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ABORDAGEM SÓCIO-CULTURAL
CARACTERISTICAS GERAIS:
A Abordagem Sócio Cultural verte das tendências: do neotomismo, o
existencialismo, o humanismo, a fenomenologia, e o neomarxismo, que nada mais são
movimentos que tratam das relações do ser humano com a cultura. Surge após a Segunda
Guerra Mundial. Seu principal objetivo era enfatizar a cultura popular de forma a induzir a
democratização. MIZUKAMI (1986 p. 85)
Ribas e Moura (2006) citam:
“A abordagem sociocultural enfatiza que a atividade humana é mediada e
nela tem sido investigado o desenvolvimento humano dentro das práticas
culturais dos grupos, que supõem o uso de diferentes formas de mediação.
A partir desta orientação, entende-se que os mediadores - instrumentos,
signos, práticas culturais - são carregados de significação cultural.”
(p.130).
A abordagem sócio-cultural trata basicamente das relações dos indivíduos em
grupos culturais, como esses grupos influenciam em nossos significados, em maneiras de
ver uma sociedade, pois como sabemos um indivíduo sofre alterações diante uma cultura.
Na visão de Paulo Freire sua maior preocupação era com a cultura popular, sendo ela
enfatizada em aspecto social, política e cultural, pois conhecendo sua ideologia percebemos
que o que mais o preocupava era como trazer para a sala de aula as diferentes culturas dos
alunos, de forma a trabalhar no coletivo, de forma a assumir e não somente consumir esse
valores mudando a visão do homem diante o mundo, cultura, educação e ação educativa
(estratégia do professor ensinar). MIZUKAMI(1986 p.85)
CONCEPÇÃO DE HOMEM E MUNDO.
Nesta abordagem a visão de homem e mundo segue um contexto que visa os dois
juntos, em uma linha interacionista, sendo o homem sujeito, criador e objeto do
conhecimento e o mundo como lugar onde ele desenvolvera sua prática cultural. Tornando-
o critico capaz de mudar uma realidade, uma cultura, quando essa já não o faz refletir sobre
o mundo. Nesta abordagem o homem precisa do mundo, pois é nele que as manifestações
das culturas acontecem e através dele se constroem conhecimento. Ainda na visão de Paulo
Freire, esta abordagem traz consigo uma educação com praticas de liberdade, onde para ele
métodos deveriam ser discutidos em um lugar onde ele deveria ser descrito, discutido e
compreendido pelo grupo. MIZUKAMI (1986 p. 86)
COMO É A SOCIEDADE/CULTURAL.
A sociedade é baseada em um local onde o homem cria a cultura, ele quem o faz
acontecer interferindo no meio em que vive, integrando no seu contexto de vida. Suas
informações interagem com a cultura e a sociedade onde ele convive, adquirindo uma
experiência critica e criadora. Ele cria relações respondendo desafios críticos, incorporando
uma ação humana. Essa sociedade cultural baseia-se na experiência dos indivíduos, onde
estes criam seu contexto de vida, diante á uma determinada cultura, fazendo a interação
com o outro. Tornando-o um ser critico e capaz de modificar uma cultura ou um contexto
de vida, levando isso para educação, na maneira onde o aluno adquire experiência junto
com seus colegas, tornando-os críticos e capazes de modificar uma forma de ensino,
deixando de lado o método tradicional. A sociedade deve ser democrática incluindo o
homem e buscado um lugar para as opiniões. MIZUKAMI (1986 p. 87-89)
COMO É TRABALHADO O CONHECIMENTO:
O conhecimento é trabalhado na forma onde ele torna-se um sujeito que se
compromete com a consciência da sua história/cultura. Onde as respostas que ele encontra
não modificam somente a sua realidade, mas si próprio, onde este processo deve estar
ligado a sua conscientização, superando uma dicotomia de corpo e objeto, seguindo uma
linha onde o conhecimento é elaborado a partir do pensamento e a prática. O conhecimento
é progressivo, nunca acabado, buscando sempre aproximar a realidade da prática, sendo
essa realidade o objeto principal do conhecimento do homem. O educador deve fazer com
que o aluno, veja na realidade uma forma de aplicar sua teoria e sua experiência quanto
indivíduo na história da sociedade. MIZUKAMI (1986 p. 90 - 91)
SIGNIFICADO DE EDUCAÇÃO.
O homem é sujeito da educação, onde ele exerce uma ação reflexiva, analisando em
que vivem os sujeitos. Ele precisa exercer uma reflexão acerca do que acontece ao seu
redor, levando para sala de aula as suas experiências, compartilhando-as com o educador e
colegas, transformando em uma abordagem critica, para não ocorrer o risco á uma
educação pré – fabricada, ou seja, que já venha pronta sem interferir, dar opinião e até
mesmo critica-lá. A educação deve proporcionar ao indivíduo, oportunidades de estabelecer
relações com o mundo e com outros indivíduos que compõem uma sociedade, outra cultura.
A partir da educação que o homem poderá transformar uma sociedade (mudar
pensamento), sem estar participando ativamente dela, e sem condições de tomar
consciência da realidade. A educação deve tornar o indivíduo em um ser critico e reflexivo
diante a sociedade e cultura. MIZUKAMI (1986 p.94)
POSICIONAMENTO DA ESCOLA
A educação não é restrita a escola, nela a educação é formal onde deve ter um
processo de conscientização e compreensão entre aluno e professor. A escola tem que ter
um currículo próprio, com objetivos e prioridades aos alunos a serem cumpridos durante o
ano. Na escola as relações são mecânicas onde muitas vezes é difícil passar a educação
formal sem ter uma transformação social. Portanto, a transformação social é uma
complicada influencia para a educação formal das crianças, hoje, mas, é de extrema
importância que o professor se comprometa e entenda a sociedade em que ele esta atuando
para obter um melhor resultado no processo de aprendizagem das crianças. MIZUKAMI
(1986 p. 95)
ENSINO APRENDIZAGEM
Freire tinha como principio a pedagogia do oprimido, algo que tem que ser com ele
não para ele, na recuperação da humanidade. Onde ele seja causa de reflexão, sendo
engajado na luta pela sua libertação, tanto de idéias como de expressão. MIZUKAMI (1986
p. 96)
O ensino aprendizagem deve ser entendido como algo que deve superar opressor
oprimido, onde é preciso que ele seja critico procurando uma pratica libertadora, tendo o
dialogo como ponto principal e solidário com o oprimido lutando para transformar a
realidade. MIZUKAMI (1986) afirma que “Ensino e aprendizagem assumem um
significado amplo, tal qual o que é dado á educação. Não há restrições ás situações formais
de instrução” (p 97), pois para freire a verdadeira educação deve ser a que problematiza
ajudando na relação opressor-orpimido. MIZUKAMI (1986 P.97).
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO:
É um processo onde professor e alunos aprendem e ensinam juntos. Onde o
professor deverá estimular o aluno a questionar a cultura que lhe é imposta e saiba criar sua
própria cultura a partir do contexto em que vive e da sua realidade. O professor vai criar
situações onde o aluno “abra os olhos” para que as contradições da sociedade.
No processo de ensino aprendizagem considerar as diferenças individuais (cultura e
o contexto em que vive) de cada aluno, e não tratá-los como iguais e criar um ensino
padronizado.
O aluno interage com o professor dando a sua contribuição para o processo de
ensino- aprendizagem, falando sobre sua cultura e suas experiências de vida. MIZUKAMI
(1986 p. 99)
QUAL A METODOLOGIA UTILIZADA?
O método constitui uma figura que busca um gênero de representação, para que os
alunos tenham o contato com uma representação real, esse método faz os alunos e
professores levantarem critica, fazendo com que eles passem a fazer reflexões juntos. Os
alunos quando recebem informações do contexto real podem passar em forma de contexto
teórico, fazendo uma exploração de próprias experiências, criticando e adaptando de forma
aprofundada. A alfabetização é feita em forma de debate colocando o dialogo como ponto
em que cada um expressa o seu conhecimento, é uma educação que possibilita a
diversidade, a liberdade de expressão, sendo que ocorra esse debate é necessário colocar
pontos chaves para gerar o dialogo. MIZUKAMI (1986 p. 100 - 101)
AVALIAÇÃO
Nessa abordagem a avaliação não se dá através de notas e provas. O que é avaliado
é a prática educativa tanto dos alunos como dos professores.
Segundo FREIRE, 1982 P.94 (apud Maria da Graça Nicoleti Mizukami, 1986) “ A
avaliação é da prática educativa, e não de um pedaço dela.” Ou seja, professores e alunos se
auto-avaliam para saber quais foram as melhoras e no que eles ainda podem melhorar.
MIZUKAMI (1986 p. 102)
CONSIDERAÇÕES SOBRE A UTOPIA
1. Origem, Histórico e Conceituação
O termo utopia, desde que surgiu, carrega consigo uma conotação político-social.
O termo é uma composição de duas palavras gregas: ou (indica negação, não) e topos
(lugar). Para o português é traduzido de algumas formas das quais as mais comuns são: “o
lugar que não existe”; “o lugar do melhor”; ou ainda, “o não lugar”.
Politicamente usado, o termo leva a uma negação dos projetos e da ordem social
existente propondo como conceitos abstratos uma nova ordem superior à atual e idealizada.
O primeiro pensador a utilizar o termo com tal conotação é Thomas More (1997) e
posteriormente Tommaso Campanella (2005) no século XVI. Estes escrevem suas obras,
Utopia e Cidade do Sol respectivamente, propondo modelos de sociedade rígidos para
manterem os bons costumes e resgatar os valores e uma igualdade abstrata em
contraposição às contradições do modelo mercantilista (primórdio do capitalismo) baseado
na apropriação privada. Diante do modelo econômico implantado – o capitalismo mercantil
–, o mundo entra em uma grande transformação da qual não escapa o termo em questão:
“No século XVIII, a utopia apresenta-se como uma formulação imaginária,
como sonho político, como uma fuga da realidade. A perspectiva contratualista
na formulação do modelo político, a divisão e o equilíbrio entre os poderes, a
busca do esclarecimento e da racionalidade segundo as modalidades próprias do
homem e da natureza constituíram um discurso crítico ao antigo regime. As
utopias de Renascimento como, por exemplo, no livro Viagens de Gulliver de
Swift, propunham a superação das deformações existentes no antigo regime
através do ideal do tipo liberal individualista”( BOCAIUVA et, alii, p. 265).
O que para os utopistas do século XVI eram vícios que levavam a sociedade ao
declínio moral, com o primor do capitalismo no final do século XVIII e início do XIX
tornou-se um estágio necessário do desenvolvimento da sociedade. Tal desenvolvimento
acaba fomentando na sociedade, pelo mal-estar gerado, uma secularização das utopias, que
receberão uma conotação socialista. Os marcos desse tipo de utopia são R. Owen, Saint-
Simon e C. Fourier. Estes procuram formular novos projetos sociais em combate às
contradições do sistema capitalista, colocando em primeira instância a questão do trabalho
como sendo a base de uma sociedade reformada. Isso inicia uma crença fervorosa na idéia
de progresso constante da sociedade. No século XIX, Marx chamará este socialismo de
utópico num sentido pejorativo, quimérico, anacrônico (2006).
No Manifesto do Partido Comunista (1999), juntamente com F. Engels, Marx faz
uma crítica ferrenha aos teóricos do socialismo – que ele denomina utópico – por eles terem
percebido os antagonismos de classe e não terem proposto uma luta revolucionária para
superá-los . Praticam assim seu maior equívoco, ou seja, buscam conciliar as classes entre
si. Isso decorre da não compreensão do movimento real da história, segundo os escritores
do Manifesto do Partido Comunista. Por isso, só resta a estes utópicos transcender a
realidade com construções de uma nova realidade social fantástica. Para Marx, a utopia
toma este sentido pejorativo, ou seja, não pode ser realizada, é um sonho político.
No século XX, as utopias tomam um rumo negativo, perante o surgimento de
novas teorias sociais positivistas, que provocam uma corrida científico-progressista, que
ameaça a liberdade e a vida humana como tal. Neste contexto é que as obras utópicas de G.
Orwel (1983) e de A. Huxley (2005) surgem apresentando-se como uma forma de
prevenção da privação a que o homem pode chegar - sua liberdade -, ou seja, são uma
crítica à realidade – este é seu caráter utópico – que se continuar no rumo indicado pelos
fatos, levará a um futuro fatalista, monstruoso e caótico em nome do progresso.
Karl Mannheim (1986), na primeira metade do século XX, quando analisa a
utopia, usa o termo “mentalidade utópica” ou “espírito utópico”. Para ele, este estado de
espírito utópico evidencia-se na incompatibilidade de atos, pensamentos e conduta com a
ordem estabelecida. É, portanto, um estado que transcende a realidade da ordem
estabelecida. Porém é preciso esclarecer que nem todo estado de espírito, que transcende a
realidade, é utópico. Há os estados de espírito ideológicos, que também transcendem a
realidade, mas que, no entanto, não implicam na mudança da ordem estabelecida. Pelo
contrário, acabam sacramentando-a.
A história é repleta, em todas as suas fases, de idéias incongruentes com a situação
real, mas, que não oferecem qualquer possibilidade revolucionária, portanto não-utópicas,
mas ideológicas. Somente serão utópicas se incorporadas por algum(ns) grupo(s), em
ascendência, à sua(s) conduta(s). Há de ser levado em conta, para o esclarecimento das
concepções acima, uma concepção de existência do homem e de transcendência desta
mesma existência. Estas últimas são tomadas a partir do contexto histórico-social, visto que
o homem, sociologicamente falando, só existe historicamente e, o meio em que se encontra,
influencia sua vida e suas concepções.
Frente a tal quadro, é preciso afirmar que todas as concepções do homem levam
uma bagagem política e econômica situacional. Existe dentro desta categoria duas formas
de conceber as coisas, as situações: uma, são as idéias situacionalmente adequadas, ou seja,
que são congruentes ao status quo; outra são as idéias situacionalmente transcendentes ou
irreais que não são passíveis de se realizar dentro das condições sociais existentes. Em duas
palavras: ideologias e utopias respectivamente.
Mannheim (1986: 220) afirma ainda, que sempre os intelectuais da ordem social
prevalecente rotularão as lutas e os ideais da ordem oposta como utópicos no sentido
irrealizável do termo, como se fosse uma fantasia ou um sonho. Já para esta última ordem a
sua utopia só é irrealizável nas condições sociais existentes, mas está concretizando-se por
sua força e luta para estabelecer nova ordem em que seus ideais possam ser viáveis.
“...Será sempre o grupo dominante, que esteja em pleno acordo com a ordem
existente, que irá determinar o que se deve considerar utópico, ao passo que o
grupo ascendente, em conflito com as coisas como estão, determinará o que deve
ser considerado ideológico. Outra dificuldade em definir com precisão o que se
deve considerar como utopia resulta do fato de os elementos ideológicos e
utópicos não ocorrerem separadamente no processo histórico. As utopias das
classes ascendentes se acham freqüentes vezes permeadas por elementos
ideológicos”(idem).
A utopia jamais se dá em nível individual. Ela é essencialmente social. Pode-se
admitir somente a ação do indivíduo ou sua concepção utópica na medida em que esta vai
ao encontro de uma luta ou conduta de um grupo, que supõe a devida incongruência com a
ordem social existente e tem perspectivas de nova ordem social. Uma grande verdade a
respeito das concepções utópicas é que estas só adquirem tal sentido, ou seja, são
compreendidas e assimiladas à conduta de um grupo social, se perfiladas a uma estrutura
social e que a um dado tempo casem-se – as concepções utópicas com a realidade – com
comunhão de bens.
2. CONSIDERAÇÕES ANTROPOLÓGICAS ACERCA DA EDUCAÇÃO E O SISTEMA ECONÔMICO.
Paulo Freire (2006: 27) deixa claro que é impossível fazer uma reflexão sobre a
educação sem refletir sobre o próprio homem, ou seja, abordá-lo numa perspectiva
antropológico-filosófica. Conclui que o “núcleo fundamental” em que se sustenta o
processo de educação está na própria experiência existencial do homem: o seu
inacabamento ou inconclusão. O ser humano, neste sentido, como tudo o que existe, não
está pronto, mas está em constante processo de construção e abertura à realidade em que
está circunscrito. Porém, a diferença que há entre os seres humanos e os demais seres -
também inacabados - está na capacidade que o homem tem de tomar consciência de sua
posição no cosmos, perceber sua singularidade e ser “autor” de sua própria história. A
educação só é possível entre os seres humanos pelo fato destes reconhecerem-se neste
estado de inacabamento e predisporem-se na busca constante da conquista do seu ser na
história, ou seja, pela educação que os seres humanos tornam-se humanos, produtos de um
constante processo de superação de sua condição incompleta.
Contudo, pensar a situação do “homem” e da “educação” no atual contexto sócio-
histórico, exige que sejam considerados os fatores econômicos, políticos e ideológicos que
condicionam sua existência e restringem sua práxis a uma mera adaptação aos fatos e não
uma inserção na realidade para transforma-la e recria-la.
O período atual está marcado profundamente pelas determinações provenientes da
singularidade de um sistema econômico que se impôs globalmente e, atingiu, devidas as
proporções, todos os cantos do planeta. Este, mesmo visivelmente contraditório, avança de
forma assustadora na destruição da natureza e da própria espécie humana. Concebe-se esta
época como o fim das ideologias, das lutas das classes sociais, da sociedade do trabalho, da
história, e a prova dos mecanismos “naturais” do mercado (FRIGOTO, 2000: 59). Época
em que parece não ter nenhuma alternativa de sistema que a humanidade possa encontrar-se
sem o contraditório e destrutivo sistema de acúmulo e feroz consumismo.
A educação torna-se um instrumento idealizador e na perspectiva neoliberal serve
como mecanismo de ajuste e adequação das pessoas às demandas do processo de produção
capitalista. Nesta visão, o ser humano passa a ser compreendido como um produto
manipulável de acordo às exigências do mercado, transformando-o num mero receptor de
conhecimento fragmentado, necessário aparentemente para uma possível inserção no
mercado de trabalho. A educação torna-se uma forma de estímulo à competitividade,
instrumentalizando no educando expectativas e esperanças falsas de acesso às demandas do
capital e condicionando a construção de sua própria existência. Deixa de ser um espaço de
efetivação da estrutura sociocultural da pessoa, bem como, das conseqüências desta no que
se refere à questão da esperança/utopia, anseio mais profundo deste que motiva a sua
existência para o futuro.
Este panorama faz com que pensemos sobre o conceito de esperança/utopia que as
pessoas têm e depositam na educação, sendo que esta, ao invés de problematizar as
contradições da realidade marcada pela exclusão social, apenas acaba se tornando um
mecanismo de acomodação aos fatos como se estes fossem imutáveis, instransponíveis. Tal
esperança não passa de uma forma mágica e ingênua perante a realidade, concebendo a
história como um conceito estático e inexorável e a liberdade humana limitada aos encaixes
na economia de mercado.
Cardoso(2006) reflete que é necessário perceber de forma critica e autônoma estas
transformações, para que estes temas educacionais não se transformem em convicções
correntes de um estágio de desenvolvimento social natural. Nesse sentido a opinião pública
tem constituído uma forma comum de compreensão, percebendo-se cada vez mais como
normativa. É necessário, no entanto, questionar de quem são os valores, ética e códigos
morais e interesses que estão sendo expressos como naturais e avançados.
A internacionalização do neoliliberalismo conservador necessita de um sistema
ativo e depende do envolvimento eficaz dos governos, políticos e funcionários, grupos e
indivíduos em cada país. Concomitantemente esta penetração globalizada é permeada de
conflitos, tensões e contradições dentro de instituições de natureza democrática e de fins
sociais. O neoliberalismo não é um sistema monolítico, mas constituído de conceitos
complexos e variados. A diversidade, qualidade, eficiência, avaliação e escolha também são
afetadas e influenciadas pela multiplicidade de significados e convicções da variedade
interna inerente ao próprio neoliberalismo, ao “novo” sistema capitalista. (CARDOSO,
2006)
O princípio de “privacidade e liberdade” atrofia os direitos sociais e a educação é
percebida como valor mercantil, instrumento congregador de princípios comerciais e de
eficiência econômica.
“A competição forma a base de sustentação da nova forma de fornecimento de
serviços onde um indivíduo irá ganhar o que o outro indivíduo irá perder. Em
muitos casos, o princípio darwiniano de seleção natural é transferido para
seleção social: apenas os mais fortes sobrevivem as avaliações. Mudanças
escolares seguem definições restritas de “melhoramento”baseadas na oposição
entre noções de boa/má, eficiente/ineficiente ou útil/inútil” (Cardoso, 2006:215)
O ser humano, que na perspectiva freireana se completa e se realiza na medida em
que se relaciona e estabelece laços com outros de sua espécie num processo de
aprendizagem conjunta, torna-se, no sistema capitalista, um competidor, concebendo o
próximo como uma ameaça ao seu desempenho, à realização de seus sonhos e projetos.
Desenvolve-se assim uma expectativa e uma forte esperança no denominado de
que o “estudo” é um mecanismo que garante a possibilidade de acesso ao mercado de
trabalho e que viabiliza o caminho para o sucesso. Isso identifica-se com o que Freire
chama de “prescrição”:
Por isto, o comportamento dos oprimidos é um comportamento prescrito. Faz-se
à base de pautas estranhas a eles – as pautas dos opressores. Os oprimidos, que
introjetam a “sombra” dos opressores e seguem suas pautas, temem a liberdade,
na medida em que esta, implicando a expulsão desta sombra, exigiria deles que
“preenchessem” o “vazio” deixado pela expulsão do outro “conteúdo” – o de sua
autonomia (FREIRE, 1987: 34).
Já no início de sua Pedagogia do Oprimido, Freire problematiza a relação entre
oprimidos e opressores, dominados e dominadores, relação esta em que há uma situação de
estranhamento dos primeiros para com os segundos, em que o não reconhecimento da
situação de opressão faz com que o oprimido se identifique com o opressor, assumindo em
sua experiência existencial uma postura de aderência a este e reproduzindo em sua própria
vida os aspectos que são inerentes à realidade opressora. Os oprimidos introjetam a imagem
do opressor, reproduzindo-a:
“para eles, o novo homem são eles mesmos tornando-se opressores de outros. A
sua visão de homem novo é uma visão individualista. A sua aderência ao opressor
não lhes possibilita a consciência de si como pessoa, nem a consciência de classe
oprimida” (FREIRE, 1987: 32).
A potencialidade que Freire vê no ser humano enquanto “vocação ontológica” para
ser mais, acaba confundindo-se com as determinações do mercado que incentiva a busca
pelo ter mais. As necessidades e os desejos que são criados e suscitados pela ideologia
neoliberal, tornam-se as únicas referências para o ser humano em sua sociabilidade
A Utopia/esperança na perspectiva do sistema neoliberal não passa de uma forma
mítica de compreensão da realidade. Ao formar um ser humano competidor a educação
assume as máximas econômicas que determinam a história enquanto palco daqueles que
conseguem vencer e impor sua força aos demais como forma de dominação. Aos
dominados – oprimidos, vencidos – restam as precárias possibilidades de empregabilidade
que serão disputadas de acordo com a “sorte” de cada um.
3. A UTOPIA COMO CONDIÇÃO ANTROPOLÓGICA PARA A LIBERTAÇÃO EM PAULO FREIRE.
Faz necessário, cada vez mais, resgatar o conceito de esperança a partir da
compreensão Freireana como crítica ao neoliberalismo na educação, esperança impregnada
da preocupação de libertar o ser humano do discurso ideológico pragmático. Para Freire
(2006), a esperança é inerente à própria natureza humana, sendo concebida como horizonte
e princípio de emancipação do ser humano na medida em que este se reconhece como
inacabado historicamente e se coloca num movimento de busca constante (p.72) para
desvendar as razões legítimas de sua existência no mundo, num constante processo de
humanização.
A compreensão de história, para Freire, está intrinsecamente ligada à sua
concepção de Utopia e esperança. Freire resgata a concepção dialética de história, na qual,
esta é representada pela mobilidade, pelo movimento, tempo de possibilidade que abre
espaço para a busca da utopia. A preocupação de Freire com a construção histórica do ser
humano deixa claro que esta só é possível com a presença humana, pois, o homem se
constrói enquanto ser histórico na medida em que dá sentido ao seu “ser” dentro de sua
historicidade, por isso, sua compreensão de história está intrinsecamente ligada à sua
concepção de esperança. Já, para a concepção neoliberal, a história é controlada,
delimitada, estática e apresenta-se como única resposta à realidade atual. Nesta concepção o
ser humano vive uma contradição, pois, a “busca” pelo sentido dentro deste sistema, não
passa de uma busca consumista, desenfreada, que se consome na posse das coisas, que
acaba conduzindo o ser humano a um vazio existencial (2006).
A esperança faz parte da natureza humana. Seria uma contradição se, inacabado
e consciente do inacabamento, primeiro, o ser humano não se inscrevesse ou não
se achasse predisposto a participar de um movimento constante de busca e,
segundo, se buscasse sem esperança. A desesperança é a negação da esperança. A
esperança é uma espécie de ímpeto natural possível e necessário, desesperança é
o aborto deste ímpeto. A esperança é um condimento indispensável à experiência
histórica. Sem ela não haveria história, mas puro determinismo. Só há história
onde há tempo problematizado e não pré-dado. A inexorabilidade do futuro é a
negação da História (FREIRE, 2006: 72)
Face a esta realidade dada, Freire concebe o mundo como o lugar de várias
possibilidades ilimitadas, onde a esperança inscreve o ser humano numa posição de
convicção acerca da potência de suas possibilidades e o faz capaz de recriar, transformar a
realidade em que se encontra. Assim, como condição de possibilidade para a verdadeira
emancipação do ser humano enquanto ser social, histórico e cultural, a esperança, passa a
ser entendida como uma necessidade ontológica que, para tanto, é também considerada uma
atitude a ser criticamente elaborada, que necessita de uma prática para se efetivar no mundo
(FREITAS, 2007).
Tal concepção abre perspectiva para uma consistente prática educativa, capaz de
superar as “certezas” implícitas no discurso neoliberal que tratam a realidade de forma
determinista e inexorável, transformando o mundo num sistema fechado e acabado sem
possibilidade de um projeto alternativo em constante formação e desproblematizando o
futuro como se fosse impossível pensar ou imaginar um “não lugar” para além deste
sistema:
“A desproblematização do futuro numa compreensão mecanicista da História, de
direita ou de esquerda, leva necessariamente à morte ou à negação autoritária do
sonho, da utopia, da esperança. E que, na inteligência mecanicista portanto
determinista da História, o futuro é já sabido. A luta por um futuro assim “a
priori” conhecido prescinde da esperança (FREIRE, 2006: 73).
Nesse esforço contínuo de enxergar o mundo em volta em sua potencialidade e
múltiplas possibilidades é necessário solidificar uma educação fértil na diversidade, em que
os paradigmas sejam sustentados na liberdade e pluralidade humana, arruinando uma
sociedade que gera miséria, guetos e desigualdades, encobertas por linguagens alienantes e
forçadamente omissas as trucidantes realidades de exclusão de um sistema dito único e
irremediável. Isto nos instiga a efetivar uma pedagogia da esperança que nos oriente a um
critico caminho da verdade, sem mitos, sem mentiras, capaz de “resgatar” nossa dignidade
humana, dando aos estudantes a possibilidade de uma consciência critica, formadora de
valores essencialmente humanos. (MACEDO, BARTOLOME, 2000)
Partimos deste anseio lembrando as palavras de Freire já no início de sua
Pedagogia da Esperança: “há uma esperança, não importa que nem sempre audaz, nas
esquinas das ruas, no corpo de cada um e de cada uma de nós”(1992: 10). A esperança,
embora influenciada, condicionada e moldada, que tenta exprimir simplesmente uma
vontade de ser, de existir, de resistir, por isso, deve ser educada para, numa relação direta
com a prática, poder antecipar o futuro numa ação libertadora.
Por isso, Freire define a educação na esperança para o ser humano como o cultivo
desta necessidade ontológica de que lhe é própria. Nela, o ser humano descobre-se como
ser inacabado e, tomando consciência de seu inacabamento, coloca-se num movimento de
busca constante para “ser mais”. A esperança que move o ser humano para a superação de
uma consciência ingênua mobiliza-o para uma práxis que seja capaz de recriar a realidade.
Assim, o educador tem um lugar central no que se refere à deslegitimação da ideologia
neoliberal: “uma das tarefas do educador progressista” está em através da análise política
séria e correta, desvelar as possibilidades para esperança... sem esperança, nossa luta é
suicida”(FREIRE, 1992: 11).
Enquanto o ser humano for educado para adaptar-se aos fatos, imaginando que a
realidade é imutável e que as coisas sempre foram assim, perpetuar-se-á o cultivo de uma
consciência ingênua, fundamentada numa concepção mágica e simplista de que a
possibilidade de um futuro alternativo dar-se-á pela influência de forças externas à sua
realidade. Por isso, afirma Freire (idem) que “não há esperança na pura espera... espera
vã”. Numa espera que se tornou “distorção” da necessidade ontológica do ser humano, uma
ilusão difundida por uma retórica infundada na realidade, mas que se expande cada vez
mais nas mentes das pessoas.
Assim, mesmo sendo criticado como sonhador e idealista, Freire denuncia a
perversidade deste sistema e anuncia esperançosamente a possibilidade de um novo futuro
para o mundo:
Não creio que as mulheres e homens do mundo, independentemente das suas
opções políticas, mas sabendo-se e assumindo-se como mulheres e homens, como
gente, não aprofundem o que hoje já existe como uma espécie de mal-estar que se
generaliza em face da maldade neoliberal. Mal-estar que terminará por
consolidar-se numa rebeldia nova em que a palavra crítica, o discurso humanista,
o compromisso solidário, a denúncia veemente da negação do homem e da
mulher e o anúncio de um mundo “genteficado” serão armas de incalculável
alcance (FREIRE, 2006, p. 128)
Em Freire, o neoliberalismo é contrário à utopia e à esperança, por se apresentar
como uma realidade definitiva, inexorável. A ideologia neoliberal postula a perpetuação da
ingenuidade, alimentando “esperanças” puramente mercadológicas. A educação na
esperança, em Freire, contrapõe-se a esta visão, pois, o mesmo propõe uma esperança
crítica, ao motivar uma ação revolucionária - utópica - atualiza o futuro pelo engajamento
do ser humano na construção de sua própria história.
Atividade:
1) Como atividade proposta correlacione as diferentes concepções das abordagens
Tradicional e Comportamentalista em relação a abordagem sociocultural nos quesitos:
Ciências:
Educação:
Conhecimento:
Sujeito:
REFERÊNCIAS.
MIZUKAMI, Maria da Graça N. – Ensino: As abordagens do processo. 1996 – São
Paulo. (p. 85 – 102)
RIBAS, Adriana F. Paes – MOURA Lucia S. Abordagem sócio – culturas: algumas
vertentes e autores. 2006 p.129 – 138.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a15.pdf. Acesso em 25/11/2009.
BOCAYUVA, Pedro C.C., VEIGA, Sandra M., Novo Vocabulário Político. Petrópolis:
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FRIGOTO, Gaudêncio. Educação e Crise do Capitalismo Real. 4.ed. São Paulo: Cortez,
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HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. 2. ed. São Paulo: Globo, 2005
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(org) A Educação no século XXI. Os desafios do futuro imediato. Porto Alegre:
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ORWELL, George. 1984. 16 ed. São Paulo: Nacional, 1983.

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  • 1. ABORDAGEM SÓCIO-CULTURAL CARACTERISTICAS GERAIS: A Abordagem Sócio Cultural verte das tendências: do neotomismo, o existencialismo, o humanismo, a fenomenologia, e o neomarxismo, que nada mais são movimentos que tratam das relações do ser humano com a cultura. Surge após a Segunda Guerra Mundial. Seu principal objetivo era enfatizar a cultura popular de forma a induzir a democratização. MIZUKAMI (1986 p. 85) Ribas e Moura (2006) citam: “A abordagem sociocultural enfatiza que a atividade humana é mediada e nela tem sido investigado o desenvolvimento humano dentro das práticas culturais dos grupos, que supõem o uso de diferentes formas de mediação. A partir desta orientação, entende-se que os mediadores - instrumentos, signos, práticas culturais - são carregados de significação cultural.” (p.130). A abordagem sócio-cultural trata basicamente das relações dos indivíduos em grupos culturais, como esses grupos influenciam em nossos significados, em maneiras de ver uma sociedade, pois como sabemos um indivíduo sofre alterações diante uma cultura. Na visão de Paulo Freire sua maior preocupação era com a cultura popular, sendo ela enfatizada em aspecto social, política e cultural, pois conhecendo sua ideologia percebemos que o que mais o preocupava era como trazer para a sala de aula as diferentes culturas dos alunos, de forma a trabalhar no coletivo, de forma a assumir e não somente consumir esse valores mudando a visão do homem diante o mundo, cultura, educação e ação educativa (estratégia do professor ensinar). MIZUKAMI(1986 p.85) CONCEPÇÃO DE HOMEM E MUNDO. Nesta abordagem a visão de homem e mundo segue um contexto que visa os dois juntos, em uma linha interacionista, sendo o homem sujeito, criador e objeto do conhecimento e o mundo como lugar onde ele desenvolvera sua prática cultural. Tornando- o critico capaz de mudar uma realidade, uma cultura, quando essa já não o faz refletir sobre o mundo. Nesta abordagem o homem precisa do mundo, pois é nele que as manifestações das culturas acontecem e através dele se constroem conhecimento. Ainda na visão de Paulo Freire, esta abordagem traz consigo uma educação com praticas de liberdade, onde para ele métodos deveriam ser discutidos em um lugar onde ele deveria ser descrito, discutido e compreendido pelo grupo. MIZUKAMI (1986 p. 86) COMO É A SOCIEDADE/CULTURAL. A sociedade é baseada em um local onde o homem cria a cultura, ele quem o faz acontecer interferindo no meio em que vive, integrando no seu contexto de vida. Suas informações interagem com a cultura e a sociedade onde ele convive, adquirindo uma experiência critica e criadora. Ele cria relações respondendo desafios críticos, incorporando uma ação humana. Essa sociedade cultural baseia-se na experiência dos indivíduos, onde estes criam seu contexto de vida, diante á uma determinada cultura, fazendo a interação com o outro. Tornando-o um ser critico e capaz de modificar uma cultura ou um contexto
  • 2. de vida, levando isso para educação, na maneira onde o aluno adquire experiência junto com seus colegas, tornando-os críticos e capazes de modificar uma forma de ensino, deixando de lado o método tradicional. A sociedade deve ser democrática incluindo o homem e buscado um lugar para as opiniões. MIZUKAMI (1986 p. 87-89) COMO É TRABALHADO O CONHECIMENTO: O conhecimento é trabalhado na forma onde ele torna-se um sujeito que se compromete com a consciência da sua história/cultura. Onde as respostas que ele encontra não modificam somente a sua realidade, mas si próprio, onde este processo deve estar ligado a sua conscientização, superando uma dicotomia de corpo e objeto, seguindo uma linha onde o conhecimento é elaborado a partir do pensamento e a prática. O conhecimento é progressivo, nunca acabado, buscando sempre aproximar a realidade da prática, sendo essa realidade o objeto principal do conhecimento do homem. O educador deve fazer com que o aluno, veja na realidade uma forma de aplicar sua teoria e sua experiência quanto indivíduo na história da sociedade. MIZUKAMI (1986 p. 90 - 91) SIGNIFICADO DE EDUCAÇÃO. O homem é sujeito da educação, onde ele exerce uma ação reflexiva, analisando em que vivem os sujeitos. Ele precisa exercer uma reflexão acerca do que acontece ao seu redor, levando para sala de aula as suas experiências, compartilhando-as com o educador e colegas, transformando em uma abordagem critica, para não ocorrer o risco á uma educação pré – fabricada, ou seja, que já venha pronta sem interferir, dar opinião e até mesmo critica-lá. A educação deve proporcionar ao indivíduo, oportunidades de estabelecer relações com o mundo e com outros indivíduos que compõem uma sociedade, outra cultura. A partir da educação que o homem poderá transformar uma sociedade (mudar pensamento), sem estar participando ativamente dela, e sem condições de tomar consciência da realidade. A educação deve tornar o indivíduo em um ser critico e reflexivo diante a sociedade e cultura. MIZUKAMI (1986 p.94) POSICIONAMENTO DA ESCOLA A educação não é restrita a escola, nela a educação é formal onde deve ter um processo de conscientização e compreensão entre aluno e professor. A escola tem que ter um currículo próprio, com objetivos e prioridades aos alunos a serem cumpridos durante o ano. Na escola as relações são mecânicas onde muitas vezes é difícil passar a educação formal sem ter uma transformação social. Portanto, a transformação social é uma complicada influencia para a educação formal das crianças, hoje, mas, é de extrema importância que o professor se comprometa e entenda a sociedade em que ele esta atuando para obter um melhor resultado no processo de aprendizagem das crianças. MIZUKAMI (1986 p. 95) ENSINO APRENDIZAGEM Freire tinha como principio a pedagogia do oprimido, algo que tem que ser com ele não para ele, na recuperação da humanidade. Onde ele seja causa de reflexão, sendo
  • 3. engajado na luta pela sua libertação, tanto de idéias como de expressão. MIZUKAMI (1986 p. 96) O ensino aprendizagem deve ser entendido como algo que deve superar opressor oprimido, onde é preciso que ele seja critico procurando uma pratica libertadora, tendo o dialogo como ponto principal e solidário com o oprimido lutando para transformar a realidade. MIZUKAMI (1986) afirma que “Ensino e aprendizagem assumem um significado amplo, tal qual o que é dado á educação. Não há restrições ás situações formais de instrução” (p 97), pois para freire a verdadeira educação deve ser a que problematiza ajudando na relação opressor-orpimido. MIZUKAMI (1986 P.97). RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: É um processo onde professor e alunos aprendem e ensinam juntos. Onde o professor deverá estimular o aluno a questionar a cultura que lhe é imposta e saiba criar sua própria cultura a partir do contexto em que vive e da sua realidade. O professor vai criar situações onde o aluno “abra os olhos” para que as contradições da sociedade. No processo de ensino aprendizagem considerar as diferenças individuais (cultura e o contexto em que vive) de cada aluno, e não tratá-los como iguais e criar um ensino padronizado. O aluno interage com o professor dando a sua contribuição para o processo de ensino- aprendizagem, falando sobre sua cultura e suas experiências de vida. MIZUKAMI (1986 p. 99) QUAL A METODOLOGIA UTILIZADA? O método constitui uma figura que busca um gênero de representação, para que os alunos tenham o contato com uma representação real, esse método faz os alunos e professores levantarem critica, fazendo com que eles passem a fazer reflexões juntos. Os alunos quando recebem informações do contexto real podem passar em forma de contexto teórico, fazendo uma exploração de próprias experiências, criticando e adaptando de forma aprofundada. A alfabetização é feita em forma de debate colocando o dialogo como ponto em que cada um expressa o seu conhecimento, é uma educação que possibilita a diversidade, a liberdade de expressão, sendo que ocorra esse debate é necessário colocar pontos chaves para gerar o dialogo. MIZUKAMI (1986 p. 100 - 101) AVALIAÇÃO Nessa abordagem a avaliação não se dá através de notas e provas. O que é avaliado é a prática educativa tanto dos alunos como dos professores. Segundo FREIRE, 1982 P.94 (apud Maria da Graça Nicoleti Mizukami, 1986) “ A avaliação é da prática educativa, e não de um pedaço dela.” Ou seja, professores e alunos se auto-avaliam para saber quais foram as melhoras e no que eles ainda podem melhorar. MIZUKAMI (1986 p. 102) CONSIDERAÇÕES SOBRE A UTOPIA 1. Origem, Histórico e Conceituação
  • 4. O termo utopia, desde que surgiu, carrega consigo uma conotação político-social. O termo é uma composição de duas palavras gregas: ou (indica negação, não) e topos (lugar). Para o português é traduzido de algumas formas das quais as mais comuns são: “o lugar que não existe”; “o lugar do melhor”; ou ainda, “o não lugar”. Politicamente usado, o termo leva a uma negação dos projetos e da ordem social existente propondo como conceitos abstratos uma nova ordem superior à atual e idealizada. O primeiro pensador a utilizar o termo com tal conotação é Thomas More (1997) e posteriormente Tommaso Campanella (2005) no século XVI. Estes escrevem suas obras, Utopia e Cidade do Sol respectivamente, propondo modelos de sociedade rígidos para manterem os bons costumes e resgatar os valores e uma igualdade abstrata em contraposição às contradições do modelo mercantilista (primórdio do capitalismo) baseado na apropriação privada. Diante do modelo econômico implantado – o capitalismo mercantil –, o mundo entra em uma grande transformação da qual não escapa o termo em questão: “No século XVIII, a utopia apresenta-se como uma formulação imaginária, como sonho político, como uma fuga da realidade. A perspectiva contratualista na formulação do modelo político, a divisão e o equilíbrio entre os poderes, a busca do esclarecimento e da racionalidade segundo as modalidades próprias do homem e da natureza constituíram um discurso crítico ao antigo regime. As utopias de Renascimento como, por exemplo, no livro Viagens de Gulliver de Swift, propunham a superação das deformações existentes no antigo regime através do ideal do tipo liberal individualista”( BOCAIUVA et, alii, p. 265). O que para os utopistas do século XVI eram vícios que levavam a sociedade ao declínio moral, com o primor do capitalismo no final do século XVIII e início do XIX tornou-se um estágio necessário do desenvolvimento da sociedade. Tal desenvolvimento acaba fomentando na sociedade, pelo mal-estar gerado, uma secularização das utopias, que receberão uma conotação socialista. Os marcos desse tipo de utopia são R. Owen, Saint- Simon e C. Fourier. Estes procuram formular novos projetos sociais em combate às contradições do sistema capitalista, colocando em primeira instância a questão do trabalho como sendo a base de uma sociedade reformada. Isso inicia uma crença fervorosa na idéia de progresso constante da sociedade. No século XIX, Marx chamará este socialismo de utópico num sentido pejorativo, quimérico, anacrônico (2006). No Manifesto do Partido Comunista (1999), juntamente com F. Engels, Marx faz uma crítica ferrenha aos teóricos do socialismo – que ele denomina utópico – por eles terem percebido os antagonismos de classe e não terem proposto uma luta revolucionária para superá-los . Praticam assim seu maior equívoco, ou seja, buscam conciliar as classes entre si. Isso decorre da não compreensão do movimento real da história, segundo os escritores do Manifesto do Partido Comunista. Por isso, só resta a estes utópicos transcender a realidade com construções de uma nova realidade social fantástica. Para Marx, a utopia toma este sentido pejorativo, ou seja, não pode ser realizada, é um sonho político. No século XX, as utopias tomam um rumo negativo, perante o surgimento de novas teorias sociais positivistas, que provocam uma corrida científico-progressista, que ameaça a liberdade e a vida humana como tal. Neste contexto é que as obras utópicas de G. Orwel (1983) e de A. Huxley (2005) surgem apresentando-se como uma forma de prevenção da privação a que o homem pode chegar - sua liberdade -, ou seja, são uma crítica à realidade – este é seu caráter utópico – que se continuar no rumo indicado pelos fatos, levará a um futuro fatalista, monstruoso e caótico em nome do progresso.
  • 5. Karl Mannheim (1986), na primeira metade do século XX, quando analisa a utopia, usa o termo “mentalidade utópica” ou “espírito utópico”. Para ele, este estado de espírito utópico evidencia-se na incompatibilidade de atos, pensamentos e conduta com a ordem estabelecida. É, portanto, um estado que transcende a realidade da ordem estabelecida. Porém é preciso esclarecer que nem todo estado de espírito, que transcende a realidade, é utópico. Há os estados de espírito ideológicos, que também transcendem a realidade, mas que, no entanto, não implicam na mudança da ordem estabelecida. Pelo contrário, acabam sacramentando-a. A história é repleta, em todas as suas fases, de idéias incongruentes com a situação real, mas, que não oferecem qualquer possibilidade revolucionária, portanto não-utópicas, mas ideológicas. Somente serão utópicas se incorporadas por algum(ns) grupo(s), em ascendência, à sua(s) conduta(s). Há de ser levado em conta, para o esclarecimento das concepções acima, uma concepção de existência do homem e de transcendência desta mesma existência. Estas últimas são tomadas a partir do contexto histórico-social, visto que o homem, sociologicamente falando, só existe historicamente e, o meio em que se encontra, influencia sua vida e suas concepções. Frente a tal quadro, é preciso afirmar que todas as concepções do homem levam uma bagagem política e econômica situacional. Existe dentro desta categoria duas formas de conceber as coisas, as situações: uma, são as idéias situacionalmente adequadas, ou seja, que são congruentes ao status quo; outra são as idéias situacionalmente transcendentes ou irreais que não são passíveis de se realizar dentro das condições sociais existentes. Em duas palavras: ideologias e utopias respectivamente. Mannheim (1986: 220) afirma ainda, que sempre os intelectuais da ordem social prevalecente rotularão as lutas e os ideais da ordem oposta como utópicos no sentido irrealizável do termo, como se fosse uma fantasia ou um sonho. Já para esta última ordem a sua utopia só é irrealizável nas condições sociais existentes, mas está concretizando-se por sua força e luta para estabelecer nova ordem em que seus ideais possam ser viáveis. “...Será sempre o grupo dominante, que esteja em pleno acordo com a ordem existente, que irá determinar o que se deve considerar utópico, ao passo que o grupo ascendente, em conflito com as coisas como estão, determinará o que deve ser considerado ideológico. Outra dificuldade em definir com precisão o que se deve considerar como utopia resulta do fato de os elementos ideológicos e utópicos não ocorrerem separadamente no processo histórico. As utopias das classes ascendentes se acham freqüentes vezes permeadas por elementos ideológicos”(idem). A utopia jamais se dá em nível individual. Ela é essencialmente social. Pode-se admitir somente a ação do indivíduo ou sua concepção utópica na medida em que esta vai ao encontro de uma luta ou conduta de um grupo, que supõe a devida incongruência com a ordem social existente e tem perspectivas de nova ordem social. Uma grande verdade a respeito das concepções utópicas é que estas só adquirem tal sentido, ou seja, são compreendidas e assimiladas à conduta de um grupo social, se perfiladas a uma estrutura social e que a um dado tempo casem-se – as concepções utópicas com a realidade – com comunhão de bens. 2. CONSIDERAÇÕES ANTROPOLÓGICAS ACERCA DA EDUCAÇÃO E O SISTEMA ECONÔMICO.
  • 6. Paulo Freire (2006: 27) deixa claro que é impossível fazer uma reflexão sobre a educação sem refletir sobre o próprio homem, ou seja, abordá-lo numa perspectiva antropológico-filosófica. Conclui que o “núcleo fundamental” em que se sustenta o processo de educação está na própria experiência existencial do homem: o seu inacabamento ou inconclusão. O ser humano, neste sentido, como tudo o que existe, não está pronto, mas está em constante processo de construção e abertura à realidade em que está circunscrito. Porém, a diferença que há entre os seres humanos e os demais seres - também inacabados - está na capacidade que o homem tem de tomar consciência de sua posição no cosmos, perceber sua singularidade e ser “autor” de sua própria história. A educação só é possível entre os seres humanos pelo fato destes reconhecerem-se neste estado de inacabamento e predisporem-se na busca constante da conquista do seu ser na história, ou seja, pela educação que os seres humanos tornam-se humanos, produtos de um constante processo de superação de sua condição incompleta. Contudo, pensar a situação do “homem” e da “educação” no atual contexto sócio- histórico, exige que sejam considerados os fatores econômicos, políticos e ideológicos que condicionam sua existência e restringem sua práxis a uma mera adaptação aos fatos e não uma inserção na realidade para transforma-la e recria-la. O período atual está marcado profundamente pelas determinações provenientes da singularidade de um sistema econômico que se impôs globalmente e, atingiu, devidas as proporções, todos os cantos do planeta. Este, mesmo visivelmente contraditório, avança de forma assustadora na destruição da natureza e da própria espécie humana. Concebe-se esta época como o fim das ideologias, das lutas das classes sociais, da sociedade do trabalho, da história, e a prova dos mecanismos “naturais” do mercado (FRIGOTO, 2000: 59). Época em que parece não ter nenhuma alternativa de sistema que a humanidade possa encontrar-se sem o contraditório e destrutivo sistema de acúmulo e feroz consumismo. A educação torna-se um instrumento idealizador e na perspectiva neoliberal serve como mecanismo de ajuste e adequação das pessoas às demandas do processo de produção capitalista. Nesta visão, o ser humano passa a ser compreendido como um produto manipulável de acordo às exigências do mercado, transformando-o num mero receptor de conhecimento fragmentado, necessário aparentemente para uma possível inserção no mercado de trabalho. A educação torna-se uma forma de estímulo à competitividade, instrumentalizando no educando expectativas e esperanças falsas de acesso às demandas do capital e condicionando a construção de sua própria existência. Deixa de ser um espaço de efetivação da estrutura sociocultural da pessoa, bem como, das conseqüências desta no que se refere à questão da esperança/utopia, anseio mais profundo deste que motiva a sua existência para o futuro. Este panorama faz com que pensemos sobre o conceito de esperança/utopia que as pessoas têm e depositam na educação, sendo que esta, ao invés de problematizar as contradições da realidade marcada pela exclusão social, apenas acaba se tornando um mecanismo de acomodação aos fatos como se estes fossem imutáveis, instransponíveis. Tal esperança não passa de uma forma mágica e ingênua perante a realidade, concebendo a história como um conceito estático e inexorável e a liberdade humana limitada aos encaixes na economia de mercado. Cardoso(2006) reflete que é necessário perceber de forma critica e autônoma estas transformações, para que estes temas educacionais não se transformem em convicções correntes de um estágio de desenvolvimento social natural. Nesse sentido a opinião pública tem constituído uma forma comum de compreensão, percebendo-se cada vez mais como
  • 7. normativa. É necessário, no entanto, questionar de quem são os valores, ética e códigos morais e interesses que estão sendo expressos como naturais e avançados. A internacionalização do neoliliberalismo conservador necessita de um sistema ativo e depende do envolvimento eficaz dos governos, políticos e funcionários, grupos e indivíduos em cada país. Concomitantemente esta penetração globalizada é permeada de conflitos, tensões e contradições dentro de instituições de natureza democrática e de fins sociais. O neoliberalismo não é um sistema monolítico, mas constituído de conceitos complexos e variados. A diversidade, qualidade, eficiência, avaliação e escolha também são afetadas e influenciadas pela multiplicidade de significados e convicções da variedade interna inerente ao próprio neoliberalismo, ao “novo” sistema capitalista. (CARDOSO, 2006) O princípio de “privacidade e liberdade” atrofia os direitos sociais e a educação é percebida como valor mercantil, instrumento congregador de princípios comerciais e de eficiência econômica. “A competição forma a base de sustentação da nova forma de fornecimento de serviços onde um indivíduo irá ganhar o que o outro indivíduo irá perder. Em muitos casos, o princípio darwiniano de seleção natural é transferido para seleção social: apenas os mais fortes sobrevivem as avaliações. Mudanças escolares seguem definições restritas de “melhoramento”baseadas na oposição entre noções de boa/má, eficiente/ineficiente ou útil/inútil” (Cardoso, 2006:215) O ser humano, que na perspectiva freireana se completa e se realiza na medida em que se relaciona e estabelece laços com outros de sua espécie num processo de aprendizagem conjunta, torna-se, no sistema capitalista, um competidor, concebendo o próximo como uma ameaça ao seu desempenho, à realização de seus sonhos e projetos. Desenvolve-se assim uma expectativa e uma forte esperança no denominado de que o “estudo” é um mecanismo que garante a possibilidade de acesso ao mercado de trabalho e que viabiliza o caminho para o sucesso. Isso identifica-se com o que Freire chama de “prescrição”: Por isto, o comportamento dos oprimidos é um comportamento prescrito. Faz-se à base de pautas estranhas a eles – as pautas dos opressores. Os oprimidos, que introjetam a “sombra” dos opressores e seguem suas pautas, temem a liberdade, na medida em que esta, implicando a expulsão desta sombra, exigiria deles que “preenchessem” o “vazio” deixado pela expulsão do outro “conteúdo” – o de sua autonomia (FREIRE, 1987: 34). Já no início de sua Pedagogia do Oprimido, Freire problematiza a relação entre oprimidos e opressores, dominados e dominadores, relação esta em que há uma situação de estranhamento dos primeiros para com os segundos, em que o não reconhecimento da situação de opressão faz com que o oprimido se identifique com o opressor, assumindo em sua experiência existencial uma postura de aderência a este e reproduzindo em sua própria vida os aspectos que são inerentes à realidade opressora. Os oprimidos introjetam a imagem do opressor, reproduzindo-a: “para eles, o novo homem são eles mesmos tornando-se opressores de outros. A sua visão de homem novo é uma visão individualista. A sua aderência ao opressor não lhes possibilita a consciência de si como pessoa, nem a consciência de classe oprimida” (FREIRE, 1987: 32).
  • 8. A potencialidade que Freire vê no ser humano enquanto “vocação ontológica” para ser mais, acaba confundindo-se com as determinações do mercado que incentiva a busca pelo ter mais. As necessidades e os desejos que são criados e suscitados pela ideologia neoliberal, tornam-se as únicas referências para o ser humano em sua sociabilidade A Utopia/esperança na perspectiva do sistema neoliberal não passa de uma forma mítica de compreensão da realidade. Ao formar um ser humano competidor a educação assume as máximas econômicas que determinam a história enquanto palco daqueles que conseguem vencer e impor sua força aos demais como forma de dominação. Aos dominados – oprimidos, vencidos – restam as precárias possibilidades de empregabilidade que serão disputadas de acordo com a “sorte” de cada um. 3. A UTOPIA COMO CONDIÇÃO ANTROPOLÓGICA PARA A LIBERTAÇÃO EM PAULO FREIRE. Faz necessário, cada vez mais, resgatar o conceito de esperança a partir da compreensão Freireana como crítica ao neoliberalismo na educação, esperança impregnada da preocupação de libertar o ser humano do discurso ideológico pragmático. Para Freire (2006), a esperança é inerente à própria natureza humana, sendo concebida como horizonte e princípio de emancipação do ser humano na medida em que este se reconhece como inacabado historicamente e se coloca num movimento de busca constante (p.72) para desvendar as razões legítimas de sua existência no mundo, num constante processo de humanização. A compreensão de história, para Freire, está intrinsecamente ligada à sua concepção de Utopia e esperança. Freire resgata a concepção dialética de história, na qual, esta é representada pela mobilidade, pelo movimento, tempo de possibilidade que abre espaço para a busca da utopia. A preocupação de Freire com a construção histórica do ser humano deixa claro que esta só é possível com a presença humana, pois, o homem se constrói enquanto ser histórico na medida em que dá sentido ao seu “ser” dentro de sua historicidade, por isso, sua compreensão de história está intrinsecamente ligada à sua concepção de esperança. Já, para a concepção neoliberal, a história é controlada, delimitada, estática e apresenta-se como única resposta à realidade atual. Nesta concepção o ser humano vive uma contradição, pois, a “busca” pelo sentido dentro deste sistema, não passa de uma busca consumista, desenfreada, que se consome na posse das coisas, que acaba conduzindo o ser humano a um vazio existencial (2006). A esperança faz parte da natureza humana. Seria uma contradição se, inacabado e consciente do inacabamento, primeiro, o ser humano não se inscrevesse ou não se achasse predisposto a participar de um movimento constante de busca e, segundo, se buscasse sem esperança. A desesperança é a negação da esperança. A esperança é uma espécie de ímpeto natural possível e necessário, desesperança é o aborto deste ímpeto. A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica. Sem ela não haveria história, mas puro determinismo. Só há história onde há tempo problematizado e não pré-dado. A inexorabilidade do futuro é a negação da História (FREIRE, 2006: 72) Face a esta realidade dada, Freire concebe o mundo como o lugar de várias possibilidades ilimitadas, onde a esperança inscreve o ser humano numa posição de convicção acerca da potência de suas possibilidades e o faz capaz de recriar, transformar a realidade em que se encontra. Assim, como condição de possibilidade para a verdadeira
  • 9. emancipação do ser humano enquanto ser social, histórico e cultural, a esperança, passa a ser entendida como uma necessidade ontológica que, para tanto, é também considerada uma atitude a ser criticamente elaborada, que necessita de uma prática para se efetivar no mundo (FREITAS, 2007). Tal concepção abre perspectiva para uma consistente prática educativa, capaz de superar as “certezas” implícitas no discurso neoliberal que tratam a realidade de forma determinista e inexorável, transformando o mundo num sistema fechado e acabado sem possibilidade de um projeto alternativo em constante formação e desproblematizando o futuro como se fosse impossível pensar ou imaginar um “não lugar” para além deste sistema: “A desproblematização do futuro numa compreensão mecanicista da História, de direita ou de esquerda, leva necessariamente à morte ou à negação autoritária do sonho, da utopia, da esperança. E que, na inteligência mecanicista portanto determinista da História, o futuro é já sabido. A luta por um futuro assim “a priori” conhecido prescinde da esperança (FREIRE, 2006: 73). Nesse esforço contínuo de enxergar o mundo em volta em sua potencialidade e múltiplas possibilidades é necessário solidificar uma educação fértil na diversidade, em que os paradigmas sejam sustentados na liberdade e pluralidade humana, arruinando uma sociedade que gera miséria, guetos e desigualdades, encobertas por linguagens alienantes e forçadamente omissas as trucidantes realidades de exclusão de um sistema dito único e irremediável. Isto nos instiga a efetivar uma pedagogia da esperança que nos oriente a um critico caminho da verdade, sem mitos, sem mentiras, capaz de “resgatar” nossa dignidade humana, dando aos estudantes a possibilidade de uma consciência critica, formadora de valores essencialmente humanos. (MACEDO, BARTOLOME, 2000) Partimos deste anseio lembrando as palavras de Freire já no início de sua Pedagogia da Esperança: “há uma esperança, não importa que nem sempre audaz, nas esquinas das ruas, no corpo de cada um e de cada uma de nós”(1992: 10). A esperança, embora influenciada, condicionada e moldada, que tenta exprimir simplesmente uma vontade de ser, de existir, de resistir, por isso, deve ser educada para, numa relação direta com a prática, poder antecipar o futuro numa ação libertadora. Por isso, Freire define a educação na esperança para o ser humano como o cultivo desta necessidade ontológica de que lhe é própria. Nela, o ser humano descobre-se como ser inacabado e, tomando consciência de seu inacabamento, coloca-se num movimento de busca constante para “ser mais”. A esperança que move o ser humano para a superação de uma consciência ingênua mobiliza-o para uma práxis que seja capaz de recriar a realidade. Assim, o educador tem um lugar central no que se refere à deslegitimação da ideologia neoliberal: “uma das tarefas do educador progressista” está em através da análise política séria e correta, desvelar as possibilidades para esperança... sem esperança, nossa luta é suicida”(FREIRE, 1992: 11). Enquanto o ser humano for educado para adaptar-se aos fatos, imaginando que a realidade é imutável e que as coisas sempre foram assim, perpetuar-se-á o cultivo de uma consciência ingênua, fundamentada numa concepção mágica e simplista de que a possibilidade de um futuro alternativo dar-se-á pela influência de forças externas à sua realidade. Por isso, afirma Freire (idem) que “não há esperança na pura espera... espera vã”. Numa espera que se tornou “distorção” da necessidade ontológica do ser humano, uma
  • 10. ilusão difundida por uma retórica infundada na realidade, mas que se expande cada vez mais nas mentes das pessoas. Assim, mesmo sendo criticado como sonhador e idealista, Freire denuncia a perversidade deste sistema e anuncia esperançosamente a possibilidade de um novo futuro para o mundo: Não creio que as mulheres e homens do mundo, independentemente das suas opções políticas, mas sabendo-se e assumindo-se como mulheres e homens, como gente, não aprofundem o que hoje já existe como uma espécie de mal-estar que se generaliza em face da maldade neoliberal. Mal-estar que terminará por consolidar-se numa rebeldia nova em que a palavra crítica, o discurso humanista, o compromisso solidário, a denúncia veemente da negação do homem e da mulher e o anúncio de um mundo “genteficado” serão armas de incalculável alcance (FREIRE, 2006, p. 128) Em Freire, o neoliberalismo é contrário à utopia e à esperança, por se apresentar como uma realidade definitiva, inexorável. A ideologia neoliberal postula a perpetuação da ingenuidade, alimentando “esperanças” puramente mercadológicas. A educação na esperança, em Freire, contrapõe-se a esta visão, pois, o mesmo propõe uma esperança crítica, ao motivar uma ação revolucionária - utópica - atualiza o futuro pelo engajamento do ser humano na construção de sua própria história. Atividade: 1) Como atividade proposta correlacione as diferentes concepções das abordagens Tradicional e Comportamentalista em relação a abordagem sociocultural nos quesitos: Ciências: Educação: Conhecimento: Sujeito: REFERÊNCIAS. MIZUKAMI, Maria da Graça N. – Ensino: As abordagens do processo. 1996 – São Paulo. (p. 85 – 102) RIBAS, Adriana F. Paes – MOURA Lucia S. Abordagem sócio – culturas: algumas vertentes e autores. 2006 p.129 – 138. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a15.pdf. Acesso em 25/11/2009. BOCAYUVA, Pedro C.C., VEIGA, Sandra M., Novo Vocabulário Político. Petrópolis: Ed. Vozes, 1992. CARDOSO, CLEMENTINA, M. Livrar a educação da usurpação empreendedorista da escolha individual e privada da ação pública. (2005) in Teodoro, Antônio e Torres, Carlos. Educação crítica e Utopia. Perspectivas para o século XXI. São Paulo. SP. Cortez Editora, 2006. CAMPANELLA, Tommaso. A cidade do sol. São Paulo: Rideel, 2005. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2006. ------------------. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 34. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. ------------------. Pedagogia do Oprimido. 18.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
  • 11. ------------------. Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. FREITAS, Ana Lúcia de S. Pedagogia da Conscientização: Um legado Paulo Freire à formação de professores. 3ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. FRIGOTO, Gaudêncio. Educação e Crise do Capitalismo Real. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2000. HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. 2. ed. São Paulo: Globo, 2005 MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. A Sagrada Família. São Paulo: Boitempo Editorial, 2006. ------------------. Manifesto do Partido Comunista. 9. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. MANNHEIM, Karl Ideologia e Utopia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986. MACEDO, BARTOLOME, O racismo na era da globalização (2000) in F. Imbernón (org) A Educação no século XXI. Os desafios do futuro imediato. Porto Alegre: Artmed, 2000. MORE, Thomas. A utopia. São Paulo: Nova Cultural, 1997. ORWELL, George. 1984. 16 ed. São Paulo: Nacional, 1983.