O documento discute os riscos do "passaporte de imunidade" para a pandemia de COVID-19, como a primazia de uma classe social sobre outra e a normalização da produção e consumo. Também aborda como as políticas de saúde pública refletem interesses de manutenção do capitalismo, não da vida, e como a noção de imunidade constrói hierarquias na comunidade.
3. Careables é uma plataforma de colaboração
internacional que permite aos cidadãos
projetar e fornecer produtos de saúde
centrados nas pessoas.
RICARDO RUIZ - INVERNO DE 2020
CAREABLES
CAREABLES.ORG
5. PASSAPORTEIMUNITÁRIO
INDICARIA QUE DETERMINADO CIDADÃO JÁ DESENVOLVEU ANTICORPOS
CONTRA O SARS-COV-2, QUE JÁ ESTÁ IMUNE E QUE, POR ISSO,
PODE VOLTAR A CIRCULAR – OU MELHOR:
VOLTAR A TRABALHAR.
6. RICARDO RUIZ - INVERNO DE 2020
- Não há ainda qualquer comprovação
científica de que a presença dos
anticorpos garanta a imunização,
completa ou parcial, diante da doença.
- Além disso, a pessoa que se torna
“imune” ainda funciona como transmissor
físico da doença em potencial, por meio
de contato, roupas e objetos.
Como evitar, com isso, a primazia de uma
classe social sobre outra – uns livres,
outros prisioneiros da pandemia?
7. - aqueles que sobreviveram à doença ganharam o
título de “aclimatados”;
- se tornaram uma espécie de ‘casta elevada’
enquanto os contaminados ou não curados eram
segregados e discriminados;
- “aclimatados” era a elite branca e favorecida. A
escravidão era ainda lei, e a população mais pobre
tinha, como ainda hoje, pouco acesso às mínimas
condições de higiene, saneamento e saúde.
RICARDO RUIZ - INVERNO DE 2020
NOVAORLEANS
22 PANDEMIAS DE FEBRE AMARELA NO SÉC. XIX
8. BIOPODER
/FOUCAULT
“O CONTROLE DA VIDA POR PARTE DO PODER SOBERANO (…)
UMA FORÇA EXTERNA, DISCIPLINADORA E NORMATIZADORA
QUE INCIDE SOBRE OS CORPOS E AS SUBJETIVIDADES,
DOCILIZANDO-AS E ADESTRANDO-AS”
9. RICARDO RUIZ - INVERNO DE 2020
E POLÍTICAS SEMELHANTES SÃO VOLTADAS PARA
A NORMALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO E DO CONSUMO
PASSAPORTEDEIMUNIDADE
CERTAS DECISÕES POLÍTICAS PARA O ENFRENTAMENTO
DA PANDEMIA SÃO DETERMINADAS PELO INTERESSE DE
MANUTENÇÃO DO CAPITALISMO,
ENÃODEMANUTENÇÃODAVIDA
11. PARTILHAM UMA MESMA RAIZ LATINA, MUNUS, QUE
SIGNIFICA O TRIBUTO QUE ALGUÉM DEVIA PAGAR DEVIDO
AO FATO DE VIVER OU FORMAR PARTE DA COMUNIDADE.
"COMUNIDADEE
IMUNIDADE"
12. RICARDO RUIZ - INVERNO DE 2020
UM GRUPO HUMANO CONECTADO POR UMA LEI E UMA OBRIGAÇÃO COMUM, MAS TAMBÉM POR UM PRESENTE, UMA OFERENDA.
O substantivo inmunitas é um vocábulo privativo que deriva da
negação munus. No direito romano, a inmunitas era a dispensa ou
o privilégio que exonerava alguém dos deveres sociais comuns a
todos.
Aquele que estava desmunido era aquele ao qual se haviam
retirado todos os privilégios da vida em comunidade.
CUM(COM)+
MUNUS(DEVER,LEI,OBRIGAÇÃO,MASTAMBÉMOFERENDA)
13. Ela supõe uma definição da comunidade e o
estabelecimento de uma hierarquia entre, por
um lado, os corpos que estão isentos de
tributos (os que são considerados imunes) e,
por outro, aqueles que a comunidade percebe
como potencialmente perigosos (os demuni) e
que serão excluídos por meio de um acto de
protecção imunológica.
RICARDO RUIZ - INVERNO DE 2020
ROBERTOESPOSITO
TODA A BIOPOLÍTICA É IMUNOLÓGICA
15. RICARDO RUIZ - INVERNO DE 2020
A partir do século XIX, com o descobrimento da
primeira vacina contra a varíola e as
experiências de Pasteur e Koch, a noção de
imunidade é extraída do âmbito do direito e
adquire uma significação médica.
As democracias liberais e coloniais europeias do
século XIX constroem o ideal do indivíduo
moderno não apenas como agente (masculino,
branco, heterossexual) económico livre, mas
também como um corpo imune, radicalmente
separado, que nada deve à comunidade.
Para Esposito, o modo pelo qual a Alemanha nazi
caracterizou uma parte da sua própria
população (os judeus mas também os ciganos,
os homossexuais, as pessoas com deficiências)
como corpos que ameaçavam a soberania da
comunidade ariana é um exemplo
paradigmático dos perigos da gestão imunitária.
17. OVÍRUSATUAÀ
NOSSAIMAGEM
ESEMELHANÇA,
NÃO FAZ OUTRA COISA QUE REPLICAR,
MATERIALIZAR, INTENSIFICAR E ESTENDER A TODA A
POPULAÇÃO AS FORMAS DOMINANTES DE GESTÃO
BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA QUE JÁ OPERAVAM
SOBRE O TERRITÓRIO NACIONAL E OS SEUS LIMITES.