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Por Danilo Thiago de Castro - na seção "Notas em Arquivo"
Nossa cidade sempre apresentou tipos humanos que por suas características marcaram época,
o lugar comum nas cidades brasileiras, não interessando o porte das mesmas. Tipos populares
sem conta, com sua gama de manias, enfeitaram nossas ruas dando um colorido que hoje não
vemos mais; até nisso estamos marcando passo, não bastando outros setores. Hoje
recordaremos uma figura muito humana, merecedora do nosso respeito, apesar de ter sido um
marginal da sociedade. Passo neste momento a palavra á Thiago Vieira de Castro que, num
escrito datado de 14/8/65, deixou a rápidas pinceladas, um pouco da vida pública de ADÃO
ANTUNES, o qual conheci também no fim de sua vida. "Muito embora se trate de um ignorante,
na expressão da palavra, revestido das mais exageradas condições de humildade, homem
simples, de cor, filho de escrava, cujos atributos que possuía como prestativo serviçal a
credenciarem a sua alforria muito antes de 1888, quando da abolição, não obstante tornou-se
um marginal da vida e assim viveu por longos anos até que eclipsou-se com avançada idade.
Mesmo nestas características não está impedido de ser lembrado o seu nome e seus feitos;
lembrado com carinho e a máxima admiração se quizermos justificar o porque da inclusão do
seu nome na órbita da gratidão pública, merecedor de uma homenagem pois que para tanto
sobejam-lhe belas qualidades ao par de invulgares merecimentos. Entre nós tivemos inúmeros
desses obscuros marginais que, por esta ou aquela circunstância ou meios como viviam, se
tornaram tipos vulgares, populares que conosco se familiarisaram, ora divertido ou
encomodando adultos, ora assustando ou servindo de inconscientes palhaços à molecagem
desenfreada que sempre infestaram nossas ruas e praças, para gáudio das muitidões famintas
de sensações e indiferentes ao doloroso penar de seu semelhante, salvo honrosas excepções.
Representando a enorme classe dessas infelizes e vulgares criaturas que no passado viveram a
vida das ruas, destacamos hoje, apenas uma que, pela sua obstinada dedicação em bem servir
a todos, sem nenhum interesse pecuniário, o fazia com invulgar presteza, pois era esta a sua
marcante predileção. De uma solicitude à toda prova, o preto: ADÃO ANTUNES, ou melhor, o tio
Adão ou o Adãosinho como geralmente era reconhecido; foi, não apenas a primeira creatura
útil, utilíssima à nossa terra em época remota, mas, possivelmente, o único e mais notável
servidor do povo, pelas muitas maneiras como o fazia, trazendo nos lábios um permanente
sorriso de satisfação do dever cumprido. Num caso de doença n'uma família ou em outra
oportunidade, o Adão lá estava na cozinha, dias inteiros ou noites à fio até ao amanhecer como
uma estátua de carne, de braços cruzados à espera de uma ordem para chamar o médico, ir à
farmácia se preciso fosse, dar um recado, por lenha no canto, fazer fogo ou buscar água na
cacimba da Santa Cruz, para encher os barris das cozinhas de chão e com que satisfação o fazia,
não importando o tempo e a hora. Com alegria espalhava pela cidade a notícia de que o doente
tinha melhorado e com tristeza anuncia o seu falecimento, sem que lhe fosse perguntado. A
hora do enterro, onde sua presença se fazia notar com admirável prontidão, empertigado, de
calças brancas arregaçadas, envergando o velho 'croisée' de sarja preta, já se tornando
esverdeado pela surra do tempo, pés descalços que nunca viram um sapato, lá ia o Adão à frente
sobrecarregado de coroas ou flores naturaes, trazendo a cruz de madeira para assinalar o lugar
do sepultamento, emprestando o ato aquela solenidade e respeito tão característicos dos velhos
tempos. Fervoroso apaixonado pela música, orgulhoso acompanhava nas ruas e nas festas o
desfilar da banda do Lourencinho, carregando debaixo do braço as pastas com as partituras,
serviço prestativo que fazia com pontualidade, nunca consentindo que outros o fizessem! Sobre
a vida dessa dedicada criatura, a presente cronica pouco diz, pois teriamos assunto para um
romance, se quizermos conhecer todas as suas passagens, muitas das quais fomos testemunhas
oculares. Aqui fica a palida homenagem a um homem bom e simples, sugerindo aos nossos
legisladores um ato de inteira justiça ainda não verificado, dando à uma rua de nossa cidade o
seu nome, como mérito que possuia como grande servidor da família lageana, família que não
poderá nunca negar haver recebido um favor do Adãosinho. Com este ato de indiscutível justiça,
já que o fizeram para quem nada fez à coletividade lageana, aqui fica a sugestão. Merecida
homenagem como preito de gratidão. (ass. Thiago Vieira de Castro)
Legenda da foto: Adão Antunes - filho de uma escrava do cel. Juca Antunes; foi porta-estandarte
e das partituras da banda de música São João do Deserto (1886), criada para o partido liberal,
dentro da selaria de Gaspar Lima. Seu último engate foi a "Harmonia Lageana", sob o comando
de Maneco de Melo que, por coincidência, fazia parte da banda do partido liberal (foto no
Museu Thiago de Castro). O conheci, ainda carregando água de Santa Cruz; no jogo do bicho
(não jogava) mas tinha a mania pela "barbulêta". Carregava uma folha amarrotada de papel
almáço e dizia que o casamento ainda não tinha saído porque "os papé tavaum tudo errado".
Caducando muito em 1932, lembro-me quando tio Adão sentado nas escadarias do Teatro
Municipal, esfregando um cavaco no outro dizia que "estava fazendo luiz". Talvez o dia mais feliz
de sua vida, tenha sido o desta fotografia, porque no seu colo estava um instrumento musical
da sua querida banda de música "HARMONIA LAGEANA".
Correio Lageano, 20/02/1983

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Adao antunes

  • 1. Por Danilo Thiago de Castro - na seção "Notas em Arquivo" Nossa cidade sempre apresentou tipos humanos que por suas características marcaram época, o lugar comum nas cidades brasileiras, não interessando o porte das mesmas. Tipos populares sem conta, com sua gama de manias, enfeitaram nossas ruas dando um colorido que hoje não vemos mais; até nisso estamos marcando passo, não bastando outros setores. Hoje recordaremos uma figura muito humana, merecedora do nosso respeito, apesar de ter sido um marginal da sociedade. Passo neste momento a palavra á Thiago Vieira de Castro que, num escrito datado de 14/8/65, deixou a rápidas pinceladas, um pouco da vida pública de ADÃO ANTUNES, o qual conheci também no fim de sua vida. "Muito embora se trate de um ignorante, na expressão da palavra, revestido das mais exageradas condições de humildade, homem simples, de cor, filho de escrava, cujos atributos que possuía como prestativo serviçal a credenciarem a sua alforria muito antes de 1888, quando da abolição, não obstante tornou-se um marginal da vida e assim viveu por longos anos até que eclipsou-se com avançada idade. Mesmo nestas características não está impedido de ser lembrado o seu nome e seus feitos; lembrado com carinho e a máxima admiração se quizermos justificar o porque da inclusão do seu nome na órbita da gratidão pública, merecedor de uma homenagem pois que para tanto sobejam-lhe belas qualidades ao par de invulgares merecimentos. Entre nós tivemos inúmeros desses obscuros marginais que, por esta ou aquela circunstância ou meios como viviam, se tornaram tipos vulgares, populares que conosco se familiarisaram, ora divertido ou encomodando adultos, ora assustando ou servindo de inconscientes palhaços à molecagem desenfreada que sempre infestaram nossas ruas e praças, para gáudio das muitidões famintas de sensações e indiferentes ao doloroso penar de seu semelhante, salvo honrosas excepções. Representando a enorme classe dessas infelizes e vulgares criaturas que no passado viveram a vida das ruas, destacamos hoje, apenas uma que, pela sua obstinada dedicação em bem servir a todos, sem nenhum interesse pecuniário, o fazia com invulgar presteza, pois era esta a sua marcante predileção. De uma solicitude à toda prova, o preto: ADÃO ANTUNES, ou melhor, o tio Adão ou o Adãosinho como geralmente era reconhecido; foi, não apenas a primeira creatura útil, utilíssima à nossa terra em época remota, mas, possivelmente, o único e mais notável servidor do povo, pelas muitas maneiras como o fazia, trazendo nos lábios um permanente sorriso de satisfação do dever cumprido. Num caso de doença n'uma família ou em outra oportunidade, o Adão lá estava na cozinha, dias inteiros ou noites à fio até ao amanhecer como uma estátua de carne, de braços cruzados à espera de uma ordem para chamar o médico, ir à farmácia se preciso fosse, dar um recado, por lenha no canto, fazer fogo ou buscar água na cacimba da Santa Cruz, para encher os barris das cozinhas de chão e com que satisfação o fazia, não importando o tempo e a hora. Com alegria espalhava pela cidade a notícia de que o doente tinha melhorado e com tristeza anuncia o seu falecimento, sem que lhe fosse perguntado. A hora do enterro, onde sua presença se fazia notar com admirável prontidão, empertigado, de calças brancas arregaçadas, envergando o velho 'croisée' de sarja preta, já se tornando esverdeado pela surra do tempo, pés descalços que nunca viram um sapato, lá ia o Adão à frente sobrecarregado de coroas ou flores naturaes, trazendo a cruz de madeira para assinalar o lugar do sepultamento, emprestando o ato aquela solenidade e respeito tão característicos dos velhos tempos. Fervoroso apaixonado pela música, orgulhoso acompanhava nas ruas e nas festas o desfilar da banda do Lourencinho, carregando debaixo do braço as pastas com as partituras, serviço prestativo que fazia com pontualidade, nunca consentindo que outros o fizessem! Sobre a vida dessa dedicada criatura, a presente cronica pouco diz, pois teriamos assunto para um romance, se quizermos conhecer todas as suas passagens, muitas das quais fomos testemunhas
  • 2. oculares. Aqui fica a palida homenagem a um homem bom e simples, sugerindo aos nossos legisladores um ato de inteira justiça ainda não verificado, dando à uma rua de nossa cidade o seu nome, como mérito que possuia como grande servidor da família lageana, família que não poderá nunca negar haver recebido um favor do Adãosinho. Com este ato de indiscutível justiça, já que o fizeram para quem nada fez à coletividade lageana, aqui fica a sugestão. Merecida homenagem como preito de gratidão. (ass. Thiago Vieira de Castro) Legenda da foto: Adão Antunes - filho de uma escrava do cel. Juca Antunes; foi porta-estandarte e das partituras da banda de música São João do Deserto (1886), criada para o partido liberal, dentro da selaria de Gaspar Lima. Seu último engate foi a "Harmonia Lageana", sob o comando de Maneco de Melo que, por coincidência, fazia parte da banda do partido liberal (foto no Museu Thiago de Castro). O conheci, ainda carregando água de Santa Cruz; no jogo do bicho (não jogava) mas tinha a mania pela "barbulêta". Carregava uma folha amarrotada de papel almáço e dizia que o casamento ainda não tinha saído porque "os papé tavaum tudo errado". Caducando muito em 1932, lembro-me quando tio Adão sentado nas escadarias do Teatro Municipal, esfregando um cavaco no outro dizia que "estava fazendo luiz". Talvez o dia mais feliz de sua vida, tenha sido o desta fotografia, porque no seu colo estava um instrumento musical da sua querida banda de música "HARMONIA LAGEANA".