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Assim não dá, Vladimir!
REINALDO AZEVEDO
Malho em ferro frio ao cobrar que esquerdistas façam um debate ao menos factualmente honesto
Vladimir Safatle, possível candidato do PSOL ao governo de São Paulo, surpreendeu os leitores deste jornal
ao acusar, em sua coluna de terça, a polícia de ser responsável pela morte de quatro manifestantes: Cleonice
Vieira de Moraes, Douglas Henrique de Oliveira, Luiz Felipe Aniceto de Almeida e Valdinete Rodrigues
Pereira. Seriam, asseverou, apenas algumas das vítimas das PMs. A palavra delicada para definir a afirmação
é “mentira”. As polícias, felizmente, não mataram ninguém nos tais protestos.
Cleonice, uma gari, morreu em Belém de infarto. Varria rua quando houve um confronto
entre manifestantes e a PM. Inalou alguma quantidade de gás lacrimogêneo e teve infarto depois disso, mas
não por causa disso. O filósofo deve conhecer a falácia lógica já apontada pelos escolásticos: “post hoc ergo
propter hoc” -”depois disso, logo por causa disso”. Nem tudo o que vem antes é causa do que vem depois. É
como no filme “Os Pássaros”, de Hitchcock. Tudo se dá depois da chegada da loura, mas a loura é inocente,
Vladimir! A notícia sobre a morte está aqui (is.gd/6QWqQM).
Douglas e Luiz Felipe morreram ao cair do viaduto José Alencar, em Belo Horizonte. Não há evidências de
que estivessem sendo encurralados pela polícia. Ainda que sim, seria preciso examinar as circunstâncias. As
notícias sobre suas respectivas mortes estão nestes endereços: is.gd/NxVkIo e is.gd/lVau1v.
A mentira sobre Valdinete é mais escandalosa (is.gd/i4A1Yf). Foi atropelada por um motorista que havia
furado um bloqueio no km 30 da BR-251, em Cristalina, em Goiás. No mesmo episódio, morreu outra mulher,
Maria Aparecida. Elas decidiram botar fogo em pneus para cobrar melhorias no distrito de Campos Lindos -
nada a ver com osprotestos dos coxinhas vermelhos. O motorista de um Fiat Uno não parou, atingiu as duas e
sumiu. Elas não fugiam da violência policial.
Vladimir resolve moralizar o debate e escreve: “não consta que suas mortes tiveram força para gerar
indignação naqueles que, hoje, gritam por uma bisonha ‘lei de antiterrorismo‘ no Brasil. Para tais arautos da
indignação seletiva, tais mortes foram ‘acidentais’ (…). Mas a morte do cinegrafista, ao menos na narrativa
que assola o país há uma semana, não foi um acidente infeliz e estúpido (…).”
“Não consta que tiveram” é um coquetel molotov na língua pátria. Isso é com ele. Amorte de Andrade não foi
um acidente. O destino do artefato eram os policiais.Vladimir parece achar que a farda cassa dos PMs a sua
condição de humanos. Indignação seletiva é a dele. Segundo acusa, estão usando a “morte infeliz de alguém”
para “criminalizar a revolta da sociedade brasileira”. O PSOL e os “black blocs” não são “a sociedade
brasileira”. De resto, na ordem democrática, é uma tolice afirmar que a “revolta” está sendo criminalizada. Se
ela incidir em práticas puníveis pelo Código Penal, os crimes se definem pelos atos, não pelas vontades.
Sim, eu sei: malho em ferro frio ao cobrar que esquerdistas façam um debate ao menos factualmente
honesto. Eu nunca me esqueço de um emblema desse modo que eles têm de argumentar. Até havia pouco,
em defesa da legalização do aborto no Brasil, sustentavam que 200 mil mulheres morriam a cada ano vítimas
de tal procedimento. Em fevereiro de 2012, a ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci, levou tais números
mentirosos à ONU (is.gd/qHYt5S). Um dia me enchi e peguei os dados do Ministério da Saúde sobre mortes
de mulheres e suas causas e fiz as contas. Os abortistas haviam multiplicado por 200 o numero de óbitos em
decorrência do aborto (is.gd/6Iu4EJ).
A mentira é mais útil às causas das esquerdas do que a verdade. Não fosse assim, homicidas como Lênin,
Stálin, Trótski ou Mao Tse-tung não seriam cultuados ainda hoje. Isso tudo é um pouco constrangedor, mas,
como escreve Janio de Freitas, continuarei tentando.
Fonte: Folha de S.Paulo
Os vivos e os mortos
VLADIMIR SAFATLE
Cleonice Viera de Moraes, Douglas Henrique de Oliveira, Valdinete Rodrigues Pereira, Luiz Felipe Aniceto de
Almeida. Esses são apenas alguns nomes de pessoas que morreram devido à atuação da polícia após o início
das manifestações, em junho.
São pessoas que morreram devido a bombas de gás lacrimogêneo, que foram atropeladas ao fugir
da violência policial, que caíram de viadutos quando pressionados pela Polícia Militar, entre outros casos.
Poucas pessoas ouviram esses nomes, poucos se lembram deles e não consta que suas mortes tiveram força
para gerar indignação naqueles que, hoje, gritam por uma bisonha “lei de antiterrorismo” no Brasil.
Para tais arautos da indignação seletiva, tais mortes foram “acidentais”, por isso, merecem ser esquecidas.
Não há nada a se pensar a partir delas. No fundo, elas não significam nada. Mas amorte do cinegrafista, ao
menos na narrativa que assola o país há uma semana, não foi um acidente infeliz e estúpido, que merece
certamente ser punido de forma clara por sua irresponsabilidade.
Não, ela é a prova maior de que o Brasil caminha para o caos e que a melhor coisa a fazer é parar com o
angelismo diante de “vândalos“.
Bem, é sintomático que a única resposta efetiva às demandas vindas dasmanifestações de junho seja uma lei
que visa transformar o uso de máscaras em crime contra a segurança nacional.
Como nada foi feito a respeito das exigências de melhores serviços sociais, contra os gastos absurdos para a
realização da Copa do Mundo, por democracia efetiva, melhor pedir para senadores do porte moral de Renan
Calheiros (PMDB-AL) que aprovem uma lei antiterrorista.
Da minha parte, os únicos terroristas que consigo enxergar estão exatamente noCongresso Nacional.
Se querem uma nova lei, uma simples proibição –de uma vez por todas– da venda de rojões resolveria muita
coisa. A melhor maneira de lutar contra a violência é com a escuta. A surdez dos governos em relação às
exigências de ação, visando criar as condições para uma qualidade de vida minimamente suportável nas
grandes cidades, é a verdadeira causa da violência nas manifestações.
Escutar significa, por exemplo, não prometer uma Assembleia Constituinte, de-pois uma reforma política e
acabar por apresentar apenas o vazio.
Significa não baixar o valor das passagens de ônibus para, meses depois, quando tudo parece mais calmo,
voltar com o mesmo aumento.
Significa parar de usar a morte infeliz de alguém para tentar criminalizar a revolta da sociedade brasileira.
VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.

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Assim não dá falsa causa morte de cleonice oliveira de morais

  • 1. Assim não dá, Vladimir! REINALDO AZEVEDO Malho em ferro frio ao cobrar que esquerdistas façam um debate ao menos factualmente honesto Vladimir Safatle, possível candidato do PSOL ao governo de São Paulo, surpreendeu os leitores deste jornal ao acusar, em sua coluna de terça, a polícia de ser responsável pela morte de quatro manifestantes: Cleonice Vieira de Moraes, Douglas Henrique de Oliveira, Luiz Felipe Aniceto de Almeida e Valdinete Rodrigues Pereira. Seriam, asseverou, apenas algumas das vítimas das PMs. A palavra delicada para definir a afirmação é “mentira”. As polícias, felizmente, não mataram ninguém nos tais protestos. Cleonice, uma gari, morreu em Belém de infarto. Varria rua quando houve um confronto entre manifestantes e a PM. Inalou alguma quantidade de gás lacrimogêneo e teve infarto depois disso, mas não por causa disso. O filósofo deve conhecer a falácia lógica já apontada pelos escolásticos: “post hoc ergo propter hoc” -”depois disso, logo por causa disso”. Nem tudo o que vem antes é causa do que vem depois. É como no filme “Os Pássaros”, de Hitchcock. Tudo se dá depois da chegada da loura, mas a loura é inocente, Vladimir! A notícia sobre a morte está aqui (is.gd/6QWqQM). Douglas e Luiz Felipe morreram ao cair do viaduto José Alencar, em Belo Horizonte. Não há evidências de que estivessem sendo encurralados pela polícia. Ainda que sim, seria preciso examinar as circunstâncias. As notícias sobre suas respectivas mortes estão nestes endereços: is.gd/NxVkIo e is.gd/lVau1v. A mentira sobre Valdinete é mais escandalosa (is.gd/i4A1Yf). Foi atropelada por um motorista que havia furado um bloqueio no km 30 da BR-251, em Cristalina, em Goiás. No mesmo episódio, morreu outra mulher, Maria Aparecida. Elas decidiram botar fogo em pneus para cobrar melhorias no distrito de Campos Lindos - nada a ver com osprotestos dos coxinhas vermelhos. O motorista de um Fiat Uno não parou, atingiu as duas e sumiu. Elas não fugiam da violência policial. Vladimir resolve moralizar o debate e escreve: “não consta que suas mortes tiveram força para gerar indignação naqueles que, hoje, gritam por uma bisonha ‘lei de antiterrorismo‘ no Brasil. Para tais arautos da indignação seletiva, tais mortes foram ‘acidentais’ (…). Mas a morte do cinegrafista, ao menos na narrativa que assola o país há uma semana, não foi um acidente infeliz e estúpido (…).” “Não consta que tiveram” é um coquetel molotov na língua pátria. Isso é com ele. Amorte de Andrade não foi um acidente. O destino do artefato eram os policiais.Vladimir parece achar que a farda cassa dos PMs a sua condição de humanos. Indignação seletiva é a dele. Segundo acusa, estão usando a “morte infeliz de alguém” para “criminalizar a revolta da sociedade brasileira”. O PSOL e os “black blocs” não são “a sociedade brasileira”. De resto, na ordem democrática, é uma tolice afirmar que a “revolta” está sendo criminalizada. Se ela incidir em práticas puníveis pelo Código Penal, os crimes se definem pelos atos, não pelas vontades. Sim, eu sei: malho em ferro frio ao cobrar que esquerdistas façam um debate ao menos factualmente honesto. Eu nunca me esqueço de um emblema desse modo que eles têm de argumentar. Até havia pouco, em defesa da legalização do aborto no Brasil, sustentavam que 200 mil mulheres morriam a cada ano vítimas de tal procedimento. Em fevereiro de 2012, a ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci, levou tais números mentirosos à ONU (is.gd/qHYt5S). Um dia me enchi e peguei os dados do Ministério da Saúde sobre mortes de mulheres e suas causas e fiz as contas. Os abortistas haviam multiplicado por 200 o numero de óbitos em decorrência do aborto (is.gd/6Iu4EJ). A mentira é mais útil às causas das esquerdas do que a verdade. Não fosse assim, homicidas como Lênin, Stálin, Trótski ou Mao Tse-tung não seriam cultuados ainda hoje. Isso tudo é um pouco constrangedor, mas, como escreve Janio de Freitas, continuarei tentando. Fonte: Folha de S.Paulo Os vivos e os mortos VLADIMIR SAFATLE
  • 2. Cleonice Viera de Moraes, Douglas Henrique de Oliveira, Valdinete Rodrigues Pereira, Luiz Felipe Aniceto de Almeida. Esses são apenas alguns nomes de pessoas que morreram devido à atuação da polícia após o início das manifestações, em junho. São pessoas que morreram devido a bombas de gás lacrimogêneo, que foram atropeladas ao fugir da violência policial, que caíram de viadutos quando pressionados pela Polícia Militar, entre outros casos. Poucas pessoas ouviram esses nomes, poucos se lembram deles e não consta que suas mortes tiveram força para gerar indignação naqueles que, hoje, gritam por uma bisonha “lei de antiterrorismo” no Brasil. Para tais arautos da indignação seletiva, tais mortes foram “acidentais”, por isso, merecem ser esquecidas. Não há nada a se pensar a partir delas. No fundo, elas não significam nada. Mas amorte do cinegrafista, ao menos na narrativa que assola o país há uma semana, não foi um acidente infeliz e estúpido, que merece certamente ser punido de forma clara por sua irresponsabilidade. Não, ela é a prova maior de que o Brasil caminha para o caos e que a melhor coisa a fazer é parar com o angelismo diante de “vândalos“. Bem, é sintomático que a única resposta efetiva às demandas vindas dasmanifestações de junho seja uma lei que visa transformar o uso de máscaras em crime contra a segurança nacional. Como nada foi feito a respeito das exigências de melhores serviços sociais, contra os gastos absurdos para a realização da Copa do Mundo, por democracia efetiva, melhor pedir para senadores do porte moral de Renan Calheiros (PMDB-AL) que aprovem uma lei antiterrorista. Da minha parte, os únicos terroristas que consigo enxergar estão exatamente noCongresso Nacional. Se querem uma nova lei, uma simples proibição –de uma vez por todas– da venda de rojões resolveria muita coisa. A melhor maneira de lutar contra a violência é com a escuta. A surdez dos governos em relação às exigências de ação, visando criar as condições para uma qualidade de vida minimamente suportável nas grandes cidades, é a verdadeira causa da violência nas manifestações. Escutar significa, por exemplo, não prometer uma Assembleia Constituinte, de-pois uma reforma política e acabar por apresentar apenas o vazio. Significa não baixar o valor das passagens de ônibus para, meses depois, quando tudo parece mais calmo, voltar com o mesmo aumento. Significa parar de usar a morte infeliz de alguém para tentar criminalizar a revolta da sociedade brasileira. VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.