Este documento resume um conto de 1908 sobre a Amazônia brasileira. O narrador descreve detalhadamente a rica biodiversidade da região, mas se refere a uma indígena idosa com termos depreciativos, destacando preconceitos da época. A narrativa fornece poucos detalhes sobre o massacre indígena causado pelos colonizadores e apresenta uma visão negativa dos povos originários que ainda persiste.
1. Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Campus Vale do Rio Madeira – CVRM
Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente – IEAA
Letras - Língua Portuguesa e Língua Inglesa
Equipe:
César Arraes
Raimunda Inês
Valdemir Cruz Literatura Regional
Professora: Joanna Silva
A decana dos muras
Alberto Rangel
2. INTRODUÇÃO
“Tradicionalmente, as narrativas sobre a
Amazônia, em face a grandiosidade de sua
floresta e da paisagem exuberante, ela é
conhecida como: Inferno Verde, Paraíso
Perdido, Hileia, Eldorado, e por conta disso
muitos autores tendem a privilegiar o espaço,
em detrimento de outras categorias da ficção,
como, por exemplos, os personagens, que, se
bem explorado propiciariam uma visão
adequada dos povos que vivem na Amazônia”
3. INTRODUÇÃO
O conto “A decana dos muras”, escrito por
Alberto Rangel, em 1908, início do século XX,
nos remete a dois aspectos: a
multidiversidade de sua fauna e flora e sua
hidrografia, e o aspecto assombroso da velha
índia. O texto parodístico traz, por fim, a
denúncia do massacre da cultura indígena que
o texto parodiado não acentua.
4. Narrador – 1ª pessoa (...desembarquei...pág. 87, 4ºª; “Segui pelo
caminho...” pág. 87, 5º§);
Espaço geográfico – Rio Amazonas e os afluentes (pág. 83);
Tempo – Ciclo da Borracha;
Personagens: Rio Amazonas - Furo (águas que invadem a
floresta, período de cheia), a índia Mura;
Clímax: o encontro com a Decana dos Mura
(...mexeu a um canto, erguendo-se. Estarrecido, pus-me a examiná-la. Pág.88);
5. Contexto histórico
A região amazônica, uma das maiores produtoras de látex, aproveitou
do aumento transformando-se no maior polo de extração e
exportação de látex do mundo. No curto período de três décadas,
entre 1830 e 1860, a exportação do látex amazônico foi de 156 para
2673 toneladas.
A mão-de-obra utilizada para a extração do látex nos seringais era
feita com a contratação de trabalhadores vindos, principalmente, da
região nordeste. Os seringueiros adotavam técnicas de extração
indígenas para retirar uma seiva transformada em uma goma utilizada
na fabricação de borracha.
6. ENREDO - TERMOS AMAZONENSES
CANARANA S. F. – Capim de beira de rio ou lago.
FURO S. M. – Comunicação natural entre dois rios ou um rio e um
lago. Transitável em época de cheia.
MURA S. F. – Pessoa invocada, fechada. “Vê se conversa com as
pessoas! Parece uma mura!”
SOCORÓ sm (tupi sokoró) 1 Ornit Ave da Amazônia. 2 Bot Árvore
melastomatácea
ESTRIDULAVAM - v.i. Produzir som estridente. / — V.t. Dizer, cantar
com voz estridente: estridulou a mesma cantiga a manhã toda.
SUMAUMEIRA
sf (sumaúma+eira) Bot O mesmo que sumaúma. árvore de grande
porte, cujo fruto contém uma polpa análoga ao algodão
FAIANÇA - s.f. Louça de barro, argila ou pó de pedra, envernizada ou
esmaltada, impermeável a líquidos e, em geral, ricamente decorada
7. Neste conto, o autor realiza a descrição
em dois momentos:
1) a região hidrográfica, e;
2) a índia Mura
O narrador utiliza grande quantidade de
adjetivos nas suas descrições.
8. A descrição do rio é muito rica, com uma
linguagem clássica de termos,
especificamente, regionais e/ou
amazonenses.
A escrita é fascinante que nos faz viajar
com o narrador, podendo até se
transformar numa poesia, que demonstra
o Edenismo:
9. Estridulavam
os japiins e os japós
na alta ramada
de alguma enorme sumaumeira,
pinica-paus martelavam
nos troncos, sururinas e macucauas
piavam,
um tamburupará sonolento adormecia.
2º parágrafo, pág. 85
10. O autor utiliza a riqueza dos termos
amazônicos para descrever a rede
hidrográfica e, também, a beleza florestal,
conforme slide anterior.
Na pág. 86, a rica expressão ao demonstrar
as águas do rio invadindo a floresta: “era
um oceano, mas sem arfadas, nem ondas,
nem espumas, no brilho frio das ágatas
negras.”
(Arfadas – sem respirar/ ágatas - pedras)
11. O narrador inicia seu encontro com a “decana dos
mura” os adjetivos são depreciativos, parecendo a
representação do Infernismo :
“Qual o animal desta toca lastimável, nessa
paragem? ...para se refugiar..., vegetando
esquecido...? Só algum desertor ou índio,...
(pág. 88, 1º$)
O narrador é surpreendido por “forma
hedionda...erguendo-se.” Estarrecido, pôs-se a
examiná-la.
(pág. 88, 2$)
12. A sua descrição é horrenda, onde faz uso
de termos depreciativos, quanto a sua
aparência:
“Era uma mulher,...adiposa, nudez
asquerosa, d’evidências repugnantes,
...ventre monstruoso,... A boca murcha e
sem lábios. O colo revestido de pelangas
nojentas,...banhas flácidas...”
(pág. 88, 2º§)
13. “...falou a abominável criatura,... (pág. 88, 3º§)
“...era a megera, que me olhava, o mais antigo e
pavoroso exemplar.”
(pág. 89, início da página 9ª linha)
Para o narrador, até a Morte esqueceu dessa índia,
pelo local onde escolheu ficar. (pág. 89, 2º§)
Ainda ele diz: “...e tão longe!... Para chegar até o
monstro!...
(pág. 89, 2º§)
14. O narrador utiliza expressões impressionantes e com
riquezas nos adjetivos para descrever a bacia amazônica.
No entanto, quando depara com um ser que é semelhante a
ele, o descreve como “um monstro” e com outros adjetivos
depreciativos.
Apresenta poucos detalhes sobre a grande exterminação
indígena, causada pelos “brancos”, além de informar que
“há algumas amostras escassas da tribo – miserável
rebotalho, atascado de álcool, ladrão e vadio.”
Uma visão distorcida e preconceituosa que perdura até os
dias atuais.