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FILOSOFIA
PARA O
ENEM
2015
2. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
Página | 1
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS...................................02
UNIDADE I – FILOSOFIA ANTIGA......................03
Capítulo 1 – Origem da Filosofia..................................03
Contexto histórico..............................................................03
O Mito..................................................................................04
A pólis e o surgimento da Filosofia...................................04
Pré-socráticos – Os primeiros filósofos...........................05
Capítulo 2 – Filosofia Clássica......................................07
Atenas em questão..............................................................07
Os Pluralistas.......................................................................09
Sofistas..................................................................................10
Sócrates................................................................................10
Platão....................................................................................11
Aristóteles............................................................................13
Capítulo 3 – Filosofia Helenística................................16
Contexto histórico - Alexandre o Grande.......................16
Epicurismo..........................................................................17
Estoicismo...........................................................................17
Ceticismo/Pirronismo.......................................................17
Cinismo................................................................................17
Questões...............................................................................17
UNIDADE 2 – FILOSOFIA MEDIEVAL...............20
Capítulo 4 – A Patrística e Santo Agostinho..............20
Capítulo 5 – Escolástica e São Tomás de Aquino....21
UNIDADE 3 – FILOSOFIA MODERNA...............22
Capítulo 6 – Renascimento............................................22
Contexto histórico..............................................................22
Galileu Galilei e o início da ciência experimental..........24
Maquiavel e o dilema do príncipe.....................................24
Capítulo 7 – Formação e consolidação do Estado...26
Thomas Hobbes e a mecânica do Estado........................29
Questões...............................................................................30
Capítulo 8 – Empirismo e Racionalismo..................33
Descartes e o Grande Racionalismo.................................33
Francis Bacon – Conhecimento (empírico) é poder.......35
Isaac Newton e o Grande Relógio Celeste.......................36
Questões...............................................................................37
Capítulo XX – Iluminismo............................................39
Iluminismo na Inglaterra....................................................39
John Locke: empirismo e liberalismo..................39
George Berkeley....................................................41
David Hume e o poder do hábito........................42
Adam Smith e o livre mercado.............................43
Iluminismo na França.........................................................44
Voltaire e a tolerância............................................44
Montesquieu e os três poderes............................44
Rousseau e a vontade geral...................................45
Enciclopédia...........................................................46
Iluminismo na Alemanha...................................................46
Immanuel Kant......................................................46
Questões...............................................................................49
GABARITO.......................................................................51
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3. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Sobre o ENEM.
Que o ENEM não é um vestibular tradicional
você já está cabeludo de saber. Ele não aborda os
conteúdos das disciplinas como fins em si mesmos. O
que o Ministério da Educação quer saber é se você
consegue compreender, avaliar e ter um posicionamento
crítico sobre a realidade que o rodeia.
Para isso, mais do que testar sua decoreba, o
governo quer saber se você tem as competências e
habilidades necessárias para entender o seu contexto
sócio-histórico-cultural, fundamentado nos conteúdos
adquiridos no ensino médio. Ele quer saber se você é um
cidadão crítico e consciente. Pelo menos, essa é a ideia.
Mas para se ter uma compreensão desse nível
sobre a realidade é necessário uma visão, não
multidisciplinar, mas interdisciplinar e
contextualizada sobre a mesma. Esses são os conceitos
chaves desse exame.
Tanto é que não há no edital o conteúdo das
disciplinas da Área de Humanas divididos da forma
tradicional em Português, Literatura, História, Geografia,
Filosofia e Sociologia. Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias são
a forma que esses conteúdos aparecem. E isto é assim
para que se possa, por meio dos conhecimentos dessas
disciplinas, ter uma visão da realidade como um todo
inter-relacionado e contextualizado.
Por isso, o estudo de Filosofia é tão importante
para esse exame, mas contraditoriamente relegado a um
segundo plano, seja nos colégios ou nos cursinhos
preparatórios.
Não é sem propósito que a Filosofia vem
ganhando destaque nesse exame, a ponto de ter 18
questões com conteúdo filosófico na última prova. Isso
equivale a 40% da prova de Ciências Humanas, e 10% de
todo o ENEM.
A Filosofia é a única disciplina que nos possibilita
ter uma visão de conjunto interdisciplinar sobre a nossa
realidade. E não estou falando aqui do estudo de mais
uma disciplina escolar em que se tem de aprender mais
conteúdos dissociados de nossa vivencia diária.
Não é a simples leitura do pensamento de
determinado filósofo que viveu numa época totalmente
diferente da nossa e que por isso não pode nos dar
nenhuma lição para os nossos problemas atuais.
Nesse e-book vamos ver como as respostas às
perguntas formuladas sobre os problemas de sociedades
tão distintas da nossa podem nos ajudar a superar muitos
dos nossos problemas atuais.
E para isso não podemos estudar o pensamento
de determinado filósofo dissociado de seu ambiente
social, alheio à sua história. Somente com a consciência
de que todo grande pensador formula suas teorias a partir
de seu meio social e dentro de seu contexto histórico,
podemos entender melhor todo e qualquer filósofo.
Todos nós temos uma história, mas somente
tendo consciência da teia, dos enredos das diversas
histórias das instituições que nos cercam e que formam o
contexto em que nossa própria história vai se desenrolar,
é que poderemos tomar consciência dela e, por
conseguinte, de nós mesmos.
Dessa maneira, vamos fazer uma viajem
histórico-filosófica das ideias que formaram a nossa
sociedade e suas instituições para que posamos assim,
compreendermos como e por que nossa situação atual
chegou a ser o que é hoje. Somente dessa maneira
teremos um melhor embasamento para fazermos
julgamentos sobre o sentido de alguma coisa.
Creio que abordar o conhecimento filosófico
dessa maneira seja a melhor forma para você desenvolver
as competências e habilidades exigidas pelo ENEM.
Por que estudar por esse e-book? Ele é voltado
especificamente para o ENEM, abordando os conteúdos
como o edital exige. Esse material está escrito em
linguagem fácil, prática, direta, e bem descontraída. Além
de trazer, divididas por assunto, todas as questões de
filosofia que já caíram no ENEM.
4. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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IDADE 1 – FILOSOFIA ANTIGA
CAPÍTULO 1 – ORIGEM DA FILOSOFIA
Para uma melhor compreensão da matéria, é
importante deixar bem claro que é um erro chamar as
póleis gregas de cidades-estados, dentre tantos motivos
destacarei apenas dois. O primeiro é a imprecisão
histórica; o termo cidade é romano (civitas em latim), e o
Estado é invenção da modernidade, ainda não existindo
nesse tempo.
Alguns podem retrucar e argumentar que isso não
tem importância. Para eles eu destaco o segundo
motivo, que é a carga de preconceitos que esses termos
carregam. E quando uso o termo preconceito não estou
usando-o de forma pejorativa, mas em seu sentido literal,
isto é, de ideias preconcebidas, sem reflexão.
Quando se fala em “cidade” imaginamos nossas
formas de aglomeração humana em um mesmo espaço,
uma arena em que cada indivíduo procura o seu bem, se
dar bem sem prejudicar a busca do bem do outro, estejam
esses bens correlacionados ou não. O termo “bem”, aqui,
não está sendo usado no sentido metafísico, mas no
sentido de propriedade mesmo, seja ele (bem) posses
materiais, fama, dinheiro ou poder.
Noutra vertente, quando usamos o termo
“estado” vem à nossa cabeça um poder exterior a nós que
por meio de um governo, quer se intrometer em nossas
vidas, quer seja positivando/regulando nossas relações
sociais, quer seja tributanto nossos salários ou negócios,
quer seja ditando quando, onde, e como será gasto nossas
riquezas.
Quando se fala em estado, temos um governo,
uma sociedade civil (organizada ou não) e uma
democracia representativa. Uns que comandam e outros
que são comandados.
Como veremos a seguir, a Grécia, melhor
dizendo, a Atenas da época clássica, gerou uma forma de
organização da vida humana que serviu de base durante
esses milênios para nossas sociedades. Mas é importante
deixar claro que usar o termo “cidade-estado” para
designar essa forma de organização político-social dos
gregos é uma monstruosidade que precisa ser corrigida
pelos manuais do ensino médio.
Continuar com isso é permanecer no erro de
olhar o outro pelo nosso umbigo, querer entender suas
formas de expressão a partir das nossas. Esse tipo de
pensamento é que causa discórdia e não aceitação do
outro, o que gera guerras e mais guerras.
CONTEXTO HISTÓRICO
Na antiguidade a região conhecida como Grécia
não era um estado unificado, com poder centralizado,
governo único, e suas cidades-estados (póleis) obedecendo
a esse poder. Era na verdade, uma região que por suas
peculiaridades históricas e geográficas abrigava povos de
origem, costumes e crenças comuns, unidos por uma
mesma língua.
A história desse povo na antiguidade é dividida
em quatro períodos. A sua formação se dá pela união das
civilizações Cretense e Micênica no período que ficou
convencionado chamar de pré-homérico (Secs. XX a
XII a. C.), cujo fim ocorre com a invasão dórica que
ocasionou a primeira diáspora grega, quando eles
ocuparam todas as áreas banhadas pelo mar Egeu na
forma de pequenos núcleos rurais.
Começa a partir de então o período
homérico (Secs. XII a VIII a. C.), que leva esse nome
por causa das obras do grande poeta Homero, que nos
conta, por meio da Ilíada e Odisseia, como foi essa época.
Os pequenos núcleos
rurais deram origem aos genos
que, comandado por um pater,
eram formados por pessoas que
acreditavam ser de uma mesma
descendência. Apesar de terem
um líder, a terra era de
propriedade de todos.
Nesse período, houve um grande
aumento populacional que não foi acompanhado pela
produção de alimentos, pois haviam poucas terras férteis.
Muitos genos se dividiram, houve disputas e
distribuição desigual de terras que passaram a ser
propriedade privada. Foi um período de turbulência e
muitas pessoas ficaram marginalizadas.
Desse modo, a sociedade, que era essencialmente
agrária e patriarcal, ficou estruturada da seguinte forma:
5. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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1) Eupátridas = os paters e seus parentes mais
próximos que detinham as maiores e melhores
terras;
2) Demiurgos = trabalhadores livres
3) Georgoi = pequenos proprietários de terras;
4) Thetas = homens livres, mas marginalizados por
que sobraram na divisão e disputas por terras;
5) Escravos
Essa instabilidade gerou a necessidade de alguns
genos se aliarem. Dessas alianças resultaram as fratrias,
e da união destas, as tribos. O poder do pater passou a
ser exercido por grupos de latifundiários bem nascidos
conhecidos como eupátridas. Até que finalmente foram
formados os demos que tinha como líder o basileu
(rei), que era o mais fodão dos eupátridas.
Para sobreviver, muitos gregos tiveram que
buscar terras férteis para o cultivo de alimentos. Eles se
lançaram ao mar à procura dessas regiões e se
estabeleceram, além do Mar Egeu, por quase toda região
europeia banhada pelo Mar Mediterrâneo
(principalmente no sul da península itálica e na região da
Sicília, que ficou conhecida como Magna Grécia),
adentrando também na região do Mar Negro fundando
apoikias (novos demos - colônias) em todos esses
territórios. Essa busca de novas terras foi Segunda
Diáspora grega.
Foi basicamente nessa época que houve o
ressurgimento da escrita entre os gregos, quando eles
adaptaram o alfabeto fenício à sua língua.
A Ilíada e a Odisseia descrevem vários aspectos
da cultura e as diversas formas de relacionamento social
dessa época, e mais importante, influenciaram muito as
várias gerações gregas que tiveram o guerreiro bom e
belo como um ideal de formação a ser alcançado.
O MITO
Antes mesmo do advento da Filosofia o homem
tinha já possuía a curiosidade de saber sobre a origem das
coisas, e mesmo sem ter a tecnologia de que dispomos
hoje, eles tinham a imaginação trabalhando a todo vapor.
Com ela criaram diversas histórias que foram
passadas de forma oral por várias gerações. A palavra
grega mythos significa contar, narrar, conversar.
O mito é uma narrativa fantasiosa que visa dar
uma explicação para a origem de determinada coisa, seja
ela o homem, o amor, a doença, o mundo, os deuses, etc.
Mas além disso, é também uma forma de
justificação da estrutura social da época. Dito de outro
jeito, o mito é uma forma de ver não só o mundo natural,
como também de entender e aceitar a divisão e
funcionamento da sociedade.
Tanto é que os mitos se sustentam apenas na
autoridade de quem os conta. O poeta-rapsodo, tem
autoridade inquestionável, seja porque recebeu a
narrativa de uma tradição oral respeitada, seja porque é
considerado alguém escolhido pelos deuses para receber
uma revelação e passá-la aos outros. Esses devem receber
a informação como verdade inquestionável.
Desse modo, os mitos não dão espaço para
questionamentos e nem reflexão, perpetuando a forma
de ver e entender tanto o mundo natural quanto o social.
Perceba que os grandes reis (basileu) são protegidos ou
escolhidos pelos deuses e os grandes guerreiros, como
Aquiles, possuem vínculos com eles. Você se atreveria a
discutir com eles, ou questionar sua autoridade? Fica
difícil, não é?
Os mitos sobre a origem do mundo são as
cosmogonias (cosmos = mundo ordenado + gonia =
gerar), já os que narram a origem dos deuses são as
teogonias (theos = seres divinos + gonia = gerar.
Admitem incoerências, contradições e são muito
limitados deixando vários questionamentos em aberto.
No entanto, sucessivos acontecimentos acabaram
derrubando muitas dessas explicações e uma nova forma
de ver o mundo (incluindo a sociedade) precisava ser
criada.
A PÓLIS E O SURGIMENTO DA FILOSOFIA
Com a segunda diáspora, começa o período
arcaico (Sécs. VIII a VI a. C.), quando tivemos a
formação de vários demos espalhados por todo o
mediterrâneo, intensificando as trocas de mercadorias e
fazendo florescer novamente o comércio. É importante
destacar que nessa época surge a moeda como um meio
de facilitar as transações comerciais.
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A partir daí, foi só questão de tempo para que os
demos se unissem e formassem as póleis (eram mais de
1000), que foram governadas por conselhos de
eupátridas (proprietários de terras) dando início aos
regimes oligárquicos (governo de poucos). Eles
desenvolveram leis, distribuíam a justiça, e ditavam a
divindade a ser cultuada.
Agora, com um número muito maior de póleis, e
várias delas sendo importantes centros comerciais e
portos estratégicos para a navegação, a principal atividade
econômica deixou de ser a agricultura, e o comércio passa
a ser o seu principal fator de desenvolvimento
econômico.
Esse desenvolvimento econômico proporcionou
uma melhora significativa na qualidade de vida material
da população. A partir daí os gregos passaram a ter tempo
para fazer algo além de comercializar, eles agora iriam
pensar.
A consolidação das póleis seguido de uma relativa
estabilidade política e econômica, e um longo período de
prosperidade foi o terreno fértil para o nascimento da
Filosofia. Algumas invenções e atividades que se
desenvolveram, ou foram criadas, juntamente com a polis
foram cruciais para o seu surgimento. São elas:
As navegações – ao desbravarem os mares os
gregos iriam realmente descobrir se existiam os
monstros e sereias que os mitos contavam.
A invenção do calendário – isso proporcionou
aos gregos verem que as estações do ano não
eram vontade dos deuses mas fenômenos
naturais que podiam ser previstos.
A moeda – Você certamente sabe quanto custa
uma caneta, um caderno ou uma meia. Mas você
sabe quanto vale um real? Sabe porque um real
vale um real, e cem reais vale cem reais? Pois é,
esse é um exercício de abstração que requerem
cálculos complexo. Os gregos deixaram de trocar
as coisas e passaram a usar a moeda quando
adquiriam essa capacidade de abstração.
A escrita alfabética – se eu desenhar um
homem e te mostrar, você vai saber que aquilo
representa um homem. Mas se eu te mostrar esse
símbolo
A política – Esse ponto é bastante importante
porque marca uma ruptura no modo de encarar a
organização social. A pólis é um lugar onde os
homens decidem o seu próprio destino, e não
mais os deuses.
E esse governo dos homens só era possível
porque eles eram livres para criarem suas próprias
leis, que eram fruto do debate público, ou seja, da
palavra que era posta sob questionamento.
E esse tipo de discurso proporcionado pela
atividade política foi fundamental para o
surgimento do discurso filosófico, que nasceu
como diálogo. A palavra que sempre pode ser
debatida e questionada. Lembrem-se que no
mito, a palavra era inquestionável.
Nas póleis gregas não havia muita diferença de
riqueza entre os cidadãos e a monarquia não era a forma
de governo predominante entre eles.
Todos eram responsáveis pela defesa da pólis,
então, não fazia sentido não terem participação na
tomada de decisões sobre os rumos da mesma. Foi assim
que nasceu a política na forma de democracia.
Os gregos acreditavam que um homem livre que
vivia em pleno gozo de suas faculdades mentais e
corporais deveria viver em uma comunidade política que
se autodeterminava por leis que ela mesma criava por
meio do debate, e não por um homem (rei) ou alguma
divindade.
A vida na pólis era voltada para que eles
desenvolvessem plenamente suas capacidades humanas,
fruto de sua natureza. Cada cidadão era estimulado a
exercitar as virtudes e reprimir os vícios. E a justiça
necessária para controlar esse lado ruim só pode ser
encontrada em uma comunidade bem ordenada, de
homens virtuosos, justos e livres, que governam a si
mesmos, ou seja, na pólis.
Essa visão histórica da formação da sociedade
grega desde os núcleos rurais até a formação das póleis,
nos ajuda a entender não apenas o surgimento da
filosofia, mas o por que dela ter sido uma invenção grega.
Ela não foi um “milagre” repentino desse povo, mas o
resultado de uma gestação que vinha acontecendo no
seio das transformações ocorridas na sociedade grega
durante séculos.
PRÉ-SOCRÁTICOS – OS PRIMEIROS
FILÓSOFOS
Tendo Sócrates como a grande referência na
filosofia antiga, os historiadores consentiram em chamar
esse primeiro período filosófico de pré-socrático.
É de se ressaltar que essa convenção tem como
critério não apenas uma ordem cronológica, mas a linha
de investigação filosófica, pois ao tempo de Sócrates
ainda haviam pré-socráticos.
Esses primeiros filósofos se preocuparam em
tentar explicar a physis (natureza/mundo/universo) de
7. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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uma forma racional (cosmologia), dando uma explicação
diferente da dos mitos, que recorriam aos deuses.
Diferentemente da explicação mítica que dizia
que o universo havia sido criado do nada, para eles o
universo havia sido gerado de um princípio universal. E
descobrir essa arché seria a chave para entender todas as
coisas.
Eles acreditavam que a physis apesar de estar em
constante movimento (devir) possuía um elemento de
permanência e que este seria o seu princípio originador,
seu fundamento, e explicaria a causa da mudança.
Dentre esses filósofos haviam os que acreditavam
que a arché era um único elemento, estes eram os
monistas. Mais tardiamente, outros pré-socráticos
começaram a defender que eram vários, e ficaram
conhecidos como pluralistas.
Tales de Mileto (640-546 a. C.),
que talvez tenha sido o primeiro
filósofo, e estava na lista dos sete
sábios da Grécia, acreditava que a
água era a origem de tudo.
Anaximandro (610-547 a.
C.) dizia que o princípio criador
não poderia ser conhecido pelos
sentidos, mas somente pelo
intelecto já que ele é o apeiron
(indeterminado).
Anaxímenis (588-524 a.
C.) argumentava que o ar seria esse
princípio originador de tudo.
Pitágoras de Samos
(570-490 a. C.) creditava aos
números a origem de tudo, mas
desde que entendidos como
harmonia e proporção. Ou seja,
tudo na natureza é proporcional
e harmônico.
Heráclito de Éfeso
(535-475 a. C.), um dos filósofos
mais importantes desse período,
atribuía ao fogo a origem das
coisas, já que para ele a
realidade/physis é uma eterna
luta de contrários que tem esse
elemento como sua causa.
Autor da famosa frase que caracteriza bem o seu
pensamento: “Um homem não pode se banhar duas vezes no
mesmo rio, porque na segunda vez o rio e o homem não serão os
mesmos.”
Para ele, o universo está em constante mudança,
tudo flui, tudo está em transformação constante. E isso é
assim porque todas as coisas possuem os oposto em
constante guerra. O real é a mudança e a permanência é
ilusória.
Você já não é tão jovem quanto quando começou
a ler essas palavras, mas ainda é jovem, mas está
envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está
envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está
envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está
envelhecendo.
Parmênides (510-470 a.
C.) de Eleia, rompe com os
filósofos que o precederam na
maneira de pensar o mundo. E
por isso não se adequa a
classificação de monista ou
pluralista.
Ele afirmava que o
elemento de permanência, de
origem, de fundamento, das coisas/mundo (physis) não
pode ser encontrado na sua mutabilidade constante.
Melhor dizendo, não se pode encontrar o
princípio (arché) imutável do universo na sua própria
mudança, ainda mais quando a investigação é conduzida
pelos sentidos.
Para ele a mudança seria apenas uma ilusão dos
sentidos, e o que é essencial nas coisas só pode ser
captado pelo pensamento. Por esse motivo, é que haviam
tantas opiniões contrárias sobre o Ser das coisas, porque
os filósofos estavam trilhando um caminho errado que
só os levava à ilusão.
A mudança (devir) não existe, é uma ilusão dos
sentidos, Heráclito estava errado. “O Ser é e o não ser
não é”. O Ser é o Logos (razão), a permanência, é
imutável e sem contradições.
8. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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Continuaremos a estudar os outros filósofos pré-
socráticos (pluralistas) quando adentrarmos no período
clássico, por que contextualizando-os socialmente
poderemos entender melhor suas teorias e a influência
delas em seu meio social.
CAPÍTULO 2 – FILOSOFIA CLÁSSICA
A maturação e desenvolvimento da filosofia
clássica ocorre em Atenas devido a uma série de
acontecimentos que passaremos a analisar a seguir.
É importante entendermos o contexto histórico
para que as teorias filosóficas desse período possam fazer
sentido, pois a Filosofia como construção humana está
limitada a seu tempo e contexto social, embora muitos
queria fazer parecer que não.
ATENAS EM QUESTÃO
Atenas foi fundada pelos jônios na região da
Ática. Inicialmente esteve sob o regime monárquico, e
depois oligárquico. Era governada pelos Eupátridas
(bem nascidos), que além de possuírem as maiores e
melhores terras, ainda tinham como escravos outros
atenienses, que foram pequenos proprietários de terras
que não conseguiram saldar suas dívidas.
Sem um solo propício para agricultura, e com um
porto (Pireu) estrategicamente localizado no
Mediterrâneo, os Atenienses se lançaram ao mar.
Tornaram-se grandes marinheiros e desenvolveram o
comércio de forma significativa.
O comércio enriqueceu muitos atenienses que
não tinham o sangue azul dos eupátridas e estavam
doidos por participação política. A isso, some a
insatisfação dos escravizados por dívidas, dos
potencialmente escravos, e ainda, rebeliões provocadas
por estes. Pronto, o barril de pólvora estava cheio e
prestes a explodir.
Dracon em 620 a. C., tentou acalmar os ânimos
tornando públicas por meio da escrita, as leis da pólis,
que antes eram conhecidas só pelos eupátridas. Não
adiantou muita coisa.
Agora pasmem, em 594 a. C., os grupos
dominantes da época, decidiram eleger um homem sábio
para fazer reformas que pudessem colocar fim ao clima
de guerra que afligia a sociedade ateniense.
Escolheram Sólon, um dos sete sábio da Grécia,
que instituiu profundas reformas na sociedade. Dentre as
quais podemos citar:
Perdoou a dívida dos atenienses escravizados, e
acabou com a escravidão por dívidas;
Limitou o tamanho da propriedade;
Modificou o critério de classificação social, do
nascimento para a riqueza;
Com isso, modificou o critério para participação
nos cargos públicos (magistraturas), permitindo
a participação dos comerciantes na política;
Permitiu a participação de todos os atenienses na
Assembleia (Eclésia), mesmo o mais pobre;
Criou a boulé, que era um conselho de 400
membros escolhidos pela Eclésia, e que tinha a
função de criar projetos de leis para serem
votados por esta;
Deu cidadania a todo aquele que contribuísse
com a pólis.
Ficou decidido que, o que Sólon fizesse não
poderia ser modificado por 10 anos. Então, depois de
fazer essas reformas Sólon deixou Atenas, tanto para não
perder sua vida, quanto para não usar de seu prestígio e
tornar-se um tirano.
Apesar de profundas, essas reformas trouxeram
ainda mais tensões. E de toda insatisfação emergiu em
546 a. C. o primeiro tirano de Atenas, Pisístrato.
Nessa época o termo tirano não tinha toda a carga
negativa que tem hoje, e designava apenas uma forma
ilegítima de governo. Não é que o tirano fosse cruel e
mandasse cortar a cabeça de quem olhasse torto pra ele,
é que ele não chegou ao poder com o apoio dos que
detinham o poder.
Pisístrato foi até um bom governante, manteve
inalteradas as leis de Sólon, construiu grandes obras,
patrocinou as artes, os jogos e os festivais, e projetou
Atenas como grande centro comercial e cultural da
Grécia.
Seus sucessores foram uns bocós e não souberam
se manter no poder, abrindo espaço novamente para
conflitos internos, quando Clístenes toma o poder em
510 a. C.
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Clístenes governou
Atenas de 510 a 507 a. C, e ousou
muito ao dividir o território da
Ática em 10 tribos, e cada tribo
em 03 DEMOS. Com isso ele
queria acabar com a influência
das tradicionais famílias
nobres aristocráticas.
É claro que para ocupar cargos públicos ainda era
necessário ter uma certa quantidade de riqueza, como
Sólon havia estipulado. Mas cada vez menos isso
dependia da família a que se pertencia.
A boulé (que criava projeto de lei) passou a ter
500 membros. Cada DEMO elegia 50, e cada tribo a
presidia sucessivamente durante o ano. Perceba o salto
qualitativo nesse regime de participação política que mais
tarde viária a ser chamado de DEMOCRACIA.
A Eclésia (assembleia popular) passou também a,
além de votar, discutir os projetos de lei. Provavelmente
a boulé tinha mais poderes que a Eclésia no início do
processo de construção desse novo regime, mas com o
tempo a situação se inverteu.
O OSTRACISMO foi uma instituição muito
famosa criada também por ele. Não era uma pena, mas
uma forma de defender o novo regime contra
levantes tirânicos. Se uma pessoa estava se tornando
demasiadamente famosa, prestigiada, e influente, ela era
banida da pólis por um período de 10 anos e depois
retornava como se nada tivesse acontecido.
Pense bem. Num regime onde todos devem ser
iguais, não deve haver essas grandes personalidades,
senão, não haveria isonomia, que era a base do sistema.
As reformas de Clístenes no sistema político de
Atenas acabou influenciando toda a Grécia, e seu
governo foi a transição entre o período arcaico e o
clássico.
No período clássico (Sec. V ao IV a. C.), as
Guerras Médicas (os medos faziam parte do povo Persa,
daí o nome) foram o pano de fundo para um maior
destaque de Atenas dentre todas as póleis gregas. Eles já
estavam se sentido os maiorais por terem suas
instituições como modelo do que de melhor se poderia
ter. Agora, iam colocar os músculos para trabalharem.
Diante dessas invasões as póleis gregas,
persuadidas por Atenas, fizeram uma aliança militar
conhecida como Liga de Delos. Claro que isso tinha um
custo, e que ninguém era obrigado a participar. No
entanto, seria bom contar com uma certa segurança não
é mesmo?
Inicialmente os recursos obtidos ficaram na ilha
de Delos (por isso o nome), mas com o tempo foram
transferidos para Atenas. Mesmo com o fim das ameaças
externas a Liga permaneceu, e ninguém mais poderia dela
se desligar, pois Atenas logo interferia. O que antes não
era obrigação, tornou-se submissão.
Dessa maneira, portanto, Atenas, sob a liderança
de um líder democrático, construiria com as riquezas dos
outros a sua ERA DE OURO. Foi nessa época que a
cidade foi embelezada com grandes templos e obras
públicas. Só para se ter uma ideia, o Partenon, um dos
maiores feitos de arquitetura da humanidade, foi erguido
nesta época.
É inegável que toda a glória alcançada por Atenas
teve como sustentação material a submissão das outras
póleis.
No entanto, deve-se deixar bem claro que apesar
da relação dos atenienses com os outros fosse de
hostilidade, entre eles, imperava os ideais mais nobres
como igualdade, liberdade e justiça. Em virtude disso, a
forma de governo que tem por base esses ideais pôde
florescer em sua plenitude.
Em Atenas o exercício da atividade política era
básico, algo comum na vida de seus habitantes. A
participação na tomada de decisões dos assuntos que
dizem respeito à administração da pólis era a principal e
mais nobre atividade que um homem livre poderia se
dedicar.
Foi nessa época que surgiu na cena política
ateniense um grande orador, de família aristocrática, e
excelente estrategista militar.
Péricles (495 – 429 a.C.) liderou Atenas em seu
esplendor (não é à toa que esse século recebeu seu nome),
quando na assembleia, juntamente com seus
concidadãos, aprimorou o regime democrático a ponto
de afirmar o seguinte em seu discurso fúnebre:
10. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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“Nosso regime político
não se propõe tomar como modelo as
leis de outros: antes somos modelos
que imitadores. Como tudo nesse
regime depende não de poucos, mas
da maioria, seu nome é democracia.
Nela, enquanto no tocante às leis
todos são iguais para a solução de
suas divergências particulares, no
que se refere à atribuição de
honrarias o critério se baseia no
mérito e não na categoria a que se
pertence...”
O primeiro cidadão ateniense instituiu a
mistoforia, que era uma justa quantia em dinheiro para
que mesmo o mais lascado dos homens livres pudesse
participar diretamente da administração da cidade. Agora,
não precisava mais nem ser de família nobre, e nem ter
riqueza suficiente para ocupar determinado cargo.
Tal salário era necessário porque esses gregos
acreditavam que todos os cidadãos eram iguais
(isonomia) e por esta razão, tinham direito de se
expressar (isegoria) na assembleia, e de ter participação
no poder (isocracia). Para eles não havia outra maneira,
a única forma de DEMOCRACIA era a DIRETA.
Basicamente, a estrutura política estava
arquitetada da seguinte forma:
ASSEMBLÉIA – Conselho de cidadãos que
tomavam as decisões mais importantes da pólis. Eles se
reuniam no monte Pnyx (imagem abaixo). Claro que não
tinham essas cadeiras, mas olhe a vista que eles tinham da
acrópole. Imagine os atenienses tomando as decisões da
pólis com a vista das maravilhas que eles foram capazes
de fazer. Era mesmo algo grandioso.
BOULÉ – Conselho de 500 cidadãos que
propunham as leis.
ESTRATEGO – 10 generais com mandatos de
01 ano.
Para todos os cargo públicos uma pessoa só
podia ser eleita uma única vez na vida, para dar
oportunidade para outros participarem do poder. Na
boulé podia-se eleger duas vezes, e para estrategos podia
ser indefinidas vezes, isso por que esse cargo exigia
habilidades especiais de guerra.
Somente podiam participar desses cargos os
homems filhos de pais atenienses maiores de 20 anos,
pois apenas eles eram considerados Zoôn politikons. Eram
membros de famílias aristocráticas, pequenos
proprietários de terras, comerciantes e artesãos.
Mas a sociedade ateniense não era formada
apenas por eles; haviam também os que eram excluidos
da cidadania. Nesse grupo temos os metecos, que eram
os estrangeiros residentes ou não na pólis; as mulheres,
que serviam basicamente para cuidar da casa e
reproduzir; e finalmente os escravos, que eram os
prisioneiros de guerra.
Não por coincidencia, os escravos começaram a
aumentar quando a democracia estava em seu auge. Ora,
para haver tempo livre para os cidadãos se dedicarem à
política alguem tinha que ficar trabalhando. Estimasse
que eles fossem ¼ da popolação, no máximo.
Em Atenas não havia tratamento duro com os
escravos, não existiam pessoas acorrentadas andando
pelas ruas, chicotadas e esquartejamentos em praça
pública. Pelo contrário, era muito comum os escravos
serem libertados.
Habitantes de outras póleis estranhavam quando
andavam nas ruas de Atenas e viam escravos andando na
rua como se fossem livres.
Nas fazendas e no mercado eles trabalhavam lado
a lado com o seu senhor. Não há nenhum registro de
rebeliam de escravos em Atenas. A possibilidade de
conquista da liberdade que estava no horizonte,
abrandava a relação entre senhor e escravo.
OS PLURALISTAS
Nesse período a filosofia
continuou progredindo com os
filósofos pré-socrático. O próprio
Péricles tinha um desses sábios
como mestre, seu nome era
Anaxágoras (499-428 a. C.). Ele
defendia que o princípio gerador
de todas as coisas não é único, que
a physis era formada de várias partículas (sementes –
espermatas) ordenadas por uma inteligência universal.
11. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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Diferentemente dele,
Empédocles (490-430 a. C.)
acreditava que os elementos
água, terra, ar e fogo eram os
princípios criadores, que
formavam as coisas pela
união e repulsão, pelo amor e
ódio.
Demócrito (460-370
a. C.) era contemporâneo de
Sócrates, mas como o objeto
de sua investigação ainda era
a physis, ele é considerado um
pré-socrático.
Segundo ele, o mundo
é formado por partículas invisíveis e indivisíveis
chamadas átomos, que se chocavam ao acaso no vazio
para formar os corpos percebidos pelos nossos sentidos.
Percebam que esses pré-socráticos do período
clássico, defendem não um, mas vários os elementos
criadores do universo.
Será coincidência eles defenderem isso no tempo
em que a constituição da pólis, ou seja, do mundo social,
dependesse de muitos e não de um só? Ou terá sido essa
forma de organização social fundamentada nessa nova
visão da constituição do universo?
Independentemente da resposta, o fato é que
havia agora uma nova visão do mundo, seja ele físico ou
social, e em ambos não havia mais o predomínio de uma
arché que a tudo governava, mas, a relação entre vários
elementos que regidos por leis constituíam o cosmos.
No mundo da physis cabia aos homens
descobrirem essas leis, no mundo da pólis cabia a eles
criarem-na. E essa atividade divina de criarem as leis, que
trariam ordem ao caos, era feita no espaço público da
pólis, na ÁGORA (praça central onde se discutiam
diversos assuntos), por meio da palavra, através do
discurso.
SOFISTAS
É também nesse contexto de valorização do
humano, da palavra, de se expressar bem e de convencer
o público por meio da oratória para se sair bem no
cenário político, que surgiram os sofistas, um conjunto
de sábios que ensinavam retórica (arte de falar bem e
persuadir o público).
A palavra sofista vem do grego sophós e quer dizer
sábio. Eles eram homens que viviam viajando entre as
póleis vendendo seu conhecimento, pois não eram ricos
para se manter no ócio intelectual.
Protágoras (480-410 a. C.) foi o primeiro e mais
ilustre dos sofistas. Nascido em Abdera, mudou-se para
Atenas onde se tornou muito famoso e requisitado pelas
famílias ricas.
Defendia que não havia um conhecimento e uma
verdade absolutas sobre as coisas, e que o mundo era
relativo ao que os homens percebiam dele. Daí sua
famosa frase: “o homem é a medida de todas as coisas”.
Sua doutrina relativista impossibilitava a
construção de um saber objetivo no qual se pudesse
chegar a critérios que estabelecessem e diferenciassem o
verdadeiro do falso, o certo do errado. Tudo dependia de
quem ou que grupo estava falando. As regras sociais, bem
como a própria pólis são convenções, e como tal, mudam
de acordo com que as convencionou, sendo, portanto,
relativas.
O maior crédito que se deve atribuir aos sofistas
foi o de ter voltado o debate filosófico da cosmologia,
para a área do humano, da pólis, da ética, da política. Pois
foi por se contrapor a eles que Sócrates deu início ao
conhecimento filosófico herdado pelo ocidente.
SÓCRATES
Sócrates (470 – 399 a.
C.) foi um marco na filosofia
grega. Não deixou nada escrito
e o que sabemos de seu
pensamento é o relatado por
seu discípulo Platão. Ele
nasceu em Atenas, foi
contemporâneo de Péricles, e
crítico do regime democrático.
Ele viveu na época da GUERRA DO
PELOPONESO (431-404 a. C.), que foi motivada pela
forma autoritária e abusiva com que Atenas tratava os
seus aliados.
Um grupo de póleis cansada da tirania Ateniense,
sob a liderança de Esparta, formaram a Liga do
Peloponeso, para enfrentá-la. Essa guerra foi o grande
motivo da decadência das póleis gregas, pois elas foram
se destruindo e abrindo espaço para que inimigos
externos pudessem conquista-las.
Sócrátes participou de algumas batalhas, sendo
condecorado por bravura.
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O Oráculo de Delfos o celebrou como o mais
sábio dos homens por ele ter consciência de sua própria
ignorância.
Ele travou um grande embate com os sofistas ao
dizer que estavam errados, que poderíamos sim obter um
conhecimento objetivo, um saber verdadeiro. Sustentava
que o homem poderia conhecer a essência das coisas e
que a primeira pergunta a ser respondida era qual a sua
própria essência.
Para ele, a essência do homem é a sua alma,
entendida como consciência de si. É isso que distingue o
homem dos outros animais. Não é à toa que ele instigava
seus discípulos a terem esse conhecimento, pois era isso
que os tornavam humanos. “Conhece-te a ti mesmo”
estava escrito no pórtico do oráculo que afirmou ser ele
o mais sábio dos homens.
Mas essa consciência de si não era só o simples
saber de um eu individual. Era a consciência de que
somos parte integrante de um conjunto de relações que
formam um todo maior, e que por fazer parte desse todo
é que temos o poder e o dever de conhecer sua essência.
Desse modo, temos o poder de ter essa
consciência moral que nos guia na interação com nossos
semelhantes. Nessas relações só podemos agir
conscientes se tivermos conhecimento da essência das
coisas, sejam elas o bem, a amizade, a virtude, ou até
mesmo a democracia.
O interessante é que Sócrates não trazia respostas
prontas. Por meio do diálogo, ele se posicionava como
um ignorante e começava a questionar as pessoas sobre
o que eles pensavam saber, mostrando-lhes que nada
sabiam, e que o que sabiam eram crenças que lhes foram
passadas como verdades sem nenhum tipo de reflexão
crítica. E ao final, ele fazia a própria pessoa chegar à
verdade.
Talvez se ele aparecesse com verdades prontas
não teria sido Sócrates, mas apenas mais um sabichão
metido a besta. No entanto, como ele fazia a pessoa ver
a verdade pro si própria, por meio da maiêutica, ele foi
o mais sábio dos homens e por isso um perigo para o
sistema.
Ora, pensemos um pouco. No auge do
imperialismo ateniense, quando eles eram tomados como
modelos pelas outras pólis (como o próprio Péricles
afirmou acima); quando eles tratavam seus “aliados” da
Liga de Delos como bem entendiam, usando os recursos
da Liga para tornar Atenas a mais bela e poderosa pólis
que já existira; quando eles estavam maravilhados com
seu regime político, que eles próprios criaram; vem um
cara e começa a botar caraminholas na cabeça dos jovens
perguntando: “será mesmo que vivemos uma
democracia, quando temos um regime político que
permite a um bom orador ir à assembleia e fazer um
discurso bonito e pomposo que leve o povo a aprovar o
que ele quer sem o mínimo de reflexão?”, “será que é
certo tratarmos nossos aliados com toda essa arrogância,
e usando mais a força que a justiça em nossas relações?”,
“será mesmo bom essa democracia onde qualquer um
possa influir nos destinos da pólis, mesmo não tendo
conhecimento do que seja bom e justo?”.
Entendem agora porque Sócrates era um perigo
a ser exterminado o mais rápido possível? Era um traidor,
um corruptor da juventude.
A Guerra do Peloponeso durou 27 anos e
terminou com a vitória de Esparta, no entanto, acabou
deixando as partes envolvidas enfraquecidas.
Desde a derrota de Atenas nessa guerra, o regime
democrático ficou desacreditado pelos próprios
ateniense, e muitos deles começaram a criticá-lo. Eles
argumentavam que em momentos cruciais da guerra,
foram tomadas muitas decisões estúpidas por que foi
colocado para a maioria decidir, e isso levou à derrota de
Atenas.
O regime democrático ateniense foi substituído
por uma oligarquia comandada por 30 tiranos indicados
por Esparta. Nesse tempo ficou proibido o debate em
público e o ensino de retórica. Mas, alguns anos depois a
democracia foi restaurada e Sócrates voltou a
importunar.
Ele foi acusado e, por mais forte que fossem seus
argumentos de defesa, foi condenado, porque sua
condenação já era certa desde antes mesmo do
julgamento começar. Bebeu cicuta mas não renunciou ao
que disse. O cara era macho, que nem outro barbudo que
vocês ouvem falar desde criancinha.
PLATÃO
Platão (427 – 347 a. C.) foi
o maior discípulo de Sócrates, e
era um homem de família
aristocrática e influente na
política. Como todo jovem
ateniense, era um entusiasta do
regime democrático até conhecer
seu mestre aos vinte anos de
idade.
Sob influência de Sócrates passou a ser também
crítico do regime, e depois de sua morte deixou de
13. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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acreditar na possibilidade de uma vida justa e feliz.
Deixou Atenas para fazer uma longa viagem, quando
voltou e fundou a Academia, onde pôde desenvolver suas
teorias e repassá-las a seus vários discípulos.
Na busca de um conhecimento verdadeiro,
buscou um meio de contornar o beco sem saída deixado
por Heráclito e Parmênides. Grande parte de suas ideias
estão escritas em sua mais famosa obra, a República.
Metafísica
O constante devir que Heráclito afirmava ser a
realidade foi chamado de mundo sensível (material)
por Platão. Esse mundo captado pelos sentidos, a causa
de nossos erros e ilusões, era uma cópia imperfeita do
mundo das ideias (inteligível), que correspondia à
permanência de Parmênides, um mundo captado apenas
pelo pensamento, e, portanto, perfeito.
Tudo que existe nesse mundo material é porque
tem sua ideia no mundo superior. Apesar da
multiplicidade com que ela possa aparecer no mundo
sensível, a ideia é uma só, indestrutível e eterna. Segundo
Platão, apesar de existirem
diferentes tipos de cavalo, a
ideia de cavalo é uma só.
Quando pensamos em
cavalo, pensamos a ideia e
não determinado cavalo.
Mas como foi que aconteceu essa cópia? Platão
nos diz que foi um demiurgo (construtor) que plasmou
do mundo das ideias esse mundo imperfeito. Tudo que
existe nesse mundo em que vivemos, já existe no mundo
superior das ideias.
Seguindo esse raciocínio, a pólis deveria ser
organizada de acordo com a pólis ideal, para que seus
cidadãos pudessem viver de acordo com o supremo bem
e a justiça.
Mas como fazer isso? Como conhecer esse
mundo ideal e verdadeiro para viver de acordo com o que
é bom e justo nesse mundo de erros, se eu estou nesse
segundo e tudo que percebo vem dele?
Platão afirma que somente pela dialética é
possível alcançar gradativamente o que é verdadeiro, e
passar das ilusões ao real. Importante deixar claro que a
dialética Platônica é o que a etimologia da palavra sugere,
um diálogo crítico em busca da verdade que se passa do
senso comum ao conhecimento verdadeiro.
Ele explica essa passagem do falso ao real pela
alegoria do mito da caverna, ilustrada na figura abaixo.
Aqueles caras deitados no chão nasceram e
cresceram ali, e a única coisa que eles viam eram aquelas
sombras. Por nunca terem visto outra coisa, eles
julgavam que aquelas sombras eram os objetos
verdadeiros.
Só que um dia, um deles consegue se soltar e sair
da caverna. Lá fora, ele não consegue enxergar nada
porque é quase cegado pela luz do sol. Aos poucos ele
vai conseguindo ver as coisas e se dá conta que aquilo que
viam na caverna eram apenas as sombras, que eles
tomavam por verdadeiro aquilo que era falso.
Depois, ele volta para alertar os outros de sua
condição, mesmo sabendo que eles podem não acreditar
no que ele estava dizendo. Alguns dizem que ele está
louco e outros decidem acompanhá-lo.
Política
Platão não via a democracia como um bom
regime, foi a democracia que matou o mais sábio dos
homens. E foi a democracia que levou Atenas à guerra e
à ruía. Como é que pessoas não instruídas sobre valores
como o bem comum, amizade, virtudes, justiça, podem
governar? Já imaginou dar poder de governar àqueles
caras acorrentados na caverna que só veem sombras?
Seria um desastre. Como de fato foi.
Por isso que ele defende que quem deve governar
a cidade são os filósofos, aqueles que saíram da caverna
(mundo sensível) e conheceram a realidade (mundo das
ideias). Só eles possuem as virtudes e o conhecimento
necessário (as ideias) para dar à pólis uma estrutura bem
ordenada de forma que o bem e a justiça possam reger as
relações entre seus cidadãos.
14. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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Esses filósofos não pertenceriam a classe social
alguma. Em, A República, ele apresenta um processo de
educação que começa aos 07 e vai até os 30 anos, sendo
que todos participam, independente da classe social e do
sexo. Isso mesmo, Platão defendia que as mulheres
poderiam ser educadas para participar da vida pública.
Platão entendia o homem como sendo corpo e
alma. Esta, que antes era livre no mundo das ideias,
agora vive prisioneira no corpo, esquecendo-se de tudo
que já havia contemplado. Ela seria composta por três
partes: a racional, representada pela inteligência; a
emotiva, representada pelas emoções; e a apetitiva,
representada pelos desejos carnais de sobrevivência e
reprodução. Se livrar das emoções e desejos carnais era
necessário para contemplar o mundo das ideias, porque
eles não fazem parte daquele mundo.
Esse processo educacional, serviria para fazer a
alma atingir o mundo das ideias, ou seja, relembrar
(processo de reminiscência da alma) do lugar de onde
veio. Por isso, só completariam todo o percurso
educacional aqueles que adquirissem e exercitassem as
virtudes necessárias a fazer com que a parte racional de
sua alma se sobrepusesse acima das partes emotiva e
apetitiva que o deixa preso nesse mundo de aparências.
Somente esses seriam filósofos.
Em uma pólis bem ordenada os seus habitantes
seriam divididos em três grupos, de acordo com suas
virtudes, assim como a alma. Os que cuidam da
subsistência (agricultores, comerciantes, artesão, etc), os
que a defendem (guerreiros), e os que a governam (os
filósofos). Cada um, ao exercitar suas virtudes,
desempenha um papel na sociedade, contribuindo como
podem para o seu bom funcionamento.
ARISTÓTELES
Juntamente com Platão,
Aristóteles (384 – 322 a. C.) é a
grande referência da filosofia
grega antiga que vai influenciar
na construção do mundo
ocidental. Dante Alighieri dizia
que ele foi o mestre dos
mestres, e São Tomaz de
Aquino se referia a ele como
“o” filósofo.
Ele foi o pensador que analisou todo o
pensamento grego e o melhorou; escreveu sobre quase
tudo, de metafísica à biologia. Em resumo, ele foi “o
cara”. Por isso, devemos estudar Aristóteles como o
porta-voz dos gregos instruídos, pois era assim que ele se
considerava.
Apesar de ter sido um dos maiores pensadores
que Atenas produziu, ele era um meteco, e como tal, sem
direitos políticos.
De Estagira, na Macedônia, Aristóteles sai aos 18
anos para estudar na Academia de Platão em Atenas.
Isso, provavelmente, uns 10 anos antes do domínio
macedônico sobre a Grécia. Com uma mente notável,
permanece por lá durante 20 anos até a morte de Platão.
Após a morte do mestre, a quem Aristóteles era
muito amigo e admirador, não vê mais motivos de
continuar na academia e sai de Atenas para viajar por um
bom tempo.
Em 335 a. c., o rei Felipe II o chama para morar
em Pela, capital do império macedônico, e ser professor
de seu filho Alexandre, condição na qual permaneceu até
este assumir o poder. Essa proximidade com a corte
macedônica se dava pelo fato de Nicômaco, seu pai, ter
sido o médico do rei Amintas, pai de Felipe.
Aristóteles foi um grande pensador sistemático,
que dividiu os saberes em:
Produtivos – que se destinam a produção das
coisas que são úteis aos homens. Ex: artes, arquitetura,
carpintaria, etc.
Práticos - que tratam das práticas que os homens
mantem entre si. Ex: política, ética, economia, etc.
Teóricos – dispõem sobre os conhecimentos
contemplativos da realidade, das coisas que existem
independentes do homem. Ex: física, matemática,
astronomia, etc.
Metafísica
Segundo ele, enquanto os saberes particulares
refletem sobre os seres particulares sujeitos ao
movimento (devir), existe um saber que reflete sobre
todos esses seres em conjunto, que estuda o que há de
comum a todos eles, e que os estruturam em um todo
organizado.
Esse saber ele chamou de Filosofia Primeira, que
mais tarde ficou conhecida como Metafísica (meta +
físico = além do físico). É ela que analisa os princípios e
a essência última do mundo, do universal, contida em
todos os seres. É ela que diz se o objeto (esse mundo que
nos rodeia) dos saberes particulares é real e verdadeiro.
Na sua investigação do que seja a realidade, afim
de fundar um conhecimento verdadeiro das coisas,
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Aristóteles superou Heráclito, Parmênides, e deu uma
resposta diferente da de Platão, criticando a posição de
seu mestre.
Para ele, esse mundo material que nos envolve e
que é mutável, não é uma ilusão ou cópia imperfeita de
algo (Parmênides e Platão), mas também não é toda a
realidade (Heráclito).
A mudança não é algo que torne as coisas
ilusórias ou imperfeitas, mas é na realidade a sua essência.
E se Parmênides e Platão dizem que não dá para
construir um conhecimento verdadeiro sobre ela,
Aristóteles afirma que eles estão errados, que dá para
obter um conhecimento verdadeiro desse mundo, esse
conhecimento é a Física.
Crítico do dualismo platônico, ele não acreditava
que deveríamos conhecer primeiro um mundo intelectual
para só assim conhecermos o mundo material.
Aristóteles voltou a investigação filosófica para a matéria
afirmando que o ser (o real/inteligível) encontra-se nela,
na matéria, e que a possibilidade de compreensão e
apreensão do real (ser) deve-se dar a partir dela. Essa
discordância com Platão ficou bem retratada na obra do
renascentista Rafael Sanzio.
Ele acreditava que existe uma ordem
(inteligência) regendo todos os seres (matéria). Cada
objeto que existe possui essa ordem dentro de si, que o
constitui, que o faz ser como ele é, e que pode fazer ele
se tornar algo melhor, sempre almejando uma finalidade.
Ou seja, o inteligível está nas coisas e não separado
dela em um mundo exterior.
O que faz cada ser, ser o que é, Aristóteles
denominou de Substância/essência, e pelo fato do
homem ser dotado de consciência (racional), ele pode
conhecer a essência/substância das coisas.
Esse conhecimento se dá, segundo ele, quando
investigamos vários particulares até abstrairmos uma
essência comum a todos, na qual podemos generalizar
através do conceito geral/universal. Esse método de ir do
particular ao geral é a indução.
Para Aristóteles, os seres se diferenciam pela
quantidade de movimento a que estão sujeitos, e a
depender dessa quantidade existe um conhecimento
próprio ao seu estudo.
De acordo com a metafísica aristotélica, todo ser
físico possui uma matéria de que é feito e uma forma que
o individualiza. Essa matéria possui a capacidade de se
tornar algo diferente, de assumir outra forma,
atualizando-se. E é o movimento que lhe é inerente,
essencial, que faz acontecer essa mudança.
Desse modo, os conceitos que Aristóteles
desenvolveu em sua metafísica para entender a realidade
são:
Matéria – é aquilo do que o ser é feito.
Forma – é o que o individualiza, tornando-o o
que ele é.
Potência – é capacidade/possibilidade que a
matéria tem de mudar.
Ato – é a forma que ele está assumindo agora.
Substância – é a essência do ser, aquilo que o faz
ser o que é.
Acidente – são as características não essenciais
do ser, que, caso ele tenha ou não, não o impede de ser o
que ele é. Exemplo: grande/pequeno, amarelo/azul,
leve/pesado, etc.
Mas quais são as causas dessa mudança, do
movimento. Aristóteles diz que são quatro, a saber:
Causa material – refere-se à sua matéria. Uma
pedra nunca vai ser um homem adulto
Causa eficiente/motora – refere-se àquilo que
age sobre a matéria para que ela adquira outra forma.
Causa formal – refere-se àquilo que a matéria
tende a se tornar.
Causa final – refere-se ao propósito ao qual a
matéria sofreu todo o movimento para se tornar o que é.
Lembre-se sempre que no pensamento
aristotélico, TODAS as coisas tem uma finalidade, tudo
tem um propósito e uma função. A causa final é a causa
mais importante de todas, é a inteligência (o logos)
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ordenando o mundo, e todos os seres estão sujeitos a ela,
sejam eles animados ou inanimados. Tudo tem seu
propósito e fim. Por essa razão é que o pensamento
aristotélico é chamando de teleológico (telos + lógico =
fim ordenado).
E quando ele investiga a causa das causa ele se
depara com o princípio causador de todas as causas, qual
seja, o Primeiro Motor Imóvel. Ele é ato puro, não sujeito
a nenhum tipo de movimento, é o incausado que é a
causa de todas as causas.
Política
Assim como o próprio Platão percebeu mais
tarde que seu projeto de funcionamento de uma pólis
ideal governada por reis filósofos não era viável,
Aristóteles também sabia que esse projeto nunca daria
certo.
Tendo isso em mente, ele elaborou um projeto
político que fosse viável, e desenvolveu uma política para
o homem comum. Mas não entenda esse homem como
qualquer um. É o homem bem instruído, e de
determinadas posses, que o permitisse ter ócio suficiente
para se voltar aos estudos e à política.
Nessa linha de raciocínio, a polis que esse homem
habitaria seria a melhor possível. Ela teria sua
constituição como sendo um reflexo desse tipo de
homem. E como seria essa polis?
Para dar essa resposta, Aristóteles analisou 158
constituições diferentes, e definiu os tipos possíveis de
governo conforme o quadro abaixo:
BOM RUIM
UM MONARQUIA TIRANIA
POUCOS ARISTOCRACIA OLIGARQUIA
MUITOS REPÚBLICA DEMOCRACIA
A corrupção de um regime a outro, acontece
quando quem governa se desvia do objetivo de atingir o
bem comum, e passa a governar de acordo com seus
interesses.
Quanto à melhor forma de governo, Aristóteles
diz que vai depender do tipo de povo. Segundo ele, existe
uma disposição natural em cada povo que o torna
propício a determinada forma de governo.
Particularmente, ele prefere a monarquia, e argumenta
que dentre as formas corrompidas de governo, a
democracia é a melhor.
Para compreendermos bem o pensamento
aristotélico sobre a política e a ética é importantíssimo
sabermos que ele não entendia as duas separadamente.
Isso porque ele, assim como os gregos instruidos, não
entendia um modo de ser, um comportamento do
ánthropos (homem) que não fosse o mesmo do zoôn
politikon (animal político). Ser homem para ele era ser
cidadão.
Tanto é que a palavra ética vem de ethos que de
forma abrangente quer dizer modo de ser, e a palavra
política vem de polis + ética, ou seja, o modo de ser da
pólis. Não existe comportamento racional/inteligível que
não seja dentro da pólis.
Segundo ele, um homem que não vivesse em
comunidade, ou era um deus, ou uma fera. E se vivesse
em comunidade que não fosse uma pólis, seria inferior.
Por isso que um estrangeiro era inferior a um grego e era
legítimo que ele fosse escravizado. Por isso, Aristóteles
condenava a escravidão entre homens livres, por ser
contrário à natureza das coisas.
Aí você pode pensar, mas não é todo mundo
gente do mesmo jeito? Nananinanan, não. Vamos botar
os pingos nos ís. Aristóteles tinha em mente que todos
nós, gregos ou não, somos zoôn (animais), mas apenas os
que vivem numa comunidade política, numa pólis, são
zoôn polítikon, são ánthropos (ανθρώπου).
Ora, nós vimos acima que o pensamento racional
surgiu com a pólis. A racionalidade, que é uma descoberta
grega, que era, portanto, grega, é uma racionalidade
política, no sentido de comunitária, e o que faz o ánthropos
(homem) ser superior aos outros animais é justamente
isso, ser racional. Mas ele só pode ser racional se fizer
parte dessa comunidade política que é a pólis, pois
somente nela, ele pode desenvolver a sua natureza
racional. E se é assim, a pólis também é algo natural ao
homem.
As leis que regem a pólis são criações da palavra
(logos/razão), que não é mais ditada pelos deuses a um
sacerdote que a transmite aos homens. Ela é
genuinamente humana, fruto do debate, da dialética,
expressão do logos (razão) que organiza a pólis e reina
sobre os homens, não todos os homens, mas sobre os
gregos.
É essa palavra (logos) que é o conhecimento do
que é útil, do bem e do mal, do justo e do injusto; e viver
de acordo com a justiça é viver a boa vida, permitida
apenas na pólis. É isso que faz de um grego, um zoôn
17. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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(animal) politikon (superior), e somente este é ánthropos
(ανθρώπου).
Repito, tudo isso de que estamos falando foi
construído por eles, por isso, não é obra do homem em
geral, mas dos gregos em particular. Aristóteles está
falando para os gregos, ele está ensinando a eles, e não a
todos os homens do planeta. E por que não?
Por que ele acreditava que só os gregos eram
capazes de entender o que ele estava dizendo, e é aqui
que reside o preconceito que não é só de Aristóteles, mas
dos gregos em geral.
Ética
Como viver essa boa vida, que só era possível
participando da pólis? Aristóteles deixou essa resposta
em sua obra Ética a Nicômaco. Como já vimos, ele
concebia que tudo tem um fim, e não seria diferente com
as ações humanas, que devem ser realizadas objetivando
atingir o bem supremo que é a eudaimonia, comumente
traduzida por felicidade.
Não devemos entender essa felicidade como uma
emoção que temos quando algo bom nos acontece. Ela
está mais para um estado de plenitude, uma forma de
viver plena, voltada para o bem, para o saber, para a
justiça, no aperfeiçoamento constante do caráter. E viver
dessa forma não é possível sem as virtudes.
As virtudes são as qualidades do caráter que
nos permitem conseguir os bens necessários
(materiais e imateriais) para viver plenamente, ou seja,
ter uma vida feliz. E a principal delas é a phronesis, a
nossa conhecida prudência.
Ela é a sabedoria, o saber prático necessário, a
chave da felicidade, para viver moderadamente. É a
prudência que nos permite viver sem exageros e nem
deficiências, ou seja, no meio termo. É essa virtude que
nos permite saber como agir moderadamente em cada
situação particular.
CAPÍTULO 3 – FILOSOFIA HELENISTICA
CONTEXTO HISTÓRICO - ALEXANDRE O
GRANDE
Enfraquecidos pela Guerra do Peloponeso, os
gregos não resistiram ao ataque macedônico na
BATALHA DE QUERONEIA (338 a. C.) e
sucumbiram diante do rei Felipe II.
O domínio macedônico não ficou só na Grécia.
Com a morte do rei Felipe II, seu filho Alexandre (336 –
323 a. C.) de apenas 18 anos, assume o poder e conquista
os grandes domínios do Império Persa, expandindo o
poderio macedônico até a Índia.
Alexandre foi
educado nos costumes
gregos, teve Aristóteles como
seu professor, e espalhou a
cultura grega por um
vastíssimo território. A
expansão e mistura da cultura
grega com a dos povos
orientais originou o que foi
conhecido de Helenismo.
Seu império não resistiu à sua morte, foi dividido
entre seus generais, e foi conquistado pelos romanos. No
entanto, as cidades fundadas por ele continuaram
transmitindo a cultura grega pra diversos povos ao longo
de séculos. Como exemplo, podemos citar Alexandria no
Egito, Pérgamo na Ásia Menor, e a Ilha de Rodes no Mar
Egeu.
Alexandria foi a que mais se destacou ao possuir
a maior biblioteca do mundo de sua época, e por ter
formado uma escola com grandes pensadores.
Abaixo, mapa indicando o tamanho da expansão
do Império Macedônico.
Alexandre com suas expansão promove
gradualmente a queda da pólis. Ele dá início ao primeiro
projeto de globalização, com a convivência de povos de
diferentes costumes vivendo sob um mesmo território e
domínio.
Esse novo mundo que Alexandre estava criando
requeria um novo homem, que deixaria de ser um
cidadão da pólis para ser um cidadão do mundo, da
cosmopólis, ou seja, um cosmopolita.
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Dessa maneira, todo aquele corpo teórico
sustentado pelos filósofos gregos, que concebia a pólis
como sendo o único lugar onde o homem poderia
exercitar suas virtudes e fazer florescer suas
potencialidades, foi perdendo sentido, pois a pólis estava
deixando de existir em seu formato original.
Essas mudanças na forma de ver o mundo
colocava novas questões que não podiam ser respondidas
pelos escritos filosóficos já existentes.
É nesse contexto que surgem novas correntes de
pensamento filosóficas, como respostas às novas
questões postas por essas transformações.
Epicurismo
Fundada por Epicuro (341 – 271 a. C), o
epicurismo ensinava que os homens devem se libertar
dos medos e viver uma vida voltada para os simples
prazeres (hedonismo), como beber quando se tem sede,
comer quando se tem fome, aproveitar a presença dos
amigos e familiares. Tudo com moderação.
Estes prazeres seriam entendidos como a
superação dos desejos estimulados em sociedade, como
a busca por fama, riqueza e poder. A felicidade seria,
portanto, essa libertação dos desejos e prazeres, com o
objetivo de se levar uma vida serena e simples, própria de
um sábio.
Estoicismo
Outra doutrina foi a de Zenão de Cício (336 –
263 a. C.), que ficou conhecida por estoicismo. Segundo
ela, o homem deveria viver indiferente aos problemas da
vida. Teria que desprezar totalmente qualquer tipo de
prazer, pois os entendia como a causa dos males.
Para esse filósofo, o homem deveria dedicar-se
apenas à sabedoria sobre a ordem do cosmo para viver
de acordo com ele, pois o homem não pertence a lugar
nenhum, mas ao mundo.
Ceticismo
Pirro de Élida (360-270 a.C.) foi o maior nome
dessa corrente filosófica. Ele tirou suas conclusões
depois de participar das expedições de Alexandre o
Grande, onde percebeu, ao ter contato com diversas
culturas, que não há como se ter conhecimento do que
seja verdadeiro ou falso, e que a maior sabedoria que o
homem poderia alcançar é a aceitação desse fato. E negar
isso é a causa de todos os males e infelicidades.
Cinismo
Figura emblemática do cinismo é Diógines de
Sínope (400-325 a. C.), mais conhecido como Diógines o
cão. Ele viveu em Atenas de acordo com o que
acreditava, morando em um barril e comendo apenas o
os outros lhe davam, pois o cinismo pregava que as
pessoas deveriam viver da forma mais simples possível,
como um cão, desprezando todas as convenções sociais.
Tudo que era natural deveria ser feito aos olhos
de todos, e considerava coisas tolas a riqueza, fama,
poder, e honras.
Em busca de uma pessoa que não fosse corrupta,
ele andava com uma lanterna interpelando a todos que
encontrava.
Certa vez o imperador Alexandre foi ao seu
encontro e disse que lhe daria qualquer coisa que ele
pedisse, quando então, Diógenes pediu apenas que eles
saísse da frente do sol, pois estava impedindo-o de
receber sua luminosidade.
QUESTÕES
1. (2012)
TEXTO I
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento
originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que
outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar
se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os ventos
são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar
por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-
se em água. A água, quando mais condensada,
transforma-se em terra, e quando condensada ao máximo
possível, transforma-se em pedras.
BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de
Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).
TEXTO II
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu:
“Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio
do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se
nos apresentam, em face desta concepção, as
especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o
mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos,
como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga
Demócrito. Na verdade, dão impressão de quererem
ancorar o mundo numa teia de aranha.”
GILSON, E.: BOEHNER, P. Historia da
Filosofia Crista. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram
teses para explicar a origem do universo, a partir de uma
explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo
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grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em
comum na sua fundamentação teorias que
a) eram baseadas nas ciências da natureza.
b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
2. (2012) Para Platão, o que havia de verdadeiro em
Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto
de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma
relação entre objeto racional e objeto sensível ou material
que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo.
Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias
formava-se em sua mente.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da
filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).
O texto faz referência à relação entre razão e sensação,
um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão
(427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão
se situa diante dessa relação?
A) Estabelecendo um abismo intransponível entre as
duas.
B) Privilegiando os sentidos e subordinando o
conhecimento a eles.
C) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e
sensação são inseparáveis.
D) Afirmando que a razão é capaz de gerar
conhecimento, mas a sensação não.
E) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação
é superior à razão.
3. (2014)
No centro da imagem o filósofo Platão é retratado
apontando para o alto. Esse gesto significa que o
conhecimento se encontra em uma instância na qual o
homem descobre a
A) suspensão do juízo como reveladora da verdade.
B) realidade inteligível por meio do método dialético.
C) salvação da condição mortal pelo poder de Deus.
D) essências das coisas sensíveis no intelecto divino.
E) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade.
4. (2009.2) Segundo Aristóteles, “na cidade com o
melhor conjunto de normas e naquela dotada de homens
absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma
vida de trabalho trivial ou de negócios — esses tipos de
vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades
morais —, tampouco devem ser agricultores os
aspirantes a cidadania, pois o lazer é indispensável ao
desenvolvimento das qualidades morais e a pratica das
atividades políticas”.
VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na
cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994.
O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles,
permite compreender que a cidadania
A) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada,
pois é condenável que os políticos de qualquer época
fiquem entregues a ociosidade, enquanto o resto dos
cidadãos tem de trabalhar.
B) era entendida como uma dignidade própria dos grupos
sociais superiores, fruto de uma concepção política
profundamente hierarquizada da sociedade.
C) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção
política democrática, que levava todos os habitantes da
pólis a participarem da vida cívica.
D) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela
qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado as
atividades vinculadas aos tribunais.
E) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita aqueles que
se dedicavam a política e que tinham tempo para resolver
os problemas da cidade.
5. (2013) A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre
e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não
devem estar separados como na inscrição existente em
Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor
é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos
estes atributos estão presentes nas mais excelentes
atividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos
como felicidade.
ARISTOTELES. A Politica. São Paulo: Cia das Letras, 2010.
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Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais
excelentes atributos, Aristóteles a identifica como
a) busca por bens materiais e títulos de nobreza.
b) plenitude espiritual e ascese pessoal.
c) finalidade das ações e condutas humanas.
d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
e) expressão do sucesso individual e reconhecimento
público.
6. (2014)
TEXTO I
Olhamos o homem alheio às atividades públicas
não como alguém que cuida apenas de seus próprios
interesse, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses,
decidimos as questões públicas por nós mesmos na
crença de que não é o debate que é o empecilho para à
ação, e sim o fato de não se estar esclarecido pelo debate
antes de chegar a hora da ação.
TUCÍDIDES. História da guerra do Peloponeso. Brasília: UnB, 1987 (adaptado).
TEXTO II
Um cidadão integral pode ser definido por nada
mais anda menos que pelo direito de administrar justiça
e exercer funções públicas; algumas destas, todavia, são
limitadas quanto ao tempo de exercício, de tal modo que
não podem de forma alguma ser exercidas duas vezes
pela mesma pessoa, ou somente podem sê-lo depois de
certos intervalos de tempo prefixados.
ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1985.
Comparando os textos I e II, tanto para Tucidides (no
século V a.C.) quanto para Aristóteles (no século IV a.C.),
a cidadania era definida pelo(a)
A) prestígio social.
B) acúmulo de riqueza.
C) participação política.
D) local de nascimento.
E) grupo de parentesco.
7. (2014) Alguns dos desejos são naturais e necessários;
outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais
nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos
que não nos trazem dor se não satisfeitos não são
necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente
desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem
geradores de dano.
EPICURO DE SAMOS. Doutrinas principais. In: SANSON, V.F. Textos de
filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974.
No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem
tem como fim
A) alcançar o prazer moderado e a felicidade.
B) valorizar os deveres e as obrigações sociais.
C) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com
resignação.
D) refletir sobre os valores e as normas dadas pela
divindade.
E) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir
o saber.
8. (2014) Compreende-se assim o alcance de uma
reivindicação que surge desde o nascimento da cidade na
Grécia antiga: a redação das leis. Ao escrevê-las, não se
faz mais que assegurar-lhes permanência e fixidez. As leis
tornam-se bem comum, regra geral, suscetível de ser
aplicada a todos da mesma maneira.
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1992 (adaptado).
Para o autor, a reivindicação atendida na Grécia antiga,
ainda vigente no mundo contemporâneo, buscava
garantir o seguinte princípio:
A) Isonomia – igualdade de tratamento aos cidadãos.
B) Transparência – acesso às informações
governamentais.
C) Tripartição – separação entre os poderes políticos
estatais.
D) Equiparação – Igualdade de gênero na participação
política.
E) Elegibilidade – permissão para candidatura aos cargos
públicos.
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UNIDADE 2 – FILOSOFIA MEDIEVAL
CONTEXTO HISTÓRICO – A QUEDA DE
ROMA
Antes da queda, numa tentativa desesperada de
salvar o Império Romano, em 380 o imperador Teodósio
torna o cristianismo, que já era a seita religiosa com o
maior número de seguidores, a religião oficial.
O Império caiu, mas a Igreja Católica (do grego
καθολικος /katholikos = universal) Apostólica, e agora,
Romana emergiu e se tornou a maior instituição do
mundo (até hoje).
Em um cenário de fragmentação, a Igreja surgia
como um elemento de união, crescendo no vácuo que foi
deixado pelo desaparecimento do império. Ponte entre o
homem e Deus, ela teria a última palavra (a única) sobre
como deveria ser a vida de seu rebanho e sobre o que era
o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e o injusto.
Seria, portanto, a dona da mente e, por conseguinte, dos
corpos das pessoas.
Poderosa não apenas do ponto de vista espiritual,
mas também político, ninguém melhor do que ela para
dizer como Deus queria que a sociedade fosse
organizada, legitimando assim, uma sociedade
hierarquizada, desigual e sem mobilidade social.
Definida pelo critério de sangue, quem nascia nobre
morria nobre, quem nascia servo, morria servo.
Por esses tempos o pensamento filosófico entrou
de férias, pois os homes letrados, com raras exceções,
eram os sacerdotes da igreja. Eles centralizaram o ensino
em torno de si nos mosteiros, e posteriormente nas
universidades. Desenvolveram o pensamento teológico,
no entanto, não conseguiram fugir do estudo dos grandes
filósofos.
Nesse período inicial de expansão da doutrina
católica, os sábios da igreja tinham que deixar a fé cristã
bem palatável aos olhos das classes mais cultas que
conheciam bem os textos filosóficos. Esse movimento
ficou conhecido como PATRÍSTICA por ter sido
protagonizado pelos padres, e teve como seu principal
expoente o africano Aureliano Agostinho.
CAPÍTULO 4 - A PATRÍSTICA E SANTO
AGOSTINHO
O primeiro grande doutor da igreja foi o cara
mais cachaceiro e raparigueiro que existia na cidade de
Tagaste, uma província romana no norte da África.
Depois de passar por uma
grande crise existencial na qual se
perguntava pelo sentido da vida,
Agostinho (354 – 430) se converteu
ao cristianismo e passou a ser um
grande pregador. Essa crise está
descrita em sua obra autobiográfica
As Confissões.
Ele acreditava e pregava que o homem bom é
aquele voltado para o seu interior na procura de Deus e
em busca de sua salvação, pois já nascera desgraçado,
fruto do pecado original de Adão e Eva.
Não via como antagônicas fé e razão, mas
afirmava que para se compreender era necessário crer,
subordinando, portanto, a razão à fé.
Apropriou-se de muitos elementos da filosofia
platônica para fundamentar sua explicação da doutrina
cristã. Muitos autores afirmam que Santo Agostinho
cristianizou Platão.
Assim como Platão julgava o intelecto superior à
matéria, Santo Agostinho pregava a superioridade da
alma ante o corpo, e sendo a alma um presente de Deus,
devíamos nos voltar inteiramente à Ele.
Contemporâneo do declínio do Império
Romano, Agostinho respondeu à acusação de que fora o
cristianismo o culpado pela queda, e pôs a culpa no
paganismo.
Sua resposta veio na obra Cidade de Deus,
onde, segundo ele, há a cidade espiritual de Deus e a
cidade material dos homens. Elas não coexistem
separadamente, mas no plano de nossa existência a
depender de nossa vontade de viver uma vida de pecado
na cidade terrena dos homens, ou se voltar para deus e
viver em sua graça como um de seus servos.
Percebam que a boa vida não é mais aquela
voltada para o desenvolvimento da racionalidade humana
dentro de uma comunidade política, cujo Bem era
encontrado por meio da razão e ensinado por meio de
um processo educacional virtuoso, como teorizaram os
gregos.
Agora, o conhecimento do bem não dependia
mais de uma instrução racional, mas apenas da vontade
individual de cada um, por meio do livre-arbítrio, de
viver uma vida voltada para Deus. E a compreensão de
como vivê-la é obra da graça divina que ilumina o
coração de quem estiver aberto para isso.
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Mas quem dizia o que era ter uma vida voltada
para Deus? E ainda, quais pessoas viviam dessa maneira?
Um xero no olho para quem respondeu: a Igreja.
Mas aí meu amigo, deu no que deu.
CAPÍTULO 5 - A ESCOLÁSTICA E SÃO TOMÁS
DE AQUINO
No século VIII, o imperador franco Carlos
Magno começou a estimular e difundir o ensino ao
construir escolas que seriam dirigidas pela Igreja,
retirando dos mosteiros o monopólio do ensino.
A cultura greco-romana passa a ser divulgada nos
moldes romanos, ou seja, passa a ser ensinado gramática,
retórica, e dialética (trivium), além de geometria,
aritmética, astronomia e música (quadrivium), todas elas, é
claro, sob um viés teológico.
Essa nova fase do pensamento da Igreja é
chamado de escolástica e tem como principal expoente
Tomás de Aquino.
Natural de Nápoles na Itália, Tomás de Aquino
(1225 – 1274) foi ordenado monge dominicano e estudou
na universidade de sua cidade natal
e na de Bolonha. Mais tarde
tornou-se professor da maior
universidade europeia daquela
época, a de Paris.
Se Santo Agostinho
cristianizou Platão, Tomaz de
Aquino cristianizou Aristóteles ao
usar sua teoria filosófica para
explicar a fé e até mesmo a existência de Deus. A
influência de seu pensamento penetrou toda a Europa a
ponto dele ser considerado o conselheiro dos
conselheiros dos reis. Ou seja, o mestre dos mestres. Sua
obra principal foi a Suma Teológica.
Se em Santo Agostinho o lema era “crer para
entender”, aqui é “entender para crer”. Apesar de dar
uma valorizada na razão, ele também a entendia como a
serviço da fé.
Prova racional da existência de Deus
São Tomás desenvolve a teoria das cinco vias
para explicar racionalmente a existência de Deus.
1. Movimento – Todo o movimento existente
no mundo é causado por Deus.
2. Causa eficiente – não podendo ser causa de
sua própria existência, os seres tiveram uma
causa primeira que é Deus.
3. Contingente e necessário – sendo os seres
contingentes, isto é, não podendo ser eles a
causa de sua própria existência, existe algo
necessário, que é a causa da existência de
todas as coisas.
4. Graus de perfeição – os seres existem em
graus diferentes de perfeição, mas somente
Deus é a perfeição máxima.
5. Causa final – para que haja ordem, tudo no
mundo tem uma finalidade, tem um
propósito, seja uma pedra ou o homem. E o
que rege a finalidade de tudo é Deus, a
inteligência ordenadora.
Ética
O primeiro motor de Aristóteles, que era a causa
de tudo, o puro ato, São Tomás o transforma em Deus,
que tudo criou (a causa de tudo). Assim como Aristóteles
entendia que a felicidade poderia ser alcançada e vivida
na pólis, São Tomás também entende que ela pode ser
vivida ainda nesse mundo, mas a felicidade que ele
defende é uma felicidade mais alta, o conhecimento de
como Deus é em si mesmo.
Política
Na época dele os reinos já estavam fortalecidos,
pois as cruzadas haviam deixados os nobres senhores
feudais empobrecidos e dependentes de um poder mais
centralizado. Com isso, ele pôde desenvolver teorias
sobres as leis internacionais, aquelas que regulam as
relações entre os reinos, e sobre a melhor forma de
governo. Não preciso nem dizer que era a monarquia,
não é mesmo?!!!
Ele entendia que os reinos, orientados pela Igreja,
guiavam seus súditos até certo pondo, quando então a
Igreja os orientavam para a felicidade eterna.
O pensamento de São Tomás de Aquino, por ser
o que de melhor a Igreja produziu na idade média,
influenciou suas ações durante séculos. Foi o que os
jesuítas, responsáveis pela educação dos jovens,
ensinaram nos mosteiros, escolas e universidades. E foi
sobre o seu aporte teórico que caíram as críticas de
cientistas renascentistas como Galileu, e filósofos como
Descartes e Thomas Hobbes.
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UNIDADE 3 – FILOSOFIA MODERNA
CAPÍTULO 6 - RENASCIMENTO
CONTEXTO HISTÓRICO – ROMPIMENTO
COM O ANTIGO E O NASCIMENTO DO
(MUNDO) MODERNO
A ruptura com o sistema feudal não aconteceu da
noite para o dia. Foi um processo lento e gradual de
transformações no mundo e no pensamento que
aconteciam ainda na (baixa) Idade Média. Se ainda hoje
existem resquícios desse tempo, imagine durante essa
passagem.
A ponte entre esses dois mundos foi o
Renascimento, que começou ainda no século XIV e se
estendeu até o século XVI. Foi ele o combustível
intelectual que justificou o abandono de uma forma
(ultra)passada de ver a si mesmo e ao mundo, e deu novas
cores, formas e respostas ao que já estava acontecendo e
ao que ainda estava por vir. Por isso, é ele que passaremos
a estudar agora.
Enquanto os grandes reinos estavam sendo
criados, porque a situação estava um caos e precisava-se
de um poder forte para controlá-la, na Península Itálica,
onde se encontravam as principais rotas comerciais,
cidades muito ricas ficavam cada vez mais ricas devido ao
intenso comércio com o oriente.
As mais ricas cidades foram Gênova, Veneza e
Florença, comandadas por ricas famílias de comerciantes
e banqueiros, e onde um grande número de pessoas de
todos os lugares passavam por lá e, além de comerciarem,
trocavam ideias e experiências de vida, ampliando os
horizontes de seus habitantes.
Nessas cidades, uma nova ordem social era
criada. Lá os homens faziam seus destinos por conta
própria, eram senhores de si, construtores de seu novo
mundo. Este, era muito diferente daquele existente no
campo, onde imperavam as regras sociais feudais
sustentadas pela visão teocêntrica (Deus no centro de
tudo) imposta pela Igreja.
Esses homens não aceitavam a imobilidade
social, em que um servo morreria servo, quando homens
pobres podiam ficar ricos e melhorar de via. Eles não
aceitavam ter uma vida de penitências quando se poderia
aproveitar os prazeres que a vida tem a oferecer. Eles não
aceitavam que a busca pelo lucro fosse um pecado
mortal, enquanto que esse lucro lhes proporcionava
mudar para uma vida melhor, na medida de seu próprio
esforço pessoal.
Percebam que nessas ricas cidades a visão de
mundo feudal (teocêntrica) fundamentada pela Igreja não
tinha muito espaço. Não é que todo mundo ficou ateu
nas cidades, mas é que a interpretação de mundo passa a
se dar a partir do homem, já que ele, realmente era um
pecador, mas também fora feito à imagem e semelhança
de Deus, do criador. E por ter algo de divino, a criatura
mais perfeita criada por Deus, ele poderia também criar
maravilhas.
O homem passaria a olhar o mundo desde então,
não mais a partir de Deus, mas a partir de si mesmo. O
centro das coisas agora era o homem
(antropocentrismo). Por isso que os pensadores desse
tempo ficaram conhecidos como humanistas.
Eles estavam no século XIII, onde poderiam
encontrar fundamentos para essas suas ideias? Isso
mesmo, eles tiveram que recuar mais de 1.000 anos para
encontrar nos gregos antigos algo parecido com o que
estava acontecendo com eles. E não foi muito difícil fazer
isso, já que eles estavam, onde mesmo? Exatamente, no
centro do que fora o maior império do mundo, o mesmo
que conquistou os gregos e mesclou a cultura deles com
a sua, preservando vários de seus escritos.
Os homens do renascimento foram buscar nos
gregos e romanos antigos inspiração para louvarem o ser
humano. Isso mesmo, “inspiração”. Eles não estavam
querendo simplesmente copiá-los, prova disso é que
diferentemente dos antigos que contemplavam a
natureza, os renascentistas queriam conhecê-la para
dominá-la.
Não bastava um pensamento contemplativo, eles
queria um saber ativo que lhes permitissem ciar coisas.
O homem renascentista que rompeu com as
imposições da sociedade feudal, agora queria romper
também com as imposições que a natureza lhe impunha.
Descobrir seus mistérios para usá-los a seu favor era algo
muito rentável e promissor.
Pergunte aos navegadores que tinham que
desbravar os mares, aos mineradores que tinham que
encontrar metais preciosos para cunhar moedas.
Pergunte aos estudantes de medicina que queriam
conhecer melhor o corpo humano para trata-lo melhor,
e aos engenheiros que queriam descobrir novas formas
de construir armas para guerrear com mais facilidade.
Essa vontade de obter um conhecimento que os
ajudassem em questões práticas (o embrião do
conhecimento científico), se refletiu em todos os ramos
da cultura, desde a política até as artes. Mas havia algo
que os impedia em progredir, e que infelizmente também
estava lá junto deles na Península Itálica.
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Era a Igreja com seus ensinamentos escolásticos,
principalmente Santo Tomas de Aquino e Aristóteles,
que ensinavam um conhecimento baseado na pura
contemplação e que vinha sendo transmitido à gerações
pela tradição, que era indiscutível.
Para a Igreja, esses desgraçados que já haviam
rompido com a organização social que ela havia dito que
era a única correta, pois reflexo da vontade de Deus,
agora querem descobrir os segredos do corpo humano,
da natureza, e do universo. Mas ela já havia dito tudo que
tinha para ser dito.
Essa vontade de conhecer era uma blasfêmia
tamanha que só poderia ser purificada pelo fogo da
Inquisição do Santo Ofício. “Ousem questionar o que
dissemos e sofrerão as consequências”, era o aviso que a
Igreja havia dado.
Mas as famílias ricas ousaram, e, conhecidos
como mecenas, financiaram vários artistas e cientistas,
que com sua arte e invenções iam firmando os valores
burgueses na nova sociedade.
Nas artes eram usados conhecimentos
científicos e matemáticos, e nelas se destacaram grandes
nomes na Península Itálica, tais como:
Leonardo da Vince (1452 – 1519) – grande
gênio da época interessou-se por tudo, engenharia,
astronomia, pintura, escultura, filosofia, física, música,
etc. Seus traços sempre valorizaram as formas humanas
e suas invenções militares ajudaram os homens daquela
época a se matarem com mais eficiência. Ele também
dissecava corpos nas horas vagas, e seus desenhos
ajudaram a entender melhor o funcionamento do corpo
humano.
Michelangelo Buonaroti (1475 – 1564) – foi
considerado o gigante do renascimento. As suas duas
maiores obras, o teto da Capela Sistina e o Davi, foram
relacionadas a temas cristãos. Mas olhe só a imagem que
há por trás de Deus no momento da criação. Você
consegue reconhecer? E o Davi, qual a diferença com as
esculturas dos deuses e heróis gregos?
Rafael Sanzio (1483 – 1520) – o “pintor da
madonas”. Veja só uma de suas obras mais famosas. A
Escola de Atenas representa os maiores pensadores da
grécia antiga, tendo Platão e Aristótels ao centro.
Nas ciências como a biologia, física,
matemática, astronomia, tivemos grandes nomes que
enfrentaram os dogmas (verdades indiscutíveis) da Igreja.
Nicolau Cpérnico (1473 – 1543) desafiou a teoria
geocênctrica (terra no centro do universo) defendida por
Aristóteles e epla Igreja, e propôs o modelo heliocentrico
(sol no centro).
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GALILEU GALIEI E O INÍCIO DA CIÊNCIA
EXPERIMENTAL
Também na Itália,
Galileu Galilei (1564 –
1642) conseguiu se impor
como um grande matemático
e inventor. Ele era estudante
de medicina e abandonou o
curso, para desgosto da
família, no intuito de se
aprofundar nos estudos de
matemática, que era sua
grande paixão.
Galileu, contrariando os ensinamentos formais
da Igreja predominantes nas escolas e universidades de
seu tempo, acreditava que era possível explicar o universo
através da matemática, e dedicou sua vida a provar que
estava certo.
Não fosse por Galileu, talvez você não teria que
responder 45 questões de matemática, um quarto da
prova. Mas também se não fosse por ele, talvez você não
estivesse lendo esse mateiral agora, pois provavelmente
não haveria a tecnologia necessária por fazer ele chegar
até você.
Atraves de seus estudos de astronomia Galileu
chegou às mesmas conclusões de Copérnico sobre a
posição da terra no sistema solar, sustentano um sistema
heliocentrico (sol no centro), contrariando a posição
geocentrica (terra no centro) da Igreja.
Além disso, fez algo
revolucionário. Desenvolveu o
telescópio. Pronto, a Igreja
ficou doida. Agora, qualquer
pessoa poderia olhar por aquele
negócio e ver com os próprios
olhos as estrelas e a lua.
Esse foi o grande passo
para o conhecimento experimental. Veja que um
indivíduo, por meios dos sentidos, pôde sozinho desafiar
os conhecimentos contemplativos sustentados por todo
o clero da Igreja.
Além de desbancar Aristóteles com relação à
queda dos corpos, por meio de seus cálculos matemáticos
e suas experiencias na torre de Pisa, ele também provou
que as esferas celestes não eram perfeitas como o filosofo
grego sustentava.
Ele viu com seu telescópio as crateras lunares, e
o extraordinário era que não se tratava apenas de uma
disputa de opiniões, a palavra de Galileu contra a de
Aristóteles. Qualquer pessoa podeira ver isso pelo
telescópio e atestar que Galileu estava com a razão.
Óbivio que a Igreja não ficou parada de braços
cruzados. A inquisição caiu em cima de Galileu e ele teve
de dizer que suas teorias eram apenas suposições
(hipóteses).
Apesar disso, a Igreja não conseguiu conter a
Revolução Científica que Galileu havia começado, e
muitos foram os estudiosos que deram prosseguimento a
seus estudos, sendo Isaac Newton quem aperfeiçou o
sistema.
E o movimento renascentista não ficou só na
Peninsula Itálica, ele se espalhou por toda a Europa. Na
França tivemos Rabelais (1490 – 1553) e Montaigne
(1533 – 1592), na Inglaterra, Willian Sheakespeare
(1564 – 1616), na Espanha, Miguel de Cervantes (1547
– 1616), nos Paises Baixos, Erasmo de Rotterdam
(1466 – 1536).
Ém importante destacar que talvez a principal
invenção dessa época, sem a qual nada disso poderia ter
acontecido, tenha sido a imprensa (1454) do alemão
Gutemberg. Ela possibilitou a reprodução rápida e barata
dos livros já produzidos e dos que estavam sendo
escritos.
Ela foi também um importante instrumento
contra a centralização do saber com o clero, já que antes
dela os livros eram copiados pelos monges de capa a
capa. Imagine quanto tempo levaria para copiar a
quantidade de livros que circulou pela Europa nesse
tempo.
Essas foram grandes realizações dos homens, que
ainda continuaram no campo da política com a criação
dos Estados Nacionais. Diferentemente dos reis feudais,
esses novos Reis teriam tanto poder que alguns deles
desafiaram até o representante de deus na terra, o Papa.
MAQUIAVEL E O DILEMA DO PRÍNCIPE
As transformações
sofridas pelo poder político não
passaram despercebidas pelos
renascentistas, e a principal, e
mais significativa personalidade
nesse campo foi o florentino
Nicolau Maquiavel (1469 – 1527).
Ele assumiu um
cargo importante no governo de
Florença depois que a família Médici foi afastada do
controle da cidade. Trabalhava como diplomata fazendo
26. FILOSOFIA PARA O ENEM www.andersonpinho.com.br
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várias viagens aos grandes reinos que haviam se
unificado, e não se conformava com o estado de guerra
que se encontrava a Península Itálica.
Na época de Maquiavel as cidades mais
expressivas dessa região eram: a sua Florença, Milão,
Nápoles, e Veneza. Apesar de seu forte comércio elas
eram frágeis politicamente e totalmente vulneráveis a
ataques externos. Na época dele era a coisa mais comum
uma cidade invadir e dominar outra, por isso a sua
preocupação.
Além disso, Maquiavel acreditava que a região
italiana só teria a ganhar se fosse unificada. Mas como
fazer isso? Essa é a pergunta central de O Príncipe (1515),
a sua grande obra prima que iria mudar totalmente o
modo dos homens ocidentais enxergarem a política.
Maquiavel é considerado o pai da ciência
política moderna porque não escreveu um tratado
teórico de como deveria ser o governo ideal. Desde os
gregos até sua época, todos fizeram isso.
Sua preocupação não era como deveria ser a
política, mas sim em como ela é realmente praticada.
Com isso em mente, tendo como fundamento empírico
as lições que a história havia dado e como se
comportavam os grandes políticos de sua época, ele
escreveu um manual de como construir um estado
forte e como se manter no poder para governá-lo.
Para isso ele entendia que o príncipe deveria ser
guiado pelos resultados a serem alcançados, podendo
tudo fazer. Não deveria ficar preocupado com questões
morais, o importante era conseguir o poder e mantê-lo.
Para Maquiavel, portanto, a política não é atrelada à
moral, pois os “fins justificam os meios”.
O príncipe deve usar de todas as artimanhas
possíveis, mentir, ludibriar, enganar. É o homem astuto,
esperto o suficiente para conseguir o que deseja. Desse
modo, para conseguir o poder ele tem que possuir a
virtu, ou seja, qualidades especiais que o diferencie dos
outros homens. É ela que vai possibilitá-lo a reconhecer
as circunstâncias certas (fortuna) para agir como se deve
no momento certo. A fortuna é o que muitos chamam de
sorte, mas só a aproveita quem estiver preparado.
Esse é o elemento característico do pensamento
renascentista nos seus ensinamentos. Maquiavel sabe que
existem forças independentes da vontade do homem
agindo sobre ele. Mas o homem como um ser racional,
dotado de inteligência, não é uma simples marionete
jogada de um lado a outro ao sabor do acaso. Ele pode
usar sua racionalidade para decidir os rumos de sua vida.
Chegado ao poder, é preciso saber como se
manter nele. Para isso, é melhor ser temido do que
amado. Maquiavel tinha uma visão pessimista sobre o
homem, acreditava que ele é um bicho escroto, que
quando tá tudo bem, todo mundo é seu amigo, mas “na
hora do vamos ver” todo mundo lhe vira as costas.
Não existe essa de bem comum. Os indivíduos
vivem em constante conflito em sociedade, e não dá pra
agradar todo mundo. Para manter a lealdade de todos é
melhor que eles o temam, pois assim é mais fácil de
obedecerem e se manterem fiéis. É até bom de vez em
quando esfolar um infeliz para que todos vejam que o
príncipe não está para brincadeira.
Para o leitor superficial de Maquiavel, O Príncipe o
torna, sem sombra de dúvidas, um dos escritores mais
sem escrúpulos de todos os tempos. Essa é a
interpretação possível para quem analisa essa obra fora
de seu contexto histórico.
Maquiavel escreveu essa obra, quando os Médici
retornaram ao poder e ele foi posto para fora da cena
política. Ele a dedicou a Lorenzo de Médici, o único
homem que poderia, aos olhos dele, unificar a Itália e lhe
trazer de volta o brilho e esplendor da Roma republicana
anterior à ditadura de Júlio César.
Maquiavel era um republicano, e não escreveu
um obra para um governante que quisesse se perpetuar
no poder de forma absoluta e despótica. Ele tinha um
sonho, mas não era um ingênuo. Sabia que teria de haver
derramamento de sangue para que um grande Estado
fosse criado, e que isso teria de ocorrer sob a liderança de
um único homem.
No entanto, alcançada a estabilidade, um regime
republicano deveria ser instalado para que o interesse
coletivo pudesse guiar o destino de todos, e os rumos do
Estado.
É claro que não encontramos isso em O Príncipe,
que, como já dissemos, é um manual de como conseguir
o poder e se manter nele. Esse perfil republicano de
Maquiavel é percebido em outra obra sua, qual seja,
Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio.
Vejamos um trecho dessa obra em que isso fica
bem evidente:
“Percebe-se facilmente de onde nasce o amor à
liberdade dos povos; a experiência nos mostra que as
cidades crescem em poder e em riqueza enquanto são
livres. É maravilhoso, por exemplo, como cresceu a
grandeza de Atenas durante os cem anos que sucederam
à ditadura de Pisístrato. Contudo, mais admirável ainda é
a grandeza alcançada pela república romana depois que