1. REPÚDIO AO PIQUETE EM SÂO LAZÀRO
Na última semana, estudantes de São Lazáro em greve realizaram um piquete nos
pavilhões de aula no sentido de inviabilizar a retomada das aulas e garantir a vontade da
maioria. Contudo, nosso curso não havia desenvolvido debate sobre a situação de greve
e nem participamos do Fórum de São Lazáro que deliberou sobre o tema. Por este
motivo, nós da coordenação de greve dos estudantes de Filosofia, entendemos o piquete
como uma forma de radicalização insuficiente e que foi feito precipitadamente sem um
debate amplo (entre docentes e estudantes) sobre a atual conjuntura da UFBA e de
outras instituições federais. É necessário relembrar a votação apertada do curso em
relação à greve: 28 a favor, 20 contra, 8 abstenções e 2 a favor de uma greve num
momento posterior. Portanto, acreditamos na necessidade de construir um clima de
conscientização e reflexão dialética a partir da base. A força não pode ser utilizada para
convencer, mesmo que a causa seja justa. Apostamos em discussões capazes de
construir e dialogar com toda a comunidade acadêmica.
PORQUE GREVE AGORA?
Estamos vivendo um momento em que ecoam por todos os cantos do brasil o desejo de
que a educação seja levada a sério. Hoje, já temos cinquenta e uma universidades em
greve. A conjuntura de paralisação presente nos três setores da UFBA é reflexo dessa
mobilização nacional por uma educação de qualidade e sem precarização. Precarização
da qual falamos é reflexo da desorganizada expansão das IFES perpetrada pelo REUNI,
que inchou desmesuradamente as universidades federais sem criar as condições de
permanência nem as condições de qualidade de ensino. O diagnóstico dessa primeira
fase da “Universidade Nova” evidencia que a qualidade do ensino acadêmico já desabou
pela hiperexploração dos professores e pela falta de estrutura física e acadêmica para o
ensino que resultam no sucateamento da Universidade Federal . A máxima do
sucateamento que vemos hoje no ensino superior reflete a mesma máxima da
universalização desmedida do ensino secundarista da década de 70 e caminha para o
mesmo nível de precarização.
PORQUE FILOSOFIA DEVE APOIAR A GREVE GERAL?
Nós, do curso de filosofia, talvez vivamos numa situação um pouco mais confortável do
que outros cursos da UFBA. Muito disso ocorre porque em nossa área não necessitamos
de muitos aparatos, nossa matéria-prima são os conhecimentos bibliográficos,
principalmente os canônicos. Contudo, as condições de uma universidade sucateada são
capazes de dificultar a vida até dos mais minimalistas. Portanto eu peço que olhem um
instante para seu entorno e respondam se não vale a pena lutar por uma biblioteca com
livros e livre acesso, se não vale a pena lutar por um ônibus para que você possa sair de
São Lazáro e chegar na FACED gratuitamente e sem desgaste físico, por uma xerox que
2. não o prendam em filas quilométricas, enfim, por condições dignas de vivenciar a
universidade pública. Além disso, nós , que centramos nossas atividades no
aprimoramento da razão humana, que vivenciamos cotidianamente a realidade da
educação no nosso país tanto secundarista como universitária, devemos avaliar porque
poucos tem acesso a educação de qualidade. Enquanto professores, que já somos ou
seremos com certeza, não podemos nos abster de lutar por uma educação aprimorada,
por condições dignas de trabalho e pela construção de um ensino universal, público,
gratuito e de qualidade.
A GREVE ESTUDANTIL É INDEPENDENTE DA GREVE DOS PROFESSORES.
Apesar da conjuntura nacional pedir uma greve geral na educação e uma união entre
professores, alunos e servidores evitando assim um sucateamento ainda maior da
educação pública, tendo em vista os problemas criados pelo REUNI e os possíveis
problemas com a aprovação do PNE/2011-2020, os estudantes mantêm a sua
independência com pautas próprias e assembleias independentes. A luta por ponto de
distribuição do R.U. em outros campus , o “BUZUFBA”, ampliação do serviço de
Xerox, livre acesso ao acervo da biblioteca de S.L., dentre outras demandas, servem
para exemplificar que a entrada dos estudantes na greve não é fruto de uma ação
desmedida ou a reboque do movimento grevista dos docentes e sim por perceber que o
momento é propício para pressionar pela solução de uma problemática local. Contudo
as pautas locais não estão deslocadas do macro, portanto fazer a conexão do problema
local com o geral nos livra da luta reducionista. O problema a ser combatido vai além
das nossas necessidades imediatas. Estas, são apenas resultados de uma politica para a
educação pública, que com o discurso falacioso de universalizante, mascara o
verdadeiro interesse de transformar a educação em mais uma mercadoria, mercadoria
esta que terá como objetivo principal a formação tecnicista, ou seja, profissionais
baratos e limitados a apenas saber executar. Lutar por universalização do ensino sim,
mas com qualidade. Por fim é importante reafirmar que isso não cerceia o apoio à luta
dos docentes, pelo contrário, tal apoio torna-se ainda mais relevante, por estes combater
a precarização do ensino. Mas isso tem muito mais sentido se tratando de filosofia, pois
a luta contra a precarização do trabalho docente reflete na luta por melhores condições
do trabalho a porvir.