Conclusões da mesa redonda sobre o aquecimento global e catástrofe planetária
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CONCLUSÕES DA MESA REDONDA SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL E
CATÁSTROFE PLANETÁRIA REALIZADA NO DIA 22/09/2017 EM
SALVADOR/BAHIA
Fernando Alcoforado*
A Mesa Redonda sobre o Aquecimento Global e Catástrofe Planetária realizada em
Salvador no dia 22/09/2017 sob o patrocínio do IGHB- Instituto Geográfico e Histórico
da Bahia e pela ABRO- Academia Brasileira Rotária de Letras (Secção da Bahia) foi
iniciada com nossa apresentação das conclusões de nosso livro Aquecimento Global e
Catástrofe Planetária publicada em 2010 cujos dados e conclusões foram enriquecidas
com dados mais recentes por mim apresentados e, também, pelos competentes
debatedores convidados, Engo. Durval Olivieri e Engo. Osvaldo Soliano.
O livro Aquecimento Global e Catástrofe Planetária mostra os resultados dos estudos
desenvolvidos pelo IPCC- Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática que
demonstra que desde a 1ª Revolução Industrial em 1860 os gases do efeito estufa
originários das atividades humanas são os maiores responsáveis pelo aquecimento
global que tende a fazer com que a temperatura média do planeta Terra evolua dos
atuais 15 graus centígrados para 20,8 graus centígrados até o ano 2100.
O IPCC demosntra que o aquecimento global resulta do efeito estufa provocado pela
retenção de calor na atmosfera da Terra causada pela concentração de gases de diversos
tipos. A Terra recebe radiação emitida pelo Sol que é absorvida pela superfície terrestre
aquecendo-a. Grande parte desta radiação é devolvida para o espaço e a outra parte é
absorvida pela camada de gases que envolve a atmosfera provocando o efeito estufa.É
em função deste fenômeno natural, o efeito estufa, que temos uma temperatura média da
Terra na faixa de 15ºC. Sem este fenômeno, a temperatura média do Planeta seria de
18ºC negativos.
Para manter o equilíbrio climático, o planeta Terra precisa receber a mesma quantidade
de energia que envia de volta para o espaço. Se ocorrer desequilíbrio por algum motivo,
o globo esquenta ou esfria até a temperatura atingir, mais uma vez, a medida exata para
a troca correta de calor. O aquecimento global é produzido pela atividade humana no planeta
e também por processos naturais, como a decomposição da matéria orgânica e as erupções
vulcânicas. Por eras, os processos naturais garantiram sozinhos a manutenção do efeito
estufa, sem o qual a vida não seria possível na Terra.
Segundo o IPCC, o equilíbrio climático natural foi rompido pela atividade humana
desde o século XIX com a Primeira Revolução Industrial. A partir do século XIX, as
concentrações de dióxido de carbono no ar aumentaram 30%, as de metano dobraram e
as de óxido nitroso subiram 15%. Os gases responsáveis pelo aquecimento global
derivados da atividade humana são produzidos pelos combustíveis fósseis usados nos
carros, nas indústrias e nas termelétricas, pela produção agropecuária e pelas queimadas
nas florestas. Apenas o CO2 acumulado na atmosfera totaliza hoje 750 bilhões de
toneladas.
As evidências do aquecimento global são, em síntese, as seguintes:
11 dos 12 últimos anos foram os mais quentes registrados no planeta
Temperatura na região ártica dobrou nos últimos 100 anos
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Desde 1978, a cada década quase 3% da camada de gelo do Polo Norte derreteu,
contribuindo para aumentar o nível do mar
Montanhas glaciais e geleiras vêm derretendo em ritmo recorde
Mesmo que a humanidade consiga limitar o aquecimento global a apenas 2 graus
Celsius, as gerações futuras terão de lidar com o nível do mar de 12 a 22 metros
maior do que o atual
Nível das chuvas cresceu de forma alarmante nas América do Norte e do Sul, no
norte da Europa e no norte e no centro da Ásia
Secas aumentaram no Sahel, Mediterrâneo, sul da África e partes do sul da Ásia
Desde 1970, aumentou a incidência de tufões e furacões no Atlântico Norte
As geleiras do Himalaia estão derretendo, as ilhas do leste da Índia estão ficando
embaixo d'água e os desertos do país estão sendo inundados por chuvas incomuns.
Se a tendência atual de crescimento dos gases de estufa prosseguir, entre os anos 2020 e
2070, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera poderá duplicar e a
temperatura média superficial da Terra poderá aumentar de 1,4°C e 5,8°C até o ano
2100. Hoje as emissões são de 8,8 bilhões de toneladas de carbono (ou 32,3 bilhões de
toneladas de CO2) ao ano. As consequências de um constante aumento do dióxido de
carbono na atmosfera serão provavelmente catastróficas se outros fatores moderadores
não entrarem em cena. Um desses fatores moderadores seria a absorção do excesso de
dióxido de carbono e de calor pelos oceanos. Entretanto, a absorção do dióxido de
carbono pelos oceanos é lenta. Além disso, os oceanos só podem processar 50% do
dióxido de carbono gerado pelo homem.
Uma das consequências da elevação da temperatura é a expansão térmica do oceano que
contribui para aumentar o seu volume e consequentemente o nível dos mares. Em consequência
da expansão térmica dos oceanos, as gerações futuras terão de lidar com o nível do mar de
12 a 22 metros maior do que o atual, de acordo com cientistas da Universidade de
Rutgers, em Nova Jersey, Estados Unidos. O mundo sentirá os efeitos adversos da elevação
do nível dos mares enquanto as coberturas de gelo nos polos continuar a derreter-se em
consequência da elevação das temperaturas dos oceanos. O gelo marinho no Ártico diminuiu
drasticamente nos últimos anos. As plataformas de gelo da Antártica estão se
desintegrando e rompendo. A Antártica é a maior massa congelada com 90% do gelo da
Terra. A maior parte do gelo fica na Antártica Oriental que é mais alta, mais fria e
menos propensa a derreter. Na Antártica Ocidental, parte do gelo está em depressões
vulneráveis a derretimento. Dados da Agência Espacial Europeia indicam que o
continente antártico desprendeu 160 bilhões de toneladas métricas de gelo por ano de
2010 a 2013. Se o atual ritmo de fusão das coberturas de gelo nos polos prosseguir, grandes
extensões de terra ao longo da costa marítima desaparecerão, juntamente com ilhas de terras
baixas e cidades.
O efeito estufa contribuirá para diminuir a precipitação atmosférica em algumas áreas
do planeta fazendo com que nelas ocorram temperaturas mais elevadas e maior
evaporação. Nessas circunstâncias, o fluxo dos rios poderá diminuir em 50% ou mais
podendo alguns deles secar completamente. Importantes lençóis freáticos poderão ficar
seriamente reduzidos, fazendo com que os poços de irrigação sequem. Por outro lado,
outras áreas do globo terrestre poderão ficar alagadas por causa da superabundância de
precipitações, resultando em extensas inundações. Um número maior de furacões
ocorrerá com o aumento das temperaturas globais. O aumento das temperaturas globais
poderá alterar drasticamente o clima e mudar os padrões de precipitação atmosférica em
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todo o mundo. Essa alteração poderá provocar condições de umidade incomuns para
certas regiões e aridez para outras.
Para estabilizar a concentração atmosférica do dióxido de carbono, os cientistas
acreditam que as emissões globais devem ser reduzidas das atuais 8,8 para 2 bilhões de
toneladas por ano. No mundo, os principais causadores do efeito estufa são o uso e a
produção de energia (57%), a utilização do clorofluorcarbono na refrigeração (17%), as
práticas agrícolas (14%), o desmatamento (9%) e outras atividades industriais (3%). No
Brasil, o desmatamento (75,4%), a queima de combustíveis fósseis (22%), os processos
industriais (1,6%) e outros (1%) são os principais responsáveis pelo efeito estufa.
Independentemente das várias soluções que venham a ser adotadas para eliminar ou
mitigar as causas do efeito estufa como, por exemplo, o combate ao desmatamento, a
adoção de novas práticas agrícolas, a mais importante é sem dúvidas a mudança da
matriz energética mundial com a adoção de medidas que contribuam para a eliminação
ou redução do consumo de combustíveis fósseis na produção de energia, bem como
para seu uso mais eficiente nos transportes, na indústria, na agropecuária e nas cidades
(residências e comércio), haja vista ser o uso e a produção de energia responsáveis por
57% dos gases de estufa emitidos pela atividade humana.
Para atingir este objetivo, é imprescindível a implantação de um sistema de energia
sustentável que contribua para a produção de energia limpa. Para existir um sistema de
energia sustentável no mundo com a produção de energia limpa é preciso que até 2030 a
produção de petróleo seja reduzida à metade e a de carvão de 90%, enquanto as fontes
renováveis de energia cresçam quase 4 vezes para reduzir as emissões de carbono à
metade registrada em 1989. No ano 2030, as energias renováveis deveriam ser da ordem
de 70% da produção total de energia do planeta. Estes são os requisitos de um sistema
energético sustentável em todo o mundo. No Brasil, o esforço deveria ser voltado para o
combate ao desmatamento, o controle da poluição industrial e substituição dos
combustíveis fósseis utilizados na produção de energia por fontes renováveis.
A humanidade se defronta com uma fronteira temporal que não é 2100, mas bem mais
cedo, 2030! Esta data não é arbitrária. Em 2030, viveremos em um planeta que terá
cerca de 9 bilhões de habitantes dos quais dois terços vivendo em uma Terra saturada de
poluição e dejetos já afetada por uma alta sensível de temperaturas. Em 2030, estaremos
entrando em uma fase de penúria em relação ao petróleo e de forte tensão sobre outros
combustíveis fósseis, em um contexto de redução dos recursos naturais e
empobrecimento de terras cultiváveis. A concentração de gás carbônico na atmosfera
que era de 280 ppm (partículas por milhão) em volume no início da era industrial
poderá alcançar no século XXI valores entre 540 e 970 ppm. Este aumento da
concentração de gás carbônico é responsável por 70% do aquecimento global em curso.
O mundo está diante de um desafio que é o de não permitir o aquecimento global no
século XXI superior a dois graus centígrados sem o qual terá que arcar com as
consequências catastróficas resultantes das mudanças climáticas. Para evitar que o
aquecimento global ultrapasse 2ºC será preciso uma radical descarbonização da
economia mundial. Trata-se de uma tarefa de difícil realização, mas ainda possível.
Neste sentido, o mundo precisa limitar todas as emissões de gás carbônico (CO2) a um
trilhão de toneladas. Um compromisso global objetivando limitar o aumento do
aquecimento global a 2ºC foi firmado na Conferência do Clima de Paris, a COP 21. Os
estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU
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recomendam a redução de emissões de gases do efeito estufa responsáveis pelo
aquecimento global da ordem de 60% a 70% até meados deste século.
Para alcançar os objetivos da COP 21 terá que haver em todos os países do mundo um
gigantesco esforço no sentido de diminuir drasticamente as emissões de gases do efeito
estufa. Até outubro, os países apresentaram propostas de corte de emissões, conhecidas
como INDCs (da sigla em inglês Contribuições Pretendidas Nacionalmente
Determinadas). Esses objetivos só serão alcançados se forem adotadas políticas que
contribuam para: 1) reformar os setores de energia e transportes; 2) promover o uso de
fontes energéticas renováveis; 3) eliminar mecanismos financeiros e de mercado
inapropriados aos fins da Convenção; 4) limitar as emissões de gases do efeito estufa no
gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos; e, 5) proteger florestas e outros
sumidouros de carbono.
Para exemplificar, as usinas termelétricas com o uso de combustíveis fósseis devem ser
substituídas por fontes renováveis de energia (solar, eólica e biomassa) e, em última
instância por usinas nucleares e o desmatamento deve ser combatido com uma
fiscalização adequada de áreas florestais e com a punição exemplar dos desmatadores.
Deve-se incentivar a substituição do óleo diesel utilizado na agricultura pelo biodiesel, a
redução do tamanho da população bovina responsável pela emissão de metano para a
atmosfera, a substituição do óleo combustível utilizado pela indústria pelo gás natural
menos poluente, o uso do etanol pelos automóveis em substituição à gasolina e a
fabricação de carros elétricos em substituição aos veículos movidos com combustíveis
fósseis. Deve-se promover a substituição do GLP utilizado nas residências e no
comércio pelo gás natural menos poluente.
A emissão de gases do efeito estufa resultante da decomposição do lixo pode ser evitada
com o uso do metano produzido nos aterros sanitários na geração de energia elétrica,
bem como na produção de adubo. Nas refinarias, deveria haver um esforço no sentido
de reduzir a produção de derivados de petróleo paralelamente à adoção de medidas
voltadas para a redução de seu consumo. As refinarias deveriam estar voltadas
fundamentalmente para a produção de derivados de petróleo de uso mais nobre ou
menos poluente. Portanto, para eliminar ou reduzir as emissões de gases do efeito estufa
e impedir as mudanças climáticas catastróficas em nosso planeta, urge reduzir o
consumo de petróleo com a adoção de políticas visando a execução de programas que
contribuam para sua substituição por outros recursos energéticos.
Adicionalmente, é imprescindível a adoção de políticas energéticas visando a execução
de programas que contribuam para redução do consumo de petróleo através de ações de
economia de energia. As políticas de economia de energia consistiriam no seguinte: 1)
produzir vapor e eletricidade na indústria com o uso de sistemas de cogeração; 2)
incentivar as montadoras de automóveis e caminhões no sentido de elevar a eficiência
dos veículos automotores para reduzir o consumo de combustíveis; 3) expandir os
sistemas ferroviários e hidroviários para o transporte de carga em substituição aos
caminhões; 4) expandir o sistema de transporte coletivo, sobretudo o transporte de
massa de alta capacidade como o metrô ou VLT para reduzir o uso de automóveis nas
cidades; 5) restringir o uso de automóveis nos centros e em outras áreas das cidades; 6)
incentivar a fabricação de máquinas e equipamentos de maior eficiência para
economizar energia e de veículos elétricos; e, 7) utilizar derivados de petróleo
principalmente para fins não energéticos, sobretudo como matéria prima industrial.
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Os debatedores e participantes presentes à Mesa Redonda enriqueceram o debate propondo a adoção de
políticas públicas que contribuam para restringir a emissão de gases do efeito estufa, a necessidade de
exercer o controle da natalidade para evitar a explosão populacional que alimenta o consumo de recursos
naturais e de energia, a necessidade de conscientização da população em geral sobre a ameaça que
representa a mudança climática catastrófica para o futuro da humanidade, bem comoa celebração de um
contrato social planetário com base em uma governança mundial democrática que contribua para, não
apenas evitar as consequências da mudança climática, mas, sobretudo, construir um mundo de paz e de
progressoparatodaahumanidade.Estasforam,portanto,asconclusõesdamesaredonda.
*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação e da Academia Brasileira
Rotária de Letras – Seção da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e
Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e
planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao
Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The
Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia
(VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010),
Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo,
São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores
Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia
no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV,
Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o
Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016) e A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017).