1. Alier é um economista catalão, e catedrático de economia e história econômica da
Universidade Autônoma de Barcelona. Foi professor visitante da Unicamp, da
Universidade Livre de Berlin, e das Universidades Stanford e Califórnia-Davis. Foi o
fundador da Sociedade Internacional de Economia Ecológica e é referência obrigatória
quando o debate ecológico escapa das amarras e constrangimentos da economia clássica
e dos interesses de empresas e de estados cada vez mais subordinados a elas.
Alier, como todo estudioso que escreve com rigor sobre o assunto de que trata - o que vale
dizer, sério e atento a todos os seus discursos e significados -, começa por enumerar o
que vê como as três correntes históricas do ecologismo. A primeira delas, que data de
séculos, e mais enfatizada a partir do final do século 19, é a do culto à vida silvestre -
apreservação de parques e paisagens, sem necessariamente tocar na totalidade do
debate da relação homem-natureza. A segunda, hoje dominante e insidiosa, é aquela que
prega o evangelho da ecoeficiência - ou seja, continuamos na mesma rota, mas nossos
carros rodam um pouco mais por litro de gasolina, e podemos seguir em frente com
nossos desvairados padrões de consumo, preservando-se as relações de assimetria e
desigualdade. A terceira, que pode ter raízes teóricas europeias fundadas em autores
como Marx, Max Weber ou Rosa Luxemburgo, mas que ocupa espaço importante na
agenda social mundial, notadamente no Terceiro Mundo, é a chamada justiça ambiental,
ou o ecologismo dos pobres - uma interseção entre a questão humana e a natural, que
considera os conflitos distributivos entre aqueles que tem convívio não predatório com a
natureza e os que a veem como instrumento de desenvolvimento. A discussão, como
sugere o título da obra, vai focar na terceira opção, embora as outras duas, como requer
mais uma vez o rigor, recebam o tratamento e a abordagem histórica desejáveis.
Teremos um futuro tenso, estabelece Alier: "O uso crescente vai tornar alguns recursos
naturais raros e cada vez mais estratégicos." Ainda que a pregada ecoeficência possa
resultar em alterações dos elementos utilizados na produção, a escala em que são usados
interfere na estrutura produtiva, social e social em curso. "Novos conflitos sociais são
gerados nesse rearranjo de processos econômicos, nos quais se verificam perdas de
poder político, econômico e a aparição de outras lideranças, disputa que também acarreta
conflitos."
Reza a economia ortodoxa que o crescimento do PIB dos países é por si só o fator que
mais atenua os conflitos econômicos distributivos entre os grupos sociais. No caso, o meio
ambiente surge, quando muito, como "consideração de segunda ou terceira ordem ... ou
como um luxo: amenidades ambientais, mais do que condições ambientais da produção e
da própria vida humana. Como costuma ser dito, os pobres são demasiado pobres para
serem verdes".
A isso pode se contrapor a economia antológica - que não é, como nos querem fazer
supor, simplesmente a tentativa de impingir valores monetários aos recursos e serviços
ambientais. Isto seria apenas um fragmento de uma tarefa mais ampla, crucial para o
problema principal levantado neste livro: as relações entre os conflitos ecológicos
distributivos e os diversos discursos de valoração (o itálico é do autor). Uma nova
abordagem da economia, diz Alier, deve apenas contabilizar os incrementos sustentáveis
da capacidade produtiva. "Contudo, a avaliação econômica do sustentável envolve um
aspecto distributivo. Se o capital natural possui um preço baixo visto não pertencer a
ninguém ou pertencer a grupos empobrecidos e destituídos de poder que se veem
forçados a vendê-los barato, então a destruição da natureza será subvalorizada".
O autor coloca, sem rodeios e com autoridade, todos os dedos em todas as feridas.
Fariam bem os ortodoxos e os defensores das fórmulas fáceis e enganosas de salvação
reexaminarem suas crenças a partir de trabalhos como este. Infelizmente, é muito provável
que, apenas ao ler seu título, eles torçam o nariz e sigam em frente com seus modelos
arrumadinhos - com a insensatez dos que marcham sorrindo a caminho do cadafalso.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
2. Para Ronald Inglehart (1977), o ecologismo surge como um fenômeno típico de setores
prósperos dos países ricos, sem relação com a solidariedade social. 2. Esse ecologismo
apreciava a natureza e não adorava o progresso tecnológico, lamentando o desastre estético
da industrializaçãoemumarecordaçãoao romantismo ou a ideologia Blutund Boden [sangue
e solo, usado por Hitler para justificar aos arianos (sangue) o direito exclusivo à Alemanha
(solo)]. 3. Isso explica o repudio ao ecologismo pela ortodoxia marxista. 4. Ecologismo dos
ricos 1. “Se não há para todo mundo, que haja para nós” 2. Preocupados com a conservação
dos grandes mamíferos ou com a perda de paisagens que gozavam 3. Ecologismo da
abundância(Inglehart)4.Fenômenosocial de pessoascomestômagoscheios,umanova moda
de luxoe de ócio5. Ecologismodospobres1.Questãode sobrevivênciae nãode qualidade de
vida 2. Protestam contra a perda do acesso aos recursos naturais e serviços da natureza 3.
Ecologismo da sobrevivência (Chico Mendes) 4. Nasce da contradição entre a economia do
valorde usoe a economiadolucro, da expansão,docrescimento5.Normalmentesão tocados
por mulheres6.Aopiorar a distribuiçãoecológica,semmelhorar a distribuição econômica, os
protestos surgem 6. {19} Uma economia mais ecológica poderia ser uma economia mais
equitativa, mais solidária 7. O Ecologismo Popular nasce do conflito entre a Economia e a
Ecologia,conflitoque nãose solucionacominvocaçõesrituais em favor do “desenvolvimento
econômico ecologicamente sustentável” ou de uma “internalização completa das
externalidades”.8. Neonarodnismo(neopopulismo/neozapatismo) ecológico .Uma escolade
pensamentoque analisaas contribuições dos camponeses ao manejo dos recursos naturais e
preservaçãodabiodiversidade2.Essescamponesestêmvalores morais pré-modernos, a qual
entende a relação homem-natureza em termos de harmonia, e não de subordinação ou
mercantilização. 9. O Sul (pobres) é ecologicamente menos daninho e mais ecológico que o
Norte (ricos). Teoriasdo ecologismo:1. Ricose materialistas:reação contra a contaminação e
o esgotamento dos recursos naturais causados pela abundância (movimento de justiça
ambiental, antinuclear) 2. Ricos e não-materialistas: mudança cultural para valores pós-
materialistas resultado da característica dos bens obtidos sem custos ambientais de terem
utilidade marginal decrescente (Inglehart) 3. Pobres e materialistas: reação contra a
degradação ambiental resultado da pobreza, excesso populacional e intercâmbio desigual;
defesa do acesso comum aos recursos naturais; ecofeminismo social (Agarwal) 4. Pobres e
não-materialistas: religiões biocêntricas (White); ecofeminismo essencialista (Shiva). O
ecologismo popular pode ser entendido como uma solução para os conflitos distributivos
econômico-ecológico-políticos.
Economia ecológica e Ecologismo popular: 1. Num mundo cada vez mais desigual, as lutas
sociaisvãocontinuar e os obstáculos ecológicos ao crescimento econômico se aprofundarão.
2. A sensibilidade ecológica esteve ausente tanto no marxismo, como no liberalismo 1. Os
liberais defendem mecanismo racional de alocação dos recursos do mercado. Porém o
mercado infravalora (ou valora arbitrariamente) as necessidades humanas futuras e os
prejuízos externos às transações mercantis. Os marxistas defendem uma economia
planificada. Porém a ausência de liberdades dos movimentos ecológicos e sociais e o
crescimento a qualquer custo foram igualmente nocivos. Valores pós-materialistas? 3.
Interesses pós-materialista, de qualidade de vida, de questões éticas, não são a origem do
ecologismo. 4. É, sim, uma reação a destruição material dos recursos naturais, contra os
resíduosda abundância.Neopopulismoecológico: Hoje, critica-se a agricultura e a economia
modernapelogastoexcessivode combustíveisfósseis,contaminação do ambiente e perda da
biodiversidade. 6. O enfoque ecológico da economia vem desde o século XIX e desembocam
no neonarodnismo,noneozapatismo ou no neopopulismo ecológicos. 7. Apoia-se na análise
científica do fluxo de energia e materiais e da conservação da biodiversidade. 8. Critica a
pseudo-racionalidade econômica. 9. Nega o consenso em torno do desenvolvimento
econômico, do industrialismo, da modernização entendida do modo habitual.
3. 10. Dá um novo valor aos esquecidos agrarismo, romantismo, indigenismo, naturismo e
panteísmo.11. O ecologismose apoianaEcologiacomo ciência, sendo assim não pode nascer
uma única posição política. 12. Existe o ecologismo dos ricos e dos pobres, porém estes são
prejudicadosporhaverpoucacomunicaçãoSul-Sul.13. Os movimentos sociais dos pobres são
lutaspelasobrevivência;suasnecessidades de vida são ecológicas: energia, água e ar limpos,
espaço para abrigar-se. 14. São ecológicos por tratar de manter ou devolver os recursos
naturais à economia ecológica, fora do sistema de mercado generalizado, da valoração
crematística, da racionalidade mercantil. 15. O desgaste do marxismo com a ecologia têm
origem no perfil anarquista dos grupos ecológicos: participação eleitoral, porém com um
partidosemdirigentespermanentes,comrodízioparlamentar,semprofissionalizaçãopolítica,
com paridade homens-mulheres.
Situar a economia dentro da ecologia A economia deve estudar o fluxo de energia, além do
fluxo de materiais. Na discussão sobre as relações entre energia e economia existem: 1.
Posição errada 1: a “teoria do valor-energia” 2. Posição errada 2: isomorfismo entre as
equações da mecânica e de equilíbrio econômico; isso leva à teoria absurda de que nos
intercâmbios econômicos haveria intercâmbio de “energia” psíquica ou social. 3. Posição
correta: vê a economia não como uma corrente circular ou espiral de valor de troca, um
carrossel entre produtores e consumidores, mas como um fluxo entrópico de energia e de
materiais,que atravessa a economia. Tem que considerar a física social, não a matemática da
mecânica (como Jevons e Walrás), mas a biofísica em que se inscreve a economia humana. A
economia ecológica vê a economia humana imersa em um sistema mais amplo. Estuda as
condições para que a economia se encaixe no ecossistema, além da valoração dos serviços
prestados pelo ecossistema para a economia. A economia neoclássica analisa o mercado
lubrificadopelodinheiro,apenasconsiderandoospreços(crematística).Esquemadaeconomia
ecológica: 1. A Terra é um sistema aberto. Tem entrada de energia solar 3. Os inputs da
economiasãomatérias-primase energia útil 4. Os outputs são o calor dissipado e os resíduos
materiais 5. Parte desse resíduo pode voltar a ser utilizado quando reciclado. Para economia
funcionar, precisa de um fornecimento adequado de energia e materiais, manutenção da
biodiversidade e resíduos não-contaminantes. A economia ecológica estuda a economia sob
enfoque reprodutivo e alocativo, analisando as condições sociais e distributivas (riqueza e
renda, no tempo e no espaço). Entende a economia como absorvedora de recursos e
expelidorade resí- duos.Sraffavs Georgescu-Roegen:1.ParaGR, o valorprovémdoconsumo;
Para S, a demandaestáausente. Sraffaviaa reproduçãoeconômicacomoumprocessocircular
(“reprodução simples”) ou espiral (“reprodução ampliada”), já sem o equilíbrio de oferta e
demanda neoclássico 3. Sraffa não incluía o esgotamento de recursos, outros efeitos
irreversíveis (como produção de resíduos) e uma análise entrópica da economia. O
crescimento econômico Georgescu-Roegen considerava impossível o crescimento
exponencial daeconomia(devidoàentropia),além de ver limites na substituição de recursos
naturais por “capital”. Sollow afirmou que, se ficarmos sem recursos naturais, outros fatores
de produção,especialmente otrabalhoe ocapital reproduzível,podemservirde substitutos,e
que, portanto, o mundo pode continuar, de fato, sem recursos naturais, de maneira que o
esgotamento de recursos é uma dessas coisas que passam, porém não é uma catástrofe. 24.
Georgescu-Roegen acrescentava dois problemas ao crescimento exponencial de Sollow: o
destinodospobres (distribuição entre ricos e pobres) e o destino da posteridade (repartição
inter-geracional de recursos escassos e de contaminações, além do impacto humano
destrutivo sobre outras espécies)
Economia Verde é uma expressão de significados e implicações ainda controversos, relacionada ao
conceito mais abrangente de Desenvolvimento Sustentável, consagrado pelo Relatório Brundtland, de
1987,e assumido oficialmente pela comunidade internacional na Rio-92, gradualmente tomando o lugar
do termo “ecodesenvolvimento” nos debates,discursos e formulação de políticas envolvendo ambiente e
desenvolvimento.
4. A ideia central da Economia Verde é que o conjunto de processos produtivos da sociedade e as
transações deles decorrentes contribua cada vez mais para o Desenvolvimento Sustentável, ta nto em
seus aspectos sociais quanto ambientais. Para isso, propõe como essencial que, além das tecnologias
produtivas e sociais, sejam criados meios pelos quais fatores essenciais ligados à sustentabilidade
socioambiental, hoje ignorada nas análises e decisões econômicas, passem a ser considerados.
O ecodesenvolvimento foi mencionado inicialmente pelo canadense Maurice Strong, primeiro diretor
executivo do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e secretário -geral da
Conferência de Estocolmo (1972) e da Rio-92.Foi Strong quem pediu ao economista e sociólogo polonês
Ignacy Sachs que desenvolvesse o conceito para inspirar documentos e projetos do Pnuma, criado na
conferência.Sachs escreveu vários livros e artigos sobre o ecodesenvolvimento, que compreende cinco
dimensões da sustentabilidade: social, econômica, ecológica, espacial e cultural. Em sua autobiografia
intitulada A Terceira Margem, Sachs conta que o termo caiu em desgraça em consequência da
repercussão negativa que teve no governo dos Estados Unidos a Declaração de Cocoyoc, aprovada em
outubro de 1974, na cidade mexicana de mesmo nome e que tratava de Educação Ambiental.
Embora não haja consenso teórico sobre uma definição universal do Desenvolvimento Sustentável, a
expressão popularizou-se no mundo a partir da Rio-92. Depois da conferência, a expressão foi sendo
pouco a pouco absorvida por governos, corporações e entidades da sociedade civil, geralmente
relacionada à formulação e execução tanto de políticas públicas quanto de iniciativas privadas ligadas à
responsabilidade socioambiental.
Uma parcela dos movimentos sociais e ambientalistas e pesquisadores das áreas de meio ambiente e
desenvolvimento têm questionado o que consideram a banalização, ou esvaziamento, do conceito de
Desenvolvimento Sustentável, erroneamente apresentado como objetivo de práticas superficiais e de
pouca relevância.É o que se tornou conhecido como greenwashing ou maquiagem verde, em português.
Em outras palavras, avaliam que, para muitos a expressão transformou-se em artifício para melhorar a
imagem pública de governos e empresas,sem que seu uso traduza mudanças efetivas na sua gestão e
práticas, sintonizadas com os princípios e diretrizes emanados da Rio-92 por meio de seus principais
documentos. (Veja quadro Documentos da Rio-92, em As Conferências da ONU e Desenvolvimento
Sustentável).
Há, também,movimentos sociais que veem no Desenvolvimento Sustentável uma nova roupagem para o
sistema econômico,que até implicaria melhorias em áreas como eficiência energética e gerenciamento
da água,mas que não modificaria o capitalismo contemporâneo em seus fundamentos, sobretudo o da
maximização do lucro, o rebaixamento dos custos de produção e – especialmente – a mercantilização da
vida e da natureza. Ainda que essa nunca tenha sido a proposta original de Desenvolvimento Sustentável.
A diminuição de restrições ambientais,característica do neoliberalismo dos anos 1980 e 1990,e a falta de
internalização das externalidades (ou seja, a não valoração e não contabilização dos impactos
socioambientais negativos nos preços de bens e serviços) reforçam a equação básica da maximização do
lucro e rebaixamento dos custos de produção. Do mesmo modo, a transformação de bens comuns em
mercadorias – por exemplo, a compra e venda de espaço na atmosfera por meio do mercado de
emissões de carbono – é vista por alguns desses movimentos não como a forma de gestão de um
patrimônio natural, mas como meio de criação de novos mercados e mercadorias, passíveis de
especulação e de apropriação privada, e assim capazes de servir à contínua acumulação capitalista.
Segundo estudiosos e ambientalistas, uma solução para os dilemas teóricos com a formulação do
Desenvolvimento Sustentável seria substituí-lo ou, ao menos, subordiná-lo a outro ainda mais
abrangente,o de sociedades sustentáveis.De alguma maneira,a ideia da sociedade sustentável resgata
a pioneira formulação do ecodesenvolvimento por ser composta de várias dimensões da sustentabilidade
(característica de uma situação que pode manter-se em equilíbrio ao longo do tempo),incluindo a cultural.
“Sociedade sustentável” soa, ainda, compatível com a noção de sustentabilidade, que geralmente é
utilizada para ampliar o escopo do “Desenvolvimento Sustentável”, questionado por alguns que o
entendem como um termo que traz implicitamente a noção de crescimento contínuo, e também mais
associado à dimensão econômica do que ao modelo de sociedade como um todo, com seus múltiplos
aspectos culturais e materiais.
Ecodesenvolvimento, sustentabilidade, sociedade sustentável, economia de baixo carbono, economia
sustentável, economia inclusiva e economia solidária. Esses jargões – e muitos outros no campo do
Desenvolvimento Sustentável – possuem definições várias,muitas vezes ambíguas e imprecisas. Assim,
mais importante que a definição precisa de cada termo é a noção de que todos eles sintetizam ideias para
chamar a atenção da opinião pública e dos especialistas quanto à necessidade de tornar os processos de
desenvolvimento e os instrumentos econômicos ferramentas de promoção da igualdade social e
erradicação da pobreza, com respeito aos direitos humanos e sociais e conservação e uso sustentável
dos recursos naturais.
O mesmo ocorre com a expressão Economia Verde,mas com uma importante diferença:ao ser colocada
no centro dos debates da Rio+20,passou a ser vista como um grande guarda-chuva, sob o qual, espera-
se, poderão se abrigar e articular as várias propostas de alcance mais específico. Por exemplo, a
5. Economia Verde é mais abrangente do que a economia de baixo carbono, visto que não se limita a
processos econômicos com baixa ou nenhuma emissão de gases de efeito estufa. Ela inclui processos
relacionados ao combate às mudanças climáticas de origem antrópica, mas também trata de reverter
outras tendências insustentáveis,quer sociais – como o consumismo e a crescente desigualdade – quer
ambientais – como a vasta contaminação dos ecossistemas e do próprio corpo humano por substâncias
químicas. Pode-se afirmar que a economia de baixo carbono está geralmente contemplada pela
Economia Verde, mas esta vai além, pois implica promover processos limpos de produção e consumo
que não agravem as tendências atuais de rompimento dos limites dos sistemas naturais que garantem a
manutenção de nossas condições de vida no planeta.
Como elemento do Desenvolvimento Sustentável,a Economia Verde também deve ser necessariamente
inclusiva,demandando a erradicação da pobreza, a redução das iniquidades e a promoção dos direitos
humanos e sociais, segundo preconizam seus principais defensores junto a fóruns internacionais e
agências multilaterais, como o Pnuma, o Banco Mundial e a Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A Iniciativa Economia Verde (IEV, ou GEI-Green EconomyInitiative, em inglês) do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), lançada em 2008, concebe a Economia Verde como aquela que
resulta em melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz
significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica. Ela tem três características
preponderantes: é pouco intensiva em carbono, eficiente no uso de recursos naturais e socialmente
inclusiva.
Nessa proposta de Economia Verde, o crescimento na renda e no emprego é puxado por investimentos
públicos e privados que reduzem emissões de carbono e a poluição. Essa rota de desenvolvimento deve
manter, aprimorar e, onde necessário, recuperar o capital natural degradado, enfocando -o como ativo
econômico crítico e fonte de benefícios públicos, especialmente para a população pobre cuja
sobrevivência e segurança são mais direta e imediatamente afetadas por desequilíbrios nos sistemas
naturais (como demonstram os efeitos das secas e cheias em regiões pobres, por exemplo).
Análises detalhadas sobre as perspectivas da Economia Verde, com cenários de curto, médio e longo
prazos, podem ser conferidas em dois relatórios lançados pela IEV. O primeiro foi o Global Green New
Deal,em 2009, que teve como finalidade recomendar incentivos a tecnologias verdes nas estratégias de
recuperação econômica que os países lançaram para atenuar os efeitos nefastos da crise financeira
global iniciada nos Estados Unidos em setembro de 2008.
O segundo documento é o Relatório de Economia Verde (REV), uma das principais contribuições do
Pnuma para a Rio+20. Publicado em fevereiro de 2011, ele possui uma versão compacta para
formuladores de política sob o título Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento
Sustentável e a Erradicação da Pobreza. Resultado de um trabalho de diversos especialistas de
diferentes partes do mundo, o documento indica que a transição para a Economia Verde redundaria em
taxas superiores de crescimento global do Produto Interno Bruto (PIB) e do nível de emprego nos
cenários de médio e longo prazos, em comparação ao cenário tendencial (ou business as usual (BAU) )
Para isso,o estudo compara,por meio de modelos econométricos, o cenário tendencial com um cenário
alternativo, com investimentos totalizando 2% do PIB global ao ano em áreas como eficiência energética,
energias renováveis, tecnologias ambientais e incentivos públicos verdes.
A repercussão do REV entre distintos atores sociais oscila de um alinhamento geral com
questionamentos tópicos à oposição frontal ao relatório e à própria ideia de Economia Verde.As posições
são as mais diversas tanto entre movimentos sociais e ONGs quanto entre governos e empresas.
A grosso modo, o empresariado mais ativo no campo da sustentabilidade foi o setor mais favorável ao
REV, ainda que levante problemas pontuais no documento.É o caso da avaliação divulgada pela Câmara
Internacional de Comércio (ICC) denominada ICC initial comments on the UNEP draft Green Economy
Report.
Publicado em maio de 2011,a avaliação recomendou ao Pnuma que defina mais claramente ou estimule
a elaboração de indicadores e métricas para termos como “investimentos verdes” e “Economia Verde”.
Já na sociedade civil as opiniões se dividem: uma parte acredita que o conceito mesmo com limitações
pode trazer resultados interessantes, enquanto outra parte se coloca totalmente contra.