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Inocência


Luiz Gonzaga Pinheiro
Oh inocência
que eu perdi
 entre uma
 dor e outra
E cuja falta
me angustia
A tua
ausência
me secou
os olhos
Cujos
espelhos não
 te refletem
     mais
Oh
inocência
   dos
balbucios
Que as
  palavras
corretas me
 roubaram
Inocência dos
primeiros passos
Que a passada
  firme foi
 esmagando
Inocência
   do
desapego
De não imaginar
    ciladas
De perceber
borboletas e
passarinhos
Nos canteiros
dos cemitérios.
Inocência que
cheirava a jasmim
Que tinha a
maciez dos
  lençóis
 bordados
Dos olhos
vigilantes da
 minha mãe
E dos açúcares
da minha avó
Inocência que
   via nas
 imagens dos
   santos
Nas falas dos
 religiosos
Nos cachorros
  vadios
Que se
espalhava em
 cachos e em
  peles sem
  cicatrizes.
Mas o tempo
devorador
Roubou essa
 inocência
Sua cartilha
sem poesia foi
me mostrando
   a mágoa
A revolta, a
 estupidez
  humana
E eu, videira fértil,
 sequei os frutos
Estanquei a fonte
    dos risos
Mandei
embora a
gentileza
E me fechei na
indiferença do
     medo
E nunca mais voltei a ser eu
         mesmo.
Inocência
Oh inocência que perdi entre uma dor e outra
          E cuja falta me angustia
     A tua ausência me secou os olhos
    Cujos espelhos não te refletem mais
         Oh inocência dos balbucios
   Que as palavras corretas me roubaram
       Inocência dos primeiros passos
    Que a passada firme foi esmagando
           Inocência do desapego
          De não imaginar ciladas
   De perceber borboletas e passarinhos
        Nos canteiros dos cemitérios.
      Inocência que cheirava a jasmim
 Que tinha a maciez dos lençóis bordados
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        E dos açúcares da minha avó
Inocência que via nas imagens dos santos
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 Sua cartilha sem poesia foi me mostrando a mágoa
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         E eu, videira fértil, sequei os frutos
             Estanquei a fonte dos risos
            Mandei embora a gentileza
        E me fechei na indiferença do medo
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