Monografia Blog educacionaL -Ambiente de interação e escrita colaborativa
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO
GESTÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
BLOGS EDUCACIONAIS: AMBIENTE DE
INTERAÇÃO E ESCRITA COLABORATIVA
Maria de Fátima Franco
JUIZ DE FORA
Julho, 2005
2. 2
Blogs Educacionais: ambiente de interação e
escrita colaborativa
MARIA DE FÁTIMA FRANCO
Trabalho de monografia apresentado ao
Curso de Especialização em
Gestão da Educação a Distância da
Universidade Federal de Juiz de Fora.
Orientadora: Profª Drª Neide Santos
JUIZ DE FORA
JULHO, 2005
3. 3
Blog Educacional: ambiente de interação e escrita colaborativa
Maria de Fátima Franco
MONOGRAFIA APRESENTADA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO
DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU
DE ESPECIALISTA EM GESTÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA.
Aprovada por:
_____________________________________________
__
Presidente- Profª Drª Neide Santos
______________________________________________
Nome, título
_________________________________
__
Nome, título
JUIZ DE FORA, MG – BRASIL
JULHO, 2005
4. 4
Agradecimentos
Agradecimentos especiais:
Às professoras: Marli, da Escola Padre Colbachini, no Rio Grande do Sul e
Wendy, da Escola 21 de abril, em Lins, Estado de São Paulo, por autorizarem o uso das
interações escritas por seus alunos, para a realização desta pesquisa.
Aos alunos das escolas, acima citadas, pelo empenho em participar no weblog.
À professora Neide Santos, por aceitar a orientação desta monografia.
5. 5
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar as formas de interação lingüísticas-cognitivas
utilizadas por alunos do ensino fundamental, num blog educacional, que tem como
finalidade a construção de textos narrativos, de forma colaborativa. Para isto,
apresentam-se inicialmente, o conceito de interação, um breve histórico da evolução dos
weblogs, suas características e as possibilidades de uso na educação. Em seguida, com
base na teoria da Atividade Verbal é apresentada a metodologia da pesquisa. Os
resultados demonstraram que os participantes não se limitaram a repetir ou parafrasear o
texto lido, mas utilizaram estratégias cognitivas que contribuíram para a construção
coletiva do texto, demonstrando que um weblog é uma ferramenta adequada ao
processo de interação mediada por computador e à construção de textos colaborativos.
6. 6
SUMÁRIO
RESUMO...................... 5
Lista de gráficos .......... 7
INTRODUÇÃO................. 8
I A INTERAÇÃO EM AMBIENTES COMPUTACIONAIS 10
1.1 Os blogs: uma nova forma de interação na Web......................................... 10
1.2 Características de interação nos weblogs .................................................... 11
1.3 Possibilidades e vantagens do uso do blog na educação.............................. 13
1.4 O processo de interação na teoria vygotskyana........................................... 14
II METODOLOGIA DA PESQUISA............................................................... 16
2.1 2.1. A metodologia de análise......................................................................... 18
III OS RESULTADOS ........................................................................................ 20
CONCLUSÕES.............................................................................................. 22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................ 25
ANEXO 1 ........................................................................................................ 26
Lista de Gráficos
Gráfico 1- Formas de interação Lingüísticas-Cognitiva.................................................. 20
7. 7
INTRODUÇÃO
A experiência como professora e pedagoga no ensino fundamental, propiciou-
nos a constatação da ausência de critérios que possibilitem diagnosticar de forma
adequada, o processamento da interação e da produção de textos colaborativos em
ambientes computacionais, o que conduziu a realização deste trabalho.
Um das formas de interação mediada por computador, que tem sido observado
entre crianças e adolescentes é o uso da ferramenta weblog, que tem proliferado pela
rede em forma de diários pessoais e, ultimamente, vem sendo utilizada por educadores,
8. 8
como forma de repassar conteúdos, discutir diferentes temas, apresentar trabalhos dos
alunos, entre outras situações escolares.
Diferentes pesquisas têm demonstrado que o uso de weblogs, denominados de
forma abreviada como blogs, em situações de ensino-aprendizagem, além de
promoverem o letramento digital (MARCUSCHI, 2004,) promovem situações reais de
leitura e escrita (BULL, 2003). Outros autores ainda, apresentam diferentes situações
para o uso pedagógico dos blogs, como em DAVIS (2004), que apresenta a professores
sugestões de atividades para o uso deste tipo de ferramenta, como recurso para
aprendizagem.
Não se encontrou na literatura específica, no entanto, referências que
demonstrassem as estratégias lingüísticas-cognitivas utilizadas por alunos, na escrita de
comentários em blogs. Não foram encontrados ainda, estudos que demonstrassem o uso
da escrita coletiva em blogs, e que tipos de estratégias são utilizadas na construção
deste tipo de texto.
Este trabalho, portanto, pretende investigar, as estratégias lingüísticas-cognitivas
utilizadas como mecanismos de interação e de construção de escrita coletiva, num blog
educacional, que tem por objetivo a construção de textos narrativos.Por estratégias
lingüísticas-cognitivas compreende-se as atividades de uso da linguagem, que
permitem ao locutor garantir a compreensão em um processo de interação (KOCH,
2004).
Hipotetiza-se que os weblogs, utilizados de forma adequada pelo professor,
propiciariam a oportunidade de uso de uma ferramenta de interação na escrita
colaborativa e de uso de diferentes estratégias cognitivas na construção de textos
colaborativos, através dos comentários.
Como forma de validar ou não estas hipóteses, este trabalho apresenta, no
capítulo 1, algumas concepções sobre interatividade em ambientes computacionais, a
descrição dos weblogs e seu funcionamento, as características de interação próprias
deste tipo de ferramenta, além das possibilidades e vantagens do uso dos blogs na
educação. Neste capítulo ainda, é apresentada a concepção de interação Vygostskyana,
origem da Teoria da Atividade Verbal, na qual este trabalho se baseia.
O capítulo 2 apresenta a metodologia da pesquisa, onde são demonstradas as
características do blog objeto desta pesquisa, a caracterização dos sujeitos participantes,
9. 9
alunos do ensino fundamental e a metodologia de análise das estratégias lingüísticas-
cognitivas produzidas pelos sujeitos, nos comentários do weblog.
No capítulo 3, são apresentados os resultados de forma quantitativa e qualitativa,
demonstrando as estratégias cognitivas utilizadas pelos sujeitos, na construção
colaborativa do texto narrativo.
O capítulo 4 apresenta a discussão dos resultados, com base nos dados
apresentados no capítulo anterior, e nas teorias apresentadas no capítulo 1.
Por fim, são apresentadas as conclusões do trabalho, as contribuições teóricas e
práticas-metodológicas e a indicação de pesquisas futuras que possam aprofundar o
estudo apresentado nesta pesquisa.
CAPÍTULO I
A INTERAÇÃO EM AMBIENTES COMPUTACIONAIS
A interatividade não é meramente um produto da tecnicidade informática. Este
adjetivo tem sua raiz anterior à década de 70 e na virada do século XX para o XXI se
10. 10
apresenta como tendência geral, como novo ambiente comunicacional em nosso tempo,
como novo paradigma que pode substituir o paradigma da transmissão próprio da mídia
de massa (GROTTO, 2005). Atualmente tem-se utilizado o termo “interativo” para
qualificar qualquer coisa (computador e derivados, brinquedos eletrônicos,
eletrodomésticos, sistema bancário on-line, shows, teatro, estratégias de propaganda e
marketing, programas de rádio e TV, etc.), cujo funcionamento, segundo Grotto,
permite ao usuário-consumidor-espectador-receptor algum nível de participação, de
troca de ações e de controle sobre acontecimentos.
Diferentes estudos têm se preocupado em demonstrar as possibilidades de
interação em ambientes educacionais on line, estabelecendo relações entre o ambiente e
o usuário, o papel do professor, o papel do aluno e os fatores psicopedagógicos.
Neste trabalho o estudo da interação tem como base as ferramentas de interação
disponíveis em um weblog e as estratégias de interação pela linguagem, preconizada
pela teoria Vygotskyana.
1.1. Os blogs: uma nova forma de interação na Web
Historicamente, o primeiro weblog foi o primeiro website, construído por Tim
Bernes Lee e tinha como objetivo apresentar os novos sites à medida que eles eram
disponibilizados on line (WINER, 2002).
Os weblogs, blogs, surgidos ao final dos anos 90, difundiram-se rapidamente,
pela facilidade de produção, que não exige grandes conhecimentos de linguagem html.
Diferentemente da página pessoal, o blog pode ser atualizado diariamente, de forma
datada e apresentar registros de situações diárias de quem o escreve. Por esta razão, os
blogs ainda são classificados como diários pessoais em formato eletrônico, por
apresentarem características como: relatos sobre a pessoa que escreve, “sua família,
seus gostos, atividades e sentimentos, crenças e tudo que for conversável”
(MARCUSCHI, 2004).
Hoje, há uma diversidade de temas discutidos em blogs. Do objetivo inicial,
apresentar links para sites emergentes, até os denominados diários pessoais, os blogs se
diferenciaram e se tornaram instrumentos de divulgação de diferentes temas e assuntos,
principalmente jornalísticos. Há, ainda, sites e blogs especializados em divulgar
11. 11
weblogs por assuntos, onde o internauta pode pesquisar e ler aquele que mais convém
aos seus interesses, como no blog Blogopédia (2004), ou no site BlogList (2004),
exclusivo para blogs brasileiros, que oferece a busca por categorias como : pessoais e
estilo de vida, natureza e meio ambiente, cinema e televisão,história em quadrinhos,
esportes, política e sociedade e educação e cultura. Nesta última categoria foi
encontrado o registro de 400 blogs cadastrados. Considerando que os cadastros de
novos blogs no BlogList foram suspensos em julho de 2004, conforme informações do
site, pode-se supor que o total de blog relacionados à educação estejam bastante
ampliados.
Isto se deve, principalmente, ao fato de que as escolas, no dizer de
MARCUSCHI (2004) não podem passar à margem das inovações tecnológicas, “sob
pena de não estar situada na nova realidade dos usos lingüísticos”, o que se reflete no
letramento digital, papel também atribuído à escola atual. Como já se tem um consenso,
em que a área em que mais se verifica a presença e a força da computação no contexto
lingüístico, é a escrita (MARCUSCHI, 2004), há em conseqüência, a necessidade de um
novo tipo de letramento.
1.2. Características de interação nos weblogs
Por ser uma ferramenta interativa, os blogs apresentam características técnicas
que podem ser consideradas pedagógicas, embora não tenham sido criadas com este
objetivo, que permitem alcançar o letramento digital.
Como característica técnica, os blogs apresentam a possibilidade de publicação
instantânea, em entradas cronologicamente inversas, permitindo a divulgação de textos,
imagens, músicas, a capacidade de arquivamento de mensagens anteriores, disponível
ao leitor, além de hiperlinks, que tanto podem, complementar o assunto em debate,
quanto relacionar um blog a outros blogs.
Nos programas específicos para criação dos weblogs, há ainda, ferramentas que,
apesar de fazerem parte da estrutura técnica, podem ser consideradas pedagógicas, se
devidamente utilizadas num blog que se proponha a trabalhar com aspectos
educacionais, que são as ferramentas de interação com o público: como o espaço dos
comentários, o livro de visitas e os murais virtuais. Estas ferramentas podem
12. 12
proporcionar situações de debates escritos, discussão de idéias, complementação de
temas e pesquisas sobre diferentes assuntos educacionais, a partir dos textos lidos na
parte referentes aos posts, ou até mesmo nos comentários. Além disto, o visitante do
blog ao deixar um comentário, tem seu e-mail ou seu site identificado, o que permite ao
autor do weblog, comunicar-se com quem escreveu, propiciando assim, mais uma forma
de interação.
Em relação à linguagem,assim como nos chats e e-mails, nos blogs uma das
estratégias de produção escrita é o uso de textos mais curtos. Observa-se, ainda, na
linguagem utilizada pelos blogueiros, a reprodução de situações do uso da língua como
numa conversa informal, e no dizer de HALLIDAY (1996), uma escrita mais amigável.
Pode-se observar, por exemplo, que mesmo sendo amigos virtuais, os blogueiros, como
nos exemplos abaixo, se utilizam de convenções próprias de uma conversa face a face,
principalmente nos comentários, como se pode comprovar em um blog educacional e
em um blog pessoal, como nos exemplos, a seguir.
Em um blog educacional, que apresentava no post, um texto sobre a importância
da leitura e da escrita, foi encontrado o seguinte texto: ” oiii adorei a crônica da Martha,ela
como sempre manda muito bem nos textos(...)Blog opinião, 2005”
O mesmo tipo de escrita relacionada à fala foi encontrado em blogs pessoais:
“Pô, amigo ! Mas tu tá parado mesmo , hem? Cadê aquele ânimo inicial? Vamos lá. Acelera!
Blog do Mateus, 2005”
Por estes motivos, os blogs segundo Bull ( 2003), criam um marco de interações
sociais e ativa o desejo das pessoas se comunicarem.
1.3. Possibilidades e vantagens do uso do blog na educação
Diferentes pesquisadores têm se preocupado em analisar e descrever as
possibilidades de uso dos weblogs na educação. Em DAVIS (2004) pode-se encontrar
uma relação de atividades a serem desenvolvidas por professores utilizando os blogs.
Segundo a autora, os professores podem propor a criação de um blog para discutir livros
lidos, expor suas idéias sobre determinados assuntos, escrever e discutir sobre notícias
diárias e criar projetos em grupo, entre tantas outras. Para BARROS, (2005) os blogs
representam uma excelente oportunidade para educadores promoverem a alfabetização
13. 13
através de narrativas e diálogos. As características dos blogs, como o espaço
personalizado que fornece, e os links dentro de uma comunidade on-line, criam um
excelente contexto de comunicação mediada por computador para expressão individual
e interações colaborativas no formato de narrativas e diálogos.
Apontando a necessidade de que alunos utilizem espaços reais de uso da
linguagem escrita, BULL (2003), argumenta que os blogs ao apresentarem espaços
limitados, obrigam os estudantes a condensarem seus textos e demonstrarem como
pensam enquanto trabalham como leitores ou escritores. Os autores apresentam ainda,
algumas características instrutivas de um blog: a economia, pois nos blogs se exige
precisão e comunicação de idéias, de forma específica; os comentários estimulam o
compartilhamento e a revisão por parte dos leitores e dos escritores, que dão início a um
processo de comunicação interativa; o imediatismo, pois tão logo se publica algo em um
blog, ele aparece na rede, o que inicia o sistema de comentários e respostas e ainda, a
participação ativa, já que o blog proporciona a oportunidade de discutir temas de sala de
aula, complementando-os, pensando sobre o assunto, e respondendo, o que induz uma
maior participação de todos os estudantes.
Os autores concluem ainda, que os espaços de escrita eletrônica podem ampliar a
motivação e ensinar habilidades do mundo real, como a narração de histórias, que eles
denominam como narrablogs, o que oferece aos estudantes a possibilidade de verificar
como trabalham os escritores, mas também é uma forma menos exigente para que os
alunos se empenhem na criação de textos.
Como a interação é a base do processo educacional, buscou-se em VYGOTSKY
(1988) a base teórica adequada, que propiciasse a verificação do processo de interação
em um blog educacional.
1.4. O processo de interação na teoria vygotskyana
O conceito de interação, fundamental no estudo da comunicação mediada por
computador, pode ser explicado através da teoria sócio-interacionista preconizada por
VYGOTSKY (1988).
Para o autor, os processos psicológicos superiores, tais como a representação
simbólica, são processos de natureza dialógica, cuja construção se dá através do jogo de
relações semióticas propiciado pelos agentes da cultura e pelos produtos culturais, em
14. 14
particular, a linguagem. Além disto, Vygotsky destaca a interação como função
mediadora no desenvolvimento cognitivo. Interação esta, que se realiza tanto com
adultos, portadores de referências e significados da cultura, quanto com indivíduos em
níveis de desenvolvimento diferenciado. Em conseqüência, a aprendizagem é um
processo social, que se realiza desde o nascimento, e que ocorre na interação com outras
pessoas. A partir da interação social, o sujeito desenvolve a sua relação com o mundo,
mediada pela linguagem, que lhe permitirá ter acesso aos bens culturais da sociedade
em que está inserido.
Esta concepção de interação deu origem à Teoria da Atividade Verbal (KOCH,
2004), desenvolvida a partir das idéias de Leontiev e Luria, seguindo idéias de
Vygotsky. Segundo a teoria, a linguagem é uma atividade social, realizada com vistas a
atingir determinados objetivos. Desta forma, toda atividade lingüística seria composta
por um enunciado, produzido com dada intenção ou finalidade, em condições
necessárias para alcançar o objetivo visado e as conseqüências decorrentes da realização
do objetivo. Em conseqüência, o locutor/leitor/produtor do texto deve realizar
atividades lingüísticas-cognitivas para garantir a compreensão como repetir, parafrasear,
completar, resumir, exemplificar, corrigir ou enfatizar ou para estimular, facilitar ou
causar a aceitação, fundamentando, justificando, preparando o terreno, etc., como
afirma Koch (2004).
Esta teoria, no entanto, tem recebido algumas críticas, por considerar apenas as
atividades do locutor, sem considerar o papel do interlocutor, já que o processamento
textual por parte do interlocutor também é uma atividade, pois o leitor/receptor não é
passivo e lhe cabe atuar sobre o material lingüístico de que dispõe (KOCH,2004). No
entanto, decidiu-se por adotar esta teoria neste trabalho, pois o objetivo proposto é a
análise das atividades lingüísticas-cognitivas realizadas pelos sujeitos, já que não serão
analisadas as interações entre o autor do blog e os participantes da pesquisa. Portanto, a
relação estabelecida entre o interlocutor e o locutor, embora tenham acontecido durante
o processo, não fazem parte deste trabalho.
A partir desta fundamentação teórica, pode-se afirmar que a teoria da Atividade
Verbal possibilita o embasamento de atividades escolares que privilegiem o
desenvolvimento da linguagem contribuindo para o processo de desenvolvimento
lingüístico e cognitivo. E, por considerar-se a escrita e a leitura como formas de
15. 15
desenvolvimento da linguagem, nas diferentes instâncias do processo educacional, o uso
de blogs na educação, mediada por professores, adultos mais experientes, podem
contribuir para o acesso aos bens culturais preconizados por Vygotsky.
Como forma de verificar as estratégias lingüísticas-cognitivas utilizadas por
alunos num blog educacional, elaborou-se a presente pesquisa, cuja metodologia é
explicitada no capítulo 2.
CAPÍTULO II
METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta pesquisa baseou-se na análise das estratégias lingüísticas-cognitivas,
produzidas por alunos, como forma de interação com a autora, em um blog educacional,
o Historinhas, que tem como objetivo a produção de textos narrativos, de forma
colaborativa.
O blog Historinhas1, como os demais disponíveis em rede, apresenta três partes:
o perfil, onde são apresentados os objetivos do blog, as informações sobre a autora,
links para outros blogs, campanhas, um mini-mural de recados, além do link para o livro
1
http://fatimafrancohistorinhas.weblogger.terra.com.br
16. 16
de visitas, e, ultimamente, links para o álbum de fotos dos leitores; na segunda parte,
são apresentados os posts, que se diferenciam dos demais blogs, já que neste espaço são
apresentados capítulos de histórias; a terceira parte é o espaço reservado ao leitor, logo
abaixo dos posts/capítulos, onde eles apresentam sugestões para o desenvolvimento da
trama, e, principalmente, sugerem situações nas quais o personagem deve se envolver,
no capítulo seguinte. O número de capítulos pode variar de uma história para outra,
dependendo das situações em que os personagens são envolvidos pelos leitores, nas
sugestões enviadas pelos comentários. Em conseqüência, o blog, em questão, não segue
uma ordem diária de postagem, já que para o desenvolvimento da história é necessária a
contribuição do leitor.
O blog foi construído em novembro de 2004 e até o momento, já foram
desenvolvidos quatro textos narrativos, que privilegiam a fantasia, com toques de
realidade, sempre com a participação dos leitores. A melhor forma de definir este tipo
de blog partiu do comentário de uma visitante: “Que delícia, historinhas com pitadas de
fantasia, realidade e ainda podemos sugerir o final. Adorei!!
G .... enviado em 31/5/2005 12:16:00.”
Este comentário demonstra o diferencial presente na produção do blog analisado.
Nos blogs pessoais e na maioria dos blogs educacionais, o autor apresenta um post, os
visitantes comentam e o autor pode interagir por e-mail com este visitante. Mas, o texto
apresentado logo a seguir, num novo post, não considera os comentários enviados e um
novo tema é apresentado. O blog, portanto é desenvolvido de forma linear, já que não
há referências aos comentários feitos nos posts seguintes, e não há a certeza por parte do
leitor de que seus comentários foram lidos, se o autor não se comunicar com ele, por e-
mail.
No entanto, no blog analisado nesta pesquisa, o post seguinte só é apresentado
após a participação dos leitores. Isto, porque, como o objetivo do blog é a construção de
textos colaborativos, os posts só podem ser criados a partir das sugestões enviadas.
Exemplificando: quando um aluno questiona “por que a fada está procurando emprego,
ao invés de fazer uma mágica?”, no post seguinte a fala da personagem esclarece que
para fazer mágica é preciso que as pessoas acreditem em fadas. No clímax da história, a
autora sempre apresenta uma pergunta: “O que você acha que vai acontecer?” O final da
história, portanto, depende dos comentários dos leitores, que são compilados para a
17. 17
criação de um novo post, de tal forma que o texto final seja produzido. Um exemplo
retirado dos comentários demonstra a participação do leitor, sugerindo como a história
deveria terminar: “Acho que devia ser assim: a Angelina alcançava o carro e perguntava
para o homem se é verdade que ele acredita em fadas e duendes e falasse para ele que
ela era uma fada e que tava difícil das pessoas acreditarem nas fadas (...)e ele
contratasse a fadinha para trabalhar com ele(...)J.e J.enviado em 3/06/2005 11:25:00.”
Um outro exemplo de comentário demonstra a certeza do leitor de que seu texto faz
parte da história coletiva: ‘Amamos o capítulo 8, ficou do jeito que nós esperávamos
que fosse.Nós achamos que a mulher fosse uma fada. N e A.-enviado em 17/6/2005
-7:40:00”
Provavelmente, por ter a certeza de que seu comentário será utilizado na
construção do texto, os leitores acompanharam todos os capítulos, o que explica o
índice de acessos. Até meados do mês de julho, 2005, já havia sido registrado, pelo
contador de visitas do provedor do blog, um total de 2200 acessos, inclusive de outros
países, o que pode ser considerado um bom índice estatístico, devido às características
pedagógicas do weblog. Inicialmente previsto para o trabalho com alunos do ensino
fundamental, o blog passou a contar também com participação de adultos, que
apresentam sugestões para as histórias, escrevem recados no mini-mural, no livro de
visitas e até mesmo, nos comentários.
Para a apresentação deste trabalho decidiu-se apresentar apenas a análise das
interações dos alunos, numa determinada história, A Fada Desempregada, (anexo 1) já
que a análise de todo o material disponibilizado no blog, tornaria muito extenso o
trabalho. Os alunos participantes, de ensino fundamental, são de duas escolas: uma
localizada em Nova Bassano, uma turma de 3ª série, no Rio Grande do Sul e a outra,
uma turma de 6ª série, localizada em Lins, no Estado de São Paulo.
Foram coletados 236 comentários para a história escolhida. Deste total, 167 são
comentários de alunos. Portanto, serão apresentadas apenas as interações dos alunos,
objetivo deste trabalho, demonstrando as estratégias lingüísticas-cognitivas, de acordo
com a teoria da atividade verbal, anteriormente apresentada.
2.1. A metodologia de análise
18. 18
A história escolhida para esta pesquisa, A Fada Desempregada, desenvolveu-se
em 12 capítulos, nos meses de maio e junho/05 e, como já apresentado, houve um total
de 167 comentários de alunos, relativos aos capítulos da história .
Os critérios definidos para apresentação das interações, foram as estratégias
lingüísticas-cognitivas, encontradas nos comentários e que demonstraram: a
complementação, a correção, a enfatização, a exemplificação, a justificativa, a
paráfrase, a repetição e o resumo. Cada comentário foi analisado de acordo com o
capítulo da história ao qual ele se referia , como forma de verificar a contextualização
das respostas ao post/capítulo apresentado no blog, e possibilitar a classificação
adequada das estratégias cognitivas utilizadas. Ao final desta análise, os resultados
forma computados, em termos percentuais, de forma global,e não por capítulos do texto,
já que isto tornaria o trabalho muito extenso.Para apresentação dos resultados escolheu-
se a forma de gráfico, considerando-se as estratégias utilizadas para compreensão global
do texto.
As estratégias lingüísticas-cognitivas são explicitadas a seguir:
Por complementação compreende-se o processo pelo qual o sujeito sugere o
acréscimo de componentes ao texto básico apresentado no blog, como neste exemplo:
“A fada tentou recomeçar a sua vida com um novo emprego, porque as coisas andam
muito difíceis não dá para viver só de imaginação (...)L. e G. - enviado em 20/5/2005
12:05:00”.
Já na correção, os participantes questionam os eventos da história e tentam
encontrar uma forma de corrigi-los, como em: “ACHAMOS MUITO INTERESSANTE E UM
POUCO ESTRANHO QUE UMA FADA FIQUE SEM EMPREGO.
H. e J. - enviado em 20/5/2005 11:56:00”
Na enfatização, os alunos além de corroborarem os eventos do texto, ainda
enfatizam sua participação na história: “Nossa ... está ficando muito bom, temos certeza
que Angelina irá gostar do emprego, estamos esperando o final ansiosos. Beijos!
Y. e A. F. - enviado em 17/6/2005 07:49:00”
No processo de exemplificação, utilizam as situações lúdicas do texto para
demonstrar situações da vida real: “ Oi ... nós estamos gostando muito da história.
Que coisa hein, até para as fadas as coisas estão dando errado.
Um abraço, W. & A. - enviado em 20/5/2005 11:27:00”
19. 19
Na justificativa, no entanto, além de situar a história na vida real, os sujeitos
justificam as ações dos personagens. “As pessoas às vezes são ignorantes, pois não
respeitam os outros: “Eu acho que as crianças não atendiam porque os pais não
deixavam atender a porta. um abraço- CH. - enviado em 20/5/2005 08:48:00”
A paráfrase caracterizou-se pela concordância com os eventos apresentados na
história, mas para isto os sujeitos recontam o texto apresentado no capítulo/post de uma
forma um pouco diferenciada: “Oi ... O nono capítulo está maravilhoso, que bom, a
fadinha Angelina conseguiu arrumar um emprego para ela, pois assim ela vai ficar perto
de quem acredita em fadas.Beijos e abraços.A. e P. - enviado em 17/6/2005 07:43:00”
Na repetição, o que se pode observar, é que os sujeitos simplesmente repetem as
informações apresentadas no texto:”Oi ... gostamos do capitulo 8 porque as crianças
sem família precisam de cuidados e a Angelina é a pessoa ideal pra cuidar delas.
Um abraço.J. C. e J.M. - enviado em 17/6/2005 08:28:00”
E por fim, no resumo, pode-se perceber que os sujeitos foram capazes de
sintetizar o capítulo lido, além de relacioná-lo com todos os eventos da história.:
“Adoramos como tudo acabou, a Angelina com emprego que ela gosta e trazendo
felicidade para todos. Que bom que no final conseguimos encontrar pessoas boas.
Beijos!!! L. & G. - enviado em 24/6/2005 08:31:00”
Os resultados são apresentados no capítulo 3, a seguir.
CAPÍTULO III
OS RESULTADOS
Os dados, como já apresentado, foram analisados a partir dos comentários dos
alunos, segundo os critérios definidos de acordo a teoria de Atividade Verbal adotada
neste trabalho, considerando-se as formas de interação lingüísticas-cognitivas utilizadas
pelos alunos, de forma quantitativa e qualitativa.
Os percentuais são apresentados no gráfico1.
20. 20
Gráfico 1- Formas de interação Lingüísticas-Cognitivas2
Fonte: Comentários no weblogger Historinhas
25
22,2
19,7 20,3
20 18,5
15
10 8,4
4,7
5 3,6
2,4
0
Com. Corre. 1Enfatiz Exemplif. Justificat.
Paráfrase Repetição Resumo
Os resultados demonstram que:
A complementação ao texto é a estratégia que apresenta maior valor, com
22,2%, seguido pelo resumo do texto, com 20,3%. Em seguida, aparecem os dados da
justificativa com 19,7% e os resultados relativos à enfatização com 18,5%. Os menores
valores são apresentados para a paráfrase com 8,4%, a repetição com 4,7% a
exemplificação com 3,6% e a correção, é a estratégia que apresenta o menor resultado,
com 2,4%.
Estes dados indicam que, no blog educacional analisado, ao apresentarem
maiores índices para a complementação, os sujeitos produziram estratégias que
complementavam ou sugeriram novas situações para os eventos apresentados no texto.
Um outro dado relevante é o que se refere ao resumo, já que ao escreverem comentários
que demonstravam resumo do capítulo lido, relacionando-o a todas as partes do texto,
os alunos demonstraram a compreensão do texto lido.
O terceiro percentual, a justificativa, demonstra que os alunos justificam as
ações dos personagens comparando-as com as situações próprias da vida real, o que
indica a relação entre a aprendizagem adquirida no texto e a transferência desta
aprendizagem para as situações diárias.
2
As abreviações referem-se a Com:Complementação;Corre; Correção; Enfatiz:Enfatização;
Justificat:Justificativa
21. 21
Já a enfatização que apresentou a quarta posição nos índices, (18,5%), indica que
os sujeitos ao lerem texto, corroboram os eventos apresentados e enfatizam a própria
participação na história. Isto parece demonstrar que a construção coletiva do texto,
através de um blog, foi para os participantes, uma atividade prazerosa.
Os menores valores apresentados, a paráfrase (8,4%), que consistia apenas em
recontar o texto lido de uma forma diferenciada, a repetição (4,7%) a exemplificação
que consistia em exemplificar as situações do texto com as da vida real (3,6%) e a
correção (2,4%) que consistia no questionamento aos eventos apresentados no texto,
indicam que os sujeitos privilegiaram as estratégias que dessem continuidade ao texto e
não que repetissem, corrigissem, exemplificassem ou simplesmente parafraseassem o
que haviam lido.
CONCLUSÕES
Este trabalho demonstrou que o uso de um weblog educacional pode ser uma
oportunidade de, além de vivenciar situações reais de leitura e escrita com o uso do
computador, com um interlocutor real, pode ser também uma oportunidade para
verificação do processo de compreensão textual, de análise das estratégias lingüísticas-
cognitivas utilizadas por alunos na construção de um texto, em diferentes séries. Além
disto, a oportunidade de vivenciar situações de escrita colaborativa, sugerindo situações
a serem vivenciadas pelos personagens, apresentando propostas, discutindo com o autor
dos posts, possibilita que o aluno não utilize apenas estratégias de repetição ou de
22. 22
parafraseamento, tão comuns nas atividades escolares, o que propiciará uma
aprendizagem real da língua escrita, contribuindo para o processo de letramento digital.
As hipóteses anteriormente levantadas de que o espaço de interação dos weblogs
proporcionariam a oportunidade de escrita colaborativa e de uso de diferentes
estratégias cognitivas na construção do texto, através dos comentários, foram totalmente
confirmadas, neste blog. Isto porque, o uso dos comentários para criação de novos
posts/capítulos, permitiu que o leitor participasse realmente da construção do texto.
Neste trabalho, no entanto, por analisar apenas duas turmas de alunos, de
contextos culturais e idades diferenciadas, não foi possível, estabelecer dados
comparativos que demonstrassem as estratégias utilizadas por alunos em diferentes
faixas etárias e nível diferenciado de escolaridade. Pesquisas futuras poderiam utilizar
estes subsídios, para estabelecer os diferentes usos das estratégias lingüísticas-
cognitivas, que considerassem estes fatores.
Contribuições
A partir dos dados desta pesquisa e das conclusões apresentadas, é possível indicar
algumas implicações deste trabalho, tanto teóricas quanto práticas-metodológicas.
Contribuições teóricas
Esta pesquisa demonstrou que o uso de um weblog, como ferramenta educacional é
viável em diferentes séries do ensino fundamental, e que a atividade de escrita nos
comentários pode ser uma forma do professor analisar as diferentes estratégias que seus
alunos utilizam. Isto possibilitaria ao docente, a oportunidade de criar situações nas quais
pudesse promover o desenvolvimento do letramento digital em seus alunos. Demonstrou
ainda, que, a escrita colaborativa entre alunos e o autor de um weblog, é um instrumento
apropriado para o desenvolvimento de estruturas narrativas. Para isto, no entanto, é
necessário que o blog não seja desenvolvido de uma forma linear. Isto é, o professor não
deve apenas apresentar um post para discussão/análise para que os alunos comentem, e em
seguida, um novo post seja apresentado. Para que o aluno perceba a importância de sua
participação é imprescindível que os comentários sejam compilados, os resultados das
discussões sejam apresentados em um post seguinte, demonstrando a participação efetiva
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dos sujeitos, tanto para a turma participante, quanto para os outros leitores que visitem o
blog. Desta forma, o professor poderá analisar as estratégias lingüísticas utilizadas, e
buscar soluções para os problemas de produção textual que possam surgir.
Contribuições práticas- metodológicas
Neste trabalho foram apresentadas as estratégias lingüísticas-cognitivas, utilizadas
na produção colaborativa de um texto narrativo, a partir dos comentários de alunos. Os
sujeitos envolvidos, de séries diferenciadas, demonstraram bom desempenho na produção
das referidas estratégias. Os resultados, úteis a professores de ensino fundamental,
evidenciam a necessidade de se repensar as práticas de escrita escolares que privilegiam o
parafraseamento de textos lidos, comuns em livros didáticos. Isto porque, ao participarem
de uma forma diferenciada de produção textual os alunos foram capazes de
complementarem, questionarem as idéias apresentadas no blog, enfatizarem o que leram,
realizarem resumos do texto lido de forma adequada, e principalmente, compararem os
conhecimentos lúdicos do texto, às situações da vida real.
Pesquisas futuras
Nesta pesquisa utilizou-se apenas o texto narrativo. Devido á abragência, e ao
objetivo específico do blog analisado, não foi possível analisar comentários que
envolvessem outros tipos de textos.
Pesquisas futuras, portanto, poderiam demonstrar os resultados obtidos na
construção coletiva de outros tipos de textos e que também considerassem a série, dos
alunos envolvidos, como forma de diagnosticar as diferentes estratégias utilizadas em
cada período escolar e m cada tipo de texto. Se pesquisas deste tipo forem realizadas, o
processo de construção das estratégias lingüísticas-cognitivas poderão ser melhor
explicitadas, proporcionando aos professores, recursos que possibilitem o
desenvolvimento do letramento digital.
24. 24
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http://fatimafrancohistorinhas.weblogger.terra.com.br. Acesso 22/07/05
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WINER,Dave The History of Weblogs. Disponível em: http://newhome.weblogs.com/
historyOfWeblogs. Acesso em 05/02/2004
ANEXO 1
TEXTO COLABORATIVO CONSTRUÍDO NO WEBLOG
A fada desempregada
Capítulo 1 - Angelina
Angelina era uma fada, muito charmosinha mas, atualmente, estava com um problemão. Ela estava
desempregada.
Pois é. Até para as fadas as coisas andam complicadas hoje em dia. É que ela trabalhava como fada
madrinha e ninguém mais anda acreditando nisto.
Além disto, muitos castelos, onde as fadas moravam se tornaram pontos turísticos. É um tal de guia de
turismo, visitantes, gente arrumando pra lá, arrumando pra cá, que ela não tinha mais sossego para
trabalhar em paz.
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O último castelo em que morou, de repente virou uma confusão. É que teve um casamento de um jogador
de futebol e foi uma barulheira danada.
Capítulo 2 - A mudança
Por causa da última confusão no castelo, Angelina resolveu se mudar para a cidade. Ia procurar emprego,
pois estava cansada de não fazer nada.
Resolveu bater de porta em porta, à procura de um trabalho. Depois de algum tempo fazendo isto, ela
começou a achar esquisito, pois ninguém tinha tempo para atender. E, resolveu espiar pelas janelas.Para
ela era fácil fazer isto. Era só assoprar um pozinho mágico e já estava voando nas janelas dos prédios.
Na primeira casa não tinha ninguém. Na segunda, também. Na terceira, e nas outras casas, ela começou a
achar a coisa mais estranha ainda. É que, nestas casas tinham crianças que não haviam atendido, quando
ela bateu à porta. Angelina resolveu então ficar espionando, para descobrir a causa.
Capítulo 3 -Surpresas
Angelina ficava cada dia mais surpreendida, pelas coisas que observava. As crianças eram muito
ocupadas. Quando não estavam jogando vídeo-game, iam para a aula de inglês, de natação, ou então,
tinham um monte de dever de casa para fazer. Havia até algumas crianças que trabalhavam!!! Era por isto
que elas não tinham tempo para receber as fadas
Capítulo 4 - Procurando emprego
Depois disto, ela desistiu de bater de porta em porta, e resolveu comprar um jornal para procurar
emprego.
Leu, com calma, um monte de classificados. Mas, não achou nenhum emprego de fada. Só tinha um de
recepcionista, numa escola para crianças.
Angelina, então, pensou:
- Acho que este é um bom caminho. Assim fico perto das crianças, vou conversando... e quem sabe não
consigo fazê-las acreditar que as fadas existem
Capítulo 5- Na agência de empregos
Angelina fez uma mágica, para trocar de roupa e foi para a entrevista.
Chegando lá, a atendente pediu que ela preenchesse uma ficha e, depois aguardasse um pouco,
para fazer uma entrevista com a gerente de recursos humanos.
A fadinha não sabia muito bem o que era isto, mas pegou a ficha e foi para uma mesa escrever.
Angelina preencheu assim:
FICHA DE CADASTRAMENTO
Nome : Angelina Krushnovisky
Idade : 1200 anos
Profissão : Fada
Último emprego: Ajudante da Bela Adormecida.
Motivo da demissão: O problema da Belinha foi resolvido.
Emprego pretendido: Qualquer um, onde as pessoas tenham imaginação.
Pretensão Salarial : Nenhuma
Assinatura: AK
Capítulo 6 – A entrevista
A fada entregou a ficha e ficou esperando chamar para a entrevista.
Depois de um tempão, uma moça, muito séria, convidou-a para entrar em uma sala, e foi logo dizendo:
- O seu nome, Angelina Krushnovsky, é de origem russa?
- Ah, não! É de origem de fada, mesmo! Era o nome que a Belinha brincava com a gente, respondeu
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Angelina.
- Quem é Belinha? perguntou a gerente.
- A Bela Adormecida, nunca ouviu falar?
- Hã, hã ! Já sim. Quer dizer que a senhora a conhece?
- Muito. Trabalhei no castelo dela muitos anos.
- AH!... E sua idade? Aqui no formulário diz: 1200 anos. Está correto? perguntou a gerente, admirada.
- Ah,não !! Diminuí um pouquinho... Senão podem pensar que sou velha prá trabalhar.
- Ah! Siiiim! Estou vendo aqui, que sua profissão é ... fada. Disse a moça, desconfiada.
- É, isto mesmo!
- Ah, sei... Bem, se a senhora é fada, porque não faz uma mágica para arrumar emprego?
- Sabe o que é? É que, para fazer mágica de fada, é preciso que as pessoas acreditem que eu existo.
- Aaaaah, sim! Pois então, senhora Angelina, vamos fazer o seguinte:Eu vou apresentar seu currículo em
alguns lugares e, qualquer coisa ... nos comunicamos com a senhora.
- Está bem, muito obrigada, falou Angelina, decepcionada.
Angelina saiu da sala e a moça falou para a atendente:
- Cada maluco que aparece por aqui!!!
Capítulo 7 - Desânimo
A fadinha estava muito desanimada agora. É que ela ouvira o que a gerente dissera. Perambulando, pela
cidade, ela pensava:
- Vê lá, se eu sou maluca! Se eu fosse bruxa, ela ia ver !!! Que culpa eu tenho, se as pessoas não têm mais
imaginação? Ninguém acredita que eu seja fada. Como vou arrumar emprego? Acho que o jeito é voltar
para aquele castelo e ficar sem fazer nada!
Angelina estava tão distraída, que nem viu um carro sair do estacionamento. Quase foi atropelada.
Mas, havia uma coisa diferente naquele carro: um adesivo enorme que dizia assim:
Eu acredito em Duendes e Fadas !!!
Angelina saiu voando atrás do carro!!!!
E agora ? O que você acha que vai acontecer ? Mande sua sugestão para terminar a história de
Angelina.
Capítulo 8 - Fazendo novos amigos
No capítulo anterior, Angelina tinha saído voando atrás de um carro, onde havia um adesivo,dizendo que
o dono acreditava em fadas e duendes.
Depois do primeiro impulso, Angelina respirou fundo e resolveu seguir o carro, para ver se descobria
alguma coisa sobre aquelas pessoas.
Ela teve que voar bastante . Por fim, pararam em frente a um castelo antigo, num lugar sossegado, e do
carro desceram um homem, uma mulher e algumas crianças.Para não ser vista, ela se escondeu atrás de
uma árvore, muito antiga, para poder observar bastante antes de se apresentar.
Quando eles entraram no castelo, Angelina disfarçadamente, chegou até a porta e leu uma placa que dizia
assim:
Orfanato Fada Cornélia
Angelina viu que estava no lugar certo. O orfanato tinha até nome de fada!!!
Ela então, resolveu bater à porta e se apresentar. Foi atendida pela mulher que estava no carro.
Angelina foi logo dizendo:
- Boa tarde ! Eu vi o seu carro e li o adesivo que dizia...
- Que nós acreditamos em fadas e duendes? disse a mulher.
- É sim, falou Angelina, e eu queria saber se é verdade.
- Claro que é ! Mas, por que você quer saber?
- É que eu sou fada e estou procurando emprego.
- Não diga ! Então vamos entrar, venha!
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Capítulo 9 – Conversando
- Como é seu nome? perguntou a mulher
- Angelina, disse a fada .
- Muito prazer, eu sou Gabriela. Aceita uma xícara de chá?
Angelina aceitou o chá e, enquanto bebia, foi contando sua história. Gabriela ficou muito chateada.
- Fizeram isto com você ? Que maldade!!! Mas, aqui você será muito bem vinda!
- Eu estou muito curiosa. Por que o orfanato tem nome de fada? E por que vocês acreditam nelas?
perguntou Angelina.
- É que este orfanato foi criado pela minha tia Cornélia, que cuidava de crianças abandonadas. Ela tinha
um monte de receitas de poções mágicas, que faziam as pessoas felizes. E daí, todo mundo dizia que ela
era uma fada de bondade! Como ela já está muito velhinha, eu e meu marido continuamos o trabalho. E
nós acreditamos em fadas, porque achamos que elas nos protegem. Elas e os duendes que moram nos
jardins deste castelo.
- Ah, entendi ! Mas, você tem mesmo emprego para mim?
- É claro que temos! Estamos precisando de alguém como você, para um trabalho especial. Venha
comigo, para conhecer as outras pessoas.
Capítulo 10 - Na biblioteca
Enquanto andavam pelo castelo,Gabriela foi explicando:
-Mantemos tudo isto aqui com a ajuda de pessoas ricas, que fazem doações, e com trabalho de
voluntários. Hoje mesmo, temos um grupo de crianças que veio nos visitar, porque acreditam em fadas e
queriam saber como nos ajudar. Elas estão na biblioteca.
Ao chegar à biblioteca Angelina ficou entusiasmada.Ela era enorme! Parecia coisa de cinema! Havia
crianças para todo lado:sentadas nas cadeiras, deitadas em almofadas no chão, escolhendo livros na
estante e tinha até uma rede, onde duas meninas estavam com muitos livros. E o melhor foi o que
Angelina reparou. Havia muitos livros com Histórias de Fadas.
Havia também quatro moças e um senhor, que usavam um casaco escrito assim: "Ministério da
Imaginação".
Capítulo 11 - As apresentações
Gabriela começou as apresentações:
- Este é meu marido e aquelas moças são a Wendy, a Marli, a Kel e a Isabel, responsáveis pelo Ministério
da Imaginação. O trabalho deles é fazer com que as pessoas não se esqueçam de que existem fadas e
duendes. Aquelas crianças sentadas são nossos amiguinhos que moram no castelo.
- E aquelas crianças olhando as estantes? Perguntou Angelina.
-São nossas visitas. São crianças de uma escola que fica em Lins,São Paulo, e outras que estudam em
Nova Bassano,Rio grande do Sul, lá do Brasil, que vieram nos conhecer e oferecer ajuda.
Gabriela bateu palmas, para que todo mundo prestasse um pouco de atenção, e disse:
- Pessoal, esta é Fada Angelina. Ela veio para trabalhar conosco, e vai ser a chefe do Ministério da
Imaginação. Agora, além de ler Histórias de Fadas, vocês poderão perguntar a ela, tudo o que quiserem
saber sobre o Mundo das Fadas.
Capítulo 12 - Finalmente... o emprego!!!
Todo mundo bateu palmas. Angelina não sabia o que dizer, de tão feliz que estava. A criançada
toda veio correndo para perto dela. Todos queriam perguntar mil coisas, ao mesmo tempo: de onde ela
veio, porque estava ali e até perguntaram se ela era de verdade.
Depois que todo mundo se acalmou, Angelina contou sua história. As crianças ficaram indignadas com o
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que tinha acontecido com ela.
Mas, já era hora de trabalhar. E a primeira coisa que Angelina fez foi contar a História da Belinha. Aquela
que as pessoas chamam de Bela Adormecida.
E, depois, para comemorar o novo emprego e os amigos que encontrara, Angelina fez uma mágica
surpreendente.
O jardim do castelo se transformou num imenso salão de festas, cheio de fadas e duendes, com muitas
flores, muitas gostosuras e brincadeiras.
Igualzinha àquela festa que ela havia feito, no casamento da Belinha.