Este documento homenageia Zé Haroldo por completar 85 anos em 06 de abril de 2012. Ele foi Secretário-Geral da CEPLAC por 17 anos e responsável pela implantação da organização agrícola mais completa do país. Dois editores, Luiz Ferreira da Silva e Jefferson Dias, publicam esta edição extra do Agrissênior Notícias para prestar tributo a Zé Haroldo.
Baile da Saudade / Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro Ba
01 an edição extra
1. AGRISSÊNIOR
NOTÍCIAS
Pasquim informativo virtual.
Opiniões, humor e mensagens.
EDITORES:
EDITORES: Luiz Ferreira da Silva
luizferreira1937@gmail.com)
(luizferreira1937@gmail.com) e
(jefcdias@gmail.com
jefcdias@gmail.com)
Jefferson Dias (jefcdias@gmail.com)
Edição EXTRA Nº 01 – 06 de abril de 2012
2011
JO SÉ H A R O LD O CA STR O V IE IR A
( Z é H aroldo com sua equipe de dirigentes e técnicos, em um a reunião de avaliação anual, nas
dependências da E M A RC - U ruçuca)
2. O Agrissênior Notícias lança essa Edição a publicação de um livro, nominação de
Extra para homenagear Zé Haroldo, como logradouros públicos e a construção de um
assim era conhecido, nesse dia 06 de abril, memorial, dentre outros eventos. Muitos de
data em que ele completaria 85 anos (06 de seus colegas, colaboradores, estão prestando
abril de 1927). Ele foi por 17 anos Secretário- depoimentos sobre a insigne figura, exaltando
Geral da Instituição, responsável maior pela o quanto ele representou para o cacau, para o
implantação da mais completa organização sul da Bahia e para a CEPLAC, exemplo em
agrícola nesse país, conjuminando a todos os sentidos: profissionalismo,
pesquisa, a extensão, o ensino e o apoio ao dedicação, ética e liderança. Então, tomamos
desenvolvimento rural, a CEPLAC. a liberdade de divulgar aos demais leitores do
Em razão da data, Lício Fontes, que trabalhou Agrissênior Notícias, através dessa edição
bem junto a ele, por muitos anos, teve a feliz extra, muitos deles desacreditados da
ideia de lhe prestar uma homenagem ao natureza humana, para que se fortaleçam
articular-se com outros colegas e, em poucos com o exemplo de vida desse Grande
dias, fez uma revolução, conseguindo a Homem, a quem reverenciamos e somos
adesão de tanta gente amiga do Zé, criando gratos eternamente. Os Editores.
uma corrente, cujos resultados apontam para
ZÉ HAROLDO, O CHEFE QUE NUNCA FOI.
Luiz Ferreira da Silva
Conheci Zé Haroldo em janeiro de assisti o Zé Haroldo perder a calma, enervar-
1962, ao me apresentar na CEPLAC, recém- se, agredir, ser mal educado ou humilhar
contratado. Um pequeno birô denominado de quaisquer de seus subordinados. Pelo
“caixa pequeno”, onde ele dispunha de contrário, sempre tinha uma palavra de
numerários para prover as despesas de incentivo.
pronto pagamento. Suas observações, determinações e
Pela sua compleição física, projetava- cobranças eram facilmente absorvidas,
se em contraste com aquela escrivaninha. No transformando-se não em ordens, mas em
entanto, transmitia humildade e bem-estar tarefas magnânimas. Simplesmente porque
(áurea energética) para todos que se lhe ele era menos um Chefe e mais um Líder,
acorriam. impondo-se pelo consentimento.
Tempos depois, 1979, avistei-me em Como nunca foi de se vangloriar,
Brasília, quando fui discutir o meu plano de muitos de seus feitos passaram como simples
trabalho referente à administração do CEPEC, obrigação funcional, poucos captando a sua
convidado que fora para exercer tão nobre extraordinária capacidade gerencial, eivada
missão técnica-gerencial. da sua entrega ao trabalho, visando sempre
Sentado à sua frente, numa luxuosa bem servir ao cacau, ao produtor e ao seu
sala, com belo gabinete, de paletó e gravata, chão sulbaiano.
lembrei-me do “caixa pequeno” e constatei Assim, foram os milhares de hectares
que se tratava da mesma pessoa. Nada de cacau implantados na Amazônia, no
mudara – o mesmo homem simples, educado retorno às suas origens, bem como os
e humilde. Eu me sentia tão à vontade como subprodutos de igual valor: a formação de
se o Secretário-Geral, José Haroldo de Castro extensionistas e pesquisadores; a base
Vieira, fosse o mesmo provedor, Zé Haroldo, genética do cacau; um moderno Centro de
de tempos idos naquele birô de três (3) Pesquisas e a infraestrutura operacional de
gavetas. campo. Colegas foram agentes importantes
Daí em diante, por força do cargo, desta epopéia, mas nada teria acontecido
mantive contatos de trabalho e participei de sem o seu “dedo”.
várias reuniões e eventos administrativos, No Sul da Bahia, a excelência técnica
tanto como Diretor do CEPEC, quanto como do CEPEC; a proficiência da Extensão Rural;
Diretor da CEPLAC-Amazônia. Em nenhum a formação de mão-de-obra com enfoque nas
momento, mesmo no auge das discussões, EMARCs, o apoio efetivo à implantação da
3. Universidade (UESC), não seriam efetivadas, bem como o respeito à causa pública e a ética
mesmo com o papel fundamental dos grandes profissional, pelo seu exemplo e pelo seu
gestores e auxiliares competentes, se não incentivo.
fosse a sua convicção. Zé Haroldo jamais E, pelo outro lado, também se deduz
media esforços pelo engrandecimento da que ele foi um dos maiores empreendedores
Região Cacaueira. do nosso País, nos últimos 50 anos que,
Seguindo o seu antecessor, Carlos mesmo sem ser diplomado em Ciências
Brandão, colega do Banco do Brasil, amigo e Agrárias e, tampouco empresário rural ou
fiel escudeiro, consolidou o chamado espírito lavrador, mas filho de cacauicultor, prestou
de corpo, cujo mote era a CEPLAC acima de relevantes serviços à agricultura brasileira,
tudo, a Casa e a Escola de todos os seus contribuindo decisivamente para o
servidores. desenvolvimento rural (Sul da Bahia e Pólos
E, para complementar, Zé Haroldo foi cacaueiros da Amazônia), a uma lavoura
de uma probidade sem escala. Por 17 anos, (cacau) e a uma Instituição Agrícola
como Secretário-Geral, deve ter administrado (CEPLAC). Em seu sistema circulatório corria
mais de 2 bilhões de reais, com zelo pela boa um sangue impregnado do mel do fruto-ouro
aplicação e honestidade de propósitos. Tanto (Theobroma cacao), eivado de nutrientes dos
é que, ao falecer, deixou um modesto solos férteis da Região cacaueira Baiana e
apartamento de fundos no Campo Grande, das terras roxas amazônicas, distribuindo
Salvador, e uma pensão para a viúva em bônus por onde passasse.
torno de R$ 5.000,00, oriunda dos seus Acima de tudo, como já explicitado, um
tempos no Banco do Brasil. Líder com ideias consentidas. Jamais fora um
Por tudo isso, é fácil concluir que todos Chefe!
nós devemos ao Zé Haroldo, seja a nossa
evolução nos diversos campos do trabalho,
ZÉ HAROLDO: UMA VIDA DEDICADA A CEPLAC E AO CACAU,
Emo Ruy de Miranda
É importante e oportuna a homenagem deu-se inicio a sua participação com os
póstuma que os funcionários (ativos e problemas da economia cacaueira. A partir
inativos) da Ceplac prestam ao grande, de 1958, como funcionário do Banco do
incansável e líder Zé Haroldo, pelo trabalho Brasil, foi colocado à disposição da Ceplac –
realizado na instituição Ceplac e para as Comissão Excecutiva do Plano de
regiões que direta ou indiretamente tinham Recuperação Econômico Rural da Lavoura
alguma vinculação com esta importante Cacaueira e passou a exercer diversos
organização. cargos na Superintendência Regional, em
Filho e neto de cacauicultores, Zé Haroldo, Itabuna. É importante destacar a atuação de
como era conhecido nos meios da Zé Haroldo como Coordenador Administrativo
cacauicultura brasileira, iniciou a sua vida Geral à frente do Escritório Central de
profissional muito cedo, aos 15 anos de idade, Coordenação, responsabilizando-se pela
atuando mais tarde, no período de 1945 a instalação dos serviços da Ceplac nas regiões
1954, como sócio das Empresa J. Vieira & cacaueiras da Bahia e Espírito Santo. No
Irmão, Souza Vieira & Cia e Quixadá período de 1958 a 1969, quando a Ceplac era
Exportação Comércio e Industria Ltda., em dirigida por Carlos Brandão, como Secretário
Ilhéus e Itabuna. Geral, Zé Haroldo teve a oportunidade de
Quis o destino que ele se vinculasse a demonstrar a sua capacidade administrativa,
economia cacaueira, quando foi aprovado em visão de futuro e espírito inovador, que,
concurso público para o Banco do Brasil, indo certamente, contribuiu para que, por
exercer as suas funções na agência de Ilhéus sugestão do então Secretário Geral, fosse o
na Carteira de Comércio Exterior – Cacex, no Zé Haroldo indicado para substituí-lo.
esquema de intervenção na exportação do Evidentemente, que não foi muito fácil que as
cacau. Quem sabe, a partir daquele momento, forças políticas da época aprovassem o seu
4. nome para dirigir a Ceplac, pois, outros permitiu que o principal dirigente da Ceplac
nomes foram colocados à disposição do pensasse mais alto. Neste aspecto é que Zé
governo central para ocupar este cargo que, Haroldo, com a sua visão progressista e já
na época, não era de importância conhecedor das negociações a nível nacional,
transcendental para a economia cacaueira consegue que os objetivos da Ceplac sejam
brasileira. Delfim Neto, Ministro da Fazenda, ampliados e ela passa a ser considerada
à época, ministério no qual a Ceplac estava como um órgão de desenvolvimento regional
vinculada, confidenciou que as principais integrado, com a responsabilidade de, além
pressões contra a indicação do nome de Zé, de gerar e transferir tecnologias para o
eram exercidas pelo então Governador da produtor, realizar ações nos campos do
Bahia, Luiz Viana Filho. Comentou-se, desenvolvimento regional (construção de
inclusive, que após vencer todas as barreiras, escolas, estradas, eletrificação rural,
finalmente o Zé Haroldo foi nomeado para abastecimento de água, postos de saúde,
ocupar o cargo de Secretário Geral da fortalecimento do sindicalismo rural,
Ceplac. Muito tímido ainda, sem muita cooperativismo, etc) .
experiência a nível nacional, Zé Haroldo Zé Haroldo, com o seu poder de
comunicou, oficialmente, a sua nomeação, em convencimento e conseguindo a aprovação
caráter de interinidade, ao Governador da do Conselho Deliberativo da Ceplac (Codel),
Bahia e recebeu deste um documento, cujo do qual faziam parte os Ministérios da
teor dizia o seguinte: “Em resposta a sua Agricultura, da Fazenda, das Relações
informação, desejo feliz interinidade neste Exteriores, da Industria e do Comércio, o
cargo”. Esta interinidade foi realmente feliz Governo da Bahia, através do ICB e dos
porque durou mais de 16 anos, graças a Produtores de Cacau (CCPC), conseguiu,
competência, desprendimento e dedicação aprovação no seu orçamento para realizar
integral do Zé Haroldo aos problemas da ações nos campos do desenvolvimento
Ceplac e do cacau. regional, cuja verba não poderia ultrapassar
A Ceplac, quando Zé Haroldo foi nomeado, já 10% do orçamento da Ceplac. E Zé sempre
desempenhava um papel importante para a nos confidenciava que esses recursos
economia cacaueira da Bahia e Espirito financeiros eram altamente importantes para
Santo, porém tinha a sua área de atuação atender as necessidades regionais e
restrita ao campo técnico-agronômico, com a contribuiriam para gerar emprego e renda nas
responsabilidade de gerar, adaptar e transferir regiões cacaueiras da Bahia e Espírito Santo.
tecnologia para o produtor de cacau. E asseverava, “in-off”, que se esses recursos
A partir de 1961, houve a equalização da não fossem direcionados para fortalecer as
cota de contribuição cambial de cacau em citadas regiões, provavelmente, seriam
10%, permitindo que a Ceplac dispusesse de subtraídos do orçamento da Ceplac para
recursos financeiros oriundos desta cota para atender outras necessidades que não aquelas
serem empregados nos seus programas. Os verificadas nas regiões sul da Bahia e norte
recursos financeiros da Ceplac se vinculavam do Espírito Santo.
ao orçamento monetário da União e por se Outro aspecto que o Zé Haroldo nos
tratar de cota de contribição, tais recursos confidenciava era que conseguindo a
poderiam ser direcionados para uma aprovação do Codel para destinar recursos
atividade específica, no caso, o cacau. Ou financeiros para os programas de apoio a
seja, os recursos gerados a partir da infra estrutura regional e assinar Convênios
exportação do cacau eram creditados pelo com diferentes Secretarias de Estado, de
Banco Central nos cofres da Ceplac, sem ser certa forma, estava envolvendo tais
necessário passar pelos canais de Secretarias em Programas de interesse
dificuldades do Ministério da Agricultura. regional e com recursos financeiros também
Estando, pois, a Ceplac ligada ao Ministério dos Estados da Bahia e Espírito Santo. Ou
da Fazenda e dispondo, com regularidade, da seja, inteligentemente, nas negociações, Zé
liberação dos recursos financeiros, gerados Haroldo, como principal dirigente da Ceplac,
em função das exportações de cacau, conseguia multiplicar os recursos do cacau,
5. porque, via de regra, os estados colocavam sido observado nenhum desvio de conduta ao
fortes recursos financeiros à disposição dos longo da sua gestão e dos seus
convênios. Como dizia ele: ”os recursos colaboradores. Em todas os pareceres das
oriundos da taxa de contribuição cambial contas analisadas pelo Tribunal de Contas da
contribuíam para gerar empregos e rendas União - TCU não foi observado nenhum
nas zonas cacaueiras da Bahia e Espírito relatório que detectasse desvios de
Santo” . finalidades dos recursos financeiros
Inúmeras escolas primárias, centro de aplicados.
abastecimento de água, postos de saúde, O importante é que, diuturnamente, em todos
estradas vicinais, eletrificação rural, faculdade os momentos, o Zé Haroldo fazia questão de
de ilhéus e Itabuna, hoje denominada de ressaltar que devíamos falar a verdade para
UESC, escolas médias de agricultura, foram os produtores, quaisquer que fossem as
realizadas através dos mencionados consequências. Tinha por hábito contatar,
convênios. com muita frequência, com o Presidente do
Em diferentes reuniões que participamos, o CNPC anteriormente CCPC, para discutir
Zé Haroldo demonstrava a paciência de ouvir propostas de interesse para a cacauicultura e
e a capacidade de argumentar com dados e através de contatos telefônicos ou nas
fatos capazes de conduzir os debatedores a reuniões do Codel, ou mesmo no CNPC, as
aceitarem as argumentações por ele discussões apesar de serem acaloradas, ele
apresentadas. Sempre demonstrou a não perdia a calma e na maioria das vezes
capacidade de defender com firmeza as suas conseguia convencer os seus interlocutores.
argumentações e, por acreditar nelas, nunca Quando não conseguia convencer com as
desistia facilmente de conseguir alcançar os suas argumentações, os seus interlocutores,
objetivos que pretendia. Assim foi quando passava a defender a ideia surgida das
defendeu, junto ao Governo brasileiro e aos discussões, porém, este fato era raro, porque
produtores, a aprovação do Procacau, a quando o Zé Haroldo iniciava uma discussão
criação do Ceplus, a aprovação do sobre um assunto que ele defendia,
financiamento de veículos para servidores da normalmente ele varava dias estudando a
Ceplac, a participação da Ceplac na criação proposta e analisando efeitos positivos e
da Itaisa, a criação do fundo de aval – Fusec, negativos dela. Em muitos casos, ele, ao
fundo de materiais – Fumar, a criação da pensar uma ideia, convocava os seus
Ceplac como Superintendência do cacau, auxiliares mais próximos e a submetia ao
este ultimo infelizmente não obtendo êxito. crivo deles. A partir de tais discussões que,
Em todas as empreitadas citadas, o Zé muitas vezes, duravam dias, ele incorporava
Haroldo lutava arduamente, discutindo com no seu texto as contribuições que considerava
diferentes autoridades, inclusive o Presidente importantes e, então, partia para defendê-la
da República, com objetivo principal de em quaisquer instâncias. Tinha grande
fortalecer a Ceplac e a economia cacaueira. facilidade para redigir e com muita
Claro que os embates eram, muitas vezes, propriedade colocava no papel aquilo que
desproporcionais ao tamanho da organização pensava, fosse documento para ser
que ele dirigia, porém, sempre contando com apresentado internamente à Ceplac, para os
o apoio dos Governos dos Estados da Bahia, produtores ou mesmo para autoridades,
do Espírito Santo, dos Produtores de cacau e, inclusive para o Presidente da República.
principalmente, dos seus colegas, Em palestras proferidas, principalmente, para
funcionários da Ceplac, não parava de pensar o pessoal da Ceplac, fazia questão de dedicar
e defender as suas ideias. algum tempo para conversar sobre o
Para se ter uma ideia, Zé Haroldo era Decálogo da Ceplac e o apresentava com
responsável pela administração de um muita maestria e firmeza:
orçamento que, em média, representou 70 1.- Cultivo ao idealismo
milhões de dólares anuais e com o seu 2.- Conservação da unidade interna
exemplo de honestidade e lisura, conseguiu 3.- Estímulo ao estudo e ao aperfeiçoamento
contar com o apoio dos seus colegas sem ter
6. 4.- Manutenção do moral elevado do grupo historias, porém, 90% dos nossos diálogos
5.- Ausência de injunções políticas eram direcionados para a Ceplac e para o
6.- Continuidade administrativa cacau.
7.- Administração descentralizada e delegada Sabia fazer e cultivar amizades, enfim Zé
8.- Combate à dúvida e ao pessimismo Haroldo vivia a Ceplac e o cacau 24 horas por
dia, mesmo após se desvincular dela, já
9.- Integração com outros órgãos aposentado. Na condição de servidor inativo,
10.- A verdade para o agricultor. não deixou de se preocupar com a situação
Em nenhum momento, ao longo dos 07 anos da Ceplac e do cacau, pois, continuou
que estive ocupando o cargo de Secretário participando, discutindo e elaborando
Adjunto da Ceplac, observei ou mesmo notei documentos com este mister. Por tudo o que
que o Zé Haroldo defendesse algum esta grande figura realizou pela Ceplac, pela
programa com interesse pessoal. Sempre ele cacauicultura e pelas regiões produtoras de
pensava na Ceplac e nas regiões cacaueiras cacau, a homenagem que o seus colegas
do Brasil. Quando não estava viajando, após prestam é mais do que justa e oportuna.
o expediente sempre conversávamos e nas
conversas o Zé, claro contava piadas,
ZÉ HAROLDO, O “CARVALHO” QUE PRODUZIU MUITOS FRUTOS.
Derval Evangelista de Magalhães
Quando intitulei “o Carvalho que produziu do resultado da sua avaliação haveria a
muitos frutos” eu fiz uma apologia ao Livro de possibilidade da minha contratação.
Exupery, Terra dos Homens, no qual ele diz: Foi marcado o horário em que o assessor
“SERIA INÚTIL PLANTAR UM CARVALHO jurídico da Secretaria Geral promoveria esse
TENDO EM BREVE A SOMBRA DE SUAS encontro na sede do DEPEA e, testado que
FOLHAS” fui, resultou da sua avaliação a minha
Conheci Zé Haroldo por volta de 1977 aprovação. No mesmo dia adentramos ao
justamente no seu apartamento no Edifício gabinete de Frederico onde lá estava
Dois de Julho, já citado por Luiz Ferreira, conversando com Hírcio, ocasião em que foi
através do seu filho Sérgio Lima Vieira, que dito a ambos pelo Assessor que por ele eu
ingressara na Coelba como Administrador de estava aprovado..
Empresa, onde nos conhecemos. Lauro Zack comunicou a Zé Haroldo na sua
Sérgio deixou a Coelba e foi para a CEPLAC volta a Brasília e os entendimentos
na Amazônia. Numa das minhas férias fui decorreram com certa lentidão, o que não me
visita-lo em Belém e, por coincidência, cabe aventar, o certo é que em 07 de agosto
encontrei com Zé e ele me falou que o de 1978 ocorreu a minha contratação.
Frederico Afonso andava lhe cobrando a Uma questão relevante para mim é que, neste
necessidade da presença de um advogado. mesmo dia, Edson Medeiros chefe da Divisão
Questionou-me se houvesse essa Administrativa junto com Renato Navarro,
possibilidade se eu me mudaria para Belém. Chefe de Pessoal, me entregaram uma
Eu respondi afirmativamente. Ele então me reclamação trabalhista cuja audiência estava
disse que iria conversar com Frederico Afonso designada para o dia 08 de setembro e o
e Hírcio Ismar, respectivamente à época, DEPEA não dispunha de nenhum material
diretor e vice do DEPARTAMENTO técnico-jurídico para eu me fundamentar e
ESPECIAL DA AMAZÔNIA - DEPEA e com o nem os meus livros de direito ainda estavam
Advogado de Brasília Dr. Lauro Newton Zack em Salvador.
que estava indo para Belém para resolver Preparei um Ofício, assinado pelo Dr.
alguma questão de natureza jurídica, Zé Frederico, para comunicar Seção da Ordem
conversou com ele para que fizesse uma dos Advogados que eu iria representar a
entrevista comigo para avaliar meu Reclamada naquela audiência até obter o
conhecimento no âmbito jurídico e que, diante registro suplementar.
7. No dia da audiência apresentei a defesa por Pará, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso
escrito e foi sustentada a tese de que a (ainda unificado), Goiás (especificamente
CEPLAC não poderia ser julgada pela Justiça Tocantinópolis) Rondônia e Acre.
do Trabalho, embora também Federal, porque Em verdade, no meu curriculum escolar não
era um Órgão Autônomo da Administração constava a matéria de Direito Agrário e o que
Direta e, por conseguinte, havia a mais fiz foi queimar a pestana para enfrentar
incompetência legal para julgar a reclamação. este novo desafio.
Não houve proposta de acordo e aguardei a Diante de algumas dificuldades que pareciam
sentença. Tomei 1x0. Comecei perdendo o impossíveis promoverem a defesa da
que assustou a Direção e ficou a preocupação CEPLAC ou de seu interesse ele dizia: “Não
de se a CEPLAC perdesse como ficaria a sei por que advogado gosta de complicar”.
minha reputação e do próprio Órgão. Várias vezes fui a Brasília, o seu convite, para
Num ambiente de constrangimento o fato foi lhe apresentar dados que eram de caráter
comunicado a Zé Haroldo. informal, sendo que não caberia formalizar e
Dentro do prazo legal ingressei com um tentar conduzir de maneira mais política,
Recurso de Apelação para o Tribunal. A porque ninguém como ele tinha essa
ansiedade era maior do que o próprio capacidade.
processo. Eu precisava mostrar que eu não Destaquei aqui quatro difíceis tarefas de
era tão incompetente. No primeiro round eu capital importância para a CEPLAC, as quais
não iria à lona. eram parte dos seus sonhos vê-las
O Pleno do Tribunal acolheu a minha tese da realizadas. Para atingir essas metas ele me
INCOMPETENCIA DAQUELA JUSTIÇA e orientou, politicamente, como conduzir no
mandou remeter os Autos para a Justiça meio das autoridades competentes.
Federal. Meio tempo ganho. Agora viria a 1) produzir junto com o governo do Maranhão
segunda etapa. um documento que suprisse a garantia da
Dirigi-me à Justiça Federal e conheci o Dr. posse das áreas ocupadas por pequenos
Anselmo Santiago (Juiz Federal) que me cacauicultores quando do processo
recebeu e disse que já havia despachado o discriminatório daquelas terras, a fim de servir
processo oferecendo o prazo de 30 dias para como uma garantia do Governo de que os
a manifestação do Reclamante, sob a pena títulos de posse lhes seriam asseguradas
de arquivamento do processo. para fins de obtenção do financiamento do
Contava os dias como se debulhasse uma FUSEC.
espiga de milho. Grão por grão até que a Esse documento foi intitulado como: A
espiga virou capucho. CARTA DE ANUÊNCIA DO MARANHÃO E
Voltei à Justiça Federal e lá requeri uma SUA VALIDADE JURÍDICA, escrita a várias
certidão de que o Reclamante não havia mãos e, combinada a data de sua assinatura,
usado o seu prazo para promover sua defesa. o Zé esteve presente e me convidou para a
O processo fora arquivado. O meu primeiro sua assinatura no Gabinete do Governador.
gol depois de tanta angústia, ansiedade e 2) a aquisição da sede no interior de
seguidos de alegria dos meus superiores. Rondônia (se não me falha a memória foi a de
Dias depois Zé me manda uma procuração, Jaru) através de doação de um cacauicultor,
na condição de representante legal da cujo registro do seu nome não consta agora
CEPLAC, com validade de um ano, renovada no meu arquivo cerebral.
a cada período de 12 meses para representa- Eu falava com o Nilton Camargo em Porto
lo junto aos poderes públicos. Eu já havia Velho através do rádio e este pelo telefone
regularizado minha situação na OAB/Pará, repassava para Brasília as negociações e
com a inscrição suplementar. retornavam para mim através do rádio.
Logo após poucos meses ele expediu uma Finalmente, saiu a doação, mas o doador não
Portaria me designando Assessor para detinha o título de posse. Resolvemos voltar a
assuntos jurídicos da Amazônia Legal que Porto Velho e no Cartório elaboramos um
compreendia a jurisdição dos Estados do Termo próprio e a Sede saiu.
8. 3) Alta Floresta / MT – Uma aventura do cabia nele esta pejorativa designação, mas se
colonizador Ariosto da Riva, amigo de Collor aproximava mais da figura de um “deus” e
de Melo, conseguiu aprovação de seu projeto quando ele falava quer no auditório do CEPEC ou
de colonização privada, e Zé Haroldo com no refeitório duvido que não tenha alguém que
uma visão ímpar, conseguiu o contato político tivesse escondido lágrimas.
e expôs porque seria viável a implantação da Depois de ter sido requisitado para trabalhar
cacauicultura junto com outras culturas, a na Procuradoria Geral da União, atendendo
exemplo de guaraná. ao pedido do Dr. Aristides Junqueira, então
Mais uma vez ele venceu e o cacau lá está. titular daquela Chefia feito ao Senhor Ministro
4) A sede do DEPEA. da Agricultura fui procurar Zé Haroldo, no
Cinco anos depois de ter ingressado na Campo Grande, para lhe agradecer pela
CEPLAC já havia sido contratado outro oportunidade que me havia concedido e
advogado e eu acometido seriamente com um acreditado na minha possibilidade de crescer
problema de saúde me dirigi a Zé Haroldo, e profissional e pessoalmente. Às vezes há
pedi que se fosse possível me transferisse quem possua potencial, mas lhe falta
para a Bahia. Ele me respondeu que assim oportunidade embora outros tenham
que houvesse uma oportunidade ele o faria. oportunidade, mas lhe falta a capacidade.
Não me considero um excelente nem superior
Na Assessoria Jurídica da Sede Regional, em
a outrem, mas ele acreditava no meu esforço.
Itabuna, o advogado Sílvio José Tude Freire
Zé, com sua marcante humildade e
pediu exoneração e Zé, cumprindo sua
simplicidade, me abraçou e eu sem palavras
promessa, me transferiu para a Bahia.
para agradecê-lo ele me disse que o mérito
Jamais me esqueci das vezes em que ele chegava teria sido meu.
tanto no DEPEA quanto na SEDE REGIONAL,
principalmente nesta, a alegria e a concentração de Ele nunca se vangloriava. Dizia que sempre
funcionários para cumprimentá-lo. tinha muito mais para realizar e ressaltava:
E lembrando a colocação de Luiz Ferreira na “Eu não faço nada sozinho. Vocês me ajudam
sua homenagem, não havia distinção entre a realizar o que me vem à imaginação para
aqueles que o saudavam. Do Chefe do elevar a CEPLAC como um grande
Departamento, Lício que confirme, ao monumento vivo da história”.
operário de campo ele falava, cumprimentava Lamentavelmente ele se foi precocemente,
e abraçava a todos. mas nunca será cedo ou tarde para
homenageá-lo.
Por ocasião do Natal quando Zé chegava à Sede
Regional parecia não um político, porque não
PENSANDO NO JOSÉ HAROLDO
Jorge Raymundo Vieira
Nesta manifestação de saudades, de apressada poderia criar um clima
reconhecimentos e talvez até de insatisfatório à realização do novo projeto
agradecimentos da turma de ceplaqueanos regional.
para o nosso Zé Haroldo pensei e apresento Revi sua primeira decisão profissional:
alguns momentos de sua vida profissional. abandonar a tentativa de ser empresário,
Por muitos anos vivi ao seu lado, na luta deixando “J.Vieira e Irmão” para aventurar na
difícil, mas idealista e sonhadora por um profissão de bancário no Banco do Brasil.
futuro regional. Era exigido constantemente Único aprovado no concurso do Banco foi
espírito tranquilo para convencer os designado para atender a carência de
descrentes ou uma dose dupla de animação funcionários da agencia de Ilhéus.
para a conquista de adeptos à grande ideia Logo, logo antes de desenvolver a carreira no
inovadora para o sul da Bahia - a CEPLAC. Banco decidiu atender o convite da CEPLAC
Fixei minhas lembranças nos seus momentos para completar a equipe que administrava
mais difíceis. Uma decisão errônea ou este importante projeto governamental, cujo
9. objetivo principal era solucionar os problemas integração entre produtores, exportadores e
e desenvolver a economia cacaueira baiana. industriais chocolateiros.
Aí marcou sua presença e difundiu seu O apoio à organização dos produtores de
entusiasmo, idealismo e o desejo de ver toda cacau, através do CCPC - Conselho
a região desenvolvida econômica e Consultivo dos Produtores de Cacau trouxe
socialmente. A crença do Secretário Geral alegrias, compreensão e aceite às ideias
Carlos Brandão nesta ideia levou a solicitar do novas. Todavia, existiram preocupações
funcionalismo, até então coordenado por uma sérias nas tentativas de evitar discórdias e
única Superintendência Regional em Itabuna, competições indesejáveis entre eles.
um Projeto de reestruturação e ampliação dos Algumas de suas decisões foram sofridas e
serviços a serem prestados aos produtores de difíceis de serem tomadas. O coração não
cacau. podia sobrepor ao interesse regional, daí a
Após algum tempo veio a cobrança do análise de dados e fatos, o diálogo constante
Secretário Geral julgando que nada havia sido com as lideranças, a compreensão e visão
feito. O José Haroldo com seu jeito maneiroso futura levavam a decisões que melhor
disse existir um Plano de Expansão por ele atendessem o futuro regional.
elaborado e que estava com a Assim foi a localização da sede da Ceplac e
Superintendência. Foi um momento difícil do Centro de Pesquisas do Cacau. As
exigindo o respeito e a consideração aos seus desavenças culturais entre Ilhéus e Itabuna
superiores ao tornar público e aberto suas não poderiam afetar tal procedimento
ideias neste novo projeto. decisório. Foram importantes suas
O Plano de Expansão veio à discussão e daí considerações ponderando vários aspectos
surgiu, a criação de outras Superintendências na decisão do então Secretário Geral.
- Ipiaú, Canavieiras, Ubaitaba, coordenando Em outra oportunidade, teve sobre sua
Escritórios Locais, uma estrutura mais responsabilidade a localização da atual
eficiente no atendimento aos produtores em UESC. Esta foi uma importante e difícil
financiamentos e numa efetiva assistência decisão. Era preciso que a CEPLAC, maior
técnica agronômica. entusiasta e de elevado apoio financeiro da
Assim, deu-se inicio a ampliação da Ceplac Universidade, não ficasse desgastada no
nas suas atividades técnicas prestando ambiente político, ou junto à classe produtora
melhor serviço àqueles que legalmente e às sociedades ilheense e itabunense. Com
contribuíam financeiramente para sua coragem e visão futura decidiu localizar no
manutenção - os produtores de cacau. município de Ilhéus em terreno ofertado por
Tornou-se Coordenador Administrativo um produtor rural também idealista.
Regional do recém-criado Escritório Central Mas, as críticas existiram. O ciúme
de Coordenação ao lado do cientista Dr. prevaleceu naqueles ainda arraigados com as
Paulo Alvim, como Coordenador Técnico tradicionais disputas entre as duas cidades.
Geral, supervisionando e orientando todo o Todavia o José Haroldo sabia que estas duas
programa da CEPLAC. A nova estrutura importantes cidades representariam no futuro
passou a constituir-se do Centro de um grande centro metropolitano do sul do
Pesquisas do Cacau, do Departamento de estado; sabia que as lideranças inteligentes e
Extensão, do Departamento Administrativo e progressistas dos dois municípios iriam
das quatro Superintendências Regionais. conduzir ações dentro desta ideia de
Muitas outras decisões e influências pessoais desenvolvimento regional.
existiram na administração e crescimento da E aí está. Não existem fronteiras entre os dois
Ceplac: com funcionários, com autoridades, municípios. Para eles convergem o comercio,
com políticos regionais sempre visualizando o os acontecimentos culturais, econômicos e
futuro da economia cacaueira, a sociais; misturam-se os jovens, hoje com uma
diversificação, a expansão para a Amazônia, nova concepção de vida e de relacionamento
a preservação do meio ambiente e a humano. Nas salas de aula não existe
separação nem identificação de origem ou de
10. residência. Somente a UESC tem mais de planos e projetos. Visitou governantes, mais
7.000 alunos que não sentem esta disputa puros e idealistas, tentou explicar a todos o
retrograda e antiga, que desapareceu no verdadeiro papel de uma organização técnica
mundo em que vivem. e necessária ao desenvolvimento da região.
Este era o sentimento de JH. Infelizmente os Deixou a direção da Ceplac triste quando
“políticos regionais”, sem visão futura, ainda anteviu o futuro da instituição e seu reflexo na
perseguem ações e decisões região e na economia do cacau, agora com o
governamentais, estimulando uma nova rixa e predomínio da ingerência política partidária
separação entre empresários, estudantes, regional.
professores e toda sociedade, com o único Seu último Projeto de reorganização da
propósito eleitoreiro. Ceplac (ou salvação), escrito e impresso por
O relacionamento com os líderes políticos ele, entregue a todos os dirigentes,
regionais nunca foi fácil; desde os que autoridades, políticos e lideres da economia
apoiavam permanentemente a Ceplac e sua nacional do cacau não teve acolhida. A
ações oferecendo um apoio desinteressado; maioria nem leu a documentação. Nenhum
outros, impertinentes, sem se importar com a político desejava ser o responsável pelo fim
economia do cacau e o “bem estar” da da instituição ou de sua remodelação
população, a querer (e conseguiram), dominar apagando todo o seu passado.
a instituição, injetando apenas procedimentos O melhor de José Haroldo foi ter tido uma
político partidários. Começou no governo vida profissional elogiável, ter contribuído
Sarney. A Ceplac foi entregue ao decisivamente para o progresso e melhoria
correligionário político regional para as suas dos produtores de cacau da Bahia e da
promessas sem o devido atendimento, mas Amazônia, da evolução profissional dos
com boas colheitas de votos. Acabou-se o técnicos e em especial de ter contribuído
idealismo, o amor à instituição, contagiando o marcadamente para a construção da UESC -
funcionalismo com ofertas especiais para os Universidade Estadual de Santa Cruz.
adeptos à política partidária dirigente.
José Haroldo sentiu isto. Tentou por diversas
vezes salvar a instituição. Escreveu artigos,
DEPOIMENTO DE PAULO SERGIO B. MENEZES SOBRE JOSÉ HAROLDO
O destino me proporcionou a felicidade de comprometer sua posição de dirigente maior e
encontrar Zé Haroldo na minha trajetória sem assumir postura paternalista, pois nunca
profissional. Por afinidades e oportunidades lhe faltava a compreensão de justiça e
me dediquei a estudar e trabalhar na aérea de resultados.
recursos humanos da CEPLAC e foi nessa Sua visão de futuro era demonstrada em cada
experiência que pude conhecer, mais de decisão relacionada com os recursos
perto, quem era essa pessoa, então humanos. Os funcionários menos qualificados
Secretário Geral da CEPLAC, que tinha sob tinham uma especial atenção do Seu Zé.
sua responsabilidade o enorme desafio de Lembro-me quando a CEPLAC contava em
decidir, também, sobre a vida de inúmeras seu quadro de pessoal com um grupo de
pessoas que trabalhavam na CEPLAC e, por Trabalhadores Rurais que representava 30%
consequência, de seus respectivos do seu contingente, aproximadamente. Esses
dependentes. Zé Haroldo tinha em sua alma trabalhadores tinham legislação própria e não
uma enorme sensibilidade para compreender se vinculavam à Previdência Social, portanto,
o ser humano. Tinha uma capacidade não tinham os mesmos direitos e benefícios
extraordinária para projetar, assimilar, dos demais funcionários. Isso o incomodava
estimular e concordar com as propostas de sobremaneira. Então ele recomendou-me
melhorias das políticas de recursos humanos examinar junto com a área jurídica e junto à
da CEPLAC, sempre demonstrando que tudo Previdência a possibilidade de alteração de
isto era absolutamente possível, sem vínculo desse grupo, o que veio acontecer,
11. após várias considerações, projeções e visitas Mestrado e Doutorado, o que muito
à Superintendência do então Instituto notabilizou a Instituição. Para fixar e estimular
Nacional de Previdência Social-INPS, tão qualificado patrimônio humano apoiou e
culminando com a unificação do regime, implantou várias melhorias nos sistemas de
internamente na CEPLAC, o que se remuneração, sempre disposto a dialogar com
consolidou, inclusive, com o novo Plano de as autoridades que, a nivel do Conselho
Cargos e Salários implantado em 1974, Nacional de Política Salarial-CNPS,
também outro marco importante na história da aprovavam tais mudanças.
CEPLAC durante a sua gestão. Essas rápidas palavras são, apenas, um
No plano social Zé Haroldo foi um grande testemunho do que pude observar e nunca
líder. Promoveu a criação do Instituto esquecer, durante meu trabalho na área de
CEPLAC de Seguridade Social-CEPLUS que, recursos humanos, junto a uma pessoa
se teve vida curta por motivos outros, a todos iluminada que marcou várias gerações, pela
funcionários vinculados muito beneficiou, liderança que exerceu em prol das regiões
inclusive com o recebimento do fundo de produtoras de cacau no Brasil.
reserva. Liderou a construção de conjuntos Enfim, Zé Haroldo era um homem com uma
habitacionais para servidores. Aprovou o visão que extrapolava a sua época e colocou
Plano de Assistência Médica, ginásio isto na sua maneira de administrar, sempre
esportivo, apoiou a criação de Associações com lisura e competência, e se relacionar com
representativas dos funcionários, entre várias as pessoas. Com ele tive o privilégio de
outras ações. conviver e muito aprender.
No tocante a carreira dos funcionários da Que Deus sempre o proteja, onde quer que
CEPLAC é sabido e notório o seu empenho esteja.
em manter quadros qualificados com a Brasília, março de 2012
aprovação de programas de treinamento em
todos os níveis, especialmente a nível de
ZÉ HAROLDO – UM EXEMPLO DE LIDERANÇA
Antônio Manuel Freire de Carvalho
Conheci Zé Haroldo ao ingressar na CEPLAC foi inaugurar aquele escritório e ele mesmo
em janeiro de 1964 quando participava de um lembra em um de seu livros o comentário de
treinamento pré-serviço em Itabuna. Em uma seu motorista, amigo e colaborador direto,
das aulas, fomos apresentados ao então Diomedes, que seu discurso não foi dos
Coordenador Sr. José Haroldo Castro Vieira e melhores mas que ele iria se acostumar e
ali se evidenciava sua grande luta, de motivar melhorar. Realmente a prática o levou a ser
a todos para um sonho que virou comum aos um dos melhores e eficientes oradores, cuja
CEPLAQUIANOS – o de fazer a maior e mensagem, sempre sensata e construtiva,
melhor instituição agrícola, no início, e de nos levava a acreditar nos seus objetivos e
desenvolvimento regional, de forma abraçar a luta..
consolidada, no futuro. O idealismo e a Com seu estilo afável e com a humildade que
competência técnica era nossa força e Zé sempre caracterizou sua personalidade Zé
Haroldo era um dos esteios que contávamos. Haroldo passava a ser uma referência como
O CEPEC já existia e suas unidades eram Dr. Alvim, Jorge Vieira, Pedro Pinto e o
localizadas nas sedes das fazendas então Secretário Geral, Carlos Brandão que,
adquiridas para o Centro de Pesquisas. cada um com seu estilo, nos doutrinavam e
Algumas bem rústicas e sem qualquer eram exemplos a ser seguidos.
conforto, mas o desejo de produzir superava As dificuldades eram grandes, a região
tudo. O antigo DEPEX, criado em 1963, cacaueira com uma estrutura débil apesar da
iniciava sua trajetória com a inauguração do riqueza gerada pelo cacau dificultava o
escritório local de Coarací, o primeiro de uma acesso aos Municípios e em especial às
série de 20 inaugurados em 1964. Zé Haroldo fazendas de cacau. Os jipes pretos, as
12. canoas e barcos rústicos, os burros eram PROAPE, do Diagnostico Socioeconômico do
nossos meios de deslocamento. O olho Sul da Bahia – um marco técnico para o
grande e ambicioso pelo crescimento da planejamento regional – Diretor do DEPEX e
CEPLAC já era visível. As lutas vitoriosas posteriormente para Coordenador Regional
contra os inimigos invejosos e políticos que Adjunto. Enfim, minha vida profissional
queriam o comando ou a extinção do órgão, cresceu sob a liderança, seu exemplo e sua
eram vencidas pelo trabalho, dedicação e confiança pessoal.
posicionamento de nossos líderes e entre Sou muito agradecido a Zé Haroldo pela
eles, Zé Haroldo era o homem da linha de minha formação pessoal e profissional. E, ao
frente. deixar a Direção do DEPEX, em 1983, recebi
A CEPLAC começava a se firmar com a de Zé Haroldo a sua melhor lição de vida
aceitação e aprovação das comunidades. quando disse ¨a gestão de Tonhel foi o melhor
Veio a incorporação das Estações período de relacionamento com a lavoura¨
Experimentais de Una e Jussari, a Estação Juntos recebemos títulos de cidadãos de
de Uruçuca, com todo acervo técnico e vários Municípios do sul da Bahia pelo
profissionais de renome como os Drs. trabalho realizado.
Carlleto, Pedrito Silva, Lélis e tantos outros Já amadurecido profissionalmente, encarei
que vieram dar exemplo e maturidade aos todos os cargos e encargos que assumi com
iniciantes. confiança e certo que daria conta do recado.
Veio a EMARC e com isso a consolidação da Zé Haroldo me transmitia força e orientava
instituição. O tripé – Pesquisa, Extensão e mesmo quando já aposentado da CEPLAC
Ensino – formava um modelo que passou a assumia a CEASA, a FAEB e o SENAR e
ser a marco do desenvolvimento regional. hoje, mesmo ausente, pode ter certeza que
.Por iniciativa da própria CEPLAC foi criado o em todas aquelas instituições foi deixado um
então CNPC congregando os Sindicatos pouco do seu idealismo e forma de
patronais rurais da região e, com isso, os administrar.
produtores passaram a dispor de assento Em vida Zé Haroldo estaria com 85 anos de
efetivo no Conselho de Administração da idade. Pena que tenha ido tão
CEPLAC. Zé Haroldo foi o grande articulador prematuramente, pois sua presença, suas
dessa organização e como reconhecimento ideias e posicionamentos seriam
pelos relevantes trabalhos chegou a receber a fundamentais para superarem as dificuldades
maior comenda concedida a beneméritos da crise que tanto assolou a região cacaueira
Com minhas promoções a Agrônomo da Bahia.
Regional e Assessoria do DEPEX nosso Mais de que justas as homenagens que seus
relacionamento profissional e pessoal passou colegas, admiradores e liderados farão em
a ser mais frequente e, a cada dia, mais sua homenagem. Por mais que façamos é
aprendia suas lições e admirava seus ainda muito pouco para evidenciar o quanto
posicionamentos e exemplos. devemos ao Zé – sua capacidade de trabalho,
Ao ser indicado para o curso de pós- sua liderança, sua dignidade, suas ideias
graduação na Colômbia contei com o apoio brilhantes e seu exemplo pessoal e
incondicional do Secretário José Haroldo, profissional – continuarão marcando e
nesta época sediado no Rio de Janeiro e após orientando nossos caminhos.
o curso, nomeou-me Coordenador do
DEPOIMENTO DE ROBERTO MIDLEJ
Sinceramente, não sei como começar a seja através dos seus escritos, seja por força
atender ao seu chamamento, para das lembranças dos 50 anos do convívio
registrarmos, juntos, a passagem dos 85 anos quase diário.
do nosso sempre lembrado Zé Haroldo. Por isso, voltando a um passado bem
Eu, particularmente, estou sempre distante, remeto-me ao ano de 1958, quando
homenageando a memória do grande amigo,
13. ingressei na CEPLAC, e, por coincidência, definhava por falta de recursos adicionais do
me fez retornar a Itabuna, terra natal. Estado.
Nessa época, o quadro da CEPLAC era só Outras figuras como o Silvio Midlej, Cícero
formado por pessoal do Banco do Brasil, Milmo, Osmundo Teixeira, José Maria
talvez uns quarenta, vindos de várias cidades Vasconcelos, José Amorim e tantos outros
da região cacaueira, senão de outros continuávamos sediados em Itabuna, ainda
Estados. acompanhando casos remanescentes de
Lembro-me bem do Urbano Brandão, Antônio composição de dívidas.
Juvenal Guerra e Carlos Meireles, que, de Por força do cargo, lembro-me bem que o
certa a forma, comandavam o ressurgimento nosso Zé Haroldo tinha que realizar
da região cacaueira, através de frequentes viagens ao Rio de Janeiro, então
refinanciamento de dívidas. Acima dessas sede institucional da CEPLAC. Só que viajava
pessoas despontava a figura do jovem Carlos sempre de carro (diga-se Rural Willys), pois
Brandão, homem de confiança de Tosta Filho, tinha pavor de avião. Ao superar esse medo,
então Diretor da CACEX, e indicado pelo ninguém o segurou mais, forçado, que era, de
Presidente Juscelino para reerguer a fazer viagens de Teco - Teco, dentro da
economia da tão sofrida região. Região, e até voos internacionais. A essa
Feito esse extenso preâmbulo, aí é que entra altura, sob a batuta do Paulo Alvim, o quadro
a figura do Zé Haroldo, na época encarregado de agrônomos já alcançava quase uma
da parte contábil das operações financeiras. centena, espalhados por toda uma região, de
O nosso contato foi fácil, pois eu já servira, Jequié até o extremo sul.
anos atrás, ao Tiro de Guerra em Ilhéus, Como os nossos recursos eram oriundos de
quando ouvi falar em figuras tradicionais e uma taxa de retenção (10%) de toda de toda
quatrocentonas da bela cidade praiana, entre a produção, fomos estendendo atividades,
as quais despontava o clã dos Melo Vieira. levando dezenas de agrônomos a fazerem
Zé, antes de entrar para o Banco, teve uma pós- graduação no Brasil e no exterior, até
passagem rápida como comerciante, quando formarmos um exemplar Centro de Pesquisa.
eu o conheci, como espectador, jogando tênis Nessa época, já usufruíamos de nova sede
no Clube Social de Ilhéus. regional com projeto do renomado arquiteto
Figura discreta, de bom papo, e já com muitas Sérgio Bernardes e, com isso, recebíamos
ideias na cabeça, foi, de mansinho, se figuras importantes, não só do Brasil como do
destacando no grupo, graças a uma grande exterior.
vocação de liderança. É importante que se registre o fato de que
Com a criação do SETAG (Setor Técnico tínhamos autonomia de recursos financeiros,
Agrícola), a CEPLAC começou a estender sua já que as receitas da taxa entravam
missão, que era, principalmente, a de diretamente em conta do Banco do Brasil. Isto
recuperar a lavoura cacaueira, após o permitia ficarmos fora do orçamento da União,
saneamento das dívidas dos produtores. com disponibilidade de recursos de 1ºde
Poucos anos se passaram, até que, por ato janeiro a 31 de dezembro de cada ano.
do Governo Federal, foi decretada a Carlos Brandão, a essa altura, deixava a
desapropriação de uma área nobre de mais CEPLAC e ingressava no Banco Central,
de 700 hectares, no eixo da Rodovia como Diretor Financeiro, salvo engano. Aí é
Ilhéus/Itabuna, km. 22. que entra a figura do Zé Haroldo, mais uma
Carlos Brandão, com a acuidade tão própria vez.Graças ao seu excelente trabalho à frente
dos mineiros, escolheu Zé Haroldo para ser da direção regional, é convidado por Brandão
Superintendente regional do Órgão. A essa para, com muita justiça, substituí-lo na
altura o quadro de agrônomos da CEPLAC CEPLAC como Secretário Geral.
era enriquecido com a colaboração de Ao assinar a posse, lembro-me bem que Zé
respeitáveis figuras oriundas da Estação Haroldo recebeu do então Governador do
Experimental de Uruçuca, então pertencente Estado, telegrama parabenizando-o pela
ao Instituto de Cacau da Bahia, cuja missão “interinidade”. Esse mesmo Governador que,
14. meses, messes antes, ao assinar dezenas de solo para prosperar. Passados tais registros
convênios com a CEPLAC dissera que, afinal, “históricos”, cabe-nos falar da parte mais
estava recebendo de volta um pouco dos alegre e agradável, que é a da tentativa de
recursos que pertenciam, de fato, ao Estado. ressaltar as muitas qualidades do Zé. E aí não
Não dava para entender tal colocação, senão sei se falo mais da amizade ou da obstinação,
mera “dor de cotovelo” por ver a CEPLAC, da sua lealdade ou da força de criatividade.
então, pontificando em uma centena de Mas o que sei, com certeza, é que sua
municípios da região, onde o Estado, certamente dedicação à CEPLAC era constante, com
por falta de recursos, não pudera atuar. Não é plantão de 24 horas ao dia. Não posso
preciso lembrar que o nosso Zé “tirou de letra” a esquecer, também, da sua eterna paciência,
ironia do governador, pois que a “interinidade” de estar sempre disposto a ouvir pedidos dos
durou por cerca de três décadas. mais absurdos, e, ao dizer um “não”, o fazia
Vale lembrar que, entre os anos de 1977 a 1982, com tal habilidade que o interlocutor ainda
a CEPLAC contava com orçamentos altamente saía satisfeito.
significativos, chegando a dispor de quase 120 Poucas vezes o vi irritado, mas me lembro de
milhões de dólares para o orçamento de 1978, um episódio que, a propósito, vale registrar:
graças à conjunção de boa produção (mais de íamos à noite a um evento em Ubaitaba,
4oo mil toneladas) e preços internacionais (pique quando o nosso prezado motorista, o
de mais de 3.000 dólares). Diomedes, famoso “munheca de pau”, parou
Com esses recursos o nosso prezado a rural que acusou um problema no motor. O
Secretário Geral adquiriu nova sede em motorista, que entendia ainda menos de
Brasília, Construiu a sede regional em Belém, mecânica que de direção, suspendeu o capô,
construiu a sede do Conselho Consultivo dos como se fosse resolver o grande enigma. Zé,
Produtores de Cacau-CCPC, agora que era rigoroso com horário de
agregando quase cem Sindicatos Rurais, e compromissos (chegava sempre, pelo menos
pôde, principalmente, adquirir, a “fórceps”, a uma hora antes), já estaca estourando a
área sonhada, entre Ilhéus e Itabuna para a paciência, quando apareceu uma alma
construção física da Universidade. salvadora, na pessoa de outro motorista da
A essa época Dr. Érito Machado, então comitiva. E, assim a agenda foi cumprida, e
Diretor da Universidade de Santa Cruz - comprida...
FUSC me “azucrinava” na região, para liberar Não posso me esquecer, também, quando,
mais recursos para apressar a construção as depois de uma jornada exaustiva que ia das
sede, enquanto Soane Nazaré, dirigindo a oito da manhã às oito da noite, tínhamos que
Federação das Escolas Superiores de Ilhéus comparecer a uma reunião extraordinária do
e Itabuna-FESPI, atuava junto a Zé Haroldo CCPC, que, por vezes, varava a madrugada.
para consolidar o trabalho de formação de E o Zé, sempre paciente, a tudo ouvia, sem
novos cursos, com o que não contava com levantar a voz, mesmo diante de tantos
dificuldade, já que a Universidade era a “destemperos”
“menina dos olhos” do Zé Haroldo. Tentei, por algum tempo, rever documentos e
Com essa fase de ouro do cacau, é claro que anotações, para não confiar só na memória,
todo Estado da federação queria plantar que, por vezes, é falha. Na verdade, a
cacau. Além da expansão tradicional no norte documentação de que disponho, é mais de
do País, apareciam pedidos até de Tocantins papéis oficiais e de origem burocrática, que
(o Governador foi à sede regional de avião nada acrescentam. Mesmo assim, fiz questão
particular, para obter sementes), enquanto o de realizar essa tarefa sumamente agradável,
jornalista Rezende Peres defendia o plantio passando a melhor compreender os
na região fluminense. E Zé Haroldo, com a argumentos do colega Cícero.
habilidade que Deus lhe deu, e o Ministro Cabe-nos, talvez, por último, missão de
Paulinelli ajudou, ia driblando tais pretensões, relatar, no meu parco entendimento,, ressaltar
eis que, na maioria dos casos não havia a os fatos e momentos mais marcantes na vida
menor vocação para essa lavoura, que ceplaqueana do nosso Haroldo.
sempre exigia condições especiais de clima e
15. Fora a tarefa diária de tomar decisões Não posso deixar de registrar, também, a
importantes, destaco o seu empenho em importância que o nosso homenageado
“perseguir” a criação da Universidade, que, reservava para o programa de estradas
hoje nos dá tanto orgulho, ao acolher cerca de vicinais (milhares de quilômetros) e de pontes
dez mil alunos, voltados para os cursos das para assegurar o melhor escoamento da
mais diversas áreas. produção cacaueira. Ao lado disso, foram
No centro das discussões sobre o futuro da construídas dezenas de sedes de sindicatos
Universidade havia a questão de sua rurais, equipados com gabinetes dentários e
estadualização, a que a CEPLAC teve que se pequenos centros médicos.
render, eis que, a essa altura o nosso Ao redigir este texto, sinto falta (e que falta),
orçamento estava atrelado ao da União, e os da habilidade do Sílvio e do estilo preciso e
recursos começavam a declinar. lapidar do Cícero Milmo. Mas me sinto, ao
Outro projeto que o Zé Haroldo deu o maior mesmo tempo, feliz por saber que o escrevi
apoio, em parceria com o Onaldo Xavier foi a com a memória e o coração, o que era bem
criação do PACCE, destinado a revelar do agrado do nosso Zé.
talentos regionais, nos mais diversos setores Nessa hora de muitas lembranças, vários
da arte. Para coordenar tal projeto foi fatos e episódios me veem à mente, mas o
convidado o escritor e poeta Telmo Padilha. foco deve estar voltado para o homenageado,
Uma outra tarefa importante que mereceu a razão pela qual peço minhas escusas por
atenção do Zé Haroldo foi a de ampliar as certas omissões que, em outros momentos
atividades da EMARC, criando, com a seriam imperdoáveis.
colaboração do então Governador Roberto Agora é só a hora do Zé Haroldo, amigo,
Santos, mais escolas, destinadas a formar colega, e mais que tudo, o irmão de todos
técnicos agrícolas, que desenvolviam suas nós, que, com ele, tanto aprendemos a viver e
tarefas, coadjuvando os trabalhos dos amar a CEPLAC
extensionistas e toda a região cacaueira
DISCURSO PROFERIDO POR LICIO DE A. FONTES EM FEV/2005.
Recebi a honrosa incumbência de falar a muitas confidências compartilhando de muitas
respeito do querido e saudoso amigo José vitorias, tristezas, ansiedades e sobretudo
Haroldo Castro Vieira nesta merecida testemunhando os seus grandes ideais.
homenagem que a academia de letras de Por mais que a grande amizade e admiração
Ilheus vem lhe prestar. que sempre nutri pelo Zé Haroldo possam
Falar sobre Zé Haroldo seria uma tarefa fácil influenciar estas minhas palavras, com
se ele ainda se encontrasse entre nós, pelas certeza não representarão um falso
inúmeras virtudes de que era possuidor, pelo testemunho, vez que, elas jamais seriam
cidadão exemplar, pelo homem público sem desmentidas até mesmo por qualquer
mácula, pelo filho apaixonado pela sua terra e desafeto de Zé Haroldo, se por ventura
pela sua região, enfim, por tudo o que existisse.
representava como homem íntegro, Admirava-me ver como Zé Haroldo amava a
personalidade cativante e amigo leal. sua região e particularmente a cidade em que
Entretanto, inconformado pela sua ausência nasceu, assim como respeitava e considerava
esta tarefa me será também dolorosa por aqueles homens que plantaram a grande
ainda não ter me acostumado com a ideia da riqueza do cacau, à custa de suor e sangue .
sua partida de nosso meio. Contagiava-me a sua indignação pelos
Conviví com é Zé Haroldo durante cerca de maltratos e injustiças sofridos pelos
40 anos. Muito desse convívio foi diuturno, de produtores de cacau. Não conheci até hoje
grande intimidade e fraternal amizade. Sinto- alguém que respeitasse ou se preocupasse
me portanto apto a prestar um depoimento mais com o produtor de cacau, que Zé
sobre uma pessoa com quem tive uma Haroldo
relação muito próxima e com a qual troquei
16. Afirmo sem medo de ser contestado que as Não fez fortuna. Morreu sem ter acumulado
grandes conquistas da região cacaueira bens materiais, mas amealhou um invejável
nestes últimos 50 anos foram consequência patrimônio moral. Foi algumas vezes
da ação benéfica, do trabalho abnegado e da incompreensivelmente combatido, mas
visão empreendedora de Zé Haroldo. ninguém nunca ouviu de sua parte uma
Permito-me lembrar: a Universidade de Santa reação raivosa ou uma atitude revanchista. A
Cruz, o Centro de Pesquisas do Cacau, os sua capacidade de resignação e tolerância
hospitais em grande parte da região, as era traduzida em outro ensinamento que ele
telecomunicações, a eletrificação rural, as nos passava sempre ao dizer: “o melhor
estradas vicinais, as pontes, as escolas lutador não é o que mais bate nem o que mais
técnicas de agricultura, as cooperativas, os agride e sim o que mais sabe absorver os
parques de exposição agropecuários, os golpes.” A sua capacidade de convencimento,
portos, aeroportos, o polo de informática e um de gerenciamento de conflitos, de pacificação
imenso numero de outras realizações que de espíritos era admirável.
engrandeceram a região, tudo feito dentro de Considero-me um privilegiado por ter
um critério de inatacável lisura e honestidade. convivido e trabalhado com Zé Haroldo que
A personalidade de Zé Haroldo era inspirou o melhor da minha formação como
fascinante. Todas as pessoas que profissional e como ser humano.
trabalharam ou conviveram com ele foram A região cacaueira e a Bahia ainda não se
cativadas pela sua maneira de ser. deram conta plenamente da importância que
Durante todo o nosso longo convívio nunca Zé Haroldo representou para todos. E a falta
tomei conhecimento de qualquer atitude de que ele nos faz.
intolerância ou impaciência de sua parte Após a sua morte, os seus familiares
contra quem quer que fosse. encontraram entre alguns dos seus escritos
Os seus colegas e subordinados da CEPLAC inéditos mais um sábio conselho em forma de
em todos os níveis, eram tratados por ele com oração e que traduz bem o caráter e a
um carinho e uma atenção incomuns. Dele grandeza desse homem que viveu e morreu
ouvi várias vezes a lição de grandeza e em paz consigo mesmo, com o próximo e
tolerância ao dizer que devemos ter sempre com a vida:
paciência com os mais humildes pois a vida “-persigam os seus sonhos e ideais, mas não
para essas pessoas é mais difícil e mais se esqueçam que se a vida é a procura da
sofrida já que eles não tiveram a sorte de felicidade, esta não se encontra no dinheiro,
nascer em berço de ouro. Que aqueles que nem no poder ou nas posições ocupadas e
ocupavam cargos de comando nunca deveriam nem mesmo num estado de plena saúde. Ela
negar atenção a um funcionário de escalão mais está tão perto de cada um! A felicidade é a
baixo, mesmo que não pudéssemos resolver o paz interior, a consciência do dever cumprido,
seu problema, pois ao nos procurar ele acha que especialmente em relação ao seu
nós representamos a ultima esperança para a semelhante. Cultivem o bem-querer, sem
solução do seu problema. excessos ou pieguices, mas com sincero
Durante 29 anos Zé Haroldo ocupou os sentimento, pois aí está a essência de uma
cargos mais importantes da CEPLAC e tinha vida feliz.”
a responsabilidade de gerir um dos maiores José Haroldo nasceu em 6 de abril de 1927 e
orçamentos de empresas públicas do Brasil. E morreu em 6 de fevereiro de 2004. Assim
o fez com tal correção, honestidade e zelo como fez com a sua vida, Zé Haroldo
que a CEPLAC era considerada ofereceu esta oração também a todas as
nacionalmente como um paradigma de pessoas que o conheceram
operosidade, eficiência e retidão.
oOo
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