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A Mundo do Leite – fev/mar 2018
Com esta edição, completa-se exatamente um
ano desde que eu e o consultor técnico da Mundo
do Leite, Edson Gonçalves, elegemos um pequeno
produtor de leite para receber assistência técnica
especializada, a cargo de um técnico da Cooperide-
al. Quem viu o pasto praguejado – na prática aban-
donado – onde as vacas se alimentavam no outono
passado, e vê hoje o conjunto de piquetes instala-
do numa fração do terreno (1,6 hectare - Foto 1),
tem uma boa ideia do quanto se avançou. Ainda
mais quando vê uma nova área de 1,2 hectare já
prevista para a formação de novos piquetes (Foto
2). Em nossa última visita, dia 15 de maio, a coleta
de solo desse novo talhão já havia sido feita e o
produtor – e o técnico – aguardavam o resultado
para recomendação de calagem e adubação.
Os novos piquetes se justificam porque no mes-
mo dia 15 desembarcaram na propriedade 15 no-
vas vacas, adquiridas com a venda de oito cabeças
no mês de março, obviamente com o aporte de re-
cursos extras pelo produtor. (Foto 3)
Ao invés de apenas repor as oito cabeças ao
longo dos meses, conforme recomendado, adqui-
rindo animais aos poucos, de preferência novilhas
ou vacas jovens próximas de parir, de qualidade
genética e potencial produtivo superior - para ele-
var a produção sem necessariamente elevar os
custos -, nosso produtor secreto embarcou no que
ele justifica como “oportunidade”. Próximo de sua
fazenda, um produtor estava liquidando o rebanho,
composto de vacas girolando de idades variadas.
O produtor secreto comprou as 15 cabeças, das
quais dez em lactação, acompanhadas de nove be-
zerros e bezerras ainda mamando. (Foto 4)
Ao não seguir a recomendação do técnico, ele
criou uma série de problemas para si e para a es-
truturação do projeto que visa a profissionaliza-
ção da atividade.
Primeiro, as novas vacas, embora diagnostica-
das pelo veterinário como saudáveis, não vieram
com as anotações zootécnicas recomendáveis. Ou
seja, para saber quais estão prenhes, quando vão
parir e qual o nível de produção, somente começan-
do o trabalho do zero – as vacas remanescentes do
rebanho original, depois de um ano, têm tudo isso
registrado nas planilhas do técnico. Como não se
conhece as datas de cobertura e parição das novas
vacas, é possível que algumas tenham acabado de
A revista Mundo do Leite e seus parceiros estão proporcionando assistência técnica
especializada a um produtor de leite com o propósito de mostrar que a atividade é
rentável quando gerida de forma profissional. Acompanhe o passo a passo deste
projeto pioneiro e inovador nas páginas da revista e no Portal DBO. Inspire-se!
Fotos Sérgio de Oliveira
Um ano,
avanços
e desafios
Capítulo 5
2
1
BMundo do Leite – fev/mar 2018
PatrocínioRealização Apoio
secar e outras sequem rapidamente, permanecen-
do improdutivas no rabanho por um longo período,
apenas consumindo renda do produtor.
Segundo: na entrada da seca, serão mais 24 ani-
mais, entre vacas e bezerros, a serem alimenta-
dos, aumentando o custo geral de produção numa
proporção ainda não sabida em relação ao aporte
de produção imaginada.
Terceiro: são vacas sem padrão genético apura-
do, o que o produtor chamou de “vacas rústicas”.
E justificou: “a propriedade ainda não está em
condições de receber vacas altamente produtivas,
que exigem trato melhor”. A esse respeito, sugiro
a leitura do artigo de Ismail Haddade nesta edição.
A jornada rumo a um rebanho “especializado” fi-
cou mais longa.
Em resumo, em nome de uma “oportunidade”,
o produtor contrariou várias recomendações do
técnico, inclusive a de adquirir animais com maior
período de lactação e que não necessitassem
de bezerro ao pé para produzir leite. Agora, res-
ta esperar que as novas recomendações – como
por exemplo aguardar uns dez dias para iniciar o
controle leiteiro das recém-chegadas, para que
elas possam se adaptar ao novo ambiente – sejam
seguidas. Que a quantidade de cana picada/ureia
(Foto 5) seja suficiente para a mantença de todas
as vacas em lactação, acrescida da necessária su-
plementação mineral. Que se faça um exame de
toque nas vacas para verificar as prenhes e vazias
e quando provavelmente haverá nascimentos. De
qualquer modo, um novo exame de toque deverá
ser feito mais adiante, porque vacas cobertas re-
centemente não serão diagnosticadas como pre-
nhes agora.
E, principalmente, que não se tome nenhuma
decisão relativa ao manejo do rebanho sem con-
sultar o técnico. Essa posição foi reforçada diante
do produtor e de sua esposa, que se compromete-
ram a seguir as recomendações à risca, de forma a
não comprometer o projeto. “Oportunidades” nem
sempre são um bom negócio. (Sérgio de Oliveira)
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  • 1. A Mundo do Leite – fev/mar 2018 Com esta edição, completa-se exatamente um ano desde que eu e o consultor técnico da Mundo do Leite, Edson Gonçalves, elegemos um pequeno produtor de leite para receber assistência técnica especializada, a cargo de um técnico da Cooperide- al. Quem viu o pasto praguejado – na prática aban- donado – onde as vacas se alimentavam no outono passado, e vê hoje o conjunto de piquetes instala- do numa fração do terreno (1,6 hectare - Foto 1), tem uma boa ideia do quanto se avançou. Ainda mais quando vê uma nova área de 1,2 hectare já prevista para a formação de novos piquetes (Foto 2). Em nossa última visita, dia 15 de maio, a coleta de solo desse novo talhão já havia sido feita e o produtor – e o técnico – aguardavam o resultado para recomendação de calagem e adubação. Os novos piquetes se justificam porque no mes- mo dia 15 desembarcaram na propriedade 15 no- vas vacas, adquiridas com a venda de oito cabeças no mês de março, obviamente com o aporte de re- cursos extras pelo produtor. (Foto 3) Ao invés de apenas repor as oito cabeças ao longo dos meses, conforme recomendado, adqui- rindo animais aos poucos, de preferência novilhas ou vacas jovens próximas de parir, de qualidade genética e potencial produtivo superior - para ele- var a produção sem necessariamente elevar os custos -, nosso produtor secreto embarcou no que ele justifica como “oportunidade”. Próximo de sua fazenda, um produtor estava liquidando o rebanho, composto de vacas girolando de idades variadas. O produtor secreto comprou as 15 cabeças, das quais dez em lactação, acompanhadas de nove be- zerros e bezerras ainda mamando. (Foto 4) Ao não seguir a recomendação do técnico, ele criou uma série de problemas para si e para a es- truturação do projeto que visa a profissionaliza- ção da atividade. Primeiro, as novas vacas, embora diagnostica- das pelo veterinário como saudáveis, não vieram com as anotações zootécnicas recomendáveis. Ou seja, para saber quais estão prenhes, quando vão parir e qual o nível de produção, somente começan- do o trabalho do zero – as vacas remanescentes do rebanho original, depois de um ano, têm tudo isso registrado nas planilhas do técnico. Como não se conhece as datas de cobertura e parição das novas vacas, é possível que algumas tenham acabado de A revista Mundo do Leite e seus parceiros estão proporcionando assistência técnica especializada a um produtor de leite com o propósito de mostrar que a atividade é rentável quando gerida de forma profissional. Acompanhe o passo a passo deste projeto pioneiro e inovador nas páginas da revista e no Portal DBO. Inspire-se! Fotos Sérgio de Oliveira Um ano, avanços e desafios Capítulo 5 2 1
  • 2. BMundo do Leite – fev/mar 2018 PatrocínioRealização Apoio secar e outras sequem rapidamente, permanecen- do improdutivas no rabanho por um longo período, apenas consumindo renda do produtor. Segundo: na entrada da seca, serão mais 24 ani- mais, entre vacas e bezerros, a serem alimenta- dos, aumentando o custo geral de produção numa proporção ainda não sabida em relação ao aporte de produção imaginada. Terceiro: são vacas sem padrão genético apura- do, o que o produtor chamou de “vacas rústicas”. E justificou: “a propriedade ainda não está em condições de receber vacas altamente produtivas, que exigem trato melhor”. A esse respeito, sugiro a leitura do artigo de Ismail Haddade nesta edição. A jornada rumo a um rebanho “especializado” fi- cou mais longa. Em resumo, em nome de uma “oportunidade”, o produtor contrariou várias recomendações do técnico, inclusive a de adquirir animais com maior período de lactação e que não necessitassem de bezerro ao pé para produzir leite. Agora, res- ta esperar que as novas recomendações – como por exemplo aguardar uns dez dias para iniciar o controle leiteiro das recém-chegadas, para que elas possam se adaptar ao novo ambiente – sejam seguidas. Que a quantidade de cana picada/ureia (Foto 5) seja suficiente para a mantença de todas as vacas em lactação, acrescida da necessária su- plementação mineral. Que se faça um exame de toque nas vacas para verificar as prenhes e vazias e quando provavelmente haverá nascimentos. De qualquer modo, um novo exame de toque deverá ser feito mais adiante, porque vacas cobertas re- centemente não serão diagnosticadas como pre- nhes agora. E, principalmente, que não se tome nenhuma decisão relativa ao manejo do rebanho sem con- sultar o técnico. Essa posição foi reforçada diante do produtor e de sua esposa, que se compromete- ram a seguir as recomendações à risca, de forma a não comprometer o projeto. “Oportunidades” nem sempre são um bom negócio. (Sérgio de Oliveira) 3 4 5