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O Absentismo E Os Factores
- 1. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
www.dashofe r.pt
O absentismo e os factores
psicossociais no trabalho
1
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- 2. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
“Muito do stress que as pessoas sentem não vem
de terem coisas demais para fazer.
Ele vem de não ter minarem o que começaram.”
Dav id Allen
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- 3. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Índice
4 Introdução
5 Inquérito Europeu sobre Condições de Trabalho
19 O que se entende por stress
34 Ficha técnica
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- 4. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Introdução
O stress (e as suas consequên- trabalho, ou pe lo menos
cias para a saúde e segurança pe rcebidos como tal por
dos trabalhadores) é hoje um dos trabalhadores e ge stores.
principais riscos no local de
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- 5. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Inquérito Europeu sobre Condições
de Trabalho
Segundo o 3rd European Survey (http://www.e urofound.eu.int/),
on Working Conditions, le vado a a evolução das condições de
cabo pe la Fundação Europe ia trabalho entre 1995 (2.º inqué -
para a Me lhoria das Condições rito) e 2000 (3.º inqué rito)
de Vida e de Trabalho pode ria resumir-se no seguinte :
Aument o da ex posição a fact ores de risco físicos (ruído, vibrações, subst âncias
–
perigosas, calor, frio, et c.);
Post os de t rabalho inadequados (mov iment ação de cargas pesadas, post uras
–
de t rabalho penosas);
I ntensificação do rit mo de t rabalho (t rabalha-se menos horas mas mais
–
int ensament e);
Mudança da nat ureza do t rabalho, cada v ez mais dependent e das ex igências
–
do client e e das t ecnologias da informação e conheciment o;
Aument o do número dos que t rabalham com co mput adores (41% em 2000);
–
Flex ibilidade, precarização, nov as formas de t rabalho;
–
Segregação e discriminação, afect ando as mul heres;
–
Violência física e psicológica (int imidação, assédio).
–
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- 6. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
O 4.º Inqué rito Europeu sobre trabalho que incidiu sobre uma
Condições de Trabalho, realizado amostra das nossas duas mil
em 2005, vem confirmar estas maiores empresas (com 75 ou
tendê ncias. Em te rmos de saúde mais trabalhadores, do se ctor de
no trabalho, as pe rturbações se rviços; ou com 100 ou mais,
músculo-esque léticas e o stress dos se ctores primário e
são hoje as duas grandes que ixas se cundário):
dos trabalhadores europeus.
– No final da dé cada de 1990, o
Algumas destas tendências consumo de álcool, enquanto
também foram confirmadas por factor de risco associado aos
Graça (2004), num estudo sobre estilos de vida dos trabalha-
as políticas de saúde no local de dores, constituía o problema de
saúde que, de longe , mais
pre ocupava os gestores das
nossas empresas (54%);
– Em segundo lugar, na lista das
pre ocupações, vinha a
alime ntação de sequilibrada
(36%), seguida, de muito
pe rto, pe la dificuldade em lidar
com o stress (33%) e pe lo
consumo de tabaco (32%);
– Em quarto lugar, a falta de
exe rcício físico (29%), à frente
do consumo de droga (27%).
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- 7. O absentismo e os factores psicossociais
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Estilos de vida dos trabalhadores, motivo de preocupação para a empresa
(n=258) (%)
Nenhum 13
Consumo de droga 27
Ex ercício físico 29
Tabagismo 32
Lidar com o stress 33
Alimentação 36
Consumo álcool 54
0 20 40 60
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- 8. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
O sistema de gestão da O problema passa também pela
segurança e saúde do trabalho ausência, nas nossas empresas,
tem dificuldade em incorporar de uma cultura da saúde .
estas preocupaçõe s dos ge stores,
O ra, já é tempo de ve r a saúde /
umas mais antigas (como álcool),
doe nça como um continuum,
outras re centes, como a droga, o
tendo num dos ex tremos o níve l
stress e o tabagismo (activo e
óptimo de bem-e star (wellness,
passivo).
como dizem os norte -
-americanos) e , no ex tremo
oposto, a morte (pre coce ou
prematura).
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- 9. O absentismo e os factores psicossociais
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O continuum saúde / doença
Nív el óptimo de
bem-est ar (wellness)
Promoção
Saúde (healt h)
Prev enção
Ausência de doença / acident e
Sint omas de doença / lesão
Trat ament o
Doença (illness)
Doença crónica / incapacidade
permanent e
Reabilit ação
Mort e (premat ura)
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- 10. O absentismo e os factores psicossociais
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Enquanto a promoção e a pre - sas, é muito mais iatrocêntrico do
venção são actividades, de sinal que salutocê ntrico. Ve jam -se as
positivo, viradas para a saúde , o suas actividades e o se u
tratamento e a reabilitação estão orçamento. Algumas das ide ias
viradas para a doença e a incapa- expostas podem se r melhor
cidade . Infelizmente , o sistema ente ndidas através do caso que a
de gestão da segurança e saúde seguir se descre ve:
do trabalho, nas nossas empre -
Estudo de caso: o caso do João, operário da indústria metalomecânica
O bjectivos des te estudo de caso:
Ajudar a c ompreender e definir melhor o conceito de factores psicossociais no
–
trabalho;
Identificar e analisar as principais cons equências dos factores psicossociais no
–
trabalho (produtividade / qualidade, saúde e s egurança, s atisfação no trabalho);
Identificar factores organizacionais de s tress no trabalho, c om implicaç ões no
–
absentismo-doença, nas empresas portuguesas ;
Identificar outros factores (nomeadamente extra-organizacionais e individuais ),
–
que possam estar associados ao absentis mo- doença e em espec ial ao s tresse no
trabalho;
Dis tinguir os diferentes sintomas de stress (comportamentais , emocionais ,
–
ps icológicos , intelectuais , fisiológicos , psic ossomáticos ...);
Apontar medidas concretas para prevenir e combater o s tress neste tipo de
–
empresas e nes ta população de trabalhadores , e reduzir a incapacidade
temporária para o trabalho.
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- 11. O absentismo e os factores psicossociais
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Este caso pode se r utilizado em O grupo pode rá, por exemplo,
contexto de formação, podendo tentar responde r a algumas das
se r analisado e discutido em
questões inse ridas no final.
grupo.
1. O João, 38 anos, casado e pai de dois filhos, trabalha numa empresa da
indústria transformadora, que se de dica à montagem de carroçarias para
ve ículos automóveis, na região do R ibate jo.
À luz da legislação e regulamentação em vigor no dom ínio da Segurança e
Saúde no Trabalho, este é “um bom local de trabalho”. O ruído foi re du-
zido para um níve l ace itáve l e a ilum inação é boa. O João não se queixa
de desconforto té rm ico, que r no Ve rão que r no Inve rno.
Embora o João trabalhe numa linha de montagem flex íve l, com alguma
rotação de tarefas (job rotation), houve a “preocupação e rgonóm ica” [sic],
por parte da empresa, em ajustar a sua posição de trabalho de modo a
e vitar “cargas e movimentos desne cessários”.
Do ponto de vista da se gurança, a empresa é conside rada modelar, diz o
té cnico supe rior de se gurança e higiene no trabalho, o Eng.º Am ílcar,
tendo já sido galardoada duas ve zes (pe la companhia de seguros e pelo
ex-IDICT), pelas suas “boas práticas” no domínio da SHST.
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- 12. O absentismo e os factores psicossociais
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2. O Dr. Carlos Xavie r, que é médico do trabalho re cém-adm itido na
empresa de se rviços exte rnos de SHST, que trabalha para a empresa do
João, comentou, com alguma ironia ou até humor negro, para a té cnica
supe riora de se rviço social, a Dra. Joana, que esta fábrica até podia m uito
bem se r “um exemplo de e stábulo-mode lo adaptado a local de trabalho”.
É que , apesar de tudo isto, o João sente-se triste , ansioso, e até doente .
Fuma, bebe e come demasiado. À noite tem dificuldade em adorme ce r e
acorda ce do, sentindo-se cansado e frustrado. Maria, a sua mulhe r, que é
assiste nte adm inistrativa nos se rviços municipalizados de água e sanea-
mento locais, está preocupada com as dores de cabe ça pe rsiste nte s do
João, a sua má digestão crónica, e a sua tensão alta. Ela insiste com e le
para irem, juntos, ao médico de família, mas e le resiste, alegando que
“não ia adiantar nada” e que, além disso, “não podia faltar ao trabalho”
[sic].
As coisas lá em casa também correm mal, depois de “um casamento fe liz
de 14 anos”: o re lacionamento do João já não é o mesmo em te rmos
afe ctivos, sexuais, conjugais e pare ntais. Os dois filhos do casal já de ram
conta de que “o pai não anda bem” [sic]. Tiago, o mais ve lho (12 anos),
queixa-se que o pai nunca mais jogou à bola com ele . Filipa, a mais nova
(8 anos), voltou a faze r chichi na cama depois de ouvir o pai a dize r
“coisas horríve is” à mãe (Há dias te ve um “ataque de ne rvos” e partiu os
pratos todos que estavam em cima da mesa, posta para o jantar...).
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- 13. O absentismo e os factores psicossociais
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No último inve rno (2005), o João acabou por faltar ao trabalho, te ndo
estado acamado durante cinco dias úte is, por imposição do médico de
família, aprese ntando os clássicos sintomas da gripe sazonal (arrepios,
fe bre , tosse, dores de garganta, mal-estar, falta de forças). O João, que
não tinha quaisque r faltas até então, acabou por pe rde r o prém io de
produção desse ano. “O prémio é para quem está, não falta, produz”, diz
o novo dire ctor.
3. Ve jamos como é que tudo isto aconte ceu. A empresa onde o João
trabalha, praticamente desde que abandonou a escola sem te r chegado a
comple tar o 9.º ano de escolaridade, enfrentou o ano passado uma sé rie
de problemas (e conómicos, finance iros, come rciais, té cnicos e
organizacionais) devido à alte ração da sua estraté gia de negócio, ao seu
reposicionamento no me rcado e à ree struturação do seu sistema de
produção e de vendas.
A empre sa, fundada nos anos 30, sempre te ve sucesso no me rcado
inte rno enquanto foi uma PME de controlo accionista familiar, mas a sua
situação finance ira degradou-se ao longo da dé cada de 1990. Hoje , a
maioria do capital já está nas mãos do grupo finance iro e e conómico a que
pe rte nce o seu principal cre dor (um conhe cido banco come rcial).
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- 14. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
A mudança de administração (e de estilo de gestão) foi dolorosa para
muita ge nte. O se guro de saúde / doença e outras regalias sociais foram
cortadas. E até o re feitório da empresa foi fe chado.
A aposta dos “novos patrões sem rosto” (como alguém lhes chamou) é a
inte rnacionalização, com a construção de uma fábrica em Espanha.
Entre tanto, iniciou-se um processo de downsizing (um palavrão que o
João nunca tinha ouvido falar antes) e foi desenhado um novo layout de
produção (outra expressão desconhe cida).
A empre sa de spediu ce rca de 30% do pessoal mais antigo e menos
qualificado, incluindo um tio mate rno do João. O despedimento de
quarenta pessoas, quase todas da te rra, te ve um impacto m uito grande
no concelho e na região.
4. O novo dire ctor fabril, que vem todos os dias de Lisboa, incita o pessoal
a “trabalhar mais e me lhor”. Tem havido um maior re curso – conforme as
encomendas – ao trabalho suplementar, que por vezes nem seque r é
pago. Já houve que ixas do Sindicato à Inspe cção-Ge ral do Trabalho.
Os novos gestore s tratam os trabalhadore s como “colaboradore s” e
gostam de usar palavras, complicadas para o João, como
“responsabilidade social”, “flexibilidade ”, “empode ramento”, e tc..
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- 15. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Quanto ao trabalho que o João exe cuta, passou a se r mais monótono,
com um pe queno núme ro de tarefas simples e repe titivas e um ciclo ope -
ratório curto. O controlo de qualidade passou a se r uma função espe cia-
lizada. Há alguma rotação de tarefas nos postos de trabalho vizinhos.
Em 2005, foi instituído um prémio de produtividade, que penaliza as faltas
de assiduidade e os atrasos. O João, que e ra um bom ope rário, se nte-se
agora desmotivado. E está a te r alguma dificuldade para lidar com as
novas máquinas computorizadas, que exigem conhe cimentos que e le não
possuía.
Por outro lado, as mais re centes rescisões de contrato causaram uma
natural inquietação e ntre os trabalhadores, habituados que estavam a um
“emprego estável e se guro” numa empre sa que “e ra uma grande fam ília”
[sic].
Em contrapartida, foram re crutados alguns trabalhadore s do leste e uropeu
(sobre tudo ucranianos). São acusados de “trabalharem como uns malu-
cos” [sic]. O ambiente de trabalho tornou-se mais crispado, have ndo
inclusive alguns indícios de xenofobia.
O pessoal te nde a ajudar-se menos uns aos outros. Todos re ce iam se r
abrangidos pe los próx imos despedimentos e ninguém que r ve r o seu
ordenado diminuído ao fim do mês. O clima organizacional de gradou-se .
O novo dire ctor já ameaçou com a deslocalização da fábrica para Espanha.
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- 16. O absentismo e os factores psicossociais
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5. O João, que “paga as quotas ao sindicato mas não se inte ressa por
política” [sic], se nte que pre cisa de ajuda e de desabafar com alguém . Há
dias este ve tentado a falar com o novo médico do trabalho, mas ainda não
tem confiança com ele . Mas falou com a enfe rmeira Isabel, que é da te rra
e é sua conhe cida e que continuou a trabalhar no “posto clínico” da
empresa. Foi ela que o apresentou à té cnica supe rior de se rviço social,
a Dra. Joana.
Acrescente-se que a empresa pre tende obte r a ce rtificação do seu sistema
de gestão da qualidade, mas e stá com dificuldade em e nvolve r os colabo-
radores nesse proce sso. “Não há tradição na empresa”, dizem.
O próprio clube de pessoal e stá com dificuldades de funcionamento – o
clube desportivo, re creativo e cultural que e ra o orgulho do fundador da
empresa e que e ra (e ainda é) financiado pe la empresa (não se sabe até
quando).
Entre tanto, o João vai faze r um curso de formação profissional (“re cicla-
gem ”, disse ram -lhe), e isso também o não ajuda muito porque é uma
situação nova para e le. É como “voltar aos bancos da escola”, vinte e tal
anos de pois.
O Eng.º Amílcar, o re sponsáve l pela área da segurança, está preocupado
com o aumento dos acidente s sem baixa (menos de um dia), re sultantes
de peque nos fe rimentos e lesões, incluindo os incidentes. Ele re conhe ce
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- 17. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
e os trabalhadore s andam “te nsos”. Também tem aumentado a
conflitualidade e ntre e les (discussõe s ve rbais, ameaças, e tc.).
De vido à cultura autoritário-pate rnalista he rdada do se u passado de
empresa fam iliar, não há de facto uma tradição de participação dos cola-
boradores na gestão do sistema té cnico e organizacional do trabalho.
Me smo a comissão (paritária) de higiene e segurança que chegou a fun-
cionar bem , está hoje parada, comenta o Eng.º Amílcar com preocupação.
A dire cção da empre sa também não está satisfe ita com a inve rsão de
alguns indicadores do tableau de bord, a come çar pelo absentismo por
doe nça e acidente .
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- 18. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Faça você mesmo
Apresentam-se de seguida algumas questões para resolver num eventual trabalho
de grupo:
O que é que o D r. Carlos queria dizer ao comentar, ironic amente, que esta
–
empresa até poderia s er “um bom exemplo de es tábulo- modelo adaptado a
local de trabalho”?
Identifique e analise sumariamente os principais factores de risco psicossocial a
–
que está sujeito o J oão, na situação de trabalho acima desc rita, dis tinguindo os
vários factores de stress :
O rganizacionais (c onteúdo, organização e demais condições de trabalho…);
Extra-organizacionais (família, comunidade…); e
Individuais (personalidade, história de vida, etc .).
Factores Factores Factores
Organizacionais Extra-Organizacionais Individuais
Por que é que o João está a lidar mal com o que se passa no seu local de
–
trabalho?
Como pode a equipa de segurança e s aúde do trabalho, c om o contributo
–
qualificado da D ra. J oana, do D r. Carlos , da enfermeira Ana e do Eng.º Amílcar,
ajudar o João, os demais trabalhadores e a empresa onde trabalham?
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- 19. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
O Que se Entende por Stress?
O te rmo re fe re-se a qualque r tensão e conflito. As coisas boas
ex igência exte rior ao indivíduo, da vida também são stre ssantes,
criando um estado de tensão ou na medida em que implicam
de ameaça, em re lação ao qual mudança / adaptação por parte
te rá que have r uma mudança ou do indivíduo: vd. enamoramento,
adaptação. casamento, promoção na
carreira, fé rias, viagens, e tc..
Em condiçõe s normais, a
Acontecimentos
inte racção indivíduo / ambiente O que importa sublinhar, para
stressantes
não implica ne ce ssariamente além da existê ncia de causas ou
tensão ou ameaça. Há factores de stress exógenos,
aconte cimentos que são em si ex te riores ao indivíduo, é a
stre ssantes (a gue rra, a centralidade do indivíduo
violê ncia, a doença, os de sastres (pe rsonalidade, biologia,
naturais, a morte do cônjuge , a expe riência, treino, idade ,
prisão, um acide nte de gé ne ro, e tc.), as diferentes
automóve l, e tc.). maneiras como cada um de
nós lida com as situações
O stress não se limita às (e stilos de coping) e os
situações-limites (as chamadas resultados (positivos ou
situações de vida ou de morte), ne gativos) que isso pode ter
nem mesmo às situações de
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- 20. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
para a saúde, o bem-estar, o O nosso organismo tem sempre
desempenho. um ce rto nível de stress. O sue co
Lenhart Le vi, um dos grandes
Em fisiologia e medicina, o te rmo espe cialistas do stress no
stress refe re -se à estratégia de trabalho, compara o stress a um
adaptação do nosso organismo “ace le rador”: ace le rar, “dar mais
na sequência de qualque r ou menos gás”, e is a que stão.
influência, mudança, ex igência,
ameaça ou constrangimento por No caso atrás exposto, o stress –
e le enfre ntado. Em e ngenharia, para o João – é tudo aquilo que é
significa “uma força que de forma pe rcebido e /ou avaliado como
os corpos”. uma ameaça, exigê ncia ou
constrangimento.
É todo um conjunto de factores organizacionais
(e extra-organizacionais):
A mudança de administ ração;
–
A redução de post os de t rabalho;
–
O despediment o de colegas;
–
A formação;
–
A compet ição;
–
A globalização da economia.
–
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- 21. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Stress no trabalho: João, 38 anos...
Sint omas
fisiológicos
psicológicos
Fact ores
organizacionais comport ament ais
Doença
Fact ores
ext ra-organizacionais
Programa
psicobiológico
I ndiv íduo
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- 22. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
É sabido que temos o mesmo de três sé culos e a sociedade da
ge noma dos nossos antepassados informação e do conhe cimento
mais antigos de há 100 m il anos. ape nas trê s escassas dezenas
Somos primatas e pe rtencemos à de anos. Inte le ctualizámos a
espé cie Homo Sapiens Sapiens. produção.
Só há menos de 10 mil anos
A gestão da informação e do
de ixámos a nossa condição de
conhe cimento passou a se r a
caçadores-re cole ctore s,
base de uma re volução sem
nómadas.
pre cedentes. Hoje somos
Como e spé cie animal totalmente se dentários,
biologicamente bem-sucedida, trabalhamos se ntados fre nte a
fomos preparados para fugir ou um computador, em rede .
lutar (flight or fight) face a
Mudanças ambientais
ameaças exte rnas, por exemplo,
os predadores.
O que mudou profundamente foi
o ambie nte (sócio-e cológico) em
Tornámo-nos e ntre tanto pastores
que nascemos, vivemos,
e agricultores, passámos a vive r
respiramos, crescemos, amamos,
em alde ias e de pois em cidades.
trabalhamos, consumimos,
Fizemo-nos arte sãos. Inve ntámos
enve lhe cemos e morremos.
a civilização há poucos m ilé nios.
No caso do João, o que mudou foi
Por sua vez, a primeira re volução
o seu local de trabalho, as suas
industrial (a produção e o
condições de trabalho, o
consumo em massa) tem menos
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- 23. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
conteúdo, a organização e as
demais condições de trabalho.
Mas também os factores ex tra-
-organizacionais: a família, a
comunidade, o me rcado, o país,
a e conom ia.
O stress continua a faze r parte
do nosso programa psico-
biológico. No sentido médico ou
fisiológico (adaptação), o stress
não pode se r e lim inado. O que
de ve se r evitado e combatido é
o stress no sentido té cnico, na
acepção que lhe dá a engenharia
(deformação).
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- 24. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Stress no trabalho: João, 38 anos, trabalhador...
Factores organizacionais
Downsizing Sint omas
Reestrut uração
I ntensificação do trabalho
Trabalho monót ono e
repetit iv o
Relações de t rabalho
Clima organizacional ...
Doença
Fact ores Programa
ext ra-organizacionais psicobiológico
I ndiv íduo
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- 25. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Stress no trabalho: João, 38 anos, trabalhador, português, casado...
Sintomas
Fisiológicos
Psicológicos
Fact ores organizacionais Comport ament ais
Doença
Factores
extra-organizacionais
País
Programa
Economia
psicobiológico
Mercado de t rabalho,
Família...
I ndiv íduo
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- 26. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Síntese O indivíduo, juntamente com a
sua re de de suporte social,
Em te rmos simplificados, pode constituem o conjunto dos
dize r-se que o stress é um re cursos para enfrentar os
processo de avaliação cognitiva factores de stress.
das situaçõe s.
Ne sse processo inte rfe rem não só
as caracte rísticas do indivíduo
(pe rsonalidade, conhe cimentos,
compe tências, aptidões…), mas
também as variáveis re lacionais,
por exemplo, o suporte social, ou
apoio tanto instrumental como
expre ssivo dado pe los outros.
Esse apoio pode se r institucional
(a empresa onde o indivíduo
trabalha, o chefe de e quipa, os
colegas, o médico do trabalho)
como extra-institucional (a
família, os vizinhos, os amigos).
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- 27. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Stress no trabalho: João, 38 anos, trabalhador, casado,
com fraca escolaridade...
Sintomas
Fisiológicos
Psicológicos
Fact ores organizacionais Comport ament ais
Doença
Fact ores
ext ra-organizacionais
Programa
psicobiológico
Conheciment o
Apt idões / capacidades
Personalidade
Suport e social (mulher, médico de família, ...)
Formação / t reino
Ex periência
Hist ória de v ida ...
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- 28. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Factores de risco dos núme ros, auto-suficiência,
expre ssão vocal, agitação
Além da idade (e do gé ne ro), há contínua, se ntimento de culpa,
outros factore s de risco (ou sentido de urgência,
vulne rabilidade ) que têm a ve r mate rialismo, gestualidade
com ce rtas caracte rísticas ne urótica, pluriactividade ,
individuais (ex .: o tipo de singularidade de inte re sses,
pe rsonalidade , o nível de im paciência, alienação,
ne urotismo, e tc.). agre ssividade, ave rsão a delegar,
propensão ao conflito,
Friedman e Rose nman (1974), pe rfe ccionismo, intole rância, e tc..
dois cardiologistas ame ricanos,
popularizam a ideia de que os O e stado de stress (ou strain,
indivíduos de tipo A corriam um tensão), produzido pe los factores
risco significativamente maior de de stress (stressors), põe em
doe nça coronária do que os de causa o equilíbrio do indivíduo, o
tipo B (ou se ja, com um padrão seu bem-e star físico e mental, a
comportamental oposto). sua e ficácia e e ficiência, a sua
capacidade para desempenhar os
São conhe cidos alguns dos traços seus papéis (como pai / mãe,
de pe rsonalidade ou padrão trabalhador/a, gestor/a,
comportamental de tipo A: mania cidadão/ã, e tc.).
A resposta do indivíduo assume a forma de
manifestações ou sintomas que podem ser:
Fisiológicos (aument o do rit mo cardíaco, da secreção
–
gástrica ou da t ensão muscular, et c.);
Psicológicos (angústia, medo, ansiedade, et c.);
–
Comport ament ais (aument o do consumo de cigarros
–
ou de álcool, etc.).
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- 29. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Stress no trabalho: João, 38 anos, trabalhador...
Sintomas
Fisiológicos
Psicológicos
Fact ores organizacionais Comport ament ais
Doença
Fact ores Programa
ext ra-organizacionais psicobiológico
Sist ema nerv oso simpático
Sist ema endócrino
I ndiv íduo
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- 30. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Stress no trabalho: João, 38 anos, trabalhador, português, casado, doente...
Sintomas
Fisiológicos (pert urbações do sono, cansaço,
dores de cabeça, má digest ão, tensão
Fact ores organizacionais art erial, ex aust ão...)
Psicológicos (t rist eza, frust ração…)
Comportamentais (t abaco, álcool, comida…)
Doença
Fact ores
ext ra-organizacionais
Programa
psicobiológico
I ndiv íduo
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- 31. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Há, por vezes, claros indícios ou coping e , sobre tudo, dos
sintomas, de natureza física, pote nciais factores, fontes ou
psicológica, intele ctual ou causas de stress) é o prime iro
comportamental, de que a passo para pre venir as suas
resposta (coping) ao stress não é consequê ncias negativas, a
adequada nem e ficaz, caso, por médio e longo prazo.
exemplo, do “João” do re fe rido
Grande parte dessas conse -
estudo de caso.
quências para a saúde são já
O conhe cimento desse s sintomas conhe cidas. Aqui vão algumas, a
(a par dos nossos estilos de título exemplificativo:
Sint omas musculares: (t ensão / dores nas cost as, no pescoço, nos membros
–
superiores e inferiores, etc.);
Problemas do aparelho digest iv o: (indigest ão, v ómit os, azia, prisão de v entre,
–
irrit ação do int est ino grosso, et c.);
Sint omas cardiov asculares (palpit ações, arrit mia, dores no peit o, et c.);
–
Queix as pulmonares (dificuldades respiratórias, et c.);
–
Disfunções do sist ema nerv oso central (desordens funcionais ment ais ou
–
emocionais, pert urbações do sono, cefaleias, fadiga, et c.);
Problemas sex uais (menst ruação dolorosa, frigidez, impot ência, et c.).
–
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- 32. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Stress disfuncional O distress tem ainda um e feito de
bola de neve na vida social e
Para além de doenças como a familiar do trabalhador, redu-
úlce ra péptica, a colite, a asma, zindo, por exemplo, a capacidade
as enxaque cas, as pe rturbações de inte rvenção, inte racção,
psicossomáticas, e tc., o stress coope ração e participação,
disfuncional, de sinal negativo exe rcício da cidadania, e tc..
(ou distress) manifesta-se
Hoje em dia, tanto nos EUA como
também a nível do apare lho
na União Europe ia, mais de
psíquico, sob a forma de sofri-
me tade do absentismo − doença
mento, de pressão e pe rturbações
no local de trabalho − é impu-
do comportamento, incluindo o
tado aos factores psicossociais e,
suicídio e a tentativa de suicídio.
nomeadamente , ao stress.
A prevenção do stress no trabalho implica uma
acção concertada e integrada a três níveis:
A organização (incluindo a organização do t rabalho);
–
O indiv íduo (recursos, conheciment os, compet ências,
–
et c.); e
O sist ema societ al (incluindo a rede de suport e social).
–
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- 33. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Prevenção do stress no trabalho: acção concertada a três níveis
Stress no trabalho
B. Indivíduo
A. Organização
(recursos...)
(trabalho...)
C. Sistema societal
(apoio...)
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- 34. O absentismo e os factores psicossociais
no trabalho
Ficha técnica
Título: O absentismo e os factores psicossociais no trabalho
Coordenação: Luís Graça
Editora: Ve rlag Dashöfe r Portugal
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Edifício Pessoa
Rua da Olive ira ao Carmo, n.º 8 - 4.º piso
1200-309 Lisboa
Te l.: +351 213 10 19 00
Fax: +351 213 10 19 99
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elaborados de boa -fé e com base nos conhecimentos dispo níveis à data da sua publicação. As constantes
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jurisprudência existente, pela constante mutação das decisões da Administração Pública e por todos os
fundamentos supra re feridos, nem a Editora Verlag Dashö fer nem os seus a utores po dem gar antir a
utilização rigorosa dos conteúdos para fins e objectivos a que os mesmos são alheios, devendo sempre o
leitor ter em co nta o carácter ger al dos mesmos.
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