1) O poema descreve a pátria do autor como uma criança adormecida e uma fonte de saudade e tristeza.
2) Ele não sabe definir o que é sua pátria, mas sabe que é associada à luz, sal e água que transformam sua mágoa em lágrimas.
3) O autor expressa vontade de cuidar de sua pátria como uma criança, mudando suas cores e dando-lhe sapatos e meias.
9. P AT RIA
POEMA
M I N TT A
DE
V i n í c i u s de M o r a e s
O LIVRO
IN C O N S U T I L
10.
11. A minha pátria é como se não
fosse, é íntima
doçura e vontade de chorar; uma
criança dormindo
é minha pátria. Por isso, no exílio
assistindo dormir meu filho
choro de saudades de minha pátria.
12. D E me perguntarem o que é a
minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
como, porque e quando a minha
pátria
Mas sei que a minha pátria é a
luz, o sal e a água
que elaboram e liqüefazem a minha mágoa
em longas lágrimas amargas.
13. V ONTADE de beijar os olhos de
minha pátria
de niná-la, de passar-lhe a mão
pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do
vestido (auriverde!) tão feias
de minha pátria, de minha pátria
sem sapatos
e sem meias, pátria minha
tão pobrinha!
14. í ORQUE te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
pátria, eu semente que nasci do
vento
eu que não vou e não venho, eu
que permaneço
em contacto com a dor do tempo,
eu elemento
de ligação entre a ação e o pensamento
eu fio invisível no espaço de todo
o adeus
eu, o sem Deus!
15. 1 ENHO-TE no entanto em mim
como um gemido
de flor; tenho-te como um amor
morrido
a quem se jurou; tenho-te como
uma fé
sem dogma; tenho-te em tudo em
que não me sinto a jeito
nesta sala estrangeira com lareira
e sem pé direito.
16. AH,
pátria minha, lembra-me
uma noite no Maine, Nova
Inglaterra
quando tudo passou a ser infinito e nada terra
e eu vi Alfa e Beta de Centauro
escalarem o monte até o céu
muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
à espera de ver surgir a Cruz do
Sul
que eu sabia, mas amanheceu.
17. r ONTE de mel, bicho triste, pátria
minha
Amada, idolatrada, salve, salve !
Que mais doce esperança acorrentada
o não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
18. V^/UERO
rever-te, pátria minha, e
para
rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
vi minha humilde morte cara a
cara
rasguei poemas, mulheres, horizontes
fiquei simples, sem fontes.
19. IATRIA
minha... A minha pátria
não é florão, nem ostenta
lábaro não; a minha pátria é desolação
de caminhos, a minha pátria é
terra sedenta
e praia branca: a minha pátria é
o grande rio secular
que bebe nuvem, come terra
e urina mar.
20. IVIAIS
do que a mais garrida a
minha pátria tem
uma quentura, um querer bem,
u m bem
um libertas quce será tamen
que um dia eu traduzi num exame escrito:
« Liberta que serás também »
e repito!
21. I ONHO no vento o ouvido e escuto a brisa
que brinca em teus cabelos e te
alisa
pátria minha, e perfuma o teu
chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
entre teus doces montes, pátria
minha
atento à fome em tuas entranhas
e ao batuque em teu coração.
22. INÃO
te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha,
que és
uma ilha de ternura; a Ilha
Brasil, talvez.
23. AGORA
chamarei a amiga cotovia
e pedirei que peça ao rouxinol do
dia
que peça ao sabiá
para levar-te presto este avigrama:
«Pátria minha, saudades de quem
te ama...
Vinícius de Moraes ».
24.
25. EDIÇÃO DE 55 EXEMPLARES
EM PAPEL DE FIO
JOÃO CABRAL DE MELO
impressor
31.
BRASILIANA DIGITAL
ORIENTAÇÕES PARA O USO
Esta é uma cópia digital de um documento (ou parte dele) que
pertence a um dos acervos que participam do projeto BRASILIANA
USP. Trata‐se de uma referência, a mais fiel possível, a um
documento original. Neste sentido, procuramos manter a
integridade e a autenticidade da fonte, não realizando alterações no
ambiente digital – com exceção de ajustes de cor, contraste e
definição.
1. Você apenas deve utilizar esta obra para fins não comerciais.
Os livros, textos e imagens que publicamos na Brasiliana Digital são
todos de domínio público, no entanto, é proibido o uso comercial
das nossas imagens.
2. Atribuição. Quando utilizar este documento em outro contexto,
você deve dar crédito ao autor (ou autores), à Brasiliana Digital e ao
acervo original, da forma como aparece na ficha catalográfica
(metadados) do repositório digital. Pedimos que você não
republique este conteúdo na rede mundial de computadores
(internet) sem a nossa expressa autorização.
3. Direitos do autor. No Brasil, os direitos do autor são regulados
pela Lei n.º 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. Os direitos do autor
estão também respaldados na Convenção de Berna, de 1971.
Sabemos das dificuldades existentes para a verificação se um obra
realmente encontra‐se em domínio público. Neste sentido, se você
acreditar que algum documento publicado na Brasiliana Digital
esteja violando direitos autorais de tradução, versão, exibição,
reprodução ou quaisquer outros, solicitamos que nos informe
imediatamente (brasiliana@usp.br).