O documento discute as contribuições da psicologia para a inclusão de deficientes intelectuais no ensino regular. A psicologia auxilia na mediação deste processo, permitindo que os alunos se sintam acolhidos e capazes de produzir autonomia no ambiente escolar. As escolas precisam se preparar melhor para a inclusão, com formação de professores e espaços de debate sobre como atender melhor as necessidades especiais.
1. CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA NO PROCESSO DE INCLUSÃO
ESCOLAR DO DEFICIENTE INTELECTUAL
“A educação é também onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso
mundo e abandoná-las a seus próprios recursos e tampouco, arrancar de suas mãos a oportunidade de
empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as, em vez disso e com antecedência, para a
tarefa de renovar um mundo comum”.
Hanna Arendt
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Débora Maturana Fiorin
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Verônica Schweig Filippin
Falar sobre a questão da inclusão, em especial, quando se trata da
inclusão de pessoas com deficiência intelectual é um grande desafio. Desafio
este não somente para os pais, professores e demais profissionais que atuam
com este público, uma vez que existem ainda muitos estigmas e preconceitos
em torno deste tema. No entanto, perante a complexidade do contexto
apresentado, provindo da atual demanda social, a psicologia ocupa um espaço
na mediação e na interlocução de saberes, situações e circunstâncias muitas
vezes desafiadoras, quando se trata da inclusão do deficiente intelectual nas
escolas de ensino regular.
A inclusão é um processo amplo que visa à adequação da sociedade às
necessidades de seus membros, onde exige uma mudança no modo de pensar
e de agir de todos os sujeitos que compõe o campo social. No transcurso
histórico da sociedade, nunca o termo “inclusão” esteve tão em evidência.
políticas públicas, formação de profissionais e uma acentuada discussão sobre
o tema, foram alguns dos elementos trazidos à pauta da sociedade das últimas
décadas do século XX e princípio do século XXI.
Do verbo incluir, a palavra inclusão provém do latim includere, que
significa conter em, compreender, fazer parte de, ou participar de. De acordo
com Mantoan (2000), Doutora em Psicologia Educacional, “a inclusão é,
portanto, um conceito revolucionário, que busca remover as barreiras que
sustentam a exclusão em seu sentido mais lato e pleno. Aplica-se a todos os
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Psicóloga da APAE – Ijuí/RS, Especialista em Intervenções Psicossociais
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Psicóloga da APAE – Ijuí/RS
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2. que se encontram permanente ou temporariamente incapacitados pelos mais
diversos motivos, a agir e a interagir com autonomia e dignidade no meio em
que vivem”. Atualmente, a questão amplamente discutida diz respeito à
inclusão do deficiente intelectual.
Conforme definido no documento Diretrizes Nacionais da Educação
Especial na Educação Básica (Parecer CNE/CEB 17/2001), considera-
se educandos com necessidades educacionais especiais os que,
durante o processo educacional, apresentarem: (a) dificuldades
acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de
desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades
curriculares, relacionadas a condições, disfunções, limitações ou
deficiências; ou àquelas não vinculadas a uma causa orgânica
específica; (b) dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas
dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos
aplicáveis e (c) altas habilidades/superdotação, grande facilidade de
aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos,
procedimentos e novos repertórios comportamentais. (ROSSIT E
ZULIANI, 2003)
No entanto, é fato conhecedor das instituições de ensino que a
educação inclusiva é uma prática mundialmente difundida em diversos países,
incluindo o Brasil. Em documento firmado em 1994 na Declaração de
Salamanca foi consolidado um compromisso de fazer desse ideal uma
realidade até 2010. Em assembléia, o Banco Mundial e a ONU em conjunto
com delegados de 92 governos e 25 organizações internacionais estiveram
reunidos para reconhecer a necessidade de organizar uma educação para
crianças, jovens e adultos com necessidades especiais, dentro de uma
perspectiva de ensino regular.
Nesse sentido, a Declaração de Salamanca convocou todos os órgãos,
federais, estaduais ou municipais, para uma ação que gere qualidade no
ensino a todo e qualquer sujeito. Segundo a mesma, quanto a escolarização,
“terão de incluir-se crianças com deficiência ou sobredotados, crianças da rua
ou crianças que trabalham, crianças de populações remotas ou nômades,
crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou
grupos desfavorecidos ou marginais”. (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, p. 6,
1994)
Mas como bem aponta Mantoan, incluir não é simplesmente inserir uma
pessoa na sua comunidade e nos ambientes destinados à sua educação,
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3. saúde, lazer, trabalho. Incluir implica acolher a todos os membros de um dado
grupo, independentemente de suas peculiaridades, é considerar que as
pessoas são seres únicos, diferentes uns dos outros e, portanto, sem
condições de serem categorizados.
Porém, diante dessas colocações, vem um questionamento. E a
psicologia, o que tem feito para contribuir com a educação inclusiva? Nesse
contexto, o Conselho Federal e Conselhos Regionais de Psicologia escolheram
para 2008, a educação como tema gerador para repensar as contribuições da
psicologia nessa área. Com o título “Educação para Todos”, o jornal do
Conselho Regional de Psicologia – CRP 07- enfatizou o compromisso dos
psicólogos em auxiliar para que realmente a educação se consolide em uma
ação inclusiva e, o respeito à diversidade se constitua como eixo norteador da
mesma.
No entanto, às vésperas desse acontecimento, nos interrogamos quanto
às nossas escolas, se estas estão preparadas, ou ao menos, se mobilizando
para esse processo. De acordo com Rossit e Zuliani,
o tema da inclusão, que vem sendo discutido e estudado nos últimos
anos, prevê mudanças e transformação não somente na estrutura da
escola, mas também, e principalmente, na formação e capacitação dos
profissionais que irão atuar neste processo. Assim, a modernização da
escola requer o aprimoramento dos conhecimentos e das práticas
pedagógicas para que o atendimento educacional possa ser oferecido
“a todos”, principalmente àqueles que apresentam necessidades
especiais. (ROSSIT E ZULIANI, 2003)
A psicologia tem fornecido importantes contribuições às instituições de
ensino. Geralmente, as queixas escolares estão direcionadas às dificuldades
de aprendizagem e de comportamento as quais em alguns momentos
necessitam da intervenção desse profissional. No entanto, diante do contexto
da inclusão, alguns desafios tem se colocado tanto às famílias, quanto àqueles
profissionais que trabalham com as crianças com deficiência intelectual. Como
lidar com essa criança? O que o professor pode fazer para auxiliar no seu
aprendizado? Esses são alguns dos questionamentos que tem se apresentado
com freqüência nos discursos escolares.
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4. O apoio às escolas com intervenções, mediações através de
acompanhamento, orientação e palestras junto a toda rede que compõe a
escola são algumas das ações possíveis do psicólogo. Quanto à inclusão do
deficiente intelectual, o psicólogo pode auxiliar na mediação desse processo,
permitindo que ele não apenas se adapte ao novo ambiente físico e social, mas
que se sinta acolhido e que possa ocupar um lugar de sujeito, de aluno, colega,
ou seja, um lugar de produção de sua autonomia e de reconhecimento.
Contudo, sabemos da angústia do meio escolar quanto à inclusão
dessas crianças e jovens. A partir disso, consideramos essencial que as
escolas possam desenvolver espaços de fala, debate e produção, o que
possibilitaria que o grupo desenvolve-se ações em conjunto e compartilhasse
suas dúvidas, com o intuito de encontrar as alternativas que favoreçam ambas
as partes, ou seja, a escola enquanto instituição e o aluno enquanto sujeito.
REFERÊNCIAS:
Declaração de Salamanca e enquadramento da acção na área das
necessidades educativas especiais. Salamanca: UNESCO, 1994,
disponível em <http//:. www.portal.mec.gov.br >. Acesso em 01 fev. 2009.
Conselho Regional de Psicologia 7º Região. Jornal Informativo Entre Linhas.
Porto Alegre: CRP 07, ano IX, nº 45, 2008.
MANTOAN. Maria Teresa Eglér. O verde não é o azul listado de amarelo:
considerações sobre o uso da tecnologia na educação/reabilitação de pessoas
com deficiência. Rio de Janeiro: INES, 2000, disponível em <http//:.
www.bancodeescola.com>. Acesso em 01 fev. 2009.
ROSSIT, Rosana Aparecida Salvador. ZULIANI, Giovana. Repertórios
acadêmicos básicos para pessoas com necessidades especiais. In:
Revista em Psicologia da Sociedade Brasileira em Psicologia. São Paulo:
Sociedade Brasileira de Psicologia, 2003 V. 11 nº 2.
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