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EDP: os avençados da nação
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
ontem às 8:00
"Ó Manuel, a CGD nunca deu dinheiro, dava prestígio. Quem ia para administrador tinha status. Agora vocês
abandalharam o banco todo! Meteram lá o Vara e o Bandeira [presidente do BPN e vice-presidente da CGD]!
Abandalharam aquilo tudo! Meteram lá o aparelho que controla os movimentos de crédito da CGD. A Caixa está ao
serviço de interesses!" Eduardo Catroga contou, há mais de um ano, que terão sidos estas as palavras que dirigiu a
Manuel Pinho quando se falava do antigo ministro da Economia para dirigir o banco do Estado. O cavaquista Eduardo
Catroga foi o autor do programa eleitoral do PSD. Um programa que era mau mas que nem sequer foi cumprido.
Paulo Teixeira Pinto é autor da proposta de revisão constituc ional do PSD. Uma revisão que era escandalosa mas
que nem sequer foi feita. O governo optou por violar diariamente a Constituição existente sem que o Presidente fizesse
nada. Paulo Teixeira Pinto queria o fim da justa causa para despedimento subsituido-a para uma vaga "razão atendível".
Saiu do BCP por razão atendível. Não precisou dela para entrar na EDP.
Celeste Cardona não diz nada há anos. Tornou-se na girl honorária do CDS. Deixa de fazer agora companhia a
Nogueira Leite na Caixa Geral de Depósitos, onde chegou sem currículo e com a promessa de uma carreira promissora.
Ilídio Pinho foi patrão de Passos Coelho quando este fazia um intervalo no deserto profissional. Não preciso de dizer
mais nada.
A este grupo juntam-se o antigo governador de Macau e ministro da República nos Açores, Rocha Vieira, e o antigo
ministro das Finanças, Braga de Mac edo, os dois vindos do tempo de Cavaco Silva.
Estas são as pessoas que o governo enfiou na EDP. Foi esta a moeda de troca para vender a parte que era nossa do
monopólio energético nacional. Os acionistas escolheram pessoas próximas do poder. Porque é assim, nesta absoluta
promisc uidade entre a polític e as empresas, que se fazem negócios em Portugal. E depois perguntam: porque não
a
somos competitivos? E sabem como resolver o problema: obrigar os outros a trabalhar meia hora de borla por dia.
Apenas uma diferença em relação aos governos anteriores: estes são os homens que, nos últimos anos, nos explicam
que o emprego seguro tinha chegado ao fim. Que defendem a meritocracia. Que cospem no papel do Estado (aquele que
se faz com transparência e regras claras, não este que vive da troca de favores e de cromos) na economia. Que olham
para os portugueses como se eles fossem um meninos mimados habituados a vida fácil. Vivem num País muito
especial. Nesse País, não há c arreiras, não há mérito, não há a ansiedade do desemprego e da penúria. Há
acumulação de mesadas. Seja no público ou no privado, vivem entre a política e os negócios para se pendurarem no
trabalho dos outros. São os avençados da Nação. Recebem um rendimento máximo garantido por nos venderem a
austeridade que nunca irão conhecer. Liberais de pacotilha, vivem de expedientes enquanto afundam, há décadas, as
esperanças de um povo que trabalha.
PS - Vi ontem António José Seguro a lamentar a confusão entre a política e os negócios. As suas declarações foram
feitas em Braga e ao seu lado estava Mesquita Machado. Podia ter escolhido melhor os figurantes para a sua indignação.
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=print&op=view&fokey=ex.stories/698599&sid=ex.... 11-01-2012