Este documento resume uma dissertação de mestrado que explora a construção do conceito de morte encefálica e como foi incorporado na prática médica. Antes de 1968, a morte era definida pela parada cardíaca, mas descobertas como o coma prolongado e ventiladores permitiram pacientes "mortos" sobreviverem. Isso, junto com a necessidade de órgãos para transplantes, levou à definição de morte encefálica em 1968. Entrevistas com médicos revelaram que a morte encefálica é um
1. A subversão da morte: um estudo antropológico sobre as
concepções de morte encefálica entre médicos
Juliana Lopes de Macedo
Título
A subversão da morte : um estudo antropológico sobre as concepções de
morte encefálica entre médicos
URI http://hdl.handle.net/10183/13386
Autor Macedo, Juliana Lopes de
Orientador Knauth, Daniela Riva
Data 2008
Nível Mestrado
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Social.
Palavra-
chave
Antropologia da saúde
Antropologia social
Morte encefálica
Transplante de órgãos
Resumo
Este trabalho pretende explorar a construção científica do conceito de
morte encefálica e a maneira como ele foi incorporado na prática médica.
Até 1968, do ponto de vista biológico, o que determinava a morte do
corpo era a parada cardíaca. Descobertas como o coma dépassé (um
estágio de coma considerado irreversível) e o ventilador mecânico (que
substitui o sistema respiratório) tornaram possível que pacientes antes
considerados mortos, sobrevivessem por um período indeterminado.
Aliadas a esta questão, têm técnicas mais avançadas de cirurgias de
transplantes de órgãos, mas um número escasso de órgãos que podem ser
transplantados. Desse modo, em 1968 foi formado um Comitê pela
Escola de Medicina de Harvard que definiu o coma dépassé como morte
encefálica. A fim de compreender a operacionalização da morte
encefálica na prática médica, foram entrevistados médicos que atuam
em Unidades de Terapia Intensiva e médicos que pertencem a equipes de
transplantes. Os dados obtidos junto aos informantes demonstram que a
morte encefálica é um conceito envolto em ambigüidades e incoerências.
A morte encefálica é referida como a morte técnica em oposição à morte
natural, não significa a morte biológica do corpo, e representa uma
situação de liminariedade na qual o ser nesta condição não é mais o que
era antes do evento da morte encefálica (uma pessoa, um paciente), mas
ainda não adquiriu o status de morto, pois o coração permanece
funcionando. Além disto, foi verificado que o conceito de morte
2. encefálica não está isento de interesses dos atores envolvidos nesta
questão. Estes interesses revelam as posições de cada ator no campo
médico, e as estratégias usadas para legitimar ou subverter o conceito.
Nesse sentido, pretendi contextualizar a morte encefálica enquanto um
conceito produzido na esfera científica, demonstrando que ele é datado e
localizado social e historicamente. Assim, a morte encefálica só faz
sentido na sociedade moderna e ocidental, na qual a ciência tem uma
importante centralidade na definição de verdades.
Abstract
This paper intends to explore the scientific construction of the concept of the brain
death and the way it was incorporated on the medical practices. Untill 1968, from
the biological point of view, what determined the death of the body was the cardiac
arrest. Discoveries such as the dépassé coma (a stage of coma considered to be
irreversible) and the artificial ventilating (thats substitutes the respiratory system)
made possible that pacients that before would be considered death to survive for an
indeterminate period of time. Allied to this question, there are more developed
techniques of organ transplant surgeries, but a scarce number of organs that can be
transplanted. This way, in 1968 the Harvard Medical School Comitee was formed
and it defined the dépassé coma as brain death. To try to understand how the brain
death acts on the medical practices, doctors that work on the Intensive Care Units
and those who belong to trannsplant´s teams were interviewed. The data obtained
from the informers show that the brain death is a concept that is involved on
ambiquities and incoherences. The brain death is related as technical death in
opposition to the natural death, it doesen´t mean biological death of the body, and it
represents a situation of uncertain on which the “being” on this conditions is no
longer what it was before the event of the brain death (a person, a pacient), but still
hasn´t acquired the status of death, since the heart is still working. Besides that, it
was verified that the concept of brain death is not exempt of the interests of the
actors involved on this question. This interests reveal the positions of each actor on
the medical field, and the strategies used to legitimize or to subvert the concept. On
this sence, I intended to put a context on the encefálica death as a concept produced
on the scientific area, showing that it is dated and located socially and historically.
Thus, the brain death only makes sence on modern and occidental society, on which
the science plays an important central role on the definition of the “truths”.