SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 12
Baixar para ler offline
Projeto Editorial I Publishing Editor




                                                                Isabella Perrotta
Marta Mosley
Texto I Text
Isabella Perrotta
                                                Victor Burton
Revisão de texto I Proofreading
Fátima Fadel
Versão em inglês I English Version
Sérgio Moraes
Projeto Gráfico I Design
Isabella Perrotta
Capa I Cover
Giuseppe Arcimboldo, Il Bibliotecario, s.d.
Impressão e Acabamento I Printing and Binding
Pancrom Gráfica




 VIANA & MOSLEY
     Editora


Av. Ataulfo de Paiva, 1.079/ sala 704
Leblon - Rio de Janeiro, CEP: 22440-031
Tel./Fax: (21) 2540-8571
Diretor Comercial: Richard Mosley
Tel.: (21) 3204-9285
vmeditora@globo.com
www.vmeditora.com.br
Sumário
Contents


Introdução 13
Paixão por livros 17
O livro no Brasil 27
O estilo burtoniano 37

Introduction 55
A Passion for books 59
The book in Brazil 69
The Burtonian style 79
A autora | The author 117
P. 4 – ilustração de Victor Burton e
         p. 5 – ilustração de Michel Burton, seu pai.
p.4 – An illustration by Victor Burton, and p.5 – An
       illustration by Michel Burton, Victor’s father

                    Ps. 6 e 7, 8 e 9, acima e ao lado:
 livro-catálogo da exposição A escrita da memória,
              Instituto Cultural Banco Santos, 2004.
   A capa em plástico translúcido, deixa transparecer
                               foto da folha de rosto.
        pp. 6 and 7, 8 and 9, above and on the side:
        catalog of the exhibit A escrita da memória,
Instituto Cultural Banco de Santos, 2004. The cover,
  in translucent plastic material, allows the reader to
               see the photograph on the front page.
Uma de suas paixões – a gastronomia –
                     em livro.
                     Pães de França, DBA, 1996
                     One of his passions – gastronomy – in
                     a book.




                                                             Introdução


                                                             Victor Burton é uma presença marcante. Grande, barba farta,
                                                             (aparentemente) sério, vozeirão, eloqüente, altivo, vaidoso, sem modéstia...
                                                             De repente se desmancha numa (muito!) sonora gargalhada. É veemente em
                                                             suas declarações, especialmente quando se refere a gosto. Adora ou detesta
                                                             com muita ênfase. Por isso, a primeira versão do texto deste livro – que
                                                             partiu de uma conversa nossa gravada – era cheia de pontos de exclamação
                                                             e entrecortada por um excesso de aspas para os fortes adjetivos que usou.
                                                             Para dar mais continuidade à leitura, foi necessário suprimir algumas dessas
                                                             marcas, mas espero que o estilo burtoniano de ser ainda tenha ficado aparente.
                                                             Este livro propõe-se examinar a obra gráfica de Burton, mas cabe dizer que
                                                             seu trabalho está diretamente ligado ao seu etilo de vida. Todo profissional
                                                             interage a sua formação técnica com a vivência do seu dia-a-dia. No caso de
                                                             um designer gráfico essa vivência vai formando o conjunto de elementos de
                                                             seu repertório visual e sensível. Um designer também se faz pelos filmes que
                                                             vê, os livros que lê, os museus que visita, os shows a que assiste (no caso de


12 V ICTOR B URTON                                                                                                            V ICTOR B URTON 13
Victor Burton, as óperas, mais especificamente). É essa história que faz o
profissional identificar-se com os nichos de mercado: imagem institucional,
catálogos de moda, disco de rock ou programas de música clássica. É claro
que um designer está capacitado a fazer hoje um logotipo de uma
metalúrgica e amanhã um livro infantil, mas no nicho com que se identifica,
certamente vai desenvolver melhores produtos. Victor está sempre rodeado
de trabalhos que envolvem seus temas favoritos: história, arte, música e
gastronomia. E sempre traz as referências daquilo que gosta – principalmente
história da arte – para o seu trabalho, qualquer que seja a temática.
Conheci o trabalho de Victor Burton, recém-formada, na exposição de suas
capas de livros na ESDI (Escola Superior de
Desenho Industrial), em 1983. Logo depois,
uma amiga passou a trabalhar com ele e,
vez ou outra, eu fazia uma colaboração.
Esse contato mudou meu modo de ver o
design gráfico, contaminado que era pela
formação esdiana ainda bastante
racionalista. Por um ano ocupei o lugar de
sua assistente, deixado por minha amiga,
até montar meu primeiro escritório, onde
ainda fiz eventuais colaborações nos seus
trabalhos. Passados alguns anos, formamos
a Burton & Perrotta Criação Visual, já
desfeita há mais de dez anos.
A convite da Editora Viana & Mosley, foi      O cartaz da exposição na Esdi, em 1983, é
                                              símbolo do seu trabalho na época, com
um prazer conviver, de novo, tão de perto,    colagens e vinhetas do século 19.
                                                                                             Parigi, DBA, 2002: gastronomia combina com elegância.
                                              The poster advertising the 1983 Esdi Exhibit
com o seu trabalho.                           is a symbol of his work at the time, with
                                                                                             Parigi, DBA, 2002: gastronomy matches elegance.
                                              collages and vignetes of the 19th century.




14 V ICTOR B URTON
Paixão por livros


                                      “Nós somos os países                                                  do livro feio. Do livro malfeito. Do
                                      livro incaracterístico”, afirmava em 1925 o antropólogo Gilberto Freire,
                                      referindo-se às produções brasileiras e portuguesas quando comparadas
                                      com o movimento de renovação do livro que acontecia, na época, em parte
                                      da Europa e Estados Unidos, e atingia a estética tipográfica e os meios de
                                      impressão e encadernação. Ainda no mesmo artigo do Diário de
                                      Pernambuco, Freire continua: “O Sr. Monteiro Lobato conseguiu animar de
                                      certa nota de graça o livro brasileiro. Mas ligeiríssima graça. Livro belo, não
                                      saiu nenhum de suas mãos ou de seus prelos.”1
                                      Monteiro Lobato foi um editor modernizador do meio editorial brasileiro
                                      durante o período de 1919 a 1925, e o primeiro a romper com o modelo
                                      vigente de capas apenas tipográficas, produzindo capas ilustradas.
                                      Trabalhava em parceria com Natal Daiuto, um dos primeiros profissionais
                                      brasileiros a ser chamado de “produtor gráfico”.

Uma margem distante, Record, 2006.   1. apud Cunha Lima, Edna Lúcia. “Santa Rosa: um designer a serviço da literatura” in O design brasileiro antes do design. Cosacnaify, 2005.




                                                                                                                                                       V ICTOR B URTON 17
É verdade que ainda hoje, ao abrirmos a grande maioria dos livros brasileiros                                                        Victor Burton é filho do francês Michel
em brochura (com capa de papel encorpado, mas flexível), nos deparamos                                                               Burton, formado no fim da década de
com textos sufocados por falta de margens e entrelinhas, e métodos de                                                                1940, pela escola de Arts et Métiers de
impressão ultrapassados que provocam borrões e tornam o desenho                                                                      Genebra. Herdeira do movimento Arts and
tipográfico impreciso. Mas, sem dúvida, o mercado editorial brasileiro                                                               Crafts, a escola fornecia habilidades
evoluiu muito. A capa, principalmente, ganhou papel merecido, e grande                                                               artesanais e artísticas diversas, passando
parte da nossa produção poderia estar nas prateleiras das boas livrarias                                                             pelas técnicas de belas-artes e as aplicadas,
estrangeiras.                                                                                                                        como encadernação, vitral e desenho
Passado o marco de criação de duas mil capas e duzentos projetos de miolo                                                            tipográfico. Michel veio morar no Rio de
de livros, Victor Burton – unanimidade entre editores e designers – teve, sem                                                        Janeiro em 1950, e logo começou a
dúvida, uma grande responsabilidade sobre esta evolução recente. Ainda                                                               trabalhar em diversos campos das artes
bem jovem, quando iniciou a atividade de capista2 na Editora Nova                                                                    visuais, preenchendo carências da cidade,
Fronteira, em 1979, ele não poderia supor o lastro que firmava e os                                                                  numa época em que a publicidade
caminhos que abriria para seus pares. Criou uma marca para a editora, na                                                             brasileira apenas ensaiava seus primeiros
contramão do que na época seria considerado “bom design”, tanto pelos                                                                passos. Fez capas para a revista Rio
intelectuais como pelos formadores de opinião. Fez a concorrência se mexer                                                           Magazine, charges e ilustrações para a
e teve que se mexer em função da concorrência. Hoje, meio blasé, diz que                                                             imprensa; foi diretor de arte da famosa
largaria tudo o que faz para tocar um instrumento… Violino, de preferência.                                                          revista Senhor (na gestão de Odílo Costa
Então, seria um artista, pois ele insiste em dizer que o trabalho do designer                                                        Filho), passou pelas agências McCann e
não é arte. Ainda que adolescente tenha pensado – por pouco tempo – em                                                               Thompson e, numa época pré-design,
ser artista plástico...                                                                                                              chegou a produzir trabalhos institucionais,
Na verdade, Victor nunca imaginou ser designer (no sentido latu). Tornou-se                                                          como o primeiro logotipo da empresa
designer em função da sua paixão pelos livros e da conseqüente vontade de                                                            aérea Varig, incluindo o desenho de sua         Capas de Michel Burton para a revista
                                                                                                                                                                                     Senhor. O uso de ornamentos tipográficos
fazer livros. Por essa razão, não freqüentou nenhuma escola de design. Mas                                                           tipografia e da rosa-dos-ventos.                como linguagem estética aparecerá mais
                                                                                                                                                                                     tarde, no trabalho de Victor.
sua formação erudita impregnou o seu estilo.                                                                                         Victor nunca trabalhou com o pai, mas           Michel Burton’s covers for Senhor
                                                                                                                                                                                     magazine. The use of typographic
                                                                                                                                     Michel Burton – com seu background              ornaments as an aesthetic language would
                                                                                                                                     cultural, seu senso estético e seu traço        later appear in Victor’s works.
2. O termo capista foi usado durante muito tempo para designar os especialistas nesta área. Hoje em dia, com a atividade de design
estabelecida, muito se critica sobre o uso deste termo, reducionista. Para Victor, não existem problemas quanto ao uso desta
nomenclatura, pois para ele, o mercado legitima o termo.




18 V ICTOR B URTON                                                                                                                                                                                          V ICTOR B URTON 19
ocasionais. E o fruto proibido virou
                                                                                               fascinação.
                                                                                               Victor chama a atenção para o fato de o
                                                                                               bibliófilo francês não desejar tanto as
                                                                                               primeiras edições, mas sim os livros
                                                                                               encomendados. A “tara”, segundo ele,
                                                                                               são edições de no máximo duzentos volumes,
                                                                                               desenvolvidas artesanalmente por artistas
                                                                                               plásticos e tipógrafos. Livros mais importantes
                                                                                               pela sua beleza do que por seu conteúdo.
                                                                                               “Verdadeiros objetos de fetiche estético.”
 Em outros trabalhos de Michel Burton, elementos que Victor herdaria: o sol e as vinhetas.     Seguindo o desejo de fazer livros, Victor
 Elements in other Michel Burton works that Victor would inherit: the sun and the vignettes.   desenvolveu suas três primeiras capas para a
                                                                                               editora Il Formichiere, em Milão, em 1976. “O
peculiar – foi, sem dúvida, a principal formação e referência do filho, que
                                                                                               lettering era Letraset e eu não cogitava usar
admirava o trabalho do pai, principalmente o desenho e a ilustração. Victor
                                                                                               qualquer outra coisa que não fosse a minha
recorda-se que o ambiente de casa era “totalmente contaminado por ele”,
                                                                                               ilustração”.
dos quadros na parede às prosaicas cenas do cotidiano do Rio de Janeiro
                                                                                               Aos 19 anos, começou a trabalhar na Editora
pintadas nas portas.
                                                                                               Franco Maria Ricci, de Milão. “Ricci era o
Em 1963, Michel Burton volta para a Europa – Milão – com a esposa Maria
                                                                                               máximo do máximo! Ele fazia livros
Helena e o filho Victor, brasileiros. A Europa seria a grande responsável pelas
referências de história da arte que o futuro capista apreenderia; mas, aos                     fantásticos e eu queria fazer aqueles livros.”
sete anos, o contraste entre as duas cidades foi difícil, e só quando                          Com esse editor – que também era diretor de
adolescente passou a gostar de Milão – um importante centro de artes                           arte de sua própria editora – aprendeu a
plásticas e design, com excelentes galerias de arte.                                           técnica e a prática do design editorial. As
Foi ainda em Milão que Victor passou a cultivar uma forte atração pelos                        referências estéticas de Ricci também
livros, em função da biblioteca de seu pai – herança de uma biblioteca maior                   contribuíram para a formação do estilo            Duas, das primeiras capas de Victor, para
                                                                                                                                                 a editora Il Formichiere, Itália, anos 1970.
que pertencera ao avô e ao bisavô, ambos bibliófilos. A biblioteca estava                      burtoniano. Segundo Victor, o estilo de Ricci –   Two of the first covers designed by Victor
                                                                                                                                                 for the Il Formichiere editorial house,
quase sempre fechada. Enquanto criança, lhe eram permitidas visitas                            que parecia ser clássico – era, na verdade,       Italy, in the 1970s.




20 V ICTOR B URTON                                                                                                                                                      V ICTOR B URTON 21
Primeiras capas de Victor Burton     um livro levava aproximadamente três anos para ser finalizado.
                                                      sob a direção de arte de Franco
                                                      Maria Ricci, com ilustrações suas.   “Franco me fascinava por ser totalmente diferente de tudo que se fazia na
                                                      First covers designed by Victor
                                                      Burton under the art direction of    Itália naquele momento”, diz Victor, lembrando que existia uma ligação
                                                      Franco Maria Ricci, with Victor’s
                                                      illustrations.
                                                                                           direta entre a estética modernista e o pensamento da esquerda politizada.
                                                                                           Apesar de ser apolítico, Ricci era contra o movimento que pregava um estilo
                                                      totalmente revolucionário            internacional, sem pátria. Ao contrário, tentava ressuscitar na tipografia e no
                                                      para uma época em que                ornamento a geografia e a história.
                                                      os modelos estéticos
                                                      italianos eram o
                                                      modernismo, o                                                                     As referências clássicas de diagramação,
                                                      racionalismo do designer                                                          como o Manual Tipográfico de Bodoni (no
                                                                                                                                        detalhe), foram incorporadas por Victor.
                                                      Bruno Munari e a                                                                  The classical diagrammatic references, such
                                                                                                                                        as Bodoni’s Typographic Manual (in detail),
tipografia Helvética (reta e sem serifa). Na Franco Maria Ricci, a tipografia                                                           were assimilated by Victor.
era muito importante, e o editor, fortemente ligado à tradição tipográfica
européia. Por isso, publicou o fac-símile do famoso Manual Tipográfico de
Bodoni. O tipo Bodoni (1788) era a “letra da moda”, muito utilizada nos
cartazes italianos dos anos 1970, pois sua construção geométrica (serifas
rígidas e grande contraste de espessuras) se aliava muito bem a uma leitura
modernista. Mas Ricci a usava como padrão para a mancha de texto na editora,
o que não era um modelo modernista, que preferia os textos sem serifas.
A fotocomposição de texto dos livros da FMR era encomendada às empresas
especializadas, mas todas as titulagens eram compostas na editora, com as
matrizes que o próprio Franco tinha fotografado no Museu Bodoni, de Parma.
Poder gerar a fotoletra permitia bastante controle aos espacejamentos entre
letras e ligaturas (união de duas letras num mesmo caracter).
Uma prova de uma folha de rosto era presa na parede e observada a dois
metros de distância, inúmeras vezes, até ser considerada resolvida. Então,




22 V ICTOR B URTON
No miolo, o fio duplo de Bodoni, e um            Na capa, uma rebuscada frisa é capaz de se tornar
pequeno adorno que faz muita diferença.          leve na composição que mistura fotos, vinheta e
Na capa, a moldura trabalhada.                   ilustração. No miolo, a mancha de texto é amarrada
Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX,      por outra frisa.
Matalivros, 2000.                                A Missão francesa, Sextante, 2003.
Inside the book, Bodoni’s double thread, and a   A recherché frieze on the cover appears light in this
small ornament, which makes a striking           composition, which mingles photos, vignettes, and
difference. On the cover, an ornated border.     an illustration. Inside, the text blur is tied by
Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX,      another frieze. A missão francesa, Sextante, 2003.
Metalivros, 2000.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Linha de tempo da vida de monteiro lobato
Linha de tempo da vida de monteiro lobatoLinha de tempo da vida de monteiro lobato
Linha de tempo da vida de monteiro lobatoEscola Costa e Silva
 
Tipografica - Aula 06 - Computação Grafica - 2019-02
Tipografica - Aula 06 - Computação Grafica - 2019-02Tipografica - Aula 06 - Computação Grafica - 2019-02
Tipografica - Aula 06 - Computação Grafica - 2019-02Renato Melo
 
Tipografica - Comp Grafica - Aula 06
Tipografica - Comp Grafica - Aula 06Tipografica - Comp Grafica - Aula 06
Tipografica - Comp Grafica - Aula 06Renato Melo
 
Luis Fernando Verissimo O Santinho (Doc) (Rev)
Luis Fernando Verissimo   O Santinho (Doc) (Rev)Luis Fernando Verissimo   O Santinho (Doc) (Rev)
Luis Fernando Verissimo O Santinho (Doc) (Rev)Mara Virginia
 
Conhecendo monteiro lobato
Conhecendo monteiro lobatoConhecendo monteiro lobato
Conhecendo monteiro lobatoDreaCristina
 
Arauto da Cultura e da Paz ano 3 - nº11
Arauto da Cultura e da Paz   ano 3 - nº11Arauto da Cultura e da Paz   ano 3 - nº11
Arauto da Cultura e da Paz ano 3 - nº11inbrasci
 
City Posto - Edição 12
City Posto - Edição 12City Posto - Edição 12
City Posto - Edição 12Fabio Guilherme
 
Análise do conto: O homem que sabia javanês
Análise do conto: O homem que sabia javanêsAnálise do conto: O homem que sabia javanês
Análise do conto: O homem que sabia javanêsAndré Aleixo
 
Comp Gráfica 06 - tipografia
Comp Gráfica 06 - tipografiaComp Gráfica 06 - tipografia
Comp Gráfica 06 - tipografiaRenato Melo
 

Mais procurados (20)

Linha de tempo da vida de monteiro lobato
Linha de tempo da vida de monteiro lobatoLinha de tempo da vida de monteiro lobato
Linha de tempo da vida de monteiro lobato
 
Tipografica - Aula 06 - Computação Grafica - 2019-02
Tipografica - Aula 06 - Computação Grafica - 2019-02Tipografica - Aula 06 - Computação Grafica - 2019-02
Tipografica - Aula 06 - Computação Grafica - 2019-02
 
Tipografica - Comp Grafica - Aula 06
Tipografica - Comp Grafica - Aula 06Tipografica - Comp Grafica - Aula 06
Tipografica - Comp Grafica - Aula 06
 
Portugues5em
Portugues5emPortugues5em
Portugues5em
 
Prova 1
Prova 1Prova 1
Prova 1
 
Luis Fernando Verissimo O Santinho (Doc) (Rev)
Luis Fernando Verissimo   O Santinho (Doc) (Rev)Luis Fernando Verissimo   O Santinho (Doc) (Rev)
Luis Fernando Verissimo O Santinho (Doc) (Rev)
 
Portugues1em
Portugues1emPortugues1em
Portugues1em
 
Portugues3em
Portugues3emPortugues3em
Portugues3em
 
Portugues6em
Portugues6emPortugues6em
Portugues6em
 
Conhecendo monteiro lobato
Conhecendo monteiro lobatoConhecendo monteiro lobato
Conhecendo monteiro lobato
 
Arauto da Cultura e da Paz ano 3 - nº11
Arauto da Cultura e da Paz   ano 3 - nº11Arauto da Cultura e da Paz   ano 3 - nº11
Arauto da Cultura e da Paz ano 3 - nº11
 
City Posto - Edição 12
City Posto - Edição 12City Posto - Edição 12
City Posto - Edição 12
 
Marta Amado
Marta AmadoMarta Amado
Marta Amado
 
Análise do conto: O homem que sabia javanês
Análise do conto: O homem que sabia javanêsAnálise do conto: O homem que sabia javanês
Análise do conto: O homem que sabia javanês
 
Marta Amado
Marta AmadoMarta Amado
Marta Amado
 
Catálogo nº29
Catálogo nº29Catálogo nº29
Catálogo nº29
 
Catálogo nº18
Catálogo nº18Catálogo nº18
Catálogo nº18
 
Lição 2 - 1EM
Lição 2 - 1EMLição 2 - 1EM
Lição 2 - 1EM
 
Monteiro Lobato
Monteiro LobatoMonteiro Lobato
Monteiro Lobato
 
Comp Gráfica 06 - tipografia
Comp Gráfica 06 - tipografiaComp Gráfica 06 - tipografia
Comp Gráfica 06 - tipografia
 

Destaque

Pre vestibular ingles_edicao_2011_caderno_4
Pre vestibular ingles_edicao_2011_caderno_4Pre vestibular ingles_edicao_2011_caderno_4
Pre vestibular ingles_edicao_2011_caderno_4fabioberthier
 
[dig - 2011.1] 08 - equlíbrio e unidade
[dig - 2011.1] 08 - equlíbrio e unidade[dig - 2011.1] 08 - equlíbrio e unidade
[dig - 2011.1] 08 - equlíbrio e unidadeEduardo Novais
 
Introdução ao design de livro
Introdução ao design de livroIntrodução ao design de livro
Introdução ao design de livroOdair Cavichioli
 
Projeto Livro: design guideline e estratégias
Projeto Livro: design guideline e estratégiasProjeto Livro: design guideline e estratégias
Projeto Livro: design guideline e estratégiasClaudia Bordin Rodrigues
 
Criação Publicitária - Aula 08 - Estudos de Casos
Criação Publicitária - Aula 08 - Estudos de CasosCriação Publicitária - Aula 08 - Estudos de Casos
Criação Publicitária - Aula 08 - Estudos de CasosThiago Ianatoni
 
Projeto Gráfico Editorial - aula introdução
Projeto Gráfico Editorial - aula introduçãoProjeto Gráfico Editorial - aula introdução
Projeto Gráfico Editorial - aula introduçãoprofclaubordin
 
Design Pra Quem Não é Designer
Design Pra Quem Não é DesignerDesign Pra Quem Não é Designer
Design Pra Quem Não é DesignerDaniela Fiuza
 

Destaque (10)

Pre vestibular ingles_edicao_2011_caderno_4
Pre vestibular ingles_edicao_2011_caderno_4Pre vestibular ingles_edicao_2011_caderno_4
Pre vestibular ingles_edicao_2011_caderno_4
 
Design
DesignDesign
Design
 
[dig - 2011.1] 08 - equlíbrio e unidade
[dig - 2011.1] 08 - equlíbrio e unidade[dig - 2011.1] 08 - equlíbrio e unidade
[dig - 2011.1] 08 - equlíbrio e unidade
 
Introdução ao design de livro
Introdução ao design de livroIntrodução ao design de livro
Introdução ao design de livro
 
Projeto Livro: design guideline e estratégias
Projeto Livro: design guideline e estratégiasProjeto Livro: design guideline e estratégias
Projeto Livro: design guideline e estratégias
 
Criação Publicitária - Aula 08 - Estudos de Casos
Criação Publicitária - Aula 08 - Estudos de CasosCriação Publicitária - Aula 08 - Estudos de Casos
Criação Publicitária - Aula 08 - Estudos de Casos
 
Design Editorial | Capas
Design Editorial | CapasDesign Editorial | Capas
Design Editorial | Capas
 
Projeto Gráfico Editorial - aula introdução
Projeto Gráfico Editorial - aula introduçãoProjeto Gráfico Editorial - aula introdução
Projeto Gráfico Editorial - aula introdução
 
Design Editorial | Elementos Editoriais
Design Editorial | Elementos EditoriaisDesign Editorial | Elementos Editoriais
Design Editorial | Elementos Editoriais
 
Design Pra Quem Não é Designer
Design Pra Quem Não é DesignerDesign Pra Quem Não é Designer
Design Pra Quem Não é Designer
 

Semelhante a 3196041

Área Cultural 1ª edição
Área Cultural 1ª ediçãoÁrea Cultural 1ª edição
Área Cultural 1ª ediçãoFran Buzzi
 
Artigo anpuh 2013 joão carlos de freitas borges
Artigo anpuh 2013   joão carlos de freitas borgesArtigo anpuh 2013   joão carlos de freitas borges
Artigo anpuh 2013 joão carlos de freitas borgesJoão Carlos Borges
 
Historia da BD
Historia da BDHistoria da BD
Historia da BDcvbotelho
 
Boletim 1 edicao.2012.13
Boletim 1 edicao.2012.13Boletim 1 edicao.2012.13
Boletim 1 edicao.2012.13BIBESC
 
A língua e a literatura portuguesas
A língua e a literatura portuguesasA língua e a literatura portuguesas
A língua e a literatura portuguesasLicínio Rocha
 
Gilberto freyre
Gilberto freyreGilberto freyre
Gilberto freyreadsilvas
 
Guia de leitura - Jorge Luis Borges
Guia de leitura - Jorge Luis BorgesGuia de leitura - Jorge Luis Borges
Guia de leitura - Jorge Luis Borgeslepmeditores
 
Portinari
PortinariPortinari
PortinariMaria
 
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_yodd5jd4
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_yodd5jd4Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_yodd5jd4
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_yodd5jd4marcossage
 
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_2xrsgsc2
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_2xrsgsc2Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_2xrsgsc2
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_2xrsgsc2marcossage
 
Portugueses ilustres ( artes e letras) do sec xx
Portugueses ilustres ( artes e letras) do sec xx Portugueses ilustres ( artes e letras) do sec xx
Portugueses ilustres ( artes e letras) do sec xx pr_afsalbergaria
 
Arthur Bispo do Rosário e seu universo representativo
Arthur Bispo do Rosário e seu universo representativoArthur Bispo do Rosário e seu universo representativo
Arthur Bispo do Rosário e seu universo representativoWagner Cipri
 

Semelhante a 3196041 (20)

Área Cultural 1ª edição
Área Cultural 1ª ediçãoÁrea Cultural 1ª edição
Área Cultural 1ª edição
 
Artigo anpuh 2013 joão carlos de freitas borges
Artigo anpuh 2013   joão carlos de freitas borgesArtigo anpuh 2013   joão carlos de freitas borges
Artigo anpuh 2013 joão carlos de freitas borges
 
Leitao barros
Leitao barrosLeitao barros
Leitao barros
 
Historia da BD
Historia da BDHistoria da BD
Historia da BD
 
Boletim 1 edicao.2012.13
Boletim 1 edicao.2012.13Boletim 1 edicao.2012.13
Boletim 1 edicao.2012.13
 
VIDA E OBRA DO PINTOR CANDIDO PORTINARI
VIDA E OBRA DO PINTOR CANDIDO PORTINARIVIDA E OBRA DO PINTOR CANDIDO PORTINARI
VIDA E OBRA DO PINTOR CANDIDO PORTINARI
 
Catálogo nº7
Catálogo nº7Catálogo nº7
Catálogo nº7
 
Catálogo nº1
Catálogo nº1Catálogo nº1
Catálogo nº1
 
A língua e a literatura portuguesas
A língua e a literatura portuguesasA língua e a literatura portuguesas
A língua e a literatura portuguesas
 
Gilberto freyre
Gilberto freyreGilberto freyre
Gilberto freyre
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Catálogo nº6
Catálogo nº6Catálogo nº6
Catálogo nº6
 
Catálogo nº3
Catálogo nº3Catálogo nº3
Catálogo nº3
 
Arte moderna brasileira
Arte moderna brasileiraArte moderna brasileira
Arte moderna brasileira
 
Guia de leitura - Jorge Luis Borges
Guia de leitura - Jorge Luis BorgesGuia de leitura - Jorge Luis Borges
Guia de leitura - Jorge Luis Borges
 
Portinari
PortinariPortinari
Portinari
 
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_yodd5jd4
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_yodd5jd4Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_yodd5jd4
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_yodd5jd4
 
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_2xrsgsc2
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_2xrsgsc2Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_2xrsgsc2
Www1 an-com-br 1999-dez_16_0ane-htm_2xrsgsc2
 
Portugueses ilustres ( artes e letras) do sec xx
Portugueses ilustres ( artes e letras) do sec xx Portugueses ilustres ( artes e letras) do sec xx
Portugueses ilustres ( artes e letras) do sec xx
 
Arthur Bispo do Rosário e seu universo representativo
Arthur Bispo do Rosário e seu universo representativoArthur Bispo do Rosário e seu universo representativo
Arthur Bispo do Rosário e seu universo representativo
 

Mais de + Aloisio Magalhães (20)

O&s 2008-336
O&s 2008-336O&s 2008-336
O&s 2008-336
 
16705
1670516705
16705
 
O&s 2006-79
O&s 2006-79O&s 2006-79
O&s 2006-79
 
000443618
000443618000443618
000443618
 
R0474 1
R0474 1R0474 1
R0474 1
 
Artigo 22
Artigo 22Artigo 22
Artigo 22
 
Olavo ramalho marques
Olavo ramalho marquesOlavo ramalho marques
Olavo ramalho marques
 
20100225110232
2010022511023220100225110232
20100225110232
 
Parte3
Parte3Parte3
Parte3
 
A05v19n1
A05v19n1A05v19n1
A05v19n1
 
000767622
000767622000767622
000767622
 
Pdf 26
Pdf 26Pdf 26
Pdf 26
 
08
0808
08
 
Index
IndexIndex
Index
 
000604503
000604503000604503
000604503
 
464observacaodalinguagemgraficapictoricanopapelmoedabrasileiro
464observacaodalinguagemgraficapictoricanopapelmoedabrasileiro464observacaodalinguagemgraficapictoricanopapelmoedabrasileiro
464observacaodalinguagemgraficapictoricanopapelmoedabrasileiro
 
2011 francisco raulcornejodesouza
2011 francisco raulcornejodesouza2011 francisco raulcornejodesouza
2011 francisco raulcornejodesouza
 
Artistas imp.cfm
Artistas imp.cfmArtistas imp.cfm
Artistas imp.cfm
 
Kikofarkas
KikofarkasKikofarkas
Kikofarkas
 
29tiposmoveisdemetaldeglutembergateosdiasatuais
29tiposmoveisdemetaldeglutembergateosdiasatuais29tiposmoveisdemetaldeglutembergateosdiasatuais
29tiposmoveisdemetaldeglutembergateosdiasatuais
 

3196041

  • 1. Projeto Editorial I Publishing Editor Isabella Perrotta Marta Mosley Texto I Text Isabella Perrotta Victor Burton Revisão de texto I Proofreading Fátima Fadel Versão em inglês I English Version Sérgio Moraes Projeto Gráfico I Design Isabella Perrotta Capa I Cover Giuseppe Arcimboldo, Il Bibliotecario, s.d. Impressão e Acabamento I Printing and Binding Pancrom Gráfica VIANA & MOSLEY Editora Av. Ataulfo de Paiva, 1.079/ sala 704 Leblon - Rio de Janeiro, CEP: 22440-031 Tel./Fax: (21) 2540-8571 Diretor Comercial: Richard Mosley Tel.: (21) 3204-9285 vmeditora@globo.com www.vmeditora.com.br
  • 2. Sumário Contents Introdução 13 Paixão por livros 17 O livro no Brasil 27 O estilo burtoniano 37 Introduction 55 A Passion for books 59 The book in Brazil 69 The Burtonian style 79 A autora | The author 117
  • 3.
  • 4.
  • 5. P. 4 – ilustração de Victor Burton e p. 5 – ilustração de Michel Burton, seu pai. p.4 – An illustration by Victor Burton, and p.5 – An illustration by Michel Burton, Victor’s father Ps. 6 e 7, 8 e 9, acima e ao lado: livro-catálogo da exposição A escrita da memória, Instituto Cultural Banco Santos, 2004. A capa em plástico translúcido, deixa transparecer foto da folha de rosto. pp. 6 and 7, 8 and 9, above and on the side: catalog of the exhibit A escrita da memória, Instituto Cultural Banco de Santos, 2004. The cover, in translucent plastic material, allows the reader to see the photograph on the front page.
  • 6. Uma de suas paixões – a gastronomia – em livro. Pães de França, DBA, 1996 One of his passions – gastronomy – in a book. Introdução Victor Burton é uma presença marcante. Grande, barba farta, (aparentemente) sério, vozeirão, eloqüente, altivo, vaidoso, sem modéstia... De repente se desmancha numa (muito!) sonora gargalhada. É veemente em suas declarações, especialmente quando se refere a gosto. Adora ou detesta com muita ênfase. Por isso, a primeira versão do texto deste livro – que partiu de uma conversa nossa gravada – era cheia de pontos de exclamação e entrecortada por um excesso de aspas para os fortes adjetivos que usou. Para dar mais continuidade à leitura, foi necessário suprimir algumas dessas marcas, mas espero que o estilo burtoniano de ser ainda tenha ficado aparente. Este livro propõe-se examinar a obra gráfica de Burton, mas cabe dizer que seu trabalho está diretamente ligado ao seu etilo de vida. Todo profissional interage a sua formação técnica com a vivência do seu dia-a-dia. No caso de um designer gráfico essa vivência vai formando o conjunto de elementos de seu repertório visual e sensível. Um designer também se faz pelos filmes que vê, os livros que lê, os museus que visita, os shows a que assiste (no caso de 12 V ICTOR B URTON V ICTOR B URTON 13
  • 7. Victor Burton, as óperas, mais especificamente). É essa história que faz o profissional identificar-se com os nichos de mercado: imagem institucional, catálogos de moda, disco de rock ou programas de música clássica. É claro que um designer está capacitado a fazer hoje um logotipo de uma metalúrgica e amanhã um livro infantil, mas no nicho com que se identifica, certamente vai desenvolver melhores produtos. Victor está sempre rodeado de trabalhos que envolvem seus temas favoritos: história, arte, música e gastronomia. E sempre traz as referências daquilo que gosta – principalmente história da arte – para o seu trabalho, qualquer que seja a temática. Conheci o trabalho de Victor Burton, recém-formada, na exposição de suas capas de livros na ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial), em 1983. Logo depois, uma amiga passou a trabalhar com ele e, vez ou outra, eu fazia uma colaboração. Esse contato mudou meu modo de ver o design gráfico, contaminado que era pela formação esdiana ainda bastante racionalista. Por um ano ocupei o lugar de sua assistente, deixado por minha amiga, até montar meu primeiro escritório, onde ainda fiz eventuais colaborações nos seus trabalhos. Passados alguns anos, formamos a Burton & Perrotta Criação Visual, já desfeita há mais de dez anos. A convite da Editora Viana & Mosley, foi O cartaz da exposição na Esdi, em 1983, é símbolo do seu trabalho na época, com um prazer conviver, de novo, tão de perto, colagens e vinhetas do século 19. Parigi, DBA, 2002: gastronomia combina com elegância. The poster advertising the 1983 Esdi Exhibit com o seu trabalho. is a symbol of his work at the time, with Parigi, DBA, 2002: gastronomy matches elegance. collages and vignetes of the 19th century. 14 V ICTOR B URTON
  • 8. Paixão por livros “Nós somos os países do livro feio. Do livro malfeito. Do livro incaracterístico”, afirmava em 1925 o antropólogo Gilberto Freire, referindo-se às produções brasileiras e portuguesas quando comparadas com o movimento de renovação do livro que acontecia, na época, em parte da Europa e Estados Unidos, e atingia a estética tipográfica e os meios de impressão e encadernação. Ainda no mesmo artigo do Diário de Pernambuco, Freire continua: “O Sr. Monteiro Lobato conseguiu animar de certa nota de graça o livro brasileiro. Mas ligeiríssima graça. Livro belo, não saiu nenhum de suas mãos ou de seus prelos.”1 Monteiro Lobato foi um editor modernizador do meio editorial brasileiro durante o período de 1919 a 1925, e o primeiro a romper com o modelo vigente de capas apenas tipográficas, produzindo capas ilustradas. Trabalhava em parceria com Natal Daiuto, um dos primeiros profissionais brasileiros a ser chamado de “produtor gráfico”. Uma margem distante, Record, 2006. 1. apud Cunha Lima, Edna Lúcia. “Santa Rosa: um designer a serviço da literatura” in O design brasileiro antes do design. Cosacnaify, 2005. V ICTOR B URTON 17
  • 9. É verdade que ainda hoje, ao abrirmos a grande maioria dos livros brasileiros Victor Burton é filho do francês Michel em brochura (com capa de papel encorpado, mas flexível), nos deparamos Burton, formado no fim da década de com textos sufocados por falta de margens e entrelinhas, e métodos de 1940, pela escola de Arts et Métiers de impressão ultrapassados que provocam borrões e tornam o desenho Genebra. Herdeira do movimento Arts and tipográfico impreciso. Mas, sem dúvida, o mercado editorial brasileiro Crafts, a escola fornecia habilidades evoluiu muito. A capa, principalmente, ganhou papel merecido, e grande artesanais e artísticas diversas, passando parte da nossa produção poderia estar nas prateleiras das boas livrarias pelas técnicas de belas-artes e as aplicadas, estrangeiras. como encadernação, vitral e desenho Passado o marco de criação de duas mil capas e duzentos projetos de miolo tipográfico. Michel veio morar no Rio de de livros, Victor Burton – unanimidade entre editores e designers – teve, sem Janeiro em 1950, e logo começou a dúvida, uma grande responsabilidade sobre esta evolução recente. Ainda trabalhar em diversos campos das artes bem jovem, quando iniciou a atividade de capista2 na Editora Nova visuais, preenchendo carências da cidade, Fronteira, em 1979, ele não poderia supor o lastro que firmava e os numa época em que a publicidade caminhos que abriria para seus pares. Criou uma marca para a editora, na brasileira apenas ensaiava seus primeiros contramão do que na época seria considerado “bom design”, tanto pelos passos. Fez capas para a revista Rio intelectuais como pelos formadores de opinião. Fez a concorrência se mexer Magazine, charges e ilustrações para a e teve que se mexer em função da concorrência. Hoje, meio blasé, diz que imprensa; foi diretor de arte da famosa largaria tudo o que faz para tocar um instrumento… Violino, de preferência. revista Senhor (na gestão de Odílo Costa Então, seria um artista, pois ele insiste em dizer que o trabalho do designer Filho), passou pelas agências McCann e não é arte. Ainda que adolescente tenha pensado – por pouco tempo – em Thompson e, numa época pré-design, ser artista plástico... chegou a produzir trabalhos institucionais, Na verdade, Victor nunca imaginou ser designer (no sentido latu). Tornou-se como o primeiro logotipo da empresa designer em função da sua paixão pelos livros e da conseqüente vontade de aérea Varig, incluindo o desenho de sua Capas de Michel Burton para a revista Senhor. O uso de ornamentos tipográficos fazer livros. Por essa razão, não freqüentou nenhuma escola de design. Mas tipografia e da rosa-dos-ventos. como linguagem estética aparecerá mais tarde, no trabalho de Victor. sua formação erudita impregnou o seu estilo. Victor nunca trabalhou com o pai, mas Michel Burton’s covers for Senhor magazine. The use of typographic Michel Burton – com seu background ornaments as an aesthetic language would cultural, seu senso estético e seu traço later appear in Victor’s works. 2. O termo capista foi usado durante muito tempo para designar os especialistas nesta área. Hoje em dia, com a atividade de design estabelecida, muito se critica sobre o uso deste termo, reducionista. Para Victor, não existem problemas quanto ao uso desta nomenclatura, pois para ele, o mercado legitima o termo. 18 V ICTOR B URTON V ICTOR B URTON 19
  • 10. ocasionais. E o fruto proibido virou fascinação. Victor chama a atenção para o fato de o bibliófilo francês não desejar tanto as primeiras edições, mas sim os livros encomendados. A “tara”, segundo ele, são edições de no máximo duzentos volumes, desenvolvidas artesanalmente por artistas plásticos e tipógrafos. Livros mais importantes pela sua beleza do que por seu conteúdo. “Verdadeiros objetos de fetiche estético.” Em outros trabalhos de Michel Burton, elementos que Victor herdaria: o sol e as vinhetas. Seguindo o desejo de fazer livros, Victor Elements in other Michel Burton works that Victor would inherit: the sun and the vignettes. desenvolveu suas três primeiras capas para a editora Il Formichiere, em Milão, em 1976. “O peculiar – foi, sem dúvida, a principal formação e referência do filho, que lettering era Letraset e eu não cogitava usar admirava o trabalho do pai, principalmente o desenho e a ilustração. Victor qualquer outra coisa que não fosse a minha recorda-se que o ambiente de casa era “totalmente contaminado por ele”, ilustração”. dos quadros na parede às prosaicas cenas do cotidiano do Rio de Janeiro Aos 19 anos, começou a trabalhar na Editora pintadas nas portas. Franco Maria Ricci, de Milão. “Ricci era o Em 1963, Michel Burton volta para a Europa – Milão – com a esposa Maria máximo do máximo! Ele fazia livros Helena e o filho Victor, brasileiros. A Europa seria a grande responsável pelas referências de história da arte que o futuro capista apreenderia; mas, aos fantásticos e eu queria fazer aqueles livros.” sete anos, o contraste entre as duas cidades foi difícil, e só quando Com esse editor – que também era diretor de adolescente passou a gostar de Milão – um importante centro de artes arte de sua própria editora – aprendeu a plásticas e design, com excelentes galerias de arte. técnica e a prática do design editorial. As Foi ainda em Milão que Victor passou a cultivar uma forte atração pelos referências estéticas de Ricci também livros, em função da biblioteca de seu pai – herança de uma biblioteca maior contribuíram para a formação do estilo Duas, das primeiras capas de Victor, para a editora Il Formichiere, Itália, anos 1970. que pertencera ao avô e ao bisavô, ambos bibliófilos. A biblioteca estava burtoniano. Segundo Victor, o estilo de Ricci – Two of the first covers designed by Victor for the Il Formichiere editorial house, quase sempre fechada. Enquanto criança, lhe eram permitidas visitas que parecia ser clássico – era, na verdade, Italy, in the 1970s. 20 V ICTOR B URTON V ICTOR B URTON 21
  • 11. Primeiras capas de Victor Burton um livro levava aproximadamente três anos para ser finalizado. sob a direção de arte de Franco Maria Ricci, com ilustrações suas. “Franco me fascinava por ser totalmente diferente de tudo que se fazia na First covers designed by Victor Burton under the art direction of Itália naquele momento”, diz Victor, lembrando que existia uma ligação Franco Maria Ricci, with Victor’s illustrations. direta entre a estética modernista e o pensamento da esquerda politizada. Apesar de ser apolítico, Ricci era contra o movimento que pregava um estilo totalmente revolucionário internacional, sem pátria. Ao contrário, tentava ressuscitar na tipografia e no para uma época em que ornamento a geografia e a história. os modelos estéticos italianos eram o modernismo, o As referências clássicas de diagramação, racionalismo do designer como o Manual Tipográfico de Bodoni (no detalhe), foram incorporadas por Victor. Bruno Munari e a The classical diagrammatic references, such as Bodoni’s Typographic Manual (in detail), tipografia Helvética (reta e sem serifa). Na Franco Maria Ricci, a tipografia were assimilated by Victor. era muito importante, e o editor, fortemente ligado à tradição tipográfica européia. Por isso, publicou o fac-símile do famoso Manual Tipográfico de Bodoni. O tipo Bodoni (1788) era a “letra da moda”, muito utilizada nos cartazes italianos dos anos 1970, pois sua construção geométrica (serifas rígidas e grande contraste de espessuras) se aliava muito bem a uma leitura modernista. Mas Ricci a usava como padrão para a mancha de texto na editora, o que não era um modelo modernista, que preferia os textos sem serifas. A fotocomposição de texto dos livros da FMR era encomendada às empresas especializadas, mas todas as titulagens eram compostas na editora, com as matrizes que o próprio Franco tinha fotografado no Museu Bodoni, de Parma. Poder gerar a fotoletra permitia bastante controle aos espacejamentos entre letras e ligaturas (união de duas letras num mesmo caracter). Uma prova de uma folha de rosto era presa na parede e observada a dois metros de distância, inúmeras vezes, até ser considerada resolvida. Então, 22 V ICTOR B URTON
  • 12. No miolo, o fio duplo de Bodoni, e um Na capa, uma rebuscada frisa é capaz de se tornar pequeno adorno que faz muita diferença. leve na composição que mistura fotos, vinheta e Na capa, a moldura trabalhada. ilustração. No miolo, a mancha de texto é amarrada Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX, por outra frisa. Matalivros, 2000. A Missão francesa, Sextante, 2003. Inside the book, Bodoni’s double thread, and a A recherché frieze on the cover appears light in this small ornament, which makes a striking composition, which mingles photos, vignettes, and difference. On the cover, an ornated border. an illustration. Inside, the text blur is tied by Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX, another frieze. A missão francesa, Sextante, 2003. Metalivros, 2000.