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Graduac~ao Curso de Licenciatura em Matematica 
Modelagem Matematica 
Jos´e Angel D´avalos Chuquipoma 
UFSJ 
MEC / SEED /UAB 
2012 
1
Modelagem Matem´atica / Jos´e Angel D´avalos Chuquipoma. - S˜ao 
Jo˜ao del-Rei, MG: UFSJ, 2012. 
139p. 
Curso de Gradua¸c˜ao “Licenciatura”em Matem´atica. 
1. Modelagem Matem´atica 2. Matem´atica I. Chuquipoma, J. A. D. II. 
T´ıtulo 
2
Sumario 
MODELAGEM MATEMATICA 5 
UNIDADE I - MODELAGEM MATEMATICA E FORMULAC ~AO DE 
PROBLEMAS 6 
1.1 Modelagem Matem´atica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 
1.1.1 O Que ´e Modelagem? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 
1.1.2 O Que ´e Modelagem Matem´atica? . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 
1.1.3 A Modelagem no contexto da Educa¸c˜ao Matem´atica . . . . . . . 11 
1.1.4 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 
1.2 Formula¸c˜ao de Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 
1.2.1 Escolha de Temas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 
1.2.2 Coleta de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 
1.2.3 Formula¸c˜ao de Modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 
1.2.4 Atividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 
UNIDADE II - O METODO DOS MINIMOS QUADRADOS 23 
2.1 Ajuste de Curvas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 
2.2 O M´etodo dos M´ınimos Quadrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 
2.3 Ajuste Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 
2.3.1 Ajuste Linear para o Modelo Exponencial . . . . . . . . . . . . 34 
2.3.2 Ajuste Linear de Modelos Geom´etricos . . . . . . . . . . . . . . 38 
2.4 Ajuste Quadr´atico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 
2.5 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 
UNIDADE III - EQUAC ~OES DE DIFERENCAS 46 
3.1 Varia¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 
3.1.1 Varia¸c˜oes Discretas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 
3.1.2 Varia¸c˜oes Cont´ınuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 
3.2 Equa¸c˜oes de Diferen¸cas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 
3.2.1 Equa¸c˜oes de Diferen¸cas Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 
3.2.2 Sistemas de Equa¸c˜oes de Diferen¸cas . . . . . . . . . . . . . . . . 66 
3.2.3 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 
3
UNIDADE IV - EQUAC ~OES DIFERENCIAIS ORDINARIAS 72 
4.1 Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´arias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 
4.1.1 Defini¸c˜oes B´asicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 
4.1.2 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 
4.2 Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´arias de 1a Ordem . . . . . . . . . . . . . . 79 
4.2.1 Vari´aveis Separ´aveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 
4.2.2 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 
4.3 Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´arias de 2a Ordem . . . . . . . . . . . . . . 91 
4.3.1 Redu¸c˜ao de Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 
4.3.2 Atividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 
4.3.3 Equa¸c˜oes Lineares de Segunda Ordem com Coeficientes Constantes 99 
4.3.4 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 
UNIDADE V - APLICAC ~OES DE EQUAC ~OES DIFERENCIAIS OR-DIN 
ARIAS 112 
5.1 Modelos de Dinˆamica Populacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 
5.1.1 Modelo de Malthus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 
5.1.2 Modelo de Verhulst . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 
5.1.3 Modelo de Lotka - Volterra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 
5.1.4 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 
Respostas das Atividades 134 
6.1 Respostas das Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 
REFER^ENCIAS 140 
4
MODELAGEM MATEMATICA 
Seja bem-vindo (a) 
ao M´odulo da Disciplina Modelagem Matem´atica ! 
Este texto destina-se ao curso de gradua¸c˜ao a distˆancia da disciplina de Modelagem 
Matem´atica no marco da Universidade Aberta do Brasil -UAB. O objetivo principal do 
conte´udo do m´odulo ´e fornecer ao aluno um texto que desenvolva os t´opicos principais 
da ementa desta mat´eria que normalmente n˜ao ´e poss´ıvel encontrar num ´unico texto, 
facilitando, assim, o entendimento por parte do aluno no estudo desta mat´eria. 
A informa¸c˜ao te´orica apresentada ´e complementada com os exerc´ıcios propostos, com 
a inten¸c˜ao de que o aluno mostre os conhecimentos adquiridos no texto e nos exemplos 
resolvidos. Os temas que apresentamos e discutimos neste texto s˜ao divididos em cinco 
unidades que a seguir detalhamos. 
A primeira unidade se destina ao estudo dos aspectos te´oricos da Modelagem Ma-tem 
´atica, onde s˜ao abordadas as etapas da modelagem e em especial as etapas do 
processo da Modelagem Matem´atica, escolha de temas, formula¸c˜ao de modelos. 
Na segunda unidade, estudamos o m´etodo dos m´ınimos quadrados e suas implicˆancias 
no ajuste linear de curvas para os modelos de tipo exponencial e geom´etrico, como 
tamb´em para o ajuste quadr´atico. 
Na terceira unidade, estudamos as equa¸c˜oes em diferen¸cas finitas e destacamos os mo-delos 
lineares de diferen¸cas e abordamos os conceitos de varia¸c˜oes discretas e cont´ınuas. 
A unidade quatro est´a destinada ao estudo dos aspectos introdut´orios das equa¸c˜oes di-ferenciais 
ordin´arias, enfatizando o m´etodo de vari´aveis separ´aveis para solucionar uma 
equa¸c˜ao ordin´aria de primeira ordem; solucionamos uma equa¸c˜ao de segunda ordem 
homogˆenea com coeficientes constantes, consideramos exemplos de aplica¸c˜ao. 
Por ´ultimo, na quinta unidade, s˜ao vistos alguns problemas de aplica¸c˜ao das equa¸c˜oes 
diferenciais: abordamos problemas da dinˆamica populacional, entre eles o modelo de 
Malthus, o modelo de Verhulst e o modelo de Lotka-Volterra. 
Apesar de este texto apresentar um conte´udo b´asico, ´e importante consultar outras 
fontes com o intuito de enriquecer os conceitos, bem como auxiliar na resolu¸c˜ao dos 
exerc´ıcios. 
O autor 
5
Unidade I 
MODELAGEM MATEMATICA 
E 
FORMULAC ~AO DE PROBLEMAS 
6
1.1 Modelagem Matematica 
Objetivos 
• Interpretar as etapas presentes no processo da modelagem. 
• Explicitar a importˆancia da matem´atica para a forma¸c˜ao do aluno. 
• Aplicar os conhecimento obtidos na formula¸c˜ao de novos problemas que envolvem 
a modelagem matem´atica. 
1.1.1 O Que e Modelagem? 
A diversidade de fenˆomenos presentes ao longo do desenvolvimento de nossa hist´oria 
tem sido um dos fatos pelos quais o homem vem se superando atrav´es das gera¸c˜oes, com 
o intuito de ir al´em do desconhecido; estes fenˆomenos ou obst´aculos tˆem permitido que 
cada pessoa construa o seu conhecimento dentro de suas pr´oprias limita¸c˜oes, quer dizer, 
vai criando conhecimentos ante seus pr´orios problemas da vida cotidiana. Ent˜ao, po-demos 
dizer que esta ´e uma maneira de como o homem (aprendedor) constitui o sujeito 
do processo congnitivo, que, dependendo de nossas capacidades, vamos estabelecendo 
um conjunto de informa¸c˜oes, ideias e abstra¸c˜oes da realidade, cujo comportamento 
desejamos analisar e interpretar em um linguagem l´ogica, com caracter´ısticas similares 
`a magnitude do problema; conceitualmente, isto ´e o que ´e conhecido como modelo de 
um problema. 
Assim, se o modelo obtido n˜ao consegue interpretar a realidade do problema, seja por 
diversos fatores como tamanho do problema, complexidade etc., somos obrigados a 
simplificar as hip´oteses(informa¸c˜oes) do objeto de estudo (fenˆomeno) para obter um 
modelo com caracter´ısticas semelhante ao problema, por´em descartanto caracter´ısticas 
ou comportamentos menos importantes ou secund´arios. 
Neste contexto, entendemos por Modelagem o processo de aproximar ou transformar 
problemas concretos do mundo real em modelos de problemas que simulem de forma 
´otima o objeto de estudo e assim poder resolvˆe-los para interpretar suas solu¸c˜oes de 
forma clara. 
Etapas da Modelagem 
Ap´os ter entendido o conceito de modelagem, surge a quest˜ao: como ´e que podemos 
confrontar problemas do mundo real com modelos que possam interpretar tais proble-mas? 
Para responder essa pergunta, explicaremos a seguir as etapas ou momentos que 
7
devem ser tidos em conta na Modelagem. 
Primeira Etapa: A primeira etapa consiste em reconhecer a existˆencia de um pro-blema 
real, no sentido de ser significativo, isto ´e, determinar a situa¸c˜ao do problema a 
ser modelado, quer dizer, determinar seu fator de impacto no mundo real. 
Exemplo 1 Quando queremos prevenir a redu¸c˜ao do nivel do len¸col fre´atico, causado 
pelo desmatamento ou reflorestamento das ´areas florestais, isso constitui um problema 
de impacto florestal, que exige significa¸c˜ao, avalia¸c˜ao e cr´ıtica. 
Segunda Etapa: Designado o problema, a segunda etapa da Modelagem exige hip´oteses 
de simplifica¸c˜ao, ou seja, devemos conhecer o problema e simplific´a-lo; n˜ao simplifica-mos 
o problema real e sim introduzimos hip´oteses que simplificam sua abordagem. 
Todo problema nesta etapa deve ser tratado com um grau de simplifica¸c˜ao, e, `as vezes, 
a simplifica¸c˜ao ´e feita para facilitar a resolu¸c˜ao do modelo. 
Exemplo 2 No caso do problema de impacto florestal, o estudo ´e feito em uma regi˜ao 
do plano onde o meio poroso ´e homogˆeneo e isotr´opico (ou seja, possui as mesmas carac-ter 
´ısticas em todas as dire¸c˜oes e em todos os pontos); desta forma ´e que simplificamos 
as hip´oteses com o objetivo de poder fazer um estudo de forma clara. 
Terceira Etapa: No passo seguinte do processo da Modelagem temos a terceira etapa, 
que consiste na resolu¸c˜ao do modelo decorrente atrav´es de diversas ´areas do conheci-mento; 
nesta etapa ´e muito importante a aproxima¸c˜ao do modelo a considerar. 
Exemplo 3 O modelo aproximado do problema de impacto florestal ´e dado atrav´es 
de um modelo de tipo matem´atico definido por uma equa¸c˜ao em derivadas parciais 
cuja solu¸c˜ao ´e dada pela fun¸c˜ao potencial e por uma fun¸c˜ao que define a localiza¸c˜ao 
do len¸col fre´atico. 
Quarta Etapa: Na quarta etapa, temos a avalia¸c˜ao das solu¸c˜oes encontradas na 
etapa anterior, de acordo com a quest˜ao real do problema a modelar. 
Quinta Etapa: Nesta quinta e ´ultima etapa da Modelagem, o que devemos ter em 
considera¸c˜ao ´e definir a decis˜ao com base nos resultados obtidos. ´E 
assim que, atrav´es 
da Modelagem, conseguimos obter melhores condi¸c˜oes para decidir o que fazer frente 
a um fenˆonemo ou a uma situa¸c˜ao real. 
Na Figura 1.1 damos um esquema do processo da modelagem. 
8
Figura 1.1: Processo da Modelagem 
1.1.2 O Que e Modelagem Matematica? 
A Modelagem Matem´atica ´e uma mat´eria da Matem´atica que teve seu in´ıcio na an-tiguidade 
a partir de problemas pr´aticos; a inven¸c˜ao da roda pelos sum´erios, aproxi-madamente 
3.000 anos a.C., foi, por exemplo, um dos primeiros modelos matem´aticos 
produzidos pela humanidade que se conhece; eles observaram um tronco de ´arvore 
rolando por um declive e tiveram a ideia de transportar cargas pesadas colocando-as 
sobre objetos rolantes. 
Modelos descrevem as nossas cren¸cas sobre como o mundo funciona. Na modelagem 
matem´atica, traduzimos essas cren¸cas em termos da linguagem da matem´atica. Isso 
tem muitas vantagens: primeiro, Matem´atica ´e uma linguagem muito precisa. Isso nos 
ajuda a formular ideias e estabelecer premissas importantes; segundo, a matem´atica ´e 
uma linguagem concisa, com regras bem definidas para manipula¸c˜oes; terceiro, todos 
os resultados que os matem´aticos provaram ao longo de centenas de anos est˜ao `a nossa 
disposi¸c˜ao, e, por ´ultimo, os computadores podem ser usados para realizar os c´alculos 
num´ericos. 
Segundo BASSANEZI (2011), a Modelagem Matem´atica ´e a arte de transformar proble-mas 
da realidade em problemas matem´aticos e resolvˆe-los, interpretando suas solu¸c˜oes 
na linguagem do mundo real. Assim, entre essas novas formas de considerar e entender 
a Modelagem, podemos concluir que a Modelagem Matem´atica ´e utilizada como um 
m´etodo cient´ıfico de pesquisa ou tamb´em como uma estrat´egia de ensino-aprendizagem. 
9
Podemos inferir ent˜ao que a Modelagem Matem´atica surgiu da necessidade do homem 
em resolver determinadas situa¸c˜oes ou problemas do seu dia a dia. Nesse sentido, 
pode-se dizer que Modelagem Matematica ´e o processo que envolve a obten¸c˜ao de 
um modelo que tenta descrever matematicamente um fenˆomeno da nossa realidade para 
tentar compreendˆe-lo e estud´a-lo, criando hip´oteses e reflex˜oes sobre tais fenˆomenos. 
H´a um grande elemento de compromisso em modelagem matem´atica. A maioria dos 
sistemas que interagem no mundo real s˜ao demasiado complicados para modelar, na 
sua totalidade. Da´ı o primeiro n´ıvel de compromisso ´e o de identificar as partes mais 
importantes do sistema. Essas ser˜ao inclu´ıdas no modelo, o restante ser´a exclu´ıdo. O 
segundo n´ıvel de compromisso diz respeito `a quantidade de manipula¸c˜ao matem´atica 
que vale a pena. Embora a matem´atica tenha o potencial de revelar os resultados 
gerais, estes resultados depender˜ao essencialmente da forma das equa¸c˜oes utilizadas. 
Pequenas altera¸c˜oes na estrutura das equa¸c˜oes podem exigir enormes mudan¸cas nos 
m´etodos matem´aticos utilizados. 
Que objetivos pode a modelagem alcan¸car? A Modelagem Matem´atica pode ser usada 
para uma s´erie de raz˜oes diferentes, qualquer objetivo espec´ıfico a ser alcan¸cado, de-pende 
tanto do estado do conhecimento do sistema e de como a modelage ´e feita.. 
Entre as muitas variedade de objetivos temos 
• desenvolver a compreens˜ao cient´ıfica - atrav´es da express˜ao quantitativa do conhe-cimento 
atual de um sistema (bem como exibir o que sabemos ou o que n˜ao sa-bemos); 
• testar o efeito de altera¸c˜oes no sistema; 
• tomar uma decis˜ao, incluindo decis˜oes t´aticas dos gestores e as decis˜oes es-trat 
´egicas por planejadores. 
Nesse contexto, o esquema da Modelagem dada pela Figura 1.1, em termos da Mode-lagem 
Matem´atica ´e dado atrav´es da Figura 1.2: 
10
Figura 1.2: Esquema do Processo de Modelagem Matem´atica. Adapta¸c˜ao de Burghes 
e Borrie, (1981). Fonte: DA COSTA, J. F. M.; CALDEIRA, A. D.; DOS SANTOS, 
A. P, 1999. 
1.1.3 A Modelagem no contexto da Educac~ao Matematica 
Pelo que foi dado anteriormente, quando estamos familiarizados com a Modelagem, 
em que o aluno ´e o sujeito do processo cognitivo e n˜ao somente com problemas ma-tem 
´aticos, o pesquisador ou pessoa que trabalha nesta ´area vai ter uma maior capaci-dade 
em lidar com a Modelagem Matem´atica. De outro lado, muitas vezes, temos a 
ideia de que trabalhar na Modelagem com conte´udos matem´aticos altamente sofistica-dos 
´e uma condi¸c˜ao que n˜ao se pode deixar de lado; isso, em geral, n˜ao ´e verdade, pois 
a matem´atica a se utilizar deve ser aquela que permita a resolu¸c˜ao do problema a tratar. 
O procedimento ou processo de Modelagem Matem´atica no contexto da educa¸c˜ao ma-tem 
´atica, al´em das etapas presentes no processo, deve estar unido `a introdu¸c˜ao do 
problema por meio de informa¸c˜oes adicionais, como por exemplo, uma figura, um es-quema 
ou um fluxograma; de tal maneira que possa facilitar ao aluno o entendimento 
da situa¸c˜ao do problema a estudar e das diversas formas de modelagens matem´aticas. 
Assim, isso quer dizer que a Modelagem Matem´atica, no campo da educa¸c˜ao, tem que ir 
al´em das etapas que o caracterizam, de fato; devemos entender que, quando na sala de 
aula o professor ministra o que preparou ou programa com anticipa¸c˜ao aquele conte´udo 
11
matem´atico com o intuito de que os alunos aprendessem, s˜ao na verdade ferramentas 
necess´arias mas n˜ao suficientes para que o aluno comprenda o problema, o que significa 
que ´e precisso cobrir esse vazio que ainda est´a presente na educa¸c˜ao matem´atica. 
O exemplo seguinte representa um problema que pode ser interpretado atrav´es da 
Modelagem Matem´atica. 
Exemplo 4 (Controle Biologico de pragas) Desejamos combater biologicamente 
uma praga de insetos em uma planta¸c˜ao sem o uso de substˆancias agroqu´ımicas. 
A estrat´egia a utilizar ´e a seguinte: controlamos a popula¸c˜ao de insetos fazendo uma 
planta¸c˜ao inicial da planta atacada com o objetivo de atrair os insetos a serem com-batidos, 
para posteriormente serem recolhidos. No caso poss´ıvel de obter resultados 
positivos, teremos determinado na verdade o fator de impacto do problema, pois, sem 
o uso de substˆancias qu´ımicas, o custo econˆomico resulta ser muito confort´avel, deter-minando 
dessa forma a situa¸c˜ao do problema (primeira etapa). 
Claro est´a que devemos de considerar o caso em que temos um porcentagem m´axima 
de perda p relativa `a planta¸c˜ao inicial, isso devido ao fato que pode n˜ao existirem 
insetos na planta¸c˜ao inicial, o que origina uma coleta nula de insetos. O problema ser´a 
solucionado se conseguimos determinar a largura de uma faixa em torno de uma regi˜ao 
plantada em que pudesse ser colocada a planta¸c˜ao inicial, tendo em considera¸c˜ao o 
percentual m´aximo de perda p. 
Supondo que a regi˜ao de planta¸c˜ao seja um retˆangulo e que a produ¸c˜ao da planta¸c˜ao 
seja igual `a ´area plantada, estamos na verdade simplificando as hip´oteses, ´e dizer que 
fazemos uso de umas das etapas do processo da modelagem, isto ´e, a hip´otese de sim-plifica 
¸c˜ao (segunda etapa). Representando por x a largura da faixa ao redor do campo 
retangular EFGH, ver Figura 1.3. 
Considerando um campo retangular de dimens˜oes M = 90 e N = 45 dados em metros, 
com um porcentual m´aximo de perda p = 5%, vemos da Fifura 1.3 que as dimens˜oes 
do retˆangulo interior EFGH s˜ao 90 − 2x e 45 − 2x metros. 
Da hip´otese, temos que a produ¸c˜ao da planta¸c˜ao (1 − p)MN ´e igual `a ´area plantada 
(M − 2x)(N − 2x), isto ´e, 
(1 − 0, 05)(90)(45) = (90 − 2x)(45 − 2x), 
ou 
3847, 5 = (90 − 2x)(45 − 2x) = 4x2 − 270x + 4050 
12
Figura 1.3: Geometria do problema 
obtendo a express˜ao quadr´atica 
4x2 − 270x + 202, 5 = 0, 
ou ainda 
2x2 − 135x + 101, 25 = 0, 
o que significa que o modelo matem´atico de nosso problema ´e dado por uma equa¸c˜ao 
quadr´atica; encontrando as ra´ızes do polinˆomio de grau dois, estaremos resolvendo 
nosso problema (terceira etapa). Logo, utilizando a f´ormula que nos permite encontrar 
ra´ızes de uma equa¸c˜ao quadr´atica, temos 
x = 
135 ± 
√ 
1352 − 4.2.101, 25 
4 
13
obtendo os seguintes valores aproximados x = 66, 741 ou x = 0, 75. 
Embora ambos os valores matem´aticamente sejam corretos, observamos que o valor de 
x = 66, 741 metros n˜ao faz sentido, pois a largura da faixa no interior da planta¸c˜ao deve 
ser menor que 45 metros; isso corresponde `a avalia¸c˜ao dos resultados (quarta etapa), 
o que implica que a largura da faixa da planta¸c˜ao inicial deve ser aproximadamente 
x = 0, 75 metros. Por ´ultimo, devemos tomar a decis˜ao correta, se for razo´avel ou n˜ao 
o resultado obtido de 0, 75 metros da largura da faixa (quinta etapa). 
No exemplo anterior, vemos a importˆancia de representar o problema por meio de um 
desenho, pois isso nos d´a uma vis˜ao global do entendimento da situa¸c˜ao do problema. 
Como trabalhar com a Modelagem Matematica em sala de 
aula? 
J´a no setor da educa¸c˜ao, o ensino-aprendizagem realizado atrav´es da Modelagem Ma-tem 
´atica, permite lidar satisfatoriamente tanto entre a combina¸c˜ao dos aspectos da 
matem´atica como com suas aplica¸c˜oes; isso faz parte de um dos objetivos que pre-tendemos 
atingir nesta disciplina. Confiamos nos professores de matem´atica, temos a 
obriga¸c˜ao de mostrar aos alunos estas duas alternativas que se complementam. Outro 
aspecto a se ter em considera¸c˜ao para trabalhar com Modelegem Matem´atica em sala 
de aula ´e que, devido a se caracterizar como um ambiente de ensino-aprendizagem, os 
alunos s˜ao convidados a indagar e/ou investigar, por meio da matem´atica, situa¸c˜oes 
provenientes de outras ´areas. 
Assim, temos que ressaltar a importˆancia da integra¸c˜ao de situa¸c˜oes provenientes do 
cotidiano e de outras ´areas do conhecimento na sala de aula, com o prop´osito de possi-bilitar 
aos alunos intervirem na sua realidade. Por ´ultimo, os parˆametros que devemos 
deixar claro aos alunos no ˆambito da investiga¸c˜ao e compreens˜ao em aula, envolvem 
os seguintes aspectos: “identificar o problema; procurar, selecionar e interpretar in-forma 
¸c˜oes relativas ao problema; formular hip´oteses e prever resultados; selecionar 
estrat´egias de resolu¸c˜ao de problemas; fazer e validar conjecturas, experimentando, 
recorrendo a modelos, esbo¸cos, fatos conhecidos, rela¸c˜oes e propriedades.” 
14
1.1.4 Atividades 
1. Uma praga de cigarrinhas ataca uma planta¸c˜ao de arroz; deseja-se controlar, bio-logicamente 
a praga, atrav´es de uma estrat´egia ´otima dada no Exemplo 4. Tendo 
em considera¸c˜ao uma margem de perda ao redor de 4% ao supor uma planta¸c˜ao 
inicial para recolher as cigarrinha e supondo a ´area de planta¸c˜ao um campo re-tangular 
de dimens˜oes M = 80m e N = 35m, encontre a largura da faixa em 
torno da planta¸c˜ao do campo retangular. 
2. No exerc´ıcio anterior, identifique e explique as etapas que est˜ao presentes na Mo-delagem 
Matem´atica. 
3. Um fazendeiro deseja circundar uma regi˜ao junto a um rio com uma cerca de 120 
metros de comprimento para encerrar seus animais. Se a regi˜ao ´e representada 
por um retˆangulo (hip´oteses de simplifica¸c˜ao), fa¸ca a Modelagem Matem´atica do 
problema, para determinar as dimens˜oes do retˆangulo para que a ´area cercada 
seja a maior poss´ıvel. 
4. Como vocˆe faria uma Modelagem Matem´atica dos seguintes problemas: 
a) A press˜ao exercida por uma massa de um g´as ´e diretamente proporcional `a 
temperatura absoluta e inversamente proporcional ao volume ocupado pelo g´as 
(Gases perfeitos). 
b) A resistˆencia de um fio condutor ´e diretamente proporcional ao seu compri-mento 
e inversamente proporcional `a ´area de sua se¸c˜ao reta (Resistˆencia el´etrica). 
c) Dois corpos de massas m1 e m2 se atraem em raz˜ao direta das massas e na 
raz˜ao inversa do quadrado das distˆancias (Lei da gravita¸c˜ao universal). 
5. No Exemplo 4 do controle biol´ogico de pragas, fa¸ca um esquema do processo de 
Modelagem Matem´atica igual que ao mostrado na Figura 1.2 para este problema. 
15
1.2 Formulac~ao de Problemas 
Objetivos 
• Criar modelos matem´aticos de problemas concretos do mundo real. 
• Reconhecer os tipos de formula¸c˜oes de problemas em termos matem´aticos. 
Nesta se¸c˜ao estabeleceremos mecanismos para a formula¸c˜ao e obten¸c˜ao de problemas 
novos; cabe ressaltar que n˜ao existe a priori f´ormula alguma que nos permita como 
resolver habilidades de matem´atica nem tampoco como adquiri-las, mas isso n˜ao im-pede 
o nosso interesse em desenvolver estrat´egias que possamos considerar no in´ıcio da 
modelagem sem ir al´em do objetivo principal, que ´e o ensino-aprendizagem. 
Entretanto, o que entendemos por habilidades neste contexto ´e a capacidade de poder 
tomar um problema concreto com algum grau de dificuldade e transform´a-lo em um 
modelo matem´atico para posteriormente solucion´a-lo e possa ser interpretado em ter-mos 
do problema incial. 
Figura 1.4: Processo Simplificado da Modelagem Matem´atica. Fonte: BASSANEZI, 
R. C, 2011. 
16
1.2.1 Escolha de Temas 
Neste cen´ario da modelagem, o tema de estudo escolhido resulta ser o in´ıcio do processo, 
pois o conte´udo matem´atico a utilizar ainda ´e desconhecido; ent˜ao, um dos mecanis-mos 
a empregar nesta situa¸c˜ao ´e come¸cando a contar ou medir, com o intuito de se 
obter uma tabela de dados de tal maneira que possamos representar em um sistema 
de referˆencia (por exemplo um sistema cartesiano) a visualiza¸c˜ao do evento em estudo. 
Esta representa¸c˜ao dos dados com certeza vai dar origem a conjecturas, e tamb´em `a 
formula¸c˜ao de modelos matem´aticos. 
A escolha de temas tem que ser feita de forma completa e motivadora para que possa 
ter um fator de interesse na ´area da pesquisa dos alunos. Por exemplo, se o tema esco-lhido 
for o desmatamento, ent˜ao podemos pensar em modelar o problema de impacto 
ambiental do deslizamento de terra ou pensar em modelar atrav´es de um problema 
matem´atico de fronteira livre. 
A importˆancia da escolha de temas tamb´em reside em que estes sejam escolhidos pelos 
pr´oprios alunos com o pr´oposito de que, junto com o professor, se sintam respons´aveis 
pelo processo da modelagem; o desenvolvimento deve ser feito em grupos, cada um 
deles com sua pr´opria responsabilidade, com o objetivo de obter resultados positivos 
da modelagem do problema. 
1.2.2 Coleta de dados 
Depois de ter escolhido o tema, o procedimento seguinte ser´a a coleta de dados, que 
consiste basicamente em buscar informa¸c˜oes (medi¸c˜oes, resultados estat´ısticos etc.) 
relacionadas com o objeto de estudo. Os dados coletados devem ser organizados em 
tabelas que, por sua vez, podem ser utilizadas na elabora¸c˜ao dos gr´aficos da curva de 
tendˆencias. A coleta de dados qualitativos ou num´ericos pode ser efetuada aplicando-se 
as seguintes t´ecnicas: 
1. por meio de entrevistas e pesquisas realizadas com os m´etodos de amostragem 
aleat´oria; neste caso, s˜ao fundamentais a qualidade das perguntas e no¸c˜oes de 
Estat´ıstica; 
2. atrav´es de pesquisa bibliogr´afica, uso da internet, procurando informa¸c˜ao em 
livros e revistas especializadas; 
3. por meio de experiˆencias dos pr´oprios alunos. 
Nesse processo de obter dados sobre a realidade a ser modelada, estamos desenvolvendo, 
em outras palavras, um processo de experimentar novas informa¸c˜oes. 
17
1.2.3 Formulac~ao de Modelos 
Uma vez feita a coleta de dados, o seguinte passo ´e a formula¸c˜ao matem´atica dos mo-delos. 
A formula¸c˜ao matem´atica de modelos podem ser dada de dois tipos: formula¸c˜ao 
est´atica e formula¸c˜ao dinˆamica. 
1. Formulac~ao Estatica 
Estas formula¸c˜oes matem´aticas envolvem equa¸c˜oes ou fun¸c˜oes dependendo de uma ou 
mais vari´aveis; geralmente, essas formula¸c˜oes utilizam conceitos relacionados com a 
Geometria, onde a vari´avel tempo n˜ao tem importˆancia alguma. 
Exemplo 5 (Predador - Presa) Em uma popula¸c˜ao de veados se observa que a 
taxa de mortalidade est´a inflingida por uma popula¸c˜ao de le˜oes; sabendo-se que a taxa 
de mortalidade ´e proporcional ao n´umero de veados e tamb´em ao n´umero de le˜oes, 
desejamos obter um modelo matem´atico que interprete o problema de encontrar a taxa 
de mortalidade dos veados. 
Primeiramente, da teoria de grandezas proporcionais lembramos o seguinte: se uma 
grandeza z = f(x, y) ´e proporcional a x, enquanto y permanece constante, e quando z 
´e proporcional a y enquanto x permanece constante, ent˜ao z ´e proporcional ao produto 
xy, isto ´e, 
z = c.xy 
onde c ∈ R. 
Ent˜ao, denotando por z a taxa de mortalidade do n´umero de veados, x o n´umero de 
veados e y o n´umero de le˜oes, vemos pelo anterior que a hip´oteses de manter constante 
uma das vari´aveis x e y implica que 
f(x, y) = b.xy, 
onde b ´e uma constante. Assim, a taxa de mortalidade dos veados ´e dado pela express˜ao 
z = b.xy 
O fato de considerar b constante n˜ao ´e sempre satisfeita; logo, aqui estamos fazendo 
uso da hip´oteses de simplifica¸c˜ao do processo de modelagem. 
18
2. Formulac~ao Din^amica 
Em geral, esta formula¸c˜ao de modelos dinˆamicos (modelos que dependem do tempo) 
cont´em dois tipos de vari´aveis, chamadas vari´aveis dependentes e vari´aveis indepen-dentes. 
Essa dependˆencia ´e dada atrav´es de uma rela¸c˜ao entre essas vari´aveis. 
Exemplo 6 Do exemplo anterior podemos considerar um problema mais realista ao 
considerar a taxa de mortalidade junto com o n´umero de veados e le˜oes dependendo 
do tempo t. 
Com efeito, representando por x(t) o n´umero de veados e y(t) o n´umero de le˜oes 
no tempo t, claro est´a que a taxa de mortalidade neste caso vai depender tamb´em do 
tempo; assim, temos que a taxa de mortalidade dos veados ´e dada pelo modelo seguinte: 
z(t) = b.x(t)y(t) 
Por ´ultimo, no caso de n˜ao existirem as hip´oteses de proporcionalidade apresentadas 
nos exemplos vistos, ter´ıamos dificuldade em obter com exatid˜ao a rela¸c˜ao funcional 
f(x, y); assim, devemos deixar indicado que uma coleta de dados facilitaria o estudo, 
pois, utilizando-se t´ecnicas estat´ısticas, ´e poss´ıvel ter uma aproxima¸c˜ao do problema. 
Exemplo 7 Em uma pesquisa feita por um grupo de bi´ologos para obter medidas 
biom´etricas de atuns em uma gaiola, foram obtidos os seguintes dados do peso (gra-mas) 
e o comprimento (cent´ımetros) m´edio de uma fam´ılia de atuns em rela¸c˜ao `a sua 
idade t dada em anos: 
t idade comprimento (cm) peso (gr) 
2 163.9 0.68 
3 170 0.91 
4 176.1 1.0 
5 182.2 1.2 
6 188.3 1.38 
7 195.4 1.48 
8 203.2 1.69 
9 210 1.8 
10 212.7 2.3 
19
Deseja-se encontrar uma rela¸c˜ao funcional entre o peso e o comprimento dos atuns 
atrav´es da tabela anterior. 
Soluc~ao 
Definindo as seguintes vari´aveis 
x e y como sendo o comprimento e peso m´edio respectivamente. 
Podemos relacionar essas vari´aveis num sistema referencial por meio do gr´afico de dis-pers 
˜ao, Figura 1.5. 
Figura 1.5: Gr´afico de dispers˜ao. 
Esses dados estat´ısticos (tabela) podem ser aproximados por uma curva de regress˜ao 
(a ser definida no pr´oximo cap´ıtulo), curva vermelha na Figura 1.6. 
A curva de regress˜ao indica o comportamento ou tendˆencia de tipo geral entre o peso 
e o comprimento m´edio dos atuns. O gr´afico de dispers˜ao constitui um primeiro passo 
para uma Modelagem Matem´atica. Observamos que os pontos (x, y) n˜ao est˜ao sobre 
a curva. Uma rela¸c˜ao funcional, obtida atrav´es de um ajuste de dados, proporciona 
informa¸c˜oes iniciais para a elabora¸c˜ao de hip´oteses e tamb´em para a formula¸c˜ao de 
modelos. 
Pesquisas biol´ogicas estabelecem que o modelo matem´atico pode ser dado pela rela¸c˜ao 
funcional 
y(x) = kx, (1.1) 
20
Figura 1.6: Curva de regress˜ao 
onde k ´e a taxa de metabolismo e α d´a informa¸c˜ao em termos matem´aticos da forma 
do atum. Devido `a caracter´ıstica das vari´aveis consideradas, a rela¸c˜ao funcional ainda 
pode ser considerada como um modelo est´atico, pois n˜ao existe uma rela¸c˜ao de depˆendencia 
na vari´avel temporal t em (1.1). 
Modelos dinˆamicos tamb´em podem ser considerados no caso em que tenhamos as se-guintes 
rela¸c˜oes funcionais 
y(t) = y0 
( 
1 − e−(
=3)t 
)3 
ou x(t) = x0(1 − e−
t), 
onde β ´e a constante de metabolismo e representa a taxa de energia gasta para o atum 
se movimentar, y0 e x0 s˜ao os respectivos valores m´aximos de y e x. Esses modelos s˜ao 
chamados modelos de Von Bertalanffy, ver BASSANEZI (2011). 
21
1.2.4 Atividade 
1. Suponhamos que em uma fam´ılia de Heterodon nasicus (cobra), todas as cobras 
desta esp´ecie sejam jovens ou velhas e que tenham a mesma forma e o mesmo 
peso espec´ıfico, se a taxa de metabolismo ´e k = 446 e α = 3 e o peso dado em 
gramas e o comprimento dado em metros. 
a). Encontre a rela¸c˜ao funcional entre as vari´aveis comprimento e peso que define 
o modelo matem´atico; logo, determine se o modelo ´e de tipo est´atico ou dinˆamico. 
b). Determine o peso para um grupo de cobras cujos comprimentos s˜ao dados 
por 
COMPRIMENTO 0,4 0,6 0,8 1 
c). Se a taxa de metabolismo para o modelo de Von Bertalanffy ´e β = 3 e 
x0 = 1, y0 = 446, λ = 1, encontre o peso e o comprimento para um conjunto de 
cobras depois de um mˆes. 
2. Em certa esp´ecie de peixes, verificou-se que o consumo de oxig´enio O(l) dos peixes 
por unidade de peso diminui com o aumento de seu comprimento l atrav´es da 
rela¸c˜ao funcional (modelo matem´atico): 
O(l) = kql 0 ≤ l ≤ 80, 
para certos parˆametros k e q. Estimar k e q utilizando os seguintes dados: 
l (cm) 0 10 30 50 60 70 80 
O (ml) 121 74 30 12 6,7 3,7 2 
3. Uma planta¸c˜ao de cana de a¸c´ucar tem a forma de um retˆangulo de lados 2000 e 
3000 m. Em cada per´ıodo de planta¸c˜ao se planta uma ´area de forma retangular 
que est´a crescendo em raz˜ao de seus lados menor e lado maior a uma velocidade 
de 4m/ano e 5m/ano respectivamente. Desejamos achar o modelo matem´atico 
do problema, que consiste em encontrar a velocidade em litros por ano com que 
a produ¸c˜ao de ´alcool procedente da cana de a¸c´ucar est´a crescendo, sabendo-se 
que a produ¸c˜ao de ´alcool ´e dada pela ´area da planta¸c˜ao. 
22
Unidade II 
O METODO DOS MINIMOS 
QUADRADOS 
23
O Metodo dos Mnimos Quadrados 
Objetivos 
• Aproximar uma fun¸c˜ao qualquer (conhecida ou n˜ao) ou um conjunto de pontos 
por uma combina¸c˜ao de fun¸c˜oes conhecidas. 
• Determinar a impˆortancia do m´etodo na Modelagem Matem´atica. 
• Reconhecer a curva de regress˜ao que melhor aproxime o problema ou fenˆomeno 
estudado. 
O processo de coleta de dados constitui uma parte essencial na Modelagem Matem´atica 
e tamb´em na metodologia cient´ıfica; tamb´em ´e fundamental para o desenvolvimento e 
aplica¸c˜ao da pr´opria ciˆencia. No decorrer da Modelagem Matem´aica, a parte experi-mental 
ressalta o processo de coleta de dados. 
No processo de obten¸c˜ao de dados ou medidas utilizam-se diversos conceitos como, 
por exemplo, dados estat´ısticos, desvios, o valor mais prov´avel de uma grandeza etc. 
fazendo convoca¸c˜ao a no¸c˜oes intuitivas a cada novo conceito, isto ´e, sem a preocupa¸c˜ao 
de apresentar uma teoria axiom´atica partindo de princ´ıpios gerais. Um primeiro passo 
nessa dire¸c˜ao est´a no que se chama de M´etodo dos M´ınimos Quadrados. Este processo 
de sistematiza¸c˜ao da obten¸c˜ao de dados permite, como veremos, obter bons resultados 
no ajuste de curvas. Embora possa ser utilizado no ajuste de outras curvas, vamos 
apresentar este m´etodo e seu uso para o ajuste de retas, por ser no momento nosso 
principal objetivo. 
Entre os motivos que avaliam a utiliza¸c˜ao do m´etodo, temos desde os mais variados, 
desde o mais simples at´e os mais complicados. Por exemplo, pode-se querer manipular 
uma func˜ao complicada f(x) = cos(e(cot 2x)), ou ent˜ao encontrar uma aproxima¸c˜ao para 
fun¸c˜oes que nem s˜ao conhecidas, como por exemplo. 
24
2.1 Ajuste de Curvas 
De
nic~ao 1 (Ajuste de Curvas) Um ajuste de curvas ou `as vezes chamada curva 
de regress˜ao ´e um conjunto de t´ecnicas num´ericas que tem por objetivo expressar al-guma 
tendˆencia da rela¸c˜ao de duas grandezas. Em outras palavras, ajuste de curvas ´e 
um mecanismo ou artif´ıcio que fornece uma rela¸c˜ao funcional de uma vari´avel depen-dente 
y quando relacionada com a vari´avel independente x. 
Exemplo 8 Considerando os dados da tabela do Exemplo 7 sobre o comprimento e 
peso dos atuns, podemos ver que existe, para cada n´ıvel de comprimento x, uma distri-bui 
¸c˜ao do peso y = kx (curva de regress˜ao) em cada n´ıvel correspondente, conforme 
Figura 1.6 
Um ajuste de curvas ´e muito ´util para uma formula¸c˜ao simplificada dos dados ou 
tamb´em para uma verifica¸c˜ao de alguma tendˆencia entre as grandezas. 
No estudo de algum fenˆomeno feito por medio de dados num´ericos (dados experi-mentais) 
estamos principalmente interessados, al´em das tendˆencias fornecidas por um 
ajuste de curvas ou curva de regress˜ao, em saber se a correspondente rela¸c˜ao funcio-nal 
y = f(x) ´e compat´ıvel para futuras previs˜oes de y no caso em que x est´a fora do 
dom´ınio de defini¸c˜ao de f. 
Na pr´atica, acontece que nos modelos est´aticos essas previs˜oes se preservam na maioria 
de casos; j´a nos modelos dinˆamicos, devemos tomar em conta outros tipos de consi-dera 
¸c˜oes para preservar o ajuste de curvas, como por exemplo o comportamento do 
problema estudado ante perturba¸c˜oes das vari´aveis que definem o fenˆomeno. 
Quando obtemos um conjunto de dados, atrav´es de um processo de experimenta¸c˜ao, e 
desejamos obter um ajuste de curvas ou uma curva de regress˜ao entre as vari´aveis que 
definem o problema, a priori, escolhemos a forma da curva que desejamos ajustar para 
poder expressar estas vari´aveis, isto implica que existem uma infinidade de curvas de 
regress˜ao, claro est´a que nem toda rela¸c˜ao funcional obtida representa um bom modelo 
matem´atico. 
Exemplo 9 Considerando os dados da tabela do Exemplo 7 sobre o comprimento e a 
idade dos atums, observamos que a reta (Figura 2.7) 
y = 6.1t + 151.7 (2.2) 
25
obtida do ajuste entre os dados idade t e comprimento y ´e uma boa aproxima¸c˜ao para 
valores de t menores ou iguais a 10, pois seis dados da tabela est˜ao sobre a reta; j´a 
no caso em que t  10 isso n˜ao ´e garantido, pois o comprimento dos atuns tende a se 
estabilizar quando t cresce; caso contr´ario, acontece com os valores sobre a reta cujos 
valores tendem a crescer indefinidamente, e portanto, n˜ao pode ser feita uma previs˜ao 
no futuro sobre o comprimento dos atuns. 
Logo, conclu´ımos que a equa¸c˜ao (2.2) n˜ao pode ser considerada de modo geral como um 
bom modelo matem´atico, pois um dos objetivos principais da modelagem matem´atica ´e 
obter uma rela¸c˜ao funcional que interprete em seus vari´aveis ou parˆametros qualidades 
pr´oprias do fenˆomeno estudado, nesta parte resulta ser muito importante a valida¸c˜ao 
da solu¸c˜ao. 
Figura 2.7: Tendˆencia do crescimento de uma fam´ılia de atuns no per´ıodo de 10 anos. 
A quest˜ao central, como vimos, para se determinar a equa¸c˜ao da curva ´e encontrar a 
melhor curva regular de ajuste dos dados. Pode-se usar um crit´erio individual para 
tra¸car uma curva de ajustamento que se adapte ao conjunto de dados. Se for conhecido 
o tipo de equa¸c˜ao dessa curva, ´e poss´ıvel obter suas constantes, mediante a escolha de 
26
tantos pontos da curva quantas sejam as constantes da equa¸c˜ao. 
Em diversas situa¸c˜oes como, por exemplo, num laborat´orio, nos deparamos com gran-dezas 
que se relacionam entre si. Por exemplo, a press˜ao de uma determinada massa 
de g´as depende da sua temperatura e do seu volume; a distens˜ao de uma mola de-pende 
da for¸ca aplicada. Deseja-se, frequentemente, expressar essa rela¸c˜ao sob forma 
matem´atica, por meio de uma equa¸c˜ao que ligue as vari´aveis. Para auxiliar a deter-mina 
¸c˜ao de uma equa¸c˜ao que relacione as vari´aveis, um primeiro passo consiste em 
colecionar dados que indiquem os valores correspondentes das vari´aveis consideradas. 
Por exemplo, x pode representar o deslocamento de uma mola causado por uma for¸ca 
aplicada y para os quais temos um conjunto de n medidas. 
2.2 O Metodo dos Mnimos Quadrados 
Um dos m´etodos mais utilizados para estima¸c˜ao (aproxima¸c˜ao) de parˆametros ou ajuste 
de curvas ´e denominado m´etodo dos m´ınimos quadrados que a seguir passamos a de-talhar. 
De modo geral, consideramos as vari´aveis ou grandezas x e y que definem o fenˆomeno 
a analisar sujeitas a um conjunto de n medidas ou experimentos observados: 
A = {(x1, y1), (x2, y2), ..., (xn, yn)} (2.3) 
e uma fun¸c˜ao f : Rk+1 → R, tal que y(x) = f(x; α1, α2, ..., αk), onde α1, α2, ..., αk 
s˜ao os parˆametros. O m´etodo dos m´ınimos quadrados consiste em determinar esses 
parˆametros de modo que minimize o valor de 
S(α1, α2, ..., αk) = 
Σn 
i=1 
[f(xi; α1, α2, ..., αk) − yi]2, (2.4) 
isto ´e, o m´etodo consiste em minimizar a soma dos quadrados de 
εi = f(x; α1, α2, ..., αk) − yi 
entre os diversos valores de yi observados e os valores y(xi) = f(xi; α1, α2, ..., αk) ajus-tados. 
Os valores εi s˜ao chamados de desvios. 
Em seguida, locam-se esses pontos num plano cartesiano. O conjunto de pontos resul-tante 
´e denominado diagrama ou gra
co de dispers~ao ( Figura 2.8). 
27
Figura 2.8: Diagrama de dispers˜ao, Curva de regress˜ao e Desvios εn 
Neste diagrama ´e poss´ıvel, frequentemente, visualizar uma curva regular que se apro-xime 
dos pontos dados (x1, y1), (x2, y2), ..., (xn, yn), isso como foi definido em 2.1.1 ´e 
chamado ajustamento de curvas. 
2.3 Ajuste Linear 
De
nic~ao 2 (Ajuste Linear) Suponhamos que as grandezas x, y, cujas medidas s˜ao 
dadas por (2.3) se relacionem linearmente. Um ajuste de curvas ´e denominado linear, 
se a fun¸c˜ao f : R3 → R ´e definida por 
f(x; a, b) = ax + b. 
Em outras palavras, um ajuste ´e linear se ´e definido pela equa¸c˜ao da reta 
y(x) = f(x; a, b) = ax + b. (2.5) 
Assim, a equa¸c˜ao (2.5) ser´a a melhor reta que se ajusta aos pontos (2.3) a qual deseja-se 
determinar, Figura 2.9. Devido a erros de medida, os valores (xi, yi) n˜ao necessaria-mente 
satisfazem exatamente `a equa¸c˜ao (2.5), isto ´e, 
28
yi 
∼= 
axi + b 
Figura 2.9: Ajuste Linear 
Para que essa express˜ao se transforme numa igualdade, deveremos levar em conta os 
erros ou desvios ε cometidos na medida. Assim, 
yi = (axi + b) + εi 
Portanto, εi tamb´em depende de a e b: 
εi(a, b) = yi − (axi + b) (2.6) 
A soma dos quadrados dos desvios ´e dado por 
S(a, b) = 
Σn 
i=1 
[yi − axi − b]2 
Aplicando-se o M´etodo dos M´ınimos Quadrados, tem-se que os melhores valores para 
a e b (e portanto a melhor reta) s˜ao aqueles que minimizam S(a, b). Como S ´e uma 
29
fun¸c˜ao de duas quantidades a e b, escrevemos essas condi¸c˜oes necess´arias de m´ınimo 
como 
∂S 
∂a 
= 0 e 
∂S 
∂b 
= 0, 
ou seja, 
∂S 
∂a 
= −2 
Σn 
i=1 
(xiyi − ax2i 
− bxi) = 0, 
e 
∂S 
∂b 
= −2 
Σn 
i=1 
(yi − axi − b) = 0. 
De onde obtemos as chamadas equa¸c˜oes normais 
Σn 
i=1 
xiyi = 
Σn 
i=1 
(bxi + ax2i 
) (2.7) 
Σn 
i=1 
yi = 
Σn 
i=1 
(axi + b) (2.8) 
Resolvendo (2.7) e (2.8) simultaneamente, para a e b encontramos 
a = 
[ 
Σn 
i=1 
xi 
] [ 
Σn 
i=1 
yi 
] 
− n 
[ 
Σn 
i=1 
xiyi 
] 
[ 
Σn 
i=1 
xi 
]2 
− n 
[ 
Σn 
i=1 
x2i ] (2.9) 
b = 
[ 
Σn 
i=1 
xiyi 
] [ 
Σn 
i=1 
xi 
] 
− 
[ 
Σn 
i=1 
x2i 
] [ 
Σn 
i=1 
yi 
] 
[ 
Σn 
i=1 
xi 
]2 
− n 
[ 
Σn 
i=1 
x2i 
] (2.10) 
30
Por outro lado, de (2.8) obtemos 
b = 
Σn 
i=1 
yi − a 
Σn 
i=1 
xi 
n 
(2.11) 
Observac~ao 1 Um ajuste de curvas ´e n˜ao linear se a fun¸c˜ao f(x; α1, α2, ..., αk) dada 
pelos m´ınimos quadrados n˜ao ´e uma reta. Ao fazer um ajuste linear para relacionar 
duas vari´aveis, n˜ao sabemos a priori se a reta encontrada ´e o melhor modelo de ajuste. 
A verifica¸c˜ao da existˆencia e do grau de rela¸c˜ao entre vari´aveis ´e o objeto de estudo da 
correla¸c˜ao que a seguir definimos. 
De
nic~ao 3 (Correlac~ao Linear) A correla¸c˜ao linear mede a rela¸c˜ao que existe en-tre 
as vari´aveis (xi, yi) de um conjunto de dados em torno de uma reta ajustada 
y = ax + b. 
O coeficiente de correla¸c˜ao de Pearson r ´e um mecanismo de medida da correla¸c˜ao 
linear e ´e dado por 
r = 
Σn 
i=1 
xiyi − 
[ 
Σn 
i=1 
xi 
] [ 
Σn 
i=1 
yi 
] 
n 
{[ 
Σn 
i=1 
x2i 
− ( 
Σn 
i=1 xi)2 
n 
] [ 
Σn 
i=1 
y2 
i 
Σn 
− ( 
i=1 yi)2 
n 
]}1=2 (2.12) 
Verifica-se que r ∈ [−1, 1]. Se r est´a pr´oximo de 1 ou −1, dizemos que a correla¸c˜ao 
´e mais forte. Se r est´a pr´oximo de zero, dizemos que a correla¸c˜ao ´e fraca. Se r = 1 
ou r = −1, ent˜ao a correla¸c˜ao entre as vari´aveis ´e perfeita. Se r = 0, n˜ao existe 
nenhuma correla¸c˜ao. Por ´ultimo, o sinal de r indica o sinal do coeficiente angular da 
reta ajustada. 
Exemplo 10 Considerando-se os dados da tabela do Exemplo 7 sobre a idade t e o 
peso y dos atuns: 
31
ti idade yi peso (gr) 
2 0.68 
3 0.91 
4 1.0 
5 1.2 
6 1.38 
7 1.48 
8 1.69 
9 1.8 
10 2.3 
Encontrar um ajuste linear dos dados (ti, yi) mostrados na tabela anterior e calcular o 
coeficiente de correla¸c˜ao linear entre a idade e o peso dos atuns. 
Soluc~ao 
i 
De acordo 2com as equa¸c˜oes (2.9) e (2.10), n = 9; devemos agora calcular as somas de 
ti, yi, tiyi, t. 
ti yi tiyi t2i 
2 0.68 1.36 4 
3 0.91 2.73 9 
4 1.0 4 16 
5 1.2 6 25 
6 1.38 8.28 36 
7 1.48 10.36 49 
8 1.69 13.52 64 
9 1.8 16.2 81 
10 2.3 23 100 
Σ9 
i=1 
ti = 54 
Σ9 
i=1 
yi = 12.44 
Σ9 
i=1 
tiyi = 85.45 
Σ9 
i=1 
t2i 
= 384 
32
Logo, substituindo-se esses valores nas equa¸c˜oes (2.9) e (2.10), temos 
a = 
(54)(12.44) − 9(85.45) 
(54)2 − 9(384) 
= 
−9729 
−1309.05 
= 0.074 
b = 
(85.45)(54) − (384)(12.44) 
(54)2 − 9(384) 
= 0.301 
Portanto, a equa¸c˜ao da melhor reta no sentido dos m´ınimos quadrados ´e dada por 
y(t) = 0.074t + 0.301 
Esta equa¸c˜ao define uma reta que passa pelos seguintes pontos corrigidos: 
ti y(ti) = 0.074ti + 361.4 
2 0.449 
3 0.523 
4 0.597 
5 0.671 
6 0.745 
7 0.819 
8 0.893 
9 0.967 
10 1.041 
Para calcular o coeficiente de correla¸c˜ao dado por (2.12) devemos encontrar as somas 
de y2 
i . 
Σ9 
i=1 
y2 
i = 0.682 + 0.912 + 1 + 1.22 + 1.382 + 1.482 + 1.692 + 1.82 + 2.32 = 118.75 
Substituindo em (2.12), temos 
33
r = 
85.45 − (54)(12.44) 
{[ 9 
384 − (54)2 
9 
] [ 
118.75 − (12.44)2 
9 
]}1=2 = 0.138 
Sendo r = 0.138 pr´oximo de zero, existe uma fraca correla¸c˜ao entre a idade e o peso 
dos atuns. 
Observac~ao 2 O m´etodo do ajuste linear tamb´em pode ser aplicado a outros modelos 
matem´aticos definidos por fun¸c˜oes n˜ao lineares, isso desde que seja poss´ıvel transformar 
aquelas fun¸c˜oes em fun¸c˜oes lineares atrav´es de uma mudan¸ca de vari´avel adequada, por 
exemplo, modelos definidos por fun¸c˜oes de tipo exponencial, fun¸c˜ao potˆencia, fun¸c˜oes 
peri´odicas. Na seguinte se¸c˜ao veremos alguns desses modelos. 
2.3.1 Ajuste Linear para o Modelo Exponencial 
Suponhamos que a formula¸c˜ao de um modelo matem´atico ´e definido por meio de uma 
fun¸c˜ao de tipo exponencial (Figura 2.10) 
y(x) = β ex, β  0 (2.13) 
Figura 2.10: Fun¸c˜ao de Tipo Exponencial 
Fazendo a mudan¸ca de vari´avel z = ln y com o objetivo de transformar a equa¸c˜ao 
que define o modelo (2.13) na forma de uma equa¸c˜ao de uma reta, obtemos ao tomar 
logaritmos de ambos os lados de (2.13) 
34
z(x) = ln y = αx + ln β (2.14) 
Desta forma, podemos fazer um ajuste linear para o modelo exponencial, pois ´e mais 
f´acil lidar com (2.14) do que com (2.13). Al´em disso, o estabelecimento da curva com 
dados emp´ıricos e a an´alise dos desvios s˜ao extremamente facilitados. 
Portanto, tomando-se a = α e b = ln β, a equa¸c˜ao da reta ajustada ou equa¸c˜ao auxiliar 
´e 
z = ax + b 
Exemplo 11 O aumento de c´elulas cancerosas num tumor por unidade do tempo t, 
supondo o tempo de duplica¸c˜ao das c´elulas constante, ´e dado atrav´es dos seguintes 
dados experimentais: 
Tempo (dias) N´umero de c´elulas (miles) 
1.5 1,778 
2.5 2,611 
4.0 4,642 
5.0 6,813 
6.5 12,11 
Com estes dados, determine a dependˆencia funcional do n´umero de c´elulas N(t) do 
tumor em rela¸c˜ao ao tempo t mediante um ajuste linear. 
Soluc~ao 
Atrav´es do gr´afico de dispers˜ao dos dados (ti,Ni) i = 1, 2, 3, 4, 5 mostrados na Figura 
2.11, podemos ver que a forma da rela¸c˜ao funcional procurada N(t) pode ser expressa 
por uma fun¸c˜ao do tipo exponencial. 
N(t) = βet, β  0, α  0. (2.15) 
Assim, a dependˆencia do n´umero de c´elulas com o tempo n˜ao ´e linear; ou seja, a 
curva que modela o decaimento n˜ao ´e uma reta. Ent˜ao, com os dados mostrados na 
tabela podemos fazer um ajuste linear para o modelo, definido por uma fun¸c˜ao de tipo 
exponencial. 
35
Figura 2.11: Gr´afico de Dispers˜ao 
Utilizando a mudan¸ca de vari´avel y(t) = lnN(t), obtemos em (2.15) a espress˜ao linear 
nas novas vari´aveis 
y = αt + ln β 
Utilizando os dados da tabela, obtemos os dados auxiliares. 
ti Ni yi = lnNi t2i 
tiyi 
1.5 1,778 0.575 2.25 0.8625 
2.5 2,611 0.959 6.25 2.3975 
4.0 4,642 1.535 16 6.14 
5.0 6,813 1.918 25 9.59 
6.5 12,110 2.494 42.25 16.211 
Σ5 
i=1 
ti = 19.5 
Σ5 
i=1 
yi = 7.481 
Σ5 
i=1 
t2i 
= 91.75 
Σ5 
i=1 
tiyi = 35.201 
Para calcular os parˆametros a e b, empregamos as equa¸c˜oes (2.9) e (2.10) 
36
a = 
[ 
Σ5 
i=1 
ti 
] [ 
Σ5 
i=1 
yi 
] 
− 5 
[ 
Σ5 
i=1 
tiyi 
] 
[ 
Σ5 
i=1 
ti 
]2 
− 5 
[ 
Σ5 
i=1 
t2i 
] = 
(19.5)(7.481) − 5(35.201) 
(19.5)2 − 5(91.75) 
= 0.383 
b = 
[ 
Σ5 
i=1 
tiyi 
] [ 
Σ5 
i=1 
ti 
] 
− 
[ 
Σ5 
i=1 
t2i 
] [ 
Σ5 
i=1 
yi 
] 
[ 
Σ5 
i=1 
ti 
]2 
− 5 
[ 
Σ5 
i=1 
t2i 
] = 
(35.201)(19.5) − (91.75)(7.481) 
(19.5)2 − 5(91.75) 
= −0.00048 
Portanto, obtemos a equa¸c˜ao da reta ajustada (reta auxiliar y = lnN) 
y = 0.383t − 0.00048 
Como a = α e b = ln β obtemos β = eb = e−0:00048 ≃ 0.9995. A fun¸c˜ao exponencial ´e 
N(t) = 0.383e0:9995t ∀ t ≥ 0. 
Figura 2.12: Ajuste da reta y = 0.383t − 0.00048 aos pontos (t, ln t) 
37
Figura 2.13: Modelo Matem´atico do N´umero de c´elulas na forma exponencial 
2.3.2 Ajuste Linear de Modelos Geometricos 
Suponhamos que a formula¸c˜ao do modelo matem´atico ´e definido atrav´es de um modelo 
de tipo geom´etrico, isto ´e, um modelo onde a fun¸c˜ao que define o problema ´e dado por 
uma fun¸c˜ao potˆencia (Figura 2.14) 
y(x) = α x
, α  0 e β  0 (2.16) 
Neste caso, a fun¸c˜ao ´e do tipo dado pela Observa¸c˜ao 2; logo, o ajuste de parˆametros 
pode ser feito atrav´es de um ajuste linear. Fazendo a mudan¸ca de vari´avel 
Y = ln y e X = ln x, (2.17) 
com o objetivo de transformar a equa¸c˜ao que define o modelo (2.16) na forma de uma 
equa¸c˜ao de uma reta, obtemos ao tomar logaritmos de ambos os lados de (2.16) 
ln y = ln α + β ln x, 
nas novas vari´aveis, isto ´e, 
Y = a + βX, onde a = ln α (2.18) 
38
Figura 2.14: Fun¸c˜ao Potˆencia 
Portanto, tomando b = β a equa¸c˜ao da reta ajustada ou equa¸c˜ao auxiliar ´e 
Y = a + bX (2.19) 
Exemplo 12 Com os dados do Exemplo 7 da rela¸c˜ao do peso (gr) e comprimento (cm) 
dos atuns, determinar a dependˆencia funcional do peso dos atuns y(x) em rela¸c˜ao ao 
comprimento x mediante um ajuste linear. 
Soluc~ao Vimos que a rela¸c˜ao funcional que modela o problema ´e formulado pela 
fun¸c˜ao potˆencia dado em (1.1), isto ´e, 
y(x) = αx
, 
onde α ´e a taxa de metabolismo e β d´a informa¸c˜ao em termos matem´aticos da forma do 
atum. Ent˜ao ´e poss´ıvel fazer um ajuste linear, o que a seguir faremos. A reta ajustada 
dada por (2.19) ´e 
Y = a + bX, 
onde devemos encontrar os parˆametros a e b por meio de un ajuste linear. Formamos 
a seguinte tabela: 
39
xi yi Xi = ln xi Yi = ln yi XiYi X2 
i 
163.9 0.68 5.099 -0.385 -1.963 25.999 
170 0.91 5.135 -0.094 -0.482 26.368 
176.1 1.0 5.171 0 0 26.739 
182.2 1.2 5.205 0.182 0.947 27.092 
188.3 1.38 5.238 0.322 1.686 27.436 
195.4 1.48 5.275 0.392 2.067 27.825 
203.2 1.69 5.314 0.524 2.784 28.238 
210 1.8 5.347 0.587 3.138 28.590 
212.7 2.3 5.359 0.832 4,438 28.718 
Σ9 
i=1 
Xi = 47.143 
Σ9 
i=1 
Yi = 2.36 
Σ9 
i=1 
XiYi = 12.615 
Σ9 
i=1 
X2 
i = 247.005 
Aplicando o m´etodo dos m´ınimos quadrados para estimar os parˆametros, temos 
a = 
[ 
Σ9 
i=1 
Xi 
] [ 
Σ9 
i=1 
Yi 
] 
− 9 
[ 
Σ9 
i=1 
XiYi 
] 
[ 
Σ9 
i=1 
Xi 
]2 
− 9 
[ 
Σ9 
i=1 
X2 
i 
] = 
(47.143)(2.36) − 9(12.615) 
(47.143)2 − 9(247.005) 
= 3.907 
b = 
[ 
Σ9 
i=1 
XiYi 
] [ 
Σ9 
i=1 
Xi 
] 
− 
[ 
Σ9 
i=1 
X2 
i 
] [ 
Σ9 
i=1 
Yi 
] 
[ 
Σ9 
i=1 
Xi 
]2 
− 9 
[ 
Σ9 
i=1 
X2 
i 
] = 
(12.615)(47.143) − (247.005)(2.36) 
(47.143)2 − 9(247.005) 
b = 20.2 
Portanto, 
Y = 3.907X + 20.2 
sendo a = ln α, temos que α = ea = e3:907 ≃ 49.749. Assim, obtemos y = 49.749x20:2 
40
Figura 2.15: Ajuste geom´etrico para a rela¸c˜ao peso-comprimento dos atuns 
2.4 Ajuste Quadratico 
De
nic~ao 4 (Ajuste Quadratico) Sejam x, y duas grandezas cujas medidas s˜ao da-das 
por (2.3). Um ajuste de curvas ´e denominado ajuste quadr´atico, se a fun¸c˜ao que 
relaciona as grandezas ´e definido por f : R4 → R 
f(x; a, b, c) = a + bx + cx2, 
isto ´e, um ajuste quadr´atico ´e definido pela equa¸c˜ao de uma par´abola 
y(x) = f(x; a, b, c) = a + bx + cx2. (2.20) 
Aplicando o m´etodo dos m´ınimos quadrados, determinamos os parˆametros a, b e c mi-nimizando 
a fun¸c˜ao 
S(a, b, c) = 
Σn 
i=1 
[f(x; a, b, c) − yi]2 = 
Σn 
i=1 
[a + bx + cx2 − yi]2 
As condi¸c˜oes necess´arias de m´ınimo s˜ao dadas pelas equa¸c˜oes 
∂S 
∂a 
= 0, 
∂S 
∂b 
= 0, 
∂S 
∂c 
= 0, 
41
isto ´e  
 
Σn 
i=1 
yi = na + b 
Σn 
i=1 
xi + c 
Σn 
i=1 
x2i 
Σn 
i=1 
xiyi = a 
Σn 
i=1 
xi + b 
Σn 
i=1 
x2i 
+ c 
Σn 
i=1 
x3i 
Σn 
i=1 
x2i 
yi = a 
Σn 
i=1 
x2i 
+ b 
Σn 
i=1 
x3i 
+ c 
Σn 
i=1 
x4i 
(2.21) 
Exemplo 13 Ajustar uma par´abola de m´ınimos quadrados da forma y(x) = a + bx + 
cx2 para os dados da tabela seguinte. 
x 1.2 1.8 3.1 4.9 5.7 7.1 8.6 9.8 
y 4.5 5.9 7 7.8 7.2 6.8 4.5 2.7 
Soluc~ao Devemos utilizar as equa¸c˜oes (2.21), a seguinte tabela permite fazer isso. 
xi yi x2i 
x3i 
x4i 
xiyi x2i 
yi 
1.2 4.5 1.44 1.73 2.08 5.40 6.48 
1.8 5.9 3.24 5.83 10.49 10.62 19.12 
3.1 7.0 9.61 29.79 92.35 21.70 67.27 
4.9 7.8 24.01 117.65 576.48 38.22 187.28 
5.7 7.2 32.49 185.19 1055.58 41.04 233.93 
7.1 6.8 50.41 357.91 2541.16 48.28 342.79 
8.6 4.5 73.96 636.06 5470.12 38.70 332.82 
9.8 2.7 96.04 941.19 9223.66 26.46 259.31 
Σ8 
i=1 
xi = 
42.2 
Σ8 
i=1 
yi = 
46.4 
Σ8 
i=1 
x2i 
= 
291.20 
Σ8 
i=1 
x3i 
= 
2275.35 
Σ8 
i=1 
x4i 
= 
18, 971.92 
Σ8 
i=1 
xiyi = 
230.42 
Σ8 
i=1 
x2i 
yi = 
1449.00 
Para n = 8, as equa¸c˜oes normais (2.21) s˜ao 
8a + 42.2b + 291.20c = 46.4 
42.2a + 291.20b + 2275.35c = 230.42 
291.20a + 2275.35b + 18971.92c = 1449.00 
42
Resolvendo o sistema alg´ebrico anterior, obtemos a = 2.588, b = 2.065, c = −0.2110, 
da´ı, a par´abola requerida pelo m´etodo dos m´ınimos quadrados tem a equa¸c˜ao 
y = 2.588 + 2.065x − 0.2110x2 
43
2.5 Atividades 
1. Demonstre que as equa¸c˜oes (2.9) e (2.10) tamb´em s˜ao dadas da seguinte forma: 
a = 
Σn 
Σi=1 xiyi − nx¯y n 
i=1 x2i 
− n¯x2 , b = ¯y − a¯x 
onde ¯x = 
Σn 
i=1 xi 
n 
e 
¯y = 
Σn 
i=1 yi 
n 
. 
2. Aplicando o M´etodo dos M´ınimos Quadrados,ajuste uma reta ao seguinte con-junto 
de dados: 
A = {(1, 1), (3, 2), (4, 4), (6, 4), (8, 5), (9, 7), (11, 8), (14, 9)} 
3. Em cinco pa´ıses da Europa, foi encontrada uma rela¸c˜ao entre o conte´udo de po-eira 
de um elemento qu´ımico no ar (em g/m3) e o n´umero de ausˆencias femininas 
em certas ind´ustrias. Foram contadas somente ausˆencias de pelo menos sete dias 
e encontrados os seguintes dados. 
Pa´ıs g/m3 N´umero de ausˆencias por 1000 empregados 
Fran¸ca 7 19 
Espanha 13 44 
It´alia 14 53 
Alemania 17 61 
Portugal 20 88 
a) Desenhe o gr´afico de dispers˜ao dos dados da tabela. 
b) Representar o n´umero de ausˆencias versus o conte´udo de poeira do elemento 
qu´ımico. 
c) Estabelecer uma reta de regress˜ao linear pelo m´etodo dos m´ınimos quadrados. 
4. Mostre que o ajuste de n pontos (xi, yi) a uma reta passando pela origem, y = kx 
implica que k = 
Σn 
i 
xiyi 
Σn 
i 
x2i 
. 
44
5. Um grupo de pesquisadores obt´em os seguintes dados experimentais depois de 
fazer algumas medi¸c˜oes entre o peso (gramas) e a velocidade (m/s) de um objeto 
A = {(2, 3), (3, 4), (5, 6), (6, 5), (9, 7), (12, 8)} 
Fa¸ca um ajuste linear dos dados obtidos, obtenha e interprete o coeficiente de 
correla¸c˜ao. 
6. A Tabela seguinte fornece os valores experimentais da press˜ao P de uma dada 
massa de g´as correspondente a v´arios valores do volume V . De acordo com 
princ´ıpios termodinˆamicos, existe entre as vari´aveis uma rela¸c˜ao PV
= α, onde 
α e β s˜ao constantes. 
a) Encontre os valores de α e β (aplique o m´etodo dos m´ınimos quadrados para 
ajustar os dados atrav´es de um modelo de ajuste linear geom´etrico). 
b) Escreva a equa¸c˜ao relacionando P e V . 
c) Estimar P quando v = 100.0 in3. 
Volume V (in3) 54.3 61.8 72.4 88.7 118.6 194.0 
Press˜ao P (lb/in) 61.2 49.5 37.6 28.4 19.2 10.1 
7. A tabela seguinte d´a informa¸c˜ao do censo de uma popula¸c˜ao (em milh˜oes) de um 
certo pa´ıs em rela¸c˜ao ao tempo (anos). 
Anos 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 
Popula¸c˜ao 23.2 31.4 39.8 50.2 62.9 76.0 92.0 105.7 122.8 131.7 151.1 
a) Fa¸ca um ajuste quadr´atico dos dados da tabela pelo m´etodo dos m´ınimos 
quadrados. 
b) Calcule os valores da regress˜ao (comumente chamados de valores de tendˆencia) 
para os anos dados e comparar com os valores reais. 
c) Estime a popula¸c˜ao de 1945. 
d) Estime a popula¸c˜ao de 1960 e compare com o valor real 178, 9. 
45
Unidade III 
EQUAC ~OES DE DIFERENCAS 
46
Equac~oes de Diferencas 
Objetivo 
• Analisar as caracter´ıstica variacionais de uma rela¸c˜ao funcional presentes na mo-delagem 
e saber quando sequˆencias interpretam vari´aveis cont´ınuas. 
• Solucionar uma equa¸c˜ao em diferen¸cas e obter a solu¸c˜ao em forma expl´ıcita. 
• Interpretar problemas concretos atrav´es de equa¸c˜oes de diferen¸cas. 
3.1 Variac~oes 
Como vimos anteriormente no processo da modelagem matem´atica, a obten¸c˜ao de 
um modelo matem´atico que interpreta o problema a estudar constitui a parte mais 
complicada de dito processo. As rela¸c˜oes de medida que existem entre as vari´aveis ou 
grandezas observadas que define o problema (que n˜ao necessariamente s˜ao de car´ater 
matem´atico) s˜ao a base para a obten¸c˜ao da formula¸c˜ao do modelo matem´atico. Uma 
maneira de interpretar essas rela¸c˜oes de medidas e em consequˆencia obter um modelo 
matem´atico ´e dada pela varia¸c˜ao ou taxa de varia¸c˜ao dessas vari´aveis. Iniciamos esta 
se¸c˜ao atrav´es da defini¸c˜ao a seguir. 
De
nic~ao 5 Entendemos por variaveis quaisquer grandezas que se modificam du-rante 
um processo dinˆamico. O termo par^ametro se refere a quantidades que podem 
ou n˜ao mudar durante o processo dinˆamico. As constantes s˜ao quantidades que n˜ao 
variam durante o processo e assumem valores fixados a priori. 
Lembramos da an´alise real o seguinte. 
De
nic~ao 6 (Sequ^encia de numeros reais) Uma sequˆencia de n´umeros reais ´e um 
conjunto de pontos denotado por {xn}, definidos por uma fun¸c˜ao f : X ⊂ N → R, cujo 
dom´ınio ´e um subconjunto X dos n´umeros naturais N, tal que xn = f(xn). Quando 
este conjunto ´e finito, dizemos que a sequˆencia ´e finita. 
Uma das caracter´ısticas importantes de uma sequˆencia ´e sua convergˆencia, que defini-mos 
a seguir. 
De
nic~ao 7 (Converg^encia de uma sequ^encia ) Dizemos que uma sequˆencia de 
n´umeros reais xn converge para um n´umero real x se xn pode se aproximar tanto quanto 
se queira de x quando n cresce, isto ´e, dado ε  0, arbitrariamente pequeno, existe 
n0 ∈ N tal que 0 | xn − x | ε, quando n  n0. 
47
Notac~ao: Denotamos a convergˆencia de uma sequˆencia xn ao valor x por 
xn → x ou x = lim 
n→∞ 
xn, 
onde a express˜ao x = lim 
n→∞ 
xn indica que x ´e o limite da sequˆencia xn quando n se 
aproxima do infinito. 
De
nic~ao 8 (Conjunto Discreto e Variavel discreta) Uma vari´avel discreta ´e 
uma vari´avel que toma valores isolados, ou seja, n˜ao admite valores intermedi´arios 
entre dois valores espec´ıficos. O conjunto formado por valores de uma vari´avel discreta 
´e chamado de conjunto discreto. 
Matematicamente podemos aprofundar essa defini¸c˜ao. Dada uma sequˆencia finita de 
n´umeros reais {x1, x2, x3, ..., xn}, cada elemento da sequˆencia ´e chamado de valor dis-creto, 
e a vari´avel x recebe o nome de vari´avel discreta. 
O conjunto finito {x1, x2, x3, ..., xn} formado por valores de uma vari´avel discreta x ´e 
denominado conjunto discreto. Em outras palavras, um conjunto ´e discreto se existe 
uma correspondˆencia bijetiva entre os elementos do conjunto e um subconjunto dos 
n´umeros naturais {1, 2, 3..., n}. 
Exemplo 14 Se desejamos encontrar o n´umero de peixes capturados em uma empresa 
pesqueira em cada mˆes n, durante un ano, devemos usar uma sequˆencia finita xn para 
representar o n´umero de peixes capturados no mˆes n, isto ´e, {x1, x2, x3, ..., x12} ´e o 
conjunto discreto e o n´umero de peixes x ´e a vari´avel discreta 
De
nic~ao 9 (Variavel Contnua) Uma vari´avel cont´ınua ´e aquela que pode assumir 
valores entre dois n´umeros. 
Em termos matem´aticos podemos dar a seguinte interpreta¸c˜ao: dada uma sequˆencia 
finita de n´umeros reais {x1, x2, x3, ..., xn}, uma vari´avel x ´e dita cont´ınua se pode assu-mir 
todos os valores reais intermedi´arios entre os valores discretos da sequˆencia. Em 
outras palavras, uma vari´avel que n˜ao ´e cont´ınua ser´a discreta. 
Exemplo 15 Se {y1 = 0.68, y2 = 0.91, y3 = 1.0, ..., y9 = 2.3} s˜ao os valores dados 
do peso dos atuns do Exemplo 7, qualquer valor da vari´avel peso y pode ser assumido 
no intervalo [0.68, 2.3]; logo, a vari´avel peso dos atuns ´e cont´ınua neste intervalo. 
48
Na pr´atica, sequˆencias finitas de n´umeros reais representam grandezas que est˜ao en-volvidas 
na modelagem matem´atica do problema e, portanto, constituem conjuntos 
discretos, isto ´e, o caso do n´umero de peixes do Exemplo 14; ent˜ao, resulta importante 
saber quando tais sequˆencias interpretam vari´aveis cont´ınuas. 
Observac~ao 3 Uma sequˆencia finita {xn}k 
n=1 ´e um conjunto discreto de n´umeros 
reais, logo x ´e uma vari´avel discreta; por´em, se conseguimos representar a vari´avel 
x = f(t) por uma fun¸c˜ao definida para todo t ∈ R, ent˜ao, na verdade, x e t ser˜ao 
vari´aveis cont´ınuas. 
De
nic~ao 10 (Variac~ao) Seja f : A ⊂ R → R y = f(x) uma fun¸c˜ao que associa a 
cada vari´avel independente x a vari´avel dependente y. A varia¸c˜ao de uma fun¸c˜ao f 
´e definida como a medida do comportamento da fun¸c˜ao em rela¸c˜ao a um est´agio da 
vari´avel independente x. 
As varia¸c˜oes s˜ao de dois tipos: varia¸c˜oes discretas e varia¸c˜oes cont´ınuas. A seguir es-tudaremos 
cada tipo de varia¸c˜ao. 
3.1.1 Variac~oes Discretas 
Seja D = {y1, y2, y3, ..., yn} um conjunto discreto tal que a vari´avel discreta y est´a em 
rela¸c˜ao `a grandeza x atrav´es da fun¸c˜ao f : A ⊂ R → R, isto ´e, y = f(x), ∀ x ∈ A 
subconjunto pr´oprio de R. 
De
nic~ao 11 (Variac~ao Discreta) Uma varia¸c˜ao ´e discreta se os valores da ima-gem 
da fun¸c˜ao f, isto ´e, y = f(x) pertence ao conjunto discreto D. 
De
nic~ao 12 (Variac~ao Total) A varia¸c˜ao total ou `as vezes chamada varia¸c˜ao de 
y = f(x) ∈ D em rela¸c˜ao ao intervalo [x1, x2] ´e definida por 
Δy = y2 − y1 = f(x2) − f(x1) (3.22) 
Δy tamb´em ´e chamado de incremento de y. Se Δy  0, ent˜ao a fun¸c˜ao f aumenta em 
tamanho; se Δy  0, a fun¸c˜ao f experimenta um decr´escimo do tamanho; se Δy = 0, 
a fun¸c˜ao permanece inalterada. 
49
Exemplo 16 Em um zool´ogico, uma fam´ılia de pinguins se constitu´ıa de 43 pinguins 
no primeiro dia de setembro de 1980, e um total de 95 p´assaros no primeiro dia de 
setembro de 1981. Calcular a varia¸c˜ao total do n´umero de indiv´ıduos de pinguins e 
p´assaros. 
Soluc~ao Denotando por N o n´umero de ind´ıviduos de pinguins e p´assaros, podemos 
considerar N como una fun¸c˜ao do tempo t dado em meses: 
N = f(t) 
Tomando t1 o primeiro dia de setembro de 1980 e t2 o primeiro dia de setembro de 
1981, temos f(t1) = 43 e f(t2) = 95; logo, a varia¸c˜ao total ser´a ΔN = f(t2) − f(t1) = 
95−43 = 52, o que implica que o n´umero de ind´ıviduos aumentou. Observe que, sendo 
os valores f(t1) = 43 e f(t2) = 95 inteiros, a vari´avel N ´e discreta. 
De
nic~ao 13 (Taxa Media de Variac~ao) A taxa m´edia de varia¸c˜ao ou varia¸c˜ao 
m´edia de y = f(x) ∈ D em rela¸c˜ao x ´e definida por 
Δy 
Δx 
= 
f(x2) − f(x1) 
x2 − x1 
x1̸= x2. (3.23) 
Δx = x2 − x1 ´e a extens˜ao do intervalo [x1, x2], tamb´em chamado de incremento da 
vari´avel x. A taxa de varia¸c˜ao m´edia representa o incremento da fun¸c˜ao f em rela¸c˜ao 
ao incremento da vari´avel x. 
Exemplo 17 No Exemplo 16, a taxa m´edia de varia¸c˜ao do n´umero de indiv´ıduos de 
pinguins e p´assaros ´e 
ΔN 
Δt 
= 
f(t2) − f(t1) 
t2 − t1 
= 
52 
12 
= 4.33. 
A popula¸c˜ao de pinguins e p´assaros entre setembro de 1980 a 1981 aumentou em m´edia 
de 4.33 por mˆes. Naturalmente isso indica que o n´umero de nascimentos foi maior em 
rela¸c˜ao ao n´umero de mortes. 
Outro tipo de medida variacional discreta aparece em particular na dinˆamica popula-cional 
que a seguir definimos. 
50
De
nic~ao 14 (Taxa de Variac~ao Relativa) A taxa de varia¸c˜ao relativa ´e a taxa 
de varia¸c˜ao de uma popula¸c˜ao N = f(t) ∈ D em que a varia¸c˜ao depende somente do 
n´umero de ind´ıviduos presentes inicialmente e n˜ao de fatores que dependem do tempo. 
Temos os seguintes casos: 
i) Taxa de Varia¸c˜ao Relativa M´edia, que ´e definida por 
α = 
ΔN 
N1Δt 
= 
N2 − N1 
N1Δt 
N1 = f(t1), N2 = f(t2) 
ii) Taxa de Varia¸c˜ao Malthusiana, proveniente de um crescimento exponencial em 
cada unidade de tempo. 
√ 
α = Δt 
Nt+Δt 
Nt 
− 1. 
Exemplo 18 A Tabela 3.1 fornece os censos demogr´aficos do Brasil de 1950 a 2010 
Neste caso, a vari´avel temporal t e o n´umero de indiv´ıduos assumem valores inteiros; 
logo, ambas as grandezas (tempo-indiv´ıduos) s˜ao discretas. 
ANOS POPULAC¸ ˜AO 
TAXAS DE 
CRESCIMENTO % 
VARIAC¸ ˜AO TOTAL 
1950 51.944.397 
3.2 19.047.946 
1960 70.992.343 
2.8 22.146.694 
1970 93.139.037 
2.5 25.863.669 
1980 119.002.706 
1.9 27.822.769 
1991 146.825.475 
1.6 22.973.695 
2000 169.799.170 
1.1 20.933.524 
2010 190.732.694 
Tabela 3.1: Censos Demogr´aficos do Brasil de 1950 a 2010. 
As taxas de crescimento dadas em percentagem entre dois censos consecutivos mos-trados 
na tabela s˜ao obtidas utilizando-se a taxa de varia¸c˜ao malthusiana. Com 
51
efeito, tomando-se como popula¸c˜ao inicial N0 = 51.944.397, e depois de dez anos, 
N10 = 70.992.343, ent˜ao a taxa de varia¸c˜ao relativa dada pela varia¸c˜ao malthusiana 
entre 1950 e 1960 ´e dada por 
√ 
α = 10 
70992343 
51944397 
− 1 ≃ 0.032 
isto ´e, aproximadamente 3.2%. 
Se agora consideramos os censos de 1950 e 2010, α ´e dado por 
√ 
α = 60 
190732694 
51944397 
− 1 ≃ 0.022 
isto ´e, aproximadamente 2.2%. E isso quer dizer que a popula¸c˜ao brasileira cresceu a 
uma taxa m´edia de aproximadamente 2.2% ao ano, nos 61 anos. 
Exemplo 19 No Exemplo 16, a taxa de varia¸c˜ao m´edia relativa ao n´umero de pinguins 
e p´assaros ´e 
α = 
ΔN 
N1Δt 
= 
52 
43(12) 
≃ 0.1. 
Neste caso, a taxa de varia¸c˜ao populacional entre setembro de 1980 e 1981 aumentou 
em m´edia 10% por mˆes. 
Se tomamos Δt = t2 − t1 = 12, temos N2 = Nt1+Δt = 95 e N1 = Nt1 = 43; logo, 
√ 
α = 12 
N2 
N1 
√ 
− 1 = 12 
95 
43 
− 1 = 0.068 
ent˜ao isso quer dizer que a popula¸c˜ao cresceu em m´edia 6.8% ao mˆes, relativamente `a 
propor¸c˜ao existente em cada mˆes, durante os 12 meses. 
3.1.2 Variac~oes Contnuas 
De
nic~ao 15 (Variac~ao Contnua) Uma varia¸c˜ao ´e cont´ınua se os valores da ima-gem 
da fun¸c˜ao f : A ⊂ R → R, isto ´e y = f(x) ´e v´alido para todo n´umero real x ∈ A. 
Observamos que uma vari´avel cont´ınua pode assumir valores em um conjunto dis-creto, 
isso significa que podemos generalizar as defini¸c˜oes de varia¸c˜oes do caso dis-creto 
para o caso de varia¸c˜oes cont´ınuas, o que faremos a seguir. Consideremos uma 
52
vari´avel y (cont´ınua ou discreta) que est´a em rela¸c˜ao com a vari´avel x atrav´es da fun¸c˜ao 
f : A ⊂ R → R, isto ´e, y = f(x), ∀ x ∈ A subconjunto R. 
De
nic~ao 16 (Variac~ao Total) A varia¸c˜ao total ou `as vezes chamada varia¸c˜ao ab-soluta 
de y = f(x) em rela¸c˜ao ao intervalo [x1, x2] ´e definida por 
Δy = y2 − y1 = f(x2) − f(x1) (3.24) 
A varia¸c˜ao total ´e a diferen¸ca da vari´avel dependente y em duas etapas da vari´avel 
independente x. 
De
nic~ao 17 (Taxa Media de Variac~ao) A taxa m´edia de varia¸c˜ao ou varia¸c˜ao 
m´edia de y = f(x) em rela¸c˜ao x ´e definida por 
Δy 
Δx 
= 
f(x2) − f(x1) 
x2 − x1 
t1̸= t2. (3.25) 
Δx = x2 − x1 ´e chamado o incremento da vari´avel x em rela¸c˜ao a dois est´agios x1, x2. 
A taxa de varia¸c˜ao m´edia representa o incremento da fun¸c˜ao f em rela¸c˜ao ao incre-mento 
da vari´avel x, a varia¸c˜ao m´edia mostra quando variou y por unidade de x. 
Considerando-se de forma geral as vari´aveis x, x+h, onde h = Δx, a defini¸c˜ao de taxa 
m´edia de varia¸c˜ao tamb´em pode ser dada por 
Δy 
Δx 
= 
f(x + h) − f(x) 
h 
. (3.26) 
Geometricamente (escalas graduadas), a taxa m´edia de varia¸c˜ao tem a seguinte inter-preta 
¸c˜ao. Se consideramos o gr´afico da fun¸c˜ao f, isto ´e, Gra(f) = {(x, y) ∈ R2; y = 
f(x)}, a taxa m´edia de varia¸c˜ao tem um significado intuitivo. Na Figura 3.16, a reta 
l ´e tra¸cada ligando os dois pontos (x, f(x)), (x + h, f(x + h)) do gr´afico da fun¸c˜ao f. 
A taxa m´edia de varia¸c˜ao ´e interpretada como a inclina¸c˜ao da reta secante l, isto ´e, o 
coeficiente angular da reta coincide com a taxa m´edia de varia¸c˜ao 
tan(α) = 
Δy 
Δx 
= 
f(x + h) − f(x) 
h 
. (3.27) 
´E 
importante deixar claro que o coeficiente angular de uma reta s´o pode ser dito, no 
53
caso de que as escalas dos eixos de coordenadas s˜ao igualmente espa¸cados, isto ´e, em 
escala graduada. J´a no caso geral, quer dizer que quando lidamos com fun¸c˜oes, s´o 
podemos dizer de taxa m´edia de varia¸c˜ao ou simplesmente varia¸c˜ao, conforme o caso. 
Figura 3.16: Taxa M´edia de Varia¸c˜ao 
Δy 
Δx 
= 
f(x + h) − f(x) 
h 
Exemplo 20 Entendemos por metabolismo o conjunto de transforma¸c˜oes que as subs-t 
ˆancias qu´ımicas sofrem no interior dos organismos vivos. Seja M(t) a massa de um 
nutriente de um ser vivo como fun¸c˜ao do tempo t. Estamos interessados na velocidade 
de uma rea¸c˜ao qu´ımica. 
A taxa m´edia de varia¸c˜ao da fun¸c˜ao massa ir´a responder a esta preocupa¸c˜ao. Admi-tamos 
a hip´otese de que o nutriente se desintegra quimicamente; consequentemente, 
a massa M decresce no tempo. Se consideramos dois instantes consecutivos t1, t2: 
Δt = t2 − t1 representa o comprimento do intervalo [t1, t2] e ΔM = f(t2) − f(t1) o 
decr´escimo da massa. Logo, a taxa m´edia de varia¸c˜ao da massa por unidade de tempo ´e 
ΔM 
Δt 
= 
f(t2) − f(t1) 
t2 − t1 
. 
Este quociente ´e chamado a taxa m´edia de rea¸c˜ao no intervalo de tempo de t1 a t2. 
Pelas hip´oteses, temos que ΔM/Δt ´e negativo e podemos concluir que a rea¸c˜ao qu´ımica 
n˜ao tem que ter necessariamente uma taxa constante. 
De
nic~ao 18 (Taxa de Variac~ao Relativa) A taxa de varia¸c˜ao relativa ´e a taxa 
de varia¸c˜ao de uma fun¸c˜ao y = f(x) por unidade de x relativa `a etapa inicial y = yi: 
54
1 
yi 
Δyi 
Δxi 
= 
[ 
f(xi+1) − f(xi) 
xi+1 − xi 
] 
1 
yi 
(3.28) 
Muitas vezes n˜ao ´e sempre satisfat´orio considerarmos as varia¸c˜oes simples, m´edia e 
relativa quando os dados envolvidos s˜ao vari´aveis cont´ınuas; nesse sentido, precisamos 
de uma medida de varia¸c˜ao que permita nos informar em tempo real o comportamento 
da fun¸c˜ao; isso pode ser dado por uma varia¸c˜ao em tempo real, a qual ser´a oposta 
a uma varia¸c˜ao m´edia, a varia¸c˜ao instantˆanea que a seguir definimos dar´a resposta `a 
nossa inquietude. 
De
nic~ao 19 (Taxa de Variac~ao Instant^anea) A taxa de varia¸c˜ao instantˆanea ´e 
a taxa de varia¸c˜ao de uma fun¸c˜ao y = f(x) no ponto x dado por 
lim 
Δx→0 
Δy 
Δx 
= lim 
h→0 
[ 
f(x + h) − f(x) 
h 
] 
= f′(x) (3.29) 
desde que o limite existir. 
A taxa de varia¸c˜ao instˆantanea f′(x) ´e chamada de derivada da fun¸c˜ao f no ponto x, 
ela ´e o n´umero real, cujos valores aproximados s˜ao os quocientes [f(x + h) − f(x)] /h 
para valores muito pequenos de h. A taxa de varia¸c˜ao instˆantanea ´e o limite das taxas 
m´edias de varia¸c˜ao. 
Geometricamente, a derivada f′(x) ´e a inclina¸c˜ao da reta tangente l ao gr´afico da 
fun¸c˜ao f no ponto x. 
O sinal e o valor da derivada f′(x) indicam a tendˆencia da varia¸c˜ao de f a partir do 
ponto x. Se f′(x)  0, ent˜ao f(x+h)  f(x) para pequenos valores positivos de h. Se 
f(x)  0, tem-se, ao contr´ario, f(x + h)  f(x) para h pequeno e positivo. Se f′(x) 
´e um n´umero positivo grande, ent˜ao f cresce rapidamente a partir de x. E assim por 
diante. A derivada ´e a no¸c˜ao fundamental do C´alculo Infinitesimal. Sua descoberta, 
h´a trˆes s´eculos e meio, teve uma grande repercuss˜ao e provocou um progresso extraor-din 
´ario na Ciˆencia e em toda a civiliza¸c˜ao a partir daquela ´epoca. 
Exemplo 21 Seja s(t) a posi¸c˜ao de uma part´ıcula no instante t que se move ao longo 
de uma linha reta; a velocidade m´edia do corpo no intervalo de tempo de t1 a t2 ´e 
definida por 
55
Figura 3.17: Interpreta¸c˜ao geom´etrica da derivada 
vm = 
Δs 
Δt 
= 
s(t2) − s(t1) 
t2 − t1 
, (3.30) 
isto ´e, a velocidade v = v(t) como fun¸c˜ao do tempo ´e na verdade uma taxa de varia¸c˜ao. 
Suponhamos que estamos interessados em medir a rapidez com que a velocidade au-menta 
ou diminui; para isso tomamos como referˆencia dois instantes consecutivos t1 e 
t2 o quociente 
Δv 
Δt 
= 
v(t2) − v(t1) 
t2 − t1 
, (3.31) 
´e a varia¸c˜ao m´edia da velocidade, por unidade de tempo. Esta quantidade ´e usual-mente 
chamada a acelera¸c˜ao m´edia e ´e respons´avel por medir a rapidez da velocidade. 
Para Δ  0 a acelera¸c˜ao ´e positiva, caso contr´ario para Δ  0 a velocidade decresce e 
a acelera¸c˜ao ´e negativa. 
Em concordˆancia com as leis da cinem´atica, o movimento de um corpo ´e um processo 
cont´ınuo. Um corpo n˜ao pode nem acelerar nem desacelerar no tempo zero. Conse-quentemente, 
n˜ao h´a dificuldade em chegarmos `a no¸c˜ao de uma velocidade instantˆanea 
no tempo t1 partindo de uma velocidade m´edia; com efeito, tomando o limite em (3.30) 
s′(t1) = lim 
t2→t1 
Δs 
Δt 
= lim 
t2→t1 
s(t2) − s(t1) 
t2 − t1 
, (3.32) 
56
representa a velocidade instantˆanea no tempo t1, ela ´e definida como o limite da fun¸c˜ao 
posi¸c˜ao da part´ıcula. 
Da mesma forma, a acelera¸c˜ao instantˆanea no tempo t1 ´e definida como segue: 
v′(t1) = lim 
t2→t1 
Δv 
Δt 
= lim 
t2→t1 
v(t2) − v(t1) 
t2 − t1 
, (3.33) 
quer dizer, o limite da acelera¸c˜ao m´edia dado por (3.31) representa a acelera¸c˜ao ins-tant 
ˆanea. 
Modelos matem´aticos que relacionam as vari´aveis por meio de suas varia¸c˜oes cont´ınuas 
s˜ao formulados por equa¸c˜oes diferenciais (veja Unidade IV ). J´a os modelos discretos 
utilizam as equa¸c˜oes de diferen¸cas, como veremos a seguir. 
3.2 Equac~oes de Diferencas 
A teoria de equa¸c˜os de diferen¸cas ´e rica em muitos ramos das ciˆencias naturais pelas 
diversas aplica¸c˜oes que ela possui. Essas equa¸c˜oes, em geral, descrevem fenˆomenos ao 
longo do tempo. Essa evolu¸c˜ao do tempo ´e medida em intervalos iguais de modo a 
ser interpretado como uma vari´avel discreta. Por exemplo, se desej´assemos calcular o 
n´umero de indiv´ıduos numa popula¸c˜ao de seres vivos em um determinado tempo, cada 
unidade de tempo poder´a ser considerado como dias, ou, se se estiver a medir o caudal 
de um rio, o tempo pode ser considerado em semanas, ou se pretendemos determinar 
o produto nacional bruto de uma regi˜ao, o tempo pode ser medido em anos etc. 
De
nic~ao 20 (Equac~ao de Diferencas) Uma equa¸c˜ao que relaciona os termos de 
uma sequˆencia {y0, y1, y2, ..., yn, ...} ´e chamada equa¸c˜ao de diferen¸cas ou f´ormula de re-corr 
ˆencia. Se a sequˆencia ´e finita dizemos que a equa¸c˜ao ´e uma equa¸c˜ao de diferen¸cas 
finitas. De modo geral, temos a seguinte defini¸c˜ao para o caso finito. Seja n ∈ Z (ou 
n ∈ N). Uma equa¸c˜ao da forma 
F(n, yn, yn−1, ..., yn−m) = 0 (3.34) 
´e designada por equa¸c˜ao de diferen¸cas finitas (EDF) de ordem m  n. Por ordem 
entendemos a diferen¸ca entre o maior e o menor dos ´ındices de y. 
A equa¸c˜ao estabelece uma rela¸c˜ao entre yn e n, yn−1, ..., yn−m. Para simplificar, admite-se 
que a equa¸c˜ao anterior se pode escrever na forma normal: 
yn = f(n, yn−1, ..., yn−m) (3.35) 
57
Exemplo 22 Um exemplo de equa¸c˜ao de diferen¸cas ´e a seguinte: 
(n + 2)yn+1 − 3yn = n2 + 2 
A equa¸c˜ao anterior implica que, para cada valor de n entre zero e infinito, o termo de 
ordem n + 1 na seq¨uˆencia, multiplicado por n + 2 e menos 3 vezes o termo de ordem 
n, ´e igual a n2 + 2. 
De
nic~ao 21 (Soluc~ao de uma Equac~ao de Diferencas) Uma fun¸c˜ao ϕn ´e de-signada 
uma solu¸c˜ao da EDF yn = f(n, yn−1, ..., yn−m) se ϕn satisfaz 
ϕn = f(n, ϕn−1, ..., ϕn−m). 
Uma solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao de diferen¸cas finitas ´e uma express˜ao que fornece o valor 
de uma vari´avel num est´agio n em fun¸c˜ao de n e dos m valores dos est´agios iniciais, 
chamados condi¸c˜oes iniciais. 
Observac~ao 4 Se uma equa¸c˜ao est´a em forma normal, ent˜ao em princ´ıpio ´e f´acil 
achar as solu¸c˜oes. Considere (3.35) para os valores sucessivos n = m,m + 1,m + 2, ... 
ym = f(m, ym−1, ..., y0) 
ym+1 = f(m + 1, ym, ..., y1) 
ym+2 = f(m + 2, ym−1, ..., y2) 
...... 
Note-se que, se y0, y1, ..., ym−1 s˜ao dados arbitrariamente, ent˜ao f(m, ym−1, ..., y0) nos 
fornece o valor de ym. Sabendo este valor, f(m + 1, ym, ..., y1) nos fornece o valor de 
ym+1 e, sabendo este, f(m + 2, ym−1, ..., y2) nos fornece o valor de ym+2, e assim por 
diante. Este processo, chamado de itera¸c˜ao, constr´oi uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao a partir 
dos m condi¸c˜oes iniciais y0, y1, ..., ym−1 que a seguir definimos e aos quais podem ser 
atribu´ıdos valores arbitr´arios. 
De
nic~ao 22 (Problema de Valor Inicial) Um problema de valor inicial (PVI) ´e 
definido pela seguinte express˜ao: 
(PV I) 
{ 
yn = f(n, yn−1, ..., yn−m) 
y0, y1, ... ym−1 s˜ao conhecidos. 
58
Exemplo 23 Tomando a condi¸c˜ao inicial y0 = 0, uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de primeira 
ordem do Exemplo 22 ´e dada pela fun¸c˜ao ϕn = yn = n. 
Com efeito, completamos a sequˆencia a partir da equa¸c˜ao de diferen¸cas 
2y1 − 3y0 = 2 ⇒ y1 = 1 
3y2 − 3y1 = 3 ⇒ y2 = 2 
4y3 − 3y2 = 6 ⇒ y3 = 3 
Deduzimos que a solu¸c˜ao obtida a partir da condi¸c˜ao inicial y0 = 0 ´e yn = n, e a 
obten¸c˜ao da solu¸c˜ao atrav´es deste processo ´e chamado de m´etodo iterativo. 
Exemplo 24 A fun¸c˜ao yn = 
n(n − 1) 
2 
´e solu¸c˜ao do PVI: 
{ 
yn = yn−1 + n − 1 
y1 = 0 
Com efeito, ´e simples verificar que 
n(n − 1) 
2 
= 
(n − 1)(n − 2) 
2 
+ n − 1; 
portanto, yn = n(n − 1)/2 ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de diferen¸cas dado. Por outro lado, 
y1 = (0)(1)/2 = 0, verificando-se dessa forma a condi¸c˜ao inicial, e, portanto, solu¸c˜ao 
do problema de valor inicial. 
Observac~ao 5 Observe que, uma vez dados os valores de y0, y1, ..., ym−1, os passos 
iterativos determinam os n´umeros sucessivos ym, ym+1, ..., yn de maneira ´unica. Uma 
outra maneira de expressar isso ´e a seguinte: se u e v s˜ao duas solu¸c˜oes e se os primeiros 
m valores coincidem, isto ´e, u0 = v0, u1 = v1, ..., um−1 = vm−1, ent˜ao u = v. Esse 
resultado ´e conhecido como Teorema de Unicidade. 
3.2.1 Equac~oes de Diferencas Lineares 
De
nic~ao 23 (Equac~oes de Diferencas Lineares de Ordem m ) Uma equa¸c˜ao 
de diferen¸ca linear de ordem m tem a seguinte forma: 
yn + an−1yn−1 + an−2yn−2 + ... + an−2yn−m = fn, 
59
onde ai−1, (i = 1, 2, ...,m) e fn s˜ao fun¸c˜oes em n. 
De
nic~ao 24 (Equac~ao Linear de Ordem m com Coe
cientes Constantes) 
Uma equa¸c˜ao de diferen¸ca linear de ordem m com coeficientes constantes tem a seguinte 
forma: 
yn + an−1yn−1 + an−2yn−2 + ... + an−myn−m = fn, (3.36) 
onde ai−1, (i = 1, 2, ...,m) s˜ao constantes e fn ´e uma fun¸c˜ao que depende de n. No caso 
fn = 0, a equa¸c˜ao (3.36) ´e chamada homogˆenea; caso contr´ario, ´e dita n˜ao homogˆenea. 
Observac~ao 6 Note-se a conven¸c˜ao: fn ´e uma express˜ao em n onde n varia discreta-mente; 
e f(n) ´e uma express˜ao em n onde n varia continuamente. Assim, se fn = n2, 
para n ≥ 0, ent˜ao fn assume os valores {0, 1, 4, 9, ...}. Nessa se¸c˜ao estudam-se as EDF 
de ordem m com coeficientes constantes. 
O m´etodo iterativo, utilizado no ponto precedente, n˜ao funciona eficientemente para 
essas equa¸c˜oes. Exige-se, assim, um m´etodo alternativo de resolu¸c˜ao. Come¸ca-se por 
resolver a equa¸c˜ao (3.36) assumindo fn = 0. 
Teorema 1 [Soluc~ao Geral] A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao homogˆenea 
yn + an−1yn−1 + an−2yn−2 + ... + an−myn−m = 0, 
´e da forma 
yn = c1u1 + c2u2 + ... + cmum, (3.37) 
onde ci (i = 1, ...,m) s˜ao constantes arbitr´arias, ui s˜ao fun¸c˜oes em n, e {u1, ..., um} ´e 
uma base de dimens˜ao m do espa¸co das solu¸c˜oes. 
Qualquer solu¸c˜ao particular pode ser obtida a partir da equa¸c˜ao precedente mediante 
uma escolha apropriada de ci. 
O exemplo seguinte mostra como uma solu¸c˜ao geral de uma equa¸c˜ao de ordem m, de-pende 
de m constantes arbitr´arias. 
60
Exemplo 25 A equa¸c˜ao de segunda ordem yn+2 = 1 + 2yn + yn+1 tem como solu¸c˜ao 
geral 
yn = 
−1 
2 
+ a(−1)n + 2nb, 
onde a e b s˜ao n´umeros quaisquer (observe que esta express˜ao ´e uma solu¸c˜ao). O 
m´etodo iterativo n˜ao nos leva necessariamente a enxergar uma maneira compacta de 
expressar a solu¸c˜ao geral, e em geral tal maneira compacta n˜ao existe. Para algu-mas 
equa¸c˜oes importantes, por´em, a solu¸c˜ao geral pode ser expressa em forma ´util e 
expl´ıcita. S˜ao essas as equa¸c˜oes que estudaremos neste curso. 
Exemplo 26 Provar que a EDF de segunda ordem yn+1 − 5yn + 6yn−1 = 0 tem como 
solu¸c˜ao geral 
yn = c12n + c23n 
Soluc~ao Lembrando que uma base do espa¸co vectorial das solu¸c˜oes de uma EDF de 
ordem 2 ´e um conjunto formado por duas solu¸c˜oes linearmente independentes, ent˜ao 
devemos provar que o conjunto {2n, 3n} ´e uma base do mencionado espa¸co de solu¸c˜oes. 
N˜ao ´e dificil verificar que 2n e 3n s˜ao solu¸c˜oes da equa¸c˜ao; com efeito, substituindo-se 
na equa¸c˜ao, obtemos 
2n+1 − 5.2n + 6.2n−1 = 0, 
3n+1 − 5.3n + 6.3n−1 = 0, 
assim 2n e 3n s˜ao solu¸c˜oes. Essas solu¸c˜oes s˜ao linearmente independentes se, e somente 
se, 
α12n + α23n = 0, ∀ n ⇔ α1 = α2 = 0. 
Tomando agora n = 0 e n = 1 na equa¸c˜ao anterior, obtemos respectivamente 
α1 + α2 = 0, 
2α1 + 3α2 = 0, 
e resolvendo o sistema, encontramos α1 = 0 e α2 = 0; portanto, as solu¸c˜oes s˜ao linear-mente 
independentes. Pelo Teorema 1 provamos que a solu¸c˜ao geral ´e 
yn = c12n + c23n. 
61
Sabe-se j´a verificar se determinado conjunto de solu¸c˜oes forma uma base do espa¸co 
das solu¸c˜oes de uma EDF linear homogˆenea de coeficientes constantes. Importa agora 
estudar um m´etodo que permita obter a solu¸c˜ao geral da EDF. Para isso, se come¸ca 
por introduzir o operador de avan¸co (forward) F. 
De
nic~ao 25 (Operador Avanco) O operador de avan¸co F sobre a express˜ao yn 
define-se como Fyn = yn+1. 
Da defini¸c˜ao temos que F2yn = F(Fyn) = Fyn+1 = yn+2. Em geral, para todo k,m ∈ N 
Fmyn+k = yn+k+m. 
Temos a conven¸c˜ao F0yn = yn. O operador F aplicado a uma constante resulta na 
pr´opria constante, Fc = c. Com o operador de avan¸co podemos escrever a equa¸c˜ao 
linear homogˆenea de ordem m 
amym+n + am−1ym+n−1 + ... + a0yn = 0 (3.38) 
na forma 
amFmyn + am−1Fm−1yn + ... + a0F0yn = 0, 
ou 
(amFm + am−1Fm−1 + ... + a0F0)yn = 0. 
Logo, 
p(F)yn = 0, 
onde 
p(F) = amFm + am−1Fm−1 + ... + a0F0. 
Definimos o polinˆomio caracter´ıstico: p(r) = amrm + am−1rm−1 + ... + a0 e a equa¸c˜ao 
62
caracter´ıstica associada `a equa¸c˜ao homogˆenea 
p(r) = 0. 
Estamos diante de uma equa¸c˜ao polinomial de grau m, que tem m ra´ızes. As solu¸c˜oes 
da equa¸c˜ao caracter´ıstica s˜ao chamadas ra´ızes caracter´ısticas da equa¸c˜ao e podem ser 
usadas para estabelecer a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao, que nos d´a todas as solu¸c˜oes da 
equa¸c˜ao de diferen¸cas. 
EDF Linear de Primeira Ordem 
Teorema 2 [EDF Linear de Primeira Ordem m = 1] Considere-se a EDF 
a1yn+1 + a0yn = 0, 
i.e., (a1F + a0)yn = 0 ou ainda p(F)yn = 0. Seja r a raiz do polinˆomio caracter´ıstico 
p(r) = a1r + a0, isto ´e, r = −a0/a1. Ent˜ao, 
yn = c1rn, c1 ∈ R (3.39) 
´e a solu¸c˜ao geral da EDF. 
Demonstra¸c˜ao. Atendendo ao Teorema 1, a demonstra¸c˜ao ´e simples e deixa-se como 
exerc´ıcio.  
Exemplo 27 Resolver a EDF de primeira ordem 2yn+1 − 5yn = 0 
Soluc~ao A equa¸c˜ao pode ser escrita da forma 
2Fyn − 5F0yn = (2F − 5)yn = 0 
cuja equa¸c˜ao caracter´ıstica associada `a equa¸c˜ao homogˆenea ´e 
2r − 5 = 0 e raiz r = 5/2 
Portanto, a solu¸c˜ao dada pelo Teorema 2 ´e yn = c 
( 
5 
2 
)n 
, ∀ c ∈ R. 
63
EDF Linear de Segunda Ordem 
Teorema 3 [EDF Linear de Segunda Ordem m = 2] Considere-se a EDF 
a2yn+2 + a1yn+1 + a0yn = 0, 
i.e., (a2F2+a1F +a0)yn = 0 ou ainda p(F)yn = 0. Sejam r1 e r2 as ra´ızes do polinˆomio 
caracter´ıstico p(r) = a2r2 + a1r + a0. Tˆem-se os seguintes casos: 
1. Se r1 e r2 s˜ao reais e distintas, a solu¸c˜ao geral ´e 
1 + c2rn 
2 , c1, c2 ∈ R; (3.40) 
yn = c1rn 
2. Se r1 = r2 = r, a solu¸c˜ao geral ´e 
yn = c1rn + c2nrn, c1, c2 ∈ R; (3.41) 
3. Se r1 = a + bi, r2 = a − bi s˜ao ra´ızes complexas do polinˆomio caracter´ıstico, a 
solu¸c˜ao geral ´e 
yn = ρ (c1 cos(ωn) + c2sen(ωn)) , (3.42) 
onde ρ = 
√ 
a2 + b2 e ω = arccos(a/ρ). 
Demonstra¸c˜ao. Deixa-se como exerc´ıcio mostrar que as solu¸c˜oes, em cada caso, satis-fazem 
o Teorema 1.  
Exemplo 28 Resolver a EDF yn+2 − 3yn+1 + 2n = 0 
Soluc~ao A equa¸c˜ao ´e uma equa¸c˜ao de diferen¸cas finitas, de segunda ordem, ho-mog 
ˆenea, linear e de coeficientes constantes. A respectiva equa¸c˜ao caracter´ıstica ´e 
r2 − 3r + 2 = 0 
cujas solu¸c˜oes s˜ao 
r1 = 2 ou r = 1. 
Portanto, a solu¸c˜ao dada pelo Teorema 3 ´e 
yn = c11n + c22n = c1 + c22n c1, c2 ∈ R. 
64
Exemplo 29 Resolver o problema de valor inicial 
(PV I) 
{ 
yn+2 + yn = 0 
y0 = 0, y1 = 1 
Soluc~ao A equa¸c˜ao caracter´ıstica ´e 
r2 + 1 = 0 
cujas solu¸c˜oes s˜ao 
r1 = i r = −i. 
Logo, a solu¸c˜ao dada pelo Teorema 3 ´e yn = ρ (c1 cos(ωn) + c2sen(ωn)) c1, c2 ∈ R, onde 
ρ = 
√ 
a2 + b2 = 
√ 
1 = 1 e ω = arccos(a/ρ) = arccos(0) = 
π 
2 
. 
Portanto, 
yn = c1 cos( 
π 
2 
n) + c2 sen( 
π 
2 
n), c1, c2 ∈ R. 
Das condi¸c˜oes iniciais temos 
y0 = c1 cos( 
π 
2 
0) + c2 sen( 
π 
2 
0) = c1 = 0,⇒ c1 = 0. 
Analogamente, 
y1 = c2 sen( 
π 
2 
) = c2 = 1,⇒ c2 = 1. 
Portanto, a solu¸c˜ao do problema de valor inicial ´e 
yn = sen( 
nπ 
2 
) 
65
3.2.2 Sistemas de Equac~oes de Diferencas 
Na Subse¸c˜ao 3.2.1, estudamos as equa¸c˜oes de diferen¸cas finitas lineares. Agora, esten-deremos 
essas equa¸c˜oes para sistemas de equa¸c˜oes lineares. Veremos a seguir que uma 
equa¸c˜ao de segunda ordem e em geral de ordem m pode ser transformado num sistema 
linear de duas equa¸c˜oes de primeira ordem e em geral num sistema de m equa¸c˜oes de 
primeira ordem. Vamos nos limitar ao caso de sistemas lineares de duas equa¸c˜oes de 
primeira ordem com coeficientes constantes. Iniciamos com a seguinte defini¸c˜ao: 
De
nic~ao 26 Um sistema de equa¸c˜oes nas vari´aveis yn, zn da forma 
{ 
yn+1 = a11yn + a12zn 
zn+1 = a21yn + a22zn, 
(3.43) 
onde aij , i, j = 1, 2 s˜ao constantes, ´e chamado sistema de duas equa¸c˜oes em diferen¸cas 
finitas lineares. 
Um sistema linear de duas equa¸c˜oes de primeira ordem pode ser transformado em uma 
equa¸c˜ao linear de segunda ordem 
yn+2 + ayn+1 + byn = 0 (3.44) 
Com efeito, da primeira e segunda equa¸c˜ao de (3.43) temos respectivamente 
yn+2 = a11yn+1 + a12zn+1 
= a11yn+1 + a12(a21yn + a22zn) 
= (a11 + a22)yn+1 + (a12a21 − a11a22)yn 
Portanto, 
yn+2 − (a11 + a22)yn+1 + (a11a22 − a12a21)yn = 0, (3.45) 
obtendo assim (3.44) onde a = −(a11 + a22) e b = −(a12a21 − a11a22). Reciprocamente 
a equa¸c˜ao linear de segunda ordem (3.44) pode ser transformada num sistema linear 
de duas equa¸c˜oes de primeira ordem (3.43) considerando-se a mudan¸ca de vari´aveis 
66
zn = yn+1: 
{ 
yn+1 = zn 
zn+1 = −azn − byn 
(3.46) 
De
nic~ao 27 A matriz 
J = 
( 
a11 a12 
a21 a22 
) 
(3.47) 
´e denominada matriz Jacobiana do sistema (3.43). Os autovalores desta matriz s˜ao 
valores r tal que det(J − rI) = 0, onde I ´e a matriz identidade, isto ´e, 
det(J − rI) =
a11 − r a12 
a21 a22 − r
= 0 ⇔ 
r2 − (a11 + a22)r + (a11a22 − a12a21) = 0 (3.48) 
p(r) = r2 − (a11 + a22)r + (a11a22 − a12a21) ´e o polinˆomio caracter´ıstico de (3.45). 
α = a11 + a22 ´e o tra¸co da matriz J, β = a11a22 − a12a21 ´e o determinante de J, 
α2 − 4β ´e o discriminante de J. 
Exemplo 30 Desejamos encontrar a formula¸c˜ao de um modelo matem´atico que go-verna 
a dinˆamica populacional dos atuns. Sabendo que o atum ´e considerado jovem 
(alevino) at´e a idade de quatro anos, em que inicia sua reprodu¸c˜ao sexual, e que o 
n´umero de alevinos no ano n ´e proporcional ao n´umero de adultos no ano n − 1, for-mular 
o modelo matem´atico do problema e solucionar. 
Soluc~ao Denotemos por N(n) = Nn o n´umero de adultos no ano n, e J(n) = Jn o 
n´umero de atuns jovens (alevinos), o que implica que as vari´aveis envolvidas s˜ao de tipo 
discreto. Como hip´oteses de simplifica¸c˜ao suponhamos que o fator de proporcionalidade 
k ´e constante; logo, do enunciado temos 
Jn = kNn−1 (3.49) 
De outro lado, se yn representa o n´umero total de atuns no ano n, ´e evidente que 
yn = Nn + Jn (3.50) 
Considerando que o atum ´e jovem antes dos quatro anos, podemos tomar na verdade 
cada 2 anos como margem de intervalo de tempo quer dizer, o tempo n = 1 represen-tar 
´a 2 anos; logo, passados outros dois anos, n = 2 representar´a 4 anos, que ´e a idade 
67
em que o atum torna-se adulto, e assim sucessivamente. 
Dessa forma, iniciamos o seguinte processo iterativo: 
No inicio n = 0 do processo, teremos uma quantidade inicial de N0 adultos e J0 = 0 
alevinos que em total s˜ao y0 = N0 atuns. 
Passados dois anos, n = 1 haver´a ainda N1 = N0 adultos, e J1 = kN0 alevinos quando, 
no total, haver´a y1 = N0 + kN0 atuns. 
No tempo n = 2, isto ´e, transcorridos quatro anos, os J1 = kN0 alevinos j´a s˜ao adultos 
e se reproduzem; logo, h´a N2 = N0 + kN0 = y1 adultos e J2 = kN0 = kN1 alevinos 
que, no total, s˜ao y2 = N0 + 2kN0. 
Em n = 3, isto ´e, depois de seis anos, teremos N3 = N0 + 2kN0 = y2 adultos e 
J3 = kN2 = kN0 + k2N0 alevinos, que no total, s˜ao y3 = N0 + 3kN0 + k2N0 atuns. 
Em geral, para qualquer ano n, n´os teremos Nn = yn−1 = Nn−1 + Jn−1 adultos e 
Jn = kNn−1 alevinos que, no total, somam yn = Nn + Jn = Nn−1 + Jn−1 + kNn−1. 
Ent˜ao, podemos ver que a f´ormula de recorrˆencia para a quantidade de atuns adultos 
´e dada por 
Nn = Nn−1 + Jn−1 = Nn−1 + kNn−2 para n ≥ 2. (3.51) 
Como yn = Nn + Jn, temos 
Nn = yn−1 = yn−2 + kyn−3 para n ≥ 3, (3.52) 
que pode ser reescrito na forma de uma equa¸c˜ao em diferen¸cas lineares de segunda 
ordem com coeficientes constantes. 
yn = yn−1 + kyn−2 para n ≥ 2. (3.53) 
Acrescentando as condi¸c˜oes inicias y0 = N(0) = N0, y1 = N(1) = N1 = N0 obtemos o 
modelo matem´atico atrav´es do seguinte problema de valor inicial: 
{ 
yn = yn−1 + kyn−2 
y0 = y1 = N0, 
(3.54) 
68
Tomando o valor num´erico k = 2, encontramos a solu¸c˜ao. A equa¸c˜ao caracter´ıstica ´e 
r2 − r − 2 = 0, 
cujas ra´ızes s˜ao 
r1 = 2 e r2 = −1. 
A solu¸c˜ao geral ´e 
yn = c12n + c2(−1)n 
Das condi¸c˜oes iniciais temos 
{ 
N0 = c1 + c2 
N0 = 2c1 − c2 
Resolvendo o sistema, encontramos 
c1 = 
2N0 
3 
, c2 = 
N0 
3 
, 
obtendo 
yn = 
N0 
3 
2n+1 + 
N0 
3 
(−1)n 
69
3.2.3 Atividades 
1. Classifique o tipo de vari´avel. 
a) O n´umero de ind´ıviduos de uma popula¸c˜ao animal ou vegetal. 
b) O raio de uma c´elula esf´erica. 
c) O n´umero de mol´eculas de uma substˆancia radioativa. 
d) A posi¸c˜ao de uma part´ıcula. 
2. A concentra¸c˜ao C (em miligramas por mililitro) de um rem´edio na corrente 
sangu´ınea de um cavalo ´e monitorada a intervalos de 20 minutos durante 2 horas, 
com t dado em minutos, conforme a tabela: 
t 0 20 40 60 80 100 120 
C 0 17 55 89 111 113 68 
Encontre a taxa m´edia de varia¸c˜ao nos intervalos: a) [0, 20]; b) [60, 80]. 
3. Um grupo de excursionistas iniciou uma caminhada de 40 km `as 9 horas. O 
grupo alcan¸cou um abrigo a 32 km de distˆancia do ponto de partida `as 18 h30 m. 
A´ı eles passaram a noite. Na manh˜a seguinte, `as 8 horas, o grupo continuou a 
caminhar e chegou ao seu objetivo `as 11 h 30 m. A velocidade m´edia do segundo 
dia ´e maior ou menor do que a do primeiro? 
4. Suponhamos que uma popula¸c˜ao de 25000 indiv´ıduos (no instante t = 0) cresce 
de acordo com a f´ormula N = 25000 + 45t2, onde o tempo t ´e medido em dias. 
Encontrar a taxa m´edia de crescimento nos seguintes intervalos de tempo: a) de 
t = 0 a t = 2; b) de t = 2 a t = 10; c) de t = 0 a t = 10. 
5. O tamanho de uma cultura de bact´erias que cresce lentamente no tempo (em 
horas) ´e dado aproximadamente por 
N(t) = N0 + 52t + 2t2 
Calcular a taxa de varia¸c˜ao instantˆanea em t = 6 horas. 
6. O modelo discreto de um modelo populacional de indiv´ıduos ´e dado pela taxa de 
varia¸c˜ao Malthusiana, proveniente de um crescimento exponencial 
√ 
α = Δt 
Nt+Δt 
Nt 
− 1 
a) Fa¸ca Δt = 1 e prove que Nt+1 = (1 + α)Nt. 
b) Considerando a equa¸c˜ao de diferen¸cas de primeira ordem dado em a) e uma 
popula¸c˜ao inicial de N(0) = N0, prove que o problema de valor inicial tem por 
solu¸c˜ao Nt = (1 + α)tN0. 
70
7. Encontrar a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao 
yn+2 − yn = 0 
8. Considere-se o seguinte modelo econˆomico multiplicador-acelerador simplificado 
Ct = byt−1 
It = Ii 
t + G 
Ii 
t = k(Ct − Ct−1) 
yt = Ct + It 
onde C ´e o consumo que depende do rendimento nacional, y do per´ıodo anterior, 
I ´e o investimento que ´e igual ao investimento induzido, Ii, mais gastos do estado, 
G, e k ´e o coeficiente de acelera¸c˜ao. A ´ultima equa¸c˜ao representa a condi¸c˜ao de 
equil´ıbrio do modelo econˆomico. 
a) Prove que yt = b(1 + k)yt−1 − bkyt−2 + G. 
b) Se b = k = 1 e G = 0, prove que a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao em diferen¸cas de 
segunda ordem dado em a) ´e yt = c1 + c2t, c1, c2 constantes arbitr´arias. 
9. Na data t = 0 faz-se um dep´osito de 12000 reais `a taxa anual de 5%. Se yt 
representa o capital obtido na data t, 
a) Prove que o modelo matem´atico ´e dado pelo problema de valor inicial 
{ 
yt = (1.05)yt−1 
y0 = 1200 
b) Prove que a solu¸c˜ao do problema de valor inicial ´e yt = 12000(1.05)t. 
c) Prove que o valor do capital na data t = 3 ´e 13892. 
71
Unidade IV 
EQUAC ~OES DIFERENCIAIS ORDINARIAS
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  • 1. Graduac~ao Curso de Licenciatura em Matematica Modelagem Matematica Jos´e Angel D´avalos Chuquipoma UFSJ MEC / SEED /UAB 2012 1
  • 2. Modelagem Matem´atica / Jos´e Angel D´avalos Chuquipoma. - S˜ao Jo˜ao del-Rei, MG: UFSJ, 2012. 139p. Curso de Gradua¸c˜ao “Licenciatura”em Matem´atica. 1. Modelagem Matem´atica 2. Matem´atica I. Chuquipoma, J. A. D. II. T´ıtulo 2
  • 3. Sumario MODELAGEM MATEMATICA 5 UNIDADE I - MODELAGEM MATEMATICA E FORMULAC ~AO DE PROBLEMAS 6 1.1 Modelagem Matem´atica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.1.1 O Que ´e Modelagem? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.1.2 O Que ´e Modelagem Matem´atica? . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.1.3 A Modelagem no contexto da Educa¸c˜ao Matem´atica . . . . . . . 11 1.1.4 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1.2 Formula¸c˜ao de Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.2.1 Escolha de Temas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.2.2 Coleta de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.2.3 Formula¸c˜ao de Modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 1.2.4 Atividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 UNIDADE II - O METODO DOS MINIMOS QUADRADOS 23 2.1 Ajuste de Curvas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2 O M´etodo dos M´ınimos Quadrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.3 Ajuste Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.3.1 Ajuste Linear para o Modelo Exponencial . . . . . . . . . . . . 34 2.3.2 Ajuste Linear de Modelos Geom´etricos . . . . . . . . . . . . . . 38 2.4 Ajuste Quadr´atico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 2.5 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 UNIDADE III - EQUAC ~OES DE DIFERENCAS 46 3.1 Varia¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.1.1 Varia¸c˜oes Discretas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 3.1.2 Varia¸c˜oes Cont´ınuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 3.2 Equa¸c˜oes de Diferen¸cas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 3.2.1 Equa¸c˜oes de Diferen¸cas Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 3.2.2 Sistemas de Equa¸c˜oes de Diferen¸cas . . . . . . . . . . . . . . . . 66 3.2.3 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 3
  • 4. UNIDADE IV - EQUAC ~OES DIFERENCIAIS ORDINARIAS 72 4.1 Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´arias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 4.1.1 Defini¸c˜oes B´asicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 4.1.2 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 4.2 Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´arias de 1a Ordem . . . . . . . . . . . . . . 79 4.2.1 Vari´aveis Separ´aveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 4.2.2 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 4.3 Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´arias de 2a Ordem . . . . . . . . . . . . . . 91 4.3.1 Redu¸c˜ao de Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 4.3.2 Atividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 4.3.3 Equa¸c˜oes Lineares de Segunda Ordem com Coeficientes Constantes 99 4.3.4 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 UNIDADE V - APLICAC ~OES DE EQUAC ~OES DIFERENCIAIS OR-DIN ARIAS 112 5.1 Modelos de Dinˆamica Populacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 5.1.1 Modelo de Malthus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 5.1.2 Modelo de Verhulst . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 5.1.3 Modelo de Lotka - Volterra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 5.1.4 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 Respostas das Atividades 134 6.1 Respostas das Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 REFER^ENCIAS 140 4
  • 5. MODELAGEM MATEMATICA Seja bem-vindo (a) ao M´odulo da Disciplina Modelagem Matem´atica ! Este texto destina-se ao curso de gradua¸c˜ao a distˆancia da disciplina de Modelagem Matem´atica no marco da Universidade Aberta do Brasil -UAB. O objetivo principal do conte´udo do m´odulo ´e fornecer ao aluno um texto que desenvolva os t´opicos principais da ementa desta mat´eria que normalmente n˜ao ´e poss´ıvel encontrar num ´unico texto, facilitando, assim, o entendimento por parte do aluno no estudo desta mat´eria. A informa¸c˜ao te´orica apresentada ´e complementada com os exerc´ıcios propostos, com a inten¸c˜ao de que o aluno mostre os conhecimentos adquiridos no texto e nos exemplos resolvidos. Os temas que apresentamos e discutimos neste texto s˜ao divididos em cinco unidades que a seguir detalhamos. A primeira unidade se destina ao estudo dos aspectos te´oricos da Modelagem Ma-tem ´atica, onde s˜ao abordadas as etapas da modelagem e em especial as etapas do processo da Modelagem Matem´atica, escolha de temas, formula¸c˜ao de modelos. Na segunda unidade, estudamos o m´etodo dos m´ınimos quadrados e suas implicˆancias no ajuste linear de curvas para os modelos de tipo exponencial e geom´etrico, como tamb´em para o ajuste quadr´atico. Na terceira unidade, estudamos as equa¸c˜oes em diferen¸cas finitas e destacamos os mo-delos lineares de diferen¸cas e abordamos os conceitos de varia¸c˜oes discretas e cont´ınuas. A unidade quatro est´a destinada ao estudo dos aspectos introdut´orios das equa¸c˜oes di-ferenciais ordin´arias, enfatizando o m´etodo de vari´aveis separ´aveis para solucionar uma equa¸c˜ao ordin´aria de primeira ordem; solucionamos uma equa¸c˜ao de segunda ordem homogˆenea com coeficientes constantes, consideramos exemplos de aplica¸c˜ao. Por ´ultimo, na quinta unidade, s˜ao vistos alguns problemas de aplica¸c˜ao das equa¸c˜oes diferenciais: abordamos problemas da dinˆamica populacional, entre eles o modelo de Malthus, o modelo de Verhulst e o modelo de Lotka-Volterra. Apesar de este texto apresentar um conte´udo b´asico, ´e importante consultar outras fontes com o intuito de enriquecer os conceitos, bem como auxiliar na resolu¸c˜ao dos exerc´ıcios. O autor 5
  • 6. Unidade I MODELAGEM MATEMATICA E FORMULAC ~AO DE PROBLEMAS 6
  • 7. 1.1 Modelagem Matematica Objetivos • Interpretar as etapas presentes no processo da modelagem. • Explicitar a importˆancia da matem´atica para a forma¸c˜ao do aluno. • Aplicar os conhecimento obtidos na formula¸c˜ao de novos problemas que envolvem a modelagem matem´atica. 1.1.1 O Que e Modelagem? A diversidade de fenˆomenos presentes ao longo do desenvolvimento de nossa hist´oria tem sido um dos fatos pelos quais o homem vem se superando atrav´es das gera¸c˜oes, com o intuito de ir al´em do desconhecido; estes fenˆomenos ou obst´aculos tˆem permitido que cada pessoa construa o seu conhecimento dentro de suas pr´oprias limita¸c˜oes, quer dizer, vai criando conhecimentos ante seus pr´orios problemas da vida cotidiana. Ent˜ao, po-demos dizer que esta ´e uma maneira de como o homem (aprendedor) constitui o sujeito do processo congnitivo, que, dependendo de nossas capacidades, vamos estabelecendo um conjunto de informa¸c˜oes, ideias e abstra¸c˜oes da realidade, cujo comportamento desejamos analisar e interpretar em um linguagem l´ogica, com caracter´ısticas similares `a magnitude do problema; conceitualmente, isto ´e o que ´e conhecido como modelo de um problema. Assim, se o modelo obtido n˜ao consegue interpretar a realidade do problema, seja por diversos fatores como tamanho do problema, complexidade etc., somos obrigados a simplificar as hip´oteses(informa¸c˜oes) do objeto de estudo (fenˆomeno) para obter um modelo com caracter´ısticas semelhante ao problema, por´em descartanto caracter´ısticas ou comportamentos menos importantes ou secund´arios. Neste contexto, entendemos por Modelagem o processo de aproximar ou transformar problemas concretos do mundo real em modelos de problemas que simulem de forma ´otima o objeto de estudo e assim poder resolvˆe-los para interpretar suas solu¸c˜oes de forma clara. Etapas da Modelagem Ap´os ter entendido o conceito de modelagem, surge a quest˜ao: como ´e que podemos confrontar problemas do mundo real com modelos que possam interpretar tais proble-mas? Para responder essa pergunta, explicaremos a seguir as etapas ou momentos que 7
  • 8. devem ser tidos em conta na Modelagem. Primeira Etapa: A primeira etapa consiste em reconhecer a existˆencia de um pro-blema real, no sentido de ser significativo, isto ´e, determinar a situa¸c˜ao do problema a ser modelado, quer dizer, determinar seu fator de impacto no mundo real. Exemplo 1 Quando queremos prevenir a redu¸c˜ao do nivel do len¸col fre´atico, causado pelo desmatamento ou reflorestamento das ´areas florestais, isso constitui um problema de impacto florestal, que exige significa¸c˜ao, avalia¸c˜ao e cr´ıtica. Segunda Etapa: Designado o problema, a segunda etapa da Modelagem exige hip´oteses de simplifica¸c˜ao, ou seja, devemos conhecer o problema e simplific´a-lo; n˜ao simplifica-mos o problema real e sim introduzimos hip´oteses que simplificam sua abordagem. Todo problema nesta etapa deve ser tratado com um grau de simplifica¸c˜ao, e, `as vezes, a simplifica¸c˜ao ´e feita para facilitar a resolu¸c˜ao do modelo. Exemplo 2 No caso do problema de impacto florestal, o estudo ´e feito em uma regi˜ao do plano onde o meio poroso ´e homogˆeneo e isotr´opico (ou seja, possui as mesmas carac-ter ´ısticas em todas as dire¸c˜oes e em todos os pontos); desta forma ´e que simplificamos as hip´oteses com o objetivo de poder fazer um estudo de forma clara. Terceira Etapa: No passo seguinte do processo da Modelagem temos a terceira etapa, que consiste na resolu¸c˜ao do modelo decorrente atrav´es de diversas ´areas do conheci-mento; nesta etapa ´e muito importante a aproxima¸c˜ao do modelo a considerar. Exemplo 3 O modelo aproximado do problema de impacto florestal ´e dado atrav´es de um modelo de tipo matem´atico definido por uma equa¸c˜ao em derivadas parciais cuja solu¸c˜ao ´e dada pela fun¸c˜ao potencial e por uma fun¸c˜ao que define a localiza¸c˜ao do len¸col fre´atico. Quarta Etapa: Na quarta etapa, temos a avalia¸c˜ao das solu¸c˜oes encontradas na etapa anterior, de acordo com a quest˜ao real do problema a modelar. Quinta Etapa: Nesta quinta e ´ultima etapa da Modelagem, o que devemos ter em considera¸c˜ao ´e definir a decis˜ao com base nos resultados obtidos. ´E assim que, atrav´es da Modelagem, conseguimos obter melhores condi¸c˜oes para decidir o que fazer frente a um fenˆonemo ou a uma situa¸c˜ao real. Na Figura 1.1 damos um esquema do processo da modelagem. 8
  • 9. Figura 1.1: Processo da Modelagem 1.1.2 O Que e Modelagem Matematica? A Modelagem Matem´atica ´e uma mat´eria da Matem´atica que teve seu in´ıcio na an-tiguidade a partir de problemas pr´aticos; a inven¸c˜ao da roda pelos sum´erios, aproxi-madamente 3.000 anos a.C., foi, por exemplo, um dos primeiros modelos matem´aticos produzidos pela humanidade que se conhece; eles observaram um tronco de ´arvore rolando por um declive e tiveram a ideia de transportar cargas pesadas colocando-as sobre objetos rolantes. Modelos descrevem as nossas cren¸cas sobre como o mundo funciona. Na modelagem matem´atica, traduzimos essas cren¸cas em termos da linguagem da matem´atica. Isso tem muitas vantagens: primeiro, Matem´atica ´e uma linguagem muito precisa. Isso nos ajuda a formular ideias e estabelecer premissas importantes; segundo, a matem´atica ´e uma linguagem concisa, com regras bem definidas para manipula¸c˜oes; terceiro, todos os resultados que os matem´aticos provaram ao longo de centenas de anos est˜ao `a nossa disposi¸c˜ao, e, por ´ultimo, os computadores podem ser usados para realizar os c´alculos num´ericos. Segundo BASSANEZI (2011), a Modelagem Matem´atica ´e a arte de transformar proble-mas da realidade em problemas matem´aticos e resolvˆe-los, interpretando suas solu¸c˜oes na linguagem do mundo real. Assim, entre essas novas formas de considerar e entender a Modelagem, podemos concluir que a Modelagem Matem´atica ´e utilizada como um m´etodo cient´ıfico de pesquisa ou tamb´em como uma estrat´egia de ensino-aprendizagem. 9
  • 10. Podemos inferir ent˜ao que a Modelagem Matem´atica surgiu da necessidade do homem em resolver determinadas situa¸c˜oes ou problemas do seu dia a dia. Nesse sentido, pode-se dizer que Modelagem Matematica ´e o processo que envolve a obten¸c˜ao de um modelo que tenta descrever matematicamente um fenˆomeno da nossa realidade para tentar compreendˆe-lo e estud´a-lo, criando hip´oteses e reflex˜oes sobre tais fenˆomenos. H´a um grande elemento de compromisso em modelagem matem´atica. A maioria dos sistemas que interagem no mundo real s˜ao demasiado complicados para modelar, na sua totalidade. Da´ı o primeiro n´ıvel de compromisso ´e o de identificar as partes mais importantes do sistema. Essas ser˜ao inclu´ıdas no modelo, o restante ser´a exclu´ıdo. O segundo n´ıvel de compromisso diz respeito `a quantidade de manipula¸c˜ao matem´atica que vale a pena. Embora a matem´atica tenha o potencial de revelar os resultados gerais, estes resultados depender˜ao essencialmente da forma das equa¸c˜oes utilizadas. Pequenas altera¸c˜oes na estrutura das equa¸c˜oes podem exigir enormes mudan¸cas nos m´etodos matem´aticos utilizados. Que objetivos pode a modelagem alcan¸car? A Modelagem Matem´atica pode ser usada para uma s´erie de raz˜oes diferentes, qualquer objetivo espec´ıfico a ser alcan¸cado, de-pende tanto do estado do conhecimento do sistema e de como a modelage ´e feita.. Entre as muitas variedade de objetivos temos • desenvolver a compreens˜ao cient´ıfica - atrav´es da express˜ao quantitativa do conhe-cimento atual de um sistema (bem como exibir o que sabemos ou o que n˜ao sa-bemos); • testar o efeito de altera¸c˜oes no sistema; • tomar uma decis˜ao, incluindo decis˜oes t´aticas dos gestores e as decis˜oes es-trat ´egicas por planejadores. Nesse contexto, o esquema da Modelagem dada pela Figura 1.1, em termos da Mode-lagem Matem´atica ´e dado atrav´es da Figura 1.2: 10
  • 11. Figura 1.2: Esquema do Processo de Modelagem Matem´atica. Adapta¸c˜ao de Burghes e Borrie, (1981). Fonte: DA COSTA, J. F. M.; CALDEIRA, A. D.; DOS SANTOS, A. P, 1999. 1.1.3 A Modelagem no contexto da Educac~ao Matematica Pelo que foi dado anteriormente, quando estamos familiarizados com a Modelagem, em que o aluno ´e o sujeito do processo cognitivo e n˜ao somente com problemas ma-tem ´aticos, o pesquisador ou pessoa que trabalha nesta ´area vai ter uma maior capaci-dade em lidar com a Modelagem Matem´atica. De outro lado, muitas vezes, temos a ideia de que trabalhar na Modelagem com conte´udos matem´aticos altamente sofistica-dos ´e uma condi¸c˜ao que n˜ao se pode deixar de lado; isso, em geral, n˜ao ´e verdade, pois a matem´atica a se utilizar deve ser aquela que permita a resolu¸c˜ao do problema a tratar. O procedimento ou processo de Modelagem Matem´atica no contexto da educa¸c˜ao ma-tem ´atica, al´em das etapas presentes no processo, deve estar unido `a introdu¸c˜ao do problema por meio de informa¸c˜oes adicionais, como por exemplo, uma figura, um es-quema ou um fluxograma; de tal maneira que possa facilitar ao aluno o entendimento da situa¸c˜ao do problema a estudar e das diversas formas de modelagens matem´aticas. Assim, isso quer dizer que a Modelagem Matem´atica, no campo da educa¸c˜ao, tem que ir al´em das etapas que o caracterizam, de fato; devemos entender que, quando na sala de aula o professor ministra o que preparou ou programa com anticipa¸c˜ao aquele conte´udo 11
  • 12. matem´atico com o intuito de que os alunos aprendessem, s˜ao na verdade ferramentas necess´arias mas n˜ao suficientes para que o aluno comprenda o problema, o que significa que ´e precisso cobrir esse vazio que ainda est´a presente na educa¸c˜ao matem´atica. O exemplo seguinte representa um problema que pode ser interpretado atrav´es da Modelagem Matem´atica. Exemplo 4 (Controle Biologico de pragas) Desejamos combater biologicamente uma praga de insetos em uma planta¸c˜ao sem o uso de substˆancias agroqu´ımicas. A estrat´egia a utilizar ´e a seguinte: controlamos a popula¸c˜ao de insetos fazendo uma planta¸c˜ao inicial da planta atacada com o objetivo de atrair os insetos a serem com-batidos, para posteriormente serem recolhidos. No caso poss´ıvel de obter resultados positivos, teremos determinado na verdade o fator de impacto do problema, pois, sem o uso de substˆancias qu´ımicas, o custo econˆomico resulta ser muito confort´avel, deter-minando dessa forma a situa¸c˜ao do problema (primeira etapa). Claro est´a que devemos de considerar o caso em que temos um porcentagem m´axima de perda p relativa `a planta¸c˜ao inicial, isso devido ao fato que pode n˜ao existirem insetos na planta¸c˜ao inicial, o que origina uma coleta nula de insetos. O problema ser´a solucionado se conseguimos determinar a largura de uma faixa em torno de uma regi˜ao plantada em que pudesse ser colocada a planta¸c˜ao inicial, tendo em considera¸c˜ao o percentual m´aximo de perda p. Supondo que a regi˜ao de planta¸c˜ao seja um retˆangulo e que a produ¸c˜ao da planta¸c˜ao seja igual `a ´area plantada, estamos na verdade simplificando as hip´oteses, ´e dizer que fazemos uso de umas das etapas do processo da modelagem, isto ´e, a hip´otese de sim-plifica ¸c˜ao (segunda etapa). Representando por x a largura da faixa ao redor do campo retangular EFGH, ver Figura 1.3. Considerando um campo retangular de dimens˜oes M = 90 e N = 45 dados em metros, com um porcentual m´aximo de perda p = 5%, vemos da Fifura 1.3 que as dimens˜oes do retˆangulo interior EFGH s˜ao 90 − 2x e 45 − 2x metros. Da hip´otese, temos que a produ¸c˜ao da planta¸c˜ao (1 − p)MN ´e igual `a ´area plantada (M − 2x)(N − 2x), isto ´e, (1 − 0, 05)(90)(45) = (90 − 2x)(45 − 2x), ou 3847, 5 = (90 − 2x)(45 − 2x) = 4x2 − 270x + 4050 12
  • 13. Figura 1.3: Geometria do problema obtendo a express˜ao quadr´atica 4x2 − 270x + 202, 5 = 0, ou ainda 2x2 − 135x + 101, 25 = 0, o que significa que o modelo matem´atico de nosso problema ´e dado por uma equa¸c˜ao quadr´atica; encontrando as ra´ızes do polinˆomio de grau dois, estaremos resolvendo nosso problema (terceira etapa). Logo, utilizando a f´ormula que nos permite encontrar ra´ızes de uma equa¸c˜ao quadr´atica, temos x = 135 ± √ 1352 − 4.2.101, 25 4 13
  • 14. obtendo os seguintes valores aproximados x = 66, 741 ou x = 0, 75. Embora ambos os valores matem´aticamente sejam corretos, observamos que o valor de x = 66, 741 metros n˜ao faz sentido, pois a largura da faixa no interior da planta¸c˜ao deve ser menor que 45 metros; isso corresponde `a avalia¸c˜ao dos resultados (quarta etapa), o que implica que a largura da faixa da planta¸c˜ao inicial deve ser aproximadamente x = 0, 75 metros. Por ´ultimo, devemos tomar a decis˜ao correta, se for razo´avel ou n˜ao o resultado obtido de 0, 75 metros da largura da faixa (quinta etapa). No exemplo anterior, vemos a importˆancia de representar o problema por meio de um desenho, pois isso nos d´a uma vis˜ao global do entendimento da situa¸c˜ao do problema. Como trabalhar com a Modelagem Matematica em sala de aula? J´a no setor da educa¸c˜ao, o ensino-aprendizagem realizado atrav´es da Modelagem Ma-tem ´atica, permite lidar satisfatoriamente tanto entre a combina¸c˜ao dos aspectos da matem´atica como com suas aplica¸c˜oes; isso faz parte de um dos objetivos que pre-tendemos atingir nesta disciplina. Confiamos nos professores de matem´atica, temos a obriga¸c˜ao de mostrar aos alunos estas duas alternativas que se complementam. Outro aspecto a se ter em considera¸c˜ao para trabalhar com Modelegem Matem´atica em sala de aula ´e que, devido a se caracterizar como um ambiente de ensino-aprendizagem, os alunos s˜ao convidados a indagar e/ou investigar, por meio da matem´atica, situa¸c˜oes provenientes de outras ´areas. Assim, temos que ressaltar a importˆancia da integra¸c˜ao de situa¸c˜oes provenientes do cotidiano e de outras ´areas do conhecimento na sala de aula, com o prop´osito de possi-bilitar aos alunos intervirem na sua realidade. Por ´ultimo, os parˆametros que devemos deixar claro aos alunos no ˆambito da investiga¸c˜ao e compreens˜ao em aula, envolvem os seguintes aspectos: “identificar o problema; procurar, selecionar e interpretar in-forma ¸c˜oes relativas ao problema; formular hip´oteses e prever resultados; selecionar estrat´egias de resolu¸c˜ao de problemas; fazer e validar conjecturas, experimentando, recorrendo a modelos, esbo¸cos, fatos conhecidos, rela¸c˜oes e propriedades.” 14
  • 15. 1.1.4 Atividades 1. Uma praga de cigarrinhas ataca uma planta¸c˜ao de arroz; deseja-se controlar, bio-logicamente a praga, atrav´es de uma estrat´egia ´otima dada no Exemplo 4. Tendo em considera¸c˜ao uma margem de perda ao redor de 4% ao supor uma planta¸c˜ao inicial para recolher as cigarrinha e supondo a ´area de planta¸c˜ao um campo re-tangular de dimens˜oes M = 80m e N = 35m, encontre a largura da faixa em torno da planta¸c˜ao do campo retangular. 2. No exerc´ıcio anterior, identifique e explique as etapas que est˜ao presentes na Mo-delagem Matem´atica. 3. Um fazendeiro deseja circundar uma regi˜ao junto a um rio com uma cerca de 120 metros de comprimento para encerrar seus animais. Se a regi˜ao ´e representada por um retˆangulo (hip´oteses de simplifica¸c˜ao), fa¸ca a Modelagem Matem´atica do problema, para determinar as dimens˜oes do retˆangulo para que a ´area cercada seja a maior poss´ıvel. 4. Como vocˆe faria uma Modelagem Matem´atica dos seguintes problemas: a) A press˜ao exercida por uma massa de um g´as ´e diretamente proporcional `a temperatura absoluta e inversamente proporcional ao volume ocupado pelo g´as (Gases perfeitos). b) A resistˆencia de um fio condutor ´e diretamente proporcional ao seu compri-mento e inversamente proporcional `a ´area de sua se¸c˜ao reta (Resistˆencia el´etrica). c) Dois corpos de massas m1 e m2 se atraem em raz˜ao direta das massas e na raz˜ao inversa do quadrado das distˆancias (Lei da gravita¸c˜ao universal). 5. No Exemplo 4 do controle biol´ogico de pragas, fa¸ca um esquema do processo de Modelagem Matem´atica igual que ao mostrado na Figura 1.2 para este problema. 15
  • 16. 1.2 Formulac~ao de Problemas Objetivos • Criar modelos matem´aticos de problemas concretos do mundo real. • Reconhecer os tipos de formula¸c˜oes de problemas em termos matem´aticos. Nesta se¸c˜ao estabeleceremos mecanismos para a formula¸c˜ao e obten¸c˜ao de problemas novos; cabe ressaltar que n˜ao existe a priori f´ormula alguma que nos permita como resolver habilidades de matem´atica nem tampoco como adquiri-las, mas isso n˜ao im-pede o nosso interesse em desenvolver estrat´egias que possamos considerar no in´ıcio da modelagem sem ir al´em do objetivo principal, que ´e o ensino-aprendizagem. Entretanto, o que entendemos por habilidades neste contexto ´e a capacidade de poder tomar um problema concreto com algum grau de dificuldade e transform´a-lo em um modelo matem´atico para posteriormente solucion´a-lo e possa ser interpretado em ter-mos do problema incial. Figura 1.4: Processo Simplificado da Modelagem Matem´atica. Fonte: BASSANEZI, R. C, 2011. 16
  • 17. 1.2.1 Escolha de Temas Neste cen´ario da modelagem, o tema de estudo escolhido resulta ser o in´ıcio do processo, pois o conte´udo matem´atico a utilizar ainda ´e desconhecido; ent˜ao, um dos mecanis-mos a empregar nesta situa¸c˜ao ´e come¸cando a contar ou medir, com o intuito de se obter uma tabela de dados de tal maneira que possamos representar em um sistema de referˆencia (por exemplo um sistema cartesiano) a visualiza¸c˜ao do evento em estudo. Esta representa¸c˜ao dos dados com certeza vai dar origem a conjecturas, e tamb´em `a formula¸c˜ao de modelos matem´aticos. A escolha de temas tem que ser feita de forma completa e motivadora para que possa ter um fator de interesse na ´area da pesquisa dos alunos. Por exemplo, se o tema esco-lhido for o desmatamento, ent˜ao podemos pensar em modelar o problema de impacto ambiental do deslizamento de terra ou pensar em modelar atrav´es de um problema matem´atico de fronteira livre. A importˆancia da escolha de temas tamb´em reside em que estes sejam escolhidos pelos pr´oprios alunos com o pr´oposito de que, junto com o professor, se sintam respons´aveis pelo processo da modelagem; o desenvolvimento deve ser feito em grupos, cada um deles com sua pr´opria responsabilidade, com o objetivo de obter resultados positivos da modelagem do problema. 1.2.2 Coleta de dados Depois de ter escolhido o tema, o procedimento seguinte ser´a a coleta de dados, que consiste basicamente em buscar informa¸c˜oes (medi¸c˜oes, resultados estat´ısticos etc.) relacionadas com o objeto de estudo. Os dados coletados devem ser organizados em tabelas que, por sua vez, podem ser utilizadas na elabora¸c˜ao dos gr´aficos da curva de tendˆencias. A coleta de dados qualitativos ou num´ericos pode ser efetuada aplicando-se as seguintes t´ecnicas: 1. por meio de entrevistas e pesquisas realizadas com os m´etodos de amostragem aleat´oria; neste caso, s˜ao fundamentais a qualidade das perguntas e no¸c˜oes de Estat´ıstica; 2. atrav´es de pesquisa bibliogr´afica, uso da internet, procurando informa¸c˜ao em livros e revistas especializadas; 3. por meio de experiˆencias dos pr´oprios alunos. Nesse processo de obter dados sobre a realidade a ser modelada, estamos desenvolvendo, em outras palavras, um processo de experimentar novas informa¸c˜oes. 17
  • 18. 1.2.3 Formulac~ao de Modelos Uma vez feita a coleta de dados, o seguinte passo ´e a formula¸c˜ao matem´atica dos mo-delos. A formula¸c˜ao matem´atica de modelos podem ser dada de dois tipos: formula¸c˜ao est´atica e formula¸c˜ao dinˆamica. 1. Formulac~ao Estatica Estas formula¸c˜oes matem´aticas envolvem equa¸c˜oes ou fun¸c˜oes dependendo de uma ou mais vari´aveis; geralmente, essas formula¸c˜oes utilizam conceitos relacionados com a Geometria, onde a vari´avel tempo n˜ao tem importˆancia alguma. Exemplo 5 (Predador - Presa) Em uma popula¸c˜ao de veados se observa que a taxa de mortalidade est´a inflingida por uma popula¸c˜ao de le˜oes; sabendo-se que a taxa de mortalidade ´e proporcional ao n´umero de veados e tamb´em ao n´umero de le˜oes, desejamos obter um modelo matem´atico que interprete o problema de encontrar a taxa de mortalidade dos veados. Primeiramente, da teoria de grandezas proporcionais lembramos o seguinte: se uma grandeza z = f(x, y) ´e proporcional a x, enquanto y permanece constante, e quando z ´e proporcional a y enquanto x permanece constante, ent˜ao z ´e proporcional ao produto xy, isto ´e, z = c.xy onde c ∈ R. Ent˜ao, denotando por z a taxa de mortalidade do n´umero de veados, x o n´umero de veados e y o n´umero de le˜oes, vemos pelo anterior que a hip´oteses de manter constante uma das vari´aveis x e y implica que f(x, y) = b.xy, onde b ´e uma constante. Assim, a taxa de mortalidade dos veados ´e dado pela express˜ao z = b.xy O fato de considerar b constante n˜ao ´e sempre satisfeita; logo, aqui estamos fazendo uso da hip´oteses de simplifica¸c˜ao do processo de modelagem. 18
  • 19. 2. Formulac~ao Din^amica Em geral, esta formula¸c˜ao de modelos dinˆamicos (modelos que dependem do tempo) cont´em dois tipos de vari´aveis, chamadas vari´aveis dependentes e vari´aveis indepen-dentes. Essa dependˆencia ´e dada atrav´es de uma rela¸c˜ao entre essas vari´aveis. Exemplo 6 Do exemplo anterior podemos considerar um problema mais realista ao considerar a taxa de mortalidade junto com o n´umero de veados e le˜oes dependendo do tempo t. Com efeito, representando por x(t) o n´umero de veados e y(t) o n´umero de le˜oes no tempo t, claro est´a que a taxa de mortalidade neste caso vai depender tamb´em do tempo; assim, temos que a taxa de mortalidade dos veados ´e dada pelo modelo seguinte: z(t) = b.x(t)y(t) Por ´ultimo, no caso de n˜ao existirem as hip´oteses de proporcionalidade apresentadas nos exemplos vistos, ter´ıamos dificuldade em obter com exatid˜ao a rela¸c˜ao funcional f(x, y); assim, devemos deixar indicado que uma coleta de dados facilitaria o estudo, pois, utilizando-se t´ecnicas estat´ısticas, ´e poss´ıvel ter uma aproxima¸c˜ao do problema. Exemplo 7 Em uma pesquisa feita por um grupo de bi´ologos para obter medidas biom´etricas de atuns em uma gaiola, foram obtidos os seguintes dados do peso (gra-mas) e o comprimento (cent´ımetros) m´edio de uma fam´ılia de atuns em rela¸c˜ao `a sua idade t dada em anos: t idade comprimento (cm) peso (gr) 2 163.9 0.68 3 170 0.91 4 176.1 1.0 5 182.2 1.2 6 188.3 1.38 7 195.4 1.48 8 203.2 1.69 9 210 1.8 10 212.7 2.3 19
  • 20. Deseja-se encontrar uma rela¸c˜ao funcional entre o peso e o comprimento dos atuns atrav´es da tabela anterior. Soluc~ao Definindo as seguintes vari´aveis x e y como sendo o comprimento e peso m´edio respectivamente. Podemos relacionar essas vari´aveis num sistema referencial por meio do gr´afico de dis-pers ˜ao, Figura 1.5. Figura 1.5: Gr´afico de dispers˜ao. Esses dados estat´ısticos (tabela) podem ser aproximados por uma curva de regress˜ao (a ser definida no pr´oximo cap´ıtulo), curva vermelha na Figura 1.6. A curva de regress˜ao indica o comportamento ou tendˆencia de tipo geral entre o peso e o comprimento m´edio dos atuns. O gr´afico de dispers˜ao constitui um primeiro passo para uma Modelagem Matem´atica. Observamos que os pontos (x, y) n˜ao est˜ao sobre a curva. Uma rela¸c˜ao funcional, obtida atrav´es de um ajuste de dados, proporciona informa¸c˜oes iniciais para a elabora¸c˜ao de hip´oteses e tamb´em para a formula¸c˜ao de modelos. Pesquisas biol´ogicas estabelecem que o modelo matem´atico pode ser dado pela rela¸c˜ao funcional y(x) = kx, (1.1) 20
  • 21. Figura 1.6: Curva de regress˜ao onde k ´e a taxa de metabolismo e α d´a informa¸c˜ao em termos matem´aticos da forma do atum. Devido `a caracter´ıstica das vari´aveis consideradas, a rela¸c˜ao funcional ainda pode ser considerada como um modelo est´atico, pois n˜ao existe uma rela¸c˜ao de depˆendencia na vari´avel temporal t em (1.1). Modelos dinˆamicos tamb´em podem ser considerados no caso em que tenhamos as se-guintes rela¸c˜oes funcionais y(t) = y0 ( 1 − e−(
  • 22. =3)t )3 ou x(t) = x0(1 − e−
  • 23. t), onde β ´e a constante de metabolismo e representa a taxa de energia gasta para o atum se movimentar, y0 e x0 s˜ao os respectivos valores m´aximos de y e x. Esses modelos s˜ao chamados modelos de Von Bertalanffy, ver BASSANEZI (2011). 21
  • 24. 1.2.4 Atividade 1. Suponhamos que em uma fam´ılia de Heterodon nasicus (cobra), todas as cobras desta esp´ecie sejam jovens ou velhas e que tenham a mesma forma e o mesmo peso espec´ıfico, se a taxa de metabolismo ´e k = 446 e α = 3 e o peso dado em gramas e o comprimento dado em metros. a). Encontre a rela¸c˜ao funcional entre as vari´aveis comprimento e peso que define o modelo matem´atico; logo, determine se o modelo ´e de tipo est´atico ou dinˆamico. b). Determine o peso para um grupo de cobras cujos comprimentos s˜ao dados por COMPRIMENTO 0,4 0,6 0,8 1 c). Se a taxa de metabolismo para o modelo de Von Bertalanffy ´e β = 3 e x0 = 1, y0 = 446, λ = 1, encontre o peso e o comprimento para um conjunto de cobras depois de um mˆes. 2. Em certa esp´ecie de peixes, verificou-se que o consumo de oxig´enio O(l) dos peixes por unidade de peso diminui com o aumento de seu comprimento l atrav´es da rela¸c˜ao funcional (modelo matem´atico): O(l) = kql 0 ≤ l ≤ 80, para certos parˆametros k e q. Estimar k e q utilizando os seguintes dados: l (cm) 0 10 30 50 60 70 80 O (ml) 121 74 30 12 6,7 3,7 2 3. Uma planta¸c˜ao de cana de a¸c´ucar tem a forma de um retˆangulo de lados 2000 e 3000 m. Em cada per´ıodo de planta¸c˜ao se planta uma ´area de forma retangular que est´a crescendo em raz˜ao de seus lados menor e lado maior a uma velocidade de 4m/ano e 5m/ano respectivamente. Desejamos achar o modelo matem´atico do problema, que consiste em encontrar a velocidade em litros por ano com que a produ¸c˜ao de ´alcool procedente da cana de a¸c´ucar est´a crescendo, sabendo-se que a produ¸c˜ao de ´alcool ´e dada pela ´area da planta¸c˜ao. 22
  • 25. Unidade II O METODO DOS MINIMOS QUADRADOS 23
  • 26. O Metodo dos Mnimos Quadrados Objetivos • Aproximar uma fun¸c˜ao qualquer (conhecida ou n˜ao) ou um conjunto de pontos por uma combina¸c˜ao de fun¸c˜oes conhecidas. • Determinar a impˆortancia do m´etodo na Modelagem Matem´atica. • Reconhecer a curva de regress˜ao que melhor aproxime o problema ou fenˆomeno estudado. O processo de coleta de dados constitui uma parte essencial na Modelagem Matem´atica e tamb´em na metodologia cient´ıfica; tamb´em ´e fundamental para o desenvolvimento e aplica¸c˜ao da pr´opria ciˆencia. No decorrer da Modelagem Matem´aica, a parte experi-mental ressalta o processo de coleta de dados. No processo de obten¸c˜ao de dados ou medidas utilizam-se diversos conceitos como, por exemplo, dados estat´ısticos, desvios, o valor mais prov´avel de uma grandeza etc. fazendo convoca¸c˜ao a no¸c˜oes intuitivas a cada novo conceito, isto ´e, sem a preocupa¸c˜ao de apresentar uma teoria axiom´atica partindo de princ´ıpios gerais. Um primeiro passo nessa dire¸c˜ao est´a no que se chama de M´etodo dos M´ınimos Quadrados. Este processo de sistematiza¸c˜ao da obten¸c˜ao de dados permite, como veremos, obter bons resultados no ajuste de curvas. Embora possa ser utilizado no ajuste de outras curvas, vamos apresentar este m´etodo e seu uso para o ajuste de retas, por ser no momento nosso principal objetivo. Entre os motivos que avaliam a utiliza¸c˜ao do m´etodo, temos desde os mais variados, desde o mais simples at´e os mais complicados. Por exemplo, pode-se querer manipular uma func˜ao complicada f(x) = cos(e(cot 2x)), ou ent˜ao encontrar uma aproxima¸c˜ao para fun¸c˜oes que nem s˜ao conhecidas, como por exemplo. 24
  • 27. 2.1 Ajuste de Curvas De
  • 28. nic~ao 1 (Ajuste de Curvas) Um ajuste de curvas ou `as vezes chamada curva de regress˜ao ´e um conjunto de t´ecnicas num´ericas que tem por objetivo expressar al-guma tendˆencia da rela¸c˜ao de duas grandezas. Em outras palavras, ajuste de curvas ´e um mecanismo ou artif´ıcio que fornece uma rela¸c˜ao funcional de uma vari´avel depen-dente y quando relacionada com a vari´avel independente x. Exemplo 8 Considerando os dados da tabela do Exemplo 7 sobre o comprimento e peso dos atuns, podemos ver que existe, para cada n´ıvel de comprimento x, uma distri-bui ¸c˜ao do peso y = kx (curva de regress˜ao) em cada n´ıvel correspondente, conforme Figura 1.6 Um ajuste de curvas ´e muito ´util para uma formula¸c˜ao simplificada dos dados ou tamb´em para uma verifica¸c˜ao de alguma tendˆencia entre as grandezas. No estudo de algum fenˆomeno feito por medio de dados num´ericos (dados experi-mentais) estamos principalmente interessados, al´em das tendˆencias fornecidas por um ajuste de curvas ou curva de regress˜ao, em saber se a correspondente rela¸c˜ao funcio-nal y = f(x) ´e compat´ıvel para futuras previs˜oes de y no caso em que x est´a fora do dom´ınio de defini¸c˜ao de f. Na pr´atica, acontece que nos modelos est´aticos essas previs˜oes se preservam na maioria de casos; j´a nos modelos dinˆamicos, devemos tomar em conta outros tipos de consi-dera ¸c˜oes para preservar o ajuste de curvas, como por exemplo o comportamento do problema estudado ante perturba¸c˜oes das vari´aveis que definem o fenˆomeno. Quando obtemos um conjunto de dados, atrav´es de um processo de experimenta¸c˜ao, e desejamos obter um ajuste de curvas ou uma curva de regress˜ao entre as vari´aveis que definem o problema, a priori, escolhemos a forma da curva que desejamos ajustar para poder expressar estas vari´aveis, isto implica que existem uma infinidade de curvas de regress˜ao, claro est´a que nem toda rela¸c˜ao funcional obtida representa um bom modelo matem´atico. Exemplo 9 Considerando os dados da tabela do Exemplo 7 sobre o comprimento e a idade dos atums, observamos que a reta (Figura 2.7) y = 6.1t + 151.7 (2.2) 25
  • 29. obtida do ajuste entre os dados idade t e comprimento y ´e uma boa aproxima¸c˜ao para valores de t menores ou iguais a 10, pois seis dados da tabela est˜ao sobre a reta; j´a no caso em que t 10 isso n˜ao ´e garantido, pois o comprimento dos atuns tende a se estabilizar quando t cresce; caso contr´ario, acontece com os valores sobre a reta cujos valores tendem a crescer indefinidamente, e portanto, n˜ao pode ser feita uma previs˜ao no futuro sobre o comprimento dos atuns. Logo, conclu´ımos que a equa¸c˜ao (2.2) n˜ao pode ser considerada de modo geral como um bom modelo matem´atico, pois um dos objetivos principais da modelagem matem´atica ´e obter uma rela¸c˜ao funcional que interprete em seus vari´aveis ou parˆametros qualidades pr´oprias do fenˆomeno estudado, nesta parte resulta ser muito importante a valida¸c˜ao da solu¸c˜ao. Figura 2.7: Tendˆencia do crescimento de uma fam´ılia de atuns no per´ıodo de 10 anos. A quest˜ao central, como vimos, para se determinar a equa¸c˜ao da curva ´e encontrar a melhor curva regular de ajuste dos dados. Pode-se usar um crit´erio individual para tra¸car uma curva de ajustamento que se adapte ao conjunto de dados. Se for conhecido o tipo de equa¸c˜ao dessa curva, ´e poss´ıvel obter suas constantes, mediante a escolha de 26
  • 30. tantos pontos da curva quantas sejam as constantes da equa¸c˜ao. Em diversas situa¸c˜oes como, por exemplo, num laborat´orio, nos deparamos com gran-dezas que se relacionam entre si. Por exemplo, a press˜ao de uma determinada massa de g´as depende da sua temperatura e do seu volume; a distens˜ao de uma mola de-pende da for¸ca aplicada. Deseja-se, frequentemente, expressar essa rela¸c˜ao sob forma matem´atica, por meio de uma equa¸c˜ao que ligue as vari´aveis. Para auxiliar a deter-mina ¸c˜ao de uma equa¸c˜ao que relacione as vari´aveis, um primeiro passo consiste em colecionar dados que indiquem os valores correspondentes das vari´aveis consideradas. Por exemplo, x pode representar o deslocamento de uma mola causado por uma for¸ca aplicada y para os quais temos um conjunto de n medidas. 2.2 O Metodo dos Mnimos Quadrados Um dos m´etodos mais utilizados para estima¸c˜ao (aproxima¸c˜ao) de parˆametros ou ajuste de curvas ´e denominado m´etodo dos m´ınimos quadrados que a seguir passamos a de-talhar. De modo geral, consideramos as vari´aveis ou grandezas x e y que definem o fenˆomeno a analisar sujeitas a um conjunto de n medidas ou experimentos observados: A = {(x1, y1), (x2, y2), ..., (xn, yn)} (2.3) e uma fun¸c˜ao f : Rk+1 → R, tal que y(x) = f(x; α1, α2, ..., αk), onde α1, α2, ..., αk s˜ao os parˆametros. O m´etodo dos m´ınimos quadrados consiste em determinar esses parˆametros de modo que minimize o valor de S(α1, α2, ..., αk) = Σn i=1 [f(xi; α1, α2, ..., αk) − yi]2, (2.4) isto ´e, o m´etodo consiste em minimizar a soma dos quadrados de εi = f(x; α1, α2, ..., αk) − yi entre os diversos valores de yi observados e os valores y(xi) = f(xi; α1, α2, ..., αk) ajus-tados. Os valores εi s˜ao chamados de desvios. Em seguida, locam-se esses pontos num plano cartesiano. O conjunto de pontos resul-tante ´e denominado diagrama ou gra
  • 31. co de dispers~ao ( Figura 2.8). 27
  • 32. Figura 2.8: Diagrama de dispers˜ao, Curva de regress˜ao e Desvios εn Neste diagrama ´e poss´ıvel, frequentemente, visualizar uma curva regular que se apro-xime dos pontos dados (x1, y1), (x2, y2), ..., (xn, yn), isso como foi definido em 2.1.1 ´e chamado ajustamento de curvas. 2.3 Ajuste Linear De
  • 33. nic~ao 2 (Ajuste Linear) Suponhamos que as grandezas x, y, cujas medidas s˜ao dadas por (2.3) se relacionem linearmente. Um ajuste de curvas ´e denominado linear, se a fun¸c˜ao f : R3 → R ´e definida por f(x; a, b) = ax + b. Em outras palavras, um ajuste ´e linear se ´e definido pela equa¸c˜ao da reta y(x) = f(x; a, b) = ax + b. (2.5) Assim, a equa¸c˜ao (2.5) ser´a a melhor reta que se ajusta aos pontos (2.3) a qual deseja-se determinar, Figura 2.9. Devido a erros de medida, os valores (xi, yi) n˜ao necessaria-mente satisfazem exatamente `a equa¸c˜ao (2.5), isto ´e, 28
  • 34. yi ∼= axi + b Figura 2.9: Ajuste Linear Para que essa express˜ao se transforme numa igualdade, deveremos levar em conta os erros ou desvios ε cometidos na medida. Assim, yi = (axi + b) + εi Portanto, εi tamb´em depende de a e b: εi(a, b) = yi − (axi + b) (2.6) A soma dos quadrados dos desvios ´e dado por S(a, b) = Σn i=1 [yi − axi − b]2 Aplicando-se o M´etodo dos M´ınimos Quadrados, tem-se que os melhores valores para a e b (e portanto a melhor reta) s˜ao aqueles que minimizam S(a, b). Como S ´e uma 29
  • 35. fun¸c˜ao de duas quantidades a e b, escrevemos essas condi¸c˜oes necess´arias de m´ınimo como ∂S ∂a = 0 e ∂S ∂b = 0, ou seja, ∂S ∂a = −2 Σn i=1 (xiyi − ax2i − bxi) = 0, e ∂S ∂b = −2 Σn i=1 (yi − axi − b) = 0. De onde obtemos as chamadas equa¸c˜oes normais Σn i=1 xiyi = Σn i=1 (bxi + ax2i ) (2.7) Σn i=1 yi = Σn i=1 (axi + b) (2.8) Resolvendo (2.7) e (2.8) simultaneamente, para a e b encontramos a = [ Σn i=1 xi ] [ Σn i=1 yi ] − n [ Σn i=1 xiyi ] [ Σn i=1 xi ]2 − n [ Σn i=1 x2i ] (2.9) b = [ Σn i=1 xiyi ] [ Σn i=1 xi ] − [ Σn i=1 x2i ] [ Σn i=1 yi ] [ Σn i=1 xi ]2 − n [ Σn i=1 x2i ] (2.10) 30
  • 36. Por outro lado, de (2.8) obtemos b = Σn i=1 yi − a Σn i=1 xi n (2.11) Observac~ao 1 Um ajuste de curvas ´e n˜ao linear se a fun¸c˜ao f(x; α1, α2, ..., αk) dada pelos m´ınimos quadrados n˜ao ´e uma reta. Ao fazer um ajuste linear para relacionar duas vari´aveis, n˜ao sabemos a priori se a reta encontrada ´e o melhor modelo de ajuste. A verifica¸c˜ao da existˆencia e do grau de rela¸c˜ao entre vari´aveis ´e o objeto de estudo da correla¸c˜ao que a seguir definimos. De
  • 37. nic~ao 3 (Correlac~ao Linear) A correla¸c˜ao linear mede a rela¸c˜ao que existe en-tre as vari´aveis (xi, yi) de um conjunto de dados em torno de uma reta ajustada y = ax + b. O coeficiente de correla¸c˜ao de Pearson r ´e um mecanismo de medida da correla¸c˜ao linear e ´e dado por r = Σn i=1 xiyi − [ Σn i=1 xi ] [ Σn i=1 yi ] n {[ Σn i=1 x2i − ( Σn i=1 xi)2 n ] [ Σn i=1 y2 i Σn − ( i=1 yi)2 n ]}1=2 (2.12) Verifica-se que r ∈ [−1, 1]. Se r est´a pr´oximo de 1 ou −1, dizemos que a correla¸c˜ao ´e mais forte. Se r est´a pr´oximo de zero, dizemos que a correla¸c˜ao ´e fraca. Se r = 1 ou r = −1, ent˜ao a correla¸c˜ao entre as vari´aveis ´e perfeita. Se r = 0, n˜ao existe nenhuma correla¸c˜ao. Por ´ultimo, o sinal de r indica o sinal do coeficiente angular da reta ajustada. Exemplo 10 Considerando-se os dados da tabela do Exemplo 7 sobre a idade t e o peso y dos atuns: 31
  • 38. ti idade yi peso (gr) 2 0.68 3 0.91 4 1.0 5 1.2 6 1.38 7 1.48 8 1.69 9 1.8 10 2.3 Encontrar um ajuste linear dos dados (ti, yi) mostrados na tabela anterior e calcular o coeficiente de correla¸c˜ao linear entre a idade e o peso dos atuns. Soluc~ao i De acordo 2com as equa¸c˜oes (2.9) e (2.10), n = 9; devemos agora calcular as somas de ti, yi, tiyi, t. ti yi tiyi t2i 2 0.68 1.36 4 3 0.91 2.73 9 4 1.0 4 16 5 1.2 6 25 6 1.38 8.28 36 7 1.48 10.36 49 8 1.69 13.52 64 9 1.8 16.2 81 10 2.3 23 100 Σ9 i=1 ti = 54 Σ9 i=1 yi = 12.44 Σ9 i=1 tiyi = 85.45 Σ9 i=1 t2i = 384 32
  • 39. Logo, substituindo-se esses valores nas equa¸c˜oes (2.9) e (2.10), temos a = (54)(12.44) − 9(85.45) (54)2 − 9(384) = −9729 −1309.05 = 0.074 b = (85.45)(54) − (384)(12.44) (54)2 − 9(384) = 0.301 Portanto, a equa¸c˜ao da melhor reta no sentido dos m´ınimos quadrados ´e dada por y(t) = 0.074t + 0.301 Esta equa¸c˜ao define uma reta que passa pelos seguintes pontos corrigidos: ti y(ti) = 0.074ti + 361.4 2 0.449 3 0.523 4 0.597 5 0.671 6 0.745 7 0.819 8 0.893 9 0.967 10 1.041 Para calcular o coeficiente de correla¸c˜ao dado por (2.12) devemos encontrar as somas de y2 i . Σ9 i=1 y2 i = 0.682 + 0.912 + 1 + 1.22 + 1.382 + 1.482 + 1.692 + 1.82 + 2.32 = 118.75 Substituindo em (2.12), temos 33
  • 40. r = 85.45 − (54)(12.44) {[ 9 384 − (54)2 9 ] [ 118.75 − (12.44)2 9 ]}1=2 = 0.138 Sendo r = 0.138 pr´oximo de zero, existe uma fraca correla¸c˜ao entre a idade e o peso dos atuns. Observac~ao 2 O m´etodo do ajuste linear tamb´em pode ser aplicado a outros modelos matem´aticos definidos por fun¸c˜oes n˜ao lineares, isso desde que seja poss´ıvel transformar aquelas fun¸c˜oes em fun¸c˜oes lineares atrav´es de uma mudan¸ca de vari´avel adequada, por exemplo, modelos definidos por fun¸c˜oes de tipo exponencial, fun¸c˜ao potˆencia, fun¸c˜oes peri´odicas. Na seguinte se¸c˜ao veremos alguns desses modelos. 2.3.1 Ajuste Linear para o Modelo Exponencial Suponhamos que a formula¸c˜ao de um modelo matem´atico ´e definido por meio de uma fun¸c˜ao de tipo exponencial (Figura 2.10) y(x) = β ex, β 0 (2.13) Figura 2.10: Fun¸c˜ao de Tipo Exponencial Fazendo a mudan¸ca de vari´avel z = ln y com o objetivo de transformar a equa¸c˜ao que define o modelo (2.13) na forma de uma equa¸c˜ao de uma reta, obtemos ao tomar logaritmos de ambos os lados de (2.13) 34
  • 41. z(x) = ln y = αx + ln β (2.14) Desta forma, podemos fazer um ajuste linear para o modelo exponencial, pois ´e mais f´acil lidar com (2.14) do que com (2.13). Al´em disso, o estabelecimento da curva com dados emp´ıricos e a an´alise dos desvios s˜ao extremamente facilitados. Portanto, tomando-se a = α e b = ln β, a equa¸c˜ao da reta ajustada ou equa¸c˜ao auxiliar ´e z = ax + b Exemplo 11 O aumento de c´elulas cancerosas num tumor por unidade do tempo t, supondo o tempo de duplica¸c˜ao das c´elulas constante, ´e dado atrav´es dos seguintes dados experimentais: Tempo (dias) N´umero de c´elulas (miles) 1.5 1,778 2.5 2,611 4.0 4,642 5.0 6,813 6.5 12,11 Com estes dados, determine a dependˆencia funcional do n´umero de c´elulas N(t) do tumor em rela¸c˜ao ao tempo t mediante um ajuste linear. Soluc~ao Atrav´es do gr´afico de dispers˜ao dos dados (ti,Ni) i = 1, 2, 3, 4, 5 mostrados na Figura 2.11, podemos ver que a forma da rela¸c˜ao funcional procurada N(t) pode ser expressa por uma fun¸c˜ao do tipo exponencial. N(t) = βet, β 0, α 0. (2.15) Assim, a dependˆencia do n´umero de c´elulas com o tempo n˜ao ´e linear; ou seja, a curva que modela o decaimento n˜ao ´e uma reta. Ent˜ao, com os dados mostrados na tabela podemos fazer um ajuste linear para o modelo, definido por uma fun¸c˜ao de tipo exponencial. 35
  • 42. Figura 2.11: Gr´afico de Dispers˜ao Utilizando a mudan¸ca de vari´avel y(t) = lnN(t), obtemos em (2.15) a espress˜ao linear nas novas vari´aveis y = αt + ln β Utilizando os dados da tabela, obtemos os dados auxiliares. ti Ni yi = lnNi t2i tiyi 1.5 1,778 0.575 2.25 0.8625 2.5 2,611 0.959 6.25 2.3975 4.0 4,642 1.535 16 6.14 5.0 6,813 1.918 25 9.59 6.5 12,110 2.494 42.25 16.211 Σ5 i=1 ti = 19.5 Σ5 i=1 yi = 7.481 Σ5 i=1 t2i = 91.75 Σ5 i=1 tiyi = 35.201 Para calcular os parˆametros a e b, empregamos as equa¸c˜oes (2.9) e (2.10) 36
  • 43. a = [ Σ5 i=1 ti ] [ Σ5 i=1 yi ] − 5 [ Σ5 i=1 tiyi ] [ Σ5 i=1 ti ]2 − 5 [ Σ5 i=1 t2i ] = (19.5)(7.481) − 5(35.201) (19.5)2 − 5(91.75) = 0.383 b = [ Σ5 i=1 tiyi ] [ Σ5 i=1 ti ] − [ Σ5 i=1 t2i ] [ Σ5 i=1 yi ] [ Σ5 i=1 ti ]2 − 5 [ Σ5 i=1 t2i ] = (35.201)(19.5) − (91.75)(7.481) (19.5)2 − 5(91.75) = −0.00048 Portanto, obtemos a equa¸c˜ao da reta ajustada (reta auxiliar y = lnN) y = 0.383t − 0.00048 Como a = α e b = ln β obtemos β = eb = e−0:00048 ≃ 0.9995. A fun¸c˜ao exponencial ´e N(t) = 0.383e0:9995t ∀ t ≥ 0. Figura 2.12: Ajuste da reta y = 0.383t − 0.00048 aos pontos (t, ln t) 37
  • 44. Figura 2.13: Modelo Matem´atico do N´umero de c´elulas na forma exponencial 2.3.2 Ajuste Linear de Modelos Geometricos Suponhamos que a formula¸c˜ao do modelo matem´atico ´e definido atrav´es de um modelo de tipo geom´etrico, isto ´e, um modelo onde a fun¸c˜ao que define o problema ´e dado por uma fun¸c˜ao potˆencia (Figura 2.14) y(x) = α x
  • 45. , α 0 e β 0 (2.16) Neste caso, a fun¸c˜ao ´e do tipo dado pela Observa¸c˜ao 2; logo, o ajuste de parˆametros pode ser feito atrav´es de um ajuste linear. Fazendo a mudan¸ca de vari´avel Y = ln y e X = ln x, (2.17) com o objetivo de transformar a equa¸c˜ao que define o modelo (2.16) na forma de uma equa¸c˜ao de uma reta, obtemos ao tomar logaritmos de ambos os lados de (2.16) ln y = ln α + β ln x, nas novas vari´aveis, isto ´e, Y = a + βX, onde a = ln α (2.18) 38
  • 46. Figura 2.14: Fun¸c˜ao Potˆencia Portanto, tomando b = β a equa¸c˜ao da reta ajustada ou equa¸c˜ao auxiliar ´e Y = a + bX (2.19) Exemplo 12 Com os dados do Exemplo 7 da rela¸c˜ao do peso (gr) e comprimento (cm) dos atuns, determinar a dependˆencia funcional do peso dos atuns y(x) em rela¸c˜ao ao comprimento x mediante um ajuste linear. Soluc~ao Vimos que a rela¸c˜ao funcional que modela o problema ´e formulado pela fun¸c˜ao potˆencia dado em (1.1), isto ´e, y(x) = αx
  • 47. , onde α ´e a taxa de metabolismo e β d´a informa¸c˜ao em termos matem´aticos da forma do atum. Ent˜ao ´e poss´ıvel fazer um ajuste linear, o que a seguir faremos. A reta ajustada dada por (2.19) ´e Y = a + bX, onde devemos encontrar os parˆametros a e b por meio de un ajuste linear. Formamos a seguinte tabela: 39
  • 48. xi yi Xi = ln xi Yi = ln yi XiYi X2 i 163.9 0.68 5.099 -0.385 -1.963 25.999 170 0.91 5.135 -0.094 -0.482 26.368 176.1 1.0 5.171 0 0 26.739 182.2 1.2 5.205 0.182 0.947 27.092 188.3 1.38 5.238 0.322 1.686 27.436 195.4 1.48 5.275 0.392 2.067 27.825 203.2 1.69 5.314 0.524 2.784 28.238 210 1.8 5.347 0.587 3.138 28.590 212.7 2.3 5.359 0.832 4,438 28.718 Σ9 i=1 Xi = 47.143 Σ9 i=1 Yi = 2.36 Σ9 i=1 XiYi = 12.615 Σ9 i=1 X2 i = 247.005 Aplicando o m´etodo dos m´ınimos quadrados para estimar os parˆametros, temos a = [ Σ9 i=1 Xi ] [ Σ9 i=1 Yi ] − 9 [ Σ9 i=1 XiYi ] [ Σ9 i=1 Xi ]2 − 9 [ Σ9 i=1 X2 i ] = (47.143)(2.36) − 9(12.615) (47.143)2 − 9(247.005) = 3.907 b = [ Σ9 i=1 XiYi ] [ Σ9 i=1 Xi ] − [ Σ9 i=1 X2 i ] [ Σ9 i=1 Yi ] [ Σ9 i=1 Xi ]2 − 9 [ Σ9 i=1 X2 i ] = (12.615)(47.143) − (247.005)(2.36) (47.143)2 − 9(247.005) b = 20.2 Portanto, Y = 3.907X + 20.2 sendo a = ln α, temos que α = ea = e3:907 ≃ 49.749. Assim, obtemos y = 49.749x20:2 40
  • 49. Figura 2.15: Ajuste geom´etrico para a rela¸c˜ao peso-comprimento dos atuns 2.4 Ajuste Quadratico De
  • 50. nic~ao 4 (Ajuste Quadratico) Sejam x, y duas grandezas cujas medidas s˜ao da-das por (2.3). Um ajuste de curvas ´e denominado ajuste quadr´atico, se a fun¸c˜ao que relaciona as grandezas ´e definido por f : R4 → R f(x; a, b, c) = a + bx + cx2, isto ´e, um ajuste quadr´atico ´e definido pela equa¸c˜ao de uma par´abola y(x) = f(x; a, b, c) = a + bx + cx2. (2.20) Aplicando o m´etodo dos m´ınimos quadrados, determinamos os parˆametros a, b e c mi-nimizando a fun¸c˜ao S(a, b, c) = Σn i=1 [f(x; a, b, c) − yi]2 = Σn i=1 [a + bx + cx2 − yi]2 As condi¸c˜oes necess´arias de m´ınimo s˜ao dadas pelas equa¸c˜oes ∂S ∂a = 0, ∂S ∂b = 0, ∂S ∂c = 0, 41
  • 51. isto ´e   Σn i=1 yi = na + b Σn i=1 xi + c Σn i=1 x2i Σn i=1 xiyi = a Σn i=1 xi + b Σn i=1 x2i + c Σn i=1 x3i Σn i=1 x2i yi = a Σn i=1 x2i + b Σn i=1 x3i + c Σn i=1 x4i (2.21) Exemplo 13 Ajustar uma par´abola de m´ınimos quadrados da forma y(x) = a + bx + cx2 para os dados da tabela seguinte. x 1.2 1.8 3.1 4.9 5.7 7.1 8.6 9.8 y 4.5 5.9 7 7.8 7.2 6.8 4.5 2.7 Soluc~ao Devemos utilizar as equa¸c˜oes (2.21), a seguinte tabela permite fazer isso. xi yi x2i x3i x4i xiyi x2i yi 1.2 4.5 1.44 1.73 2.08 5.40 6.48 1.8 5.9 3.24 5.83 10.49 10.62 19.12 3.1 7.0 9.61 29.79 92.35 21.70 67.27 4.9 7.8 24.01 117.65 576.48 38.22 187.28 5.7 7.2 32.49 185.19 1055.58 41.04 233.93 7.1 6.8 50.41 357.91 2541.16 48.28 342.79 8.6 4.5 73.96 636.06 5470.12 38.70 332.82 9.8 2.7 96.04 941.19 9223.66 26.46 259.31 Σ8 i=1 xi = 42.2 Σ8 i=1 yi = 46.4 Σ8 i=1 x2i = 291.20 Σ8 i=1 x3i = 2275.35 Σ8 i=1 x4i = 18, 971.92 Σ8 i=1 xiyi = 230.42 Σ8 i=1 x2i yi = 1449.00 Para n = 8, as equa¸c˜oes normais (2.21) s˜ao 8a + 42.2b + 291.20c = 46.4 42.2a + 291.20b + 2275.35c = 230.42 291.20a + 2275.35b + 18971.92c = 1449.00 42
  • 52. Resolvendo o sistema alg´ebrico anterior, obtemos a = 2.588, b = 2.065, c = −0.2110, da´ı, a par´abola requerida pelo m´etodo dos m´ınimos quadrados tem a equa¸c˜ao y = 2.588 + 2.065x − 0.2110x2 43
  • 53. 2.5 Atividades 1. Demonstre que as equa¸c˜oes (2.9) e (2.10) tamb´em s˜ao dadas da seguinte forma: a = Σn Σi=1 xiyi − nx¯y n i=1 x2i − n¯x2 , b = ¯y − a¯x onde ¯x = Σn i=1 xi n e ¯y = Σn i=1 yi n . 2. Aplicando o M´etodo dos M´ınimos Quadrados,ajuste uma reta ao seguinte con-junto de dados: A = {(1, 1), (3, 2), (4, 4), (6, 4), (8, 5), (9, 7), (11, 8), (14, 9)} 3. Em cinco pa´ıses da Europa, foi encontrada uma rela¸c˜ao entre o conte´udo de po-eira de um elemento qu´ımico no ar (em g/m3) e o n´umero de ausˆencias femininas em certas ind´ustrias. Foram contadas somente ausˆencias de pelo menos sete dias e encontrados os seguintes dados. Pa´ıs g/m3 N´umero de ausˆencias por 1000 empregados Fran¸ca 7 19 Espanha 13 44 It´alia 14 53 Alemania 17 61 Portugal 20 88 a) Desenhe o gr´afico de dispers˜ao dos dados da tabela. b) Representar o n´umero de ausˆencias versus o conte´udo de poeira do elemento qu´ımico. c) Estabelecer uma reta de regress˜ao linear pelo m´etodo dos m´ınimos quadrados. 4. Mostre que o ajuste de n pontos (xi, yi) a uma reta passando pela origem, y = kx implica que k = Σn i xiyi Σn i x2i . 44
  • 54. 5. Um grupo de pesquisadores obt´em os seguintes dados experimentais depois de fazer algumas medi¸c˜oes entre o peso (gramas) e a velocidade (m/s) de um objeto A = {(2, 3), (3, 4), (5, 6), (6, 5), (9, 7), (12, 8)} Fa¸ca um ajuste linear dos dados obtidos, obtenha e interprete o coeficiente de correla¸c˜ao. 6. A Tabela seguinte fornece os valores experimentais da press˜ao P de uma dada massa de g´as correspondente a v´arios valores do volume V . De acordo com princ´ıpios termodinˆamicos, existe entre as vari´aveis uma rela¸c˜ao PV
  • 55. = α, onde α e β s˜ao constantes. a) Encontre os valores de α e β (aplique o m´etodo dos m´ınimos quadrados para ajustar os dados atrav´es de um modelo de ajuste linear geom´etrico). b) Escreva a equa¸c˜ao relacionando P e V . c) Estimar P quando v = 100.0 in3. Volume V (in3) 54.3 61.8 72.4 88.7 118.6 194.0 Press˜ao P (lb/in) 61.2 49.5 37.6 28.4 19.2 10.1 7. A tabela seguinte d´a informa¸c˜ao do censo de uma popula¸c˜ao (em milh˜oes) de um certo pa´ıs em rela¸c˜ao ao tempo (anos). Anos 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 Popula¸c˜ao 23.2 31.4 39.8 50.2 62.9 76.0 92.0 105.7 122.8 131.7 151.1 a) Fa¸ca um ajuste quadr´atico dos dados da tabela pelo m´etodo dos m´ınimos quadrados. b) Calcule os valores da regress˜ao (comumente chamados de valores de tendˆencia) para os anos dados e comparar com os valores reais. c) Estime a popula¸c˜ao de 1945. d) Estime a popula¸c˜ao de 1960 e compare com o valor real 178, 9. 45
  • 56. Unidade III EQUAC ~OES DE DIFERENCAS 46
  • 57. Equac~oes de Diferencas Objetivo • Analisar as caracter´ıstica variacionais de uma rela¸c˜ao funcional presentes na mo-delagem e saber quando sequˆencias interpretam vari´aveis cont´ınuas. • Solucionar uma equa¸c˜ao em diferen¸cas e obter a solu¸c˜ao em forma expl´ıcita. • Interpretar problemas concretos atrav´es de equa¸c˜oes de diferen¸cas. 3.1 Variac~oes Como vimos anteriormente no processo da modelagem matem´atica, a obten¸c˜ao de um modelo matem´atico que interpreta o problema a estudar constitui a parte mais complicada de dito processo. As rela¸c˜oes de medida que existem entre as vari´aveis ou grandezas observadas que define o problema (que n˜ao necessariamente s˜ao de car´ater matem´atico) s˜ao a base para a obten¸c˜ao da formula¸c˜ao do modelo matem´atico. Uma maneira de interpretar essas rela¸c˜oes de medidas e em consequˆencia obter um modelo matem´atico ´e dada pela varia¸c˜ao ou taxa de varia¸c˜ao dessas vari´aveis. Iniciamos esta se¸c˜ao atrav´es da defini¸c˜ao a seguir. De
  • 58. nic~ao 5 Entendemos por variaveis quaisquer grandezas que se modificam du-rante um processo dinˆamico. O termo par^ametro se refere a quantidades que podem ou n˜ao mudar durante o processo dinˆamico. As constantes s˜ao quantidades que n˜ao variam durante o processo e assumem valores fixados a priori. Lembramos da an´alise real o seguinte. De
  • 59. nic~ao 6 (Sequ^encia de numeros reais) Uma sequˆencia de n´umeros reais ´e um conjunto de pontos denotado por {xn}, definidos por uma fun¸c˜ao f : X ⊂ N → R, cujo dom´ınio ´e um subconjunto X dos n´umeros naturais N, tal que xn = f(xn). Quando este conjunto ´e finito, dizemos que a sequˆencia ´e finita. Uma das caracter´ısticas importantes de uma sequˆencia ´e sua convergˆencia, que defini-mos a seguir. De
  • 60. nic~ao 7 (Converg^encia de uma sequ^encia ) Dizemos que uma sequˆencia de n´umeros reais xn converge para um n´umero real x se xn pode se aproximar tanto quanto se queira de x quando n cresce, isto ´e, dado ε 0, arbitrariamente pequeno, existe n0 ∈ N tal que 0 | xn − x | ε, quando n n0. 47
  • 61. Notac~ao: Denotamos a convergˆencia de uma sequˆencia xn ao valor x por xn → x ou x = lim n→∞ xn, onde a express˜ao x = lim n→∞ xn indica que x ´e o limite da sequˆencia xn quando n se aproxima do infinito. De
  • 62. nic~ao 8 (Conjunto Discreto e Variavel discreta) Uma vari´avel discreta ´e uma vari´avel que toma valores isolados, ou seja, n˜ao admite valores intermedi´arios entre dois valores espec´ıficos. O conjunto formado por valores de uma vari´avel discreta ´e chamado de conjunto discreto. Matematicamente podemos aprofundar essa defini¸c˜ao. Dada uma sequˆencia finita de n´umeros reais {x1, x2, x3, ..., xn}, cada elemento da sequˆencia ´e chamado de valor dis-creto, e a vari´avel x recebe o nome de vari´avel discreta. O conjunto finito {x1, x2, x3, ..., xn} formado por valores de uma vari´avel discreta x ´e denominado conjunto discreto. Em outras palavras, um conjunto ´e discreto se existe uma correspondˆencia bijetiva entre os elementos do conjunto e um subconjunto dos n´umeros naturais {1, 2, 3..., n}. Exemplo 14 Se desejamos encontrar o n´umero de peixes capturados em uma empresa pesqueira em cada mˆes n, durante un ano, devemos usar uma sequˆencia finita xn para representar o n´umero de peixes capturados no mˆes n, isto ´e, {x1, x2, x3, ..., x12} ´e o conjunto discreto e o n´umero de peixes x ´e a vari´avel discreta De
  • 63. nic~ao 9 (Variavel Contnua) Uma vari´avel cont´ınua ´e aquela que pode assumir valores entre dois n´umeros. Em termos matem´aticos podemos dar a seguinte interpreta¸c˜ao: dada uma sequˆencia finita de n´umeros reais {x1, x2, x3, ..., xn}, uma vari´avel x ´e dita cont´ınua se pode assu-mir todos os valores reais intermedi´arios entre os valores discretos da sequˆencia. Em outras palavras, uma vari´avel que n˜ao ´e cont´ınua ser´a discreta. Exemplo 15 Se {y1 = 0.68, y2 = 0.91, y3 = 1.0, ..., y9 = 2.3} s˜ao os valores dados do peso dos atuns do Exemplo 7, qualquer valor da vari´avel peso y pode ser assumido no intervalo [0.68, 2.3]; logo, a vari´avel peso dos atuns ´e cont´ınua neste intervalo. 48
  • 64. Na pr´atica, sequˆencias finitas de n´umeros reais representam grandezas que est˜ao en-volvidas na modelagem matem´atica do problema e, portanto, constituem conjuntos discretos, isto ´e, o caso do n´umero de peixes do Exemplo 14; ent˜ao, resulta importante saber quando tais sequˆencias interpretam vari´aveis cont´ınuas. Observac~ao 3 Uma sequˆencia finita {xn}k n=1 ´e um conjunto discreto de n´umeros reais, logo x ´e uma vari´avel discreta; por´em, se conseguimos representar a vari´avel x = f(t) por uma fun¸c˜ao definida para todo t ∈ R, ent˜ao, na verdade, x e t ser˜ao vari´aveis cont´ınuas. De
  • 65. nic~ao 10 (Variac~ao) Seja f : A ⊂ R → R y = f(x) uma fun¸c˜ao que associa a cada vari´avel independente x a vari´avel dependente y. A varia¸c˜ao de uma fun¸c˜ao f ´e definida como a medida do comportamento da fun¸c˜ao em rela¸c˜ao a um est´agio da vari´avel independente x. As varia¸c˜oes s˜ao de dois tipos: varia¸c˜oes discretas e varia¸c˜oes cont´ınuas. A seguir es-tudaremos cada tipo de varia¸c˜ao. 3.1.1 Variac~oes Discretas Seja D = {y1, y2, y3, ..., yn} um conjunto discreto tal que a vari´avel discreta y est´a em rela¸c˜ao `a grandeza x atrav´es da fun¸c˜ao f : A ⊂ R → R, isto ´e, y = f(x), ∀ x ∈ A subconjunto pr´oprio de R. De
  • 66. nic~ao 11 (Variac~ao Discreta) Uma varia¸c˜ao ´e discreta se os valores da ima-gem da fun¸c˜ao f, isto ´e, y = f(x) pertence ao conjunto discreto D. De
  • 67. nic~ao 12 (Variac~ao Total) A varia¸c˜ao total ou `as vezes chamada varia¸c˜ao de y = f(x) ∈ D em rela¸c˜ao ao intervalo [x1, x2] ´e definida por Δy = y2 − y1 = f(x2) − f(x1) (3.22) Δy tamb´em ´e chamado de incremento de y. Se Δy 0, ent˜ao a fun¸c˜ao f aumenta em tamanho; se Δy 0, a fun¸c˜ao f experimenta um decr´escimo do tamanho; se Δy = 0, a fun¸c˜ao permanece inalterada. 49
  • 68. Exemplo 16 Em um zool´ogico, uma fam´ılia de pinguins se constitu´ıa de 43 pinguins no primeiro dia de setembro de 1980, e um total de 95 p´assaros no primeiro dia de setembro de 1981. Calcular a varia¸c˜ao total do n´umero de indiv´ıduos de pinguins e p´assaros. Soluc~ao Denotando por N o n´umero de ind´ıviduos de pinguins e p´assaros, podemos considerar N como una fun¸c˜ao do tempo t dado em meses: N = f(t) Tomando t1 o primeiro dia de setembro de 1980 e t2 o primeiro dia de setembro de 1981, temos f(t1) = 43 e f(t2) = 95; logo, a varia¸c˜ao total ser´a ΔN = f(t2) − f(t1) = 95−43 = 52, o que implica que o n´umero de ind´ıviduos aumentou. Observe que, sendo os valores f(t1) = 43 e f(t2) = 95 inteiros, a vari´avel N ´e discreta. De
  • 69. nic~ao 13 (Taxa Media de Variac~ao) A taxa m´edia de varia¸c˜ao ou varia¸c˜ao m´edia de y = f(x) ∈ D em rela¸c˜ao x ´e definida por Δy Δx = f(x2) − f(x1) x2 − x1 x1̸= x2. (3.23) Δx = x2 − x1 ´e a extens˜ao do intervalo [x1, x2], tamb´em chamado de incremento da vari´avel x. A taxa de varia¸c˜ao m´edia representa o incremento da fun¸c˜ao f em rela¸c˜ao ao incremento da vari´avel x. Exemplo 17 No Exemplo 16, a taxa m´edia de varia¸c˜ao do n´umero de indiv´ıduos de pinguins e p´assaros ´e ΔN Δt = f(t2) − f(t1) t2 − t1 = 52 12 = 4.33. A popula¸c˜ao de pinguins e p´assaros entre setembro de 1980 a 1981 aumentou em m´edia de 4.33 por mˆes. Naturalmente isso indica que o n´umero de nascimentos foi maior em rela¸c˜ao ao n´umero de mortes. Outro tipo de medida variacional discreta aparece em particular na dinˆamica popula-cional que a seguir definimos. 50
  • 70. De
  • 71. nic~ao 14 (Taxa de Variac~ao Relativa) A taxa de varia¸c˜ao relativa ´e a taxa de varia¸c˜ao de uma popula¸c˜ao N = f(t) ∈ D em que a varia¸c˜ao depende somente do n´umero de ind´ıviduos presentes inicialmente e n˜ao de fatores que dependem do tempo. Temos os seguintes casos: i) Taxa de Varia¸c˜ao Relativa M´edia, que ´e definida por α = ΔN N1Δt = N2 − N1 N1Δt N1 = f(t1), N2 = f(t2) ii) Taxa de Varia¸c˜ao Malthusiana, proveniente de um crescimento exponencial em cada unidade de tempo. √ α = Δt Nt+Δt Nt − 1. Exemplo 18 A Tabela 3.1 fornece os censos demogr´aficos do Brasil de 1950 a 2010 Neste caso, a vari´avel temporal t e o n´umero de indiv´ıduos assumem valores inteiros; logo, ambas as grandezas (tempo-indiv´ıduos) s˜ao discretas. ANOS POPULAC¸ ˜AO TAXAS DE CRESCIMENTO % VARIAC¸ ˜AO TOTAL 1950 51.944.397 3.2 19.047.946 1960 70.992.343 2.8 22.146.694 1970 93.139.037 2.5 25.863.669 1980 119.002.706 1.9 27.822.769 1991 146.825.475 1.6 22.973.695 2000 169.799.170 1.1 20.933.524 2010 190.732.694 Tabela 3.1: Censos Demogr´aficos do Brasil de 1950 a 2010. As taxas de crescimento dadas em percentagem entre dois censos consecutivos mos-trados na tabela s˜ao obtidas utilizando-se a taxa de varia¸c˜ao malthusiana. Com 51
  • 72. efeito, tomando-se como popula¸c˜ao inicial N0 = 51.944.397, e depois de dez anos, N10 = 70.992.343, ent˜ao a taxa de varia¸c˜ao relativa dada pela varia¸c˜ao malthusiana entre 1950 e 1960 ´e dada por √ α = 10 70992343 51944397 − 1 ≃ 0.032 isto ´e, aproximadamente 3.2%. Se agora consideramos os censos de 1950 e 2010, α ´e dado por √ α = 60 190732694 51944397 − 1 ≃ 0.022 isto ´e, aproximadamente 2.2%. E isso quer dizer que a popula¸c˜ao brasileira cresceu a uma taxa m´edia de aproximadamente 2.2% ao ano, nos 61 anos. Exemplo 19 No Exemplo 16, a taxa de varia¸c˜ao m´edia relativa ao n´umero de pinguins e p´assaros ´e α = ΔN N1Δt = 52 43(12) ≃ 0.1. Neste caso, a taxa de varia¸c˜ao populacional entre setembro de 1980 e 1981 aumentou em m´edia 10% por mˆes. Se tomamos Δt = t2 − t1 = 12, temos N2 = Nt1+Δt = 95 e N1 = Nt1 = 43; logo, √ α = 12 N2 N1 √ − 1 = 12 95 43 − 1 = 0.068 ent˜ao isso quer dizer que a popula¸c˜ao cresceu em m´edia 6.8% ao mˆes, relativamente `a propor¸c˜ao existente em cada mˆes, durante os 12 meses. 3.1.2 Variac~oes Contnuas De
  • 73. nic~ao 15 (Variac~ao Contnua) Uma varia¸c˜ao ´e cont´ınua se os valores da ima-gem da fun¸c˜ao f : A ⊂ R → R, isto ´e y = f(x) ´e v´alido para todo n´umero real x ∈ A. Observamos que uma vari´avel cont´ınua pode assumir valores em um conjunto dis-creto, isso significa que podemos generalizar as defini¸c˜oes de varia¸c˜oes do caso dis-creto para o caso de varia¸c˜oes cont´ınuas, o que faremos a seguir. Consideremos uma 52
  • 74. vari´avel y (cont´ınua ou discreta) que est´a em rela¸c˜ao com a vari´avel x atrav´es da fun¸c˜ao f : A ⊂ R → R, isto ´e, y = f(x), ∀ x ∈ A subconjunto R. De
  • 75. nic~ao 16 (Variac~ao Total) A varia¸c˜ao total ou `as vezes chamada varia¸c˜ao ab-soluta de y = f(x) em rela¸c˜ao ao intervalo [x1, x2] ´e definida por Δy = y2 − y1 = f(x2) − f(x1) (3.24) A varia¸c˜ao total ´e a diferen¸ca da vari´avel dependente y em duas etapas da vari´avel independente x. De
  • 76. nic~ao 17 (Taxa Media de Variac~ao) A taxa m´edia de varia¸c˜ao ou varia¸c˜ao m´edia de y = f(x) em rela¸c˜ao x ´e definida por Δy Δx = f(x2) − f(x1) x2 − x1 t1̸= t2. (3.25) Δx = x2 − x1 ´e chamado o incremento da vari´avel x em rela¸c˜ao a dois est´agios x1, x2. A taxa de varia¸c˜ao m´edia representa o incremento da fun¸c˜ao f em rela¸c˜ao ao incre-mento da vari´avel x, a varia¸c˜ao m´edia mostra quando variou y por unidade de x. Considerando-se de forma geral as vari´aveis x, x+h, onde h = Δx, a defini¸c˜ao de taxa m´edia de varia¸c˜ao tamb´em pode ser dada por Δy Δx = f(x + h) − f(x) h . (3.26) Geometricamente (escalas graduadas), a taxa m´edia de varia¸c˜ao tem a seguinte inter-preta ¸c˜ao. Se consideramos o gr´afico da fun¸c˜ao f, isto ´e, Gra(f) = {(x, y) ∈ R2; y = f(x)}, a taxa m´edia de varia¸c˜ao tem um significado intuitivo. Na Figura 3.16, a reta l ´e tra¸cada ligando os dois pontos (x, f(x)), (x + h, f(x + h)) do gr´afico da fun¸c˜ao f. A taxa m´edia de varia¸c˜ao ´e interpretada como a inclina¸c˜ao da reta secante l, isto ´e, o coeficiente angular da reta coincide com a taxa m´edia de varia¸c˜ao tan(α) = Δy Δx = f(x + h) − f(x) h . (3.27) ´E importante deixar claro que o coeficiente angular de uma reta s´o pode ser dito, no 53
  • 77. caso de que as escalas dos eixos de coordenadas s˜ao igualmente espa¸cados, isto ´e, em escala graduada. J´a no caso geral, quer dizer que quando lidamos com fun¸c˜oes, s´o podemos dizer de taxa m´edia de varia¸c˜ao ou simplesmente varia¸c˜ao, conforme o caso. Figura 3.16: Taxa M´edia de Varia¸c˜ao Δy Δx = f(x + h) − f(x) h Exemplo 20 Entendemos por metabolismo o conjunto de transforma¸c˜oes que as subs-t ˆancias qu´ımicas sofrem no interior dos organismos vivos. Seja M(t) a massa de um nutriente de um ser vivo como fun¸c˜ao do tempo t. Estamos interessados na velocidade de uma rea¸c˜ao qu´ımica. A taxa m´edia de varia¸c˜ao da fun¸c˜ao massa ir´a responder a esta preocupa¸c˜ao. Admi-tamos a hip´otese de que o nutriente se desintegra quimicamente; consequentemente, a massa M decresce no tempo. Se consideramos dois instantes consecutivos t1, t2: Δt = t2 − t1 representa o comprimento do intervalo [t1, t2] e ΔM = f(t2) − f(t1) o decr´escimo da massa. Logo, a taxa m´edia de varia¸c˜ao da massa por unidade de tempo ´e ΔM Δt = f(t2) − f(t1) t2 − t1 . Este quociente ´e chamado a taxa m´edia de rea¸c˜ao no intervalo de tempo de t1 a t2. Pelas hip´oteses, temos que ΔM/Δt ´e negativo e podemos concluir que a rea¸c˜ao qu´ımica n˜ao tem que ter necessariamente uma taxa constante. De
  • 78. nic~ao 18 (Taxa de Variac~ao Relativa) A taxa de varia¸c˜ao relativa ´e a taxa de varia¸c˜ao de uma fun¸c˜ao y = f(x) por unidade de x relativa `a etapa inicial y = yi: 54
  • 79. 1 yi Δyi Δxi = [ f(xi+1) − f(xi) xi+1 − xi ] 1 yi (3.28) Muitas vezes n˜ao ´e sempre satisfat´orio considerarmos as varia¸c˜oes simples, m´edia e relativa quando os dados envolvidos s˜ao vari´aveis cont´ınuas; nesse sentido, precisamos de uma medida de varia¸c˜ao que permita nos informar em tempo real o comportamento da fun¸c˜ao; isso pode ser dado por uma varia¸c˜ao em tempo real, a qual ser´a oposta a uma varia¸c˜ao m´edia, a varia¸c˜ao instantˆanea que a seguir definimos dar´a resposta `a nossa inquietude. De
  • 80. nic~ao 19 (Taxa de Variac~ao Instant^anea) A taxa de varia¸c˜ao instantˆanea ´e a taxa de varia¸c˜ao de uma fun¸c˜ao y = f(x) no ponto x dado por lim Δx→0 Δy Δx = lim h→0 [ f(x + h) − f(x) h ] = f′(x) (3.29) desde que o limite existir. A taxa de varia¸c˜ao instˆantanea f′(x) ´e chamada de derivada da fun¸c˜ao f no ponto x, ela ´e o n´umero real, cujos valores aproximados s˜ao os quocientes [f(x + h) − f(x)] /h para valores muito pequenos de h. A taxa de varia¸c˜ao instˆantanea ´e o limite das taxas m´edias de varia¸c˜ao. Geometricamente, a derivada f′(x) ´e a inclina¸c˜ao da reta tangente l ao gr´afico da fun¸c˜ao f no ponto x. O sinal e o valor da derivada f′(x) indicam a tendˆencia da varia¸c˜ao de f a partir do ponto x. Se f′(x) 0, ent˜ao f(x+h) f(x) para pequenos valores positivos de h. Se f(x) 0, tem-se, ao contr´ario, f(x + h) f(x) para h pequeno e positivo. Se f′(x) ´e um n´umero positivo grande, ent˜ao f cresce rapidamente a partir de x. E assim por diante. A derivada ´e a no¸c˜ao fundamental do C´alculo Infinitesimal. Sua descoberta, h´a trˆes s´eculos e meio, teve uma grande repercuss˜ao e provocou um progresso extraor-din ´ario na Ciˆencia e em toda a civiliza¸c˜ao a partir daquela ´epoca. Exemplo 21 Seja s(t) a posi¸c˜ao de uma part´ıcula no instante t que se move ao longo de uma linha reta; a velocidade m´edia do corpo no intervalo de tempo de t1 a t2 ´e definida por 55
  • 81. Figura 3.17: Interpreta¸c˜ao geom´etrica da derivada vm = Δs Δt = s(t2) − s(t1) t2 − t1 , (3.30) isto ´e, a velocidade v = v(t) como fun¸c˜ao do tempo ´e na verdade uma taxa de varia¸c˜ao. Suponhamos que estamos interessados em medir a rapidez com que a velocidade au-menta ou diminui; para isso tomamos como referˆencia dois instantes consecutivos t1 e t2 o quociente Δv Δt = v(t2) − v(t1) t2 − t1 , (3.31) ´e a varia¸c˜ao m´edia da velocidade, por unidade de tempo. Esta quantidade ´e usual-mente chamada a acelera¸c˜ao m´edia e ´e respons´avel por medir a rapidez da velocidade. Para Δ 0 a acelera¸c˜ao ´e positiva, caso contr´ario para Δ 0 a velocidade decresce e a acelera¸c˜ao ´e negativa. Em concordˆancia com as leis da cinem´atica, o movimento de um corpo ´e um processo cont´ınuo. Um corpo n˜ao pode nem acelerar nem desacelerar no tempo zero. Conse-quentemente, n˜ao h´a dificuldade em chegarmos `a no¸c˜ao de uma velocidade instantˆanea no tempo t1 partindo de uma velocidade m´edia; com efeito, tomando o limite em (3.30) s′(t1) = lim t2→t1 Δs Δt = lim t2→t1 s(t2) − s(t1) t2 − t1 , (3.32) 56
  • 82. representa a velocidade instantˆanea no tempo t1, ela ´e definida como o limite da fun¸c˜ao posi¸c˜ao da part´ıcula. Da mesma forma, a acelera¸c˜ao instantˆanea no tempo t1 ´e definida como segue: v′(t1) = lim t2→t1 Δv Δt = lim t2→t1 v(t2) − v(t1) t2 − t1 , (3.33) quer dizer, o limite da acelera¸c˜ao m´edia dado por (3.31) representa a acelera¸c˜ao ins-tant ˆanea. Modelos matem´aticos que relacionam as vari´aveis por meio de suas varia¸c˜oes cont´ınuas s˜ao formulados por equa¸c˜oes diferenciais (veja Unidade IV ). J´a os modelos discretos utilizam as equa¸c˜oes de diferen¸cas, como veremos a seguir. 3.2 Equac~oes de Diferencas A teoria de equa¸c˜os de diferen¸cas ´e rica em muitos ramos das ciˆencias naturais pelas diversas aplica¸c˜oes que ela possui. Essas equa¸c˜oes, em geral, descrevem fenˆomenos ao longo do tempo. Essa evolu¸c˜ao do tempo ´e medida em intervalos iguais de modo a ser interpretado como uma vari´avel discreta. Por exemplo, se desej´assemos calcular o n´umero de indiv´ıduos numa popula¸c˜ao de seres vivos em um determinado tempo, cada unidade de tempo poder´a ser considerado como dias, ou, se se estiver a medir o caudal de um rio, o tempo pode ser considerado em semanas, ou se pretendemos determinar o produto nacional bruto de uma regi˜ao, o tempo pode ser medido em anos etc. De
  • 83. nic~ao 20 (Equac~ao de Diferencas) Uma equa¸c˜ao que relaciona os termos de uma sequˆencia {y0, y1, y2, ..., yn, ...} ´e chamada equa¸c˜ao de diferen¸cas ou f´ormula de re-corr ˆencia. Se a sequˆencia ´e finita dizemos que a equa¸c˜ao ´e uma equa¸c˜ao de diferen¸cas finitas. De modo geral, temos a seguinte defini¸c˜ao para o caso finito. Seja n ∈ Z (ou n ∈ N). Uma equa¸c˜ao da forma F(n, yn, yn−1, ..., yn−m) = 0 (3.34) ´e designada por equa¸c˜ao de diferen¸cas finitas (EDF) de ordem m n. Por ordem entendemos a diferen¸ca entre o maior e o menor dos ´ındices de y. A equa¸c˜ao estabelece uma rela¸c˜ao entre yn e n, yn−1, ..., yn−m. Para simplificar, admite-se que a equa¸c˜ao anterior se pode escrever na forma normal: yn = f(n, yn−1, ..., yn−m) (3.35) 57
  • 84. Exemplo 22 Um exemplo de equa¸c˜ao de diferen¸cas ´e a seguinte: (n + 2)yn+1 − 3yn = n2 + 2 A equa¸c˜ao anterior implica que, para cada valor de n entre zero e infinito, o termo de ordem n + 1 na seq¨uˆencia, multiplicado por n + 2 e menos 3 vezes o termo de ordem n, ´e igual a n2 + 2. De
  • 85. nic~ao 21 (Soluc~ao de uma Equac~ao de Diferencas) Uma fun¸c˜ao ϕn ´e de-signada uma solu¸c˜ao da EDF yn = f(n, yn−1, ..., yn−m) se ϕn satisfaz ϕn = f(n, ϕn−1, ..., ϕn−m). Uma solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao de diferen¸cas finitas ´e uma express˜ao que fornece o valor de uma vari´avel num est´agio n em fun¸c˜ao de n e dos m valores dos est´agios iniciais, chamados condi¸c˜oes iniciais. Observac~ao 4 Se uma equa¸c˜ao est´a em forma normal, ent˜ao em princ´ıpio ´e f´acil achar as solu¸c˜oes. Considere (3.35) para os valores sucessivos n = m,m + 1,m + 2, ... ym = f(m, ym−1, ..., y0) ym+1 = f(m + 1, ym, ..., y1) ym+2 = f(m + 2, ym−1, ..., y2) ...... Note-se que, se y0, y1, ..., ym−1 s˜ao dados arbitrariamente, ent˜ao f(m, ym−1, ..., y0) nos fornece o valor de ym. Sabendo este valor, f(m + 1, ym, ..., y1) nos fornece o valor de ym+1 e, sabendo este, f(m + 2, ym−1, ..., y2) nos fornece o valor de ym+2, e assim por diante. Este processo, chamado de itera¸c˜ao, constr´oi uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao a partir dos m condi¸c˜oes iniciais y0, y1, ..., ym−1 que a seguir definimos e aos quais podem ser atribu´ıdos valores arbitr´arios. De
  • 86. nic~ao 22 (Problema de Valor Inicial) Um problema de valor inicial (PVI) ´e definido pela seguinte express˜ao: (PV I) { yn = f(n, yn−1, ..., yn−m) y0, y1, ... ym−1 s˜ao conhecidos. 58
  • 87. Exemplo 23 Tomando a condi¸c˜ao inicial y0 = 0, uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de primeira ordem do Exemplo 22 ´e dada pela fun¸c˜ao ϕn = yn = n. Com efeito, completamos a sequˆencia a partir da equa¸c˜ao de diferen¸cas 2y1 − 3y0 = 2 ⇒ y1 = 1 3y2 − 3y1 = 3 ⇒ y2 = 2 4y3 − 3y2 = 6 ⇒ y3 = 3 Deduzimos que a solu¸c˜ao obtida a partir da condi¸c˜ao inicial y0 = 0 ´e yn = n, e a obten¸c˜ao da solu¸c˜ao atrav´es deste processo ´e chamado de m´etodo iterativo. Exemplo 24 A fun¸c˜ao yn = n(n − 1) 2 ´e solu¸c˜ao do PVI: { yn = yn−1 + n − 1 y1 = 0 Com efeito, ´e simples verificar que n(n − 1) 2 = (n − 1)(n − 2) 2 + n − 1; portanto, yn = n(n − 1)/2 ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de diferen¸cas dado. Por outro lado, y1 = (0)(1)/2 = 0, verificando-se dessa forma a condi¸c˜ao inicial, e, portanto, solu¸c˜ao do problema de valor inicial. Observac~ao 5 Observe que, uma vez dados os valores de y0, y1, ..., ym−1, os passos iterativos determinam os n´umeros sucessivos ym, ym+1, ..., yn de maneira ´unica. Uma outra maneira de expressar isso ´e a seguinte: se u e v s˜ao duas solu¸c˜oes e se os primeiros m valores coincidem, isto ´e, u0 = v0, u1 = v1, ..., um−1 = vm−1, ent˜ao u = v. Esse resultado ´e conhecido como Teorema de Unicidade. 3.2.1 Equac~oes de Diferencas Lineares De
  • 88. nic~ao 23 (Equac~oes de Diferencas Lineares de Ordem m ) Uma equa¸c˜ao de diferen¸ca linear de ordem m tem a seguinte forma: yn + an−1yn−1 + an−2yn−2 + ... + an−2yn−m = fn, 59
  • 89. onde ai−1, (i = 1, 2, ...,m) e fn s˜ao fun¸c˜oes em n. De
  • 90. nic~ao 24 (Equac~ao Linear de Ordem m com Coe
  • 91. cientes Constantes) Uma equa¸c˜ao de diferen¸ca linear de ordem m com coeficientes constantes tem a seguinte forma: yn + an−1yn−1 + an−2yn−2 + ... + an−myn−m = fn, (3.36) onde ai−1, (i = 1, 2, ...,m) s˜ao constantes e fn ´e uma fun¸c˜ao que depende de n. No caso fn = 0, a equa¸c˜ao (3.36) ´e chamada homogˆenea; caso contr´ario, ´e dita n˜ao homogˆenea. Observac~ao 6 Note-se a conven¸c˜ao: fn ´e uma express˜ao em n onde n varia discreta-mente; e f(n) ´e uma express˜ao em n onde n varia continuamente. Assim, se fn = n2, para n ≥ 0, ent˜ao fn assume os valores {0, 1, 4, 9, ...}. Nessa se¸c˜ao estudam-se as EDF de ordem m com coeficientes constantes. O m´etodo iterativo, utilizado no ponto precedente, n˜ao funciona eficientemente para essas equa¸c˜oes. Exige-se, assim, um m´etodo alternativo de resolu¸c˜ao. Come¸ca-se por resolver a equa¸c˜ao (3.36) assumindo fn = 0. Teorema 1 [Soluc~ao Geral] A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao homogˆenea yn + an−1yn−1 + an−2yn−2 + ... + an−myn−m = 0, ´e da forma yn = c1u1 + c2u2 + ... + cmum, (3.37) onde ci (i = 1, ...,m) s˜ao constantes arbitr´arias, ui s˜ao fun¸c˜oes em n, e {u1, ..., um} ´e uma base de dimens˜ao m do espa¸co das solu¸c˜oes. Qualquer solu¸c˜ao particular pode ser obtida a partir da equa¸c˜ao precedente mediante uma escolha apropriada de ci. O exemplo seguinte mostra como uma solu¸c˜ao geral de uma equa¸c˜ao de ordem m, de-pende de m constantes arbitr´arias. 60
  • 92. Exemplo 25 A equa¸c˜ao de segunda ordem yn+2 = 1 + 2yn + yn+1 tem como solu¸c˜ao geral yn = −1 2 + a(−1)n + 2nb, onde a e b s˜ao n´umeros quaisquer (observe que esta express˜ao ´e uma solu¸c˜ao). O m´etodo iterativo n˜ao nos leva necessariamente a enxergar uma maneira compacta de expressar a solu¸c˜ao geral, e em geral tal maneira compacta n˜ao existe. Para algu-mas equa¸c˜oes importantes, por´em, a solu¸c˜ao geral pode ser expressa em forma ´util e expl´ıcita. S˜ao essas as equa¸c˜oes que estudaremos neste curso. Exemplo 26 Provar que a EDF de segunda ordem yn+1 − 5yn + 6yn−1 = 0 tem como solu¸c˜ao geral yn = c12n + c23n Soluc~ao Lembrando que uma base do espa¸co vectorial das solu¸c˜oes de uma EDF de ordem 2 ´e um conjunto formado por duas solu¸c˜oes linearmente independentes, ent˜ao devemos provar que o conjunto {2n, 3n} ´e uma base do mencionado espa¸co de solu¸c˜oes. N˜ao ´e dificil verificar que 2n e 3n s˜ao solu¸c˜oes da equa¸c˜ao; com efeito, substituindo-se na equa¸c˜ao, obtemos 2n+1 − 5.2n + 6.2n−1 = 0, 3n+1 − 5.3n + 6.3n−1 = 0, assim 2n e 3n s˜ao solu¸c˜oes. Essas solu¸c˜oes s˜ao linearmente independentes se, e somente se, α12n + α23n = 0, ∀ n ⇔ α1 = α2 = 0. Tomando agora n = 0 e n = 1 na equa¸c˜ao anterior, obtemos respectivamente α1 + α2 = 0, 2α1 + 3α2 = 0, e resolvendo o sistema, encontramos α1 = 0 e α2 = 0; portanto, as solu¸c˜oes s˜ao linear-mente independentes. Pelo Teorema 1 provamos que a solu¸c˜ao geral ´e yn = c12n + c23n. 61
  • 93. Sabe-se j´a verificar se determinado conjunto de solu¸c˜oes forma uma base do espa¸co das solu¸c˜oes de uma EDF linear homogˆenea de coeficientes constantes. Importa agora estudar um m´etodo que permita obter a solu¸c˜ao geral da EDF. Para isso, se come¸ca por introduzir o operador de avan¸co (forward) F. De
  • 94. nic~ao 25 (Operador Avanco) O operador de avan¸co F sobre a express˜ao yn define-se como Fyn = yn+1. Da defini¸c˜ao temos que F2yn = F(Fyn) = Fyn+1 = yn+2. Em geral, para todo k,m ∈ N Fmyn+k = yn+k+m. Temos a conven¸c˜ao F0yn = yn. O operador F aplicado a uma constante resulta na pr´opria constante, Fc = c. Com o operador de avan¸co podemos escrever a equa¸c˜ao linear homogˆenea de ordem m amym+n + am−1ym+n−1 + ... + a0yn = 0 (3.38) na forma amFmyn + am−1Fm−1yn + ... + a0F0yn = 0, ou (amFm + am−1Fm−1 + ... + a0F0)yn = 0. Logo, p(F)yn = 0, onde p(F) = amFm + am−1Fm−1 + ... + a0F0. Definimos o polinˆomio caracter´ıstico: p(r) = amrm + am−1rm−1 + ... + a0 e a equa¸c˜ao 62
  • 95. caracter´ıstica associada `a equa¸c˜ao homogˆenea p(r) = 0. Estamos diante de uma equa¸c˜ao polinomial de grau m, que tem m ra´ızes. As solu¸c˜oes da equa¸c˜ao caracter´ıstica s˜ao chamadas ra´ızes caracter´ısticas da equa¸c˜ao e podem ser usadas para estabelecer a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao, que nos d´a todas as solu¸c˜oes da equa¸c˜ao de diferen¸cas. EDF Linear de Primeira Ordem Teorema 2 [EDF Linear de Primeira Ordem m = 1] Considere-se a EDF a1yn+1 + a0yn = 0, i.e., (a1F + a0)yn = 0 ou ainda p(F)yn = 0. Seja r a raiz do polinˆomio caracter´ıstico p(r) = a1r + a0, isto ´e, r = −a0/a1. Ent˜ao, yn = c1rn, c1 ∈ R (3.39) ´e a solu¸c˜ao geral da EDF. Demonstra¸c˜ao. Atendendo ao Teorema 1, a demonstra¸c˜ao ´e simples e deixa-se como exerc´ıcio. Exemplo 27 Resolver a EDF de primeira ordem 2yn+1 − 5yn = 0 Soluc~ao A equa¸c˜ao pode ser escrita da forma 2Fyn − 5F0yn = (2F − 5)yn = 0 cuja equa¸c˜ao caracter´ıstica associada `a equa¸c˜ao homogˆenea ´e 2r − 5 = 0 e raiz r = 5/2 Portanto, a solu¸c˜ao dada pelo Teorema 2 ´e yn = c ( 5 2 )n , ∀ c ∈ R. 63
  • 96. EDF Linear de Segunda Ordem Teorema 3 [EDF Linear de Segunda Ordem m = 2] Considere-se a EDF a2yn+2 + a1yn+1 + a0yn = 0, i.e., (a2F2+a1F +a0)yn = 0 ou ainda p(F)yn = 0. Sejam r1 e r2 as ra´ızes do polinˆomio caracter´ıstico p(r) = a2r2 + a1r + a0. Tˆem-se os seguintes casos: 1. Se r1 e r2 s˜ao reais e distintas, a solu¸c˜ao geral ´e 1 + c2rn 2 , c1, c2 ∈ R; (3.40) yn = c1rn 2. Se r1 = r2 = r, a solu¸c˜ao geral ´e yn = c1rn + c2nrn, c1, c2 ∈ R; (3.41) 3. Se r1 = a + bi, r2 = a − bi s˜ao ra´ızes complexas do polinˆomio caracter´ıstico, a solu¸c˜ao geral ´e yn = ρ (c1 cos(ωn) + c2sen(ωn)) , (3.42) onde ρ = √ a2 + b2 e ω = arccos(a/ρ). Demonstra¸c˜ao. Deixa-se como exerc´ıcio mostrar que as solu¸c˜oes, em cada caso, satis-fazem o Teorema 1. Exemplo 28 Resolver a EDF yn+2 − 3yn+1 + 2n = 0 Soluc~ao A equa¸c˜ao ´e uma equa¸c˜ao de diferen¸cas finitas, de segunda ordem, ho-mog ˆenea, linear e de coeficientes constantes. A respectiva equa¸c˜ao caracter´ıstica ´e r2 − 3r + 2 = 0 cujas solu¸c˜oes s˜ao r1 = 2 ou r = 1. Portanto, a solu¸c˜ao dada pelo Teorema 3 ´e yn = c11n + c22n = c1 + c22n c1, c2 ∈ R. 64
  • 97. Exemplo 29 Resolver o problema de valor inicial (PV I) { yn+2 + yn = 0 y0 = 0, y1 = 1 Soluc~ao A equa¸c˜ao caracter´ıstica ´e r2 + 1 = 0 cujas solu¸c˜oes s˜ao r1 = i r = −i. Logo, a solu¸c˜ao dada pelo Teorema 3 ´e yn = ρ (c1 cos(ωn) + c2sen(ωn)) c1, c2 ∈ R, onde ρ = √ a2 + b2 = √ 1 = 1 e ω = arccos(a/ρ) = arccos(0) = π 2 . Portanto, yn = c1 cos( π 2 n) + c2 sen( π 2 n), c1, c2 ∈ R. Das condi¸c˜oes iniciais temos y0 = c1 cos( π 2 0) + c2 sen( π 2 0) = c1 = 0,⇒ c1 = 0. Analogamente, y1 = c2 sen( π 2 ) = c2 = 1,⇒ c2 = 1. Portanto, a solu¸c˜ao do problema de valor inicial ´e yn = sen( nπ 2 ) 65
  • 98. 3.2.2 Sistemas de Equac~oes de Diferencas Na Subse¸c˜ao 3.2.1, estudamos as equa¸c˜oes de diferen¸cas finitas lineares. Agora, esten-deremos essas equa¸c˜oes para sistemas de equa¸c˜oes lineares. Veremos a seguir que uma equa¸c˜ao de segunda ordem e em geral de ordem m pode ser transformado num sistema linear de duas equa¸c˜oes de primeira ordem e em geral num sistema de m equa¸c˜oes de primeira ordem. Vamos nos limitar ao caso de sistemas lineares de duas equa¸c˜oes de primeira ordem com coeficientes constantes. Iniciamos com a seguinte defini¸c˜ao: De
  • 99. nic~ao 26 Um sistema de equa¸c˜oes nas vari´aveis yn, zn da forma { yn+1 = a11yn + a12zn zn+1 = a21yn + a22zn, (3.43) onde aij , i, j = 1, 2 s˜ao constantes, ´e chamado sistema de duas equa¸c˜oes em diferen¸cas finitas lineares. Um sistema linear de duas equa¸c˜oes de primeira ordem pode ser transformado em uma equa¸c˜ao linear de segunda ordem yn+2 + ayn+1 + byn = 0 (3.44) Com efeito, da primeira e segunda equa¸c˜ao de (3.43) temos respectivamente yn+2 = a11yn+1 + a12zn+1 = a11yn+1 + a12(a21yn + a22zn) = (a11 + a22)yn+1 + (a12a21 − a11a22)yn Portanto, yn+2 − (a11 + a22)yn+1 + (a11a22 − a12a21)yn = 0, (3.45) obtendo assim (3.44) onde a = −(a11 + a22) e b = −(a12a21 − a11a22). Reciprocamente a equa¸c˜ao linear de segunda ordem (3.44) pode ser transformada num sistema linear de duas equa¸c˜oes de primeira ordem (3.43) considerando-se a mudan¸ca de vari´aveis 66
  • 100. zn = yn+1: { yn+1 = zn zn+1 = −azn − byn (3.46) De
  • 101. nic~ao 27 A matriz J = ( a11 a12 a21 a22 ) (3.47) ´e denominada matriz Jacobiana do sistema (3.43). Os autovalores desta matriz s˜ao valores r tal que det(J − rI) = 0, onde I ´e a matriz identidade, isto ´e, det(J − rI) =
  • 102.
  • 103.
  • 104.
  • 105.
  • 106. a11 − r a12 a21 a22 − r
  • 107.
  • 108.
  • 109.
  • 110.
  • 111. = 0 ⇔ r2 − (a11 + a22)r + (a11a22 − a12a21) = 0 (3.48) p(r) = r2 − (a11 + a22)r + (a11a22 − a12a21) ´e o polinˆomio caracter´ıstico de (3.45). α = a11 + a22 ´e o tra¸co da matriz J, β = a11a22 − a12a21 ´e o determinante de J, α2 − 4β ´e o discriminante de J. Exemplo 30 Desejamos encontrar a formula¸c˜ao de um modelo matem´atico que go-verna a dinˆamica populacional dos atuns. Sabendo que o atum ´e considerado jovem (alevino) at´e a idade de quatro anos, em que inicia sua reprodu¸c˜ao sexual, e que o n´umero de alevinos no ano n ´e proporcional ao n´umero de adultos no ano n − 1, for-mular o modelo matem´atico do problema e solucionar. Soluc~ao Denotemos por N(n) = Nn o n´umero de adultos no ano n, e J(n) = Jn o n´umero de atuns jovens (alevinos), o que implica que as vari´aveis envolvidas s˜ao de tipo discreto. Como hip´oteses de simplifica¸c˜ao suponhamos que o fator de proporcionalidade k ´e constante; logo, do enunciado temos Jn = kNn−1 (3.49) De outro lado, se yn representa o n´umero total de atuns no ano n, ´e evidente que yn = Nn + Jn (3.50) Considerando que o atum ´e jovem antes dos quatro anos, podemos tomar na verdade cada 2 anos como margem de intervalo de tempo quer dizer, o tempo n = 1 represen-tar ´a 2 anos; logo, passados outros dois anos, n = 2 representar´a 4 anos, que ´e a idade 67
  • 112. em que o atum torna-se adulto, e assim sucessivamente. Dessa forma, iniciamos o seguinte processo iterativo: No inicio n = 0 do processo, teremos uma quantidade inicial de N0 adultos e J0 = 0 alevinos que em total s˜ao y0 = N0 atuns. Passados dois anos, n = 1 haver´a ainda N1 = N0 adultos, e J1 = kN0 alevinos quando, no total, haver´a y1 = N0 + kN0 atuns. No tempo n = 2, isto ´e, transcorridos quatro anos, os J1 = kN0 alevinos j´a s˜ao adultos e se reproduzem; logo, h´a N2 = N0 + kN0 = y1 adultos e J2 = kN0 = kN1 alevinos que, no total, s˜ao y2 = N0 + 2kN0. Em n = 3, isto ´e, depois de seis anos, teremos N3 = N0 + 2kN0 = y2 adultos e J3 = kN2 = kN0 + k2N0 alevinos, que no total, s˜ao y3 = N0 + 3kN0 + k2N0 atuns. Em geral, para qualquer ano n, n´os teremos Nn = yn−1 = Nn−1 + Jn−1 adultos e Jn = kNn−1 alevinos que, no total, somam yn = Nn + Jn = Nn−1 + Jn−1 + kNn−1. Ent˜ao, podemos ver que a f´ormula de recorrˆencia para a quantidade de atuns adultos ´e dada por Nn = Nn−1 + Jn−1 = Nn−1 + kNn−2 para n ≥ 2. (3.51) Como yn = Nn + Jn, temos Nn = yn−1 = yn−2 + kyn−3 para n ≥ 3, (3.52) que pode ser reescrito na forma de uma equa¸c˜ao em diferen¸cas lineares de segunda ordem com coeficientes constantes. yn = yn−1 + kyn−2 para n ≥ 2. (3.53) Acrescentando as condi¸c˜oes inicias y0 = N(0) = N0, y1 = N(1) = N1 = N0 obtemos o modelo matem´atico atrav´es do seguinte problema de valor inicial: { yn = yn−1 + kyn−2 y0 = y1 = N0, (3.54) 68
  • 113. Tomando o valor num´erico k = 2, encontramos a solu¸c˜ao. A equa¸c˜ao caracter´ıstica ´e r2 − r − 2 = 0, cujas ra´ızes s˜ao r1 = 2 e r2 = −1. A solu¸c˜ao geral ´e yn = c12n + c2(−1)n Das condi¸c˜oes iniciais temos { N0 = c1 + c2 N0 = 2c1 − c2 Resolvendo o sistema, encontramos c1 = 2N0 3 , c2 = N0 3 , obtendo yn = N0 3 2n+1 + N0 3 (−1)n 69
  • 114. 3.2.3 Atividades 1. Classifique o tipo de vari´avel. a) O n´umero de ind´ıviduos de uma popula¸c˜ao animal ou vegetal. b) O raio de uma c´elula esf´erica. c) O n´umero de mol´eculas de uma substˆancia radioativa. d) A posi¸c˜ao de uma part´ıcula. 2. A concentra¸c˜ao C (em miligramas por mililitro) de um rem´edio na corrente sangu´ınea de um cavalo ´e monitorada a intervalos de 20 minutos durante 2 horas, com t dado em minutos, conforme a tabela: t 0 20 40 60 80 100 120 C 0 17 55 89 111 113 68 Encontre a taxa m´edia de varia¸c˜ao nos intervalos: a) [0, 20]; b) [60, 80]. 3. Um grupo de excursionistas iniciou uma caminhada de 40 km `as 9 horas. O grupo alcan¸cou um abrigo a 32 km de distˆancia do ponto de partida `as 18 h30 m. A´ı eles passaram a noite. Na manh˜a seguinte, `as 8 horas, o grupo continuou a caminhar e chegou ao seu objetivo `as 11 h 30 m. A velocidade m´edia do segundo dia ´e maior ou menor do que a do primeiro? 4. Suponhamos que uma popula¸c˜ao de 25000 indiv´ıduos (no instante t = 0) cresce de acordo com a f´ormula N = 25000 + 45t2, onde o tempo t ´e medido em dias. Encontrar a taxa m´edia de crescimento nos seguintes intervalos de tempo: a) de t = 0 a t = 2; b) de t = 2 a t = 10; c) de t = 0 a t = 10. 5. O tamanho de uma cultura de bact´erias que cresce lentamente no tempo (em horas) ´e dado aproximadamente por N(t) = N0 + 52t + 2t2 Calcular a taxa de varia¸c˜ao instantˆanea em t = 6 horas. 6. O modelo discreto de um modelo populacional de indiv´ıduos ´e dado pela taxa de varia¸c˜ao Malthusiana, proveniente de um crescimento exponencial √ α = Δt Nt+Δt Nt − 1 a) Fa¸ca Δt = 1 e prove que Nt+1 = (1 + α)Nt. b) Considerando a equa¸c˜ao de diferen¸cas de primeira ordem dado em a) e uma popula¸c˜ao inicial de N(0) = N0, prove que o problema de valor inicial tem por solu¸c˜ao Nt = (1 + α)tN0. 70
  • 115. 7. Encontrar a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao yn+2 − yn = 0 8. Considere-se o seguinte modelo econˆomico multiplicador-acelerador simplificado Ct = byt−1 It = Ii t + G Ii t = k(Ct − Ct−1) yt = Ct + It onde C ´e o consumo que depende do rendimento nacional, y do per´ıodo anterior, I ´e o investimento que ´e igual ao investimento induzido, Ii, mais gastos do estado, G, e k ´e o coeficiente de acelera¸c˜ao. A ´ultima equa¸c˜ao representa a condi¸c˜ao de equil´ıbrio do modelo econˆomico. a) Prove que yt = b(1 + k)yt−1 − bkyt−2 + G. b) Se b = k = 1 e G = 0, prove que a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao em diferen¸cas de segunda ordem dado em a) ´e yt = c1 + c2t, c1, c2 constantes arbitr´arias. 9. Na data t = 0 faz-se um dep´osito de 12000 reais `a taxa anual de 5%. Se yt representa o capital obtido na data t, a) Prove que o modelo matem´atico ´e dado pelo problema de valor inicial { yt = (1.05)yt−1 y0 = 1200 b) Prove que a solu¸c˜ao do problema de valor inicial ´e yt = 12000(1.05)t. c) Prove que o valor do capital na data t = 3 ´e 13892. 71
  • 116. Unidade IV EQUAC ~OES DIFERENCIAIS ORDINARIAS