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Natureza credora e devedora
Em contabilidade, evita-se dizer que uma conta está "positiva" ou "negativa", mas
eventualmente é necessário fazê-lo porque o saldo de uma conta precisa ser traduzido
em termos materiais, ou precisa ser explicado a um leigo.
Ativo e despesa têm natureza devedora, ou seja, os saldos das respectivas contas são
considerados "positivos" quando são devedores. As contas tornam-se mais positivas
quando recebem aplicação (e portanto débito) de recursos.
Passivo, receita e capital têm natureza credora, e a explicação é simétrica. Quando uma
conta dessas serve como origem (crédito) de recursos, ela se torna mais positiva. Se for
uma conta passiva, espera-se que um dia ela receba um lançamento a débito para ser
zerada — o pagamento da dívida.
A coisa começa realmente a complicar quando uma conta possui saldo negativo.
Normalmente, um saldo negativo é erro de lançamento ou erro de classificação.
Algumas dicas a respeito:
 Ativo negativo é na verdade um passivo, por exemplo uma conta-corrente no
"vermelho".
 Uma conta tradicionalmente ativa-negativa é a "Provisão para Devedores
Duvidosos": não é uma dívida, mas sim um redutor do ativo Contas a Receber.
 Passivo negativo é na verdade um ativo, por exemplo a sua conta-corrente
"vermelha" lá na contabilidade do banco.
 Um adiantamento a fornecedor pode criar um saldo momentaneamente devedor
na respectiva conta passiva, pois é um ativo disfarçado (o fornecedor está
devendo a mercadoria).
 Da mesma forma, um recebimento adiantado de cliente torna negativa a
respectiva conta no Contas a Receber, pois é um passivo disfarçado (você deve o
produto o serviço ao cliente).
 Receita negativa é despesa. Alguns contadores posicionam determinadas
despesas no grupo das receitas por serem "deduções da receita bruta", uma parte
da receita com a qual não se pode contar. Exemplos: IRRF sobre serviços,
COFINS, PIS (quando cumulativos).
 Despesa negativa definitivamente não faz sentido, poderia ocorrer talvez em um
lançamento de estorno, e estornos são coisas meio imperdoáveis numa
contabilidade informatizada.
 Capital negativo significa que você ou sua empresa está em sérios apuros, pois
deve mais do que possui. Infelizmente, isso acontece mesmo e com alarmante
freqüência, geralmente com instituições financeiras. Um banco pode emprestar
("alavancar") até 20 vezes o capital no Brasil (países desenvolvidos permitem
alavancagens ainda maiores) e basta um punhado de empréstimos azarados para
negativar o capital.
Fechamento de balanço
Como já foi dito, no balanço fechado o ativo é igual ao passivo. Porém, qualquer
lançamento que envolva contas de resultado — receita ou despesa — destrói esse
equilíbrio. A receita "faz surgir" dinheiro do nada (se a empresa dá lucro ;) e a despesa é
um "buraco negro" de recursos.
O fechamento de balanço é o restabelecimento do equilíbrio original. Todas as receitas e
despesas são transferidas para uma conta de capital, denominada "Lucros ou prejuízos
acumulados". O resultado líquido é considerado dali por diante como parte integrante do
capital.
Se esse conceito é completamente novo para você, aconselho-o a fazer um "teste de
mesa", com uma entidade fictícia. Crie-a com um capital e/ou dívidas, faça 2 ou 3
lançamentos de receita e despesa e veja como o fechamento restabelece o equilíbrio do
balanço patrimonial.
E como se transfere os saldos das contas de resultado para essa conta de capital? Em
alguns sistemas informatizados, isso acontece "milagrosamente" — no dia 31/Dez as
contas têm saldo, no dia 01/Jan elas aparecem zeradas, e o saldo de lucros acumulados
foi alterado.
Em outros sistemas, deve ser executado um procedimento que cria os lançamentos
explícitos de zeramento. Tais lançamentos são "estéreis", não representam eventos
monetários no mundo real, e devem ser filtrados no software de modo a não distorcer
alguns relatórios.
Plano de contas
Plano de contas é, grosso modo, a lista de contas que serão objeto de lançamentos.
Em tese, apenas 5 contas são necessárias: ativo, passivo, capital, receita e despesa. Este
é um plano de contas absolutamente correto, que comporta qualquer lançamento
possível. Mas os relatórios gerados a partir deste plano teriam uma qualidade muito
baixa.
Por outro lado, pode-se exagerar no detalhamento de contas. Esse é mesmo o erro mais
freqüente. Se eu quiser controlar quanto café é consumido em cada setor de uma
empresa de porte mundial, basta criar uma conta para cada setor, mas aí seria preciso
criar os mecanismos burocráticos para medir o consumo e gerar os lançamentos
contábeis. Perfeitamente possível, perfeitamente válido, e totalmente inútil.
Cabe a você determinar a granularidade das contas — use o bom senso. Apenas evite
criar as famigeradas contas "etcetera", como "Despesas diversas", "Receitas diversas"
ou "Contas a receber diversas". Tais contas desestimulam a manutenção do plano de
contas. Depois de algum tempo, 90% da circulação de dinheiro terá virado "diversa".
Um bom plano de contas não tem esse tipo de coisa.
O plano de contas contém contas analíticas e sintéticas. As contas analíticas são as
contas reais, que podem receber lançamentos. As contas sintéticas são simplesmente a
soma de um conjunto de contas analíticas. Os valores sintéticos são úteis para análise
gerencial dos relatórios contábeis.
Pode haver contas sintéticas que contenham outras contas sintéticas. O plano de contas
é uma estrutura hierárquica, com pais, filhos, netos etc. formada pelos diversos níveis de
contas sintéticas. O último nível é composto pelas contas analíticas, que efetivamente
contém valores e fatos contábeis.
Para deixar clara a relação de paternidade entre as contas, é tradição usar um código
estruturado para cada conta contábil. Apenas olhando-se para o código, é possível saber
imediatamente se a conta é analítica ou sintética, e quem é sua conta-pai, conta-avó etc.
Exemplo com código estruturado de 4 níveis:
 1. ATIVO
o 1.1. CIRCULANTE
 1.1.1. DISPONIBILIDADES
 1.1.1.01. Dinheiro
 1.1.1.02. Conta corrente X
 1.1.1.03. Conta poupança Y
 1.1.2. CONTAS A RECEBER
 1.1.3. ESTOQUES
o 1.2. PERMANENTE
o 1.3. DIFERIDO
Convém não exagerar no número de níveis do plano, para não torná-lo excessivamente
enrolado. Cinco níveis são suficientes para balanços de empresas grandes. Quatro níveis
devem ser suficientes para uma contabilidade gerencial informal.
A disposição das contas no plano rege o formato dos relatórios contábeis, notoriamente
o balanço. Os balanços publicados costumam trazer apenas contas sintéticas de nível
muito alto, por brevidade. As contas ativas são ordenadas por liquidez. As contas
passivas, por prazo de exigibilidade, com os prazos mais curtos figurando mais ao topo.
As receitas são ordenadas pela relação com o objeto social (se a empresa fabrica latas de
alumínio, as vendas de latas devem figurar mais ao topo, a venda de sucata mais abaixo,
e a venda de um terreno lá embaixo). As despesas são ordenadas pela sua necessidade:
primeiro custos variáveis, depois custos fixos, depois despesas necessárias, e por último
as liberalidades.
Importante lembrar que despesas que são meras liberalidades não são consideradas pela
Receita Federal no cálculo do Imposto de Renda da empresa, já que podem ser
distribuição disfarçada de lucros. (Lembrando que no Brasil a pessoa física não paga
imposto ao receber lucro distribuído de empresa, enquanto nos EUA a tributação tende a
se concentrar na pessoa física.)
Para iniciar a criação de seu plano de contas, uma boa pedida é pedir um plano pronto a
um contador, ou dar uma olhada num balanço publicado. Se você nunca sequer viu um
balanço, é hora de comprar uma ou duas edições de um jornal como o Valor
Econômico, que freqüentemente traz balanços de grandes empresas.
Histórico padrão
Contabilidade é uma ciência bastante interessante; o que estraga são os contadores que
tornam tudo muito chato e repetitivo. Eis uma típica descrição de lançamento feita por
um contador profissional:
PGTO N/DATA C/ CHEQUE A VISTA CRUZADO PARA COMPRA DE CAFÉ MELITTA PCT.
DE 500GRMS.
Ou seja,ele repetiutudoque adata do lançamentoe as contasenvolvidasjátinhamtornado
óbvio.Bastariadizer"500g CAFÉ".Qual o sentidoemdizerque algofoi "nadata"? Se
aconteceuontem,olançamentoteriaadata de ontem, certo?
Para facilitar a vida dos contadores prolixos, criou-se o histórico padrão, que é um pré-
cadastro de descrições usadas muito freqüentemente. Ao final do histórico padrão,
pode-se complementar com uma descrição livre. No exemplo acima, um bom candidato
a histórico padrão seria "PGTO BLA BLA PARA COMPRA DE", pois é extremamente
comum a compra de algo com cheque.
Assim, tanto o contador prolixo quanto o estressado digitador ficam felizes.
Pessoalmente, acho que, numa contabilidade pequena, com um bom plano de contas, o
histórico padrão é desnecessário. Mas 99% dos contadores discordarão.
Centro de custo
O plano de contas é unidimensional. Muitas vezes, é necessário fazer o controle de
custos em 2 dimensões. Por exemplo, temos contas como "gastos com xerox" e "gastos
com cafeteria". Aí temos "setor A", "setor B" e "setor C". A solução burra seria criar
seis contas (2 x 3), o que não é viável numa empresa com 1000 tipos de despesa e 200
setores (pois redundaria em 200 mil contas).
Outro problema é escolher quem vem primeiro na hierarquia do plano de contas: tipo de
despesa ou setor? Se escolhermos o setor como conta agregadora, não teríamos como
saber facilmente o total geral das despesas com café, e vice-versa.
Para evitar estes problemas, os setores devem ser centros de custo. A tabela de centros
de custo é uma espécie de plano de contas paralelo, mais informal e geralmente não
hierárquico. Além das contas normais, cada lançamento contábil pode ser atrelado a um
centro de custo. Nem todo lançamento terá um centro de custo; em geral, apenas as
despesas normais de custeio (daí o nome).
Dessa forma, voltando ao nosso exemplo, haveria uma única conta contábil para
despesas com cafeteria. Se esta rubrica aparecer com valor elevado, usa-se então o
centro de custo para descobrir que setor está bebendo café demais. Qualquer software
contábil também permite emitir relatórios com o total da despesa por centro de custo.
Relatórios contábeis
Diário
O diário é o mais simples dos relatórios. Lista os lançamentos em ordem cronológica.
Gasta bastante papel, e seu valor gerencial é quase nulo. Dificilmente você vai
manuseá-lo, principalmente se estiver usando contabilidade informatizada (ou seja, todo
mundo).
Porém, é o único relatorio suficiente para recriação de todo o histórico contábil a partir
de mídia impressa. Por isso, sua impressão é obrigatória em contabilidade fiscal. Sim,
isso acaba gerando centenas de quilos em livros-diário.
(Talvez hoje em dia o diário já seja aceito num formato eletrônico, estou realmente por
fora.)
Razão
Razão é a listagem de lançamentos, em ordem cronológica, mas de apenas uma conta
em particular. Se as descrições dos lançamentos forem suficientemente claras, o razão já
tem alguma utilidade gerencial, pois mostra o que aconteceu com aquela conta durante o
período.
O razão também lista a evolução do saldo da conta (importante para contas
patrimoniais), coisa que o diário não faz. Em contabilidade fiscal, sua impressão
também é obrigatória, e gasta ainda mais papel que o diário. A propósito, não existe
razão de contas sintéticas (eu nunca vi, ao menos).
Balanço
O balanço é o rei dos relatórios contábeis, pois mostra todas as movimentações
financeiras da entidade. É o principal relatório publicado pelas empresas de capital
aberto. (IMHO empresas de capital fechado acima de certo tamanho também deveriam
ser obrigadas a publicá-lo, existe até projeto de lei nesse sentido, mas isso é outra
história.)
Cada linha do balanço lista uma conta, com seu saldo inicial, movimentos a débito,
movimentos a crédito, e saldo final. Apenas as contas sem saldo e sem qualquer
movimentação ficarão de fora, pois são completamente desinteressantes no período.
As contas sintéticas aparecem no balanço, com os valores acumulados das suas contas-
filhas. Em balanços publicados, aparecem apenas as contas sintéticas de um certo nível
para cima, por questões de brevidade.
O balanço emitido fora da época de fechamento é denominado "balancete de
verificação". Ele não "fecha", ou seja, ativo é diferente de passivo. Já o balanço
patrimonial "fecha" pois é emitido após o zeramento das contas de resultado. Nos
balancos publicados, figuram apenas as contas patrimoniais. As contas de resultado são
deixadas para o DRE.
Existe uma área altamente especializada da contabilidade, a análise de balanços, que
destina-se a metrificar a saúde financeira com base no balanço público. Sobre ela, há
livros inteiros escritos, não pretendo entrar em detalhes aqui. Apenas vou pedir que
você, ao dar uma olhada num balanço de jornal, preste atenção no seguinte:
 Proporçãodos estoquesemrelaçãoaototal do ativo(muitoestoque =girolentoou
produçãoexcessiva);
 Proporçãodo ativodiferidoemrelaçãoaototal do ativo(fraude);
 Diferençaentre ossaldosinicial e final docontas areceber(umaumentoexagerado
significaalongamentoexcessivodosprazosconcedidos);
 Se o estoque estivermuitoalto,vejaaquantasanda o Contasa Pagar (se muitoalto
também,a empresacomprademaissópara manteremestoque,e issogeralmenteé
estúpido).
Demonstração de Resultados (DRE)
O DRE demonstra a movimentação das contas de resultado. A rigor, um balanço pode
fazer o mesmo, mas o DRE o faz num formato mais enxuto e apropriado.
Os DREs publicados trazem apenas contas sintéticas de certo nível para cima, por
brevidade. Também rearranjam as contas para trazer as despesas numa ordem mais
propria à análise. Exemplo:
(1) RECEITA BRUTA
(2) DEDUÇÕES DA RECEITA BRUTA (e.g. impostos sobre faturamento)
(3) RECEITA LÍQUIDA = (1-2)
(4) CUSTOS VARIÁVEIS
(5) MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO = (3-4)
(6) CUSTOS FIXOS
(7) LUCRO BRUTO = (5-6)
(8) DESPESAS
(9) LUCRO LÍQUIDO = (7-8)
Em particular no caso de haver prejuízo, o formato acima é útil porque vê-se
rapidamente onde a empresa está gastando demais.
Os lançamentos "estéreis", de fechamento de balanço, não podem ser levados em conta.
Do contrário, todas as contas apareceriam com valor zero.
Demonstrativo de origens e aplicações de recursos (DOAR)
Num balanço, pode ser difícil enxergar "de onde veio" e "para onde foi" o dinheiro. O
ativo cresceu por faturamento ou por contração de dívidas? O ativo encolheu por
excesso de despesa ou por devolução de capital aos sócios?
É possível responder a essas perguntas apenas com o balanço e o DRE em mãos, mas
seria preciso calcular a movimentação líquida de cada conta. Se a conta de Contas a
Receber teve 2500 a débito e 2600 a crédito, sua movimentação líquida foi 100 a
crédito, e foi uma origem líquida de recursos.
O demonstrativo de origens e aplicações faz exatamente isso - lista as movimentações
líquidas das contas. Geralmente o faz em ordem crescente de valor. Naturalmente, as
contas sem movimento no período não figuram no DOAR. Os lançamentos de
fechamento de balanço também têm de ficar de fora.
Num plano de contas suficientemente detalhado, um DOAR de contas analíticas é inútil,
não só porque fica incrivelmente longo, mas principalmente porque dilui muito o peso
das contas individuais. Não me interessa se gastei 10 reais em canetas BIC de cor rosa,
mas certamente me interessa se gastei um milhão em material de expediente.
Dessa forma, um DOAR bem elaborado lista apenas contas sintéticas de determinado
nível. Assim, o peso de diversas contas analíticas pequenas, porém numerosas, é
multiplicado no relatório.
Nesta parte final, vamos elaborar um exemplo simples, porém completo, de escrituração
contábil, da abertura da empresa até o fechamento dos relatórios. Este exemplo será
paulatinamente melhorado (mande sugestões!).
Mesmo em se tratando de um exemplo com meia dúzia de lançamentos, já fica
complicado fechar balanço manualmente. Para este fim, elaborei uma planilha do
Google Docs que você pode abrir para acompanhar o resto do artigo. Lembre-se que
você pode baixar uma planilha do Google no formato Excel quando quiser; também
disponibilizo um link para baixar a versão Excel para o caso do Google Docs não
funcionar para você.
A história
Nossacobaiaserá uma fábricade latinhasde alumínio,financiadacomcapital de doissócios
(R$ 40.000 e R$ 25.000) e tambémcom empréstimobancário(R$10.000), jurosde 12% ao
ano.A empresainvestiuimediatamente13.000 reaisemmaquinário,cujataxade depreciação
é de 8% ao ano, e pagará parte do empréstimobancárionofinal doano.
A empresa compra 1 tonelada de alumínio em lingotes (R$ 25,73/kg), bem mais que o
necessário para operar por um ano, por medo de futuras altas. Durante este ano contábil,
ela transforma 400kg de alumínio em 30.000 latinhas. Os custos fabris, além da
matéria-prima, são: salários (8.000 - custo fixo), eletricidade (7.000 - custo variável).
A empresa conseguiu vender 20.000 latinhas por 4 reais cada, metade à vista e metade a
prazo para receber no próximo ano. As despesas foram: material de expediente (R$
3.500) e um seguro do edifício que foi pago em uma parcela à vista (R$ 2.500) mas que
vale por quatro anos.
A empresa paga 25% de ICMS à vista sobre a venda, 600 reais pelo alvará da Prefeitura,
e retém 25% de Imposto de Renda sobre os lucros, pois o pagamento do IR ocorre
apenas no ano seguinte.
A empresa definiu a política de distribuir 55% dos lucros aos sócios, além de pagar
juros sobre capital próprio de 9% ao ano, de modo que o lucro distribuído seja
realmente um extra sobre o que os sócios obteriam num fundo de investimento.
Plano de contas
1 A T I V O
1.1 Circulante
1.1.1 Conta bancária
1.1.2 Contas a receber
1.1.3 Estoque de matéria-prima
1.1.4 Estoque de produto acabado
1.2 Permanente
1.2.1 Máquinas e equipamentos
1.3 Diferido
1.3.1 Seguros
2. P A S S I V O
2.1 Circulante
2.1.1 Dívida bancária
2.1.2 Impostos a pagar
2.2 Capital
2.2.1 Investimento sócio A
2.2.2 Investimento sócio B
2.2.3 Lucros acumulados
3. R E C E I T A S
3.1 Receitas correntes
3.1.1 Venda de produto acabado
3.2 (-) Deduções da receita bruta
3.2.1 ICMS
4. D E S P E S A S
4.1 Custos
4.1.1 Custos fixos
4.1.2 Custos variáveis
4.2 Despesas correntes
4.2.1 Administrativas
4.2.2 Seguros
4.2.3 Juros
4.2.4 Impostos
4.2.5 Depreciação
Para acompanharos lançamentos(que sótêmo códigodascontas, nãoos nomes) você pode
imprimiroplanode contas acima,ou então abrira planilhade exemplo.
Diário até o início das atividades
O formatodos lançamentosé oseguinte:
Descrição
D Conta a débito Valor
C Conta a crédito Valor
Então vamoslá:
Investimento sócio A
D 1.1.1 40.000
C 2.2.1 40.000
Investimento sócio B
D 1.1.1 25.000
C 2.2.2 25.000
Empréstimo bancário
D 1.1.1 10.000
C 2.1.1 10.000
Compra maquinário
D 1.2.1 13.000
C 1.1.1 13.000
De acordocom a planilhade exemplo,aba"Lanctosabertura",o balançoda empresaaté aqui
é o seguinte:
Diário durante as atividades
Compra 1 tonelada de matéria-prima (alumínio)
D 1.1.3 25.730
C 1.1.1 25.730
Uso de 400kg de matéria-prima em 30.000 latas
D 1.1.4 10.292
C 1.1.3 10.292
Pagamento salários operários
D 1.1.4 8.000
C 1.1.1 8.000
Pagamento conta de energia
D 1.1.4 7.000
C 1.1.1 7.000
Note comotodos oscustos acimaforam parar no estoque de produtoacabado(1.1.4),
nenhumfoi contabilizadocomodespesaainda.Até aqui obalançoaindafechasemprecisarde
encerramentoporque nenhumacontade resultadofoi movimentada.Istoacontece agora:
Venda de 10.000 latinhas à vista, 4 reais cada
D 1.1.1 40.000
C 3.1.1 40.000
Venda de 10.000 latinhas a prazo, 4 reais cada
D 1.1.2 40.000
C 3.1.1 40.000
Provisão de 25% das vendas brutas para pgto de ICMS
D 3.2.1 20.000
C 2.1.2 20.000
Pagamento do ICMS
D 2.1.2 20.000
C 1.1.1 20.000
Apropriação dos custos ref. latas vendidas
D 4.1.1 5.333
D 4.1.2 11.528
C 1.1.4 16.861
Note que,para chegaraos valoresdolançamentoacima,euprecisei fazeruma mini-
contabilidadede custosemparalelo,parasaberquantoexatamente custacadalatinha
vendida(matéria-primamaiseletricidade maissalário),e quantodessecustounitárioé fixoou
variável.
Material de expediente
D 4.2.1 3.500
C 1.1.1 3.500
Contratação seguro imóvel p/ 4 anos
D 1.3.1 2.500
C 1.1.1 2.500
Apropriação parcela do seguro p/ este ano
D 4.2.2 625
C 1.3.1 625
Alvará da Prefeitura
D 4.2.4 600
C 1.1.1 600
Depreciação anual dos equipamentos
D 4.2.5 1.040
C 1.2.1 1.040
Talveza depreciaçãode parque fabril deveriaserconsideradaparte docusto,e não comouma
despesa,masválá.
Apropriação juros empréstimo bancário
D 4.2.3 1.200
C 2.1.1 1.200
Pagamento parcial dívida bancária
D 2.1.1 4.500
C 1.1.1 4.500
Juros sobre capital próprio sócio A
D 4.2.3 3.600
C 1.1.1 3.600
Juros sobre capital próprio sócio B
D 4.2.3 2.250
C 1.1.1 2.250
Neste pontodevemoslevantarobalancete de verificação.
Balancete de verificação
Este balancete é levantadoparaobtero saldodas contas,inclusive olucroantesdosimpostos,
o que permitiráconfeccionaroslançamentosde fechamento.De acordocom a planilhade
exemplo,aba"Lanctosmovimento",temososeguinte balancete:
Figura2: Balancete de verificação
Pelo balancete, temos um lucro bruto de 30.324 (receitas menos despesas). Deduzindo
os 25% de imposto de renda (7.581), sobram 22743, dos quais 55% serão distribuídos
aos sócios proporcionalmente à participação no capital.
Diário dos lançamentos de fechamento
Provisão para Imposto de Renda
D 4.2.4 7.581
C 2.1.2 7.581
Fechamento do balanço
C 2.2.3 22.743
D 3.1.1 80.000
C 3.2.1 20.000
C 4.1.1 5.333
C 4.1.2 11.528
C 4.2.1 3.500
C 4.2.2 625
C 4.2.3 7.050
C 4.2.4 8.181
C 4.2.5 1.040
Neste pontoobalançojá estáfechado,faltaapenasdistribuiroslucros,oque não é despesae
não alteramaiso resultado,apenasreduzoslucrosacumulados:
Distribuição de lucros para os sócios
D 2.2.3 12.509
C 1.1.1 7.697 (sócio A)
C 1.1.1 4.812 (sócio B)
Balancete de fechamento
Apósesteslançamentosobalançoestáfechado.De acordocom a aba "lanctosfechamento"
da planilha:
Figura3: Balancete de fechamento
Mas este balancete lista apenas os débitos e créditos de fechamento, que coloquei numa
planilha separada para facilitar minha vida. Os saldos finais correspondem ao balanço
final, mas as demais colunas não.
Balanço
O seguinte balanço (aba Balanço) é a coisa real: consolida movimento e fechamento,
cobrindo todo o período:
Figura4: Balançofinal
Demonstrativo de resultados
O demonstrativode resultadosé elaboradocombase nobalancete,imediatamente antesdo
fechamento,comalgunstoquesgerenciais.
Receita bruta 80.000
Deduções da receita bruta (20.000)
Receita líquida 60.000
Custos (16.861)
Dos quais: fixos (5.333)
Dos quais: variáveis (11.528)
Despesas pré-EBIDTA (4.125)
EBIDTA 39.014
Despesas pós-EBIDTA (8.690)
Lucro bruto 30.324
IR 25% (7.581)
Lucro líquido 22.743
A siglaEBIDTA significa,de formatraduzida,lucroantesdosjuros,impostose depreciação.É
uma métricamuitovalorizadaporanalistas,porque asdespesaspós-EBIDTA sãomais
facilmente "manejáveis"(e.g.umaempresapode diminuirogastocom juros arrumandooutro
sócioinvestidor,e adepreciaçãonãoé um problemaaté omaquináriorealmenteesgotara
vidaútil).
DOAR
Elaborei oDemonstrativode Origense Aplicaçõesde Recursoscombase nobalancete pré-
fechamento,oque significaque nãolevei emconta os25% de impostode rendasobre o lucro.
Tambémomiti a depreciação.
Origens de recursos
Receitas 60.000
Conta bancária 37.680
Aplicações de recursos
Contas a receber 40.000
Estoque de matéria-prima 15.438
Custos variáveis 11.538
Estoque prod. acabados 8.431
Juros 7.050
Custos fixos 5.333
Despesas administrativas 3.500
Dívida bancária 3.300
Diferido 1.875
Impostos 600
Seguros 625
O relatóriome mostraque transformei boaparte domeu caixaemestoquese contasa
receber.Se istose repetirmaisumano,terei problemasde caixa,e vouterde rezarpara que
os clientespaguem,e que oestoque nãoencalhe!
Talvez eu devesse ter considerado a distribuição de lucros, feita no bojo do fechamento
de balanço, pois esta distribuição drenou recursos do caixa, e seria outro problema caso
o lucro da empresa fosse unicamente "no papel".
Razão
O razão de cada conta seriasimplesmente alistagememordemcronológicade todosos
lançamentos,maisoseusaldo.A maioriadas contasdo exemploteriaapenasumoudois
lançamentos,entãoelaborareste relatórioaqui paratodasas contasseriatrabalhosoe não
muitoútil.
Vou elaborar apenas o razão da conta bancária, que na nossa empresa fez o papel de
Caixa, pois o acompanhamento diário do saldo desta conta é importante (e tem de bater
com o extrato do banco):
Conta: 1.1.1 conta bancária
Descrição D C Saldo
---------------------------------------------------------------
Saldo inicial 62.000 D
Compra de matéria-prima 25.730 36.270 D
Pagamento seguro 2.500 33.770 D
Pagamento salários 8.000 25.770 D
Pagamento eletricidade 7.000 18.770 D
Venda à vista latas 40.000 58.770 D
Pagamento ICMS 20.000 38.770 D
Pagamento alvará 600 38.170 D
Despesas administrativas 3.500 34.670 D
Juros sobre capital próprio 3.600 31.070 D
Juros sobre capital próprio 2.250 28.820 D
Pagamento empréstimo 4.500 24.320 D
Distribuição de lucros 7.697 16.623 D
Distribuição de lucros 4.812 11.811 D
Obviamente, ossaldoinicial e final têmde batercomosrespectivossaldosdobalanço.

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Natureza credora e devedora

  • 1. Natureza credora e devedora Em contabilidade, evita-se dizer que uma conta está "positiva" ou "negativa", mas eventualmente é necessário fazê-lo porque o saldo de uma conta precisa ser traduzido em termos materiais, ou precisa ser explicado a um leigo. Ativo e despesa têm natureza devedora, ou seja, os saldos das respectivas contas são considerados "positivos" quando são devedores. As contas tornam-se mais positivas quando recebem aplicação (e portanto débito) de recursos. Passivo, receita e capital têm natureza credora, e a explicação é simétrica. Quando uma conta dessas serve como origem (crédito) de recursos, ela se torna mais positiva. Se for uma conta passiva, espera-se que um dia ela receba um lançamento a débito para ser zerada — o pagamento da dívida. A coisa começa realmente a complicar quando uma conta possui saldo negativo. Normalmente, um saldo negativo é erro de lançamento ou erro de classificação. Algumas dicas a respeito:  Ativo negativo é na verdade um passivo, por exemplo uma conta-corrente no "vermelho".  Uma conta tradicionalmente ativa-negativa é a "Provisão para Devedores Duvidosos": não é uma dívida, mas sim um redutor do ativo Contas a Receber.  Passivo negativo é na verdade um ativo, por exemplo a sua conta-corrente "vermelha" lá na contabilidade do banco.  Um adiantamento a fornecedor pode criar um saldo momentaneamente devedor na respectiva conta passiva, pois é um ativo disfarçado (o fornecedor está devendo a mercadoria).  Da mesma forma, um recebimento adiantado de cliente torna negativa a respectiva conta no Contas a Receber, pois é um passivo disfarçado (você deve o produto o serviço ao cliente).  Receita negativa é despesa. Alguns contadores posicionam determinadas despesas no grupo das receitas por serem "deduções da receita bruta", uma parte da receita com a qual não se pode contar. Exemplos: IRRF sobre serviços, COFINS, PIS (quando cumulativos).  Despesa negativa definitivamente não faz sentido, poderia ocorrer talvez em um lançamento de estorno, e estornos são coisas meio imperdoáveis numa contabilidade informatizada.  Capital negativo significa que você ou sua empresa está em sérios apuros, pois deve mais do que possui. Infelizmente, isso acontece mesmo e com alarmante freqüência, geralmente com instituições financeiras. Um banco pode emprestar ("alavancar") até 20 vezes o capital no Brasil (países desenvolvidos permitem alavancagens ainda maiores) e basta um punhado de empréstimos azarados para negativar o capital. Fechamento de balanço Como já foi dito, no balanço fechado o ativo é igual ao passivo. Porém, qualquer lançamento que envolva contas de resultado — receita ou despesa — destrói esse
  • 2. equilíbrio. A receita "faz surgir" dinheiro do nada (se a empresa dá lucro ;) e a despesa é um "buraco negro" de recursos. O fechamento de balanço é o restabelecimento do equilíbrio original. Todas as receitas e despesas são transferidas para uma conta de capital, denominada "Lucros ou prejuízos acumulados". O resultado líquido é considerado dali por diante como parte integrante do capital. Se esse conceito é completamente novo para você, aconselho-o a fazer um "teste de mesa", com uma entidade fictícia. Crie-a com um capital e/ou dívidas, faça 2 ou 3 lançamentos de receita e despesa e veja como o fechamento restabelece o equilíbrio do balanço patrimonial. E como se transfere os saldos das contas de resultado para essa conta de capital? Em alguns sistemas informatizados, isso acontece "milagrosamente" — no dia 31/Dez as contas têm saldo, no dia 01/Jan elas aparecem zeradas, e o saldo de lucros acumulados foi alterado. Em outros sistemas, deve ser executado um procedimento que cria os lançamentos explícitos de zeramento. Tais lançamentos são "estéreis", não representam eventos monetários no mundo real, e devem ser filtrados no software de modo a não distorcer alguns relatórios. Plano de contas Plano de contas é, grosso modo, a lista de contas que serão objeto de lançamentos. Em tese, apenas 5 contas são necessárias: ativo, passivo, capital, receita e despesa. Este é um plano de contas absolutamente correto, que comporta qualquer lançamento possível. Mas os relatórios gerados a partir deste plano teriam uma qualidade muito baixa. Por outro lado, pode-se exagerar no detalhamento de contas. Esse é mesmo o erro mais freqüente. Se eu quiser controlar quanto café é consumido em cada setor de uma empresa de porte mundial, basta criar uma conta para cada setor, mas aí seria preciso criar os mecanismos burocráticos para medir o consumo e gerar os lançamentos contábeis. Perfeitamente possível, perfeitamente válido, e totalmente inútil. Cabe a você determinar a granularidade das contas — use o bom senso. Apenas evite criar as famigeradas contas "etcetera", como "Despesas diversas", "Receitas diversas" ou "Contas a receber diversas". Tais contas desestimulam a manutenção do plano de contas. Depois de algum tempo, 90% da circulação de dinheiro terá virado "diversa". Um bom plano de contas não tem esse tipo de coisa. O plano de contas contém contas analíticas e sintéticas. As contas analíticas são as contas reais, que podem receber lançamentos. As contas sintéticas são simplesmente a soma de um conjunto de contas analíticas. Os valores sintéticos são úteis para análise gerencial dos relatórios contábeis.
  • 3. Pode haver contas sintéticas que contenham outras contas sintéticas. O plano de contas é uma estrutura hierárquica, com pais, filhos, netos etc. formada pelos diversos níveis de contas sintéticas. O último nível é composto pelas contas analíticas, que efetivamente contém valores e fatos contábeis. Para deixar clara a relação de paternidade entre as contas, é tradição usar um código estruturado para cada conta contábil. Apenas olhando-se para o código, é possível saber imediatamente se a conta é analítica ou sintética, e quem é sua conta-pai, conta-avó etc. Exemplo com código estruturado de 4 níveis:  1. ATIVO o 1.1. CIRCULANTE  1.1.1. DISPONIBILIDADES  1.1.1.01. Dinheiro  1.1.1.02. Conta corrente X  1.1.1.03. Conta poupança Y  1.1.2. CONTAS A RECEBER  1.1.3. ESTOQUES o 1.2. PERMANENTE o 1.3. DIFERIDO Convém não exagerar no número de níveis do plano, para não torná-lo excessivamente enrolado. Cinco níveis são suficientes para balanços de empresas grandes. Quatro níveis devem ser suficientes para uma contabilidade gerencial informal. A disposição das contas no plano rege o formato dos relatórios contábeis, notoriamente o balanço. Os balanços publicados costumam trazer apenas contas sintéticas de nível muito alto, por brevidade. As contas ativas são ordenadas por liquidez. As contas passivas, por prazo de exigibilidade, com os prazos mais curtos figurando mais ao topo. As receitas são ordenadas pela relação com o objeto social (se a empresa fabrica latas de alumínio, as vendas de latas devem figurar mais ao topo, a venda de sucata mais abaixo, e a venda de um terreno lá embaixo). As despesas são ordenadas pela sua necessidade: primeiro custos variáveis, depois custos fixos, depois despesas necessárias, e por último as liberalidades. Importante lembrar que despesas que são meras liberalidades não são consideradas pela Receita Federal no cálculo do Imposto de Renda da empresa, já que podem ser distribuição disfarçada de lucros. (Lembrando que no Brasil a pessoa física não paga imposto ao receber lucro distribuído de empresa, enquanto nos EUA a tributação tende a se concentrar na pessoa física.) Para iniciar a criação de seu plano de contas, uma boa pedida é pedir um plano pronto a um contador, ou dar uma olhada num balanço publicado. Se você nunca sequer viu um balanço, é hora de comprar uma ou duas edições de um jornal como o Valor Econômico, que freqüentemente traz balanços de grandes empresas. Histórico padrão
  • 4. Contabilidade é uma ciência bastante interessante; o que estraga são os contadores que tornam tudo muito chato e repetitivo. Eis uma típica descrição de lançamento feita por um contador profissional: PGTO N/DATA C/ CHEQUE A VISTA CRUZADO PARA COMPRA DE CAFÉ MELITTA PCT. DE 500GRMS. Ou seja,ele repetiutudoque adata do lançamentoe as contasenvolvidasjátinhamtornado óbvio.Bastariadizer"500g CAFÉ".Qual o sentidoemdizerque algofoi "nadata"? Se aconteceuontem,olançamentoteriaadata de ontem, certo? Para facilitar a vida dos contadores prolixos, criou-se o histórico padrão, que é um pré- cadastro de descrições usadas muito freqüentemente. Ao final do histórico padrão, pode-se complementar com uma descrição livre. No exemplo acima, um bom candidato a histórico padrão seria "PGTO BLA BLA PARA COMPRA DE", pois é extremamente comum a compra de algo com cheque. Assim, tanto o contador prolixo quanto o estressado digitador ficam felizes. Pessoalmente, acho que, numa contabilidade pequena, com um bom plano de contas, o histórico padrão é desnecessário. Mas 99% dos contadores discordarão. Centro de custo O plano de contas é unidimensional. Muitas vezes, é necessário fazer o controle de custos em 2 dimensões. Por exemplo, temos contas como "gastos com xerox" e "gastos com cafeteria". Aí temos "setor A", "setor B" e "setor C". A solução burra seria criar seis contas (2 x 3), o que não é viável numa empresa com 1000 tipos de despesa e 200 setores (pois redundaria em 200 mil contas). Outro problema é escolher quem vem primeiro na hierarquia do plano de contas: tipo de despesa ou setor? Se escolhermos o setor como conta agregadora, não teríamos como saber facilmente o total geral das despesas com café, e vice-versa. Para evitar estes problemas, os setores devem ser centros de custo. A tabela de centros de custo é uma espécie de plano de contas paralelo, mais informal e geralmente não hierárquico. Além das contas normais, cada lançamento contábil pode ser atrelado a um centro de custo. Nem todo lançamento terá um centro de custo; em geral, apenas as despesas normais de custeio (daí o nome). Dessa forma, voltando ao nosso exemplo, haveria uma única conta contábil para despesas com cafeteria. Se esta rubrica aparecer com valor elevado, usa-se então o centro de custo para descobrir que setor está bebendo café demais. Qualquer software contábil também permite emitir relatórios com o total da despesa por centro de custo. Relatórios contábeis Diário O diário é o mais simples dos relatórios. Lista os lançamentos em ordem cronológica. Gasta bastante papel, e seu valor gerencial é quase nulo. Dificilmente você vai
  • 5. manuseá-lo, principalmente se estiver usando contabilidade informatizada (ou seja, todo mundo). Porém, é o único relatorio suficiente para recriação de todo o histórico contábil a partir de mídia impressa. Por isso, sua impressão é obrigatória em contabilidade fiscal. Sim, isso acaba gerando centenas de quilos em livros-diário. (Talvez hoje em dia o diário já seja aceito num formato eletrônico, estou realmente por fora.) Razão Razão é a listagem de lançamentos, em ordem cronológica, mas de apenas uma conta em particular. Se as descrições dos lançamentos forem suficientemente claras, o razão já tem alguma utilidade gerencial, pois mostra o que aconteceu com aquela conta durante o período. O razão também lista a evolução do saldo da conta (importante para contas patrimoniais), coisa que o diário não faz. Em contabilidade fiscal, sua impressão também é obrigatória, e gasta ainda mais papel que o diário. A propósito, não existe razão de contas sintéticas (eu nunca vi, ao menos). Balanço O balanço é o rei dos relatórios contábeis, pois mostra todas as movimentações financeiras da entidade. É o principal relatório publicado pelas empresas de capital aberto. (IMHO empresas de capital fechado acima de certo tamanho também deveriam ser obrigadas a publicá-lo, existe até projeto de lei nesse sentido, mas isso é outra história.) Cada linha do balanço lista uma conta, com seu saldo inicial, movimentos a débito, movimentos a crédito, e saldo final. Apenas as contas sem saldo e sem qualquer movimentação ficarão de fora, pois são completamente desinteressantes no período. As contas sintéticas aparecem no balanço, com os valores acumulados das suas contas- filhas. Em balanços publicados, aparecem apenas as contas sintéticas de um certo nível para cima, por questões de brevidade. O balanço emitido fora da época de fechamento é denominado "balancete de verificação". Ele não "fecha", ou seja, ativo é diferente de passivo. Já o balanço patrimonial "fecha" pois é emitido após o zeramento das contas de resultado. Nos balancos publicados, figuram apenas as contas patrimoniais. As contas de resultado são deixadas para o DRE. Existe uma área altamente especializada da contabilidade, a análise de balanços, que destina-se a metrificar a saúde financeira com base no balanço público. Sobre ela, há livros inteiros escritos, não pretendo entrar em detalhes aqui. Apenas vou pedir que você, ao dar uma olhada num balanço de jornal, preste atenção no seguinte:
  • 6.  Proporçãodos estoquesemrelaçãoaototal do ativo(muitoestoque =girolentoou produçãoexcessiva);  Proporçãodo ativodiferidoemrelaçãoaototal do ativo(fraude);  Diferençaentre ossaldosinicial e final docontas areceber(umaumentoexagerado significaalongamentoexcessivodosprazosconcedidos);  Se o estoque estivermuitoalto,vejaaquantasanda o Contasa Pagar (se muitoalto também,a empresacomprademaissópara manteremestoque,e issogeralmenteé estúpido). Demonstração de Resultados (DRE) O DRE demonstra a movimentação das contas de resultado. A rigor, um balanço pode fazer o mesmo, mas o DRE o faz num formato mais enxuto e apropriado. Os DREs publicados trazem apenas contas sintéticas de certo nível para cima, por brevidade. Também rearranjam as contas para trazer as despesas numa ordem mais propria à análise. Exemplo: (1) RECEITA BRUTA (2) DEDUÇÕES DA RECEITA BRUTA (e.g. impostos sobre faturamento) (3) RECEITA LÍQUIDA = (1-2) (4) CUSTOS VARIÁVEIS (5) MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO = (3-4) (6) CUSTOS FIXOS (7) LUCRO BRUTO = (5-6) (8) DESPESAS (9) LUCRO LÍQUIDO = (7-8) Em particular no caso de haver prejuízo, o formato acima é útil porque vê-se rapidamente onde a empresa está gastando demais. Os lançamentos "estéreis", de fechamento de balanço, não podem ser levados em conta. Do contrário, todas as contas apareceriam com valor zero. Demonstrativo de origens e aplicações de recursos (DOAR) Num balanço, pode ser difícil enxergar "de onde veio" e "para onde foi" o dinheiro. O ativo cresceu por faturamento ou por contração de dívidas? O ativo encolheu por excesso de despesa ou por devolução de capital aos sócios? É possível responder a essas perguntas apenas com o balanço e o DRE em mãos, mas seria preciso calcular a movimentação líquida de cada conta. Se a conta de Contas a Receber teve 2500 a débito e 2600 a crédito, sua movimentação líquida foi 100 a crédito, e foi uma origem líquida de recursos. O demonstrativo de origens e aplicações faz exatamente isso - lista as movimentações líquidas das contas. Geralmente o faz em ordem crescente de valor. Naturalmente, as contas sem movimento no período não figuram no DOAR. Os lançamentos de fechamento de balanço também têm de ficar de fora. Num plano de contas suficientemente detalhado, um DOAR de contas analíticas é inútil, não só porque fica incrivelmente longo, mas principalmente porque dilui muito o peso
  • 7. das contas individuais. Não me interessa se gastei 10 reais em canetas BIC de cor rosa, mas certamente me interessa se gastei um milhão em material de expediente. Dessa forma, um DOAR bem elaborado lista apenas contas sintéticas de determinado nível. Assim, o peso de diversas contas analíticas pequenas, porém numerosas, é multiplicado no relatório. Nesta parte final, vamos elaborar um exemplo simples, porém completo, de escrituração contábil, da abertura da empresa até o fechamento dos relatórios. Este exemplo será paulatinamente melhorado (mande sugestões!). Mesmo em se tratando de um exemplo com meia dúzia de lançamentos, já fica complicado fechar balanço manualmente. Para este fim, elaborei uma planilha do Google Docs que você pode abrir para acompanhar o resto do artigo. Lembre-se que você pode baixar uma planilha do Google no formato Excel quando quiser; também disponibilizo um link para baixar a versão Excel para o caso do Google Docs não funcionar para você. A história Nossacobaiaserá uma fábricade latinhasde alumínio,financiadacomcapital de doissócios (R$ 40.000 e R$ 25.000) e tambémcom empréstimobancário(R$10.000), jurosde 12% ao ano.A empresainvestiuimediatamente13.000 reaisemmaquinário,cujataxade depreciação é de 8% ao ano, e pagará parte do empréstimobancárionofinal doano. A empresa compra 1 tonelada de alumínio em lingotes (R$ 25,73/kg), bem mais que o necessário para operar por um ano, por medo de futuras altas. Durante este ano contábil, ela transforma 400kg de alumínio em 30.000 latinhas. Os custos fabris, além da matéria-prima, são: salários (8.000 - custo fixo), eletricidade (7.000 - custo variável). A empresa conseguiu vender 20.000 latinhas por 4 reais cada, metade à vista e metade a prazo para receber no próximo ano. As despesas foram: material de expediente (R$ 3.500) e um seguro do edifício que foi pago em uma parcela à vista (R$ 2.500) mas que vale por quatro anos. A empresa paga 25% de ICMS à vista sobre a venda, 600 reais pelo alvará da Prefeitura, e retém 25% de Imposto de Renda sobre os lucros, pois o pagamento do IR ocorre apenas no ano seguinte. A empresa definiu a política de distribuir 55% dos lucros aos sócios, além de pagar juros sobre capital próprio de 9% ao ano, de modo que o lucro distribuído seja realmente um extra sobre o que os sócios obteriam num fundo de investimento. Plano de contas 1 A T I V O 1.1 Circulante 1.1.1 Conta bancária 1.1.2 Contas a receber 1.1.3 Estoque de matéria-prima
  • 8. 1.1.4 Estoque de produto acabado 1.2 Permanente 1.2.1 Máquinas e equipamentos 1.3 Diferido 1.3.1 Seguros 2. P A S S I V O 2.1 Circulante 2.1.1 Dívida bancária 2.1.2 Impostos a pagar 2.2 Capital 2.2.1 Investimento sócio A 2.2.2 Investimento sócio B 2.2.3 Lucros acumulados 3. R E C E I T A S 3.1 Receitas correntes 3.1.1 Venda de produto acabado 3.2 (-) Deduções da receita bruta 3.2.1 ICMS 4. D E S P E S A S 4.1 Custos 4.1.1 Custos fixos 4.1.2 Custos variáveis 4.2 Despesas correntes 4.2.1 Administrativas 4.2.2 Seguros 4.2.3 Juros 4.2.4 Impostos 4.2.5 Depreciação Para acompanharos lançamentos(que sótêmo códigodascontas, nãoos nomes) você pode imprimiroplanode contas acima,ou então abrira planilhade exemplo. Diário até o início das atividades O formatodos lançamentosé oseguinte: Descrição D Conta a débito Valor C Conta a crédito Valor Então vamoslá: Investimento sócio A D 1.1.1 40.000 C 2.2.1 40.000 Investimento sócio B D 1.1.1 25.000 C 2.2.2 25.000 Empréstimo bancário D 1.1.1 10.000 C 2.1.1 10.000 Compra maquinário D 1.2.1 13.000 C 1.1.1 13.000
  • 9. De acordocom a planilhade exemplo,aba"Lanctosabertura",o balançoda empresaaté aqui é o seguinte: Diário durante as atividades Compra 1 tonelada de matéria-prima (alumínio) D 1.1.3 25.730 C 1.1.1 25.730
  • 10. Uso de 400kg de matéria-prima em 30.000 latas D 1.1.4 10.292 C 1.1.3 10.292 Pagamento salários operários D 1.1.4 8.000 C 1.1.1 8.000 Pagamento conta de energia D 1.1.4 7.000 C 1.1.1 7.000 Note comotodos oscustos acimaforam parar no estoque de produtoacabado(1.1.4), nenhumfoi contabilizadocomodespesaainda.Até aqui obalançoaindafechasemprecisarde encerramentoporque nenhumacontade resultadofoi movimentada.Istoacontece agora: Venda de 10.000 latinhas à vista, 4 reais cada D 1.1.1 40.000 C 3.1.1 40.000 Venda de 10.000 latinhas a prazo, 4 reais cada D 1.1.2 40.000 C 3.1.1 40.000 Provisão de 25% das vendas brutas para pgto de ICMS D 3.2.1 20.000 C 2.1.2 20.000 Pagamento do ICMS D 2.1.2 20.000 C 1.1.1 20.000 Apropriação dos custos ref. latas vendidas D 4.1.1 5.333 D 4.1.2 11.528 C 1.1.4 16.861 Note que,para chegaraos valoresdolançamentoacima,euprecisei fazeruma mini- contabilidadede custosemparalelo,parasaberquantoexatamente custacadalatinha vendida(matéria-primamaiseletricidade maissalário),e quantodessecustounitárioé fixoou variável. Material de expediente D 4.2.1 3.500 C 1.1.1 3.500 Contratação seguro imóvel p/ 4 anos D 1.3.1 2.500 C 1.1.1 2.500 Apropriação parcela do seguro p/ este ano D 4.2.2 625 C 1.3.1 625 Alvará da Prefeitura D 4.2.4 600 C 1.1.1 600 Depreciação anual dos equipamentos D 4.2.5 1.040
  • 11. C 1.2.1 1.040 Talveza depreciaçãode parque fabril deveriaserconsideradaparte docusto,e não comouma despesa,masválá. Apropriação juros empréstimo bancário D 4.2.3 1.200 C 2.1.1 1.200 Pagamento parcial dívida bancária D 2.1.1 4.500 C 1.1.1 4.500 Juros sobre capital próprio sócio A D 4.2.3 3.600 C 1.1.1 3.600 Juros sobre capital próprio sócio B D 4.2.3 2.250 C 1.1.1 2.250 Neste pontodevemoslevantarobalancete de verificação. Balancete de verificação Este balancete é levantadoparaobtero saldodas contas,inclusive olucroantesdosimpostos, o que permitiráconfeccionaroslançamentosde fechamento.De acordocom a planilhade exemplo,aba"Lanctosmovimento",temososeguinte balancete:
  • 12. Figura2: Balancete de verificação
  • 13. Pelo balancete, temos um lucro bruto de 30.324 (receitas menos despesas). Deduzindo os 25% de imposto de renda (7.581), sobram 22743, dos quais 55% serão distribuídos aos sócios proporcionalmente à participação no capital. Diário dos lançamentos de fechamento Provisão para Imposto de Renda D 4.2.4 7.581 C 2.1.2 7.581 Fechamento do balanço C 2.2.3 22.743 D 3.1.1 80.000 C 3.2.1 20.000 C 4.1.1 5.333 C 4.1.2 11.528 C 4.2.1 3.500 C 4.2.2 625 C 4.2.3 7.050 C 4.2.4 8.181 C 4.2.5 1.040 Neste pontoobalançojá estáfechado,faltaapenasdistribuiroslucros,oque não é despesae não alteramaiso resultado,apenasreduzoslucrosacumulados: Distribuição de lucros para os sócios D 2.2.3 12.509 C 1.1.1 7.697 (sócio A) C 1.1.1 4.812 (sócio B) Balancete de fechamento Apósesteslançamentosobalançoestáfechado.De acordocom a aba "lanctosfechamento" da planilha:
  • 14. Figura3: Balancete de fechamento Mas este balancete lista apenas os débitos e créditos de fechamento, que coloquei numa planilha separada para facilitar minha vida. Os saldos finais correspondem ao balanço final, mas as demais colunas não. Balanço O seguinte balanço (aba Balanço) é a coisa real: consolida movimento e fechamento, cobrindo todo o período:
  • 15. Figura4: Balançofinal Demonstrativo de resultados O demonstrativode resultadosé elaboradocombase nobalancete,imediatamente antesdo fechamento,comalgunstoquesgerenciais. Receita bruta 80.000 Deduções da receita bruta (20.000) Receita líquida 60.000 Custos (16.861) Dos quais: fixos (5.333) Dos quais: variáveis (11.528) Despesas pré-EBIDTA (4.125) EBIDTA 39.014 Despesas pós-EBIDTA (8.690) Lucro bruto 30.324 IR 25% (7.581) Lucro líquido 22.743 A siglaEBIDTA significa,de formatraduzida,lucroantesdosjuros,impostose depreciação.É uma métricamuitovalorizadaporanalistas,porque asdespesaspós-EBIDTA sãomais facilmente "manejáveis"(e.g.umaempresapode diminuirogastocom juros arrumandooutro sócioinvestidor,e adepreciaçãonãoé um problemaaté omaquináriorealmenteesgotara vidaútil).
  • 16. DOAR Elaborei oDemonstrativode Origense Aplicaçõesde Recursoscombase nobalancete pré- fechamento,oque significaque nãolevei emconta os25% de impostode rendasobre o lucro. Tambémomiti a depreciação. Origens de recursos Receitas 60.000 Conta bancária 37.680 Aplicações de recursos Contas a receber 40.000 Estoque de matéria-prima 15.438 Custos variáveis 11.538 Estoque prod. acabados 8.431 Juros 7.050 Custos fixos 5.333 Despesas administrativas 3.500 Dívida bancária 3.300 Diferido 1.875 Impostos 600 Seguros 625 O relatóriome mostraque transformei boaparte domeu caixaemestoquese contasa receber.Se istose repetirmaisumano,terei problemasde caixa,e vouterde rezarpara que os clientespaguem,e que oestoque nãoencalhe! Talvez eu devesse ter considerado a distribuição de lucros, feita no bojo do fechamento de balanço, pois esta distribuição drenou recursos do caixa, e seria outro problema caso o lucro da empresa fosse unicamente "no papel". Razão O razão de cada conta seriasimplesmente alistagememordemcronológicade todosos lançamentos,maisoseusaldo.A maioriadas contasdo exemploteriaapenasumoudois lançamentos,entãoelaborareste relatórioaqui paratodasas contasseriatrabalhosoe não muitoútil. Vou elaborar apenas o razão da conta bancária, que na nossa empresa fez o papel de Caixa, pois o acompanhamento diário do saldo desta conta é importante (e tem de bater com o extrato do banco): Conta: 1.1.1 conta bancária Descrição D C Saldo --------------------------------------------------------------- Saldo inicial 62.000 D Compra de matéria-prima 25.730 36.270 D Pagamento seguro 2.500 33.770 D Pagamento salários 8.000 25.770 D Pagamento eletricidade 7.000 18.770 D Venda à vista latas 40.000 58.770 D Pagamento ICMS 20.000 38.770 D
  • 17. Pagamento alvará 600 38.170 D Despesas administrativas 3.500 34.670 D Juros sobre capital próprio 3.600 31.070 D Juros sobre capital próprio 2.250 28.820 D Pagamento empréstimo 4.500 24.320 D Distribuição de lucros 7.697 16.623 D Distribuição de lucros 4.812 11.811 D Obviamente, ossaldoinicial e final têmde batercomosrespectivossaldosdobalanço.