SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Aluno: Jean Michel Gallo Soldatelli

Prova final – FLP0425 – Teorias do Comportamento Eleitoral e Identidade
Ideológica

Prof. André Singer – período noturno



Utilizando a bibliografia obrigatória do curso, exponha qual é, em sua visão, a lógica
do eleitorado brasileiro. Procure exemplificar seu ponto de vista com os casos
estudados.


Apesar da jovem democracia, a formação do pensamento do eleitorado
brasileiro vem se constituindo há tempos, antes mesmo de quando o mesmo
tinha poder de voto. Passando do populismo de Getúlio Vargas às Diretas, a
criação de um pensamento político estruturado na sociedade brasileira sempre
foi um desafio. Historicamente, eleitores se moldam de acordo com a situação
atual do país, deles próprios, ou de sua classe.

Iniciando as análises pelo populismo, que surgiu quando havia uma brecha de
comando após a queda da burguesia agrária, percebemos que Getúlio Vargas
se uniu a burguesia para um governo que através de uma série de direitos
coletivos cai nos braços do povo. Com essa idéia, percebemos que o proletário
faz um salto individual, e desta forma tem um pensamento individualista onde o
salto social tem uma menor importância.

O populismo não é de classe, é da massa. Afinal, a classe é organizada e
organiza o poder, prova disso são, por exemplo, as centrais sindicais que
posteriormente seriam um dos berços de um dos maiores partidos do país
atualmente. Já a massa é desorganizada, logo precisa de alguém para
organizá-la. Desta forma, podemos perceber que a sociedade via o governo
como uma necessidade, é o meio para que as melhorias possam acontecer.
Esta necessidade de um governo forte tem raízes ainda no coronelismo, onde
o coronel centralizava as necessidades e os benefícios em troca do controle
político. E hoje, revivemos um novo tipo de populismo, onde através do
enriquecimento do país uma série de medidas taxativas tornaram possíveis um
conjunto de benefícios as classes mais baixas da sociedade, voltando a lógica
do salto social.
Desta primeira análise podemos tirar uma hipótese interessante: uma grande
parte da população é massa, que vota de acordo com os benefícios adquiridos.
Portanto, a população tem como um padrão de voto baseado nas melhorias
econômicas: se a economia vai bem, a situação provavelmente fica no poder,
do contrário a oposição ganha. E como a grande maioria do eleitorado não
possuí um voto ideológico, se as coisas estiverem ruins a oposição irá ganhar,
independente de qual seja essa oposição.

Um dos pontos mais interessantes para analisarmos a lógica do eleitorado
brasileiro são as conexões que fazem na hora de compor o raciocínio e, com
isso, como se enquadram nos diferentes tipos grupos de votos. O problema é
que estas conexões demandam um alto nível de conhecimento não apenas
sobre política, mas econômicas, sociais, psicológicas, entre outras. E o povo
brasileiro, em sua grande parte, não possuí estes conhecimentos e muitas
vezes nem o interessa tê-los. Isso acontece por inúmeros motivos, que vão
desde fatores familiares (eu gosto de certo candidato pois minha família gosta)
até pela própria descrença no sistema de governo, o que torna o eleitor
acomodado e menos propenso a sequer estipular suas próprias opiniões.

Visto isso, podemos analisar o eleitorado brasileiro é usando como base a
separação nos grupos de votos: ideológico, quase-ideológicos, interesses de
grupo, nature of times e sem centralidade. A porcentagem dos grupos
considerados ideológico ou quase-ideológicos (aqueles que fazem todas ou
quase todas as conexões de idéias) não é suficiente para a eleição ou não de
alguém ou algum partido. Portanto, as decisões ficam nas mãos de três grupos:
aqueles que possuem interesses de grupo, e aí podemos incluir tanto raças,
religiões, níveis sociais, entre outros; aqueles que votam com um critério
comparativo, chamados de “nature of times”, ou seja, votam no Alckmin pois
acham que na época do FHC era melhor; e por último, e mais definitivo, os
“sem centralidade”, que decidem seus votos de acordo com critérios como
simpatia, e portanto são os mais atingidos pela propaganda política. Com isso,
podemos chegar em outra hipótese: o eleitorado brasileiro tem dificuldades ou
desinteresse em realizar conexões lógicas e não entende as ideologias como
um todo, e assim as decisões são moldadas de acordo com interesses
individuais ou propagandas políticas. Desta forma a coerência passa
despercebida, o que explica o alto número de promessas contraditórias feitas
apenas para angariar a maior fatia do eleitorado possível, como por exemplo o
aumento do bolsa família e a diminuição dos impostos.

Outro ponto que define a lógica do eleitorado brasileiro são os objetos de voto,
ou seja, os partidos. Nossos governantes são eleitos por votos majoritários, e
as eleições majoritárias tendem ao bipartidarismo. Porém, o caso brasileiro não
é tão maniqueísta como o americano pela presença de outros partidos que
forçam uma maior dispersão na linha do posicionamento político. Por exemplo,
a presença do PFL, partido visto como bem mais extremista do que o PSDB na
direita, acaba forçando este a tender mais para o centro. No outro lado isso não
é diferente, já que o PSOL por exemplo é bem mais extremista que o PT. A
diferença fica por conta do PMDB, que pelo menos nas décadas de 80/90
representavam os interesses do centro. A queda de popularidade do PMDB por
conta da falta de identificação sociológica com o povo acabou o empurrando
para a direita, apesar disso a herança do coronelismo preserva suas forças o
que o torna indispensável para o governo. Este deslocamento do PMDB abriu
espaço para dois movimentos: a abertura do espaço dominado pelo PT na
centro-esquerda e a tentativa de novos partidos (mas velhas figuras) de
abocanharem esta brecha de posicionamento, como acontece agora com o
PSD.

Assim temos um conjunto de partidos que se moldam ao perfil do consumidor e
que apesar de se posicionarem como de esquerda, centro, ou direita, abraçam
algumas mesmas causas em busca de popularidade. Isto reforça a menor
importância da ideologia frente o partido. Ou seja, a identificação partidária é
muito mais forte do que a identificação ideológica. Continuando o raciocínio, a
identificação com o candidato é por vezes maior que a identificação partidária,
pois se identificar com uma pessoa é muito mais fácil do que se identificar com
crenças e objetivos. Isso ajuda a explicar, por exemplo, a popularidade de Lula
mesmo no período onde seu partido sofreu com as acusações de corrupção,
ele usou a identificação pessoal e os benefícios propostos e se afastou da
característica partidária para ser eleito. Por outro lado, em cargos com menor
envolvimento pessoal, como deputados e vereadores, as decisões são
tomadas com grande influência partidária, o que indica a forte ligação partidária
frente a ideológica.

Portanto, na minha visão, podemos analisar o eleitorado brasileiro como um
eleitorado que ainda precisa amadurecer, ainda é bastante influenciado por
suas raízes históricas e possuí uma alta desinformação e descrença em
ideologias, o que o torna mais manipulável pelos partidos e candidatos.

Com tudo isso, podemos construir algumas hipóteses sobre a lógica do
eleitorado brasileiro.

A primeira é a de que as raízes da formação do pensamento do eleitor
brasileiro estão mais fortes na história do que nos fatos ou na ideologia dos
partidos.

Outra hipótese que podemos considerar é que o voto partidário é muito mais
forte do que o voto ideológico no Brasil.

Por último a fragilidade da conexões lógicas e da ideologia no eleitorado
brasileiro.

Por fim, a principal tese que consideraria é que o processo de decisão e a
conexão das idéias da maioria dos brasileiros é simples.




Voto retrospectivo, onde o eleitor está preocupado com os resultados e os
governantes são os meios, desta forma ele coloca a racionalidade no passado,
ou seja, ele não sabe como resolver mas sabe quem resolveu.




Voto prospectivo, ideológico, ou seja, pautado na equiparação de valores e na
busca de informações para que se faça uma conexão lógica que defina os
candidatos e partidos que mais se assemelham ao seu pensamento.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Análise da lógica do eleitorado brasileiro

A importância da politica em nosso cotidiano
A importância da politica em nosso cotidianoA importância da politica em nosso cotidiano
A importância da politica em nosso cotidianoYanka Kessia
 
A importância da politica
A importância da politicaA importância da politica
A importância da politicaPsico Vida
 
Quem é o seu líder e com quem eu negocio? Dilemas do defasado sistema políti...
Quem é o seu líder e com quem eu negocio?  Dilemas do defasado sistema políti...Quem é o seu líder e com quem eu negocio?  Dilemas do defasado sistema políti...
Quem é o seu líder e com quem eu negocio? Dilemas do defasado sistema políti...Marcelo Pilon
 
Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas
Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelasOrientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas
Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelasFavela é isso aí
 
O crescimento da extrema direita no Brasil - Esther Solano
O crescimento da extrema direita no Brasil - Esther SolanoO crescimento da extrema direita no Brasil - Esther Solano
O crescimento da extrema direita no Brasil - Esther SolanoMiguel Rosario
 
Reforma Política
Reforma PolíticaReforma Política
Reforma PolíticaPT Paraná
 
Caderno 3 aula 16 partidos políticos e eleições (4)
Caderno 3 aula 16   partidos políticos e eleições (4)Caderno 3 aula 16   partidos políticos e eleições (4)
Caderno 3 aula 16 partidos políticos e eleições (4)Silvia Cintra
 
Apresntação de slide,tema "Filosofia politica,poder e Estado"
Apresntação de slide,tema "Filosofia politica,poder e Estado"Apresntação de slide,tema "Filosofia politica,poder e Estado"
Apresntação de slide,tema "Filosofia politica,poder e Estado"Rosineide Santos
 
Democracia Experiencias reflexoes e avanços
Democracia Experiencias reflexoes e avançosDemocracia Experiencias reflexoes e avanços
Democracia Experiencias reflexoes e avançosClaudioMendona10
 
CRISE NAS REPRESENTAÇÕES
CRISE NAS REPRESENTAÇÕESCRISE NAS REPRESENTAÇÕES
CRISE NAS REPRESENTAÇÕESRayane Anchieta
 
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...Red Innovación
 
Considerações sobre a teoria poliarquica
Considerações sobre a teoria poliarquicaConsiderações sobre a teoria poliarquica
Considerações sobre a teoria poliarquicaJoão Cardoso
 
Reforma politica brasileira___2_versao_q[1]sidney pedrosa
Reforma politica brasileira___2_versao_q[1]sidney pedrosaReforma politica brasileira___2_versao_q[1]sidney pedrosa
Reforma politica brasileira___2_versao_q[1]sidney pedrosaSidney Pedrosa
 
Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, do PT
Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, do PTPesquisa da Fundação Perseu Abramo, do PT
Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, do PTGiovanni Sandes
 

Semelhante a Análise da lógica do eleitorado brasileiro (18)

A importância da politica em nosso cotidiano
A importância da politica em nosso cotidianoA importância da politica em nosso cotidiano
A importância da politica em nosso cotidiano
 
A importância da politica
A importância da politicaA importância da politica
A importância da politica
 
Quem é o seu líder e com quem eu negocio? Dilemas do defasado sistema políti...
Quem é o seu líder e com quem eu negocio?  Dilemas do defasado sistema políti...Quem é o seu líder e com quem eu negocio?  Dilemas do defasado sistema políti...
Quem é o seu líder e com quem eu negocio? Dilemas do defasado sistema políti...
 
Pluripartidarismo
PluripartidarismoPluripartidarismo
Pluripartidarismo
 
Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas
Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelasOrientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas
Orientação do voto de jovens moradores de vilas e favelas
 
O crescimento da extrema direita no Brasil - Esther Solano
O crescimento da extrema direita no Brasil - Esther SolanoO crescimento da extrema direita no Brasil - Esther Solano
O crescimento da extrema direita no Brasil - Esther Solano
 
Reforma Política
Reforma PolíticaReforma Política
Reforma Política
 
Caderno 3 aula 16 partidos políticos e eleições (4)
Caderno 3 aula 16   partidos políticos e eleições (4)Caderno 3 aula 16   partidos políticos e eleições (4)
Caderno 3 aula 16 partidos políticos e eleições (4)
 
Apresntação de slide,tema "Filosofia politica,poder e Estado"
Apresntação de slide,tema "Filosofia politica,poder e Estado"Apresntação de slide,tema "Filosofia politica,poder e Estado"
Apresntação de slide,tema "Filosofia politica,poder e Estado"
 
Democracia Experiencias reflexoes e avanços
Democracia Experiencias reflexoes e avançosDemocracia Experiencias reflexoes e avanços
Democracia Experiencias reflexoes e avanços
 
CRISE NAS REPRESENTAÇÕES
CRISE NAS REPRESENTAÇÕESCRISE NAS REPRESENTAÇÕES
CRISE NAS REPRESENTAÇÕES
 
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
 
A política
A políticaA política
A política
 
Considerações sobre a teoria poliarquica
Considerações sobre a teoria poliarquicaConsiderações sobre a teoria poliarquica
Considerações sobre a teoria poliarquica
 
Reforma politica brasileira___2_versao_q[1]sidney pedrosa
Reforma politica brasileira___2_versao_q[1]sidney pedrosaReforma politica brasileira___2_versao_q[1]sidney pedrosa
Reforma politica brasileira___2_versao_q[1]sidney pedrosa
 
Etica
EticaEtica
Etica
 
3. valores sóciopolíticos essenciais
3.  valores sóciopolíticos essenciais3.  valores sóciopolíticos essenciais
3. valores sóciopolíticos essenciais
 
Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, do PT
Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, do PTPesquisa da Fundação Perseu Abramo, do PT
Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, do PT
 

Mais de Jean Michel Gallo Soldatelli

Demitindo Preconceitos: por que as empresas devem sair do armário
Demitindo Preconceitos: por que as empresas devem sair do armárioDemitindo Preconceitos: por que as empresas devem sair do armário
Demitindo Preconceitos: por que as empresas devem sair do armárioJean Michel Gallo Soldatelli
 
IDENTIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE PRODUTO E CONSUMIDOR
IDENTIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE PRODUTO E CONSUMIDORIDENTIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE PRODUTO E CONSUMIDOR
IDENTIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE PRODUTO E CONSUMIDORJean Michel Gallo Soldatelli
 
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...Jean Michel Gallo Soldatelli
 
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...Jean Michel Gallo Soldatelli
 
As organizações vistas como instrumento de dominação
As organizações vistas como instrumento de dominaçãoAs organizações vistas como instrumento de dominação
As organizações vistas como instrumento de dominaçãoJean Michel Gallo Soldatelli
 
A estratégia de marketing por trás da nova logomarca da Pepsi
A estratégia de marketing por trás da nova logomarca da PepsiA estratégia de marketing por trás da nova logomarca da Pepsi
A estratégia de marketing por trás da nova logomarca da PepsiJean Michel Gallo Soldatelli
 
Estudo da persuasão no caso da primeira campanha do hambúrguer Grã Filé
Estudo da persuasão no caso da primeira campanha do hambúrguer Grã Filé Estudo da persuasão no caso da primeira campanha do hambúrguer Grã Filé
Estudo da persuasão no caso da primeira campanha do hambúrguer Grã Filé Jean Michel Gallo Soldatelli
 
As mudanças na comunicação e o ativismo digital
As mudanças na comunicação e o ativismo digitalAs mudanças na comunicação e o ativismo digital
As mudanças na comunicação e o ativismo digitalJean Michel Gallo Soldatelli
 
Redes sociais, pragmatismo e o maior viral do mundo
Redes sociais, pragmatismo e o maior viral do mundoRedes sociais, pragmatismo e o maior viral do mundo
Redes sociais, pragmatismo e o maior viral do mundoJean Michel Gallo Soldatelli
 
#mistériodedrake: como PlayStation criou um jogo fora do vídeo-game
#mistériodedrake: como PlayStation criou um jogo fora do vídeo-game#mistériodedrake: como PlayStation criou um jogo fora do vídeo-game
#mistériodedrake: como PlayStation criou um jogo fora do vídeo-gameJean Michel Gallo Soldatelli
 

Mais de Jean Michel Gallo Soldatelli (20)

Demitindo Preconceitos: por que as empresas devem sair do armário
Demitindo Preconceitos: por que as empresas devem sair do armárioDemitindo Preconceitos: por que as empresas devem sair do armário
Demitindo Preconceitos: por que as empresas devem sair do armário
 
IDENTIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE PRODUTO E CONSUMIDOR
IDENTIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE PRODUTO E CONSUMIDORIDENTIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE PRODUTO E CONSUMIDOR
IDENTIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE PRODUTO E CONSUMIDOR
 
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...
 
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...
Internet e o Empoderamento do Indivíduo: Como as redes sociais afetam as pess...
 
Projeto Experimental: Applebee's
Projeto Experimental: Applebee'sProjeto Experimental: Applebee's
Projeto Experimental: Applebee's
 
Projex - Applebee's
Projex - Applebee'sProjex - Applebee's
Projex - Applebee's
 
As organizações vistas como instrumento de dominação
As organizações vistas como instrumento de dominaçãoAs organizações vistas como instrumento de dominação
As organizações vistas como instrumento de dominação
 
A difícil vida de uma marca no século XXI
A difícil vida de uma marca no século XXIA difícil vida de uma marca no século XXI
A difícil vida de uma marca no século XXI
 
Planos e angulos
Planos e angulosPlanos e angulos
Planos e angulos
 
Efeito panning
Efeito panningEfeito panning
Efeito panning
 
Efeito little world
Efeito little worldEfeito little world
Efeito little world
 
A estratégia de marketing por trás da nova logomarca da Pepsi
A estratégia de marketing por trás da nova logomarca da PepsiA estratégia de marketing por trás da nova logomarca da Pepsi
A estratégia de marketing por trás da nova logomarca da Pepsi
 
Estudo da persuasão no caso da primeira campanha do hambúrguer Grã Filé
Estudo da persuasão no caso da primeira campanha do hambúrguer Grã Filé Estudo da persuasão no caso da primeira campanha do hambúrguer Grã Filé
Estudo da persuasão no caso da primeira campanha do hambúrguer Grã Filé
 
As mudanças na comunicação e o ativismo digital
As mudanças na comunicação e o ativismo digitalAs mudanças na comunicação e o ativismo digital
As mudanças na comunicação e o ativismo digital
 
Redes sociais, pragmatismo e o maior viral do mundo
Redes sociais, pragmatismo e o maior viral do mundoRedes sociais, pragmatismo e o maior viral do mundo
Redes sociais, pragmatismo e o maior viral do mundo
 
#mistériodedrake: como PlayStation criou um jogo fora do vídeo-game
#mistériodedrake: como PlayStation criou um jogo fora do vídeo-game#mistériodedrake: como PlayStation criou um jogo fora do vídeo-game
#mistériodedrake: como PlayStation criou um jogo fora do vídeo-game
 
Que porra é planejamento?
Que porra é planejamento?Que porra é planejamento?
Que porra é planejamento?
 
Redação
RedaçãoRedação
Redação
 
Storytelling
StorytellingStorytelling
Storytelling
 
Trote Inteligente USP 2011
Trote Inteligente USP 2011Trote Inteligente USP 2011
Trote Inteligente USP 2011
 

Análise da lógica do eleitorado brasileiro

  • 1. Aluno: Jean Michel Gallo Soldatelli Prova final – FLP0425 – Teorias do Comportamento Eleitoral e Identidade Ideológica Prof. André Singer – período noturno Utilizando a bibliografia obrigatória do curso, exponha qual é, em sua visão, a lógica do eleitorado brasileiro. Procure exemplificar seu ponto de vista com os casos estudados. Apesar da jovem democracia, a formação do pensamento do eleitorado brasileiro vem se constituindo há tempos, antes mesmo de quando o mesmo tinha poder de voto. Passando do populismo de Getúlio Vargas às Diretas, a criação de um pensamento político estruturado na sociedade brasileira sempre foi um desafio. Historicamente, eleitores se moldam de acordo com a situação atual do país, deles próprios, ou de sua classe. Iniciando as análises pelo populismo, que surgiu quando havia uma brecha de comando após a queda da burguesia agrária, percebemos que Getúlio Vargas se uniu a burguesia para um governo que através de uma série de direitos coletivos cai nos braços do povo. Com essa idéia, percebemos que o proletário faz um salto individual, e desta forma tem um pensamento individualista onde o salto social tem uma menor importância. O populismo não é de classe, é da massa. Afinal, a classe é organizada e organiza o poder, prova disso são, por exemplo, as centrais sindicais que posteriormente seriam um dos berços de um dos maiores partidos do país atualmente. Já a massa é desorganizada, logo precisa de alguém para organizá-la. Desta forma, podemos perceber que a sociedade via o governo como uma necessidade, é o meio para que as melhorias possam acontecer. Esta necessidade de um governo forte tem raízes ainda no coronelismo, onde o coronel centralizava as necessidades e os benefícios em troca do controle político. E hoje, revivemos um novo tipo de populismo, onde através do enriquecimento do país uma série de medidas taxativas tornaram possíveis um conjunto de benefícios as classes mais baixas da sociedade, voltando a lógica do salto social.
  • 2. Desta primeira análise podemos tirar uma hipótese interessante: uma grande parte da população é massa, que vota de acordo com os benefícios adquiridos. Portanto, a população tem como um padrão de voto baseado nas melhorias econômicas: se a economia vai bem, a situação provavelmente fica no poder, do contrário a oposição ganha. E como a grande maioria do eleitorado não possuí um voto ideológico, se as coisas estiverem ruins a oposição irá ganhar, independente de qual seja essa oposição. Um dos pontos mais interessantes para analisarmos a lógica do eleitorado brasileiro são as conexões que fazem na hora de compor o raciocínio e, com isso, como se enquadram nos diferentes tipos grupos de votos. O problema é que estas conexões demandam um alto nível de conhecimento não apenas sobre política, mas econômicas, sociais, psicológicas, entre outras. E o povo brasileiro, em sua grande parte, não possuí estes conhecimentos e muitas vezes nem o interessa tê-los. Isso acontece por inúmeros motivos, que vão desde fatores familiares (eu gosto de certo candidato pois minha família gosta) até pela própria descrença no sistema de governo, o que torna o eleitor acomodado e menos propenso a sequer estipular suas próprias opiniões. Visto isso, podemos analisar o eleitorado brasileiro é usando como base a separação nos grupos de votos: ideológico, quase-ideológicos, interesses de grupo, nature of times e sem centralidade. A porcentagem dos grupos considerados ideológico ou quase-ideológicos (aqueles que fazem todas ou quase todas as conexões de idéias) não é suficiente para a eleição ou não de alguém ou algum partido. Portanto, as decisões ficam nas mãos de três grupos: aqueles que possuem interesses de grupo, e aí podemos incluir tanto raças, religiões, níveis sociais, entre outros; aqueles que votam com um critério comparativo, chamados de “nature of times”, ou seja, votam no Alckmin pois acham que na época do FHC era melhor; e por último, e mais definitivo, os “sem centralidade”, que decidem seus votos de acordo com critérios como simpatia, e portanto são os mais atingidos pela propaganda política. Com isso, podemos chegar em outra hipótese: o eleitorado brasileiro tem dificuldades ou desinteresse em realizar conexões lógicas e não entende as ideologias como um todo, e assim as decisões são moldadas de acordo com interesses individuais ou propagandas políticas. Desta forma a coerência passa
  • 3. despercebida, o que explica o alto número de promessas contraditórias feitas apenas para angariar a maior fatia do eleitorado possível, como por exemplo o aumento do bolsa família e a diminuição dos impostos. Outro ponto que define a lógica do eleitorado brasileiro são os objetos de voto, ou seja, os partidos. Nossos governantes são eleitos por votos majoritários, e as eleições majoritárias tendem ao bipartidarismo. Porém, o caso brasileiro não é tão maniqueísta como o americano pela presença de outros partidos que forçam uma maior dispersão na linha do posicionamento político. Por exemplo, a presença do PFL, partido visto como bem mais extremista do que o PSDB na direita, acaba forçando este a tender mais para o centro. No outro lado isso não é diferente, já que o PSOL por exemplo é bem mais extremista que o PT. A diferença fica por conta do PMDB, que pelo menos nas décadas de 80/90 representavam os interesses do centro. A queda de popularidade do PMDB por conta da falta de identificação sociológica com o povo acabou o empurrando para a direita, apesar disso a herança do coronelismo preserva suas forças o que o torna indispensável para o governo. Este deslocamento do PMDB abriu espaço para dois movimentos: a abertura do espaço dominado pelo PT na centro-esquerda e a tentativa de novos partidos (mas velhas figuras) de abocanharem esta brecha de posicionamento, como acontece agora com o PSD. Assim temos um conjunto de partidos que se moldam ao perfil do consumidor e que apesar de se posicionarem como de esquerda, centro, ou direita, abraçam algumas mesmas causas em busca de popularidade. Isto reforça a menor importância da ideologia frente o partido. Ou seja, a identificação partidária é muito mais forte do que a identificação ideológica. Continuando o raciocínio, a identificação com o candidato é por vezes maior que a identificação partidária, pois se identificar com uma pessoa é muito mais fácil do que se identificar com crenças e objetivos. Isso ajuda a explicar, por exemplo, a popularidade de Lula mesmo no período onde seu partido sofreu com as acusações de corrupção, ele usou a identificação pessoal e os benefícios propostos e se afastou da característica partidária para ser eleito. Por outro lado, em cargos com menor envolvimento pessoal, como deputados e vereadores, as decisões são
  • 4. tomadas com grande influência partidária, o que indica a forte ligação partidária frente a ideológica. Portanto, na minha visão, podemos analisar o eleitorado brasileiro como um eleitorado que ainda precisa amadurecer, ainda é bastante influenciado por suas raízes históricas e possuí uma alta desinformação e descrença em ideologias, o que o torna mais manipulável pelos partidos e candidatos. Com tudo isso, podemos construir algumas hipóteses sobre a lógica do eleitorado brasileiro. A primeira é a de que as raízes da formação do pensamento do eleitor brasileiro estão mais fortes na história do que nos fatos ou na ideologia dos partidos. Outra hipótese que podemos considerar é que o voto partidário é muito mais forte do que o voto ideológico no Brasil. Por último a fragilidade da conexões lógicas e da ideologia no eleitorado brasileiro. Por fim, a principal tese que consideraria é que o processo de decisão e a conexão das idéias da maioria dos brasileiros é simples. Voto retrospectivo, onde o eleitor está preocupado com os resultados e os governantes são os meios, desta forma ele coloca a racionalidade no passado, ou seja, ele não sabe como resolver mas sabe quem resolveu. Voto prospectivo, ideológico, ou seja, pautado na equiparação de valores e na busca de informações para que se faça uma conexão lógica que defina os candidatos e partidos que mais se assemelham ao seu pensamento.