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SÍNTESE

       Ao se analisar a Produção de Soja e do Agronegócio no Cerrado, a pesquisa em
questão apresenta algumas razões pelas quais o Cerrado brasileiro se tornou o maior
produtor de grãos do mundo, demonstrando as consequências disso para o cenário da
exportação brasileira.
       A partir de Pesquisa Bibliográfica descritiva, análise de produções acadêmicas e
questionários por amostragem e com profissionais da área, buscou-se responder como a
inovação tecnológica foi capaz de transformar uma área improdutiva na maior produtora de
grãos do mundo.
       O estudo das raízes históricas da produção de soja no semiárido e da maneira como
as inovações tecnológicas influenciaram o significativo aumento dessa produção apurou
que até os anos 70 não havia cultivo de soja no Cerrado brasileiro. A planta, originária da
China, era cultivável somente em altas latitudes, pois necessitava de determinado número
de dias curtos para florescer, condição verificada apenas nos Estados do Sul do Brasil.
       Além disso, a soja não se adaptava aos solos ácidos do Cerrado e pobres em
nutrientes. Através da inovação tecnológica e melhoramento das técnicas de produção uma
área, antes improdutiva e considerada infértil, tornou possível o cultivo de soja e
transformou-se em grande área exportadora, detentora de tecnologia de ponta.
       As pesquisas iniciadas durante a Ditadura Militar deram início ao desenvolvimento
de técnicas de melhoramento genético, criação de cultivares de soja rústica e adaptada a
latitudes mais baixas, ao mesmo tempo em que gerou tecnologias de manejo do solo,
visando à construção do perfil químico adequado à cultura. Estas tecnologias propiciaram a
incorporação de grandes áreas de Cerrado ao processo produtivo impulsionado pelo
aumento do preço da soja no mercado internacional.
       Os pacotes tecnológicos desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA) são elemento fundamental para alavancar a produção de soja e
o agronegócio na região. Incluem a aplicação racional de calcário ao solo, visando à
redução da acidez e eliminação do alumínio tóxico ali presente, bem como a aplicação de
adubos para suprir o solo do Cerrado com quantidades adequadas de nutrientes. As mais
recentes pesquisas para o melhoramento genético da soja visam desde ao desenvolvimento
das populações, processos de seleção até avaliações das linhagens. Alcançado o objetivo da
obtenção de características desejáveis, tais como adaptação da cultura a condições
climáticas específicas, resistência a pragas, aumentou-se a produtividade.
       O subsídio governamental na forma de pesquisa, extensão e linhas de crédito para
investimento e custeio, além de seguro agrícola, ampliado nos últimos anos, e vários
programas como o Soja Livre da Embrapa têm o objetivo melhorar a produção e
comercialização. O cultivo de soja convencional no mercado, por ter melhores preços no
mercado nacional e internacional, também vem sendo outro fator que contribui à produção
e o comércio de soja. As pesquisas, cada vez mais, propiciam o aumento de produtividade
agrícola, o que leva a ganhos expressivos, tornando a soja brasileira extremamente
competitiva, a despeito de barreiras impostas por países importadores. Restam, hoje, menos
de 20% da vegetação nativa do Cerrado, grande parte localizada em áreas de preservação
permanente ou reservas legais. Assim, o aumento da produtividade torna-se fundamental
para manter o cultivo da soja competitivo.
       Nesse sentido, a tecnologia mudou e continua mudando o cenário da produção da
soja. Sem as inovações tecnológicas alcançadas pela pesquisa, não seria possível o cultivo
no semiárido brasileiro, nem de soja nem de outras culturas. Nesses aspectos, as
exportações brasileiras de soja em grão vêm batendo recordes atrás de recordes. O Brasil é
o segundo maior produtor e exportador no mundo, ficando atrás apenas dos Estados
Unidos.
       Esse crescimento gradativo das exportações é explicado não só pelo crescimento da
oferta, mas pelo aprimoramento das técnicas de manejo e inovações teológicas. Dentro da
lógica do mercado, o aumento da demanda, proporcionada pela desvalorização do câmbio e
o crescimento econômico e populacional da gigante asiática China, maior consumidora
global dessa commoditie, bem como, no âmbito político, a aprovação da lei Kandir, que
desonerou as exportações de produtos in natura do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias (ICMS), deram maior competitividade à soja brasileira.
       Nesse cenário, o consumo de soja pela população brasileira, a despeito da enorme
produção feita no Brasil, ainda é pequeno, indicando seu caráter internacional, já que
produzida, em grande parte, para exportação. Isso se reflete na percepção do brasileiro em
relação ao uso da soja que não vê esse consumo como algo fundamental em sua rotina, o
que, mais uma vez, confirma a hipótese da produção de soja quase unicamente para o
mercado externo. O brasileiro não conhece grande quantidade de produtos à base de soja,
nem se interessa muito sobre o assunto, ainda que a pesquisa tenha revelado largo uso de
produtos cosméticos que levam em sua formulação substâncias extraídas da soja. Em
contrapartida, por desconhecerem seu uso dentro de um universo mais ampliado, é provável
que façam uso de produtos à base de soja, mas nem tenham conhecimento disso.
       Do ponto de vista socioeconômico, a produção de soja no Cerrado traz
consequências boas e ruins. Por ser produto, fundamentalmente, de enormes latifúndios e
grandes produtores, é responsável, ainda, por desigualdade social. Em mãos de poucos que
detêm recursos, não deixa espaço para pequenos agricultores. Ainda que tenha mudado o
perfil do trabalhador na região, por ser extremamente mecanizada e altamente exigente de
mão-de-obra capaz, mudou o perfil demográfico da região, expulsando os pequenos
produtores para outras partes do país e atraindo uma gama de prestadores de serviço, como
médicos, revendedores de carros, engenheiros, agrônomos, veterinários, entre outros, que se
mudaram para a área do Cerrado para explorar um nicho até então pouco explorado.
       Assim, a inovação tecnológica foi capaz de transformar não só uma área
improdutiva na maior produtora de grãos do mundo como a enorme produção de soja que
ocorre hoje no Cerrado brasileiro só foi possível graças a um esforço coletivo, entre Estado,
pesquisadores, produtores de soja e sociedade em geral. Dessa junção de forças - técnicas
inovadoras, correção da acidez do solo, maquinário especializado, mão-de-obra capacitada,
pesquisas genéticas, melhoria dos grãos, incentivo governamental - transforma-se o
panorama da produção agrícola no Cerrado, incluída, aí, a produção de soja que se faz
destaque da exportação agrícola brasileira.

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Síntese

  • 1. SÍNTESE Ao se analisar a Produção de Soja e do Agronegócio no Cerrado, a pesquisa em questão apresenta algumas razões pelas quais o Cerrado brasileiro se tornou o maior produtor de grãos do mundo, demonstrando as consequências disso para o cenário da exportação brasileira. A partir de Pesquisa Bibliográfica descritiva, análise de produções acadêmicas e questionários por amostragem e com profissionais da área, buscou-se responder como a inovação tecnológica foi capaz de transformar uma área improdutiva na maior produtora de grãos do mundo. O estudo das raízes históricas da produção de soja no semiárido e da maneira como as inovações tecnológicas influenciaram o significativo aumento dessa produção apurou que até os anos 70 não havia cultivo de soja no Cerrado brasileiro. A planta, originária da China, era cultivável somente em altas latitudes, pois necessitava de determinado número de dias curtos para florescer, condição verificada apenas nos Estados do Sul do Brasil. Além disso, a soja não se adaptava aos solos ácidos do Cerrado e pobres em nutrientes. Através da inovação tecnológica e melhoramento das técnicas de produção uma área, antes improdutiva e considerada infértil, tornou possível o cultivo de soja e transformou-se em grande área exportadora, detentora de tecnologia de ponta. As pesquisas iniciadas durante a Ditadura Militar deram início ao desenvolvimento de técnicas de melhoramento genético, criação de cultivares de soja rústica e adaptada a latitudes mais baixas, ao mesmo tempo em que gerou tecnologias de manejo do solo, visando à construção do perfil químico adequado à cultura. Estas tecnologias propiciaram a incorporação de grandes áreas de Cerrado ao processo produtivo impulsionado pelo aumento do preço da soja no mercado internacional. Os pacotes tecnológicos desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) são elemento fundamental para alavancar a produção de soja e o agronegócio na região. Incluem a aplicação racional de calcário ao solo, visando à redução da acidez e eliminação do alumínio tóxico ali presente, bem como a aplicação de adubos para suprir o solo do Cerrado com quantidades adequadas de nutrientes. As mais recentes pesquisas para o melhoramento genético da soja visam desde ao desenvolvimento
  • 2. das populações, processos de seleção até avaliações das linhagens. Alcançado o objetivo da obtenção de características desejáveis, tais como adaptação da cultura a condições climáticas específicas, resistência a pragas, aumentou-se a produtividade. O subsídio governamental na forma de pesquisa, extensão e linhas de crédito para investimento e custeio, além de seguro agrícola, ampliado nos últimos anos, e vários programas como o Soja Livre da Embrapa têm o objetivo melhorar a produção e comercialização. O cultivo de soja convencional no mercado, por ter melhores preços no mercado nacional e internacional, também vem sendo outro fator que contribui à produção e o comércio de soja. As pesquisas, cada vez mais, propiciam o aumento de produtividade agrícola, o que leva a ganhos expressivos, tornando a soja brasileira extremamente competitiva, a despeito de barreiras impostas por países importadores. Restam, hoje, menos de 20% da vegetação nativa do Cerrado, grande parte localizada em áreas de preservação permanente ou reservas legais. Assim, o aumento da produtividade torna-se fundamental para manter o cultivo da soja competitivo. Nesse sentido, a tecnologia mudou e continua mudando o cenário da produção da soja. Sem as inovações tecnológicas alcançadas pela pesquisa, não seria possível o cultivo no semiárido brasileiro, nem de soja nem de outras culturas. Nesses aspectos, as exportações brasileiras de soja em grão vêm batendo recordes atrás de recordes. O Brasil é o segundo maior produtor e exportador no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Esse crescimento gradativo das exportações é explicado não só pelo crescimento da oferta, mas pelo aprimoramento das técnicas de manejo e inovações teológicas. Dentro da lógica do mercado, o aumento da demanda, proporcionada pela desvalorização do câmbio e o crescimento econômico e populacional da gigante asiática China, maior consumidora global dessa commoditie, bem como, no âmbito político, a aprovação da lei Kandir, que desonerou as exportações de produtos in natura do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), deram maior competitividade à soja brasileira. Nesse cenário, o consumo de soja pela população brasileira, a despeito da enorme produção feita no Brasil, ainda é pequeno, indicando seu caráter internacional, já que produzida, em grande parte, para exportação. Isso se reflete na percepção do brasileiro em relação ao uso da soja que não vê esse consumo como algo fundamental em sua rotina, o
  • 3. que, mais uma vez, confirma a hipótese da produção de soja quase unicamente para o mercado externo. O brasileiro não conhece grande quantidade de produtos à base de soja, nem se interessa muito sobre o assunto, ainda que a pesquisa tenha revelado largo uso de produtos cosméticos que levam em sua formulação substâncias extraídas da soja. Em contrapartida, por desconhecerem seu uso dentro de um universo mais ampliado, é provável que façam uso de produtos à base de soja, mas nem tenham conhecimento disso. Do ponto de vista socioeconômico, a produção de soja no Cerrado traz consequências boas e ruins. Por ser produto, fundamentalmente, de enormes latifúndios e grandes produtores, é responsável, ainda, por desigualdade social. Em mãos de poucos que detêm recursos, não deixa espaço para pequenos agricultores. Ainda que tenha mudado o perfil do trabalhador na região, por ser extremamente mecanizada e altamente exigente de mão-de-obra capaz, mudou o perfil demográfico da região, expulsando os pequenos produtores para outras partes do país e atraindo uma gama de prestadores de serviço, como médicos, revendedores de carros, engenheiros, agrônomos, veterinários, entre outros, que se mudaram para a área do Cerrado para explorar um nicho até então pouco explorado. Assim, a inovação tecnológica foi capaz de transformar não só uma área improdutiva na maior produtora de grãos do mundo como a enorme produção de soja que ocorre hoje no Cerrado brasileiro só foi possível graças a um esforço coletivo, entre Estado, pesquisadores, produtores de soja e sociedade em geral. Dessa junção de forças - técnicas inovadoras, correção da acidez do solo, maquinário especializado, mão-de-obra capacitada, pesquisas genéticas, melhoria dos grãos, incentivo governamental - transforma-se o panorama da produção agrícola no Cerrado, incluída, aí, a produção de soja que se faz destaque da exportação agrícola brasileira.