Comunicação apresentada no 9.º Módulo - Sono e Especialidades - da 3.ª edição da Pós-Graduação em Cronobiologia e Medicina do Sono, do CESPU.
Porto, 2/3 de julho de 2021
1. SONO NA ESCOLA
Henrique Santos
Educador de Infância
Agrupamento de Escolas Professor Armando de Lucena
(Rede Pública)
2. Evolução e Desenvolvimento
A escola portuguesa, tem observado, desde há cerca de cinquenta anos,
uma evolução constante em todos os seus setores.
Da formação de docentes, à melhoria qualitativa e quantitativa de
espaços escolares, passando pelo constante desenvolvimento curricular,
técnico e pedagógico, serão poucos os países europeus onde as mudanças
educativas são tão evidentes e tão contínuas.
Não obstante, porque não tem existido um “plano global”, devidamente
refletido e incorporado nas práticas, têm sido muitas as alterações que
não encontram, de facto, consistência na investigação científica nem na
observação empírica. Nesse particular, a escola tem “esquecido”: a
cultura familiar e local, os hábitos alimentares, os hábitos de Sono,
as tradições e ecologia dos lugares
4. falta de reflexão, análise e experiência
continuada (e devidamente avaliada)
ou
inconsistência na forma como abordam
questões relativas à função da escola,
(nomeadamente no âmbito das questões do
bem-estar dos seus atores).
5. Obstáculos
Em 1995, uma Portaria da então Direção Geral da Educação,
vem recomendar aos profissionais de educação que abandonem
práticas como a ”picotagem”, a “escovagem de dentes”, os
períodos de sono no jardim-de-infância ou mesmo a utilização
de instrumentos de sopro.
Vivia-se, então sob o impacto das informações cada vez mais
intensas sobre a SIDA e outras doenças transmissíveis.
6. Opções pedagógicas e didáticas
Nos diversos níveis de ensino existe alguma liberdade pedagógica
e podemos observar algumas práticas “inovadoras” com integração
de dinâmicas específicas.
Contudo, o peso das orientações ditas “académicas”, os tempos (ou
a falta deles) e exigência técnica da lecionação de conteúdos
retira, estamos em crer, vontade, dinâmica (e até saber) às
escolhas das escolas e dos professores.
As “questões” associadas ao bem-estar têm vindo a assumir, agora
(e também por motivo da pandemia COVID), alguma centralidade,
entrando no discurso docente com “maior normalidade”.
7. Porquê...
Reconhecendo:
A necessidade das crianças pequenas terem tempos e espaços de descanso
e de pausa nas atividades letivas,
Que as crianças enfrentam períodos de permanência na escola que vão
frequentemente até 11 horas,
Que a formação académica incide (apenas) nos conhecimentos técnicos,
Que as famílias, imersas nas suas múltiplas atividades, não dispõem de
“tempo útil” e
Que os modelos sociais se têm alterado…
8. É pertinente...
encontrar estratégias diversas, como a participação de
docentes e famílias, em momentos recorrentes de informação e
reflexão conjunta,
disponibilizar espaços, equipamentos e materiais específicos
que contribuam para a promoção de hábitos saudáveis,
promover o diálogo (e a formação) intersetorial
e, sobretudo, a disseminação de informação pertinente.
10. Como...
Na sala de jardim-de-infância, o pós almoço é sempre uma “zona de
descanso”.
Depois de regressarmos à sala, e depois da rotina da escovagem de
dentes, inicia-se o tempo de calma. Baixam-se os estores, liga-se
a música ambiente (normalmente uma música de relaxamento, música
de “chill out”…) e começa o tempo de relaxamento.
Tiramos os sapatos, pegamos nas nossas almofadas e instalamo-nos
confortavelmente pelo chão da sala (ultimamente com recurso a
esteiras de ioga).
Às vezes, “acampamos” debaixo das mesas ou esticamo-nos no tapete
das histórias...
11. Como...
Umas vezes escolhemos o Ioga, outras a Meditação, a maior parte
das vezes, é uma história contada pelo Henrique, mas o que
gostamos mesmo é o Jogo da Pena ou o Jogo do Carrinho. No Jogo da
Pena, fazemo-nos (uns aos outros) “cócegas boas”: na cabeça, nas
mãos, na cara…
No Jogo dos Carrinhos, que também é a pares, fazemos do nosso
corpo auto-estradas que são ótimas massagens para acalmar…
Com todo o ambiente a chamar por nós, é raro que não dediquemos
30 ou 40 minutos a um sono reparador. E quando acordamos, temos
ainda mais vontade de brincar. E estamos muito menos irritados. E
é tão bom!
12. Resultados
No que concerne aos índices de acidentes e situações de
risco, a escola onde se desenvolveu o projeto apresenta os
melhores resultados concelhios e, em relação ao Agrupamento
onde se insere, apresenta valores diminutos de acionamento
do seguro escolar para situações de emergência médica.
Na perspetiva micro, constatamos uma redução do absentismo
escolar (por doença), uma maior disponibilidade para a
aprendizagem e também uma crescente procura da escola por
famílias de fora da zona de incidência escolar.
13. Resultados
Podemos afirmar que as crianças apresentam maior
disponibilidade para a aprendizagem e aumentam
consideravelmente os tempos de atenção, diminuíram
substancialmente as situações de conflituosidade e, na
informação que vamos obtendo das famílias, tornou-se visível
uma mudança comportamental evidente: as viagens da escola
para casa, o tempo de “estar” com as famílias e até as
atividades extracurriculares apresentam “novas” dinâmicas –
mais calmas, mais concentradas e com maior disponibilidade
-.
14. Resultados
A par destas observações inferidas, também a dinâmica
familiar se foi alterando, com muitas famílias a
compreenderem e a aceitarem a necessidade de tempos
regulados de sono e descanso.
Não obstante, e por razões atrás apontadas, mantém-se alguma
dificuldade em ”justificar”, interna e superiormente,
algumas das opções feitas, o que tem, de alguma forma,
enfraquecido o alcance e a sustentabilidade de algumas das
alterações que tiveram lugar.