SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 1
Baixar para ler offline
 
	
  

	
  

	
  

	
  
	
  

Questão

	
  

124

CURSO E COLÉGIO

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e
nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e
havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como
começ ar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-história já
havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passara a existir. Pensar é um
ato. Sentir é um fato. Os dois juntos - sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...]
Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos
montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual - há dois
anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De que?
Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou
Iido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo - como a morte parece dizer sobre a vida porque preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rlo de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice
Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse
fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador
A)

observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos
fatos e às personagens.

B)

relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que Ievaram aos
eventos que a compõem.

C)

revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do
discurso.

D)

admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para
escolher as palavras exatas.

E)

propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafisica, incomuns na
narrativa de ficção.

Alternativa:

C

CURSO E COLÉGIO

A peculiaridade do narrador, identificável no trecho, nasce do fato de ele ser marcado pela
inquietude ante a existência e se render a ela, assim como as dúvidas sobre a própria escrita.	
  	
  

	
  

Mais conteúdo relacionado

Destaque (20)

Q122
Q122Q122
Q122
 
Q119
Q119Q119
Q119
 
Q123
Q123Q123
Q123
 
Anti stress presentation
Anti stress presentationAnti stress presentation
Anti stress presentation
 
Q118
Q118Q118
Q118
 
Q142
Q142Q142
Q142
 
Q141
Q141Q141
Q141
 
Q41
Q41Q41
Q41
 
Q164
Q164Q164
Q164
 
Q139
Q139Q139
Q139
 
Q170
Q170Q170
Q170
 
Q168
Q168Q168
Q168
 
Q132
Q132Q132
Q132
 
Q173
Q173Q173
Q173
 
Q20
Q20Q20
Q20
 
Q19
Q19Q19
Q19
 
Q149
Q149Q149
Q149
 
Espanhol q92
Espanhol q92Espanhol q92
Espanhol q92
 
Espanhol q91
Espanhol q91Espanhol q91
Espanhol q91
 
Q22
Q22Q22
Q22
 

Semelhante a Q124

Análise de paraísos artificiais, de paulo henriques britto
Análise de paraísos artificiais, de paulo henriques brittoAnálise de paraísos artificiais, de paulo henriques britto
Análise de paraísos artificiais, de paulo henriques britto
ma.no.el.ne.ves
 
Revisando os gêneros narrativos
Revisando os gêneros narrativosRevisando os gêneros narrativos
Revisando os gêneros narrativos
ma.no.el.ne.ves
 
Egociencia - Livro 02 / 02
Egociencia  - Livro 02 / 02Egociencia  - Livro 02 / 02
Egociencia - Livro 02 / 02
Carlos Azeitona
 
03 narracao ficcional ii
03   narracao ficcional ii03   narracao ficcional ii
03 narracao ficcional ii
marcelocaxias
 

Semelhante a Q124 (20)

Questões objetivas enem 8 a
Questões objetivas   enem 8 aQuestões objetivas   enem 8 a
Questões objetivas enem 8 a
 
Questões objetivas enem
Questões objetivas   enemQuestões objetivas   enem
Questões objetivas enem
 
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães RosaModernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
 
Querô romance peça espetáculo pdf 1
Querô romance peça espetáculo pdf 1Querô romance peça espetáculo pdf 1
Querô romance peça espetáculo pdf 1
 
Realismo e naturalismo
Realismo e naturalismoRealismo e naturalismo
Realismo e naturalismo
 
Questões de Literatura - ENEM 2010
Questões de Literatura - ENEM 2010Questões de Literatura - ENEM 2010
Questões de Literatura - ENEM 2010
 
Caderno de ecercícios de redação
Caderno de ecercícios de redaçãoCaderno de ecercícios de redação
Caderno de ecercícios de redação
 
Análise de paraísos artificiais, de paulo henriques britto
Análise de paraísos artificiais, de paulo henriques brittoAnálise de paraísos artificiais, de paulo henriques britto
Análise de paraísos artificiais, de paulo henriques britto
 
Revisando os gêneros narrativos
Revisando os gêneros narrativosRevisando os gêneros narrativos
Revisando os gêneros narrativos
 
Cadernocinema
CadernocinemaCadernocinema
Cadernocinema
 
Egociencia - Livro 02 / 02
Egociencia  - Livro 02 / 02Egociencia  - Livro 02 / 02
Egociencia - Livro 02 / 02
 
Narração
NarraçãoNarração
Narração
 
03 narracao ficcional ii
03   narracao ficcional ii03   narracao ficcional ii
03 narracao ficcional ii
 
Alvaro de campos
Alvaro de camposAlvaro de campos
Alvaro de campos
 
Narracao
NarracaoNarracao
Narracao
 
Atividade
AtividadeAtividade
Atividade
 
Atividade
AtividadeAtividade
Atividade
 
aaaa
aaaaaaaa
aaaa
 
Artigo de clarice fiped Dra. Diná Mendes
Artigo de clarice    fiped Dra. Diná MendesArtigo de clarice    fiped Dra. Diná Mendes
Artigo de clarice fiped Dra. Diná Mendes
 
Clarice lispector
Clarice lispectorClarice lispector
Clarice lispector
 

Mais de newsevoce

Mais de newsevoce (20)

22
2222
22
 
20
2020
20
 
19
1919
19
 
17
1717
17
 
18
1818
18
 
21
2121
21
 
16
1616
16
 
15
1515
15
 
14
1414
14
 
12
1212
12
 
13
1313
13
 
11
1111
11
 
10
1010
10
 
9
99
9
 
8
88
8
 
7
77
7
 
6
66
6
 
5
55
5
 
4
44
4
 
3
33
3
 

Q124

  • 1.             Questão   124 CURSO E COLÉGIO Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. [...] Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começ ar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passara a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos - sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes. Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual - há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De que? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou Iido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo - como a morte parece dizer sobre a vida porque preciso registrar os fatos antecedentes. LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rlo de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento). A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador A) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens. B) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que Ievaram aos eventos que a compõem. C) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso. D) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas. E) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafisica, incomuns na narrativa de ficção. Alternativa: C CURSO E COLÉGIO A peculiaridade do narrador, identificável no trecho, nasce do fato de ele ser marcado pela inquietude ante a existência e se render a ela, assim como as dúvidas sobre a própria escrita.