O documento discute como as crianças de hoje têm menos tempo para brincar livremente em comparação com gerações passadas, e como isso pode afetar negativamente o desenvolvimento da linguagem e potencial criativo das crianças. Defende que é necessário dar mais espaço para o brincar livre na educação infantil, permitindo que as crianças explorem diversos contextos linguísticos através de brincadeiras, música, literatura e outras atividades.
1. O BRINCAR E A LINGUAGEM INFANTIL: REFLEXÕES
PROFª: Ordália Alves Almeida
Todos nós, independentemente da classe sócia a qual fazíamos parte, em
diversas circunstâncias, vivíamos experiências de brincar quando criança.
Muitos de nós temos saudades dos velhos tempos.Tempos bons eram aqueles
em que podíamos fazer o que era próprio da infância, BRINCAR
Hoje, que pena! as crianças não têm mais tempo para brincar ou, se têm, não
podem mais brincar, como brincávamos. Elas não precisam explorar seu
universo imaginário e sua capacidade de inventar e construir, pois, antes
mesmo de terem acesso ao brinquedo, a mídia já tratou de explorá-lo. Assim,
ao ganha-lo, as crianças executam algumas ações pré-determinadas para
acioná-lo e, o encanto, momentâneo e passageiro, não lhes permite dar asas a
imaginação.
As vezes, perguntamo-nos: porque as crianças de hoje, que vão muito cedo
para as instituições de educação infantil, apresentam tantas dificuldades, tanto
no aprendizado da linguagem oral quanto na linguagem escrita?
Voltamo-nos a lembrar dos velhos tempos. Nossosavós, nossos pais, e até
mesmo nós, tivemos o privilégio de brincar, no sentido mais puro da palavra.
Não era preciso ir à escola antes dos sete anos; não se tinha muitos
brinquedos fabricados à venda, era preciso pois, explorar a imaginação e
inventar os próprios brinquedos; ouvíamos as pessoas mais velhas contando e
inventando histórias, cantando brincos e músicas, explorando o nosso universo
imaginário; havia mais espaço e lugares para a gente andar, falar, cantar,
correr, saltar, pular, subir, esconder, inventar, construir e tantas outras coisas
mais.
Nesse nosso diletantismo, não estávamos defendendo a idéia de que a
criança pequena não precisa ir para uma instituição de Educação Infantil.Pelo
contrário, todos que nos conhecem sabem que somos uma pessoa-profissional
que há muito luta pela garantia efetiva das crianças, de qualquer classe social,
terem acesso a uma educação infanti de qualidade.
Consideramos oportuno o momento para, mais uma vez, chamar a atenção
de todos os envolvidos com a criança pequena - seja na qualidade de gestor,
coordenador, professor seja na de pais - para que nós precisamos mudar
nossa prática educativa. Não podemos continuar insistindo em uma prática que
tem nos mostrado que a forma como a maioria dos professores tem trabalhado
com as crianças não possibilita a elas o desenvolvimento de todo o seu
potencial lúdico, lingüístico e intelectual.
Precisamos resgatar o espaço do brincar na Educação Infantil, precisamos
dar às crianças o que lhes é de direito. Por que essa necessidade de
transformlá-las em adultos em miniatura novamente, reportando as crianças a
reviverem experiências tão criticadas por Russeau (1995) no século
XVIII?.Esse mesmo autor, em sua 0bra Emílio, destacou que "quando as
crianças começam a falar, passam a chorar menos. Esse progresso é natural,
uma linguagem é substituída pela outra".
É preciso, então, darmos a elas a possibilidade de explorarem vários
contextos lingüísticos, para que possam fazer uso de todos eles nas diferentes
formas de brincar, isso é, o jogo, a dramatização, o desenho, a literatura
infantil, a música, o movimento, a construção, a pintura... As crianças só podem
desenvolver suas múltiplas linguagens se puderem viver o que é próprio da
2. infância. 'Vamos lutar pela ampliação do número de instituições de Educação
Infantil, mas vamos, também, dar às crianças o direito de, novamente,
inventarem seus brinquedos e brincadeiras, de saírem de dentro de quatro
paredes e reconquistarem o direito de correr, falar, salar, cantar, pular, viver...
Assim, com certeza, estaremos criando as condições para que elas
deselrvolvam todo o seu potencia.
Freinet já dizia: a criança só aprende a andar, andando. E nós
continuamos a dizer: só aprende a brincar, brincando; a desenvolver sua
linguagem oral e escrita, falando, cantando, desenhando, pintando, correndo,
escrevendo, dramatizando, sonhando, vivendo...