Perfeição - capítulo 14 - Paulo e Mirela se beijam
"Perfeição" - Cap. 34 - Leninha se dopa e desmaia!
1. PERFEIÇÃO/ capítulo 034 PÁG.: 01
Recanto das Capítulo 034
Letras
PERFEIÇÃO
novela de:
Lucas Vinícius
escrita por:
Lucas Vinícius
Participaram deste Capítulo:
BARTOLOMEU
CLÁUDIO
CARMÉLIA
CONSTANTINO
DESIRRÉ
ESTER
GEOVANE
JÚLIO
JUREMA
LENINHA
LEANDRO
LISA
MARIA
MARIZETE
MIRELA
NÉIA
PAULO
PEDRO JR.
RAQUEL
SIMONE
ÚRSULA
2. PERFEIÇÃO/ capítulo 034 PÁG.: 02
Participações Especiais:
Dona do Hotel
CENA 01. FAVELA DE SÃO PAULO. CASA RAQUEL. INT. SALA/QUARTO.
NOITE.
Continuidade do cap. Anterior. Raquel acaba de pôr a bolsa no
sofá.
RAQUEL —— Ah, mas isso não vai ficar assim.
Essa loira desgraçada me paga! Ah, se
paga!
CAM mostra desespero de Néia, no quarto, dentro do guarda-
roupa encolhida.
RAQUEL —— Vou tomar um banho e … partir pruma
outra.
Raquel caminha até o quarto, a porta já estava entreaberta.
Quando ela entra, fica chocada, irada ao ver várias roupas no
chão. Sonoplastia: SUSPENSE.
RAQUEL —— (horrorizada) O que houve aqui!
Néia paralisada, gelada, dentro do guarda-roupa, encolhida.
Raquel resolve checar.
RAQUEL —— Será que entrou alguém aqui?
Vândalo! Olha só, minhas roupas novas
todas. Fruta que Caiu, que filho da
mãe!
Raquel pega uma roupa do chão. Caminha até o guarda-roupa e
quando abre dá de cara com Néia, encolhida, desesperada lá
dentro. Raquel dispara um grito ecoado.
NÉIA —— (desespera-se) Olha, eu juro, não
sou ladra, não sou.
RAQUEL —— (assustada) Quem é você e o que
faz... (Se dá conta) Espera. Cê é a
Néia, a antiga empregada da mansão. Que
foi demitida por roubo.
NÉIA —— Não. Não é isso.
Néia sai de dentro do guarda-roupa e continua:
NÉIA —— É por isso que estou aqui. Pra
provar que não roubei nada naquela
casa.
RAQUEL —— Mas roubou minha. Eu desconfiava que
3. PERFEIÇÃO/ capítulo 034 PÁG.: 03
entrava gente aqui na minha casa. Me
sumiu dois mil “real” esses dias.
NÉIA —— Mas eu juro, não roubei.
RAQUEL —— O quê que tu quer aqui, então? Mas
vai ter que me explicar tão bem
explicado, que vai dormir aqui em casa,
vamo virar a noite proseando. Cê vai me
contar. Do contrário... 190, alô!
NÉIA —— (assusta-se) Não. Se é assim...
(suspira) eu conto. Conto tudo, tudo.
Do início ao fim.
RAQUEL —— (desconfiada) Ótimo.
CORTA PARA:
CENA 02. MANSÃO DE JÚLIO. INT. QUARTO ESTER E LEANDRO. NOITE.
Leandro de pé, arruma o lençol da cama. Ester no espelho,
passa creme de beleza:
ESTER —— É.
LEANDRO —— Mas... estranho, eu jurava que essa
Raquel era uma pessoa de confiança. Me
pareceu.
ESTER —— (segura) Aquilo lá é tranqueira de
primeira espécie. E ó, sou mais Néia.
Apesar de eu ter visto, com meus olhos
que ela roubou as joias da sua mãe, a
falecida.
LEANDRO —— É, mas vamos esquecer esse assunto,
vamos? (vira-se) Eu vou tomar um banho
e já venho. Tá?
ESTER —— Tá, vai lá. Te espero.
Leandro se dirige ao banheiro. Fecha a porta. Ester se
levanta, caminha até a cama. Pega uma camiseta qualquer de
Leandro, que estava jogada ali em cima da cama.
ESTER —— Mesmo depois de casado, continua
jogando roupa suada em cima da cama.
Ela ia jogar fora, mas sente o forte perfume vindo dessa
roupa. Ela cheira, cheira e constata:
ESTER —— Ué, esse perfume não é o do Leandro.
(T) Será que... ele tá se encontrando
com a professora de novo?
4. PERFEIÇÃO/ capítulo 034 PÁG.: 04
Ester começa a ficar preocupada e realmente incomodada.
Enraivada, ela joga a camiseta em qualquer canto, furiosa.
CORTA PARA:
CENA 03. CASA DOS FUNDOS DE LENINHA. INT. BANHEIRO. NOITE.
Geovane em cima da escada. Com um alicate, ele mexe no fio do
chuveiro. Leninha espia, ali na porta do banheiro.
GEOVANE —— Vixe... parece que o fio se rompeu.
Ou foi cortado.
LENINHA —— (disfarça) É? Quem foi o desgraçado,
fiduma égua que cortou, será?
GEOVANE —— Ué, você quem tinha que saber.
Aliás, mora só você e você nessa casa.
LENINHA —— Tem Gardênia também, mas acho que
ela num seria capaz de tamanha
crueldade, não.
GEOVANE —— Pode deixar, arrumo num instante.
Leninha começa a ficar sapequinha e diz:
LENINHA —— Tá ficando calorão aqui, né?
GEOVANE —— (descontraído) Tô sentindo não.
LENINHA —— Logo lhe vem um calor. E se você
quiser... assim, eu busco um suquinho
pra você.
Por um momento, Geovane para tudo e desconfia de Leninha, mas
diz:
GEOVANE —— Um suco?
LENINHA —— Isso! Vou buscar três! Um pra mim,
outro prucê, outro pra Gardênia!
GEOVANE —— Mas Gardênia num é uma boneca?
LENINHA —— É, mas eu pego o dela e finjo que
ela tomou. (ri)
GEOVANE —— Ah, tá. Espertinha.
Leninha sai de fininho e aperreada.
CORTA PARA:
CENA 04. CASA DOS FUNDOS DE LENINHA. INT. COZINHA/SALA.
NOITE.
À mesa já tinham duas taças com suco de laranja. Leninha vem
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chegando de fininho, passos leves. Tira do sutiã um sachê,
com pó ou algo assim dentro:
LENINHA —— Com isso aqui Geovane vai deitar na
minha! E eu na dele! (ri) Mas... e se
eu der o suco e ele cair pra trás, da
escada? (pensa) ah, quer saber? Se cair
eu seguro! (ri)
Ela abre o sachê e despeja numa taça apenas, e mexe com o
dedo.
CORTA PARA BANHEIRO, INTERIOR.
Leninha vem chegando com as duas taças nas mãos. Uma com
sonífero, outra não. Geovane em cima da escada, a vê e para.
LENINHA —— Prontinho, dois suquinhos.
GEOVANE —— Dá cá o meu.
Leninha se atrapalha e começa a fuçar pra ver qual tem o
remédio.
LENINHA —— Virgem Santinha... pera só um
minutinho. Onde eu pus?
GEOVANE —— Pôs o quê?
LENINHA —— (disfarça) Nada! Nada. Tome, tome!
Ela entrega o da mão esquerda. Só que nenhum dos dois tomam,
um esperando o outro tomar.
LENINHA —— Por que me olha? Toma o suco!
GEOVANE —— Hã? Sim, vou tomar. Tome você
também.
LENINHA —— (com medo) Claro. Com... maior...
prazer. No 3, hein! Vamos lá... um...
dois... três!
Geovane vira seu copo e toma. Leninha faz o mesmo. Depois, os
dois param e fica olhando um pouco... Leninha desaba pra trás
caindo no chão durinha. Geovane se assusta:
GEOVANE —— Leninha?! Desmaiou?
Ele desce da escada e corre para socorrê-la, dando tapinhas
6. PERFEIÇÃO/ capítulo 034 PÁG.: 06
em sua cara.
CORTA PARA:
CENA 05. FAVELA DE SÃO PAULO. CASA RAQUEL. SALA. INT. NOITE.
CONTINUIDADE.
Raquel sentada ao sofá. A sua frente Néia. Ambas com copo de
café às mãos:
RAQUEL —— E por que isso tudo?
NÉIA —— Porque ela me culpou, me fez perder
o emprego por uma coisa que não fiz. E
pior: um crime!
RAQUEL —— (seca) O capeta repetiu o truque.
NÉIA —— Como?
RAQUEL —— Isso mesmo. Ela também armou pra
mim, agora há pouco. E acabei sendo
demitida da mansão.
NÉIA —— Você tava no meu lugar lá?
RAQUEL —— Estava. Porque conheci o dr. Júlio e
nós acabamos tendo um trelelê.
NÉIA —— Essa história é que me deixa
confusa. Você sendo, me desculpe a
arrogância, uma favelada, como
conseguiu que dr. Júlio se interessasse
em você? Eu que sou da idade dele,
nunca me disse um “Tá bonita, Néia”.
RAQUEL —— Olha pra mim e olha pra você. Eu sou
linda de doer. Você... é uma, como
dizem, senhorona periguete.
NÉIA —— Não viemos aqui pra falar de
periguetes, quanto menos de minha
pessoa.
RAQUEL —— De acordo. Até porque, eu tô virada
no cão com a vadia loira!
NÉIA —— Assim como eu. Aquela mulher é
doida. Ela embarca na melhor... ela dá
golpes, ela tira uma pessoa do caminho,
simplesmente por essa pessoa
atrapalhar os planos dela.
RAQUEL —— E o passado dela, minha filha, é
digamos um papel higiênico sujo!
NÉIA —— (séria) Como é? Então significa
que... ela realmente não foi das
melhores no passado?
RAQUEL —— Então Néia, até te acho bacana. Nós
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duas caímos na armadilha da Ester,
agora... num posso te contar. Pelo
menos ainda.
N ÉIA —— Tudo bem. Se você não contar eu
descubro. Eu investigo até o fio de
cabelo dessa mulher, mas ela me paga.
Raquel continua a escutar. Néia continua contando o que acha
e tudo mais.
CORTA PARA:
CENA 06. BAIRRO DE JUREMA. PLANOS GERAIS. EXT. NOITE.
Jurema vem chegando à sarjeta de sua casa com uma sacola às
mãos. Distraída, e cantarolando Roberto Carlos. Para, põe a
sacola no chão, e quando vai abrir o portão, escuta:
CONSTANTINO —— (OFF) Quem te viu, quem te vê!
Jurema se assusta, e quando vira-se tem outro susto. Ao ver
Constantino:
JUREMA —— Constantino?
CONSTANTINO —— (susto) Jurema? Mas... eu pensei que
fosse a Ermelita. Tava até apalpando a
mão pra dá-lhe uma no bumbum.
JUREMA —— Se fizesse isso ia tomar um soco nas
fuças!
CONSTANTINO —— Sempre brabona, né!
JUREMA —— Vem cá, eu não te via mais na
vizinhança... achava que tinha morrido.
Tinha até comprado uns balões. Mas Fifi
estourou todos. Ia ser festa caso a
desgraça se confirmasse.
CONSTANTINO —— Ah, sua sem graça. Eu não morri, mas
a prima da prima do meu primo, sim. E
ela parecia muito comigo.
JUREMA —— (lamenta) Coitada. Morrer já é o Ó,
e se parecer com você então...
CONSTANTINO —— Larga de ladainha. Cadê a sua irmã?
JUREMA —— Ih, meu querido, depois que você
bateu a porta na cara dela, só Deus
sabe. Depois do que descobri dela,
suponho que esteja se prostituindo na
BR.
CONSTANTINO —— É? (assanhado) E você tá sozinha em
casa? Desacompanhada?
8. PERFEIÇÃO/ capítulo 034 PÁG.: 08
JUREMA —— (ofendida) Ah! Não! Não tô! Tem Fifi
pra me proteger. Enfim... vou entrar
antes que essas alfaces murcham com seu
fedor de suor!
CONSTANTINO —— Muvuca! E grossa!
JUREMA —— (se sente) Bom, já que o muvuca foi
um elogio, não vou mandar você ir pra
aquele lugar, que ia mandar. Passar
bem!
Jurema pega suas sacolas ao chão. Abre o portão, entra, e
bate-o na cara de Constantino. Depois vai entrando.
Constantino fica na “bota”, e cruza os braços.
CORTA PARA:
CENA 07. CASA DOS FUNDOS DE LENINHA. INT. QUARTO. NOITE.
Geovane vem com Leninha aos braços, ela desacordada. Com
cuidado, ele a põe na cama de solteiro ali do quarto. Depois,
diz baixinho:
GEOVANE —— Só Leninha mesmo, pra própria se
dopar! É retardada da cabeça! E eu, ó,
fui!
Ele caminha até a porta pra sair, porém, para. Pensativo,
caminha até o guarda-roupas e abre-o. De lá puxa um enorme
urso de pelúcia. Rindo, ele vai até Leninha e o põe do lado
dela, para simular que tem alguém deitado com ela. Depois,
cobre ela e o urso. E sai. CAM gira, e mostra Leninha
agarrada ao “ursão”.
CORTA PARA:
CENA 09. CASA DE CARMÉLIA. INT. SALA. NOITE. CONTINUIDADE.
Úrsula, Bartolomeu e Carmélia à sala. Os três sentados:
CARMÉLIA —— Como você viu, Úrsula, a sala é
ampla!
ÚRSULA —— Sim, sim, a sala é uma lindeza. E os
quartos? A cozinha? Bom... (se levanta)
tenho que ir que ainda hei de depilar o
suvaco hoje.
Carmélia e Bartolomeu horrorizados.
BARTOLOMEU —— Suvaco?
ÚRSULA —— É, querem ver/
CARMÉLIA —— (corta) Não! Não, quer nos matar?
Digo, outra hora, sim.
ÚRSULA —— Vou indo. Não vou dizer tchau porque
9. PERFEIÇÃO/ capítulo 034 PÁG.: 09
achei vocês bem antipáticos. Mas se
comprar a casinha de vocês, será por
caridade. Fui! Cadê aquela empregada
biscatinha pra me levar à porta?
CARMÉLIA —— A … (confusa) Maria Helena... é
verdade, onde é que aquela desleixada
se enfiou?
ÚRSULA —— Enfim. Fui!
Úrsula vai saindo, sem nem se despedir. Após a saída dela,
Bartolomeu e Carmélia não escondem cansaço.
CARMÉLIA —— Ai... essa gorda nos tirou do sério.
BARTOLOMEU —— É, mas com o dinheiro da venda da
casa a gente vai sair da miséria.
CARMÉLIA —— Até que não é miséria. Vamos passar
de Classe C à Classe B. Agora, pega aí
o controle e liga na Avenida Brasil que
quero ver a Nina se lascar toda. Vai!
BARTOLOMEU —— Ah, mas eu ia ver o . . . /
CARMÉLIA —— Sem mais! Liga que eu mandei.
Aos “bufos”, Bartolomeu pega o controle e liga a TV.
CORTA PARA:
CENA 10. SÃO PAULO. PLANOS GERAIS. EXT. AMANHECER.
Sonoplastia: UMA BELA MÚSICA ANIMADA... ACOMPANHA: IMAGENS
BELÍSSIMAS DE ARQUIVO DE SÃO PAULO, A METRÓPOLE QUE NÃO PÁRA
DE CRESCER.
CORTA PARA:
CENA 11. HOTEL DE SÃO PAULO. INT. SALA RECEPÇÃO. DIA.
Desirré e Simone no balcão, sozinhas, à espera da Dona do
Hotel. Desirré está toda produzida. Simone também. A Dona do
Hotel vem chegando lá de fora:
DONA DO HOTEL —— Meninas, o carro tá pronto.
DESIRRÉ —— (vira-se) Já?
SIMONE —— Ai que maravilha.
Simone e Desirré se abraçam:
SIMONE —— Fé, amiga! Anotou num papel o
endereço do orfanato do padre?
DESIRRÉ —— Não só anotei como decorei.
SIMONE —— Bom, então vamos!
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Elas vão se juntando para sair.
CORTA PARA EXTERIOR DO HOTEL – FACHADA.
Desirré, Simone e a Dona do Hotel vão saindo do Hotel. Um
carro preto, chique, espera Desirré e Simone na sarjeta,
estacionado. Elas falam algo com a Dona do Hotel e entram no
carro. Se ajeitam e dá partida.
CORTA PARA:
CENA 12. CASA DOS FUNDOS DE LENINHA. INT. QUARTO. DIA.
Leninha acorda, e não vê que está abraçando um urso. Ela
ainda de olhos fechados, começa enchê-lo de beijos, dizendo:
LENINHA —— Ai, Gêzinho... cê tá fedendo a mofo,
mas... que delícia!!
Ela enche de beijos o urso. É quando abre os olhos e tem um
faniquito ao ver o que beijou.
LENINHA —— (assustada) Credo! Esse urso minha
vó abraçou no caixão. Que nojo! (Chuta
o urso) sai, capeta!
Ela olha pra um lado, pro outro. Não vê nada. Se dá conta.
LENINHA —— Cadê Geovane? O que aconteceu ontem?
Eu ia pôr um troço na bebida e... não
lembro de mais nada!
Ela desaba, gemendo de dor de cabeça, em cima do urso.
CORTA PARA:
CENA 13. CASA DE MARIA. INT. COZINHA. DIA.
Pedro Júnior come algo de café da manhã à mesa. Maria vem da
pia até ele. Se senta à mesa.
MARIA —— Olha... como eu te expliquei ontem,
você vai morar aqui, de hoje em diante.
PEDRO JR. —— Tá. Mas por quê? Ninguém me contou
ainda.
MARIA —— (hesita) Ai... Céus, como contar
isso? (T) Pedro... você tem 9 anos... é um
rapaz já. E... eu quero que, assim,
você no mínimo tenta entender os dois
lados da moeda, pra não julgar ninguém
errado. Tá?
PEDRO JR. —— Tá.
MARIA —— Ok. E se eu... (suspira) te falasse
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que... sou sua mãe?
O menino fica confuso.
CORTA PARA:
CENA 14. CASA DE MARIZETE E CLÁUDIO. INT. COZINHA. DIA.
Sonoplastia: MÚSICA TENSA.
Marizete de pé, para Cláudio, histérica. Cláudio à mesa,
tenta comer algo sob as reclamações de Marizete.
MARIZETE —— Você foi um inútil! Um inútil que
não serviu pra nada.
CLÁUDIO —— Eu fui justo. Coisa que você não foi
nessa vida. E nem será pelo visto.
MARIZETE —— (irritada) Logo de manhã e o bobão
me dando lições de moral! Frouxo!
Frouxo, isso define você. Meu Deus do
Céu, você que pegava Pedro Júnior na
escola, devia o ter afastado daquela
vara-pau.
CLÁUDIO —— Que vara pau, Marizete?
MARIZETE —— A tal da Oficial de Justiça, Branca.
Bianca, sei lá! Ela nos empatou. Ela
nos fez uma denúncia, na qual, disse
que presenciou os fatos. A juíza,
claro, acreditou nela.
CLÁUDIO —— Mas fazer o quê, se era verdade
dela?
MARIZETE —— (esbraveja) Verdade ou não, ela
tirou o nosso neto de perto de nós. Meu
Deus, a uma hora dessa aquele menino tá
correndo pela casa da Maria, a chamando
de mãe. Se é que chama, se não morreu
traumatizado.
CLÁUDIO —— Que exagero, se bobear, o menino
sentia que ela era mãe dele. Por isso
preferia ela ao invés de nós.
MARIZETE —— (sentida) Não... ele preferia Maria
porque ela era uma irresponsável... sem
rotina, sem deveres morais. Uma faz-
nada que carreguei por nove meses e
recebi ingratidão. E é isso, as
crianças preferem os irresponsáveis do
que os responsáveis, infelizmente.
CLÁUDIO —— Talvez porque às vezes o
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“responsável” exagera e fica cricri.
Não acha?
MARIZETE —— Passei do meu limite. Eu tô em
cacos, Cláudio. Em cacos!
CLÁUDIO —— (Se levanta) Eu também tô, Marizete!
Ele era meu neto. Mas não é o fim do
mundo, vamos poder ver ele às terças,
quintas... feriados! Não ouviu a juíza?
MARIZETE —— Não é a mesma coisa. Ter que
enfrentar a cara da ingrata da Maria?
CLÁUDIO —— Ela enfrentou a sua quando tínhamos
a guarda do filho dela. Então, façamos
um esforço.
Cláudio pega a xícara de café e ia saindo pro serviço, porém,
quando chega na porta, Marizete o para, dizendo:
MARIZETE —— Você fazendo a linha do bom moço,
Cláudio? Há dias vem fingindo ser
herói. (vira-se)
CLÁUDIO —— (irritado) Não! Eu tô cansado,
Marizete! Cansado de você e suas
paranoias. Esconder durante 9 anos que
a irmã dele é a mãe na verdade... você
começou com essa ideia maluca. Tá
certo, fui contra a gravidez da Maria,
ela era muito nova e o Juan um canalha.
Mas daí, tomar o filho dela e assumi-
lo? Era demais!
MARIZETE —— (vira-se em cacos) E você mesmo
assim embarcou nessa. Podia ter pulado
fora. Assim não ouvia mais seus
chororôs. Some da minha frente.
CLÁUDIO —— Acho que você dev/
MARIZETE —— (grita) Some!!!!!
Cláudio dá uma última encarada e sai, indo pra sala. Marizete
ainda aos choros se aproxima da pia. É onde começa a chorar
feito bebê.
CORTA PARA:
CENA 15. APART DE LISA E MIRELA. INT. COZINHA. DIA.
Mirela, já de uniforme escolar, está na mesa, de pé, cortando
um pão. Lisa da sala, dispara:
13. PERFEIÇÃO/ capítulo 034 PÁG.: 013
LISA —— (OFF) Anda, Mirela! Tamos
atrasadas!
MIRELA —— (alto) Calma aí, maninha. Só tô
comendo um pão.
Ela ia comer, mas seu celular em cima pia começa a tocar.
Mirela para de cortar o pão.
MIRELA —— Quem será que me incomoda a uma hora
dessa?
Mirela caminha até lá, pega e atende:
MIRELA —— (ao cel) Alô?
PAULO —— (off, ao cel) Mirela. Eu liguei
pra...
MIRELA —— (ao cel) Se for por causa daquele
dia, esquece. Já passou, águas
passadas. Eu não queria ter gritado com
você, ou humilhado. Me desculpa, tá?
Lisa surge e pega a conversa no meio. Diz logo:
LISA —— (p/ Mirela) Quem você não queria ter
humilhado? E tá falando com quem ao
telefone, Mirela?
Sonoplastia: TENSO INSERIDO.
Mirela fica sem reação ao telefone. Lisa se aproxima.
CORTA PARA:
CENA 16. MANSÃO DE JÚLIO. INT. SALA. DIA.
Júlio e Leandro sentados ao sofá. Cada um vê um álbum de
fotos, ambos de Eunice.
LEANDRO —— Mamãe tá um gata aqui, pai!
JÚLIO —— Sua mãe sempre foi uma gata, filho.
Uma selvagem, mas gata!
LEANDRO —— (ri) Poxa, pai.
JÚLIO —— (T) Filho... sua mãe tinha uma ONG,
não tinha?
LEANDRO —— Tinha? Não tô sabendo disso não.
JÚLIO —— Ela tinha, ou ajudava uma ONG. Veja
bem, esses dias me veio um convite. Uma
convocação ao Memorial Eunice.
LEANDRO —— Memorial Eunice, pai?
JÚLIO —— Sim. Seria aqui em casa, caso
topássemos. Sua mãe, filho, doou
14. PERFEIÇÃO/ capítulo 034 PÁG.: 014
diversas vezes roupas, alimentos e
dinheiro, cheques... pra ONG que
cuidava de idosos e de animais
maltratados.
LEANDRO —— (sorri) Que legal, pai. A mamãe
gostava de animaizinhos?
JÚLIO —— Gostava. Mas eu tenho certeza que
ela ajudava por ter sofrido duas coisas
quando era nova: a perda do pai idoso
que foi esquecido num avião, e
fatalmente desapareceu e nunca foi
encontrado. E também o cão que a ajudou
a restabelecer o movimento da mão-
esquerda.
LEANDRO —— Nossa... nem eu conhecia tanto assim
da mamãe, pai.
Sonoplastia: TENSO INSERIDO. Ester desce a escada com
elegância. Depois caminha até os dois, ao centro da sala.
ESTER —— Bom dia. Do que falam?
LEANDRO —— (se levanta) Meu amor, veja que
homenagem linda propuseram a meu pai.
Conta aí, pai!
ESTER —— Nossa, gente, vou explodir de
curiosidade. Conta.
JÚLIO —— Propuseram, Ester, uma homenagem à
Eunice. Um Memorial, aqui em casa.
Achei a ideia ótima.
Baque. Ester fica pálida na hora, atormentada, sem luz. Júlio
e Leandro percebem, e estranham a palidez de Ester.
CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO