SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
Baixar para ler offline
A ideia de escrever um balanço crítico referente a mobilização dos estudantes
dentro do curso de Ciências Sociais do período relacionado a 2008 ao ano de 2010
(que se caracterizou em um formato de coletivo de estudantes) se mostrou necessário
em virtude da formação e referendamento do Estatuto e, o processo eleitoral que
culminou na atual gestão eleita (2010-2011).
        Esse balanço tem como objetivo principal manter o resgistro da experiência
organizativa que buscava agregar novas formas de participação dos estudantes -
mudando o foco de atuação da democracia representativa via processo eleitoral
para uma democracia participativa - além de tentar quebrar a dicotomia existente
no curso entre “partidões” (estudantes normalmente vinculados ou simpatizantes de
algum partido político, no entanto, muitas vezes, essa delimitação extrapola a simples
vinculação com os partidos políticos) e “anarcos” (estudantes que possuem afinidade
com várias tendências de anarquismo e possuem em comum a oposição as instituições
e qualquer forma de hierarquia); acreditamos que mesmo sendo uma experiência de
um curto período de tempo ocorreram processos políticos importantes que questionam
a prática usual da política estudantil dentro da Ciências Sociais da UFRGS. Queremos
frisar que esse não é um texto acadêmico, por mais que se utilize de conceitos da
ciência política, esse texto é acima de tudo um relato e uma busca por compreender
o contexto em que estamos inseridos, tentando se utilizar de alguns conhecimentos
adquiridos no curso, embora muitas vezes pouco consolidados.
        O Coletivo se propôs a articular uma parte burocrática/institucional (mais
centralizada) a partir de uma nominata simbólica que colocava os estudantes
articulados com departamentos, instituto e universidade; e outra parte de atuação,
mobilização e construção de pautas/projetos/lutas (mais descentralizada) através da
criação de comissões autônomas, sendo que a instância máxima de decisão entre os
estudantes eram as assembleias.
        Com o formato de coletivo foi possível uma estrutura de organização que
inexistia há dois anos no curso devido à não continuidade da gestão de 2006,
última gestão “eleita”, na época, do CECS. Nesse formato ocorria a livre adesão
de estudantes interessados, não havendo nenhum tipo de exclusão de ideias,
agregando a diversidade de pensamentos e posições existentes no curso, gerando
uma horizontalidade na organização e deliberação de propostas de ação.
        Esta forma descentralizada presou, primeiramente, as decisões consensuadas
das demandas, pois este formato permitia igualdade entre todos os estudantes na
medida do possível, caso contrario se utilizava a condição da maioria. O critério da
maioria foi inserido na prática do coletivo, a partir das discussões do grupo, para evitar
a recorrência de abstenções no posicionamento do CECS, em questões institucionais
ou de importância política (pautas de relevância aos estudantes e/ou movimento
estudantil).
        A estrutura organizativa do CECS se dava a partir dos seguintes eixos:
●   E-mails
   ●   Grupo de e-mails e-cecs - comunicação oficial
   ●   Nominata simbólica
   ●   Comissões
   ●   Mateada
   ●   Seminário de planejamento
   ●   Assembleia

       A lista do emails e-cecs fora criada com a iniciativa de agregar um maior
número de estudantes nas discussões e deliberações, pois as listas manuais não
suportavam mais a quantidade de endereços e, também para facilitar e agilizar a
comunicação entre o coletivo que estava em formação. Prezou-se a utilização de um
grupo de e-mails, pois outras ferramentas virtuais, como a comunidade do curso no
orkut, mostravam-se pouco efetivas no sentido de aglutinar pessoas interessadas em
discutir e agir mais focadamente o movimento estudantil específico, fato que o e-cecs
conseguiu desenvolver muito bem, durante o período que era a forma prioritária de
comunicação.
       Para que o coletivo fosse reconhecido perante as instâncias universiátarias
era necessário a composição de uma nominata que representasse o CECS
burocraticamente. Para não restringir o processo deliberativo apenas entre as pessoas
descritas na nominata (já que o coletivo tinha o objetivo de agregar a maior quantidade
de estudantes possível na participação), a mesma se dominou simbólica, pois todos
tinham comprometimento de discutir e deliberar sobre as pautas do curso.
       As comissões eram compostas em assembleia por livre associação dos
estudantes, divididas por demandas definidas na mesma assembleia, colocando a
responsabilidade de organização a um pequeno grupo de pessoas. Esse grupo tinha
bastante autonomia nas suas ações, devendo repassar suas discussões e atividades
para a coletividade.
       As mateadas eram reuniões abertas, realizadas semanalmente para discutir e
organizar as pautas pensando em formas de ação relativas a isso.
       O seminário de gestão era a reunião de planejamento para o semestre seguinte,
onde era definido um calendário prévio de atividades.
       A Assembleia era instância máxima de organização e decisão entre os
estudantes de Ciências Sociais. Convocadas por qualquer estudante a partir de algum
ponto polêmico ou que necessita-se de amplo debate.
       Para a construção de uma entidade estudantil dentro do curso de Ciências
Sociais, o grupo que retomou essas discussões tinha consciência de alguns
desenhos organizacionais poderiam ser utilizados para que não se gerasse
grandes conflitos. Optou-se pelo formato de coletivo para, efetivamente, se colocar
em pratica a reconstrução do CECS, pois uma gestão eleita era considerada
centralizadora (demandas, discussões e decisões cabiam unicamente a gestão)
e, os períodos de autogestão eram considerados momentos de apatia; gerando
insatisfação ou em “anarcos” ou em “partidões” e consequentemente um imobilismo
no prosseguimento da atividade estudantil do curso. Então se escolheu um formato
alternativo que tentou contemplar a todos e que conseguisse articular o CECS aos
interesses estudantis.
         A tentativa de construção deste modelo alternativo, que de certa forma
rompesse com a tradição da política estudantil, acarretou alguns problemas
originários do próprio arranjo de coletivo que se escolheu. O formato coletivo tentava
contemplar “um pouco” de representação (legitimidade institucional e autorização do
conjunto de estudantes de Ciências Sociais) “um pouco” de autogestão (autonomia e
flexibilidade de atuação), mesmo que no início o grupo disposto a reconstruir o CECS
não soubesse o que isso implicaria.
         Esse era o foco: uma busca por conciliação que possibilitasse “desengessar”
a participação no movimento estudantil a nível micro. Porém, ao agradar “um pouco”
a todos, o resultado da atuação desse modelo proposto, que a princípio diminuiria os
conflitos entre esses dois grandes pólos em busca de consenso para as deliberações,
demonstrou que o mesmo não era adequado a nenhum desses, portanto não
conquistou a mobilização de uma parcela significativa dos estudantes.
         De maneira geral as duas gestões de coletivo foram coordenadas por
estudantes que ainda buscavam espaço e entendimento dentro do movimento
estudantil, ou seja, eram pessoas com pouca experiência política que estavam
tentando descobrir o que era atuar coletivamente em um formato “diferente”.
         Apesar do esforço que os estudantes tiveram (o grupo que geriu o Coletivo era
em torno de 5 pessoas, sendo auxiliados por cerca de outros 15 colegas) nos anos
de 2009 e de 2010, o CECS enquanto coletivo reproduziu na prática a centralização
que não desejava ter. Por mais que o debate e a organização se mostrassem
abertos, as “gestões” foram construídas entre esse grupo (apesar de o mesmo ir se
reconfigurando ao longo dos semestres). Essa centralização se tornou inevitável pela
falta de participação mais ampla entre os diversos grupos que se interessaram em
reconstruir da entidade de Ciências Sociais, e pela vontade de alguns estudantes
de “fazer acontecer” o CECS.
         Outro fator que colaborou para que as atribuições de todos recaíssem em um
pequeno grupo de pessoas decorreu da inoperância das comissões propostas. Para o
funcionamento efetivo dessas instâncias, faltou alguém que se responsabilizasse pelas
atividades do grupo e pudesse repassar os planejamentos/atividades realizadas ao
CECS e demais estudantes. A única comissão que funcionou minimamente era a de
Festas e Eventos que conseguia corresponder algumas dessas características. A falta
de organização das demais acarretou na assimilação de diversas funções por aqueles
que respondiam enquanto Coletivo. Quem respondia e atuava enquanto CECS não era
necessariamente aqueles que compunham a nominata “simbólica”, portanto, dificultava
a criação de uma referência a quem recorrer, tanto estudantes que não se envolviam
com a entidade quanto as próprias comissões.
      Os descompassos entre o que se queria com o Coletivo e o que se conseguiu
fazer e não correspondeu aos ideais iniciais é fruto da dificuldade de conciliar duas
lógicas opostas de atuação. Constituir uma entidade estudantil é em si uma busca
por representação, por pessoas que digam quais são os interesses, demandas,
dificuldades, vontades e proposições de um grupo, nesse caso, estudantes de Ciências
Sociais. Mas, a necessidade de os indivíduos se sentirem representados é reflexo de
um modelo de democracia representativa, que se dá na transferência de autorização
entre eleitor – candidato, por meio de um processo eleitoral.
      É com essa experiência representativa que os estudantes ingressantes no
curso, em grande parte, estão familiarizados e reconhecem como prática política, da
mesma forma que encontram dentro da universidade e/ou no movimento estudantil, os
mesmos formatos, portanto, a tendência de quem quer participar é se adequar a essa
dinâmica. Assim qualquer movimento no sentido de participar politicamente no curso
é impelido a responder essas exigências, que mesmo subjetivas, existem, dificultando
qualquer iniciativa que tente fugir das eleições. Caso não haja eleições, como foi o
caso do Coletivo, o reconhecimento e a legitimidade perante os estudantes é bastante
questionado mesmo que se tentasse buscar ambas as características no engajamento
de todos e na abertura do processo. A nominata simbólica era uma forma do CECS
ser considerado pela Universidade como entidade representativa (o que ocorreu
efetivamente) mas ao mesmo tempo não limitasse a gestão; independentemente do
reconhecimento institucional, a cultura política dos estudantes demonstrava o oposto.
        Esse contexto demonstrou que o CECS como coletivo, fora construído como
alternativa ao processo tradicional de eleições para centro acadêmico, e também
uma alternativa na busca de um conceito mais amplo de representação, utilizando-se
de um processo extra-eleitoral na tentativa de aumentar a incidência de mobilização
e capacidade de deliberação entre os estudantes. Porém, a tradição da política
estudantil se apresentou como uma força que impediu um desenvolvimento mais
efetivo dessa experiência de coletivo porque suas formas “estáveis” eram um
contraponto a “experiência” gerando assim desconfiança nos estudantes a “novidade”,
independentemente de sua capacidade integradora na conjuntura da Ciências Sociais
da UFRGS.
        Acreditamos que, prioritariamente, o formato Coletivo não se desenvolveu
devido a proposta de sua estrutura que não correspondia as práticas usuais da
política e portanto não gerava legitimidade e credibilidade perante aos estudantes
na sua organização, implicando na falta de participação que por sua vez estimulou a
centralização das ações. Em conjunto a isso, muitos dos estudantes já envolvidos em
alguma prática política, não visualizavam o Coletivo (ou o Centro Acadêmico) como
espaço válido de ação coletiva.
        Secundariamente, mas não menos importante, a própria denominação do
movimento de reconstrução do CECS em “coletivo” pode ter sido um erro, já que
expressava no nome a perspectiva que se pretendia desenvolver, e não era tão bem
inserida no curso essa crença quanto se esperava (situação que não tinha como
prever na época), e nem uma ideia tão bem consolidada por parte dos participantes
envolvidos. Talvez se tivéssemos mantido o CECS enquanto “centro”, mas um centro
de estudantes autogestionário, o impacto fosse diferente nos estudantes. Em conjunto
com esse fator, também há a falta de espaço físico de encontro e de trocas que
proporcionassem condições de construção de um coletivo.
        Porém, apesar de todas as dificuldades e tentativas, muitas vezes frustradas
de organização/atuação, pode-se afirmar que o Coletivo também teve muitas vitórias
e conquistas. Da mesma forma que o formato “coletivo” pode ser apontado como
um “problema”, num processo de ressurgimento de uma organização estudantil, não
podemos exclui-lo como um “acerto”.
        Ser um coletivo trouxe para o movimento estudantil da ciências sociais, que
apesar de um discurso já recorrente, a possibilidade de romper com a reprodução da
lógica da democracia representativa, a chance de se fazer movimento na Ciências
Sociais sem que as crenças, trajetórias e visões de mundo se sobrepusessem, mas
que agissem de forma construtiva e não destrutiva; agregou ainda a necessidade de
se pensar no estudante, no curso, na carreira, e pensar na conjuntura política geral
conectada a isso.
        Além disso, abriu precedente para se questionar a dificuldade de atuação
política enquanto Centro Acadêmico tendo em vista a diversidade de concepções
políticas existentes nos diversos grupos que se constituem na Ciências Sociais;
o desgaste de energia dos participantes com discussões que só visavam o
engrandecimento pessoal e/ou de grupos; e o quebra-cabeça de linhas políticas para
se poder conviver sobre o rótulo de “gestão” que também engessava a organização
devido as discordâncias e oposições internas; para participar de outra forma, é
necessário mudar a própria convivência no grupo que pretende atuar em conjunto.
        Com essa diversas atividades e/ou tentativas de ação, manteve a certeza de
que a ideia e a experiência envolvidas nesse processo foram muito válidas, e por
consequência a necessidade de registrá-la. A falta de consciência daqueles que
tocaram o coletivo sobre todas as relações que estavam envolvidos, pode ter gerado
uma falta de “organicidade”, e também a constante crítica de que só se é centro
acadêmico se houver eleição.
        Assim, podemos pontuar que: o CECS voltou a ser reconhecido como
instância deliberativa dos estudantes por parte dos departamentos, do instituto e da
Universidade; fatos que podem ser “comprovados”, minimamente, com a participação
na Reforma Curricular de 2009, na inserção em reuniões da unidade e envio de
ofício a SAE sobre a extensão dos benefício das passagens a moradores da região
metropolitana (conquistado em 2009).
        Voltou a se ter, fraca ou não, a noção de existência de um “CECS” entre os
discentes e a possibilidade de contato/interação/envolvimento com o grupo do coletivo;
o que é um ponto bastante importante. Com uma melhora na comunicação, em virtude
do e-cecs, do blog, e do envio de e-mails pela COMGRAD, os estudantes sabem o
que está acontecendo, assim como podem participar/opinar/criticar, oportunizando
transparência nos processos que o coletivo se envolveu, além de accountability das
ações desenvolvidas.
        O foco na construção coletiva fez com que muito fosse feito, mesmo que
esse ideal tenha se restringido ao pequeno grupo, porém esse pequeno grupo pode
experenciar e por em prática durante o período do coletivo diversas atividades como:
acompanhamento dos candidatos ao curso no vestibular (apoio a vestibulandos e
familiares, venda de café, adesivos, camisetas), atividades de integração na matrícula
(junto com auxílio a cadeiras e dúvidas do curso) e nos primeiros dias de aula (trote);
atividades de confraternização com os alunos e arrecadação de fundos para futuras
ações com as festas (cecs, orégano e rock’n’roll I à V, cecs volta ao mundo, cecs no
dce...); com a mediação da confecção dos cartões do TRI e de materiais do curso
(mochilas, adesivos e camisetas).
        Além da política de prestação de contas, rotinização das mateadas, arquivo
de relatorias (blog e e-cecs), realização de seminários de gestão, participação em
ERECS (possibilidade de ida ao ENECS 2009 e 2010 passaram por discussão mas
foram descartadas); presença nos atos “Fora Yeda”, no envolvimento na questão
do parque tecnológico. Ainda com a construção de informativos aos bixos (2009 e
2010), realização de uma semana acadêmica e um ciclo de debates; organização e
realização de duas “Copa de Futebol Três Porquinhos”. Por fim, o planejamento de
uma “formação de RDs” (Representantes Discentes junto ao Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas), discussão do Estatuto e do “caso clê”. Tantos resultados frutos de
um pequeno grupo, com certeza pode se multiplicar com o engajamento de um número
cada vez maior de estudantes.
        Portanto, esse balanço fora escrito como tentativa de rever a experiência
passada, considerando o Coletivo, como o registro mais atual de uma forma alternativa
e mais horizontal de ação, documentá-lo de forma virtual e impressa pode auxiliar
para que não se cometa os mesmos erros na atual e nas próximas gestões do CECS
(seja ele coletivo, centro de estudantes ou centro acadêmico) e afim de estimular
a discussão sobre novas/outras formas de participação política e engajamento no
movimento estudantil dentro do curso de ciências sociais.
        A análise feita nesse balanço, nos auxiliou a pensar o que o formato
de “coletivo” representa/ou e quais seus limites. Desta forma, conseguimos perceber
que muitos dos obstáculos enfrentados pelo Coletivo, também ocorrem/podem ocorrer
em gestões eleitas, tais como: centralização de funções em um pequeno grupo
ocasionada pela falta de participação, falta de objetivos mínimos comuns (“programa
mínimo”) o que consequentemente levava ao fraco comprometimento na militância
da entidade, além da dificuldade na comunicação interna e na divisão de tarefas.
Mas também, ajudou a delinear caracteristicas que poderão ser fundamentais para
uma futura tentativa mais consistente de quebra nos paradigmas da democracia
representativa no contexto do movimento estudantil de ciências sociais.
       No entanto, as similaridades não constituem um mesmo formato político, já que
no coletivo o “empoderamento” ocorre através das assembléias e as gestões do centro
de estudantes por meio das eleições, dessa forma, no primeiro arranjo, quem faz parte
do grupo de atuação são todos os que participam, ao contrário do segundo, no qual faz
parte apenas quem é eleito e concorda em seguir determinados eixos. No coletivo, não
existe “programa” pré-estabelecido, as focos de trabalho e participação serão
determinados por aqueles que estiverem envolvidos no processo decisório, enquanto
na gestão eleita, o programa se faz extremamente necessário antes do pleito, para
poder congregar os iguais sob determinadas linhas políticas, e posteriormente o guia
para as ações e pautas a serem desenvolvidas.
       O objetivo do CECS para esses dois modelos também diverge, o Coletivo visava
sanar as necessidades dos estudantes de Ciências Socias a partir de sua realidade, o
Centro de Estudantes busca/va sanar as necessidades dos estudantes de Ciências
Sociais a partir da conjuntura geral do movimento estudantil nacional. Na organização,
um tinha as instâncias de horizontalidade a base da sua existência (na época,
comissões) o outro possui a mesma estrutura (atualmente, GTDs) mas, como auxiliar
da gestão. O princípio orientador na deliberação para o CECS coletivo era o diálogo,
portanto, a busca pela formação do consenso era determinante, assim como a decisão
ocorria a partir da adesão de qualquer estudante; para o CECS centro de estudantes o
eixo que orienta a escolha é a maioria, expressa pelas posições disputadas dentro do
grupo que possuiu a legitimidade de representação.
       Entender a conjuntura, relações e processos pelos quais passou o coletivo,
associada com uma breve comparação com o modelo gestionário, auxilia a pensar o
que não repetir de erro enquanto coletivo, e no atual momento, como essa experiência
pode contribuir para a constituição de um centro de estudantes de ciências sociais
menos tradicional. Isto é, não reproduzindo mecanismos e situações inerentes a
democracia representativa, como o baixo envolvimento dos representados na
deliberação referente as demandas exigidas pelo curso/pelos estudantes, a
concentração do poder nas mãos de poucos - que devido ao processo de legitimação,
teoricamente estão autorizados a tomar as decisões se não por todos, ao menos por
aqueles que participaram do processo eleitoral - e a seletividade de demandas e ações
- o foco no programa de chapa que torna-se o programa da gestão, mesmo havendo
dentro da gestão, espaços alternativos de engajamento, causando um estreitamento
das possibilidades de agenda política.
       Entretanto, pensar em um movimento estudantil que consiga agregar mais
discentes, ser mais amplo em seus horizontes de atuação e possuir uma estrutura
organizativa que possibilite a concretização de projetos, esbarra não só em um
problema prático como um problema teórico. O movimento estudantil que se foca
na eleição e na representação de todos os estudantes possuiu a legitimidade e o
respaldo de grande parte da comunidade universitária, mesmo esbarrando em limites já
expostos, ainda é uma forma reconhecida de fazer política. Porém, ao mesmo tempo,
o movimento estudantil que conhecemos, excluiu muitas questões pertinentes por
serem consideradas “menores”, por serem consideradas pouco efetiva para a “luta”,
ainda mais quando falamos em Ciências Sociais. Em um curso extremamente teórico
e que muitos ingressantes buscam por vislumbrar a possibilidade de “entender a
sociedade e transformá-la”, há um descompasso entre o teórico e o prático, ponto
de discussão que por si só é excluído dos debates do movimento estudantil por ser
considerado “acadêmico”. A questão prática em nossa área recai, em grande parte,
nas formas de fazer política e as formas de atuar como cientista social no mercado
de trabalho. Tais pontos são bastante limitados nas preocupações do movimento
estudantil, pois não há espaço para se discutir novas formas de fazer política ou
atualização/revisões teóricas dos modelos já usados, além de ser praticamente
impossível falar em formas economicamente viáveis de sustento com Ciências Sociais
sem ser taxado de “conservador”.
       Contudo, quando se busca fazer pequenas mudanças nos modelos usuais de se
atuar no movimento estudantil , que possa gerar o espaço que muitas vezes falta para
e que haja mais contribuições e divergências, as pessoas se sentem inseguras em se
engajar em em um formato que não estão habituadas, da mesma forma que tem a
sensação de fracasso, já que é uma experiência.
       Os problemas expressos não fazem parte desse balanço responder, tendo em
vista que muito desses dilemas ainda precisam ser debatidos, articulados e
consolidados na teoria política.
       Com a experiência realizada podemos traçar algumas possibilidades de
atuação. Faz necessário testar novas formas de fazer política, novas formas de
se organizar, buscar ultrapassar as limitações que encontramos no fazer política
estudantil; não existem respostas prontas para isso, dessa forma se torna de grande
importância pesquisar, discutir e experenciar tentativas e, posteriormente refletir sobre
elas, para se pontuar o que se deve repetir e melhorar ou o que definitivamente não se
deve fazer, assim facilitando a organização em uma fase posterior. Da mesma forma
têm igual importância demonstrar para os estudantes ingressantes outras perspectivas
de se participar, estimulando a inserção nessa construção de possibilidades, e
tentando interessar discentes que já vêm desacreditados do processo político.
          Outra questão extremamente pertinente é pensar em um projeto de Centro
Acadêmico. Mais que um programa, mais que amigos juntos, para que um CA possa
borrar um pouco os limites entre os modelos de democracia e isso seja efetivo, deve
haver comprometimento, organicidade, pertencimento. Esses elementos só existirão e
impulsionarão a concretização de planos se houver um projeto sério para a entidade,
uma delimitação teórica-política compartilhada por todos que se sentirem a vontade,
com objetivos comuns possibilitando, uma estrutura mínima de troca de idéias,
construção e efetivação de tarefas, além de formas que estimulem a ação coletiva.


Assinam esse balanço:

Eduarda Bonora Kern (2007)
Priscila Alves Rodrigues (2008)
Michele Lima Leão (2009)
Pedro Bittar (2010)

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Balanço do Coletivo de Estudantes de Ciências Sociais da UFRGS entre 2008-2010

Gestão democrática participativa
Gestão democrática participativaGestão democrática participativa
Gestão democrática participativaUERN
 
Artigo em Gestão do trabalho coletivo
Artigo em Gestão do trabalho coletivoArtigo em Gestão do trabalho coletivo
Artigo em Gestão do trabalho coletivoJose Arnaldo Silva
 
Conferencia 2015 cmdca
Conferencia 2015   cmdcaConferencia 2015   cmdca
Conferencia 2015 cmdcaanaka_santana
 
Artigo - Gestão do trabalho coletivo
Artigo - Gestão do trabalho coletivoArtigo - Gestão do trabalho coletivo
Artigo - Gestão do trabalho coletivoJose Arnaldo Silva
 
1143 texto do artigo-2393-1-10-20191105
1143 texto do artigo-2393-1-10-201911051143 texto do artigo-2393-1-10-20191105
1143 texto do artigo-2393-1-10-20191105AlanWillianLeonioSil
 
Parabéns Hermógenes Gomes, tu passaste no vestibular 2015
Parabéns Hermógenes Gomes, tu passaste no vestibular 2015Parabéns Hermógenes Gomes, tu passaste no vestibular 2015
Parabéns Hermógenes Gomes, tu passaste no vestibular 2015Ellen Rodrigues
 
Trabalho de ppp para faculdade individual
Trabalho de ppp para faculdade individualTrabalho de ppp para faculdade individual
Trabalho de ppp para faculdade individualPamela Werneck
 
A necessidade da ic para alunos de inst particulares
A necessidade da ic para alunos de inst particularesA necessidade da ic para alunos de inst particulares
A necessidade da ic para alunos de inst particularesgisa_legal
 
Gestão democrática da escola pública município
Gestão democrática da escola pública municípioGestão democrática da escola pública município
Gestão democrática da escola pública municípionilvacirilo
 
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...Otavio Luiz Machado
 
Texto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em RecifeTexto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em RecifeOtavio Luiz Machado
 
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08otaviomachado3
 
Web caderno-5
Web caderno-5Web caderno-5
Web caderno-5luci96
 

Semelhante a Balanço do Coletivo de Estudantes de Ciências Sociais da UFRGS entre 2008-2010 (20)

Marcia angela 2015
Marcia angela 2015Marcia angela 2015
Marcia angela 2015
 
Marco referencial trabalho em grupo
Marco referencial   trabalho em grupoMarco referencial   trabalho em grupo
Marco referencial trabalho em grupo
 
Gestão democrática participativa
Gestão democrática participativaGestão democrática participativa
Gestão democrática participativa
 
Artigo em Gestão do trabalho coletivo
Artigo em Gestão do trabalho coletivoArtigo em Gestão do trabalho coletivo
Artigo em Gestão do trabalho coletivo
 
Projeto do conecs 2012
Projeto do conecs 2012Projeto do conecs 2012
Projeto do conecs 2012
 
Conferencia 2015 cmdca
Conferencia 2015   cmdcaConferencia 2015   cmdca
Conferencia 2015 cmdca
 
Artigo - Gestão do trabalho coletivo
Artigo - Gestão do trabalho coletivoArtigo - Gestão do trabalho coletivo
Artigo - Gestão do trabalho coletivo
 
1143 texto do artigo-2393-1-10-20191105
1143 texto do artigo-2393-1-10-201911051143 texto do artigo-2393-1-10-20191105
1143 texto do artigo-2393-1-10-20191105
 
Ensaio modulo ii.
Ensaio modulo ii.Ensaio modulo ii.
Ensaio modulo ii.
 
Parabéns Hermógenes Gomes, tu passaste no vestibular 2015
Parabéns Hermógenes Gomes, tu passaste no vestibular 2015Parabéns Hermógenes Gomes, tu passaste no vestibular 2015
Parabéns Hermógenes Gomes, tu passaste no vestibular 2015
 
Ppp2
Ppp2Ppp2
Ppp2
 
Trabalho de ppp para faculdade individual
Trabalho de ppp para faculdade individualTrabalho de ppp para faculdade individual
Trabalho de ppp para faculdade individual
 
A necessidade da ic para alunos de inst particulares
A necessidade da ic para alunos de inst particularesA necessidade da ic para alunos de inst particulares
A necessidade da ic para alunos de inst particulares
 
Gestão democrática da escola pública município
Gestão democrática da escola pública municípioGestão democrática da escola pública município
Gestão democrática da escola pública município
 
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
 
Texto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em RecifeTexto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em Recife
 
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
 
Web caderno-5
Web caderno-5Web caderno-5
Web caderno-5
 
Etapa I - Caderno 05
Etapa I - Caderno 05Etapa I - Caderno 05
Etapa I - Caderno 05
 
Aula 2 gestão educacional
Aula 2 gestão educacionalAula 2 gestão educacional
Aula 2 gestão educacional
 

Mais de Eduarda Bonora Kern

Mais de Eduarda Bonora Kern (20)

Artigo V ENESEB 2017
Artigo V ENESEB 2017Artigo V ENESEB 2017
Artigo V ENESEB 2017
 
Propostas de atividade - Inclusão e Sociologia (3)
Propostas de atividade - Inclusão e Sociologia (3)Propostas de atividade - Inclusão e Sociologia (3)
Propostas de atividade - Inclusão e Sociologia (3)
 
Propostas de atividade - Inclusão e Sociologia (2)
Propostas de atividade - Inclusão e Sociologia (2)Propostas de atividade - Inclusão e Sociologia (2)
Propostas de atividade - Inclusão e Sociologia (2)
 
Propostas de atividade - Inclusão e Sociologia
Propostas de atividade - Inclusão e SociologiaPropostas de atividade - Inclusão e Sociologia
Propostas de atividade - Inclusão e Sociologia
 
Trabalhos de estudante (Inclusão e Sociologia)
Trabalhos de estudante (Inclusão e Sociologia)Trabalhos de estudante (Inclusão e Sociologia)
Trabalhos de estudante (Inclusão e Sociologia)
 
Aula1904
Aula1904Aula1904
Aula1904
 
Aula 2110 (reforma do ensino médio)
Aula 2110 (reforma do ensino médio)Aula 2110 (reforma do ensino médio)
Aula 2110 (reforma do ensino médio)
 
Eleições 2016
Eleições 2016Eleições 2016
Eleições 2016
 
Aula0706 (cultura do estupro - roteiro de leitura)
Aula0706 (cultura do estupro -  roteiro de leitura)Aula0706 (cultura do estupro -  roteiro de leitura)
Aula0706 (cultura do estupro - roteiro de leitura)
 
Regras de Convivência 2016
Regras de Convivência 2016Regras de Convivência 2016
Regras de Convivência 2016
 
Sentidos da Sociologia
Sentidos da SociologiaSentidos da Sociologia
Sentidos da Sociologia
 
Carta a SMED/SL
Carta a SMED/SLCarta a SMED/SL
Carta a SMED/SL
 
Aula0309
Aula0309Aula0309
Aula0309
 
Aula1408
Aula1408Aula1408
Aula1408
 
Desenhos para colorir (Afro)
Desenhos para colorir (Afro)Desenhos para colorir (Afro)
Desenhos para colorir (Afro)
 
O que é Sociologia (Iceberg)
O que é Sociologia (Iceberg)O que é Sociologia (Iceberg)
O que é Sociologia (Iceberg)
 
Manifesto ABECS
Manifesto ABECSManifesto ABECS
Manifesto ABECS
 
Ensoc Eduarda
Ensoc EduardaEnsoc Eduarda
Ensoc Eduarda
 
Direitos e Copa
Direitos e CopaDireitos e Copa
Direitos e Copa
 
Princípios do trabalho popular
Princípios do trabalho popularPrincípios do trabalho popular
Princípios do trabalho popular
 

Balanço do Coletivo de Estudantes de Ciências Sociais da UFRGS entre 2008-2010

  • 1. A ideia de escrever um balanço crítico referente a mobilização dos estudantes dentro do curso de Ciências Sociais do período relacionado a 2008 ao ano de 2010 (que se caracterizou em um formato de coletivo de estudantes) se mostrou necessário em virtude da formação e referendamento do Estatuto e, o processo eleitoral que culminou na atual gestão eleita (2010-2011). Esse balanço tem como objetivo principal manter o resgistro da experiência organizativa que buscava agregar novas formas de participação dos estudantes - mudando o foco de atuação da democracia representativa via processo eleitoral para uma democracia participativa - além de tentar quebrar a dicotomia existente no curso entre “partidões” (estudantes normalmente vinculados ou simpatizantes de algum partido político, no entanto, muitas vezes, essa delimitação extrapola a simples vinculação com os partidos políticos) e “anarcos” (estudantes que possuem afinidade com várias tendências de anarquismo e possuem em comum a oposição as instituições e qualquer forma de hierarquia); acreditamos que mesmo sendo uma experiência de um curto período de tempo ocorreram processos políticos importantes que questionam a prática usual da política estudantil dentro da Ciências Sociais da UFRGS. Queremos frisar que esse não é um texto acadêmico, por mais que se utilize de conceitos da ciência política, esse texto é acima de tudo um relato e uma busca por compreender o contexto em que estamos inseridos, tentando se utilizar de alguns conhecimentos adquiridos no curso, embora muitas vezes pouco consolidados. O Coletivo se propôs a articular uma parte burocrática/institucional (mais centralizada) a partir de uma nominata simbólica que colocava os estudantes articulados com departamentos, instituto e universidade; e outra parte de atuação, mobilização e construção de pautas/projetos/lutas (mais descentralizada) através da criação de comissões autônomas, sendo que a instância máxima de decisão entre os estudantes eram as assembleias. Com o formato de coletivo foi possível uma estrutura de organização que inexistia há dois anos no curso devido à não continuidade da gestão de 2006, última gestão “eleita”, na época, do CECS. Nesse formato ocorria a livre adesão de estudantes interessados, não havendo nenhum tipo de exclusão de ideias, agregando a diversidade de pensamentos e posições existentes no curso, gerando uma horizontalidade na organização e deliberação de propostas de ação. Esta forma descentralizada presou, primeiramente, as decisões consensuadas das demandas, pois este formato permitia igualdade entre todos os estudantes na medida do possível, caso contrario se utilizava a condição da maioria. O critério da maioria foi inserido na prática do coletivo, a partir das discussões do grupo, para evitar a recorrência de abstenções no posicionamento do CECS, em questões institucionais ou de importância política (pautas de relevância aos estudantes e/ou movimento estudantil). A estrutura organizativa do CECS se dava a partir dos seguintes eixos:
  • 2. E-mails ● Grupo de e-mails e-cecs - comunicação oficial ● Nominata simbólica ● Comissões ● Mateada ● Seminário de planejamento ● Assembleia A lista do emails e-cecs fora criada com a iniciativa de agregar um maior número de estudantes nas discussões e deliberações, pois as listas manuais não suportavam mais a quantidade de endereços e, também para facilitar e agilizar a comunicação entre o coletivo que estava em formação. Prezou-se a utilização de um grupo de e-mails, pois outras ferramentas virtuais, como a comunidade do curso no orkut, mostravam-se pouco efetivas no sentido de aglutinar pessoas interessadas em discutir e agir mais focadamente o movimento estudantil específico, fato que o e-cecs conseguiu desenvolver muito bem, durante o período que era a forma prioritária de comunicação. Para que o coletivo fosse reconhecido perante as instâncias universiátarias era necessário a composição de uma nominata que representasse o CECS burocraticamente. Para não restringir o processo deliberativo apenas entre as pessoas descritas na nominata (já que o coletivo tinha o objetivo de agregar a maior quantidade de estudantes possível na participação), a mesma se dominou simbólica, pois todos tinham comprometimento de discutir e deliberar sobre as pautas do curso. As comissões eram compostas em assembleia por livre associação dos estudantes, divididas por demandas definidas na mesma assembleia, colocando a responsabilidade de organização a um pequeno grupo de pessoas. Esse grupo tinha bastante autonomia nas suas ações, devendo repassar suas discussões e atividades para a coletividade. As mateadas eram reuniões abertas, realizadas semanalmente para discutir e organizar as pautas pensando em formas de ação relativas a isso. O seminário de gestão era a reunião de planejamento para o semestre seguinte, onde era definido um calendário prévio de atividades. A Assembleia era instância máxima de organização e decisão entre os estudantes de Ciências Sociais. Convocadas por qualquer estudante a partir de algum ponto polêmico ou que necessita-se de amplo debate. Para a construção de uma entidade estudantil dentro do curso de Ciências Sociais, o grupo que retomou essas discussões tinha consciência de alguns desenhos organizacionais poderiam ser utilizados para que não se gerasse grandes conflitos. Optou-se pelo formato de coletivo para, efetivamente, se colocar em pratica a reconstrução do CECS, pois uma gestão eleita era considerada
  • 3. centralizadora (demandas, discussões e decisões cabiam unicamente a gestão) e, os períodos de autogestão eram considerados momentos de apatia; gerando insatisfação ou em “anarcos” ou em “partidões” e consequentemente um imobilismo no prosseguimento da atividade estudantil do curso. Então se escolheu um formato alternativo que tentou contemplar a todos e que conseguisse articular o CECS aos interesses estudantis. A tentativa de construção deste modelo alternativo, que de certa forma rompesse com a tradição da política estudantil, acarretou alguns problemas originários do próprio arranjo de coletivo que se escolheu. O formato coletivo tentava contemplar “um pouco” de representação (legitimidade institucional e autorização do conjunto de estudantes de Ciências Sociais) “um pouco” de autogestão (autonomia e flexibilidade de atuação), mesmo que no início o grupo disposto a reconstruir o CECS não soubesse o que isso implicaria. Esse era o foco: uma busca por conciliação que possibilitasse “desengessar” a participação no movimento estudantil a nível micro. Porém, ao agradar “um pouco” a todos, o resultado da atuação desse modelo proposto, que a princípio diminuiria os conflitos entre esses dois grandes pólos em busca de consenso para as deliberações, demonstrou que o mesmo não era adequado a nenhum desses, portanto não conquistou a mobilização de uma parcela significativa dos estudantes. De maneira geral as duas gestões de coletivo foram coordenadas por estudantes que ainda buscavam espaço e entendimento dentro do movimento estudantil, ou seja, eram pessoas com pouca experiência política que estavam tentando descobrir o que era atuar coletivamente em um formato “diferente”. Apesar do esforço que os estudantes tiveram (o grupo que geriu o Coletivo era em torno de 5 pessoas, sendo auxiliados por cerca de outros 15 colegas) nos anos de 2009 e de 2010, o CECS enquanto coletivo reproduziu na prática a centralização que não desejava ter. Por mais que o debate e a organização se mostrassem abertos, as “gestões” foram construídas entre esse grupo (apesar de o mesmo ir se reconfigurando ao longo dos semestres). Essa centralização se tornou inevitável pela falta de participação mais ampla entre os diversos grupos que se interessaram em reconstruir da entidade de Ciências Sociais, e pela vontade de alguns estudantes de “fazer acontecer” o CECS. Outro fator que colaborou para que as atribuições de todos recaíssem em um pequeno grupo de pessoas decorreu da inoperância das comissões propostas. Para o funcionamento efetivo dessas instâncias, faltou alguém que se responsabilizasse pelas atividades do grupo e pudesse repassar os planejamentos/atividades realizadas ao CECS e demais estudantes. A única comissão que funcionou minimamente era a de Festas e Eventos que conseguia corresponder algumas dessas características. A falta de organização das demais acarretou na assimilação de diversas funções por aqueles que respondiam enquanto Coletivo. Quem respondia e atuava enquanto CECS não era
  • 4. necessariamente aqueles que compunham a nominata “simbólica”, portanto, dificultava a criação de uma referência a quem recorrer, tanto estudantes que não se envolviam com a entidade quanto as próprias comissões. Os descompassos entre o que se queria com o Coletivo e o que se conseguiu fazer e não correspondeu aos ideais iniciais é fruto da dificuldade de conciliar duas lógicas opostas de atuação. Constituir uma entidade estudantil é em si uma busca por representação, por pessoas que digam quais são os interesses, demandas, dificuldades, vontades e proposições de um grupo, nesse caso, estudantes de Ciências Sociais. Mas, a necessidade de os indivíduos se sentirem representados é reflexo de um modelo de democracia representativa, que se dá na transferência de autorização entre eleitor – candidato, por meio de um processo eleitoral. É com essa experiência representativa que os estudantes ingressantes no curso, em grande parte, estão familiarizados e reconhecem como prática política, da mesma forma que encontram dentro da universidade e/ou no movimento estudantil, os mesmos formatos, portanto, a tendência de quem quer participar é se adequar a essa dinâmica. Assim qualquer movimento no sentido de participar politicamente no curso é impelido a responder essas exigências, que mesmo subjetivas, existem, dificultando qualquer iniciativa que tente fugir das eleições. Caso não haja eleições, como foi o caso do Coletivo, o reconhecimento e a legitimidade perante os estudantes é bastante questionado mesmo que se tentasse buscar ambas as características no engajamento de todos e na abertura do processo. A nominata simbólica era uma forma do CECS ser considerado pela Universidade como entidade representativa (o que ocorreu efetivamente) mas ao mesmo tempo não limitasse a gestão; independentemente do reconhecimento institucional, a cultura política dos estudantes demonstrava o oposto. Esse contexto demonstrou que o CECS como coletivo, fora construído como alternativa ao processo tradicional de eleições para centro acadêmico, e também uma alternativa na busca de um conceito mais amplo de representação, utilizando-se de um processo extra-eleitoral na tentativa de aumentar a incidência de mobilização e capacidade de deliberação entre os estudantes. Porém, a tradição da política estudantil se apresentou como uma força que impediu um desenvolvimento mais efetivo dessa experiência de coletivo porque suas formas “estáveis” eram um contraponto a “experiência” gerando assim desconfiança nos estudantes a “novidade”, independentemente de sua capacidade integradora na conjuntura da Ciências Sociais da UFRGS. Acreditamos que, prioritariamente, o formato Coletivo não se desenvolveu devido a proposta de sua estrutura que não correspondia as práticas usuais da política e portanto não gerava legitimidade e credibilidade perante aos estudantes na sua organização, implicando na falta de participação que por sua vez estimulou a centralização das ações. Em conjunto a isso, muitos dos estudantes já envolvidos em alguma prática política, não visualizavam o Coletivo (ou o Centro Acadêmico) como
  • 5. espaço válido de ação coletiva. Secundariamente, mas não menos importante, a própria denominação do movimento de reconstrução do CECS em “coletivo” pode ter sido um erro, já que expressava no nome a perspectiva que se pretendia desenvolver, e não era tão bem inserida no curso essa crença quanto se esperava (situação que não tinha como prever na época), e nem uma ideia tão bem consolidada por parte dos participantes envolvidos. Talvez se tivéssemos mantido o CECS enquanto “centro”, mas um centro de estudantes autogestionário, o impacto fosse diferente nos estudantes. Em conjunto com esse fator, também há a falta de espaço físico de encontro e de trocas que proporcionassem condições de construção de um coletivo. Porém, apesar de todas as dificuldades e tentativas, muitas vezes frustradas de organização/atuação, pode-se afirmar que o Coletivo também teve muitas vitórias e conquistas. Da mesma forma que o formato “coletivo” pode ser apontado como um “problema”, num processo de ressurgimento de uma organização estudantil, não podemos exclui-lo como um “acerto”. Ser um coletivo trouxe para o movimento estudantil da ciências sociais, que apesar de um discurso já recorrente, a possibilidade de romper com a reprodução da lógica da democracia representativa, a chance de se fazer movimento na Ciências Sociais sem que as crenças, trajetórias e visões de mundo se sobrepusessem, mas que agissem de forma construtiva e não destrutiva; agregou ainda a necessidade de se pensar no estudante, no curso, na carreira, e pensar na conjuntura política geral conectada a isso. Além disso, abriu precedente para se questionar a dificuldade de atuação política enquanto Centro Acadêmico tendo em vista a diversidade de concepções políticas existentes nos diversos grupos que se constituem na Ciências Sociais; o desgaste de energia dos participantes com discussões que só visavam o engrandecimento pessoal e/ou de grupos; e o quebra-cabeça de linhas políticas para se poder conviver sobre o rótulo de “gestão” que também engessava a organização devido as discordâncias e oposições internas; para participar de outra forma, é necessário mudar a própria convivência no grupo que pretende atuar em conjunto. Com essa diversas atividades e/ou tentativas de ação, manteve a certeza de que a ideia e a experiência envolvidas nesse processo foram muito válidas, e por consequência a necessidade de registrá-la. A falta de consciência daqueles que tocaram o coletivo sobre todas as relações que estavam envolvidos, pode ter gerado uma falta de “organicidade”, e também a constante crítica de que só se é centro acadêmico se houver eleição. Assim, podemos pontuar que: o CECS voltou a ser reconhecido como instância deliberativa dos estudantes por parte dos departamentos, do instituto e da Universidade; fatos que podem ser “comprovados”, minimamente, com a participação na Reforma Curricular de 2009, na inserção em reuniões da unidade e envio de
  • 6. ofício a SAE sobre a extensão dos benefício das passagens a moradores da região metropolitana (conquistado em 2009). Voltou a se ter, fraca ou não, a noção de existência de um “CECS” entre os discentes e a possibilidade de contato/interação/envolvimento com o grupo do coletivo; o que é um ponto bastante importante. Com uma melhora na comunicação, em virtude do e-cecs, do blog, e do envio de e-mails pela COMGRAD, os estudantes sabem o que está acontecendo, assim como podem participar/opinar/criticar, oportunizando transparência nos processos que o coletivo se envolveu, além de accountability das ações desenvolvidas. O foco na construção coletiva fez com que muito fosse feito, mesmo que esse ideal tenha se restringido ao pequeno grupo, porém esse pequeno grupo pode experenciar e por em prática durante o período do coletivo diversas atividades como: acompanhamento dos candidatos ao curso no vestibular (apoio a vestibulandos e familiares, venda de café, adesivos, camisetas), atividades de integração na matrícula (junto com auxílio a cadeiras e dúvidas do curso) e nos primeiros dias de aula (trote); atividades de confraternização com os alunos e arrecadação de fundos para futuras ações com as festas (cecs, orégano e rock’n’roll I à V, cecs volta ao mundo, cecs no dce...); com a mediação da confecção dos cartões do TRI e de materiais do curso (mochilas, adesivos e camisetas). Além da política de prestação de contas, rotinização das mateadas, arquivo de relatorias (blog e e-cecs), realização de seminários de gestão, participação em ERECS (possibilidade de ida ao ENECS 2009 e 2010 passaram por discussão mas foram descartadas); presença nos atos “Fora Yeda”, no envolvimento na questão do parque tecnológico. Ainda com a construção de informativos aos bixos (2009 e 2010), realização de uma semana acadêmica e um ciclo de debates; organização e realização de duas “Copa de Futebol Três Porquinhos”. Por fim, o planejamento de uma “formação de RDs” (Representantes Discentes junto ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas), discussão do Estatuto e do “caso clê”. Tantos resultados frutos de um pequeno grupo, com certeza pode se multiplicar com o engajamento de um número cada vez maior de estudantes. Portanto, esse balanço fora escrito como tentativa de rever a experiência passada, considerando o Coletivo, como o registro mais atual de uma forma alternativa e mais horizontal de ação, documentá-lo de forma virtual e impressa pode auxiliar para que não se cometa os mesmos erros na atual e nas próximas gestões do CECS (seja ele coletivo, centro de estudantes ou centro acadêmico) e afim de estimular a discussão sobre novas/outras formas de participação política e engajamento no movimento estudantil dentro do curso de ciências sociais. A análise feita nesse balanço, nos auxiliou a pensar o que o formato de “coletivo” representa/ou e quais seus limites. Desta forma, conseguimos perceber que muitos dos obstáculos enfrentados pelo Coletivo, também ocorrem/podem ocorrer
  • 7. em gestões eleitas, tais como: centralização de funções em um pequeno grupo ocasionada pela falta de participação, falta de objetivos mínimos comuns (“programa mínimo”) o que consequentemente levava ao fraco comprometimento na militância da entidade, além da dificuldade na comunicação interna e na divisão de tarefas. Mas também, ajudou a delinear caracteristicas que poderão ser fundamentais para uma futura tentativa mais consistente de quebra nos paradigmas da democracia representativa no contexto do movimento estudantil de ciências sociais. No entanto, as similaridades não constituem um mesmo formato político, já que no coletivo o “empoderamento” ocorre através das assembléias e as gestões do centro de estudantes por meio das eleições, dessa forma, no primeiro arranjo, quem faz parte do grupo de atuação são todos os que participam, ao contrário do segundo, no qual faz parte apenas quem é eleito e concorda em seguir determinados eixos. No coletivo, não existe “programa” pré-estabelecido, as focos de trabalho e participação serão determinados por aqueles que estiverem envolvidos no processo decisório, enquanto na gestão eleita, o programa se faz extremamente necessário antes do pleito, para poder congregar os iguais sob determinadas linhas políticas, e posteriormente o guia para as ações e pautas a serem desenvolvidas. O objetivo do CECS para esses dois modelos também diverge, o Coletivo visava sanar as necessidades dos estudantes de Ciências Socias a partir de sua realidade, o Centro de Estudantes busca/va sanar as necessidades dos estudantes de Ciências Sociais a partir da conjuntura geral do movimento estudantil nacional. Na organização, um tinha as instâncias de horizontalidade a base da sua existência (na época, comissões) o outro possui a mesma estrutura (atualmente, GTDs) mas, como auxiliar da gestão. O princípio orientador na deliberação para o CECS coletivo era o diálogo, portanto, a busca pela formação do consenso era determinante, assim como a decisão ocorria a partir da adesão de qualquer estudante; para o CECS centro de estudantes o eixo que orienta a escolha é a maioria, expressa pelas posições disputadas dentro do grupo que possuiu a legitimidade de representação. Entender a conjuntura, relações e processos pelos quais passou o coletivo, associada com uma breve comparação com o modelo gestionário, auxilia a pensar o que não repetir de erro enquanto coletivo, e no atual momento, como essa experiência pode contribuir para a constituição de um centro de estudantes de ciências sociais menos tradicional. Isto é, não reproduzindo mecanismos e situações inerentes a democracia representativa, como o baixo envolvimento dos representados na deliberação referente as demandas exigidas pelo curso/pelos estudantes, a concentração do poder nas mãos de poucos - que devido ao processo de legitimação, teoricamente estão autorizados a tomar as decisões se não por todos, ao menos por aqueles que participaram do processo eleitoral - e a seletividade de demandas e ações - o foco no programa de chapa que torna-se o programa da gestão, mesmo havendo dentro da gestão, espaços alternativos de engajamento, causando um estreitamento
  • 8. das possibilidades de agenda política. Entretanto, pensar em um movimento estudantil que consiga agregar mais discentes, ser mais amplo em seus horizontes de atuação e possuir uma estrutura organizativa que possibilite a concretização de projetos, esbarra não só em um problema prático como um problema teórico. O movimento estudantil que se foca na eleição e na representação de todos os estudantes possuiu a legitimidade e o respaldo de grande parte da comunidade universitária, mesmo esbarrando em limites já expostos, ainda é uma forma reconhecida de fazer política. Porém, ao mesmo tempo, o movimento estudantil que conhecemos, excluiu muitas questões pertinentes por serem consideradas “menores”, por serem consideradas pouco efetiva para a “luta”, ainda mais quando falamos em Ciências Sociais. Em um curso extremamente teórico e que muitos ingressantes buscam por vislumbrar a possibilidade de “entender a sociedade e transformá-la”, há um descompasso entre o teórico e o prático, ponto de discussão que por si só é excluído dos debates do movimento estudantil por ser considerado “acadêmico”. A questão prática em nossa área recai, em grande parte, nas formas de fazer política e as formas de atuar como cientista social no mercado de trabalho. Tais pontos são bastante limitados nas preocupações do movimento estudantil, pois não há espaço para se discutir novas formas de fazer política ou atualização/revisões teóricas dos modelos já usados, além de ser praticamente impossível falar em formas economicamente viáveis de sustento com Ciências Sociais sem ser taxado de “conservador”. Contudo, quando se busca fazer pequenas mudanças nos modelos usuais de se atuar no movimento estudantil , que possa gerar o espaço que muitas vezes falta para e que haja mais contribuições e divergências, as pessoas se sentem inseguras em se engajar em em um formato que não estão habituadas, da mesma forma que tem a sensação de fracasso, já que é uma experiência. Os problemas expressos não fazem parte desse balanço responder, tendo em vista que muito desses dilemas ainda precisam ser debatidos, articulados e consolidados na teoria política. Com a experiência realizada podemos traçar algumas possibilidades de atuação. Faz necessário testar novas formas de fazer política, novas formas de se organizar, buscar ultrapassar as limitações que encontramos no fazer política estudantil; não existem respostas prontas para isso, dessa forma se torna de grande importância pesquisar, discutir e experenciar tentativas e, posteriormente refletir sobre elas, para se pontuar o que se deve repetir e melhorar ou o que definitivamente não se deve fazer, assim facilitando a organização em uma fase posterior. Da mesma forma têm igual importância demonstrar para os estudantes ingressantes outras perspectivas de se participar, estimulando a inserção nessa construção de possibilidades, e tentando interessar discentes que já vêm desacreditados do processo político. Outra questão extremamente pertinente é pensar em um projeto de Centro
  • 9. Acadêmico. Mais que um programa, mais que amigos juntos, para que um CA possa borrar um pouco os limites entre os modelos de democracia e isso seja efetivo, deve haver comprometimento, organicidade, pertencimento. Esses elementos só existirão e impulsionarão a concretização de planos se houver um projeto sério para a entidade, uma delimitação teórica-política compartilhada por todos que se sentirem a vontade, com objetivos comuns possibilitando, uma estrutura mínima de troca de idéias, construção e efetivação de tarefas, além de formas que estimulem a ação coletiva. Assinam esse balanço: Eduarda Bonora Kern (2007) Priscila Alves Rodrigues (2008) Michele Lima Leão (2009) Pedro Bittar (2010)