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Sociologia e Ecologia: Um Diálogo Reconstruído.
           Gian Mario Giuliani

           O DIÁLOGO ENTRE ECOLOGIA E SOCIOLOGIA

             Entre as décadas de 60 e 70 emergiu a "ciência do ambiente", uma disciplina científica
que buscava uma síntese interdisciplinar das ciências que, de alguma maneira, poderiam
contribuir para a compreensão e a solução dos problemas ambientais. Entretanto, a integração
das ciências naturais com as ciências sociais demonstrou ser muito mais difícil do que se
pensava. Os textos mais importantes da moderna cultura ecológico-ambiental estão, hoje, muito
distantes da tradição sociológica.Trata-se, em grande parte, de textos de biólogos, demógrafos,
geólogos, geógrafos, filósofos, jornalistas e de alguns economistas "heréticos", como Nicolas
Georgescu-Roegen e Herman Daly, expoentes da chamada "economia ecológica", uma disciplina
contestada pelos economistas de qualquer corrente mais canônica (Daly, 1989). Sobre a
economia ecológica, é preciso observar que se trata de uma disciplina não tão nova como parece.
Na obra de Deleage fala-se do socialista e populista ucraniano Sergej Podolinskij que, em 1882,
escrevia para Marx e Engels a respeito de um curto trabalho que ele próprio havia publicado
(Podolinskij, 1880). Nesse artigo, o autor preocupava-se com o equilíbrio entre a acumulação e a
dispersão de energia solar: em face do crescimento populacional, considerava necessário
melhorar a agricultura e a produtividade biológica da natureza. Foi ele quem elaborou o primeiro
balanço energético da história, partindo da idéia de que no mundo se contrapõem dois processos
energéticos: o dos vegetais que acumulam energia solar e dos animais que a consomem. Ao
prevalecer o primeiro, teremos uma reserva de energia; prevalecendo o segundo, teremos
penúria. Podolinskij estava convencido de que o trabalho útil do homem e dos animais poderia
deslocar esse equilíbrio a favor dos consumidores, aumentando a energia solar fixada nas plantas
e atrasando sua dispersão. Deleage reproduz uma frase fulminante de Engels, extraída da
correspondência deste com Marx (19 e 22 de dezembro de 1882), a qual dispensa qualquer
comentário: "Podolinskij acabou saindo do caminho, porque quis encontrar uma confirmação
científica da justeza do socialismo e tem misturado, assim, a física com a economia" (Deleage,
1991:67).
             Com a ciência do ambiente surgiram estudos de problemas ambientais ligados à
definição e ao uso dos bosques, dos parques recreativos e dos desertos, e também acerca da
distinção entre uso destrutivo e não destrutivo dos recursos naturais, dando forma a uma
"sociologia ambiental". A evolução do interesse nos problemas do meio ambiente levou à
identificação de dois conhecidos paradigmas formulados por Catton e Dunlap (1983): o da
"excepcionalidade humana" e o "paradigma ecológico", cuja adesão por parte dos sociólogos,
mesmo parecendo alternativa e sem possibilidade de conciliação, indicava o surgimento de uma
sociologia do meio ambiente.
             Para Strassoldo (1992), esta sociologia, como todas as ciências jovens, se
caracterizava pela grandiosidade de suas aspirações e programas e pelas suas pesquisas
empíricas bastante triviais, já que reivindicava uma mudança de paradigma, ao mesmo tempo que
lançava mão de análises, temas, instrumentos teóricos e técnicos tradicionais. Ele aponta para
duas tendências: uma, mais ambiciosa, representada por Catton, busca uma espécie de síntese
interdisciplinar, na qual dados e conceitos alertam para a gravidade das relações entre sociedade
e natureza. Outra, mais modesta, usa o instrumental dos sociólogos para o diagnóstico e a
solução dos problemas ambientais específicos. Nesse sentido, suas áreas de estudo mais
importantes voltam-se para temas muito diferentes, dificilmente reduzíveis a uma especialização
sociológica. O principal elemento unificador da sociologia do meio ambiente não é tanto a adesão
a um paradigma teórico, mas a adesão aos valores de uma nova cultura ambientalista e o desejo
de contribuir para a solução dos problemas ecológicos, assim como de facilitar uma melhor
relação entre sociedade e phisis, entre homem e natureza. Assim, a importância atribuída aos
fatores ambientais pode corresponder a passos concretos que levem à superação do tabu dos
fundadores da sociologia, para quem homem e sociedade já estariam desvinculados do
condicionamento das forças naturais e físicas.
             Com certeza o tema mais amplo e complexo, sobre o qual ecólogos e cientistas sociais
estão buscando construir o diálogo, é o clássico tema da sociologia, o tema do "desenvolvimento"
humano e da sociedade, que, nos tempos atuais, tende a ser definido como "desenvolvimento
sustentável". Este conceito, proposto sobretudo para os países em desenvolvimento é, na
verdade, o resultado de um compromisso político entre os países ricos e os pobres. Como todos
os compromissos políticos, expressa uma série de princípios orientadores baseados em uma
plataforma consensual de intenções, mas apresenta sérios problemas de definição teórica e
operacional.
            O termo tem um entendimento geral no sentido de indicar um processo de
desenvolvimento concebido como melhorias qualitativas que não comportam necessariamente
crescimentos quantitativos. Tal processo deveria poder se sustentar por um tempo muito longo
devido à sua capacidade de conservar os elementos naturais não renováveis e renovar os que
fossem gastos na produção e consumidos pela população, cujo crescimento deveria permanecer
sob constante observação e controle. Entretanto, de fato, não há mais do que isso em comum
entre os vários conteúdos que a esse termo são atribuídos, dependendo das diversas concepções
de sociedade e do que se entende por desenvolvimento. Mesmo assim, é possível indicar
algumas dimensões gerais que o caracterizam e outras que decididamente não lhes são próprias.
            Para o desenvolvimento sustentável são importantes a análise racional, o pensamento
sistêmico, a acumulação e a elaboração de dados, já que resulta das relações entre o sistema
socioeconômico geral e seus subsistemas locais. Porém, tudo isso não é suficiente, porque uma
de suas prerrogativas fundamentais é a necessidade de compatibilizar dimensões potencialmente
antinômicas. Vejamos algumas: a) o desenvolvimento sustentável deve ser ao mesmo tempo
dinâmico e conservador, já que tem de desenvolver a sociedade e conservar os recursos naturais;
b) não pode ser implementado por um simples conjunto de reformas técnicas e econômicas, mas
comporta quase uma "revolução", que se fundamenta não somente em iniciativas políticas, mas, e
sobretudo, em novas regras de convivência, novas normas e novos valores. Entretanto é uma
"revolução longa", mais próxima de um processo evolutivo, já que normas e valores novos devem
ser internalizados pelos atores; c) nesse processo de internalizarão da nova moral, os atores têm
de aprender a pensar no global e agir no local e, por isso, necessitam de conhecimentos sobre a
cultura de sua sociedade e de noções científicas sobre a natureza; d) é um projeto que requer
muita criatividade, porém se alimenta de conhecimentos reais, científicos, e não da fantasmagoria
dos desejos. Em suma, o desenvolvimento sustentável impõe escolhas sobre o que tem de mudar
e o que deve ser mantido e, por isso, não pode ser o resultado de fórmulas predeterminadas, não
pode ser decretado. Só pode provir da mobilização e da participação e os movimentos sociais têm
um papel importante tanto no processo que pensa tal forma de desenvolvimento, como no que o
realiza. Esse é o plano sobre o qual sociologia e ecologia podem e devem reconstruir seu diálogo.
            Este diálogo, para ser frutífero, tem de se apoiar necessariamente em alguns
pressupostos iniciais que, mesmo permanecendo em um plano geral, devem ser consensuais. Em
primeiro lugar, no reconhecimento de que estamos necessitando urgentemente de novas relações
entre homem e natureza e, portanto, de novas relações entre os homens. Também é necessário
que a ecologia volte a ter como foco de seu interesse as necessidades dos homens, de "todos os
homens", em seus respectivos países, com suas especificidades históricas e culturais, com suas
visões das gerações futuras, reconhecendo, portanto, na "sociodiversidade" um valor tão elevado
quanto é atribuído à biodiversidade. Finalmente, que a sociologia, mesmo que não aceite o ponto
de vista da ecologia, esteja aberta às suas mensagens fundamentais que, talvez, possam ser
assim sintetizadas: o questionamento do gigantismo e da uniformização, a afirmação da
diversidade e do pluralismo, a modéstia de uma consciência de que os homens" estão" na
natureza e de que os conhecimentos dela ainda são muito limitados.
                                                        (Recebido para publicação em novembro de 1996)

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Sociologia e Ecologia: Um Diálogo Reconstruído

  • 1. Sociologia e Ecologia: Um Diálogo Reconstruído. Gian Mario Giuliani O DIÁLOGO ENTRE ECOLOGIA E SOCIOLOGIA Entre as décadas de 60 e 70 emergiu a "ciência do ambiente", uma disciplina científica que buscava uma síntese interdisciplinar das ciências que, de alguma maneira, poderiam contribuir para a compreensão e a solução dos problemas ambientais. Entretanto, a integração das ciências naturais com as ciências sociais demonstrou ser muito mais difícil do que se pensava. Os textos mais importantes da moderna cultura ecológico-ambiental estão, hoje, muito distantes da tradição sociológica.Trata-se, em grande parte, de textos de biólogos, demógrafos, geólogos, geógrafos, filósofos, jornalistas e de alguns economistas "heréticos", como Nicolas Georgescu-Roegen e Herman Daly, expoentes da chamada "economia ecológica", uma disciplina contestada pelos economistas de qualquer corrente mais canônica (Daly, 1989). Sobre a economia ecológica, é preciso observar que se trata de uma disciplina não tão nova como parece. Na obra de Deleage fala-se do socialista e populista ucraniano Sergej Podolinskij que, em 1882, escrevia para Marx e Engels a respeito de um curto trabalho que ele próprio havia publicado (Podolinskij, 1880). Nesse artigo, o autor preocupava-se com o equilíbrio entre a acumulação e a dispersão de energia solar: em face do crescimento populacional, considerava necessário melhorar a agricultura e a produtividade biológica da natureza. Foi ele quem elaborou o primeiro balanço energético da história, partindo da idéia de que no mundo se contrapõem dois processos energéticos: o dos vegetais que acumulam energia solar e dos animais que a consomem. Ao prevalecer o primeiro, teremos uma reserva de energia; prevalecendo o segundo, teremos penúria. Podolinskij estava convencido de que o trabalho útil do homem e dos animais poderia deslocar esse equilíbrio a favor dos consumidores, aumentando a energia solar fixada nas plantas e atrasando sua dispersão. Deleage reproduz uma frase fulminante de Engels, extraída da correspondência deste com Marx (19 e 22 de dezembro de 1882), a qual dispensa qualquer comentário: "Podolinskij acabou saindo do caminho, porque quis encontrar uma confirmação científica da justeza do socialismo e tem misturado, assim, a física com a economia" (Deleage, 1991:67). Com a ciência do ambiente surgiram estudos de problemas ambientais ligados à definição e ao uso dos bosques, dos parques recreativos e dos desertos, e também acerca da distinção entre uso destrutivo e não destrutivo dos recursos naturais, dando forma a uma "sociologia ambiental". A evolução do interesse nos problemas do meio ambiente levou à identificação de dois conhecidos paradigmas formulados por Catton e Dunlap (1983): o da "excepcionalidade humana" e o "paradigma ecológico", cuja adesão por parte dos sociólogos, mesmo parecendo alternativa e sem possibilidade de conciliação, indicava o surgimento de uma sociologia do meio ambiente. Para Strassoldo (1992), esta sociologia, como todas as ciências jovens, se caracterizava pela grandiosidade de suas aspirações e programas e pelas suas pesquisas empíricas bastante triviais, já que reivindicava uma mudança de paradigma, ao mesmo tempo que lançava mão de análises, temas, instrumentos teóricos e técnicos tradicionais. Ele aponta para duas tendências: uma, mais ambiciosa, representada por Catton, busca uma espécie de síntese interdisciplinar, na qual dados e conceitos alertam para a gravidade das relações entre sociedade e natureza. Outra, mais modesta, usa o instrumental dos sociólogos para o diagnóstico e a solução dos problemas ambientais específicos. Nesse sentido, suas áreas de estudo mais importantes voltam-se para temas muito diferentes, dificilmente reduzíveis a uma especialização sociológica. O principal elemento unificador da sociologia do meio ambiente não é tanto a adesão a um paradigma teórico, mas a adesão aos valores de uma nova cultura ambientalista e o desejo de contribuir para a solução dos problemas ecológicos, assim como de facilitar uma melhor relação entre sociedade e phisis, entre homem e natureza. Assim, a importância atribuída aos fatores ambientais pode corresponder a passos concretos que levem à superação do tabu dos fundadores da sociologia, para quem homem e sociedade já estariam desvinculados do condicionamento das forças naturais e físicas. Com certeza o tema mais amplo e complexo, sobre o qual ecólogos e cientistas sociais estão buscando construir o diálogo, é o clássico tema da sociologia, o tema do "desenvolvimento" humano e da sociedade, que, nos tempos atuais, tende a ser definido como "desenvolvimento
  • 2. sustentável". Este conceito, proposto sobretudo para os países em desenvolvimento é, na verdade, o resultado de um compromisso político entre os países ricos e os pobres. Como todos os compromissos políticos, expressa uma série de princípios orientadores baseados em uma plataforma consensual de intenções, mas apresenta sérios problemas de definição teórica e operacional. O termo tem um entendimento geral no sentido de indicar um processo de desenvolvimento concebido como melhorias qualitativas que não comportam necessariamente crescimentos quantitativos. Tal processo deveria poder se sustentar por um tempo muito longo devido à sua capacidade de conservar os elementos naturais não renováveis e renovar os que fossem gastos na produção e consumidos pela população, cujo crescimento deveria permanecer sob constante observação e controle. Entretanto, de fato, não há mais do que isso em comum entre os vários conteúdos que a esse termo são atribuídos, dependendo das diversas concepções de sociedade e do que se entende por desenvolvimento. Mesmo assim, é possível indicar algumas dimensões gerais que o caracterizam e outras que decididamente não lhes são próprias. Para o desenvolvimento sustentável são importantes a análise racional, o pensamento sistêmico, a acumulação e a elaboração de dados, já que resulta das relações entre o sistema socioeconômico geral e seus subsistemas locais. Porém, tudo isso não é suficiente, porque uma de suas prerrogativas fundamentais é a necessidade de compatibilizar dimensões potencialmente antinômicas. Vejamos algumas: a) o desenvolvimento sustentável deve ser ao mesmo tempo dinâmico e conservador, já que tem de desenvolver a sociedade e conservar os recursos naturais; b) não pode ser implementado por um simples conjunto de reformas técnicas e econômicas, mas comporta quase uma "revolução", que se fundamenta não somente em iniciativas políticas, mas, e sobretudo, em novas regras de convivência, novas normas e novos valores. Entretanto é uma "revolução longa", mais próxima de um processo evolutivo, já que normas e valores novos devem ser internalizados pelos atores; c) nesse processo de internalizarão da nova moral, os atores têm de aprender a pensar no global e agir no local e, por isso, necessitam de conhecimentos sobre a cultura de sua sociedade e de noções científicas sobre a natureza; d) é um projeto que requer muita criatividade, porém se alimenta de conhecimentos reais, científicos, e não da fantasmagoria dos desejos. Em suma, o desenvolvimento sustentável impõe escolhas sobre o que tem de mudar e o que deve ser mantido e, por isso, não pode ser o resultado de fórmulas predeterminadas, não pode ser decretado. Só pode provir da mobilização e da participação e os movimentos sociais têm um papel importante tanto no processo que pensa tal forma de desenvolvimento, como no que o realiza. Esse é o plano sobre o qual sociologia e ecologia podem e devem reconstruir seu diálogo. Este diálogo, para ser frutífero, tem de se apoiar necessariamente em alguns pressupostos iniciais que, mesmo permanecendo em um plano geral, devem ser consensuais. Em primeiro lugar, no reconhecimento de que estamos necessitando urgentemente de novas relações entre homem e natureza e, portanto, de novas relações entre os homens. Também é necessário que a ecologia volte a ter como foco de seu interesse as necessidades dos homens, de "todos os homens", em seus respectivos países, com suas especificidades históricas e culturais, com suas visões das gerações futuras, reconhecendo, portanto, na "sociodiversidade" um valor tão elevado quanto é atribuído à biodiversidade. Finalmente, que a sociologia, mesmo que não aceite o ponto de vista da ecologia, esteja aberta às suas mensagens fundamentais que, talvez, possam ser assim sintetizadas: o questionamento do gigantismo e da uniformização, a afirmação da diversidade e do pluralismo, a modéstia de uma consciência de que os homens" estão" na natureza e de que os conhecimentos dela ainda são muito limitados. (Recebido para publicação em novembro de 1996)