Este artigo descreve a experiência de dois manobristas, Heberth e Kelberth, que trabalham em uma churrascaria em Belo Horizonte e têm a oportunidade de dirigir carros de luxo dos clientes. Eles falam com entusiasmo sobre modelos como Mercedes, BMW e Ferrari. No entanto, ao final do trabalho voltam para casa de ônibus, sonhando em um dia possuir seu próprio veículo.
Manobristas sonham dirigindo carros de luxo enquanto trabalham em churrascaria
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DESIGUALDADE
Manobristas de pontos badalados da noite belo-horizontina contam as histórias e
enumeram os possantes que guiam enquanto trabalham e sonham com carro de luxo
Por uma vaga na vidaDANIEL CAMARGOS
FOTOS JORGE GONTIJO / EM
Heberth e Kelberth têm rima suficiente para pisar
no palco da churrascaria em que trabalham, esmerilar
o gogó e fazer as vezes das duplas sertanejas que emba-
lam as noites de quinta-feira. Mas a sincronia da dupla
se restringe ao lado de fora do Porcão, na Avenida Raja
Gabáglia, Luxemburgo. Heberth Glaysson dá o tom
principal e coordena os manobristas, que se apresen-
tam solícitos, abrem as portas dos carros e guiam os veí-
culos dos glutões até as vagas no estacionamento. Kel-
berth Armstrong é um entre os vários manobristas que
aceleram os passos – e os carros – para cumprir os dois
minutos e meio considerados suficientes para comple-
tar o serviço.
“Existe esse tempo que é ideal, mas é preciso fazer
o serviço com excelência”, pondera Heberth, com a ex-
periência de quase três anos na função. Com 26 anos,
ele sempre foi um apaixonado por carros, tão apaixo-
nado que, aos 16, faltando dois anos para poder dirigir,
comprou uma VW Brasília para dar as primeiras vol-
tas. Depois trocou-a por um Chevrolet Monza e mais
tarde por um Fiat Tipo. Gostou tanto que hoje está no
quarto Tipo.
Vestir a camisa social vermelha, com calça e sapato
sociais, além da gravata, é o traje para entrar em um
conto de fadas em que Brasília, Monza e Tipo não pas-
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO
sam de distantes modelos fora de linha. Os olhos de He-
berth brilham quando recita os bólidos que dirige com
freqüência durante o serviço.
Em coro com Kelberth a dupla lista modelos das ale-
mãs Mercedes-Benz e Audi: “Tem aquele Q7 que apare-
ceu aqui outro dia”, ressalta Heberth. Na voz de Kelber-
th, os BMW são chamadas com intimidade, apenas de Kelberth e Heberth atendem clientes no Porcão, no bairro Luxemburgo, e ficam satisfeitos com a oportunidade de dirigir diferentes máquinas
“BM”: “Vem muito X5 aqui. Acho que é o que eu mais
gosto”, diz com um pouco de dúvida diante da infinida-
de de modelos. Sobre os X5 ele revela que a maioria é
blindada e diz que é fácil descobrir pelo peso da porta.
A inevitável pergunta sobre as míticas Ferrari traz à
tona a frustração de Kelberth e o orgulho de Heberth.
“Só vi chegar três ou quatro aqui até hoje, mas só duas
vezes que os donos deixaram manobrar”, conta Heber-
th, que está na casa desde a inauguração e foi um dos
manobristas que guiou a máquina italiana, sonho de 10
Iria ficar
entre 10 fanáticos por carro. “Se chegar uma aqui dá até
briga para estacionar”, diz em tom de brincadeira He-
até bonito
berth, há 10 meses no emprego e virgem quando o as-
sunto é Ferrari.
dirigindo uma
Ao posar para foto em uma “BM” 320i, Kelberth Ar-
mstrong faz jus ao sobrenome que homenageia o as-
BMW (320i)
tronauta americano e se imagina chegando desfilando
com o carro pelo Bairro São Paulo, na região Nordeste,
dessas lá no Só vi chegar três ou quatro
onde mora. “Iria ficar até bonito”, diz. Porém, no fim da
noite o sonho termina, a roupa social entra na bolsa e o
bairro São Paulo Ferrari aqui até hoje, mas
Armstorng belo-horizontino aterrissa na realidade do
ponto de ônibus e da espera por algum ônibus sem o
só duas vezes que os donos
charme das carruagens e que se assemelha às grandes,
lotadas e sacolejantes abóboras onde ele pode sonhar
deixaram manobrar
com a compra de um carro Palio. ■ Kelberth Armstrong ■ Heberth Glaysson
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