A matéria da revista Veja apoia as medidas controversas da prefeitura de São Paulo no centro da cidade, como remover moradores pobres e ambulantes. Ela também ataca pessoalmente o padre Júlio Lancelotti, defensor dos direitos humanos. Isso gerou uma campanha pedindo o cancelamento de assinaturas da revista por usar linguagem agressiva e atacar indivíduos.
1. CAMPANHA PELO CANCELAMENTO
DA ASSINATURA DA REVISTA VEJA
Matéria apoiando medidas da prefeitura no centro de São Paulo e criticando o padre
Júlio Lancelotti gera movimento por cancelamento de assinaturas
No dia 11 de janeiro, a revista Veja publicou ples". Veja aponta como problemas do centro, desapropriadas para fins privados, os mora-
matéria assinada por Camila Antunes intitu- não apenas o crime e o tráfico de drogas, mas dores não receberão indenização até que a
lada "A solução é derrubar" na qual apóia as também a ação dos vendedores ambulantes prefeitura consiga vender o terreno para as
recentes iniciativas da prefeitura de São Paulo (descritos como" comércio de produtos pira- empresas. O sub-prefeito da região central,
no centro da cidade como a expulsão de am- tas") e, sobretudo, a presença de pessoas po- Andrea Matarazzo, não se preocupa com o
bulantes, a abertura dos calçadões ao tráfego bres. Para Veja, o centro está degradado, porque destino dessas pessoas e declarou a Veja que
de veículos, a desapropriação de moradores a despeito de tentativas de "recuperação" (como os prédios onde moram "são apenas um antro
pobres e a construção de rampas antimendi- a reforma da Estação da Luz, da Pinacoteca e da que atrapalha o funcionamento da cidade." A
go. A matéria também ataca pessoalmente o Sala São Paulo), ele "continua sendo um reduto reportagem termina com um violento ataque
padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo da de pobreza". A própria instalação de 400 famílias ao padre Julio Lancelotti que é chamado de
Rua que tem criticado a prefeitura municipal e sem-teto em prédios abandonados promovida "demagogo" e acusado de querer que a popu-
defendido a população pobre que vive no cen- pela última administração é vista não como uma lação de rua permaneça na atual condição para
tro da cidade. ação social, mas como um impedimento para a que possa manipulá-la politicamente.
recuperação da região.
A ação da prefeitura no centro tem sido alvo de O ataque ao padre Julio Lancelotti, reconhe-
muita controvérsia e tem sofrido a oposição O artigo também louva a iniciativa da pre- cido em toda a cidade pelo seu trabalho social
sistemática de urbanistas, ONGs e movimen- feitura de desapropriar imóveis da região da com os meninos de rua e a identificação dos
tos sociais. A matéria seria apenas mais um Cracolândia sem pagar imediatamente in- moradores pobres do centro com assaltantes,
elemento na polêmica se não tivesse utilizado denização. As desapropriações são um instru- bandidos e traficantes deu origem a uma cam-
uma linguagem manipuladora e agressiva e mento pelo qual o poder público reivindica o panha pedindo o cancelamento de assinaturas
atacado pessoalmente um dos principais de- uso de propriedades privadas para uma finali- da revista Veja. A campanha foi inspirada numa
fensores dos direitos humanos da cidade. dade pública, como a construção do metrô. campanha semelhante contra o Jornal Zero
Mas as desapropriações da Cracolândia be- Hora que foi acusado de manipular os dados
A matéria de Veja diz que o centro está degra- neficiarão apenas a iniciativa privada que está nas eleições para governador no Rio Grande
dado e como o título da matéria indica, a única sendo convidada a se estabelecer no local com do Sul e levou mais de 20 mil leitores a can-
solução para ele é "a demolição pura e sim- benefícios fiscais. Além de terem suas casas celar assinaturas.
Recentemente, diversas partes da cidade
CMI na rua número 23 | fevereiro de 2006
de São Paulo apareceram grafitadas com os
slogans "Veja Mente" e "Desassine Veja".