ou
vários Centros e Diretórios não ocupar a Reitoria, assim como
Acadêmicos há algum tempo foi nesse espaço que as diferentes
compartilham da análise de que em visões e concepções de movimento
2013, com as jornadas de junho, o estudantil puderam se contrapor e
ME da UFRGS negligenciou a luta colocar a prova a pretensa unidade
por conquistas estudantis na desse fórum de organização. Em
Universidade e colocou todos os resumo, se é possível afirmar que
seus esforços nas manifestações de essa ocupação é fruto de todo o
2. Para nós da TERP a questão se
colocava em outros termos. Em
primeiro lugar, nosso critério era a
disposição de luta dos estudantes de
base que compunham alguns CA's
como os das Ciências Sociais,
Geografia e Biologia e a avaliação
de que uma ocupação de reitoria,
longe de enfraquecer ou competir
com outras ações, pelo contrário, as
fortaleciam, pois desde o lugar onde
nos toca atuar, trataríamos de
acumular experiência de luta e de
organização que nos momentos
oportunos seriam somadas as
demaislutas,potencializando-as.
Defendiamos e continuamos
defendendo que uma luta não pode
inviabilizar outra. Em nenhum
momento buscávamos com a
ocupação da reitoria enfraquecer a
luta dos estudantes da faculdade de
direito, por exemplo, ou a luta do
Bloco. Ambas são processos
necessários, baseadas em neces-
sidades reais e sentidas por cada
segmento que delas tomam parte e
que num momento ou outro podem
se dar simultaneamente. O desafio
era unificá-las, superando
sectarismos. Nesse sentido, nosso
papel enquanto corrente estudantil,
foi o de fomentar a disposição de
luta encontrada nos espaços onde
temosmilitância.
Mesmo que essa disposição ainda
não encontrasse um recipiente
organizativo bem estruturado, entre
os CA's e DA's por exemplo,
entendiamos que sua ausência não
inviabilizaria medidas de luta como
aocupação.
Para nós esse recipiente só pode ser
forjado em meio as lutas, com suas
vitórias e derrotas. É no calor da luta
concreta, enfrentando nossas
debilidades e assumindo o risco da
derrota que podemos fazer um
balanço coletivo, fruto de uma
experiência real daqueles que se
colocaram dispostos a lutar para
poderavançar.
Foi por isso que não tomamos como
ponto de partida uma suposta
unidade entre correntes e sim a
unidade real e em potencial dos
espaçosdebase.
Entendemos, portanto, que esse foi
um processo construído desde a
base. Para provar que as formas de
fazer política de boa parte dos
grupos que foram contrários a
ocupação já não servem mais ao
movimento estudantil é que os
estudantes independentes, orga-
nizados em seus DA's, CA's e
coletivos de base, movidos por suas
demandas concretas, após anos de
diálogos infrutíferos com diferentes
instâncias da universidade,
ocuparam a reitoria e lá ficaram até
obtervitórias!
Os grupos políticos que discor-
davam da ocupação , ao observar a
forma com que a ocupação foi
construída, que os impedia de se
colocarem enquanto protagonistas e
encaixar seus métodos que já não
vem dialogando com os estudantes
há tempo - bem pelo contrário, vem
desmobilizando
A ocupação
Não nos baseamos em um critério
p l e b i s c i t á r i o , t í p i c o d a s
organizações eleitoreiras, que
medem a disposição para lutar pelo
número de estudantes mobilizados,
como se fossem necessários 50% + 1
de estudantes para a organização de
uma medida de pressão como a
ocupação. Acreditamos sim que
com um pequeno setor de base com
disposição de dar enfrentamento é
possível construir ações coletivas e
diretas que gerem acúmulo para
avançar programaticamente e
organizativamente o Movimento
Estudantil.
- iniciaram um vergonhoso trabalho
de desconstrução e boicote ao
processo de lutas expresso na
ocupação.
Alguns tentaram fazer acreditar que
a ocupação da Reitoria era contrária
e queria enfraquecer a ocupação da
faculdade de direito, fato
desmentido pela solidariedade
mútua de ambas ocupações; outros
fizeram o sujo trabalho de tentar
impedir que a solidariedade viesse
de outras entidades como DCEs de
outras universidades, mas também
não conseguiram, pois recebemos
apoio de sindicatos como os dos
municipários de porto alegre e de
cachoeirinha, do DCE da PUC e dos
próprios técnicos-administrativos
em greve através do comando local
de greve daAssufrgs, assim como de
uma série de coletivos estudantis e
iniciativas de luta como o Levante
doBosquedaUFSC.
3. Foi dentro desse contexto que, após
nove dias de ocupação, deixamos o
prédio da reitoria com vitórias
concretas:
1. A isenção do pagamento do
Restaurante Universitário para os
alunos com beneficio PRAE (baixa
renda);
2. Uma bolsa auxílio de R$ 200,00
mensais para os alunos de baixa
renda, que forem moradores da
casa do estudante, para sua
alimentação nos finais de semana e
feriados;
3. Além da não criminalização dos
ocupantes.
Estas são vitórias importantes que
impactam principalmente no dia-a-
diados estudantemaispobres, tra-
balhadores, e já são um marco na
luta pelos direitos estudantis já que
há anos não víamos conquistas nessa
área.
Além disso, o recorte claramente
classista das conquistas, mostra a
serviço de quem está a luta dessa
nova geração do movimento
estudantil. Somos nós, estudantes de
baixa renda que acessamos a
universidade através dos programas
de inclusão, que nos deparamos com
a dura realidade do ensino
universitário, que segrega aqueles
que não tem o apoio financeiro dos
pais para se manter. Em cursos onde
é impossível ou muito dificil a
conciliação da vida de trabalhador
com 40 horas semanais com a de
universitário(quesãoamaioria),o
estudantetemque se submetera uma
bolsa sub-emprego de 20 horas,
ganhando pouco mais da metade de
um salário mínimo, e sem nenhum
direito previsto na contratação,
sendo obrigado a ficar refém das
políticas assistencialistas da
universidade. É por tudo isso que
ocupamos a Reitoria e é enquanto
setores dos trabalhadores e
oprimidos dessa universidade que
nos colocamosenquantomilitância.
Os limites desse processo
Não seremos hipócritas ou
demagogos em afirmar que na
Ocupação tudo foi mil maravilhas!
Muito pelo contrário! A própria
natureza de sua construção, levada a
cabo, como já afirmamos,
majoritariamente por setores de base
do movimento, expressa limites que
acreditamos ser necessário apontar.
Houveram acúmulos programáticos
que em certa medida a instauração
da ocupação negligenciou. Não que
o conjunto de mais de 120
reivindicações tenha saído do nada,
mas fato é que o processo de debate
que acabou por eleger 41
reivindicações prioritárias não
poderia ter sido feito em meio a essa
ação. Embora tenha sido uma baita
experiência para muita gente a
formacomqueas pautasforamsen-
do discutidas e "depuradas", por
outro lado ela foi responsável por
um certo desgaste que jogou a
ocupação numa sinuca de bico:
quando, com o que e como
negociar?
Um segundo limite que apontamos,
decorreu em parte do anterior, mas
também do número limitado de CA's
que tomaram a iniciativa de ocupar a
reitoria. Se por um lado
continuamos achando que foi
correta a iniciativa tomada, por
outro reconhecemos que faltou uma
maior articulação do conjunto de
CA's para essa ação, o que foi
dificultado posteriormente com a
ocupação em curso. De qualquer
forma muitos CA's se somaram
depoisepegaramjuntopoisviram
que se tratava de uma luta sincera e
legítima dado os inúmeros
problemas da universidade. É do
conjunto de CA's e DA's que em um
momento ou outro construíram a
ocupação,oméritodessa vitória.
Entre conquistas
parciais e estratégicas
Para nós da TERP, as conquistas da
ocupação são conquistas que
merecem ser saudadas. Porém,
quando saudamos essas conquistas,
procuramos não fazê-la de forma
despolitizada ou em forma de
ilusões. Não temos dúvidas que as
conquistas são bastante limitadas,
“parciais”. Mas o que mais nos
importa nesse momento é demarcar
o processo pelo qual foram
conquistadas. Ao longo de mais de
uma semana foi possível repensar a
estrutura da universidade, contribuir
para que um setor do movimento
estudantil tivesse um importante
acumulo organizativo, assim como
sobre o debate em torno de pautas
estruturais e específicas da
universidade.
4. Tentar diminuir essas conquistas
alegando se tratar de uma conquista
parcial e inserta numa política
assistencialista, é ao nosso ver, um
grande equívoco. Equívoco porque
joga na questionável concepção do
"quanto pior melhor" ao alegar que
tais conquistas "assitencialistas"
podemlevaradesmobilização.
O que a ocupação da reitoria
assinalou foi o caminho do trabalho
de base, da ação direta e da unidade
de base em detrimento da unidade de
correntes. Assinalou que a
dificuldade das lutas, assim como o
esforço e o sacrifício despendidos
para arrancar pautas “parciais” é o
que permite conseguirmos acumular
forças para uma luta prolongada,
capaz de arrancar as pautas
estratégicas. São estes os exemplos
queestudantesetrabalhadores,me-
diante a luta sem trégua contra os
governos e patrões, assinalam em
suas duras lutas históricas, afinal de
contas se um avanço na política de
assitência estudantil é uma
conquista “parcial”, o mesmo vale
para a vitória da redução da
passagem de ônibus, a conquista de
aumentosalarialrealemumagreve,
melhores condições de trabalho, etc.
É a partir do acúmulo organizativo e
na forja de uma subjetividade de luta
permanente, semeada em meio
destes processos que podemos
acumular forças para conquistar as
pautas estratégicas, no caso a
transformação da universidade e
dessasociedadedeclasse.
O pós ocupação. Algumas perspectivas para o ME da Ufrgs
A luta pela melhoria das condições
de estudo e pela garantia dos direitos
estudantis faz parte de uma luta
mais ampla, a qual esta ocupação
apenas contribuiu ampliando novas
possibilidades. Trata-se da luta por
uma Universidade pública e
popular. É buscar abrir a
universidade para quem está do lado
de fora e atender aos direitos e
demandas dos de baixo. Lutar por
uma universidade pública e popular,
passa por lutar pelo fim da
precarização da educação, de seu
direcionamento a finalidades
mercantisetambémporquestionar
o atual modelo em curso, fruto de
mais de uma década de políticas
neo-desenvolvimentistas.
Dessa forma, faz-se necessário que
trabalhemos para constituir e
consolidar um espaço de unidade
pela base, composto pelos Centros e
Diretórios Acadêmicos e que se
volte, prioritariamente para a
articulação de ações concretas
relativas as demandas de conjunto
do Movimento Estudantil. E o papel
das correntes e coletivos políticos?
Fomentar a participação de cada
estudanteemseuDAeCA, paraque
eles sejam representativos dos
interesses coletivos e para possam
desde baixo sintetizar discussões e
ações nesse fórum de entidades de
base. Não buscar neste espaço um
salão para troca de “tapinhas nas
costas”, para os tradicionais acordos
de “dirigentes” em detrimento do
empoderamentodasbases.
A ocupação da Reitoria não foi o
primeiro e nem será o último passo
dadonaslutasestudantis.
Mas com certeza foi um passo
importante e necessário para
oxigená-las.
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