1) Há três tipos de analfabetos na sociedade angolana: aqueles que nunca foram à escola, aqueles que frequentaram a escola mas não adquiriram conhecimentos, e aqueles que concluíram um curso técnico mas não desenvolveram competências práticas.
2) O sistema educacional angolano está falho pois prioriza a formação acadêmica em detrimento da formação de caráter e há professores sem vocação ensinando.
3) Tanto estudantes quanto governantes são culpados, uns por buscarem apenas benefíci
Os três modelos de analfabetos na sociedade angolana
1. Os três modelos de analfabetos na sociedade
angolana e a fraca resposta político-educacional
Foi com muita tristeza que me encontrei, quando parei para escrever sobre este assunto.
Mas o é certo é a realidade amarga que nos acompanha diariamente. Também foi com
muita tristeza, que me encontrei quando, ouvi a opinião de muitos angolanos acerca da
nossa educação!
Hoje vê-se muita gente a correr atrás de uma formação superior ou universitária.
Também vê-se o governo, as empresas e a sociedade em si, no incentivo das pessoas à
escolha dos cursos técnicos (porque está a bater) principalmente na área da TI.
Consequentemente a sociedade se esquece dos outros sectores da vida humana como a
formação de professores dotados de bases sólidas e comportamento psíquico, afectiva e
humana. Muitos hoje são os professores que passaram de missionários para
mercenários, e outros foram ainda mais baixos, porque estão na categoria de
garimpeiros. Eles não estão interessados em preparar os discentes para o futuro (estes
são construtores de Robô Sapiens).
As escolas de formação de professores quase que não existem (poucos querem se
formar para serem professores mas todos querem dar aulas) – Ambição e ganância! As
escolas que existem estão preocupadas em preparar alunos «barras» e não bons mestres
ou bons pedagogos (conhecedores da Didáctica, da Metodologia, da Psicologia
educacional, enfim!).
Consequentemente estamos a assistir pessoas sem vocação, sem paciência, sem
bagagem, sem missão, sem interesse humano, sem afectividade, etc, pessoas que
estudaram a vida toda para serem técnicos (isto é, para trabalharem com máquinas), na
educação fingindo orientarem e formarem os filhos povo miserável. Tudo, porque os
governantes têm os seus filhos a estudarem fora do país! - Autentico martírio.
Porra! Pessoas sem agregação pedagógica. Tudo por dinheiro; não estou generalizando,
mas a maior parte sim. Isto é em todos os níveis (do básico ao superior).
De que é a culpa?
A culpa é nossa, que nos esquecemos da componente humana e afectiva (não quer dizer
que o professor deve paparicar o aluno! Não! Mas amar o outro e querer lhe ver bem!).
A culpa é nossa, porque só queremos o que está a “bater”.
A culpa é nossa, porque só queremos aparecer no faz de contas e não ser o que se é.
Também culpado somos nós, que só queremos ouvir elogios do que se parece que é para
agradar o outro. Muitos somos nós, que estamos numa escola, mas sem saber qual é o
objectivo; hoje agente vai para um curso sem ter uma ideia do que fazer depois e ao
longo do mesmo.
2. E o grande culpado é o próprio governo que não soube educar a população, nem
consegue orientar o seu povo. Porque se vê também casos de indivíduos, que nunca
pensaram em leccionar, mas são colocados pelo partido para ensinar numa faculdade
qualquer (lhe atribuindo fortes e pesadas responsabilidades). Mesmo sem experiencia na
área.
- Digo sem medo de errar: - o ensino está banalizado!
E o mais grave é que o próprio ensino por causa do sistema político acabou por criar o
segundo e o terceiro tipo de analfabeto da nossa sociedade.
Sendo assim, actualmente em Angola há três modelos de analfabeto, nomeadamente:
O que nunca foi para a escola (não conhece nem A nem B): este é a pessoa que nunca
foi à escola por qualquer razão.
O analfabeto intelectual ou o académico (conhece A e B): tem um nível e um diploma
(andou na escola) mas não conhece nada, não consegue interpretar os fenómenos
sociais, não tem conhecimento (não sabe nada de cultura geral) não escreve e nem lê.
Tudo para ele é novidade; não investiga. Terminou o curso, mas não leu ou comprou um
livro se quer. Já não se esforça! Para este o importante é o curso que fez, e os
fenómenos humanos não lhe interessa, a vida dos outros e outros cursos para ele não faz
sentido e nem têm importância (acima de tudo é ignorante, mas pensa e diz saber
muito).
Este já não tem capacidade de análise e reflexão. Não consegue argumentar acerca de
um tema qualquer nem interpretar um texto, nem sabe debater (tem sempre atitude de
superior).
Por último temos o analfabeto técnico: este estudou e teve boas notas (possuidor de um
diploma), mas daquilo que estudou e que é essencial não sabe nada (tem uma
especialidade mas não é especialista).
Por exemplo: estudou electricidade, mas não sabe coisa nenhuma de electricidade e nem
consegue instalar uma residência.
A situação é grave, e isto nos serve de lição para uma profunda reflexão. Os nossos
filhos estão a crescer neste clima atrofiado onde todo mundo quer tirar vantagem.
Uma coisa é bem verdade a educação em Angola não está boa nem se espera melhorar.
Porque os dirigentes sabem, mas não estão interessados.
Isto é visível nos seus pronunciamentos:
Quando um governante diz – o meu filho estuda na Europa, porque o ensino em Angola
não tem qualidade – O meu filho estuda fora, porque com a educação dos filhos não se
brinca. Então, nós que estudamos em Angola andamos a brincar. E vocês, governante a
se divertirem com palhaçadas.
3. Resumidamente, existe má governação. Porque eles criaram as bases para o nosso
fracasso (tirando a qualidade dos livro, criando a reforma e tantas armadilhas).
Luanda, ao 24 de Setembro de 2012
Autor: Paulino Mendes Peregrino