Resposta ao desafio para identificar os principais impactos que a pandemia (COVID) trouxe ao Supply Chain, e que vieram para ficar. #desmaterializacao #digitalizacao #eawb #ecmr #ebl
1. JANEIRO 2022
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autor: Hugo Duarte da Fonseca,
Managing Partner | Maeil
Hugo Duarte da Fonseca
#DESMATERIALIZAR
JANEIRO 2022
2. DES
MATE
RIALI
ZAR
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SCM Supply Chain Magazine
C
omo responsável pela MAEIL, tecnológica
nesta indústria, destaco as principais
alterações que já testemunhámos nestes
dois anos de pandemia, com maior impacto
na atividade empresarial, e que na nossa
perspetiva vão prolongar-se pós-pandemia. São
elas:
Aceleração da digitalização – As empresas
foram “forçadas” a acelerar o seu processo de
digitalização, com os seus colaboradores e
equipas a adaptarem-se e executarem as suas
tarefas de forma digital e em ambiente híbrido
(entre escritório e casa).
É cada vez mais exigido ao setor
dos transportes e logística, uma maior
transparência nos fluxos de carga e uma
resposta mais rápida e omnipresente (24x7)
por força das circunstâncias e com a pressão de
preços e disrupção na cadeia de abastecimento,
fruto das assimetrias e quebras de produção
que começaram na China no início da
pandemia, que se propagaram e que ainda se
refletem, quase dois anos depois, assim como
escassez de alguns produtos ou matérias (ex.,
chips) que resultam desse impacto inicial.
Este impacto foi transversal à grande
maioria das indústrias e mantém-se, obrigando
as empresas a reverem as suas prioridades,
estratégias e posicionamento digital.
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A célebre frase de Marc Andreessen
“software is eating the world” faz cada vez
mais sentido e está presente hoje em qualquer
negócio, indústria e organização.
Desmaterialização do setor – em particular
na indústria da supply chain, projetos como o
eAWB (carta de porte eletrónica no transporte
aéreo) mas também proximamente o eCMR
(guia internacional de transporte terrestre) e
eBL (bill of lading eletrónico, no transporte
marítimo) são “obrigatórios” para quem quer
continuar a trabalhar neste setor (temos
cinco projetos previstos como líderes de
consórcio no PRR Nexus Sines, dos quais dois
são focados nestes temas, usando tecnologia
blockchain), sem papel e de forma eletrónica.
Não faz sentido continuarmos a consumir
papel. Tem que se adotar a tecnologia já
existente para trabalhar de forma digital,
com a participação dos diversos players, de
forma segura e integrada. Da mesma forma
que a fatura eletrónica já é uma realidade (na
administração pública em Portugal), assim
como a assinatura digital de documentos
de forma legal (docusign, por ex.), também
todos os documentos de transporte vão ser
desmaterializados, e esse caminho já está a
ser percorrido.
Consolidação dos big players – tem-se
assistido a uma consolidação (tanto nos
transitários e logística como também nos
armadores) dos principais players a nível
internacional, com várias aquisições e com
mudanças ou shifts de estratégias, com os
armadores a entrarem na logística (transporte
terreste e aéreo, por exemplo) mas também
na consolidação de transitários. Sabemos
que estes dois anos tem trazido resultados
extraordinários ao setor, com um exponencial
aumento dos fretes, o que permite a esta
indústria a alavancagem financeira necessária
para crescimento por aquisição, a que vamos
assistindo. Por isso, é previsível que mais
processos de M&A venham a ocorrer.
Como parte da indústria da supply chain,
o eCommerce explodiu durante este período
e vai continuar a crescer por parte dos
consumidores finais, com a alteração do
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comportamento pela necessidade mais uma
vez imposta pela pandemia. Os números
nestes dois anos dispararam, e todos os
players estão a crescer e muitas marcas de
retalho a reposicionarem-se e a melhorarem
os seus canais digitais, com forte investimento
neste modelo. Como consequência, do
fecho de algumas lojas físicas e aumento do
eCommerce, e também fruto das alterações
a nível ambiental e de novas políticas na
Europa, no acesso aos centros das cidades
(CBD) por quem faz a distribuição, tem surgido
novos modelos de distribuição urbana e last
mile (dark stores). Segundo um relatório
dos CTT, “o eCommerce B2C [business-to-
consumer,] de produtos em 2020 cresceu
46% em Portugal”, o que representa mais 26
pontos percentuais do que o registado em
2019, ano em que o crescimento foi de 20%.
Enquanto gestor, não posso deixar de referir
os recursos humanos, nas relações internas
(dentro de cada empresa) e externas (com
clientes e parceiros) nomeadamente:
Comunicação e gestão remota de equipas
– conseguir gerir à distância as equipas,
projetos e atividades, mantendo o espírito
de equipa e eficácia nas operações. Na
comunicação presencial no dia-a-dia a
informação flui mais facilmente na empresa,
por outro lado, em casa (e havendo condições
de trabalho) os colaboradores podem estar
mais focados.
Cultura e visão da empresa em modelo
híbrido – como receber novos colaboradores
(provavelmente já contratados online)
e como partilhar a cultura da empresa,
partilhar a visão e conseguir comunicar de
forma eficaz, em tempo útil, num ambiente
maioritariamente remoto e sem presença
física.
Como conciliar este ambiente “híbrido”
com a operação e visão da empresa, e
envolvimento de todos os colaboradores?
É a principal questão que deixo e em
relação à qual é importante cada empresa
refletir e rever processos e procedimentos
de trabalho, já que caminhamos para este
modelo híbrido no futuro, para que possamos
aproveitar as vantagens do trabalho no
escritório e em casa”. •
como parte da
indústria da
supply chain,
o ecommerce
explodiu
durante este
período