O surgimento do Modernismo na literatura portuguesa
1. O MODERNISMO
Entre a década de 80 do séc. XIX e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) surge o
Modernismo, a traduzir a inquietude de uma época em crise e de grande agitação social
( a decadência da Monarquia, o Ultimato, o Regicídio, a implantação da República...)
Durante este largo período (aproximadamente duas décadas), diversas correntes
estéticas procuram a novidade contra o estabelecido, numa clara reacção aos valores e
aos sistemas políticos, sociais e filosóficos em vigor (considerados inadequados aos
tempos modernos). Essas correntes agrupavam-se genericamente em duas vertentes:
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Umas, de caracter novi-romântico, permitem movimentos tradicionalistas como
o neo-garretismo, o nacionalismo e o integralismo;
Outras, procurando-se separar da burguesia e do seu materialismo, tentam a
ruptura, apregoando a liberdade criadora, o cosmopolitismo, a originalidade,
todas as formas capazes de traduzir uma nova realidade para a sua
contemporaneidade. Estas novas experiências, denominadas de Vanguarda ou
Vanguardismo, irão constituir o Modernismo, que abrange ou recobre todos os
ismos: futurismo, cubismo, impressionismo, dadaísmo, expressionismo,
interseccionismo, paulismo, sensacionismo...
Fernando Pessoa (educado na África do Sul sob a influência da cultura inglesa), Mário
de Sá-Carneiro, Almada-Negreiros (estes dois bebendo em Paris as últimas novidades
literárias e plásticas – Almada-Negreiros também foi pintor...- do Futurismo e de outras
correntes modernas), entre outros, que fizeram no Saudosismo a sua iniciação,
rapidamente transitam para o Modernismo com todas as influências das correntes
estéticas e filosóficas europeias. Com eles surge a revista Orpheu (em 1915, de que
saíram apenas dois números) a traduzir as novas ideias e a marcar o arranque do
movimento modernista.
Os homens deste movimento escandalizaram e assustaram os intelectuais e a sociedade
«bem pensante» da época (foram apelidados de “loucos” e “malucos”), tal a sua
inclinação para o desprezo do bom senso, com tendências que evolucionavam do
sebastianismo mais delirante até às ciências ocultas e à astrologia. (O Modernismo
nasce da crise da Consciência – Freud, a Psicanálise e os domínios do inconsciente e do
subconsciente- e da crise da Razão, da Moral e da própria Ciência).
O que estes homens (do Orpheu) queriam, em primeiro lugar, era escandalizar,
procedendo assim a uma reviravolta no panorama da literatura portuguesa de então que
só os entediava.
Ao mesmo tempo que se mostravam demolidores dos sistemas ideológicos tradicionais,
estes homens impunham também um conceito novo de arte, substituindo o conceito de
belo (imitação harmoniosa da natureza), herdado da velha estética aristotélica. Queriam
uma estética que espelhasse o mundo progressivo do futuro, uma estética dinâmica e
agressiva.
(A literatura está, agora, muito associada às artes plásticas: há poemas que realçam o
aspecto do grafismo – caligramas, arranjos tipográficos...- como há quadros que
recorrem às palavras...)
2. Surge assim uma poesia que provoca novos modos poéticos e estéticos que vão contra a
linha tradicional. A ousadia dos poetas modernistas exigia-lhes o recurso a uma inteira
liberdade de escrita como forma adequada de comunicarem os seus mais profundos
sentimentos. Daí o recurso ao verso livre, às metáforas e imagens arrojadas... Recorre-se
ainda ao mundo da técnica, ao estilo da força física, do mecanismo e da própria
violência.
O espírito vanguardista apela à aventura, numa preocupação constante com o futuro.
Os principais temas desta nova expressão artística são a euforia do moderno, que
rapidamente conduz ao tédio existencial; a dissolução do sujeito, que conduz,
frequentemente, ao suicídio; o esforço ridículo do autoconhecimento, entre outros.