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José Arthur da Frota Moreira
— em relembrança
8 8 ÜANDO, aqueía noite, na sala deserta daquela casa cheia da montanha
em torno
O tempo convergiu para a morte e houve uma cessação extranha seguida de
tá

um debruçar do instante para o outro instante
Ante o meu olhar absorto o relógio avançou e foi como si eu tivesse me identificado a ele e estivesse batendo soturnamente a Meia-Noite
E na ordem de horror que o silendo fazia pulsai* como um coração dentro
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Eu senti que a Natureza tinha entrado invisivelmente atravez as paredes
e se plantara aos meus olhos em toda a sua fixidez noturna
B, que eu estava no meio dela e á minha volta havia arvores dormindo e
flores desacordadas pela treva.

-5-
•

^ OMO que a solidão traz a presença invisivel de um cadáver —e pára
mim era como si a Natureza estivesse morta

Eu. aspirava a sua respiração ácida e presentia a sua deglutição monstruosa
mas para mim era como si ela estivesse morta
Paralisada e fria, imensamente erguida em sua sombra imóvel para o ceü*
alto e sem lua
E nenhum grito, nenhum sussurro de água nos rios correndo, nenhum écÒ
- nas quebradas ermas
Nenhum desespero nas lianas pendidas, nenhuma fome no muco aflorado ctgl
plantas carnívoras
Nenhuma voz, nenhum apelo da terra, nenhuma lamentação de folhas, nada.

-6
l"^M

vã

o eu atirava os braços para as orquídeas insensíveis junto aos
lirios inermes como velhos falus

Inutilmente corria cego e cabeceante por entre o» troncos cujas parasitas
eram como a miséria da vaidade senil dos homens
Nada se movia como si o medo tivesse matado em mim a mocidade e gelado
o sangue capaz de acorda-los
E já o suor corria do meu corpo e as lagrimas dos meus olhos ao contato
dos cactus esbarrados na alucinação da fuga
E a loucura dos pés parecia galgar lentamente os membros em busca do
pensamento
Quando eu caí no ventre quente de uma campina de vegetação humida e
sobre a qual afundei minha carne.
•*•*' OI então que eu compreendi que só em mim havia a morte e que tildo
estava profundamente vivo
Só então vi as folhas caindo, os rios correndo, os troncos pulsando, as flores
se erguendo
E ouvi os gemidos dos galhos tremendo, dos gineceus se abrindo, das borboletas noivas se finando
E tão grande fòi a minha dôr que angtístipsamenté eu abracei â terra como
si qüizesse fecunda-la
Mas ela me lançou fora como si não houvesse força em mim e como si ela
não me desejasse
E eu mè vi só, nú e só, e era como si a traição tivesse me envelhecido] éiías*^

8-'
H

RISTEMENTE me brotou da alma o branco nome da Amada e eu
murmurei — Ariana!

E sem pensar eu caminhei tropego como a visão do Tempo e murmurava —
Ariana 1
E tudo em mim buscava Ariana e não havia Ariana em nenhuma parte.
Mas si Ariana era a floresta porque não havia de ser Ariana a terra?
Si Ariana era a morte porque não havia de ser Ariana a vida?
Porque?—si tudo era Ariana e só Ariana havia e nada fora de Ariana?

9-
M^L AIXEI á terra de joelhos e a boca colada ao seu seio disse muito
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sou Ariana!
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Ariana.
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a parte e que estás em cada uma?
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Porque me persegues e me foges e porque me cegas si me dás uma twi é
restas longe?

10-
lf

AS nada me

respondeu eu prosegui na minha peregrinação atravez a

campina
E dizia: Sei que tudo é infinito! —e o pio das aves me trazia o grito dos
•

•

•

*

:

•

•

sertões desaparecidos
E as pedras do caminho me traziam os abismos e a terra seca a sede nas
fontes.
No entanto era como si eu fosse a alimaria de um anjo que me chicoteava
— Ariana!
E eu caminhava cheio do castigo e em busca do martírio de Ariana
A branca Amada salva das águas e a quem fora prometido o trono do
mundo.

-11
eis que galgando um monte surgiram luzes e após janelas iluminadas
e após cábanãs iluminadas
E após ruas iluminadas e após lugarejos iluminados como fogos no mátft
noturno
E grandes redes de pescar secavam ás portas e se ouvia o bater das forjai^
E eu perguntei: Pescadores, onde está Ariana? — e eles me mostravani *
o
peixe
Ferreiros, onde está Ariana? — e eles me mostravam o fogo
Mulheres, onde está Ariana? — e elas me mostravam o sexo.

-12
Jlfl

A S lo

S° ^ ouviram gritos e dansas, e gaitas tocavam e guizos batiam

Eu caminhava, e aos poucos o ruido ia se alongando á medida que eu penetrava na savana
No entanto era como si o canto que me chegava entoasse — Ariana!
E eu pensei: Talvez eu encontre Ariana na Cidade de Ouro! porque não
seria Ariana a mulher perdida?
Porque não seria Ariana a moeda em que o obreiro gravou a efigie de
Gesar?
Porque não seria Ariana a mercadoria do Templo ou a purpura bordada do
altar do Templo?

-13-
• ^

mergulhei nos subterranios e nas torres da Cidade de Ouro mág nãp
encontrei Ariana

A's vezes indagava — e um poderoso fariseu me disse irado: Cão de Deus,
tu és Ariana!...
E talvez porque eu fosse realmente o Cão de Deus eu não compreendi a
palavra do homem rico
Mas Ariana não era a mulher, nem a moeda, nem a mercadoria, nem a;?
purpura
E eu disse comigo: Em todo lugar menos que aqui estaiá Ariana
E eu compreendi que só onde cabia Deus' cabia Ariana, -

lá
m0A NTÃO cantei: Ariana, chicote de Deus castigando Ariana! e disse muitas
palavras inexistentes
E imitei a voz dos pássaros e espesinhei sobre a urtiga mas não espesinheí
sobre a cicuta santa
Era como si um raio tivesse me ferido e corresse desatinado dentro das
minhas entranhas.
As mãos em concha, no alto dos morros ou nos rales eu gritava — Ariana!
E muitas vezes o éco ajuntava: Ariana... a n a . . .
E os trovões desdobravam no ceu a palavra—Ariana.

-15-
B " * como a uma ordem extranha, as serpentes saiam das tocas e comiam
os ratos
Os porcos endemoninhados se devoravam, os cisnes tombavam cantanfg
nos lagos
E os corvos e os abutres caiam feridos por legiões de águias precipitadas.
E misteriosamente o joio se separava db trigo nos campos desertos
E os milharais descendo os braços trituravam as formigas no solo
E envenenadas pela terra decomposta as figueiras se tornavam profunda-

mente secas.

»
I • ENTRO em pouco todos corriam a mim, homens varões e mulheres desposadas
Umas me diziam: Meu senhor, meu filho morre! e outras eram cegas c
paraliticas
E os homens me apontavam as plantações estorricadas e as vacas magras.
E eu dizia: Eu sou o Enviado do Mal! e imediatamente as crianças morriam
E os cegos se tornavam paraliticos e os paraliticos cegos
E as plantações se tornavam pó que o vento carregava e que sufocava as
vacas magras.

-17
íl i

A

® como quizessem me correr eu falava olhando a dor e maceração cios
corpos
-

Não temas, povo escravo! A mim me morreu a alma mais do que o filho.
e me assaltou a indiferença mais do que a lepra
A mim se fez pó a carne mais do que o trigo e se sufocou a poesia mais.
do que a vaca magra
Mas é preciso! para que surja a Exaltada, a branca*e serenissima Ariânííy
A que é a lepra e a saúde, o pó e o trigo, a poesia é a vaCa magra
Ariana, a mulher — a mãe, a filha, a esposa, a noiva, a bem-amada.

-18
l - ^ á medida que o nome de Ariana resôava como um grito de clarim nas
faces paradas
As crianças se erguiam, os cegos olhavam, os paraliticos andavam me* drosamente
E nos campos dourados ondulando ao vento, as vacas fortes mugiam para
o ceu claro
E um só clamor saia de todos os peitos e vibrava em todos os lábios —
Ariana!
Euma só musica se extendia sobre as terras e sobre os rios — Ariana.
E um só entendimento iluminava o pensamento dos poetas — Ariana.

.19
/ % SSIM, coberto de bênçãos, eu cheguei a uma floresta e me sentei ás
suas bordas — os regatos Cantavam límpidos
Tive o desejo súbito da sombra, da humildade dos galhos e do repouso das
folhas secas
E me aprofundei na espessura funda cheia de ruídos e onde o mistério passava sonhando
E foi como si eu estivesse procurado e sido atendido — vi orquídeas que.:
eram camas doces para a fadiga
Vi rosas selvagens cheias de orvalho, de perfume eterno e boas para. matar
a sede

'

E vi palmas gigantescas que eram leques para afastar o calor da carne.

20-
Jf

ESCANSEI—por

um momento senti vertiginosamente o húmus

fecundo da terra
A pureza e a ternura da vida nos lirios altivos como falus de príncipes
A liberdade das lianas prisioneiras, ia serenidade da® quedas se despenhando.
E mais do que nunca o nome da Amada me veio e eu murmurei o apelo —
Eu te amo, Ariana!
E o sono da Amada me sveio aos olhos e eles cerraram a visão de Ariana
E o meu coração poz-se a bater pausadamente doze vezes o sinal cabalistico
de Ariana...

•

-21
Depois um gigantesco relógio se precisou na fixidez'do sonho, tomou forma
e se situou na minha frente parado sobre a Meia-Noite
Vi que estava só e que era eu mesmo e reconheci velhos objetos amigos.
Mas passando sobre o rosto a mão gelada senti que chorava as puríssimas
• *

lagrimas de Ariana
E que o meu espirito e o meu coração eram para sempre da branca e sereníssima Ariana
No silencio profundo daquela casa cheia da montanha em torno.
Maio, 1935.

22
T











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  • 4.
  • 5. ARIANA, a mulher DE V I N Í C I U S DE (y^v) &^/Jè MORAES o /Í4///V Aaruu* , Lu ,t> óèy> ^Ur) - 6, ^ C^LOCo H&u. /fcty. IRMÃOS PONGETTI - RIO - 1Q3Ô
  • 6. Foram tirados SOO exemplares em papel Hollanda, numerados de 1 a SOO em edição fora do comercio.
  • 7. José Arthur da Frota Moreira — em relembrança
  • 8.
  • 9. 8 8 ÜANDO, aqueía noite, na sala deserta daquela casa cheia da montanha em torno O tempo convergiu para a morte e houve uma cessação extranha seguida de tá um debruçar do instante para o outro instante Ante o meu olhar absorto o relógio avançou e foi como si eu tivesse me identificado a ele e estivesse batendo soturnamente a Meia-Noite E na ordem de horror que o silendo fazia pulsai* como um coração dentro do ar despojado Eu senti que a Natureza tinha entrado invisivelmente atravez as paredes e se plantara aos meus olhos em toda a sua fixidez noturna B, que eu estava no meio dela e á minha volta havia arvores dormindo e flores desacordadas pela treva. -5-
  • 10. • ^ OMO que a solidão traz a presença invisivel de um cadáver —e pára mim era como si a Natureza estivesse morta Eu. aspirava a sua respiração ácida e presentia a sua deglutição monstruosa mas para mim era como si ela estivesse morta Paralisada e fria, imensamente erguida em sua sombra imóvel para o ceü* alto e sem lua E nenhum grito, nenhum sussurro de água nos rios correndo, nenhum écÒ - nas quebradas ermas Nenhum desespero nas lianas pendidas, nenhuma fome no muco aflorado ctgl plantas carnívoras Nenhuma voz, nenhum apelo da terra, nenhuma lamentação de folhas, nada. -6
  • 11. l"^M vã o eu atirava os braços para as orquídeas insensíveis junto aos lirios inermes como velhos falus Inutilmente corria cego e cabeceante por entre o» troncos cujas parasitas eram como a miséria da vaidade senil dos homens Nada se movia como si o medo tivesse matado em mim a mocidade e gelado o sangue capaz de acorda-los E já o suor corria do meu corpo e as lagrimas dos meus olhos ao contato dos cactus esbarrados na alucinação da fuga E a loucura dos pés parecia galgar lentamente os membros em busca do pensamento Quando eu caí no ventre quente de uma campina de vegetação humida e sobre a qual afundei minha carne.
  • 12. •*•*' OI então que eu compreendi que só em mim havia a morte e que tildo estava profundamente vivo Só então vi as folhas caindo, os rios correndo, os troncos pulsando, as flores se erguendo E ouvi os gemidos dos galhos tremendo, dos gineceus se abrindo, das borboletas noivas se finando E tão grande fòi a minha dôr que angtístipsamenté eu abracei â terra como si qüizesse fecunda-la Mas ela me lançou fora como si não houvesse força em mim e como si ela não me desejasse E eu mè vi só, nú e só, e era como si a traição tivesse me envelhecido] éiías*^ 8-'
  • 13. H RISTEMENTE me brotou da alma o branco nome da Amada e eu murmurei — Ariana! E sem pensar eu caminhei tropego como a visão do Tempo e murmurava — Ariana 1 E tudo em mim buscava Ariana e não havia Ariana em nenhuma parte. Mas si Ariana era a floresta porque não havia de ser Ariana a terra? Si Ariana era a morte porque não havia de ser Ariana a vida? Porque?—si tudo era Ariana e só Ariana havia e nada fora de Ariana? 9-
  • 14. M^L AIXEI á terra de joelhos e a boca colada ao seu seio disse muito docemente—Sou eu, Ariana... Mas eis que um grande pássaro azul desce e canta aos meus ouvidos —Eu;: sou Ariana! E em todo o ceu ficou vibrando como um hino o muito amado noníe de Ariana. Desesperado eu me ergui e bradei: Quem és que te devo procurar em tpda a parte e que estás em cada uma? Espirito, carne, vida, sofrimento, serenidade, morte, porque não serias uma? Porque me persegues e me foges e porque me cegas si me dás uma twi é restas longe? 10-
  • 15. lf AS nada me respondeu eu prosegui na minha peregrinação atravez a campina E dizia: Sei que tudo é infinito! —e o pio das aves me trazia o grito dos • • • * : • • sertões desaparecidos E as pedras do caminho me traziam os abismos e a terra seca a sede nas fontes. No entanto era como si eu fosse a alimaria de um anjo que me chicoteava — Ariana! E eu caminhava cheio do castigo e em busca do martírio de Ariana A branca Amada salva das águas e a quem fora prometido o trono do mundo. -11
  • 16. eis que galgando um monte surgiram luzes e após janelas iluminadas e após cábanãs iluminadas E após ruas iluminadas e após lugarejos iluminados como fogos no mátft noturno E grandes redes de pescar secavam ás portas e se ouvia o bater das forjai^ E eu perguntei: Pescadores, onde está Ariana? — e eles me mostravani * o peixe Ferreiros, onde está Ariana? — e eles me mostravam o fogo Mulheres, onde está Ariana? — e elas me mostravam o sexo. -12
  • 17. Jlfl A S lo S° ^ ouviram gritos e dansas, e gaitas tocavam e guizos batiam Eu caminhava, e aos poucos o ruido ia se alongando á medida que eu penetrava na savana No entanto era como si o canto que me chegava entoasse — Ariana! E eu pensei: Talvez eu encontre Ariana na Cidade de Ouro! porque não seria Ariana a mulher perdida? Porque não seria Ariana a moeda em que o obreiro gravou a efigie de Gesar? Porque não seria Ariana a mercadoria do Templo ou a purpura bordada do altar do Templo? -13-
  • 18. • ^ mergulhei nos subterranios e nas torres da Cidade de Ouro mág nãp encontrei Ariana A's vezes indagava — e um poderoso fariseu me disse irado: Cão de Deus, tu és Ariana!... E talvez porque eu fosse realmente o Cão de Deus eu não compreendi a palavra do homem rico Mas Ariana não era a mulher, nem a moeda, nem a mercadoria, nem a;? purpura E eu disse comigo: Em todo lugar menos que aqui estaiá Ariana E eu compreendi que só onde cabia Deus' cabia Ariana, - lá
  • 19. m0A NTÃO cantei: Ariana, chicote de Deus castigando Ariana! e disse muitas palavras inexistentes E imitei a voz dos pássaros e espesinhei sobre a urtiga mas não espesinheí sobre a cicuta santa Era como si um raio tivesse me ferido e corresse desatinado dentro das minhas entranhas. As mãos em concha, no alto dos morros ou nos rales eu gritava — Ariana! E muitas vezes o éco ajuntava: Ariana... a n a . . . E os trovões desdobravam no ceu a palavra—Ariana. -15-
  • 20. B " * como a uma ordem extranha, as serpentes saiam das tocas e comiam os ratos Os porcos endemoninhados se devoravam, os cisnes tombavam cantanfg nos lagos E os corvos e os abutres caiam feridos por legiões de águias precipitadas. E misteriosamente o joio se separava db trigo nos campos desertos E os milharais descendo os braços trituravam as formigas no solo E envenenadas pela terra decomposta as figueiras se tornavam profunda- mente secas. »
  • 21. I • ENTRO em pouco todos corriam a mim, homens varões e mulheres desposadas Umas me diziam: Meu senhor, meu filho morre! e outras eram cegas c paraliticas E os homens me apontavam as plantações estorricadas e as vacas magras. E eu dizia: Eu sou o Enviado do Mal! e imediatamente as crianças morriam E os cegos se tornavam paraliticos e os paraliticos cegos E as plantações se tornavam pó que o vento carregava e que sufocava as vacas magras. -17
  • 22. íl i A ® como quizessem me correr eu falava olhando a dor e maceração cios corpos - Não temas, povo escravo! A mim me morreu a alma mais do que o filho. e me assaltou a indiferença mais do que a lepra A mim se fez pó a carne mais do que o trigo e se sufocou a poesia mais. do que a vaca magra Mas é preciso! para que surja a Exaltada, a branca*e serenissima Ariânííy A que é a lepra e a saúde, o pó e o trigo, a poesia é a vaCa magra Ariana, a mulher — a mãe, a filha, a esposa, a noiva, a bem-amada. -18
  • 23. l - ^ á medida que o nome de Ariana resôava como um grito de clarim nas faces paradas As crianças se erguiam, os cegos olhavam, os paraliticos andavam me* drosamente E nos campos dourados ondulando ao vento, as vacas fortes mugiam para o ceu claro E um só clamor saia de todos os peitos e vibrava em todos os lábios — Ariana! Euma só musica se extendia sobre as terras e sobre os rios — Ariana. E um só entendimento iluminava o pensamento dos poetas — Ariana. .19
  • 24. / % SSIM, coberto de bênçãos, eu cheguei a uma floresta e me sentei ás suas bordas — os regatos Cantavam límpidos Tive o desejo súbito da sombra, da humildade dos galhos e do repouso das folhas secas E me aprofundei na espessura funda cheia de ruídos e onde o mistério passava sonhando E foi como si eu estivesse procurado e sido atendido — vi orquídeas que.: eram camas doces para a fadiga Vi rosas selvagens cheias de orvalho, de perfume eterno e boas para. matar a sede ' E vi palmas gigantescas que eram leques para afastar o calor da carne. 20-
  • 25. Jf ESCANSEI—por um momento senti vertiginosamente o húmus fecundo da terra A pureza e a ternura da vida nos lirios altivos como falus de príncipes A liberdade das lianas prisioneiras, ia serenidade da® quedas se despenhando. E mais do que nunca o nome da Amada me veio e eu murmurei o apelo — Eu te amo, Ariana! E o sono da Amada me sveio aos olhos e eles cerraram a visão de Ariana E o meu coração poz-se a bater pausadamente doze vezes o sinal cabalistico de Ariana... • -21
  • 26. Depois um gigantesco relógio se precisou na fixidez'do sonho, tomou forma e se situou na minha frente parado sobre a Meia-Noite Vi que estava só e que era eu mesmo e reconheci velhos objetos amigos. Mas passando sobre o rosto a mão gelada senti que chorava as puríssimas • * lagrimas de Ariana E que o meu espirito e o meu coração eram para sempre da branca e sereníssima Ariana No silencio profundo daquela casa cheia da montanha em torno. Maio, 1935. 22
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