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Capítulo
1
A SEQUÊNCIA
ANALÍTICA
Francisco José Krug
Joaquim de Araújo Nóbrega
A sequência analítica
Capítulo 1 – 3
“It is the capability of understanding and executing all phases
of analysis that ultimately characterizes the true analytical
chemist, even though he or she may possess special expertise in a
particular separation or measurement technique.”
Kratochvil e Taylor*, 1972 1
* Originalmente lembrados por Woitties e Sloof 2
1.1. INTRODUÇÃO
A missão da química analítica é propor os meios para a determinação de
uma ou mais espécies químicas (e.g. moléculas, íons e elementos) em diferentes
materiais. Em princípio, a química analítica deve envolver um problema, que pode-
rá ser solucionado analisando-se uma ou mais amostras por um método apropria-
do. A análise direta (i.e. sem qualquer tratamento) in situ é, em princípio, a ideal
para os analistas, pois a determinação das espécies de interesse pode ser feita dire-
tamente no local de amostragem e a sequência analítica ficará restrita a poucas
etapas, tornando-se mais simples. Entretanto, ainda são poucos os equipamentos
com desempenho apropriado para a determinação em campo de espécies químicas
de interesse em diferentes tipos de amostras. Dentre os recursos comercialmen-
te disponíveis para determinações elementares in situ, destacam-se as espectrome-
trias de fluorescência de raios X (XRF), de emissão óptica com excitação por faísca
(SS-OES) e de emissão óptica com plasma induzido por laser (LIBS). Como nem
sempre é possível analisar as amostras in situ, deve-se eleger um procedimento de
amostragem e armazenamento das amostras de forma apropriada, para serem enca-
minhadas ao laboratório, para a determinação do(s) elemento(s) de interesse, aqui
denominado(s) de analito(s). Apesar da análise direta dessas amostras ser possível,
em geral, também se requer uma ou mais etapas de preparo (e.g. homogeneização).
A espectrometria atômica oferece alguns métodos para a análise direta de sólidos, os
quais serão tratados neste livro, com foco no preparo das amostras.
Não obstante, ainda predominam os métodos que requerem a transforma-
ção da amostra em uma solução. No laboratório, a amostra poderá ser submetida
a tratamentos preliminares (e.g. secagem e moagem), até a completa transformação
A sequência analítica
Capítulo 1 – 4
da amostra sólida em uma solução compatível com o método de determinação. A
maneira de se dissolver e/ou decompor a amostra para a análise depende da sua natu-
reza, do analito e de sua concentração, do método de determinação e da precisão e
exatidão desejadas. Em alguns casos, a relação massa de amostra/volume de solução
deve ser flexível para que a diluição da amostra seja compatível com o limite de detec-
ção do método e com a faixa linear de resposta. O tratamento da amostra também
poderá promover uma transformação da espécie química de interesse para uma forma
que seja apropriada para a aplicação do método de determinação selecionado.
1.2. ETAPAS E TAREFAS NA SEQUÊNCIA ANALÍTICA
Antes de se proceder ao estudo detalhado sobre pré-tratamento de amos-
tras, é conveniente rever as etapas que um analista deverá considerar para a reali-
zação das análises. Essas etapas são dispostas em uma sequência, algumas das quais
são comentadas neste capítulo.
Segundo o guia CITAC/EURACHEM,3
a análise é uma investigação com-
plexa que pode ser resumida por uma série de tarefas (etapas). Nem sempre todas as
tarefas são obrigatórias. As medidas não devem ser realizadas apenas como uma das
etapas, pois elas dependem de um processo iterativo que envolve:
• 	 Especificação das necessidades
• 	 Revisão das informações *
• 	 Criação*
• 	 Plano de estudos*
• 	 Amostragem
• 	 Preparo das amostras
• 	 Análise preliminar*
• 	 Identificação/confirmação da composição química
• 	 Análise quantitativa
• 	 Coleta e revisão de dados
• 	 Interpretação dos dados/solução do problema
• 	 Relatório dos resultados/aconselhamento
As tarefas marcadas com asterisco têm maior importância no contexto das
análises que não são feitas em rotina.
A sequência analítica
Capítulo 1 – 5
Neste livro, algumas recomendações do Guide to Quality for Analytical
Chemistry, editado pelo CITAC e EURACHEM,3
serão mencionadas na sequência
analítica proposta na monografia de Anderson,4
segundo a qual as principais etapas
são:
a) Definição do problema
Este deve ser o primeiro passo no planejamento de uma análise, i.e. deve-se
responder à questão: “qual é a informação analítica desejada?” A definição do pro-
blema estabelece os objetivos qualitativos, quantitativos e/ou estruturais (ou tem-
porais) da sequência analítica. A informação desejada pode ser o teor de ferro em
farinha de trigo enriquecida com vistas à Resolução-RDC N° 344 da ANVISA,5
ou
os teores de cádmio e chumbo em fertilizantes, que atendam ao disposto na Instru-
ção Normativa n° 27 de 2006 do Ministério da Agricultura,6
por exemplo.
b) Escolha do método
A escolha do método de análise para a determinação das espécies químicas
pode se basear em vários critérios e, idealmente, o método selecionado deverá ser
devidamente validado.
Está implícito que os métodos de preparo da amostra e de determinação
escolhidos devem ser compatíveis. Se o método de determinação permitir a análise
direta de sólidos, a qualidade do preparo da amostra poderá depender, por exem-
plo, do método de moagem, visando à diminuição de microheterogeneidade das
amostras; se o método de determinação permitir somente a análise de soluções, está
implícito que o método de decomposição deverá proporcionar a transformação da
amostra em uma solução representativa da amostra original e compatível com a
instrumentação.
Assim, é imprescindível que o método de determinação seja escolhido a
priori, para que se possa definir a estratégia mais apropriada para a obtenção dos
resultados analíticos que permitam a solução do problema. Com base nesta escolha
é que se define o método de amostragem e como a amostra deverá ser preparada
antes de proceder à determinação dos analitos. Essa escolha requer conhecimento
sobre as dificuldades que poderão limitar o desempenho do método de determina-
ção. De fato, há inúmeros casos em que o método de determinação é escolhido sem
que se tenha conhecimento de como as amostras deverão ser preparadas. De qual-
A sequência analítica
Capítulo 1 – 6
quer forma, a partir do momento em que se souber exatamente qual é a informação
desejada, pode-se decidir com detalhes como ela será obtida:
i.	 O método de análise deve ser eficiente e, sempre que possível, simples e rápi-
do;
ii.	 O método de análise não deve implicar em danos aos materiais nos quais as
amostras serão tratadas e analisadas;
iii.	 O método de análise não deverá ser passível de erros sistemáticos (e.g. riscos
de contaminações, perdas por volatilização e perdas por adsorção);
iv.	 A seletividade do método deverá ser previamente conhecida;
v.	 As amostras deverão ser processadas com mínima manipulação;
vi.	 É imprescindível que os resultados sejam obtidos com a máxima segurança
operacional.
Idealmente, a escolha deverá ser feita por um método devidamente valida-
do. A validação de um método estabelece, a partir de estudos sistemáticos em labo-
ratório(s), se o método possui características para produzir resultados para a solução
do problema analítico. A validação é um processo que estabelece as características
de desempenho e as limitações de um método analítico, permitindo identificar os
fatores que podem afetar as características de desempenho. Assim, o processo de
validação estabelecerá quais analitos poderão ser determinados, especificando-se a
matriz ou as matrizes e os riscos de interferências. Além disso, nas condições estabe-
lecidas, será possível prever os níveis de precisão e exatidão alcançados. A validação
deve fornecer subsídios ao usuário do método, para que se saiba, com antecedên-
cia, em que condições o método selecionado será apropriado para a obtenção de
resultados que possibilitem a solução do problema. Quando se tratar do preparo
de amostras sólidas, por exemplo, deve ficar bem claro que o método de preparo é
válido para as amostras de interesse, que as amostras deverão ser secas (condições
de secagem explícitas) e moídas apropriadamente (tipo e características do moi-
nho, grau de cominuição das partículas e tempo mínimo de moagem), os limites
para a massa da porção amostrada, a classe de limpeza do ar do laboratório, se há
necessidade ou não de controle de umidade (uso de dessecadores) e de temperatura
durante o armazenamento. Se as amostras forem digeridas, por exemplo, deve-se
informar que o método de digestão é compatível (apropriado) com o(s) método(s)
de determinação do(s) analito(s). Nesse aspecto, está implícito que o método de
determinação faz parte do processo de validação.
A sequência analítica
Capítulo 1 – 7
Para melhor orientar o analista quanto à escolha do método, recomenda-se,
também, considerar as restrições de tempo e de custo, a incerteza dos resultados,
bem como a necessidade de rastreabilidade e de controle e garantia de qualidade.
Nota sobre os conceitos de técnica, método e procedimento analítico
A intenção desta nota é comentar como estes termos podem ser empregados
na química analítica sem que haja prejuízo para o bom entendimento deste texto. Em
princípio, não existe consenso na literatura sobre o emprego dos termos técnica e méto-
do, e o que se observa, na prática, é o uso de ambos como sinônimos. Não obstante, o
termo técnica pode ser empregado em um sentido mais amplo, que guarda o princípio,
e o método como o meio de se utilizar esse princípio.
Assim, espectrometria de absorção atômica é uma técnica analítica, que se
baseia na medida da absorção de radiação da região UV ou visível do espectro eletro-
magnético por átomos gasosos no estado fundamental, ao passo que a chama e o forno
de grafite podem ser os métodos de atomização empregados. Assim, seria apropriado
dizer que a espectrometria de absorção atômica com chama é um método analítico. O
mesmo raciocínio pode ser feito com a técnica de espectrometria de emissão óptica,
que pode ser classificada de acordo com o método de excitação (arco elétrico, faísca
elétrica, plasma indutivamente acoplado, plasma induzido por laser), com a técnica
de espectrometria de absorção molecular com diferentes métodos espectrofotométri-
cos (azul de molibdênio, cianina eriocromo R, tiocianato, ditizona etc), e com outras
técnicas.
Na literatura o termo procedimento tem sido usado de forma consensual, no
qual os detalhes dos métodos de amostragem, de preparo da amostra e de determina-
ção são descritos com a necessária clareza para a obtenção dos resultados e para a sua
reprodução por outros laboratórios ou por outro analista de um mesmo laboratório.
c) Amostragem
Exceto nas análises in situ, as análises químicas são sempre precedidas pela
amostragem. Seleciona-se uma pequena quantidade de material (a amostra) para
determinar a composição química de uma população muitíssimo maior. Idealmen-
A sequência analítica
Capítulo 1 – 8
te, a amostra deveria ter exatamente a mesma composição da população a ser amos-
trada, ou seja, a parte deve ser uma representação perfeita do todo mas, teoricamen-
te, isso nunca acontece, e as discrepâncias dão origem às incertezas na amostragem.7
Assim, é comum afirmar que a amostragem é um processo que consiste na
seleção e remoção de uma pequena parte de um todo, que seja representativa, mas
suficiente para cumprir o objetivo analítico. Segundo Ramsey,8
o termo “amos-
tragem representativa” é subjetivo e pode ser melhor compreendido como “amos-
tragem suficientemente representativa” ou apropriada, que proporcione resultados
com níveis de incerteza aceitáveis para a tomada de decisão.
A terminologia relacionada ao processo de amostragem pode confundir
o leitor, pois alguns termos não são consistentes entre uma e outra aplicação. Para
evitar confusão, os termos usados devem ser claramente definidos. É importante
garantir a mesma terminologia na comparação de dois ou mais métodos de amos-
tragem. Não obstante, cabe mencionar que existe uma recomendação da IUPAC,
proposta por Horwitz em 1990,9
cujos termos originais são apresentados entre
parênteses:
•	 Amostra (sample): porção que representa o todo. A amostra representa toda
a população de interesse. Pode ser coletada em um único local ou ser uma
amostra composta. A amostra composta é resultante da mistura de várias
amostras coletadas em diferentes locais dentro da população de interesse.
•	 Sub-amostra (subsample): quando a amostra é homogeneizada e dividida
entre diferentes laboratórios, ou quando a amostra é grande e somente uma
parte é levada ao laboratório de análise.
•	 Amostra laboratorial (laboratory sample): amostra ou sub-amostra entregue
no laboratório.
•	 Amostra teste (test sample): amostra preparada no laboratório de análise a
partir da amostra ou sub-amostra entregue no laboratório. Cabe mencionar
que, apesar de o termo preparo de amostra ser apropriado para descrever esta
etapa de amostragem, o preparo poderá envolver outros tratamentos.
•	 Porção amostrada, alíquota amostrada, alíquota (test portion): refere-se
ao material que foi pesado ou selecionado para análise a partir da amostra
laboratorial. Essa porção pode ser selecionada diretamente da amostra pri-
mária ou da sub-amostra. Geralmente, seleciona-se uma alíquota ou porção
da amostra teste.
A sequência analítica
Capítulo 1 – 9
Notas:
(i) 	Quando a amostra ou sub-amostra passa por tratamentos no laboratório,
como uma cominuição precedida de quarteamento, mistura e moagem, por
exemplo, a amostra laboratorial é transformada na amostra teste. Quando
nenhuma preparação da amostra laboratorial se fizer necessária, a amostra
laboratorial é a própria amostra teste.
(ii) 	A amostra laboratorial é a amostra final do ponto de vista de quem a coletou,
mas é a amostra inicial do ponto de vista do laboratório de análises.
Cabe mencionar que, segundo o guia CITAC/EURACHEM,3
as opera-
ções analíticas começam com a pesagem da amostra teste ou da própria amostra
laboratorial, conforme o diagrama da Figura 1.1.
Figura 1.1. Diagrama de amostragem no laboratório. Adaptada da referência 10.
Se a porção amostrada não for apropriada, não será possível relacionar o
resultado analítico com a composição do material original, independentemente da
qualidade do método e de todos os cuidados para a determinação do analito. Assim,
cabe destacar que, mesmo aplicando-se um procedimento analítico devidamente vali-
dado e por mais cuidadoso que seja o seu emprego, um problema analítico somente
será resolvido se as amostras forem apropriadas para a solução do problema.
A amostragem requer experiência e conhecimento sobre o problema e a
química relacionada com o preparo da amostra. Para a seleção de amostra(s) apro-
A sequência analítica
Capítulo 1 – 10
priada(s) recomenda-se que a seleção de uma ou mais amostras do material de
interesse seja feita por especialista com conhecimento de toda a sequência analítica.
A amostragem sempre contribui para a incerteza dos resultados. Como
será visto no Capítulo 5, existem métodos que requerem porções amostradas meno-
res que 1 mg e, consequentemente, as incertezas devidas à amostragem laboratorial
tornam-se mais importantes, pois terão uma maior contribuição na incerteza dos
resultados.
Nesse sentido, deve ficar implícito que:
•	 a alíquota (porção amostrada) deverá representar a amostra laboratorial;
•	 para garantir que a alíquota seja apropriada, é necessário reduzir o tamanho
das partículas, o que é feito usando métodos de moagem;
•	 não deverá haver segregação dos constituintes da amostra durante o pré-tra-
tamento e seleção da alíquota;
•	 devem-se prever riscos de contaminação.
De acordo com Petersen et al.11
somente a teoria de amostragem fornece
subsídios que permitem estabelecer, compreensivelmente, como deve ser feita a amos-
tragem e a quantidade de material que deverá ser selecionada de um lote. Para muitos
tipos de amostras heterogêneas, frequentemente a amostra primária tem que ter uma
massa considerável para que seja representativa, a qual depende decisivamente da
qualidade do amostrador. O artigo de Petersen et al.11
faz uma análise de desempenho
de diversos instrumentos de amostragem existentes no mercado, destacando os méto-
dos mais eficientes para que a redução de massa da amostra primária para a amostra
laboratorial seja, de fato, apropriada. No caso de amostras sólidas, por exemplo, cabe
lembrar que as reduções de massa são da ordem de 1:1000 a 1:10000 vezes e que as
porções amostradas são, tipicamente, menores que 1 g.
No contexto da teoria de amostragem, a amostra laboratorial deve ser clas-
sificada como amostra secundária. A amostragem primária é aquela feita no campo,
em esteiras rolantes de minerações, na linha de produção de alimentos, em rios,
em águas de sistemas de tratamento, nos fornos siderúrgicos, entre tantos outros
exemplos.
A amostragem primária requer a superação de inúmeros problemas poten-
ciais, que a tornam uma das operações mais difíceis em todo o processo analítico.
As principais fontes de incerteza incluem (i) definição dos objetivos da amostragem,
A sequência analítica
Capítulo 1 – 11
(ii) características da amostra (e.g. heterogeneidade, estado de agregação, composi-
ção, estabilidade, disponibilidade e distância do laboratório) e (iii) protocolo expe-
rimental, incluindo a disponibilidade de ferramentas de amostragem; preservação e
transporte das amostras; localização, número e tamanho das amostras. As incertezas
na amostragem são tratadas tanto na teoria de amostragem como na teoria dos erros
de amostragem. Essas teorias têm sido revistas e comentadas em diversos artigos,
destacando-se contribuições de Pierre Gy,12
Esbensen et al.13-15
e Ramsey e Thomp-
son7, 8
e uma análise crítica pelo Analytical Methods Committee da Royal Society of
Chemistry.16
A leitura desses artigos é altamente recomendável.
d) Pré-tratamento da amostra e separação
Em geral, a amostra deve ser convertida em uma forma adequada para
que a espécie química de interesse seja determinada. Somente na mais simples das
situações, a amostra poderá ser analisada sem qualquer tipo de pré-tratamento, que
poderá incluir ou não alguma forma de separação. Deve-se relembrar que, na se­­
quência analítica,3
as operações analíticas começam com a tomada de uma alíquota
da amostra laboratorial ou mesmo a partir da amostra laboratorial. Essa é a situ-
ação predominante neste livro. Em muitos casos, o pré-tratamento é um método
de separação. A digestão (decomposição) de um material orgânico, por exemplo,
permite a separação da fração orgânica, mantendo-se os analitos em uma solução.
Em outros casos, separa-se o analito da matriz por volatilização.
De qualquer forma, é necessário ter certeza de que o sinal obtido na etapa
de medição é devido somente ao analito e não à presença de espécies quimicamen-
te similares ao analito. Isso significa uma confirmação da identidade do analito.
A possibilidade de ocorrer, ou não, interferência por uma outra espécie química
dependerá da eficiência do método de separação e da seletividade/especificidade da
etapa de medição. Também é preciso garantir que o sinal medido não é gerado por
artefatos produzidos durante a manipulação da amostra.
Seletividade e especificidade são parâmetros de desempenho que avaliam a
confiabilidade dos resultados das medições (medidas) na presença de interferentes.
Apesar de não existir um consenso universal, um método é considerado específi-
co quando responder somente ao analito. Do ponto de vista prático, é necessário
verificar se o método de determinação pode ser usado na presença de concomi-
tantes (quaisquer espécies químicas diferentes do analito, presentes na amostra ou
A sequência analítica
Capítulo 1 – 12
na solução da amostra) especificando a quantidade (concentração ou massa) que
pode causar ou não a interferência. No método de determinação escolhido, essas
informações devem ser bem claras. Caso contrário, é necessário validar ou revalidar
o método quanto à seletividade/especificidade. Nessa validação, cabe ao químico
analítico decidir quais são os potenciais interferentes e testá-los de acordo com a
ocorrência nas amostras.
É oportuno observar que, dentre todas as operações analíticas, a etapa de
pré-tratamento das amostras é a mais crítica. Em geral, é nessa etapa que se come-
tem mais erros e que se gasta mais tempo. É também a etapa de maior custo.
Por isso, as etapas de um procedimento de pré-tratamento de amostra deverão ser
sempre consideradas cuidadosamente. Resultados de uma pesquisa relativamente
recente e endereçada a laboratórios, que já haviam participado de diversos ensaios
de proficiência, permitiram identificar que o preparo de amostras foi a principal
causa de resultados inadequados, seguida por erros humanos e problemas com
equipamentos.17
Esses resultados foram destaque do Analytical Methods Committee
da Royal Society of Chemistry em 2013.18
e) Medição
Trata-se da obtenção de dados analíticos a partir da amostra pré-tratada.
O resultado analítico é o valor final da concentração ou a quantidade do analito
na amostra. Em geral, esse resultado é obtido a partir de leituras de um medi-
dor (transdutor) que fornece uma medida de alguma quantidade física, como, por
exemplo, intensidade de emissão (espectrometrias de emissão atômica ou molecu-
lar) ou absorção (espectrometrias de absorção atômica ou molecular) em um deter-
minado comprimento de onda. A quantidade física que contém a informação sobre
a concentração do analito é denominada de sinal analítico.
f) Calibração
A maneira convencional para se fazer uma calibração em uma análise quí-
mica é submeter quantidades conhecidas do analito a um método de medida e
monitorar as medidas obtidas.
Na sequência analítica, a calibração se refere à obtenção de dados analíti-
cos a partir de padrões para calibração (soluções ou materiais sólidos) preparados
adequadamente e, quando possível, com rastreabilidade ao Sistema Internacional
A sequência analítica
Capítulo 1 – 13
de Unidades (SI). Em espectrometria atômica, por exemplo, as soluções padrão são
também denominadas de soluções de referência, a partir das quais se constrói uma
curva analítica de calibração ou, simplesmente, curva de calibração. Uma solução
de referência contém o analito no mesmo solvente da solução da amostra e, pos-
sivelmente, alguns concomitantes em concentrações conhecidas. Uma solução do
branco, ou simplesmente branco, é uma solução que intencionalmente não contém
o analito, mas que possui, sempre que possível, a mesma composição matricial da
solução da amostra. Um branco do solvente é o próprio solvente.
A Figura 1.2 mostra uma sequência analítica, na qual se observa o papel
da calibração e as tarefas para validação de métodos e controle de qualidade. Os
testes de recuperação (amostras com adição de analito), emprego de materiais de
referência apropriados (compatibilidade de matriz com a amostra) e outros mate-
riais (padrões secundários) são atividades operacionais utilizadas no controle de
qualidade, incluindo o branco analítico, que é empregado para estimar o limite
de detecção.
g) Avaliação
Interpretação dos resultados obtidos a partir das operações feitas em (e) e
(f), incluindo o controle de qualidade analítica por um procedimento adequado.
h) Ação
O resultado analítico será usado para uma decisão com respeito ao proble-
ma original. Nesse sentido, é importante que o analista seja capaz de traduzir os
resultados gerados durante a análise de amostras usando um método validado, em
resposta(s) que esteja(m) relacionada(s) com o problema analítico. As características
de desempenho do método, estabelecidas durante o processo de validação, contri-
buem para que a tomada de decisão seja feita com segurança. A repetibilidade e a
reprodutibilidade das medidas podem ser usadas para estabelecer se as diferenças
entre os resultados são significativas ou não. Os controles de qualidade, baseados
nos dados de validação, podem ser usados para confirmar se o método está sob con-
trole e produzindo resultados confiáveis. A estimativa da incerteza das medidas, em
consonância com o desempenho do método, permite a expressão do resultado den-
tro de uma faixa de valores (intervalo de confiança), na qual o valor mais provável
(valor considerado verdadeiro) pode ser aceito com determinado nível de confiança
A sequência analítica
Capítulo 1 – 14
(por exemplo, 95%). É importante que o analista sempre tenha acesso aos dados de
validação, usados para garantir a qualidade dos resultados.
Observações:
(i) 	 Em análises de rotina, o problema e o método devem ser previamente conhe-
cidos, lembrando que o método deve estar bem estabelecido (devidamente
validado);
Figura 1.2. Diagrama de uma sequência analítica indicando as etapas e as tarefas para obten-
ção de resultados com confiabilidade metrológica [adaptado de CITAC/EURACHEM3
].
A sequência analítica
Capítulo 1 – 15
(ii) 	Frequentemente a amostragem não é feita pelo analista, mas por outro
profissional habilitado. Idealmente, o analista deve sempre participar do
processo de amostragem; quando isso não for possível, deverá tomar ciên-
cia do processo de amostragem, com descrição detalhada dos materiais
utilizados;
(iii) 	 O analista terá sempre que fornecer o resultado analítico, mas nem sempre
é requisitado e/ou instruído para tomar uma decisão com respeito à defini-
ção do problema analítico. Em alguns casos, as incertezas inerentes ao méto-
do escolhido podem impedir e/ou prejudicar tomadas de decisão;
(iv) 	Em muitos casos, as operações de pré-tratamento de amostras, separação dos
constituintes de interesse, controle de qualidade com materiais de referência
e interpretação dos resultados e mesmo amostragem podem ser automati-
zados. Uma ação também pode ser automatizada em um instrumento de
controle de processo;
(v) 	Alguns métodos analíticos são absolutos, como os gravimétricos e os volu-
métricos, por exemplo, podendo dispensar o uso de padrões ou a curva de
calibração envolvendo soluções-padrão (soluções de referência), ou materiais
de referência certificados.
1.3. EFICIÊNCIA ANALÍTICA E ROBUSTEZ
Essencialmente, cada método analítico inclui algum tipo de pré-trata-
mento de amostra e, quase sempre, essa etapa consome a maior parte do trabalho
analítico. Assim, quando um método estiver sendo avaliado, seja quanto ao seu
desempenho ser adequado ou não para o propósito analítico, seja na comparação
com outros métodos, as etapas de pré-tratamento deverão ser cuidadosamente con-
sideradas porque poderão afetar:
i. 	 a precisão das medidas (repetibilidade e reprodutibilidade);
ii. 	 a exatidão dos resultados;
iii. 	os limites de detecção;
iv. 	 o tempo total e o esforço envolvidos na análise e, consequentemente, o cus-
to.
A sequência analítica
Capítulo 1 – 16
Em geral, o método selecionado deverá ser executado com o menor núme-
ro possível de operações de pré-tratamento, desde que seja capaz de fornecer resul-
tados analíticos com a devida confiabilidade metrológica.
Deve-se ter em mente que vários métodos instrumentais, como a espec-
trometria de fluorescência de raios X (XRF), análise por ativação neutrônica ins-
trumental (INAA), ablação com laser em espectrometria de massas com plasma
acoplado indutivamente (LA-ICP-MS), espectrometria de emissão óptica com
excitação por arco ou faísca, espectrometria de emissão óptica com plasma induzi-
do por laser (LIBS), espectrometria de absorção atômica em forno de grafite com
amostragem direta de sólidos (SS-GFAAS), exigem pouco ou até dispensam etapas
de pré-tratamento das amostras. Assim, esses métodos são, comparativamente, mais
eficientes que aqueles que exigem mais etapas de pré-tratamento.
Uma forma de se avaliar quão efetivo é um método analítico é verificar
como seu desempenho pode ser afetado, variando-se, deliberadamente, os fato-
res que possam prejudicar a qualidade dos resultados. Esses fatores são, geralmen-
te, identificados durante o desenvolvimento do método e sua influência sobre o
desempenho é avaliada com emprego de testes de robustez. Esses fatores devem ser
criteriosamente escolhidos para a correta avaliação da robustez, de tal forma que
seja possível identificar as variáveis que podem afetar significativamente o desempe-
nho do método e, ao mesmo tempo, garantir que essas estejam sob controle duran-
te o emprego do método. Geralmente, os testes de robustez são empregados para
avaliar os efeitos na precisão e exatidão das medidas, mas outras características de
desempenho podem ser avaliadas, como a sensibilidade e o limite de detecção. Um
método bem estabelecido para testar a robustez, conhecido como teste de Youden,
é descrito pela AOAC.19
Todos esses aspectos demonstram a complexidade das tarefas sucessivas
tipicamente envolvidas em uma análise química e o grau de especialização reque-
rido para planejá-las e executá-las com sucesso e confiabilidade. Recomenda-se a
leitura do guia editado pela CITAC/EURACHEM,3
que tem como objetivos a
orientação para a melhor prática das operações analíticas em um laboratório, além
de auxiliar na garantia da qualidade nos laboratórios, explicando o significado dos
requisitos de qualidade exigidos para fins de acreditação, certificação ou compro-
metimento do laboratório.
A sequência analítica
Capítulo 1 – 17
REFERÊNCIAS
1. 	 KRATOCHVIL, B.; TAYLOR, J. K. Sampling for chemical analysis. Analytical Chemis-
try, 53, 924A-938A, 1981.
2. 	 WOITTIES, J. R. W.; SLOOF, J. E. Sampling and Sample Preparation, In: Z. E. Alfassi,
Determination of Trace Elements, Weinheim: Verlag, 1994, pp. 59-107.
3. 	 CITAC/EURACHEM. Guide to Quality in Analytical Chemistry. An Aid to Accredita-
tion. Teddington: CITAC/EURACHEM, 2002. 57 p.
4. 	 ANDERSON, R. Sample Pretreatment and Separation. Chichester: John Wiley, 1991.
632 p.
5. 	 ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC nº 344, de 13 de
dezembro de 2002. Diário Oficial da União de 18/12/2002, Seção 1, p. 58-59.
6. 	 Ministério da Agricultura, Instrução Normativa n° 27 SDA de 05 de junho de 2006. Diário
Oficial da União de 09/06/2006, Seção 1, p. 15.
7. 	 RAMSEY, M. H.; THOMPSON, M. Uncertainty from sampling, in the context of fitness
for purpose. Accreditation and Quality Assurance, 12, 503-513, 2007.
8. 	 RAMSEY, M. H. Sampling the environment: Twelve key questions that need answers. Ge-
ostandards and Geoanalytical Research, 28, 251-261, 2004.
9. 	 HORWITZ, W. Nomenclature for sampling in analytical chemistry. Pure and Applied
Chemistry, 62, 1193-1208, 1990.
10. 	 BARNES, R. M.; SANTOS JR, D.; KRUG, F. J. Introduction to Sample Preparation
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11. 	 PETERSEN, L.; DAHL, C. K.; ESBENSEN, K. H. Representative mass reduction in sam-
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ratory Systems, 74, 95-114, 2004.
12. 	 GY, P. Sampling of discrete materials - a new introduction to the theory of sampling: I.
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13. 	 ESBENSEN, K. H.; RAMSEY, C. A. QC of sampling processes - A first overview: from
field to test portion. Journal of Aoac International, 98, 282-287, 2015.
14. 	 ESBENSEN, K. H.; WAGNER, C. Theory of sampling (TOS) versus measurement uncer-
tainty (MU) – A call for integration. TrAC Trends in Analytical Chemistry, 57, 93-106,
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15. 	 ESBENSEN, K. H.; GELADI, P. Principles of proper validation: use and abuse of re-sam-
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A sequência analítica
Capítulo 1 – 18
16. 	 ANALYTICAL METHODS COMMITTEE, A. N. Sampling theory and sampling uncer-
tainty. Analytical Methods, 7, 10085-10087, 2015.
17. 	 ELLISON, S. L. R.; HARDCASTLE, W. A. Causes of error in analytical chemistry: results
of a web-based survey of proficiency testing participants. Accreditation and Quality Assu-
rance, 17, 453-464, 2012.
18. 	 ANALYTICAL METHODS COMMITTEE, A. N. What causes most errors in chemical
analysis? Analytical Methods, 5, 2914-2915, 2013.
19. 	 YOUDEN, W. J.; STEINER, E. H. Statistical Manual of the AOAC. Arlington, Virginia:
Association of Official Analytical Chemists, 1975. 96 p.

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  • 1. Capítulo 1 A SEQUÊNCIA ANALÍTICA Francisco José Krug Joaquim de Araújo Nóbrega
  • 2.
  • 3. A sequência analítica Capítulo 1 – 3 “It is the capability of understanding and executing all phases of analysis that ultimately characterizes the true analytical chemist, even though he or she may possess special expertise in a particular separation or measurement technique.” Kratochvil e Taylor*, 1972 1 * Originalmente lembrados por Woitties e Sloof 2 1.1. INTRODUÇÃO A missão da química analítica é propor os meios para a determinação de uma ou mais espécies químicas (e.g. moléculas, íons e elementos) em diferentes materiais. Em princípio, a química analítica deve envolver um problema, que pode- rá ser solucionado analisando-se uma ou mais amostras por um método apropria- do. A análise direta (i.e. sem qualquer tratamento) in situ é, em princípio, a ideal para os analistas, pois a determinação das espécies de interesse pode ser feita dire- tamente no local de amostragem e a sequência analítica ficará restrita a poucas etapas, tornando-se mais simples. Entretanto, ainda são poucos os equipamentos com desempenho apropriado para a determinação em campo de espécies químicas de interesse em diferentes tipos de amostras. Dentre os recursos comercialmen- te disponíveis para determinações elementares in situ, destacam-se as espectrome- trias de fluorescência de raios X (XRF), de emissão óptica com excitação por faísca (SS-OES) e de emissão óptica com plasma induzido por laser (LIBS). Como nem sempre é possível analisar as amostras in situ, deve-se eleger um procedimento de amostragem e armazenamento das amostras de forma apropriada, para serem enca- minhadas ao laboratório, para a determinação do(s) elemento(s) de interesse, aqui denominado(s) de analito(s). Apesar da análise direta dessas amostras ser possível, em geral, também se requer uma ou mais etapas de preparo (e.g. homogeneização). A espectrometria atômica oferece alguns métodos para a análise direta de sólidos, os quais serão tratados neste livro, com foco no preparo das amostras. Não obstante, ainda predominam os métodos que requerem a transforma- ção da amostra em uma solução. No laboratório, a amostra poderá ser submetida a tratamentos preliminares (e.g. secagem e moagem), até a completa transformação
  • 4. A sequência analítica Capítulo 1 – 4 da amostra sólida em uma solução compatível com o método de determinação. A maneira de se dissolver e/ou decompor a amostra para a análise depende da sua natu- reza, do analito e de sua concentração, do método de determinação e da precisão e exatidão desejadas. Em alguns casos, a relação massa de amostra/volume de solução deve ser flexível para que a diluição da amostra seja compatível com o limite de detec- ção do método e com a faixa linear de resposta. O tratamento da amostra também poderá promover uma transformação da espécie química de interesse para uma forma que seja apropriada para a aplicação do método de determinação selecionado. 1.2. ETAPAS E TAREFAS NA SEQUÊNCIA ANALÍTICA Antes de se proceder ao estudo detalhado sobre pré-tratamento de amos- tras, é conveniente rever as etapas que um analista deverá considerar para a reali- zação das análises. Essas etapas são dispostas em uma sequência, algumas das quais são comentadas neste capítulo. Segundo o guia CITAC/EURACHEM,3 a análise é uma investigação com- plexa que pode ser resumida por uma série de tarefas (etapas). Nem sempre todas as tarefas são obrigatórias. As medidas não devem ser realizadas apenas como uma das etapas, pois elas dependem de um processo iterativo que envolve: • Especificação das necessidades • Revisão das informações * • Criação* • Plano de estudos* • Amostragem • Preparo das amostras • Análise preliminar* • Identificação/confirmação da composição química • Análise quantitativa • Coleta e revisão de dados • Interpretação dos dados/solução do problema • Relatório dos resultados/aconselhamento As tarefas marcadas com asterisco têm maior importância no contexto das análises que não são feitas em rotina.
  • 5. A sequência analítica Capítulo 1 – 5 Neste livro, algumas recomendações do Guide to Quality for Analytical Chemistry, editado pelo CITAC e EURACHEM,3 serão mencionadas na sequência analítica proposta na monografia de Anderson,4 segundo a qual as principais etapas são: a) Definição do problema Este deve ser o primeiro passo no planejamento de uma análise, i.e. deve-se responder à questão: “qual é a informação analítica desejada?” A definição do pro- blema estabelece os objetivos qualitativos, quantitativos e/ou estruturais (ou tem- porais) da sequência analítica. A informação desejada pode ser o teor de ferro em farinha de trigo enriquecida com vistas à Resolução-RDC N° 344 da ANVISA,5 ou os teores de cádmio e chumbo em fertilizantes, que atendam ao disposto na Instru- ção Normativa n° 27 de 2006 do Ministério da Agricultura,6 por exemplo. b) Escolha do método A escolha do método de análise para a determinação das espécies químicas pode se basear em vários critérios e, idealmente, o método selecionado deverá ser devidamente validado. Está implícito que os métodos de preparo da amostra e de determinação escolhidos devem ser compatíveis. Se o método de determinação permitir a análise direta de sólidos, a qualidade do preparo da amostra poderá depender, por exem- plo, do método de moagem, visando à diminuição de microheterogeneidade das amostras; se o método de determinação permitir somente a análise de soluções, está implícito que o método de decomposição deverá proporcionar a transformação da amostra em uma solução representativa da amostra original e compatível com a instrumentação. Assim, é imprescindível que o método de determinação seja escolhido a priori, para que se possa definir a estratégia mais apropriada para a obtenção dos resultados analíticos que permitam a solução do problema. Com base nesta escolha é que se define o método de amostragem e como a amostra deverá ser preparada antes de proceder à determinação dos analitos. Essa escolha requer conhecimento sobre as dificuldades que poderão limitar o desempenho do método de determina- ção. De fato, há inúmeros casos em que o método de determinação é escolhido sem que se tenha conhecimento de como as amostras deverão ser preparadas. De qual-
  • 6. A sequência analítica Capítulo 1 – 6 quer forma, a partir do momento em que se souber exatamente qual é a informação desejada, pode-se decidir com detalhes como ela será obtida: i. O método de análise deve ser eficiente e, sempre que possível, simples e rápi- do; ii. O método de análise não deve implicar em danos aos materiais nos quais as amostras serão tratadas e analisadas; iii. O método de análise não deverá ser passível de erros sistemáticos (e.g. riscos de contaminações, perdas por volatilização e perdas por adsorção); iv. A seletividade do método deverá ser previamente conhecida; v. As amostras deverão ser processadas com mínima manipulação; vi. É imprescindível que os resultados sejam obtidos com a máxima segurança operacional. Idealmente, a escolha deverá ser feita por um método devidamente valida- do. A validação de um método estabelece, a partir de estudos sistemáticos em labo- ratório(s), se o método possui características para produzir resultados para a solução do problema analítico. A validação é um processo que estabelece as características de desempenho e as limitações de um método analítico, permitindo identificar os fatores que podem afetar as características de desempenho. Assim, o processo de validação estabelecerá quais analitos poderão ser determinados, especificando-se a matriz ou as matrizes e os riscos de interferências. Além disso, nas condições estabe- lecidas, será possível prever os níveis de precisão e exatidão alcançados. A validação deve fornecer subsídios ao usuário do método, para que se saiba, com antecedên- cia, em que condições o método selecionado será apropriado para a obtenção de resultados que possibilitem a solução do problema. Quando se tratar do preparo de amostras sólidas, por exemplo, deve ficar bem claro que o método de preparo é válido para as amostras de interesse, que as amostras deverão ser secas (condições de secagem explícitas) e moídas apropriadamente (tipo e características do moi- nho, grau de cominuição das partículas e tempo mínimo de moagem), os limites para a massa da porção amostrada, a classe de limpeza do ar do laboratório, se há necessidade ou não de controle de umidade (uso de dessecadores) e de temperatura durante o armazenamento. Se as amostras forem digeridas, por exemplo, deve-se informar que o método de digestão é compatível (apropriado) com o(s) método(s) de determinação do(s) analito(s). Nesse aspecto, está implícito que o método de determinação faz parte do processo de validação.
  • 7. A sequência analítica Capítulo 1 – 7 Para melhor orientar o analista quanto à escolha do método, recomenda-se, também, considerar as restrições de tempo e de custo, a incerteza dos resultados, bem como a necessidade de rastreabilidade e de controle e garantia de qualidade. Nota sobre os conceitos de técnica, método e procedimento analítico A intenção desta nota é comentar como estes termos podem ser empregados na química analítica sem que haja prejuízo para o bom entendimento deste texto. Em princípio, não existe consenso na literatura sobre o emprego dos termos técnica e méto- do, e o que se observa, na prática, é o uso de ambos como sinônimos. Não obstante, o termo técnica pode ser empregado em um sentido mais amplo, que guarda o princípio, e o método como o meio de se utilizar esse princípio. Assim, espectrometria de absorção atômica é uma técnica analítica, que se baseia na medida da absorção de radiação da região UV ou visível do espectro eletro- magnético por átomos gasosos no estado fundamental, ao passo que a chama e o forno de grafite podem ser os métodos de atomização empregados. Assim, seria apropriado dizer que a espectrometria de absorção atômica com chama é um método analítico. O mesmo raciocínio pode ser feito com a técnica de espectrometria de emissão óptica, que pode ser classificada de acordo com o método de excitação (arco elétrico, faísca elétrica, plasma indutivamente acoplado, plasma induzido por laser), com a técnica de espectrometria de absorção molecular com diferentes métodos espectrofotométri- cos (azul de molibdênio, cianina eriocromo R, tiocianato, ditizona etc), e com outras técnicas. Na literatura o termo procedimento tem sido usado de forma consensual, no qual os detalhes dos métodos de amostragem, de preparo da amostra e de determina- ção são descritos com a necessária clareza para a obtenção dos resultados e para a sua reprodução por outros laboratórios ou por outro analista de um mesmo laboratório. c) Amostragem Exceto nas análises in situ, as análises químicas são sempre precedidas pela amostragem. Seleciona-se uma pequena quantidade de material (a amostra) para determinar a composição química de uma população muitíssimo maior. Idealmen-
  • 8. A sequência analítica Capítulo 1 – 8 te, a amostra deveria ter exatamente a mesma composição da população a ser amos- trada, ou seja, a parte deve ser uma representação perfeita do todo mas, teoricamen- te, isso nunca acontece, e as discrepâncias dão origem às incertezas na amostragem.7 Assim, é comum afirmar que a amostragem é um processo que consiste na seleção e remoção de uma pequena parte de um todo, que seja representativa, mas suficiente para cumprir o objetivo analítico. Segundo Ramsey,8 o termo “amos- tragem representativa” é subjetivo e pode ser melhor compreendido como “amos- tragem suficientemente representativa” ou apropriada, que proporcione resultados com níveis de incerteza aceitáveis para a tomada de decisão. A terminologia relacionada ao processo de amostragem pode confundir o leitor, pois alguns termos não são consistentes entre uma e outra aplicação. Para evitar confusão, os termos usados devem ser claramente definidos. É importante garantir a mesma terminologia na comparação de dois ou mais métodos de amos- tragem. Não obstante, cabe mencionar que existe uma recomendação da IUPAC, proposta por Horwitz em 1990,9 cujos termos originais são apresentados entre parênteses: • Amostra (sample): porção que representa o todo. A amostra representa toda a população de interesse. Pode ser coletada em um único local ou ser uma amostra composta. A amostra composta é resultante da mistura de várias amostras coletadas em diferentes locais dentro da população de interesse. • Sub-amostra (subsample): quando a amostra é homogeneizada e dividida entre diferentes laboratórios, ou quando a amostra é grande e somente uma parte é levada ao laboratório de análise. • Amostra laboratorial (laboratory sample): amostra ou sub-amostra entregue no laboratório. • Amostra teste (test sample): amostra preparada no laboratório de análise a partir da amostra ou sub-amostra entregue no laboratório. Cabe mencionar que, apesar de o termo preparo de amostra ser apropriado para descrever esta etapa de amostragem, o preparo poderá envolver outros tratamentos. • Porção amostrada, alíquota amostrada, alíquota (test portion): refere-se ao material que foi pesado ou selecionado para análise a partir da amostra laboratorial. Essa porção pode ser selecionada diretamente da amostra pri- mária ou da sub-amostra. Geralmente, seleciona-se uma alíquota ou porção da amostra teste.
  • 9. A sequência analítica Capítulo 1 – 9 Notas: (i) Quando a amostra ou sub-amostra passa por tratamentos no laboratório, como uma cominuição precedida de quarteamento, mistura e moagem, por exemplo, a amostra laboratorial é transformada na amostra teste. Quando nenhuma preparação da amostra laboratorial se fizer necessária, a amostra laboratorial é a própria amostra teste. (ii) A amostra laboratorial é a amostra final do ponto de vista de quem a coletou, mas é a amostra inicial do ponto de vista do laboratório de análises. Cabe mencionar que, segundo o guia CITAC/EURACHEM,3 as opera- ções analíticas começam com a pesagem da amostra teste ou da própria amostra laboratorial, conforme o diagrama da Figura 1.1. Figura 1.1. Diagrama de amostragem no laboratório. Adaptada da referência 10. Se a porção amostrada não for apropriada, não será possível relacionar o resultado analítico com a composição do material original, independentemente da qualidade do método e de todos os cuidados para a determinação do analito. Assim, cabe destacar que, mesmo aplicando-se um procedimento analítico devidamente vali- dado e por mais cuidadoso que seja o seu emprego, um problema analítico somente será resolvido se as amostras forem apropriadas para a solução do problema. A amostragem requer experiência e conhecimento sobre o problema e a química relacionada com o preparo da amostra. Para a seleção de amostra(s) apro-
  • 10. A sequência analítica Capítulo 1 – 10 priada(s) recomenda-se que a seleção de uma ou mais amostras do material de interesse seja feita por especialista com conhecimento de toda a sequência analítica. A amostragem sempre contribui para a incerteza dos resultados. Como será visto no Capítulo 5, existem métodos que requerem porções amostradas meno- res que 1 mg e, consequentemente, as incertezas devidas à amostragem laboratorial tornam-se mais importantes, pois terão uma maior contribuição na incerteza dos resultados. Nesse sentido, deve ficar implícito que: • a alíquota (porção amostrada) deverá representar a amostra laboratorial; • para garantir que a alíquota seja apropriada, é necessário reduzir o tamanho das partículas, o que é feito usando métodos de moagem; • não deverá haver segregação dos constituintes da amostra durante o pré-tra- tamento e seleção da alíquota; • devem-se prever riscos de contaminação. De acordo com Petersen et al.11 somente a teoria de amostragem fornece subsídios que permitem estabelecer, compreensivelmente, como deve ser feita a amos- tragem e a quantidade de material que deverá ser selecionada de um lote. Para muitos tipos de amostras heterogêneas, frequentemente a amostra primária tem que ter uma massa considerável para que seja representativa, a qual depende decisivamente da qualidade do amostrador. O artigo de Petersen et al.11 faz uma análise de desempenho de diversos instrumentos de amostragem existentes no mercado, destacando os méto- dos mais eficientes para que a redução de massa da amostra primária para a amostra laboratorial seja, de fato, apropriada. No caso de amostras sólidas, por exemplo, cabe lembrar que as reduções de massa são da ordem de 1:1000 a 1:10000 vezes e que as porções amostradas são, tipicamente, menores que 1 g. No contexto da teoria de amostragem, a amostra laboratorial deve ser clas- sificada como amostra secundária. A amostragem primária é aquela feita no campo, em esteiras rolantes de minerações, na linha de produção de alimentos, em rios, em águas de sistemas de tratamento, nos fornos siderúrgicos, entre tantos outros exemplos. A amostragem primária requer a superação de inúmeros problemas poten- ciais, que a tornam uma das operações mais difíceis em todo o processo analítico. As principais fontes de incerteza incluem (i) definição dos objetivos da amostragem,
  • 11. A sequência analítica Capítulo 1 – 11 (ii) características da amostra (e.g. heterogeneidade, estado de agregação, composi- ção, estabilidade, disponibilidade e distância do laboratório) e (iii) protocolo expe- rimental, incluindo a disponibilidade de ferramentas de amostragem; preservação e transporte das amostras; localização, número e tamanho das amostras. As incertezas na amostragem são tratadas tanto na teoria de amostragem como na teoria dos erros de amostragem. Essas teorias têm sido revistas e comentadas em diversos artigos, destacando-se contribuições de Pierre Gy,12 Esbensen et al.13-15 e Ramsey e Thomp- son7, 8 e uma análise crítica pelo Analytical Methods Committee da Royal Society of Chemistry.16 A leitura desses artigos é altamente recomendável. d) Pré-tratamento da amostra e separação Em geral, a amostra deve ser convertida em uma forma adequada para que a espécie química de interesse seja determinada. Somente na mais simples das situações, a amostra poderá ser analisada sem qualquer tipo de pré-tratamento, que poderá incluir ou não alguma forma de separação. Deve-se relembrar que, na se­­ quência analítica,3 as operações analíticas começam com a tomada de uma alíquota da amostra laboratorial ou mesmo a partir da amostra laboratorial. Essa é a situ- ação predominante neste livro. Em muitos casos, o pré-tratamento é um método de separação. A digestão (decomposição) de um material orgânico, por exemplo, permite a separação da fração orgânica, mantendo-se os analitos em uma solução. Em outros casos, separa-se o analito da matriz por volatilização. De qualquer forma, é necessário ter certeza de que o sinal obtido na etapa de medição é devido somente ao analito e não à presença de espécies quimicamen- te similares ao analito. Isso significa uma confirmação da identidade do analito. A possibilidade de ocorrer, ou não, interferência por uma outra espécie química dependerá da eficiência do método de separação e da seletividade/especificidade da etapa de medição. Também é preciso garantir que o sinal medido não é gerado por artefatos produzidos durante a manipulação da amostra. Seletividade e especificidade são parâmetros de desempenho que avaliam a confiabilidade dos resultados das medições (medidas) na presença de interferentes. Apesar de não existir um consenso universal, um método é considerado específi- co quando responder somente ao analito. Do ponto de vista prático, é necessário verificar se o método de determinação pode ser usado na presença de concomi- tantes (quaisquer espécies químicas diferentes do analito, presentes na amostra ou
  • 12. A sequência analítica Capítulo 1 – 12 na solução da amostra) especificando a quantidade (concentração ou massa) que pode causar ou não a interferência. No método de determinação escolhido, essas informações devem ser bem claras. Caso contrário, é necessário validar ou revalidar o método quanto à seletividade/especificidade. Nessa validação, cabe ao químico analítico decidir quais são os potenciais interferentes e testá-los de acordo com a ocorrência nas amostras. É oportuno observar que, dentre todas as operações analíticas, a etapa de pré-tratamento das amostras é a mais crítica. Em geral, é nessa etapa que se come- tem mais erros e que se gasta mais tempo. É também a etapa de maior custo. Por isso, as etapas de um procedimento de pré-tratamento de amostra deverão ser sempre consideradas cuidadosamente. Resultados de uma pesquisa relativamente recente e endereçada a laboratórios, que já haviam participado de diversos ensaios de proficiência, permitiram identificar que o preparo de amostras foi a principal causa de resultados inadequados, seguida por erros humanos e problemas com equipamentos.17 Esses resultados foram destaque do Analytical Methods Committee da Royal Society of Chemistry em 2013.18 e) Medição Trata-se da obtenção de dados analíticos a partir da amostra pré-tratada. O resultado analítico é o valor final da concentração ou a quantidade do analito na amostra. Em geral, esse resultado é obtido a partir de leituras de um medi- dor (transdutor) que fornece uma medida de alguma quantidade física, como, por exemplo, intensidade de emissão (espectrometrias de emissão atômica ou molecu- lar) ou absorção (espectrometrias de absorção atômica ou molecular) em um deter- minado comprimento de onda. A quantidade física que contém a informação sobre a concentração do analito é denominada de sinal analítico. f) Calibração A maneira convencional para se fazer uma calibração em uma análise quí- mica é submeter quantidades conhecidas do analito a um método de medida e monitorar as medidas obtidas. Na sequência analítica, a calibração se refere à obtenção de dados analíti- cos a partir de padrões para calibração (soluções ou materiais sólidos) preparados adequadamente e, quando possível, com rastreabilidade ao Sistema Internacional
  • 13. A sequência analítica Capítulo 1 – 13 de Unidades (SI). Em espectrometria atômica, por exemplo, as soluções padrão são também denominadas de soluções de referência, a partir das quais se constrói uma curva analítica de calibração ou, simplesmente, curva de calibração. Uma solução de referência contém o analito no mesmo solvente da solução da amostra e, pos- sivelmente, alguns concomitantes em concentrações conhecidas. Uma solução do branco, ou simplesmente branco, é uma solução que intencionalmente não contém o analito, mas que possui, sempre que possível, a mesma composição matricial da solução da amostra. Um branco do solvente é o próprio solvente. A Figura 1.2 mostra uma sequência analítica, na qual se observa o papel da calibração e as tarefas para validação de métodos e controle de qualidade. Os testes de recuperação (amostras com adição de analito), emprego de materiais de referência apropriados (compatibilidade de matriz com a amostra) e outros mate- riais (padrões secundários) são atividades operacionais utilizadas no controle de qualidade, incluindo o branco analítico, que é empregado para estimar o limite de detecção. g) Avaliação Interpretação dos resultados obtidos a partir das operações feitas em (e) e (f), incluindo o controle de qualidade analítica por um procedimento adequado. h) Ação O resultado analítico será usado para uma decisão com respeito ao proble- ma original. Nesse sentido, é importante que o analista seja capaz de traduzir os resultados gerados durante a análise de amostras usando um método validado, em resposta(s) que esteja(m) relacionada(s) com o problema analítico. As características de desempenho do método, estabelecidas durante o processo de validação, contri- buem para que a tomada de decisão seja feita com segurança. A repetibilidade e a reprodutibilidade das medidas podem ser usadas para estabelecer se as diferenças entre os resultados são significativas ou não. Os controles de qualidade, baseados nos dados de validação, podem ser usados para confirmar se o método está sob con- trole e produzindo resultados confiáveis. A estimativa da incerteza das medidas, em consonância com o desempenho do método, permite a expressão do resultado den- tro de uma faixa de valores (intervalo de confiança), na qual o valor mais provável (valor considerado verdadeiro) pode ser aceito com determinado nível de confiança
  • 14. A sequência analítica Capítulo 1 – 14 (por exemplo, 95%). É importante que o analista sempre tenha acesso aos dados de validação, usados para garantir a qualidade dos resultados. Observações: (i) Em análises de rotina, o problema e o método devem ser previamente conhe- cidos, lembrando que o método deve estar bem estabelecido (devidamente validado); Figura 1.2. Diagrama de uma sequência analítica indicando as etapas e as tarefas para obten- ção de resultados com confiabilidade metrológica [adaptado de CITAC/EURACHEM3 ].
  • 15. A sequência analítica Capítulo 1 – 15 (ii) Frequentemente a amostragem não é feita pelo analista, mas por outro profissional habilitado. Idealmente, o analista deve sempre participar do processo de amostragem; quando isso não for possível, deverá tomar ciên- cia do processo de amostragem, com descrição detalhada dos materiais utilizados; (iii) O analista terá sempre que fornecer o resultado analítico, mas nem sempre é requisitado e/ou instruído para tomar uma decisão com respeito à defini- ção do problema analítico. Em alguns casos, as incertezas inerentes ao méto- do escolhido podem impedir e/ou prejudicar tomadas de decisão; (iv) Em muitos casos, as operações de pré-tratamento de amostras, separação dos constituintes de interesse, controle de qualidade com materiais de referência e interpretação dos resultados e mesmo amostragem podem ser automati- zados. Uma ação também pode ser automatizada em um instrumento de controle de processo; (v) Alguns métodos analíticos são absolutos, como os gravimétricos e os volu- métricos, por exemplo, podendo dispensar o uso de padrões ou a curva de calibração envolvendo soluções-padrão (soluções de referência), ou materiais de referência certificados. 1.3. EFICIÊNCIA ANALÍTICA E ROBUSTEZ Essencialmente, cada método analítico inclui algum tipo de pré-trata- mento de amostra e, quase sempre, essa etapa consome a maior parte do trabalho analítico. Assim, quando um método estiver sendo avaliado, seja quanto ao seu desempenho ser adequado ou não para o propósito analítico, seja na comparação com outros métodos, as etapas de pré-tratamento deverão ser cuidadosamente con- sideradas porque poderão afetar: i. a precisão das medidas (repetibilidade e reprodutibilidade); ii. a exatidão dos resultados; iii. os limites de detecção; iv. o tempo total e o esforço envolvidos na análise e, consequentemente, o cus- to.
  • 16. A sequência analítica Capítulo 1 – 16 Em geral, o método selecionado deverá ser executado com o menor núme- ro possível de operações de pré-tratamento, desde que seja capaz de fornecer resul- tados analíticos com a devida confiabilidade metrológica. Deve-se ter em mente que vários métodos instrumentais, como a espec- trometria de fluorescência de raios X (XRF), análise por ativação neutrônica ins- trumental (INAA), ablação com laser em espectrometria de massas com plasma acoplado indutivamente (LA-ICP-MS), espectrometria de emissão óptica com excitação por arco ou faísca, espectrometria de emissão óptica com plasma induzi- do por laser (LIBS), espectrometria de absorção atômica em forno de grafite com amostragem direta de sólidos (SS-GFAAS), exigem pouco ou até dispensam etapas de pré-tratamento das amostras. Assim, esses métodos são, comparativamente, mais eficientes que aqueles que exigem mais etapas de pré-tratamento. Uma forma de se avaliar quão efetivo é um método analítico é verificar como seu desempenho pode ser afetado, variando-se, deliberadamente, os fato- res que possam prejudicar a qualidade dos resultados. Esses fatores são, geralmen- te, identificados durante o desenvolvimento do método e sua influência sobre o desempenho é avaliada com emprego de testes de robustez. Esses fatores devem ser criteriosamente escolhidos para a correta avaliação da robustez, de tal forma que seja possível identificar as variáveis que podem afetar significativamente o desempe- nho do método e, ao mesmo tempo, garantir que essas estejam sob controle duran- te o emprego do método. Geralmente, os testes de robustez são empregados para avaliar os efeitos na precisão e exatidão das medidas, mas outras características de desempenho podem ser avaliadas, como a sensibilidade e o limite de detecção. Um método bem estabelecido para testar a robustez, conhecido como teste de Youden, é descrito pela AOAC.19 Todos esses aspectos demonstram a complexidade das tarefas sucessivas tipicamente envolvidas em uma análise química e o grau de especialização reque- rido para planejá-las e executá-las com sucesso e confiabilidade. Recomenda-se a leitura do guia editado pela CITAC/EURACHEM,3 que tem como objetivos a orientação para a melhor prática das operações analíticas em um laboratório, além de auxiliar na garantia da qualidade nos laboratórios, explicando o significado dos requisitos de qualidade exigidos para fins de acreditação, certificação ou compro- metimento do laboratório.
  • 17. A sequência analítica Capítulo 1 – 17 REFERÊNCIAS 1. KRATOCHVIL, B.; TAYLOR, J. K. Sampling for chemical analysis. Analytical Chemis- try, 53, 924A-938A, 1981. 2. WOITTIES, J. R. W.; SLOOF, J. E. Sampling and Sample Preparation, In: Z. E. Alfassi, Determination of Trace Elements, Weinheim: Verlag, 1994, pp. 59-107. 3. CITAC/EURACHEM. Guide to Quality in Analytical Chemistry. An Aid to Accredita- tion. Teddington: CITAC/EURACHEM, 2002. 57 p. 4. ANDERSON, R. Sample Pretreatment and Separation. Chichester: John Wiley, 1991. 632 p. 5. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC nº 344, de 13 de dezembro de 2002. Diário Oficial da União de 18/12/2002, Seção 1, p. 58-59. 6. Ministério da Agricultura, Instrução Normativa n° 27 SDA de 05 de junho de 2006. Diário Oficial da União de 09/06/2006, Seção 1, p. 15. 7. RAMSEY, M. H.; THOMPSON, M. Uncertainty from sampling, in the context of fitness for purpose. Accreditation and Quality Assurance, 12, 503-513, 2007. 8. RAMSEY, M. H. Sampling the environment: Twelve key questions that need answers. Ge- ostandards and Geoanalytical Research, 28, 251-261, 2004. 9. HORWITZ, W. Nomenclature for sampling in analytical chemistry. Pure and Applied Chemistry, 62, 1193-1208, 1990. 10. BARNES, R. M.; SANTOS JR, D.; KRUG, F. J. Introduction to Sample Preparation for Trace Element Determination, In: E. M. M. Flores, Ed., Microwave-Assisted Sample Preparation for Trace Element Determination, Elsevier, Amsterdam, 2014, pp. 1-58. 11. PETERSEN, L.; DAHL, C. K.; ESBENSEN, K. H. Representative mass reduction in sam- pling - a critical survey of techniques and hardware. Chemometrics and Intelligent Labo- ratory Systems, 74, 95-114, 2004. 12. GY, P. Sampling of discrete materials - a new introduction to the theory of sampling: I. Qualitative approach. Chemometrics and Intelligent Laboratory Systems, 74, 7-24, 2004. 13. ESBENSEN, K. H.; RAMSEY, C. A. QC of sampling processes - A first overview: from field to test portion. Journal of Aoac International, 98, 282-287, 2015. 14. ESBENSEN, K. H.; WAGNER, C. Theory of sampling (TOS) versus measurement uncer- tainty (MU) – A call for integration. TrAC Trends in Analytical Chemistry, 57, 93-106, 2014. 15. ESBENSEN, K. H.; GELADI, P. Principles of proper validation: use and abuse of re-sam- pling for validation. Journal of Chemometrics, 24, 168-187, 2010.
  • 18. A sequência analítica Capítulo 1 – 18 16. ANALYTICAL METHODS COMMITTEE, A. N. Sampling theory and sampling uncer- tainty. Analytical Methods, 7, 10085-10087, 2015. 17. ELLISON, S. L. R.; HARDCASTLE, W. A. Causes of error in analytical chemistry: results of a web-based survey of proficiency testing participants. Accreditation and Quality Assu- rance, 17, 453-464, 2012. 18. ANALYTICAL METHODS COMMITTEE, A. N. What causes most errors in chemical analysis? Analytical Methods, 5, 2914-2915, 2013. 19. YOUDEN, W. J.; STEINER, E. H. Statistical Manual of the AOAC. Arlington, Virginia: Association of Official Analytical Chemists, 1975. 96 p.