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O Capital Natural



O ano de 2012 será lembrado como um dos piores da história para a já tão desgastada
sustentabilidade. Pode-se dizer que um dos poucos resultados positivos, advindos
principalmente da Rio+20, foi a maior compreensão da importância do capital natural para o
bem estar compartilhado e perene, e da necessidade de politicas publicas e empresariais
que reconheçam o valor deste bem comum. Apesar do balanço negativo do ano este avanço
merece ser comemorado.

O capital natural representa a somatória de todos os benefícios que os ecossistemas
equilibrados fornecem ao homem, dos mais tangíveis como água potável, alimento e madeira
aos mais abstratos como o valor espiritual e cultural que os ambientes naturais representam
para diversas comunidades. Estes benefícios, ou serviços ecossistêmicos, são fruto de um
maquinário extremamente complexo cujas peças são os diversos genes e espécies
encontradas em nosso Planeta, ou seja, a biodiversidade.

O conceito de capital natural nos ajuda a entender a base onde toda a economia se apóia e,
conseqüentemente, os limites para seu crescimento. É neste capital que estão considerados
a capacidade do Planeta de fornecer os recursos naturais que alimentam a economia e de
reciclar e absorver seus resíduos. Esta capacidade é, por sua vez, possibilitada por um
funcionamento cíclico que se alimenta de um equilíbrio complexo e dinâmico entre as
espécies e seu meio.

Durante todo o desenvolvimento da sociedade moderna os serviços ecossistêmicos
funcionaram perfeitamente, criando a concepção errônea de que o capital natural tinha
oferta infindável. Esta concepção levou a economia a se desenvolver de forma linear,
traçando uma via de mão única entre recursos naturais e resíduos. Alem disso, gerou uma
falha no sistema econômico chamada de externalidades, cuja principal causa é a não
valoração deste capital e, como consequência, a criação de um sistema que privatiza os
ganhos econômicos mas socializa as perdas ambientais.

Nas últimas décadas o crescimento populacional e do consumo per capta fizeram com que
os fluxos de matéria e energia entre os dois pólos desta economia linear aumentasse em
intensidade e volume, extrapolando a capacidade do sistema natural cíclico em se auto-
regenerar. Desta forma, temos hoje uma economia que rompe os limites do capital natural e,
como conseqüência, a cada ano que passa esgotamos a base da mesma.

Para dar uma ordem de grandeza deste problema, estamos consumindo o equivalente a 1,5
planetas terra por ano. Estas são conclusões tiradas de um estudo baseado na metodologia
de Pegada Ecológica (Global Footprint Network, 2011), que analisa uma grande variedade
de serviços ecossistêmicos e os traduz em área necessária da superfície do Planeta para
sustentá-los. Segundo este estudo, emissões de GEE são a principal causa da tendência do
Planeta para um eventual colapso ecológico (55% da pegada ecológica global), conforme
gráfico abaixo.




                   Pangea Capital – Equilíbrio em Estratégia Ambiental
                        R. Cônego Eugênio Leite 933, conj.131
                                    (11) 2307-0018
O setor privado é hoje um dos principais responsáveis por esta pegada ecológica
insustentável. No entanto, devido ao seu radar aguçado, força econômica e agilidade em
implementar mudanças, este pode ser também o grande provedor de soluções para moldar a
economia ao novo paradigma imposto pelos limites do capital natural, além de encontrar
grandes oportunidades nesta jornada. Para isso, práticas empresariais devem refletir uma
compreensão de sua dependência em relação a serviços e produtos fornecidos pela
natureza, e que os recursos finitos desta devem ser totalmente valorados e geridos para um
crescimento e prosperidade de longo prazo.

A implementação desta nova gestão corporativa depende de ferramentas que permitam às
empresas considerar o capital natural em seus balanços financeiros anuais . Não existe
ainda uma metodologia como esta adotada em larga escala no mundo, mas já podemos
identificar uma série de projetos interessantes que apontam o caminho da inovação. Este é o
caso da iniciativa implementada pela empresa de material esportivo Puma, que em 2011
resultou na publicação do seu primeiro relatório sobre lucros e prejuízos ambientais, um dos
primeiros experimentos do gênero do mundo (veja aqui o documento na íntegra). Para isso a
empresa desenvolveu uma metodologia que quantifica o consumo de água, emissões de
gases de efeito estufa, uso da terra e geração de resíduos de suas operações diretas e de
sua cadeia de fornecedores, e aplicou valores que pudessem converter estas métricas em
impactos econômicos. Com este novo método de valoração a empresa pode compreender
melhor sua dependência em relação aos recursos naturais e, consequentemente, como
buscar oportunidades e garantir a resiliência de sua operação.

Iniciativas inovadoras como esta são impulsionadas pela compreensão cada vez maior de
que o sistema econômico tradicional tornou-se grande demais para manter seu formato, e
que por isso uma quebra de paradigmas será necessária. O século XXI será marcado pela
transição definitiva do antigo capitalismo focado apenas no shareholder, com visão
imediatista e competitividade insustentável, para o novo capitalismo a serviço dos
stakeholders, cuja visão integrada possibilitará o bem estar compartilhado e,
consequentemente, uma competitividade de longo prazo para o setor privado. As empresas
serão protagonistas nesta história, e o sucesso irá depender de suas habilidades de colocar
o Planeta e as pessoas no centro de suas estratégias corporativas.


Roberto Strumpf

Pangea Capital – Equilíbrio em Estratégia Ambiental

www.pangeacapital.com.br


                    Pangea Capital – Equilíbrio em Estratégia Ambiental
                         R. Cônego Eugênio Leite 933, conj.131
                                     (11) 2307-0018

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  • 1. O Capital Natural O ano de 2012 será lembrado como um dos piores da história para a já tão desgastada sustentabilidade. Pode-se dizer que um dos poucos resultados positivos, advindos principalmente da Rio+20, foi a maior compreensão da importância do capital natural para o bem estar compartilhado e perene, e da necessidade de politicas publicas e empresariais que reconheçam o valor deste bem comum. Apesar do balanço negativo do ano este avanço merece ser comemorado. O capital natural representa a somatória de todos os benefícios que os ecossistemas equilibrados fornecem ao homem, dos mais tangíveis como água potável, alimento e madeira aos mais abstratos como o valor espiritual e cultural que os ambientes naturais representam para diversas comunidades. Estes benefícios, ou serviços ecossistêmicos, são fruto de um maquinário extremamente complexo cujas peças são os diversos genes e espécies encontradas em nosso Planeta, ou seja, a biodiversidade. O conceito de capital natural nos ajuda a entender a base onde toda a economia se apóia e, conseqüentemente, os limites para seu crescimento. É neste capital que estão considerados a capacidade do Planeta de fornecer os recursos naturais que alimentam a economia e de reciclar e absorver seus resíduos. Esta capacidade é, por sua vez, possibilitada por um funcionamento cíclico que se alimenta de um equilíbrio complexo e dinâmico entre as espécies e seu meio. Durante todo o desenvolvimento da sociedade moderna os serviços ecossistêmicos funcionaram perfeitamente, criando a concepção errônea de que o capital natural tinha oferta infindável. Esta concepção levou a economia a se desenvolver de forma linear, traçando uma via de mão única entre recursos naturais e resíduos. Alem disso, gerou uma falha no sistema econômico chamada de externalidades, cuja principal causa é a não valoração deste capital e, como consequência, a criação de um sistema que privatiza os ganhos econômicos mas socializa as perdas ambientais. Nas últimas décadas o crescimento populacional e do consumo per capta fizeram com que os fluxos de matéria e energia entre os dois pólos desta economia linear aumentasse em intensidade e volume, extrapolando a capacidade do sistema natural cíclico em se auto- regenerar. Desta forma, temos hoje uma economia que rompe os limites do capital natural e, como conseqüência, a cada ano que passa esgotamos a base da mesma. Para dar uma ordem de grandeza deste problema, estamos consumindo o equivalente a 1,5 planetas terra por ano. Estas são conclusões tiradas de um estudo baseado na metodologia de Pegada Ecológica (Global Footprint Network, 2011), que analisa uma grande variedade de serviços ecossistêmicos e os traduz em área necessária da superfície do Planeta para sustentá-los. Segundo este estudo, emissões de GEE são a principal causa da tendência do Planeta para um eventual colapso ecológico (55% da pegada ecológica global), conforme gráfico abaixo. Pangea Capital – Equilíbrio em Estratégia Ambiental R. Cônego Eugênio Leite 933, conj.131 (11) 2307-0018
  • 2. O setor privado é hoje um dos principais responsáveis por esta pegada ecológica insustentável. No entanto, devido ao seu radar aguçado, força econômica e agilidade em implementar mudanças, este pode ser também o grande provedor de soluções para moldar a economia ao novo paradigma imposto pelos limites do capital natural, além de encontrar grandes oportunidades nesta jornada. Para isso, práticas empresariais devem refletir uma compreensão de sua dependência em relação a serviços e produtos fornecidos pela natureza, e que os recursos finitos desta devem ser totalmente valorados e geridos para um crescimento e prosperidade de longo prazo. A implementação desta nova gestão corporativa depende de ferramentas que permitam às empresas considerar o capital natural em seus balanços financeiros anuais . Não existe ainda uma metodologia como esta adotada em larga escala no mundo, mas já podemos identificar uma série de projetos interessantes que apontam o caminho da inovação. Este é o caso da iniciativa implementada pela empresa de material esportivo Puma, que em 2011 resultou na publicação do seu primeiro relatório sobre lucros e prejuízos ambientais, um dos primeiros experimentos do gênero do mundo (veja aqui o documento na íntegra). Para isso a empresa desenvolveu uma metodologia que quantifica o consumo de água, emissões de gases de efeito estufa, uso da terra e geração de resíduos de suas operações diretas e de sua cadeia de fornecedores, e aplicou valores que pudessem converter estas métricas em impactos econômicos. Com este novo método de valoração a empresa pode compreender melhor sua dependência em relação aos recursos naturais e, consequentemente, como buscar oportunidades e garantir a resiliência de sua operação. Iniciativas inovadoras como esta são impulsionadas pela compreensão cada vez maior de que o sistema econômico tradicional tornou-se grande demais para manter seu formato, e que por isso uma quebra de paradigmas será necessária. O século XXI será marcado pela transição definitiva do antigo capitalismo focado apenas no shareholder, com visão imediatista e competitividade insustentável, para o novo capitalismo a serviço dos stakeholders, cuja visão integrada possibilitará o bem estar compartilhado e, consequentemente, uma competitividade de longo prazo para o setor privado. As empresas serão protagonistas nesta história, e o sucesso irá depender de suas habilidades de colocar o Planeta e as pessoas no centro de suas estratégias corporativas. Roberto Strumpf Pangea Capital – Equilíbrio em Estratégia Ambiental www.pangeacapital.com.br Pangea Capital – Equilíbrio em Estratégia Ambiental R. Cônego Eugênio Leite 933, conj.131 (11) 2307-0018