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Universidade Católica do Salvador
Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania
Gestão e Avaliação de Políticas e Projetos Sociais
Professoras: Denise Cristina V. R. Mendes e Katia S. de Freitas
Semestre: 01/2010




       A AVALIAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA: entre qualidade do
                   mercado e a qualidade social da Educação

                                                                  Virgílio Alberto S. Pinto1



RESUMO:

A avaliação da escola pública foi colocada no centro do debate da reforma
educacional brasileira a partir dos questionamentos sobre os índices de
desempenhos dos alunos das escolas públicas e a própria qualidade da
educação, que coloca em cheque a reestruturação do Estado no âmbito da
economia globalizada e da reestruturação produtiva toyotista. Isso reforça a
idéia de que a proposição de avaliação da educação migrou do “mundo” da
economia. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivos discutir a o
conceito de qualidade da educação e a avaliação da educação básica
relacionando com o ideário neoliberal da política educacional que pouco a
pouco tem sido introduzida no sistema público de ensino, impondo conceitos da
literatura do mercado na práxis educativa, na própria concepção de sistema
educacional e na profissão dos educadores e educadoras.

PALAVRAS-CHAVE: Avaliação da Educação. Qualidade da Educação.
Neoliberalismo. Política Educacional.




1
    Mestrando em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador.
Introdução



      A     pesquisa sobre qualidade da educação ganhou importância nas

últimas décadas, principalmente no contexto recente da educação brasileira,
com a universalização do acesso à educação básica e com a reforma do
sistema educacional e do próprio Estado, com referenciais baseados na
racionalidade a partir de princípios como custo-benefício e custo-efetividade,
dentre outros da literatura econômica e neoliberal.
       O apelo à educação de qualidade tem sido também uma retórica da
mídia que atinge a opinião pública e a agenda de governos, movimentos
sociais, pais, estudantes e pesquisadores do campo da educação. N caso
brasileiro, vale ressaltar que a elevação das escolas a um patamar de
qualidade se apresenta como um complexo e grande desafio – basta verificar
os novos índices do IDEB com elevações tímidas em relação às metas
estabelecidas pelo Ministério da Educação e do INEP. Se, nas últimas
décadas,    observamos     avanços   em    termos     de   acesso   e   cobertura,
principalmente no ensino fundamental. Tal processo carece, contudo, de
melhoria no tocante a uma aprendizagem mais efetiva. E isso está na essência
da questão da qualidade.
      Na ponta dessa polêmica estão os agentes executores da política
educacional que são os educadores e educadoras. Ai entra em cena outro fator
importante da nova política educacional brasileira que é a avaliação de
desempenho baseada na aferição da qualidade do trabalho docente a partir de
indicadores de desempenho dos educandos e provas periódicas de
conhecimentos específicos e pedagógicos fundada em referenciais reguladores
da carreira do magistério enquanto forma de fomento da qualidade da
educação.
      Instaurar um debate sobre tais questões remete a um conjunto de
determinantes que interferem nesse processo, no âmbito das relações sociais
mais amplas, envolvendo questões macroestruturais da reforma do Estado,
qualidade da educação, educação como direito, entre outras. Também nos
levar, igualmente, a questões concernentes à análise de qual qualidade da
                                                                                 2
educação interessa ao coletivo, a fundamentação das propostas em curso bem
como à responsabilidade do Estado sobre a qualidade da educação pública o
que implica verificar a proposta de avaliação do magistério público enquanto
possibilidade de garantia dessa suposta qualidade requerida pelo ente
federativo estadual.
       O arcabouço propositivo acima nos remete a outras tantas questões
como condições de trabalho, processos de gestão da escola, dinâmica
curricular, formação e profissionalização docente, condições socioeconômicas
dos sujeitos do processo educativo e suas relações com a qualidade que se
pretende para a educação pública. Em outras palavras, a educação escolar se
articula a uma pluralidade de dimensões e espaços da vida social sendo, ela
própria, elemento constitutivo e constituinte das relações sociais mais amplas.
O processo educativo, portanto, é eixo vertebrador, perpassado pelos limites e
possibilidades da dinâmica da pedagogia, da economia, da sociologia, da
antropologia, da cultural e política de qualquer sociedade.
      Objetivando contribuir para a construção de referências analíticas para a
qualidade da educação e para a avaliação do sistema educacional de forma
articulada e não apenas de segmentos desse sistema como de professores, o
presente texto visa problematizar as múltiplas significações e conceitos
relativos à qualidade da educação.




                                                                              3
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE EM EDUCAÇÃO: quem a pensa? A quem
serve?


Neste trabalho dois conceitos se impõem enquanto categorias epistemológicas
- avaliação docente e qualidade da educação.
                           “A idéia de que tudo pode e deve ser avaliado no sentido de
                    melhorar a qualidade da “coisa” que se produz ou do “serviço” que se
                    presta tem vindo a ganhar terreno no nosso quotidiano e a alargar- se
                    mesmo a horizontes que têm estado fora da obsessão avaliativa” .
                    (BELMIRO, 2009, p.179).
      A idéia de medir os resultados da educação pública tem origem na idéia
de eficiência e eficácia que, na ciência econômica se utiliza para medir, aferir a
qualidade dos investimentos nos diversos ramos da economia privada. Tal
proposição foi introduzida no campo educacional a partir do ideário neoliberal
de reestruturação do Estado que tem na educação um viés de produtividade e
no cidadão um consumidor dos serviços públicos enquanto produtos.
      Para Belmiro Gil Cabrito, a origem “a avaliação no sentido de melhorar a
qualidade desenvolveu-se nos meandros da economia e da finança, e a ela
não será estranho a necessidade de medir em termos econômicos a
rentabilidade do investimento aplicado”.(idem, p. 179).
      Entretanto, a avaliação no âmbito da educação pública sempre pautou a
dimensão aluno. Avaliava-se, apenas o rendimento acadêmico dos alunos. A
partir da reestruturação do sistema educacional com a Constituição de 1988 e
a LDB 9394/96 uma nova perspectiva avaliativa se impôs pelo princípio da
“qualidade”.
      Então a avaliação vai ser pautada pelos resultados negativos da
educação pública que não atendem à nova ordem econômica mundial
globalizada onde a competitividade do sistema produtivo entre nações é fator
determinante de estabilidade e crescimento econômico.
      A reforma educacional na década de 1990, ganha força com o ideário
neoliberal, imperativo no governo de FHC, baseado na concepção de
“qualidade total”. Para Maria Malta Campos, os organismos multilaterais
(Banco Munidial, Fundo Monetário Internacional), influenciam nas reformas


                                                                                       4
educacionais na América Latina pautando a implantação de sistemas
educacionais fundados nos princípios da “qualidade total”.
                               “(...)   elas também      são    parte integrante     das reformas
                     educacionais        desenvolvidas    nos     países   latinos    americanos,
                     influenciadas pelos acordos e convênios firmados com agências
                     multilaterais, os quais trazem em suas cláusulas a previsão de projetos
                     de monitoramento e avaliação das políticas implantadas nas redes
                     escolares públicas, com a preocupação de estimar as relações de
                     custo-benefício dessas intervenções e subsidiar a continuidade das
                     reformas”. (CAMPOS, 2000, p. 07).

      Se for verdade que o sistema educacional está fundado na ideologia
dominante, o ideário de qualidade da educação desenvolvida no interior desse
sistema estará também articulado nos seus fundamentos. Sobre tal relação
entre avaliação e interesses ideológicos reformistas, Marília Fonseca apresenta
a indicação da política de avaliação pensada pelo Banco Mundial para
educação publica brasileira:


                     No final daquela década, o MEC negociava com o Banco Mundial outro
             acordo para o desenvolvimento da educação fundamental nos estados do
             Nordeste (Projeto Nordeste), cuja execução dar-se-ia na década de 1990. No
             plano das ações, este acordo dava continuidade ao Projeto EDURURAL,
             encerrado em 1987. Uma das propostas do Banco era dar seguimento ao
             processo de avaliação externa desenvolvido nos projetos anteriores, desta
             feita, alcançando o desempenho do aluno, dos professores e da rede escolar.
             A proposta acordada entre o MEC e o Banco era estender a avaliação à
             totalidade do sistema educacional. De fato, as experiências avaliativas
             efetuadas nos âmbito dos acordos internacionais deram suporte aos projetos
             nacionais de avaliação que se consolidariam na década de 1990 e que se
             constituiriam a principal referência para a qualidade educacional. (FONSECA,
             2009., p. 165).


      Observamos que a autora aponta três dimensões a serem avaliadas,
segundo o Banco Mundial: a dimensão aluno, a dimensão professor e a
dimensão rede escolar. Todas elas contempladas no arcabouço da reforma e
em curso na conjuntura atual.



                                                                                               5
Quando destacamos tais elementos não nos posicionamos contrários à
avaliação, queremos desvelar a sua lógica. A que se pretende avaliar tais
dimensões? Em detrimento da qualidade do ensino e das escolas? Sob que
ótica?
         Novamente nos deparamos com a questão da qualidade. É aí que
abrimos um debate propositivo acerca do tipo de qualidade que esta pensada
para a escola pública brasileira. Se o conceito de qualidade está alicerçado nos
fundamentos da reforma como pontuamos aqui, então nos cabe buscar
entender o pensa o Banco Mundial. Inquirirmos se o que os executivos dos
organismos internacionais ligados ao capitalismo financeiro pensam sobre
educação é o que necessitam os alunos, professores e pais de alunos das
nossas escolas públicas. Sobre essa questão, analisando o Comunicado da
Comissão das Comunidades Européias ao Conselho e ao Parlamento Europeu
sobre a eficiência e equidade da educação e formação de professores,
observamos que tais preocupações estão intimamente ligadas às exigências do
mercado mundial que é competitivo.


                     O conselho Europeu da Primavera de 2006 definiu os dois desafios que
                     se colocam aos sistemas de educação e formação, ao concluir que são
                     factores determinantes para o desenvolvimento do potencial de
                     competitividade da EU alongo prazo e para a coesão social. Afirmou
                     ainda que é necessário acelerar os processos de reforma para garantir
                     a existência de sistemas de educação e formação de grande qualidade
                     e simultaneamente eficientes e equitativos. Estes aspectos são
                     fundamentais para o crescimento e o emprego e no método aberto de
                     coordenação aplicado à inclusão social e à proteção social. (COSELHO
                     EUROPEU, 2006., p. 02).


         O mundo do capital financeiro impõe uma reforma ao Estado-
Providência que abarcou todos os setores da esfera pública, principalmente a
de serviços como educação. Nesse cenário, o mundo europeu também vem
rearticulando seu sistema educacional com orientações neoliberais baseadas
na eficiência e equidade, marcadamente por uma preocupação mais
orçamentária que social mais econômica que humana – ou para um grupo
específico e pequeno de humanos.
                                                                                        6
O que está por traz da qualidade educacional pensada pelo ONU,
Organizações das Nações Unidas, é a reestruturação produtiva imposta pela
dinâmica histórica do processo de globalização que lançou os Estados-Nação,
numa competição mercadológica e financeira nunca experienciada na história
da humanidade. Se o capitalismo, no seu nascedouro a partir do século XVI,
teve que superar a servidão e, no apogeu da Revolução Industrial, o
escravismo e o colonialismo nos séculos XVIII, XIX e XX; na atualidade, tendo
superado o modelo de produção taylorista e fordista, centrado na especialidade
e repetição no processo produtivo; busca na desregulamentação dos mercados
em todo o mundo e na formação de um novo referencial humano capaz de
produzir saídas para a crise estrutural do capitalismo mundial; impor um novo
paradigma de sociedade.
      O modelo de educação que resiste às mudanças históricas da sociedade
hegemônica baseia-se num referencial positivista de homem, mundo e
conhecimento que não atendem ao novo reclame “pós-moderno” do mundo dos
negócios e da produção industrial. Se aquele homem positivista bastava ao
modelo de produção taylorista/fordista porque fechado, repetitivo, especialista;
o novo homem reclamado pelo padrão toyotista japonês, importado para o
ocidente, tem que ser flexível, adaptável, multifuncional e polivalente. Ai é
imperativo reformar esse sistema educacional para forma o novo homem.
      Sobre essa argumentação em torno da metamorfose do sistema
capitalista, se faz necessário o diálogo com E. Dias que afirma:


                           A experiência taylorista foi a forma da subsunção real do
                    trabalho ao capital, de forma ainda mais completa praticada no início
                    do   século XX.    O   fordismo,   como conjunto de medidas de
                    contratendência, incorporou uma nova modalidade de gestão fabril. O
                    taylorismo foi o instrumento da criação de uma disciplina operária
                    através da perda da sua subjetividade classista; os trabalhadores
                    deveriam abrir mão do controle que possuíam sobre a produção e
                    passar a executar o trabalho a partir da objetividade do capital,
                    centrada na reconstrução das lógicas operativas. (DIAS, 1998. p. 47).


      Nesse diálogo fica claro que se impõe outro paradigma de educação.
Não cabe reproduzir conteúdos como se treinássemos pessoas para uma única
                                                                                            7
ação. O contraponto da ação flexível, polivalente, gerencial exige uma
subjetividade, exige-se tomada de decisão no interior do processo produtivo.
Então se reclama outro modelo de qualidade. Contudo há que se preparar essa
nova subjetividade com cuidado para que o novo trabalhador sirva ao velho
sistema produtivo que se multifaceta. A qualidade da educação é outra. Não é
só ler e escrever e contar. Esse mundo globalizado necessita de outras
habilidades e competências. Então deve se reformar o sistema educativo
buscando modelar a construção da visão de homem, educação, mundo e
sociedade ao seu interesse. Os ajustes organizacionais dos sistemas
educacionais seguem a lógica da do sistema produtivo pois tal sistema
depende da educação básica para “qualificar” a sua mão de obra. Há de se
perguntar: Que tipo de educação?
Sobre essa questão, Frigotto afirma:


                          Trata-se de uma educação e formação que desenvolva
                   habilidades básicas no plano do conhecimento, das atitudes e dos
                   valores, produzindo competências para a gestão da qualidade, para a
                   produtividade   e   competitividade   e,   consequentemente,   para   a
                   “empregabilidade”. Todos estes parâmetros devem ser definidos no
                   mundo produtivo, e, portanto os intelectuais coletivos confiáveis deste
                   novo conformismo são os organismos internacionais (Banco Mundial,
                   OIT) e os organismos vinculados ao mundo produtivo de cada país.
                   (FRIGOTTO, 1998. p.45).


      Se a qualidade da educação na reforma estatal em curso move-se na
lógica da produção e do consumo, então cabe questionar: Onde entra a lógica
da avaliação do professor? Observamos que ambas estão enquadradas na
mesma lógica, a do capital.
      Essa lógica foi a bússola das reformas européias:


                   Com um de nós já tive oportunidade de mostrar (Neto-Mendes, 1999),
                   a orientação das políticas educativas para o mercado foi desenvolvida
                   nos anos 80, em Inglaterra, sob a governação de Margaret Thatcher.
                   Dando corpo a uma matéria complexa e que tem suscitado os mais
                   vivos debates. (NETO-MENDES, 2003).


                                                                                         8
Esse autor traz alguns constructos que segundo ele caracterizam esse
paradigma mercadológico na educação:
                           (...) o mercado da educação caracteriza-se por apresentar
                   quatro pilares fundamentais que ajudam também à sua compreensão:
                   i) liberdade de escolha da escola por parte dos pais (“parental choice")
                   incrementadora, como se disse antes, da concorrência entre escolas; ii)
                   promoção da diversidade da oferta escolar, baseada na ideia de que
                   “quem escolhe deve possuir uma pluralidade suficientemente ampla de
                   opções no acto da escolha" (Neto-Mendes, 1999: 43); iii) autonomia
                   das escolas, assistindo-se a uma retórica de defesa do governo local
                   das escolas por oposição a uma outra forma de descentralização, em
                   Inglaterra, que dava às autoridades locais de educação (as LEA, “local
                   education authorities") margens significativas de decisão, isto é, trata-
                   se de uma autonomia de escola associada a uma recentralização das
                   políticas educativas; iv) cortes nas despesas com a educação, por
                   outras palavras, é a crise económica dos anos 70 e 80 um dos
                   “pretextos invocados para questionar o peso preponderante do Estado
                   na orientação do sistema educativo, pedra de toque para o avanço
                   alternativo do mercado" (Neto-Mendes, 1999: 48). (Neto-Mendes,
                   Costa y Ventura, 2003, p. 3).


      Para ese autores, essa reforma educacional a partir da exposição de
ranking de escolas,     implementada na Inglaterra, não foi observada em
Portugal, pois os objetivos em cada um dos países eran diferentes. Para esses,
a preocupação era em prestar contas à sociedade.


                           A problemática dos rankings de escolas está popularizada em
                   vários países e nem sempre pelas melhores razões, pelo menos sob o
                   ponto de vista da análise objectiva e pautada por critérios científicos.
                   Este tema possui na realidade portuguesa contornos de alguma
                   especificidade: contrariamente ao que se registou nos países anglo-
                   saxónicos, com especial relevo para a Inglaterra dos anos 80, sob a
                   governação de Margaret Thatcher, o debate suscitado em Portugal não
                   ocorreu tendo como pano de fundo a opção inequívoca por uma
                   orientação das políticas educativas para o mercado, sabendo-se que
                   tal implica a liberdade de escolha da escola por parte dos pais
                   (liberdade   da   procura),     a   concorrência   entre   escolas   (livre
                   concorrência) e a diversidade da oferta formativa das escolas

                                                                                            9
(liberdade de oferta). Aparentemente, a emergência do tema “rankings
                  de escolas" surge como uma reivindicação em nome da necessidade
                  de prestação de contas e da transparência, podendo mesmo assumir-
                  se perante a opinião pública como o resultado, de per si, de uma
                  avaliação das escolas, ainda para mais legitimada pelo carácter
                  externo que lhe dá o facto de se apoiar nos resultados dos exames
                  nacionais (…). (Neto-Mendes, Costa y Ventura, 2003, p. 1).


      Observa-se que os principios são os mesmos nos dois casos e que tem
com pano de fundo a avaliação por resultados que é uma proposta mais
afinada com o mercado, contrariamente à avaliação do proceso. Sobre essa
mudança de paradigma na educação inglesa, Almerindo Janela Afonso
expondo o pensamento de autores como Mary Henkel e E. House, faz uma
analise crítica a essa opção da avaliação por resultado em detrimento dos
procesos:


                          (…) Como mostra Mary Henkel em Government, evaluation and
                  change – estudo que cobre um período decisivo de transformações nas
                  políticas públicas inglesas, entre 1983 e 1989 –, “o governo identificou
                  a avaliação como uma componente significativa na sua estratégia de
                  conseguir alguns objetivos decisivos: controlar as despesas públicas,
                  mudar a cultura do setor público e alterar as fronteiras e a definição das
                  esferas de atividade pública e privada” (cf. Henkel 1991a, p. 9). Desse
                  modo, a avaliação reaparece claramente relacionada com funções
                  gestionárias tendendo a ser, como refere E. House (1993, p. x), uma
                  “avaliação centrada na eficiência e na produtividade sob o controle
                  direto do Estado”. Considerando esses vetores, torna-se agora mais
                  evidente a razão pela qual, no período em análise, uma das mudanças
                  importantes, tanto fora como dentro do contexto educacional, foi
                  precisamente a ênfase genérica na avaliação dos resultados (e
                  produtos), e a conseqüente desvalorização da avaliação dos
                  processos, independentemente da natureza e dos fins específicos das
                  organizações ou instituições públicas consideradas.


            Essa lógica do resultado só serve ao mercado pois instaura a
cultura da concorrência em detrimento da troca, do compartilhamento de
experiências, de saberes. Isso implica o modelo de financiamento educacional

                                                                                         10
que passa à lógica dos organismos internacionais, implicando a busca pelo
resultado, “porque quando as instituições são financiadas de acordo com os
resultados    elas      tornam-se       obsessivas        em      relação      ao     seu
desempenho”.(AFONSO, 1999, P. 147).
      Contrapondo à lógica mercadológica, Maria Abadia Silva traz ao debate
a tese de “qualidade social da educação pública”, que, segundo ela, seu texto
“busca compreender a educação como uma prática social e um ato político”.
(SILVA,2009, p. 216).
      Aqui se instaura outro olhar que implica a negação da subversão do
espaço público pelo privado. E é sobre tal postura que Maria Abadia analisa o
paradigma de qualidade da educação mostrando as facetas do mercado ao
reformular tal conceito:


                     (...) no campo econômico, o conceito de qualidade dispõe de
                     parâmetros de utilidade, praticidade e comparabilidade, utilizando
                     medidas e níveis mensuráveis, padrões, rankings, testes comparativos,
                     hierarquização e estandardização próprias do âmbito mercantil. De
                     acordo com essa perspectiva, a qualidade de um produto, objeto,
                     artefato ou coisa pode ser aferida com o uso de tabelas, gráficos,
                     opiniões, medidas e regras previamente estabelecidas. Portanto,
                     apreender a qualidade significa aferir padrões ou modelos exigidos,
                     conforto individual e coletivo, praticidade e utilidade que apontem
                     melhoria de vida do consumidor. (SILVA, 2009., p. 219).


      Essa autora historicisa a implantação desse referencial de qualidade na
educação brasileira, afirmando que “A avaliação quantitativa constituiu um dos
instrumentos para adaptar o sistema educacional brasileiro à nova ordem
global instituída nos anos de 1990”. (idem). Para ela, tal proposição tem origem
no Banco Mundial:
                            A concepção de qualidade educacional que emana do Banco
                     fundamenta-se na adoção de “insumos”, que deverão conduzir a
                     resultados a serem avaliados por meio de índices de desempenho e de
                     rendimento escolar dos alunos e das escolas. Seus técnicos
                     preconizam um raciocínio linear, segundo o qual a mera adoção de
                     equipamentos gera resultados satisfatórios. A concepção de qualidade
                     assentada na racionalidade técnica e nos critérios econômicos serviu e

                                                                                        11
serve de referência para a formulação de políticas para a educação
                        pública no país.   (SILVA, 2009., p. 222).



       Contudo, pensar educação é pensar relações sociais, políticas e,
sobretudo, relações culturais plurais, heterogêneas – e por que não dizer
dicotômicas, contraditórias. Tal heterogeneidade implica em riqueza social que
não   pode        se   curvar   aos    interesses           comerciais   pois   implicaria        em
homogeneização de valores, de práticas laborais da vida que é diversa. Num
país de dimensões continentais como o Brasil, isso implica também a
diversidade sociocultural enorme que permeia o tecido social, enriquecendo o
espaço social, enquanto parte desse tecido plural de valores.
       Nesse contexto, contrapondo aquela lógica dos insumos, da clssificação
hierarquização do vivido e produzido no ambiente escolar, se impõe a
qualidade social. Aqui observamos o que sugere DA SILVA:

       Dentre os determinantes externos que contribuem para a referência da qualidade da
educação escolar, citamos:
       a) Fatores socioeconômicos, como condições de moradia; situação de trabalho ou de
          desemprego dos responsáveis pelo estudante; renda familiar; trabalho de crianças e
          de adolescentes; distância dos locais de moradia e de estudo.
       b) Fatores socioculturais, como escolaridade da família; tempo dedicado pela família à
          formação cultural dos filhos; hábitos de leitura em casa; viagens, recursos
          tecnológicos em casa; espaços sociais frequentados pela família; formas de lazer e
          de      proveitamento do tempo livre; expectativas dos familiares em relação aos
          estudos e ao futuro das crianças e dos jovens.
       c) Financiamento público adequado, com recursos previstos e executados; decisões
          coletivas referentes aos recursos da escola; conduta ética no uso dos recursos e
          transparência financeira e administrativa.
       d) Compromisso dos gestores centrais com a boa formação dos docentes e funcionários da
          educação, propiciando o seu ingresso por concurso público, a sua formação continuada e a
          valorização da carreira; ambiente e condições propícias ao bom trabalho pedagógico;
          conhecimento e domínio de processos de avaliação que reorientem as ações.   (SILVA, 2009., p.

          224).



       Esse arcabouço complexo de fatores e relações humanas não pode ser
submetido a uma lógica formal linear, cartesiana. Não há como manter o
interesse dos grupos sociais numa lógica do mercado, pois ela anula o
                                                                                                    12
contraditório que produz as sínteses. Então para a qualidade mercadológica da
educação, como que os neoliberais, não importa o processo:


                       No interior da escola, outros elementos sinalizam a qualidade social da
               educação, entre eles, a organização do trabalho pedagógico e gestão da escola;
               os projetos escolares; as formas de interlocução da escola com as famílias; o
               ambiente saudável; a política de inclusão efetiva; o respeito às diferenças e o
               diálogo como premissa básica; o trabalho colaborativo e as práticas efetivas de
               funcionamento dos colegiados e/ou dos conselhos escolares. (SILVA, 2009., p. 224).


         Estandardizar a partir da classificação e publicação o fazer humano de
         um espaço social permeado por conceitos, valores, símbolos, hábitos,
atitudes, mediado pelo bem comum é negar o caráter humano da educação.
Isso implica que a única qualidade possível para a escola pública é a qualidade
social



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AFONSO, Almerindo Janela. Estado, mercado, comunidade e avaliação:
  Esboço para uma rearticulação crítica Educação & Sociedade, ano XX, nº
  69, Dezembro/99

BAETA, Anna Maria Bianchini. Fracasso Escolar.: Mito e Realidade .Série
   Idéias n. 6. São Paulo: FDE, 1992. Páginas: 17- 23
Disponível em
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_06_p017-023_c.pdf


CABRITO Belmiro Gil. AVALIAR A QUALIDADE EM EDUCAÇÃO: AVALIAR
    O QUÊ? AVALIAR COMO? AVALIAR PARA QUÊ?. Cad. Cedes,
    Campinas, vol. 29, n. 78, p. 178-200, maio/ago. 2009
Disponível em http://www.cedes.unicamp.br

CAMPOS, Maria Malta. A Qualidade da Educação em Debate. In
    OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO. São Paulo – SP. 2000.
Disponível em:
HTTP://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/993/993.pdf

FRIGOTTO, G. Educação, crise do trabalho assalariado e do
   desenvolvimento: teorias em conflito. In: FRIGOTTO, D. (ORG.).

                                                                                               13
Educação e Crise do Trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis:
   Vozes, 1998, p. 25-54.

FONSECA , Marília. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A QUALIDADE DA
    EDUCAÇÃO BRASILEIRA: ENTRE O UTILITARISMO ECONÔMICO E A
    RESPONSABILIDADE SOCIAL. Cad. Cedes, Campinas vol. 29, n. 78, p.
    153-177, maio/ago. 2009 153
Disponível em http://www.cedes.unicamp.br

GOMES, Candido Alberto. A escola de qualidade para todos: abrindo as
  camadas da cebola. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. [online]. 2005, vol.13,
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MARINHO, A.; FAÇANHA, L. O. Programas sociais: efetividade, eficiência
  eeficácia como dimensões operacionais da avaliação. Rio de Janeiro: Ipea,
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(Texto para Discussão, n. 787).
Disponível em: http://www.ipea.gov.br/pub/td/td_2001/td0787.pdf

SILVA, Maria Abádia da. Qualidade social da educação pública: algumas
   aproximações. Cad. CEDES [online]. 2009, vol.29, n.78, pp. 216-226. ISSN
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Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v29n78/v29n78a05.pdf
Acesso em: 10 de julho de 2010.

NETO-MENDES, António Neto-Mendes / Jorge Adelino Costa / Alexandre
    Ventura. RANKING DE ESCOLAS EM PORTUGAL: UM ESTUDO
    EXPLORATÓRIO. REICE. Revista Electrónica Iberoamericana sobre
    Calidad, Eficacia y Cambio en Educación, 2003, enero-junio, año/vol. 1,
    número 001 Red Iberoamericana de Investigación sobre Cambio y Eficacia
    Escolar Madrid, España
Disponível em:
http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/html/551/55110108/55110108.html
Acessado em: 10 de julho de 2010.




                                                                           14

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A avaliação da escola pública e a qualidade da educação

  • 1. Universidade Católica do Salvador Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania Gestão e Avaliação de Políticas e Projetos Sociais Professoras: Denise Cristina V. R. Mendes e Katia S. de Freitas Semestre: 01/2010 A AVALIAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA: entre qualidade do mercado e a qualidade social da Educação Virgílio Alberto S. Pinto1 RESUMO: A avaliação da escola pública foi colocada no centro do debate da reforma educacional brasileira a partir dos questionamentos sobre os índices de desempenhos dos alunos das escolas públicas e a própria qualidade da educação, que coloca em cheque a reestruturação do Estado no âmbito da economia globalizada e da reestruturação produtiva toyotista. Isso reforça a idéia de que a proposição de avaliação da educação migrou do “mundo” da economia. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivos discutir a o conceito de qualidade da educação e a avaliação da educação básica relacionando com o ideário neoliberal da política educacional que pouco a pouco tem sido introduzida no sistema público de ensino, impondo conceitos da literatura do mercado na práxis educativa, na própria concepção de sistema educacional e na profissão dos educadores e educadoras. PALAVRAS-CHAVE: Avaliação da Educação. Qualidade da Educação. Neoliberalismo. Política Educacional. 1 Mestrando em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador.
  • 2. Introdução A pesquisa sobre qualidade da educação ganhou importância nas últimas décadas, principalmente no contexto recente da educação brasileira, com a universalização do acesso à educação básica e com a reforma do sistema educacional e do próprio Estado, com referenciais baseados na racionalidade a partir de princípios como custo-benefício e custo-efetividade, dentre outros da literatura econômica e neoliberal. O apelo à educação de qualidade tem sido também uma retórica da mídia que atinge a opinião pública e a agenda de governos, movimentos sociais, pais, estudantes e pesquisadores do campo da educação. N caso brasileiro, vale ressaltar que a elevação das escolas a um patamar de qualidade se apresenta como um complexo e grande desafio – basta verificar os novos índices do IDEB com elevações tímidas em relação às metas estabelecidas pelo Ministério da Educação e do INEP. Se, nas últimas décadas, observamos avanços em termos de acesso e cobertura, principalmente no ensino fundamental. Tal processo carece, contudo, de melhoria no tocante a uma aprendizagem mais efetiva. E isso está na essência da questão da qualidade. Na ponta dessa polêmica estão os agentes executores da política educacional que são os educadores e educadoras. Ai entra em cena outro fator importante da nova política educacional brasileira que é a avaliação de desempenho baseada na aferição da qualidade do trabalho docente a partir de indicadores de desempenho dos educandos e provas periódicas de conhecimentos específicos e pedagógicos fundada em referenciais reguladores da carreira do magistério enquanto forma de fomento da qualidade da educação. Instaurar um debate sobre tais questões remete a um conjunto de determinantes que interferem nesse processo, no âmbito das relações sociais mais amplas, envolvendo questões macroestruturais da reforma do Estado, qualidade da educação, educação como direito, entre outras. Também nos levar, igualmente, a questões concernentes à análise de qual qualidade da 2
  • 3. educação interessa ao coletivo, a fundamentação das propostas em curso bem como à responsabilidade do Estado sobre a qualidade da educação pública o que implica verificar a proposta de avaliação do magistério público enquanto possibilidade de garantia dessa suposta qualidade requerida pelo ente federativo estadual. O arcabouço propositivo acima nos remete a outras tantas questões como condições de trabalho, processos de gestão da escola, dinâmica curricular, formação e profissionalização docente, condições socioeconômicas dos sujeitos do processo educativo e suas relações com a qualidade que se pretende para a educação pública. Em outras palavras, a educação escolar se articula a uma pluralidade de dimensões e espaços da vida social sendo, ela própria, elemento constitutivo e constituinte das relações sociais mais amplas. O processo educativo, portanto, é eixo vertebrador, perpassado pelos limites e possibilidades da dinâmica da pedagogia, da economia, da sociologia, da antropologia, da cultural e política de qualquer sociedade. Objetivando contribuir para a construção de referências analíticas para a qualidade da educação e para a avaliação do sistema educacional de forma articulada e não apenas de segmentos desse sistema como de professores, o presente texto visa problematizar as múltiplas significações e conceitos relativos à qualidade da educação. 3
  • 4. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE EM EDUCAÇÃO: quem a pensa? A quem serve? Neste trabalho dois conceitos se impõem enquanto categorias epistemológicas - avaliação docente e qualidade da educação. “A idéia de que tudo pode e deve ser avaliado no sentido de melhorar a qualidade da “coisa” que se produz ou do “serviço” que se presta tem vindo a ganhar terreno no nosso quotidiano e a alargar- se mesmo a horizontes que têm estado fora da obsessão avaliativa” . (BELMIRO, 2009, p.179). A idéia de medir os resultados da educação pública tem origem na idéia de eficiência e eficácia que, na ciência econômica se utiliza para medir, aferir a qualidade dos investimentos nos diversos ramos da economia privada. Tal proposição foi introduzida no campo educacional a partir do ideário neoliberal de reestruturação do Estado que tem na educação um viés de produtividade e no cidadão um consumidor dos serviços públicos enquanto produtos. Para Belmiro Gil Cabrito, a origem “a avaliação no sentido de melhorar a qualidade desenvolveu-se nos meandros da economia e da finança, e a ela não será estranho a necessidade de medir em termos econômicos a rentabilidade do investimento aplicado”.(idem, p. 179). Entretanto, a avaliação no âmbito da educação pública sempre pautou a dimensão aluno. Avaliava-se, apenas o rendimento acadêmico dos alunos. A partir da reestruturação do sistema educacional com a Constituição de 1988 e a LDB 9394/96 uma nova perspectiva avaliativa se impôs pelo princípio da “qualidade”. Então a avaliação vai ser pautada pelos resultados negativos da educação pública que não atendem à nova ordem econômica mundial globalizada onde a competitividade do sistema produtivo entre nações é fator determinante de estabilidade e crescimento econômico. A reforma educacional na década de 1990, ganha força com o ideário neoliberal, imperativo no governo de FHC, baseado na concepção de “qualidade total”. Para Maria Malta Campos, os organismos multilaterais (Banco Munidial, Fundo Monetário Internacional), influenciam nas reformas 4
  • 5. educacionais na América Latina pautando a implantação de sistemas educacionais fundados nos princípios da “qualidade total”. “(...) elas também são parte integrante das reformas educacionais desenvolvidas nos países latinos americanos, influenciadas pelos acordos e convênios firmados com agências multilaterais, os quais trazem em suas cláusulas a previsão de projetos de monitoramento e avaliação das políticas implantadas nas redes escolares públicas, com a preocupação de estimar as relações de custo-benefício dessas intervenções e subsidiar a continuidade das reformas”. (CAMPOS, 2000, p. 07). Se for verdade que o sistema educacional está fundado na ideologia dominante, o ideário de qualidade da educação desenvolvida no interior desse sistema estará também articulado nos seus fundamentos. Sobre tal relação entre avaliação e interesses ideológicos reformistas, Marília Fonseca apresenta a indicação da política de avaliação pensada pelo Banco Mundial para educação publica brasileira: No final daquela década, o MEC negociava com o Banco Mundial outro acordo para o desenvolvimento da educação fundamental nos estados do Nordeste (Projeto Nordeste), cuja execução dar-se-ia na década de 1990. No plano das ações, este acordo dava continuidade ao Projeto EDURURAL, encerrado em 1987. Uma das propostas do Banco era dar seguimento ao processo de avaliação externa desenvolvido nos projetos anteriores, desta feita, alcançando o desempenho do aluno, dos professores e da rede escolar. A proposta acordada entre o MEC e o Banco era estender a avaliação à totalidade do sistema educacional. De fato, as experiências avaliativas efetuadas nos âmbito dos acordos internacionais deram suporte aos projetos nacionais de avaliação que se consolidariam na década de 1990 e que se constituiriam a principal referência para a qualidade educacional. (FONSECA, 2009., p. 165). Observamos que a autora aponta três dimensões a serem avaliadas, segundo o Banco Mundial: a dimensão aluno, a dimensão professor e a dimensão rede escolar. Todas elas contempladas no arcabouço da reforma e em curso na conjuntura atual. 5
  • 6. Quando destacamos tais elementos não nos posicionamos contrários à avaliação, queremos desvelar a sua lógica. A que se pretende avaliar tais dimensões? Em detrimento da qualidade do ensino e das escolas? Sob que ótica? Novamente nos deparamos com a questão da qualidade. É aí que abrimos um debate propositivo acerca do tipo de qualidade que esta pensada para a escola pública brasileira. Se o conceito de qualidade está alicerçado nos fundamentos da reforma como pontuamos aqui, então nos cabe buscar entender o pensa o Banco Mundial. Inquirirmos se o que os executivos dos organismos internacionais ligados ao capitalismo financeiro pensam sobre educação é o que necessitam os alunos, professores e pais de alunos das nossas escolas públicas. Sobre essa questão, analisando o Comunicado da Comissão das Comunidades Européias ao Conselho e ao Parlamento Europeu sobre a eficiência e equidade da educação e formação de professores, observamos que tais preocupações estão intimamente ligadas às exigências do mercado mundial que é competitivo. O conselho Europeu da Primavera de 2006 definiu os dois desafios que se colocam aos sistemas de educação e formação, ao concluir que são factores determinantes para o desenvolvimento do potencial de competitividade da EU alongo prazo e para a coesão social. Afirmou ainda que é necessário acelerar os processos de reforma para garantir a existência de sistemas de educação e formação de grande qualidade e simultaneamente eficientes e equitativos. Estes aspectos são fundamentais para o crescimento e o emprego e no método aberto de coordenação aplicado à inclusão social e à proteção social. (COSELHO EUROPEU, 2006., p. 02). O mundo do capital financeiro impõe uma reforma ao Estado- Providência que abarcou todos os setores da esfera pública, principalmente a de serviços como educação. Nesse cenário, o mundo europeu também vem rearticulando seu sistema educacional com orientações neoliberais baseadas na eficiência e equidade, marcadamente por uma preocupação mais orçamentária que social mais econômica que humana – ou para um grupo específico e pequeno de humanos. 6
  • 7. O que está por traz da qualidade educacional pensada pelo ONU, Organizações das Nações Unidas, é a reestruturação produtiva imposta pela dinâmica histórica do processo de globalização que lançou os Estados-Nação, numa competição mercadológica e financeira nunca experienciada na história da humanidade. Se o capitalismo, no seu nascedouro a partir do século XVI, teve que superar a servidão e, no apogeu da Revolução Industrial, o escravismo e o colonialismo nos séculos XVIII, XIX e XX; na atualidade, tendo superado o modelo de produção taylorista e fordista, centrado na especialidade e repetição no processo produtivo; busca na desregulamentação dos mercados em todo o mundo e na formação de um novo referencial humano capaz de produzir saídas para a crise estrutural do capitalismo mundial; impor um novo paradigma de sociedade. O modelo de educação que resiste às mudanças históricas da sociedade hegemônica baseia-se num referencial positivista de homem, mundo e conhecimento que não atendem ao novo reclame “pós-moderno” do mundo dos negócios e da produção industrial. Se aquele homem positivista bastava ao modelo de produção taylorista/fordista porque fechado, repetitivo, especialista; o novo homem reclamado pelo padrão toyotista japonês, importado para o ocidente, tem que ser flexível, adaptável, multifuncional e polivalente. Ai é imperativo reformar esse sistema educacional para forma o novo homem. Sobre essa argumentação em torno da metamorfose do sistema capitalista, se faz necessário o diálogo com E. Dias que afirma: A experiência taylorista foi a forma da subsunção real do trabalho ao capital, de forma ainda mais completa praticada no início do século XX. O fordismo, como conjunto de medidas de contratendência, incorporou uma nova modalidade de gestão fabril. O taylorismo foi o instrumento da criação de uma disciplina operária através da perda da sua subjetividade classista; os trabalhadores deveriam abrir mão do controle que possuíam sobre a produção e passar a executar o trabalho a partir da objetividade do capital, centrada na reconstrução das lógicas operativas. (DIAS, 1998. p. 47). Nesse diálogo fica claro que se impõe outro paradigma de educação. Não cabe reproduzir conteúdos como se treinássemos pessoas para uma única 7
  • 8. ação. O contraponto da ação flexível, polivalente, gerencial exige uma subjetividade, exige-se tomada de decisão no interior do processo produtivo. Então se reclama outro modelo de qualidade. Contudo há que se preparar essa nova subjetividade com cuidado para que o novo trabalhador sirva ao velho sistema produtivo que se multifaceta. A qualidade da educação é outra. Não é só ler e escrever e contar. Esse mundo globalizado necessita de outras habilidades e competências. Então deve se reformar o sistema educativo buscando modelar a construção da visão de homem, educação, mundo e sociedade ao seu interesse. Os ajustes organizacionais dos sistemas educacionais seguem a lógica da do sistema produtivo pois tal sistema depende da educação básica para “qualificar” a sua mão de obra. Há de se perguntar: Que tipo de educação? Sobre essa questão, Frigotto afirma: Trata-se de uma educação e formação que desenvolva habilidades básicas no plano do conhecimento, das atitudes e dos valores, produzindo competências para a gestão da qualidade, para a produtividade e competitividade e, consequentemente, para a “empregabilidade”. Todos estes parâmetros devem ser definidos no mundo produtivo, e, portanto os intelectuais coletivos confiáveis deste novo conformismo são os organismos internacionais (Banco Mundial, OIT) e os organismos vinculados ao mundo produtivo de cada país. (FRIGOTTO, 1998. p.45). Se a qualidade da educação na reforma estatal em curso move-se na lógica da produção e do consumo, então cabe questionar: Onde entra a lógica da avaliação do professor? Observamos que ambas estão enquadradas na mesma lógica, a do capital. Essa lógica foi a bússola das reformas européias: Com um de nós já tive oportunidade de mostrar (Neto-Mendes, 1999), a orientação das políticas educativas para o mercado foi desenvolvida nos anos 80, em Inglaterra, sob a governação de Margaret Thatcher. Dando corpo a uma matéria complexa e que tem suscitado os mais vivos debates. (NETO-MENDES, 2003). 8
  • 9. Esse autor traz alguns constructos que segundo ele caracterizam esse paradigma mercadológico na educação: (...) o mercado da educação caracteriza-se por apresentar quatro pilares fundamentais que ajudam também à sua compreensão: i) liberdade de escolha da escola por parte dos pais (“parental choice") incrementadora, como se disse antes, da concorrência entre escolas; ii) promoção da diversidade da oferta escolar, baseada na ideia de que “quem escolhe deve possuir uma pluralidade suficientemente ampla de opções no acto da escolha" (Neto-Mendes, 1999: 43); iii) autonomia das escolas, assistindo-se a uma retórica de defesa do governo local das escolas por oposição a uma outra forma de descentralização, em Inglaterra, que dava às autoridades locais de educação (as LEA, “local education authorities") margens significativas de decisão, isto é, trata- se de uma autonomia de escola associada a uma recentralização das políticas educativas; iv) cortes nas despesas com a educação, por outras palavras, é a crise económica dos anos 70 e 80 um dos “pretextos invocados para questionar o peso preponderante do Estado na orientação do sistema educativo, pedra de toque para o avanço alternativo do mercado" (Neto-Mendes, 1999: 48). (Neto-Mendes, Costa y Ventura, 2003, p. 3). Para ese autores, essa reforma educacional a partir da exposição de ranking de escolas, implementada na Inglaterra, não foi observada em Portugal, pois os objetivos em cada um dos países eran diferentes. Para esses, a preocupação era em prestar contas à sociedade. A problemática dos rankings de escolas está popularizada em vários países e nem sempre pelas melhores razões, pelo menos sob o ponto de vista da análise objectiva e pautada por critérios científicos. Este tema possui na realidade portuguesa contornos de alguma especificidade: contrariamente ao que se registou nos países anglo- saxónicos, com especial relevo para a Inglaterra dos anos 80, sob a governação de Margaret Thatcher, o debate suscitado em Portugal não ocorreu tendo como pano de fundo a opção inequívoca por uma orientação das políticas educativas para o mercado, sabendo-se que tal implica a liberdade de escolha da escola por parte dos pais (liberdade da procura), a concorrência entre escolas (livre concorrência) e a diversidade da oferta formativa das escolas 9
  • 10. (liberdade de oferta). Aparentemente, a emergência do tema “rankings de escolas" surge como uma reivindicação em nome da necessidade de prestação de contas e da transparência, podendo mesmo assumir- se perante a opinião pública como o resultado, de per si, de uma avaliação das escolas, ainda para mais legitimada pelo carácter externo que lhe dá o facto de se apoiar nos resultados dos exames nacionais (…). (Neto-Mendes, Costa y Ventura, 2003, p. 1). Observa-se que os principios são os mesmos nos dois casos e que tem com pano de fundo a avaliação por resultados que é uma proposta mais afinada com o mercado, contrariamente à avaliação do proceso. Sobre essa mudança de paradigma na educação inglesa, Almerindo Janela Afonso expondo o pensamento de autores como Mary Henkel e E. House, faz uma analise crítica a essa opção da avaliação por resultado em detrimento dos procesos: (…) Como mostra Mary Henkel em Government, evaluation and change – estudo que cobre um período decisivo de transformações nas políticas públicas inglesas, entre 1983 e 1989 –, “o governo identificou a avaliação como uma componente significativa na sua estratégia de conseguir alguns objetivos decisivos: controlar as despesas públicas, mudar a cultura do setor público e alterar as fronteiras e a definição das esferas de atividade pública e privada” (cf. Henkel 1991a, p. 9). Desse modo, a avaliação reaparece claramente relacionada com funções gestionárias tendendo a ser, como refere E. House (1993, p. x), uma “avaliação centrada na eficiência e na produtividade sob o controle direto do Estado”. Considerando esses vetores, torna-se agora mais evidente a razão pela qual, no período em análise, uma das mudanças importantes, tanto fora como dentro do contexto educacional, foi precisamente a ênfase genérica na avaliação dos resultados (e produtos), e a conseqüente desvalorização da avaliação dos processos, independentemente da natureza e dos fins específicos das organizações ou instituições públicas consideradas. Essa lógica do resultado só serve ao mercado pois instaura a cultura da concorrência em detrimento da troca, do compartilhamento de experiências, de saberes. Isso implica o modelo de financiamento educacional 10
  • 11. que passa à lógica dos organismos internacionais, implicando a busca pelo resultado, “porque quando as instituições são financiadas de acordo com os resultados elas tornam-se obsessivas em relação ao seu desempenho”.(AFONSO, 1999, P. 147). Contrapondo à lógica mercadológica, Maria Abadia Silva traz ao debate a tese de “qualidade social da educação pública”, que, segundo ela, seu texto “busca compreender a educação como uma prática social e um ato político”. (SILVA,2009, p. 216). Aqui se instaura outro olhar que implica a negação da subversão do espaço público pelo privado. E é sobre tal postura que Maria Abadia analisa o paradigma de qualidade da educação mostrando as facetas do mercado ao reformular tal conceito: (...) no campo econômico, o conceito de qualidade dispõe de parâmetros de utilidade, praticidade e comparabilidade, utilizando medidas e níveis mensuráveis, padrões, rankings, testes comparativos, hierarquização e estandardização próprias do âmbito mercantil. De acordo com essa perspectiva, a qualidade de um produto, objeto, artefato ou coisa pode ser aferida com o uso de tabelas, gráficos, opiniões, medidas e regras previamente estabelecidas. Portanto, apreender a qualidade significa aferir padrões ou modelos exigidos, conforto individual e coletivo, praticidade e utilidade que apontem melhoria de vida do consumidor. (SILVA, 2009., p. 219). Essa autora historicisa a implantação desse referencial de qualidade na educação brasileira, afirmando que “A avaliação quantitativa constituiu um dos instrumentos para adaptar o sistema educacional brasileiro à nova ordem global instituída nos anos de 1990”. (idem). Para ela, tal proposição tem origem no Banco Mundial: A concepção de qualidade educacional que emana do Banco fundamenta-se na adoção de “insumos”, que deverão conduzir a resultados a serem avaliados por meio de índices de desempenho e de rendimento escolar dos alunos e das escolas. Seus técnicos preconizam um raciocínio linear, segundo o qual a mera adoção de equipamentos gera resultados satisfatórios. A concepção de qualidade assentada na racionalidade técnica e nos critérios econômicos serviu e 11
  • 12. serve de referência para a formulação de políticas para a educação pública no país. (SILVA, 2009., p. 222). Contudo, pensar educação é pensar relações sociais, políticas e, sobretudo, relações culturais plurais, heterogêneas – e por que não dizer dicotômicas, contraditórias. Tal heterogeneidade implica em riqueza social que não pode se curvar aos interesses comerciais pois implicaria em homogeneização de valores, de práticas laborais da vida que é diversa. Num país de dimensões continentais como o Brasil, isso implica também a diversidade sociocultural enorme que permeia o tecido social, enriquecendo o espaço social, enquanto parte desse tecido plural de valores. Nesse contexto, contrapondo aquela lógica dos insumos, da clssificação hierarquização do vivido e produzido no ambiente escolar, se impõe a qualidade social. Aqui observamos o que sugere DA SILVA: Dentre os determinantes externos que contribuem para a referência da qualidade da educação escolar, citamos: a) Fatores socioeconômicos, como condições de moradia; situação de trabalho ou de desemprego dos responsáveis pelo estudante; renda familiar; trabalho de crianças e de adolescentes; distância dos locais de moradia e de estudo. b) Fatores socioculturais, como escolaridade da família; tempo dedicado pela família à formação cultural dos filhos; hábitos de leitura em casa; viagens, recursos tecnológicos em casa; espaços sociais frequentados pela família; formas de lazer e de proveitamento do tempo livre; expectativas dos familiares em relação aos estudos e ao futuro das crianças e dos jovens. c) Financiamento público adequado, com recursos previstos e executados; decisões coletivas referentes aos recursos da escola; conduta ética no uso dos recursos e transparência financeira e administrativa. d) Compromisso dos gestores centrais com a boa formação dos docentes e funcionários da educação, propiciando o seu ingresso por concurso público, a sua formação continuada e a valorização da carreira; ambiente e condições propícias ao bom trabalho pedagógico; conhecimento e domínio de processos de avaliação que reorientem as ações. (SILVA, 2009., p. 224). Esse arcabouço complexo de fatores e relações humanas não pode ser submetido a uma lógica formal linear, cartesiana. Não há como manter o interesse dos grupos sociais numa lógica do mercado, pois ela anula o 12
  • 13. contraditório que produz as sínteses. Então para a qualidade mercadológica da educação, como que os neoliberais, não importa o processo: No interior da escola, outros elementos sinalizam a qualidade social da educação, entre eles, a organização do trabalho pedagógico e gestão da escola; os projetos escolares; as formas de interlocução da escola com as famílias; o ambiente saudável; a política de inclusão efetiva; o respeito às diferenças e o diálogo como premissa básica; o trabalho colaborativo e as práticas efetivas de funcionamento dos colegiados e/ou dos conselhos escolares. (SILVA, 2009., p. 224). Estandardizar a partir da classificação e publicação o fazer humano de um espaço social permeado por conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, mediado pelo bem comum é negar o caráter humano da educação. Isso implica que a única qualidade possível para a escola pública é a qualidade social REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFONSO, Almerindo Janela. Estado, mercado, comunidade e avaliação: Esboço para uma rearticulação crítica Educação & Sociedade, ano XX, nº 69, Dezembro/99 BAETA, Anna Maria Bianchini. Fracasso Escolar.: Mito e Realidade .Série Idéias n. 6. São Paulo: FDE, 1992. Páginas: 17- 23 Disponível em http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_06_p017-023_c.pdf CABRITO Belmiro Gil. AVALIAR A QUALIDADE EM EDUCAÇÃO: AVALIAR O QUÊ? AVALIAR COMO? AVALIAR PARA QUÊ?. Cad. Cedes, Campinas, vol. 29, n. 78, p. 178-200, maio/ago. 2009 Disponível em http://www.cedes.unicamp.br CAMPOS, Maria Malta. A Qualidade da Educação em Debate. In OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO. São Paulo – SP. 2000. Disponível em: HTTP://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/993/993.pdf FRIGOTTO, G. Educação, crise do trabalho assalariado e do desenvolvimento: teorias em conflito. In: FRIGOTTO, D. (ORG.). 13
  • 14. Educação e Crise do Trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 25-54. FONSECA , Marília. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: ENTRE O UTILITARISMO ECONÔMICO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL. Cad. Cedes, Campinas vol. 29, n. 78, p. 153-177, maio/ago. 2009 153 Disponível em http://www.cedes.unicamp.br GOMES, Candido Alberto. A escola de qualidade para todos: abrindo as camadas da cebola. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. [online]. 2005, vol.13, n.48, pp. 281-306. ISSN 0104-4036. MARINHO, A.; FAÇANHA, L. O. Programas sociais: efetividade, eficiência eeficácia como dimensões operacionais da avaliação. Rio de Janeiro: Ipea, 2001. (Texto para Discussão, n. 787). Disponível em: http://www.ipea.gov.br/pub/td/td_2001/td0787.pdf SILVA, Maria Abádia da. Qualidade social da educação pública: algumas aproximações. Cad. CEDES [online]. 2009, vol.29, n.78, pp. 216-226. ISSN 0101-3262. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v29n78/v29n78a05.pdf Acesso em: 10 de julho de 2010. NETO-MENDES, António Neto-Mendes / Jorge Adelino Costa / Alexandre Ventura. RANKING DE ESCOLAS EM PORTUGAL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO. REICE. Revista Electrónica Iberoamericana sobre Calidad, Eficacia y Cambio en Educación, 2003, enero-junio, año/vol. 1, número 001 Red Iberoamericana de Investigación sobre Cambio y Eficacia Escolar Madrid, España Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/html/551/55110108/55110108.html Acessado em: 10 de julho de 2010. 14